O “Gulag” de Fuerte Tiuna
por “El Escorpión” em 27 de outubro de 2005
Resumo: Terroristas e loucos, é como são qualificados pelo regime chavista todos os militares venezuelanos que não se identifiquem com o processo da revolução bolivariana.
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Há pouco estive em uma atividade social e compartilhava com um oficial subalterno, ainda na ativa, que estava bastante alegre. À medida que o tempo passava e este profissional militar se punha mais alegre, eu buscava a maneira adequada de abordar um tema que ia resultar um tanto espinhoso para ele.
Desde há tempo, tratei de investigar dentro da instituição militar a maneira como a nomenklatura militar do regime trata o tema da dissidência interna, e como qualifica os aluviões cismáticos do 11 de abril de 2002 e da Praça Altamira.
Me inquietavam as qualificações. Não tanto pelas referências profissionais e até pessoais mas sim, pelo desenho da estratégia de erosão pessoal e profissional que se negociava internamente, com o objetivo de semear o medo e o pânico característico neste momento no setor militar em situação de atividade. Evidentemente, era uma estratégia orientada a conter qualquer outra onda discrepante com a política militar do regime. Isso eu suspeitava quando se me escapava não muito inteligente nos prédios militares, ou quando obrigatoriamente tinham que saudar-me, quando por razões de saúde recorria ao Hospital ou ao seguro. O pânico na saudação se exteriorizava, o medo os imobilizava, o terror os punha a gaguejar, o pavor lhes acelerava as batidas do coração e o susto os desorientava.
Isso eu sabia por intuição, porém queria confirmá-lo de uma fonte de primeira mão.
“Olha, Chefe, cada reunião com o Ministro da Defesa, com o Comandante de cada componente, com nossos superiores, com os chefes políticos bolivarianos que diariamente percorrem os quartéis, a ordem que há é referir-se aos profissionais do 11 de abril de 2002 e da Praça Altamira, e em geral aos que manifestaram dissidência pública ao processo do Comandante-em-Chefe, em primeiro lugar, como traidores da causa e depois como terroristas e em geral como um bando de loucos. Quem for encontrado conversando ou referindo-se aos senhores de uma maneira muito amistosa, lhe vão cortar a cabeça. De fato, foi dada ordem de fazer um exame psicotécnico em que se tenha suspeita de conspirador, para etiquetá-lo oficialmente como “louco”. As próximas baixas por este motivo vão levar um informe do Departamento de Psicologia do componente e outro do Serviço de Psiquiatria do Hospital Militar Carlos Arvelo. Ninguém quer ser qualificado de louco e muito menos de terrorista, porque isso se vai carregar para toda a vida. Só posso contar-lhe até aqui”. Dito isto, contudo, e com sua embriaguês, me deixou com a palavra na boca e se foi da festa.
Não me surpreendeu a confidência condimentada com a situação etílica do Major e com isso acabei de confirmar algo que tinha atravessado desde há tempo e queria me certificar nos detalhes.
Ali estava a justificativa do terror de nossos ex-companheiros de armas (neste aspecto somos sim, terroristas) que os inunda quando confirmam nossa presença em qualquer local público ou privado, ou o porquê puseram por terra o círculo social de relações familiares, amistosas, profissionais de toda uma vida.
Terroristas e loucos. Esta é a qualificação que o regime tem para todo aquele dentro da Força Armada Nacional que dissinta de sua errática política militar, mas, além disso, para os que não se identifiquem com o processo da revolução bolivariana.
Agora estou começando a compreender porque a maioria dos revolucionários chavistas referem-se aos esquálidos como “dissociados”, na acepção sociopática da expressão.
É que realmente a psiquiatria bolivariana está tomando as experiências da psiquiatria oficial durante o regime totalitário e ditatorial da União Soviética. Um pouco para ampliar a explicação que eu mesmo me dei, vou citar este texto que consegui a URL que é bastante abundante sobre este caso em particular:
http://www.terra.es/personal5/oupmfebh/historia/07_intelectuales_y_cientificos_1.htm
Nota da Tradutora: O autor, um militar da Reserva, por questões de segurança assina com o pseudônimo “El Escorpión”.
Tradução: Graça Salgueiro
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