MEMORIAL 31 DE MARÇO DE 1964

MEMORIAL 31 DE MARÇO DE 1964
Avião que passou no dia 31 de março de 2014 pela orla carioca, com a seguinte mensagem: "PARABÉNS MILITARES: 31/MARÇO/64. GRAÇAS A VOCÊS, O BRASIL NÃO É CUBA." Clique na imagem para abrir MEMORIAL 31 DE MARÇO DE 1964.

terça-feira, 30 de novembro de 2021

Algumas poesias - Por Félix Maier


O Canário

 

Félix Maier

 

Corre o moleque por deserta estrada,

Atiradeira à mão, o peito arfando,

Corre e corre nas pedras tropeçando,

No chão cai. Se levanta. Não é nada.



- O passarinho! - e o seu olhar fulgia

Em um anseio de febril desejo.

- O passarinho! - Mas, meu Deus, que vejo?

Ferido canário no chão gemia,



Numa poeira amarela de plumas,

Que se esvoaçam ao lépido vento.

Assim, meu moleque, como te arrumas?



Garoto, por que este teu sentimento?

Vivo o canário, sádico te enfunas?

Morto agora, só ouço teu lamento?



Agudos, SP, 1969.

 

***

 

Reticências...

 

Félix Maier

 

Tudo se me depara em reticências...

Tenho uma idéia,

alimento-a,

engordo-a,

e, com toda fatalidade,

me deparo com reticências...

A Vida, a Grã-Reticência...



Reticências de meus anseios,

reticências de vaporosos sonhos,

reticências deste meu escrito,

malditos três pontinhos

que não consigo preencher...



Como sonâmbulo Quixote,

aventurando-me em terras alheias,

desafiando moinhos-de-vento,

combatendo leões imaginários,

marcando duelos em cada pousada,

só me restam reticêncas...



Reticências da Verdade não captada,

de uma tristeza inconformada,

reticências... reticências... reticências...

A Vida, a Grã-Reticências...



Mas,

que seria de nossa vida

sem o prazer da busca da Verdade

em todas essas reticências?...



Agudos, SP, 1969.

 

 

***

 

A Noite

 

Félix Maier

 

A noite vem engolindo o mundo inteiro.

As aves já se abrigaram no quente ninho.

Uma ou outra coruja,

sem destino,

vagueia pelo céu denegrido,

em gritos lacerantes,

à busca de algum alimento.

Tudo se prepara para o repouso.

Só os sapos berrentos

e os grilos arrancando trinados de suas flautas

executam estranha sinfonia.

Tudo se vai tornando silêncio.

E em silêncio também fica

a alma da gente,

nostálgica e indefinida,

cópia exata desta noite

que lá fora já abocanhou tudo.

Em silêncio medita a alma,

febricitante pelas infindas incógnitas

que lá dentro se entrecruzam,

iluminadas de vez em quando

por alguma fagulha de luz,

como minúsculo pirilampo,

perdido na imensidão da noite.

Tudo repousa.

Os pássaros aconchegados em seus ninhos.

Os animais entocados.

Só a minha alma vela a macabra noite,

sombra de sua face sofredora.



Agudos, SP, 1969.

 

***

 

Águas-Emendadas

 

Félix Maier

 

Planalto Central,

plano alto dos três poderes,

da casa legislativa,

da justiça, do executivo.

Altiplano brasileiro,

altar da Pátria,

faz brotar veio único,

que alimenta três límpidos filetes d água,

águas-emendadas,

crescendo em córregos,

em riachos,

em rios caudalosos,

que se volvem,

em um passe mágico de Iara,

para o norte,

para o sul,

para o leste,

desaguando o tênue veio inicial,

o veio triplo,

em três rios colossais,

nas vagas do Atlântico.

Seria o Brasil então dividido em ilhas colossais?

Não!

O veio único,

o veio triplo,

águas-emendadas,

enlaça o sangue das três raças brasileiras:

para o norte segue o sangue indígena,

nativo, puro.;

para o sul o sangue europeu,

conquistador ontem, conquistado hoje.;

para o leste o sangue negro,

ontem derramado das veias dos escravos,

hoje conquistador,

impondo sua rica e colorida cultura.

Não três ilhas,

isoladas,

solitárias,

deprimidas.

Mas três raças,

fundidas em uma só,

águas-emendadas,

sangues-emendados,

poderes-emendados,

raças-emendadas,

ilhas-emendadas,

grande nação,

nação brasileira!



Brasília, 14 de março de 2000.

 

***

 

Quasi verbum

 

Félix Maier

 

Verbo

verbera

reverbera

verbo ad verbum

verbalização

verbi gratia

verborragia

verbo-diarréia

verbatim verborréia:

parnaso-maximalista Rui, Bilac.



Verbo

quasi verbum:


minimalista Trevisan.


Brasília, 21 de julho de 2000.

 

***

 

Itamália

 

Félix Maier

 

Quando Itamália enlouqueceu,

Pôs-se no Liberdade a sonhar...

Queria briga com o Rei,

Queria aos mineiros um mar...



No sonho em que se perdeu,

Banhou-se em farda e lamaçal...

Brancaleone tapuia ensandeceu,

No chafariz pôs um submarino a singrar...



E no desvario seu,

Uma vez mais pôs-se a delirar...

Com capitães-de-bravata ao léu,

Uma praia da Bahia iria roubar...



E, como Moisés, ao Rei prometeu:

“As águas de Furnas irei desviar!”

Itamália estava perto dos seus,

Os seus sonhavam com um mar...



O topete que Deus lhe deu,

Salta sempre e dança no ar...

Itamália ainda briga com o Rei,

Os mineiros ainda esperam um mar...



(Paráfrase de “Ismália”, de Alphonsus de Guimaraens; trata-se do ex-governador das Alterosas, Itamar Franco.)

 

Brasília, 2 de maio de 2001

 

***

 

No meio do caminho havia uma ... Olivetti

(ou “Minimize, que o chefe chegou!”)

 

Félix Maier


No meio do caminho do burocrata

Havia - além de uma velha Remington -

Um poeta

Um contista

Um humorista.



No meio tempo de um carimbo no balcão,

De uma chancela para despacho,

Há uma pausa para o poeta

Correr até a velha máquina de escrever

E bater um pedaço de inspiração.



A fila de clientes?

Ao diabo as filas de gente!

As belas letras devem preceder às atas!

“Ao vencedor as batatas!”



Que seria da literatura brasileira

Se no meio do caminho,

Entre o birô do burocrata

E o público amassado em longas filas,

Não houvesse uma Olivetti,

Uma Remington,

Uma Hermes Baby,

E um genial escritor em hibernação?

Se não houvesse essa figura singular,

Invento criativo de nossa gente:

O burocrata Machado

O diplomata Veríssimo

O barnabé Drummond

No Itamarty Guimarães?

Se não houvesse esse festeiro,

Don Juan Vinicius em tempo integral

Funcionário gazeteiro,

(“Beleza é fundamental!”)

Entre os poetinhas o primeiro?



E saber que entre fungos e traças,

Em uma singela repartição pública,

Machado nos mostrou toda sua graça:

“Ao último verme que roer minhas carnes...!”

Dedicatórias lindas assim não há quem faça.

Só ganhando o pão que o ácaro amassou entre fungos e traças...

E uma velha Remington...



Entre os barnabés da Esplanada

E os funcionários das autarquias

Quem diria!

Muito mais escritores se esgueiram

Do que imagina nossa vão filosofia usineira...



Minimize seu escrito na tela,

Que o chefe chegou!



Texto maximizado,

Surfam pelas ondas da Internet

Um poema

Um artigo

Um cordel

Uma carta fechada

Uma carta aberta

Um ensaio

Uma pitada humorística

Direto para o reino etéreo de Usina de Letras.



Parabéns!

Seu texto foi inserido com sucesso!

 

Brasília, 18 de maio de 2001.

 

***

 

Muita rima, nenhuma solução...

 

Félix Maier

 

Afeganistão,

Paquistão,

Cazaquistão,

Uzbequistão,

Tajiquistão,

Quirguistão,

Turcomenistão,

Curdistão,

Calistão,

Sudão,

Cristão,

Islão,

Corão,

Bin Ladão,

Bushão,

Canhão,

Avião,

Explosão.



Muita rima...



Nenhuma solução!

 

Brasília, 28 de setembro de 2001.

 

 

***

 

E agora, Luiz?

 

Félix Maier

 

E agora, Luiz?

A festa acabou,

O palanque desabou,

O Big Brother Bahia, ACM grampeou,

A Heloísa chiou,

A Lulu Genro estrilou,

Babá-Baby (veste a camisinha!) ironizou,

Lindo “Guevara” Bergh radicalizou,

A reunião esquentou.

E agora, Luiz?

E agora, Genú do Araguaia?

E agora, Zé Di Ceu do Molipo?

E agora, cérbero do Hades petista: CUT, MST e PSTU?



Está sem colher

(a fome zero é muita).

Está sem discurso

(O Duda está na Costa do Sauípe).

Está sem ventríloquo

(Zé Di Ceu foi se tostar em Cayo Largo del Sur).

Está sem carrinho

(de supermercado).

Já não pode comer

(os dentes todos caíram).

Já não pode beber “mojito”

(o poço artesiano Nhô Cêncio levou).

Já não pode tragar “havana”

(o Serra proibiu).

Cuspir já não pode

(ajuda a encher a barriga).



A noite esfriou,

A reunião novamente esquentou:

Que reunião fica morna com a Patota do Torto, Helô?

(“Comigo é quente ou frio. Morno, eu vomito”.)

O dia não veio:

O Rio, Nandinho Beira-Mar tomou...

O vale-alimentação não veio,

O riso (sem dente) veio assim mesmo...

Afinal, Deus é Brasileño,

Com sotaque cu(riti)bano...

Não veio a utopia,

sonhada por Helô “Pasionaria”,

propalada por Lulu “Pecosa”,

pregada por Babá-Baby,

charmenizada por Lindo “Guevara” –

graças a Deus,

à Nossa Senhora Aparecida,

e à Santa Paulina!

E tudo desandou,

O arroz azedou,

O feijão mofou

Nas Cibrazéns das Guaribas,

E agora, Luiz?



E agora, Luiz?

Sua doce barba,

Seu minuto de febre,

Sua gula e sua p(uj)ança,

Sua sindicoteca,

Sua lavra do tesouro,

(ou seria larva do besouro?),

Seu terno de cactus,

Sua Inco(r)erência,

Seu ódio a Roriz,

Seu pódio para Magela – e agora?



Com as chaves na mão,

Quer abrir o Banco Central,

Mas dinheiro não há!

(Com um par de esqui,

Em Davos quebra a canela do Merréis-les...)

Quer morrer no mar,

Mas Garanhuns não tem mar!

Quer beber um trago,

Porém “cuba libre” não há mais!

Luiz, e agora?



(Paródia de “E agora, José?”, de Carlos Drummond de Andrade)



Observações:


- Neste carnaval, está previsto Zé Di Ceu do Molipo carimbar o já roto crachá de “secreta” do serviço cubano na paradisíaca ilha Cayo Largo del Sur, Cuba (“Veja”, 26 Fev 2003).


- “La Pasionaria” e “La Pecosa” (A Sardenta) foram duas comunistas de destaque na Guerra Civil Espanhola. A primeira abriu a jugular de um padre a dentadas.; a outra pertenceu à milícia que assassinou o bispo de Jaén e sua irmã, na frente de 2.000 pessoas.


- Patota do Torto = PT.

 

Brasília, 28 de fevereiro de 2003.

 

***

 

Flor amarela do cerrado 

 

Félix Maier 

 

O Sol inclemente 

Enche suas bochechas 

E sopra bafo escaldante 

Que faz calar toda a vida no cerrado. 

 

Todas as forças da natureza 

Se unem para torcer as plantas, 

Retorcer os galhos, 

Roubar as folhas, 

Humilhar todas as árvores, 

Até que se curvem ao chão, 

Secas, 

Vencidas. 

 

Um fogo inclemente 

Lambe o cerrado com labaredas gulosas, 

Queimando tudo, 

Deixando apenas os troncos 

Enegrecidos pelo carvão. 

 

Mas... um milagre? 

Uma solitária e indefesa flor amarela 

Desabrocha do chão em cinzas, 

Na vastidão do cerrado devastado, 

Insiste em se abrir para o mundo, 

Mostrar sua beleza ímpar, 

Altiva, 

Desafiadora, 

Esplendorosa, 

Desafiando as forças funestas 

Que tentam lhe tolher o mais elementar direito, 

O direito à vida. 

 

Uma lição de vida 

Nos dá a natureza 

A nós que desistimos fácil das coisas: 

A planta do cerrado pode até queimar, 

Ter o tronco transformado em carvão, 

Mas morrer, jamais! 

 

A flor amarela do cerrado 

Pode desaparecer na fogueira, 

E mesmo sem chuva, 

Com o Sol cada vez mais inclemente, 

Sempre reaparece, 

Altiva, 

Desafiadora, 

Esplendorosa, 

Da cor do fogo que a fez sumir. 

Mas morrer, jamais!

 

Brasília, 8 de outubro de 2020.




Adendo:

Escritores Brasileiros

http://baudenomes.blogspot.com/

No endereço acima, consta um “baú de nomes” de escritores, poetas e ensaístas brasileiros, por ordem alfabética.

Na letra “F”, Félix Maier consta como “poeta”, não se sabe de onde tiraram essa conclusão - http://baudenomes.blogspot.com/p/letra-a_1829.html.

 

Poetas brasileiros, quantos somos?

https://www.blocosonline.com.br/literatura/poesia/pquantos/nomesak.htm

No endereço acima, há uma relação de poetas brasileiros em ordem alfabética, inclusive de Félix Maier.

Félix Maier publicou algumas poesias no site Usina de Letras (https://www.usinadeletras.com.br/exibetextoautorpc.php?user=fsfvighm&cat=Poesias&vinda=S). Não são lá essas coisas - cfr. em https://felixmaier1950.blogspot.com/2021/11/algumas-poesias-por-felix-maier.html.