MEMORIAL 31 DE MARÇO DE 1964

MEMORIAL 31 DE MARÇO DE 1964
Avião que passou no dia 31 de março de 2014 pela orla carioca, com a seguinte mensagem: "PARABÉNS MILITARES: 31/MARÇO/64. GRAÇAS A VOCÊS, O BRASIL NÃO É CUBA." Clique na imagem para abrir MEMORIAL 31 DE MARÇO DE 1964.

quarta-feira, 29 de setembro de 2021

No Brasil, o passado é cada vez mais incerto - Por Félix Maier

O BRASIL DO PT 

sexta-feira, 6 de setembro de 2013

Félix Maier: No Brasil, o passado é cada vez mais incerto

Eu achava que apenas o futuro era incerto, e que o passado – pelo menos o passado mais recente – fosse um fato consumado, sem muitas incertezas, dado o grande número de provas irrefutáveis que facilmente podem ser conferidas mediante a simples consulta de jornais antigos. Eu tinha certeza de que os fatos históricos recentes que eu tomei conhecimento em meu País seriam de domínio geral, não só meus e de uns poucos. Puro engano.

Cada dia que passa, o passado recente do Brasil vai-se modificando por conta de um revisionismo esquerdista inconsequente, que tenta explicar nossa História unicamente sob a ótica marxista. Pode-se ter dúvidas quanto a um passado remoto, como a Idade Média, ou muito distante, como o Big Bang, que é ainda apenas uma especulação científica. Mas, fatos que ocorreram há poucas décadas, como os dos governos militares pós-1964, deveriam ser contados como realmente ocorreram, sem maniqueísmos pueris, de modo a haver apenas o compromisso com a verdade.

Antonio Giusti Tavares afirma em seu livro Totalitarismo Tardio - o caso do PT: “Juízos de valor acerca de condutas do passado devem ser feitos não a partir de parâmetros éticos do presente, mas da contextualização da conduta na sua própria época, e nela, por comparação com condutas diferentes. Os historiadores e os cientistas sociais devem cumprir pelo menos dois requisitos básicos da epistemologia e da ética das ciências humanas: 1) evitar tanto quanto possível qualquer restrição ou seleção dos fatos brutos e 2) ao apresentá-los, distinguir sempre, tanto quanto possível, entre fatos e interpretações” (pg. 194). (1)

Como exemplos de revisionismo, temos:

- revisionismo soviético (em que antigos heróis, caídos em desgraça, eram riscados de enciclopédias, ou que tinham suas imagens “apagadas” em fotos oficiais);

- revisionismo do Holocausto (em que escritores colocam em dúvida o número de vítimas do Holocausto judeu promovido pelos nazistas - a exemplo de S. E. Castan em seu livro Holocausto Judeu ou Alemão?, pelo qual foi condenado pelo STF);

- revisionismo atual da esquerda brasileira: a história recente do Brasil, especialmente o Movimento militar de 1964, é descrita sob a ótica da dialética comunista, em que não há nenhum estudo sério sobre o assunto, apenas panfletagem e proselitismo socialista.

Outro tipo de revisionismo - na verdade, propaganda da desinformação e da difamação - liga o Papa Pio XII aos nazistas. Por exemplo, o livro de John Cornwell, “O Papa de Hitler”: “A capa do livro de John Cornwell mostra o arcebispo Pacelli saindo de um edifício do governo alemão, escoltado por dois soldados. Essa visita oficial do então Núncio Apostólico na Alemanha, teve lugar em 1929, quatro anos antes que Hitler chegasse ao poder (em 30/1/1933). Como Pacelli saiu da Alemanha em 1929 e nunca mais voltou, é enganoso e tendencioso o uso dessa fotografia” (Texto do jesuíta Peter Gumpel, historiador convidado pelo Vaticano para coordenar o processo de beatificação do Papa Pio XII, in Pio XII, Hitler e os judeus, publicado em PODER - Revista Brasileira de Questões Estratégicas, Ano I, nº 05, pg. 58, Brasília, Maio/Junho 2000).

No último livro de Leandro Narloch (2), lê-se que “‘o Saladino que os muçulmanos elevariam a um status quase messiânico no século 20 tinha uma semelhança muito maior com o imaginário popular europeu do século 19 do que com qualquer personagem histórico’, diz o historiador Abdul Rahman Azzam. Eis um ótimo exemplo de como, dependendo do ânimo e dos ressentimentos de uma época, o passado muda, ganha personagens, enredos e novas razões para as pessoas se sentirem magoadas com a história” (pg. 54).

O objetivo do revisionismo da esquerda brasileira é um só: solapar os fundamentos morais do país, alicerçados na herança judaico-cristã, e a rica história das Forças Armadas, que livraram o Brasil do jugo comunista (ou de uma guerra civil), ao mesmo tempo em que tenta enaltecer terroristas, como a presidente Dilma Rousseff, que integrou a sangrenta VAR-Palmares. Assim, não causa estranheza que o Dia da Pátria seja substituído pelo “dia dos excluídos” e pelo vandalismo dos Black Blocs, que Lamarca seja apresentado como herói e o Duque de Caxias seja revisto como genocida dos paraguaios.

Professores marxistas infiltrados nas escolas brasileiras afirmam que o Brasil e a Argentina estiveram a serviço do imperialismo inglês, invadindo o Paraguai e esmagando o país mais “progressista” da América do Sul. Uma estrondosa mentira, pois o Brasil havia rompido relações diplomáticas com a Grã-Bretanha devido à Questão Christie. O livro Nova História Crítica, para a 7ª. série, de Mário Schmidt, afirma que os ingleses foram contra a escravidão, não por questões humanitárias, mas por interesses econômicos. Na verdade, “o movimento abolicionista inglês teve uma origem muito mais ideológica que econômica. Organizado em 1787 por 22 religiosos ingleses, foi um dos primeiros movimentos populares bem-sucedidos da história moderna, um molde para as lutas sociais do século 19” (NARLOCH, 2009: 104). (3) Segundo Schmidt, “a princesa Isabel é uma mulher feia como a peste e estúpida como uma leguminosa” (idem, pg. 104). Para o linguista de pau, bonito talvez seja Zumbi dos Palmares, que tinha uma penca de escravos.

O historiador Francisco Fernando Monteoliva Doratioto, em seu livro O Conflito com o Paraguai - A guerra do Brasil, contesta tais revisionistas e afirma que “a formação dos Estados nacionais da região foi a causa do sangrento conflito” (Jornal de Brasília, 12/7/1999). Os cambás (pretos, em guarani) foram decisivos para a vitória brasileira: “Muitas vezes as deserções eram tantas que batalhões inteiros dissolviam-se quando em marcha para o front. Na verdade, como temos notícia em cartas de Osório a Caxias, muitos brancos rio-grandenses também desertavam. Porém, negros da Corte ou de todo o vasto Império lutavam bravamente e eram raríssimos os casos de deserção. O bom, forte e sacrificado sangue africano foi decisivo e insubstituível nas conquistas da guerra e, portanto, para o seu desfecho, com a vitória triunfal do Império” (PERNIDJI, 2010: 55-6). (4)

Vale lembrar que Caxias levou uma novidade ao campo de batalha: o balão aerostático, para reconhecimento do número de canhões do inimigo. Para tanto, trouxe o polonês-americano Chodasiewicz, perito no assunto. “Dizem que os paraguaios, quando viram o balão subir, caíram de joelhos e rezaram à Virgem e a Tupã, dizendo que o marquês tinha parte com o demônio e que, com os negros, levaria todos os homens para trabalhar nos saladeiros no Rio Grande, enquanto as mulheres, como escravas, iriam para a luxúria dos soldados, todos dentro do balão” (PERNIDJI, 2010: 94-5).

Enfoques revisionistas marxistas têm o mesmo valor histórico de “O Quinto dos Infernos”, minissérie da TV Globo que trata com desrespeito a História de D. João VI e D. Pedro I, com baixaria de toda ordem. Ou da novela chapa-branca do SBT, Amor e Revolução, apresentada em 2012, que serviu para achincalhar o Exército Brasileiro - uma cortesia de Sílvio Santos ao governo do PT, pela ajuda financeira ao imbroglio PanAmericano. Nesse mesmo ano, o SBT promoveu a votação de O maior brasileiro de todos os tempos. Para tristeza de muitos, Lula ficou pelo caminho, sendo vencedor o espírita Chico Xavier.

O mesmo maniqueísmo é visto na atual Comissão Nacional da Verdade - o Pravda tupiniquim - que tenta reescrever a recente história do Brasil dentro da ótica dos antigos terroristas de esquerda. Além de assassinar a História, de modo que prevaleça a versão da esquerda, o objetivo do governo revanchista de Dilma Rousseff é desviar a atenção de problemas complexos, que são jogados nos porões do esquecimento. Por exemplo, a Secretaria de Direitos Humanos, fazendo eco ao embuste esquerdista, lamenta os cerca de 400 “desaparecidos políticos” do governo militar, porém Maria “La Pecosa” do Rosário (5) não mostra nenhuma emoção, nem revolta, pelos cerca de 50.000 brasileiros que desaparecem todos os anos no Brasil, como noticiou o Jornal Nacional do dia 24/5/2012. Só no pequeno Distrito Federal, mais de 3 pessoas desaparecem todos os dias. Em 10 anos de governo do PT, houve um verdadeiro holocausto brasileiro, desconhecido pela grande mídia. Não me refiro ao livro de Daniela Arbex, mas aos cerca de 1.200.000 brasileiros violentamente mortos nos últimos 10 anos – anualmente, morrem cerca de 60.000 brasileiros em acidentes rodoviários e outro tanto são assassinados.

Recentemente, as Organizações Globo criaram um site, para apresentar a Memória do conglomerado empresarial. No dia 2 de setembro de 2013, requentando um texto publicado pelo jornal O Globo, o apresentador do Jornal Nacional, William Bonner, lamentou que O Globo tenha publicado em 1984 um Editorial, em que Roberto Marinho fazia um balanço positivo do governo dos militares. Bonner disse que o “apoio ao golpe de 1964 foi um erro” - na verdade, houve um contragolpe, pois desde 1961 os comunistas brasileiros planejavam tomar o poder, com a participação de cubanos, e em janeiro de 1964 o traidor Luiz Carlos Prestes foi prestar contas a seus chefes, no Komintern, em Moscou, dizendo que “os comunistas já estão no governo, só falta tomar o poder”.

É vergonhoso a Globo, hoje, tentar modificar a História, repudiando o Movimento militar de 1964, que foi exigido por toda a sociedade, como se pode comprovar lendo os noticiários da época, quando a quase totalidade dos jornais inicialmente exigiram e depois apoiaram a derrubada de João Goulart. O mesmo pode ser conferido na edição extra da revista O Cruzeiro.

O capitão do Exército José G. Pimentel, em seu site, afirma o seguinte: “Em 1 de abril de 1964 o jornal O Globo não circulou, uma vez que fuzileiros navais, comandados pelo Almirante Aragão, a soldo de Jango, ocuparam as instalações do jornal. No dia seguinte, libertos, publicaram o editorial intitulado Ressurge a Democracia. Amanhã, caso os black blocs e os movimentos sociais, sabe-se lá a soldo de quem, impedirem a circulação do jornal, a quem a direção de O Globo irá recorrer?” Na verdade, tenho certeza de que O Globo não chegará a essa situação difícil, pois os novos donos já fizeram sua opção preferencial pelo apoio à esquerda bolivariana de Lula-Dilma junto com seus parceiros ideológicos Maduro-Correa-Cristina-Evo-Ortega - com a supervisão dos manos Castro, de Cuba. Desde que a verba bilionária proveniente da publicidade governamental continue a cair no cofrinho das Organizações Globo, os descendentes de Roberto Marinho não terão nenhuma vergonha de transformar seu jornal num Granma brasileiro.

Em seu novo Editorial, o “esquadrão de reescritores” orwelliano que hoje comandam o principal conglomerado brasileiro de comunicação, “magoados com a história”, finalizam dizendo pomposamente que “a democracia é um valor absoluto. E, quando em risco, ela só pode ser salva por si mesma”. Se os atuais revisionistas das Oganizações Globo têm tanto apreço pela democracia, por que não se posicionam firmemente contra a entrada de milhares de espiões cubanos, fantasiados com jalecos brancos, os quais, de acordo com o objetivo final do Foro de São Paulo, têm como missão primordial ajudar o governo petista e aliados a dinamitar a democracia e instalar um regime comunista no Brasil, como o que já existe na Venezuela? Por que não denunciam a remessa de cerca de R$ 1,3 bilhão à ditadura cubana, que será feita em 3 anos, à custa do trabalho escravo dos “médicos” cubanos?

Será que algum dia os “reescritores” globais irão também fazer um mea culpa a respeito da farsesca edição que a TV Globo fez do debate ocorrido entre Lula e Collor, na campanha presidencial de 1989, em proveito deste último? Com certeza, os revisionistas globais também repudiam o antigo programa Amaral Neto, o Repórter, que apresentava as pujantes obras do governo militar, ao mesmo tempo que devem aplaudir o de Caco Barcelos, que obteve a façanha de criar uma mentira premiada, que foi desmascarada pelo coronel do Exército José Luis Sávio Costa.

No Brasil, o passado é cada vez mais incerto. Chegará o dia em que os mestres esquerdistas do engodo, dentro do espírito da criação de inúmeros bantustões brasileiros e da anticomemoração dos 500 anos do Descobrimento do Brasil, irão devolver a Portugal as caravelas de Pedro Álvares Cabral. Quem sobreviver, verá!


Vacine-se contra o HIV esquerdista da desinformação, lendo o ORVIL e acessando, além do Mídia Sem Máscara, os sites e blogs Olavo de Carvalho, Escola Sem Partido, A Verdade Sufocada, Heitor de Paola, Terrorismo Nunca Mais - Ternuma, Notalatina, Diego Casagrande, Percival Puggina, Reinaldo Azevedo, Nivaldo Cordeiro, Guilherme Fiuza, Rodrigo Constantino, Augusto Nunes, Piracema – Nadando contra a corrente, Wikipédia do Terrorismo no Brasil.

O papo cabeça da revista Veja - Por Félix Maier

O papo cabeça da revista Veja

Contar a história recente do Brasil só pela metade, enaltecendo terroristas e demonizando os militares, é criar uma mentira por inteiro.

Por Félix Maier

A Veja é a mais importante revista do Brasil, não só pelo número de exemplares vendidos semanalmente, seja em papel ou em mídia eletrônica (tablets e similares), como por seu conteúdo, marcadamente liberal - no sentido clássico do termo. Ou seja, Veja defende, desde sua primeira edição, em 1968, o livre mercado, o empreendedorismo, a livre circulação de ideias (exceto os radicalismos), a liberdade de imprensa, a liberdade religiosa, enfim, todos os valores inerentes a uma democracia de verdade.

Na edição de 8/1/2014, há um texto de Daniel Pereira, “É um papo muito cabeça”, com o subtítulo “Dilma fala em ‘guerra psicológica’, um conceito da ditadura”. O autor discorre sobre falas recentes da presidente Dilma Rousseff, que, em briga aberta contra os números, classifica os maus indicadores econômicos de seu governo como sendo uma “guerra psicológica” propalada pela imprensa e por organismos econométricos. Não consegui entender por que “guerra psicológica”, para o autor, é um conceito do governo dos militares, pois se trata de um tema tão antigo como a formação das primeiras comunidades de hominídeos. Josué, o sucessor do profeta Moisés, p. ex., já sabia o que significava “guerra psicológica” quando marchou com seus soldados em volta de Jericó, até que as muralhas caíssem.

Como a revista Veja sofreu censura no tempo dos governos dos militares, entende-se que tenha um ranço contra o movimento militar de 1964, que a quase totalidade dos jornalistas continua a chamar de “golpe”. Na verdade, tratou-se de um contragolpe, que colocou para correr os comunistas que já “estão no governo embora ainda não no poder”, como relatou o quinta-coluna Luís Carlos Prestes a seu chefe em Moscou, Nikita Krushev, em janeiro de 1964.

Lá pelas tantas, o articulista de Veja (que os esquerdistas apelidam de Óia) disserta sobre a junta militar que assumiu o poder após a morte de Costa e Silva, dizendo que eram “apelidados pelo povo de Os Três Patetas”. Bobagem. O povo nem sabia que existia uma junta militar, um governo tampão antes de Médici. Quem falava em “Três Patetas” eram políticos como Ulisses Guimarães e os jornalistas apenas propagavam a molecagem, em caixas de ressonância nas empresas em que trabalhavam.

O ideal seria que o Brasil nunca tivesse tido uma ditadura militar. Mas, quais eram as opções, na época, para as Forças Armadas, especialmente o Exército? Assistir passivamente a corrosão da autoridade de Jango, que se unia a cabos e soldados amotinados na Presidente Vargas, no Rio, incitados pelo carbonário Leonel Brizola, tentando implodir os pilares que sustentam as instituições militares, ou seja, a hierarquia e a disciplina? Não atender aos anseios da população, que foi às ruas em passeatas gigantescas, exigindo que o Exército acabasse com a baderna, a carestia e as greves sem fim provocadas por agitadores comunistas a serviço de Cuba e de Moscou?

Se as Forças Armadas não tivessem entrado em ação, o Brasil poderia ter-se transformado em uma gigantesca Cuba. Nesse caso, a revista dos Civita não teria sofrido apenas censura, mas seria tirada de circulação. Outra hipótese seria o Brasil entrar em guerra civil, com a criação de movimentos guerrilheiros que até hoje poderiam estar infernizando o País, como ocorre na Colômbia das FARC. Em ambos os casos, o Brasil se tornaria um imenso Vietnã, porque é certo que os EUA não ficariam inertes e tomariam partido contra os comunistas.

O Grupo Abril, do qual Veja faz parte, também esteve infiltrado por esquerdistas durante o governo dos militares. Não sei se é devido a isso que existe esse eterno ranço contra os militares, se ainda hoje há infiltrados canhotos na revista Veja, que apenas veem censura e tortura, nada mais, fazendo coro à vil campanha do governo petista contra as Forças Armadas, que é a vergonhosa Comissão Nacional da Verdade. Contar a história recente do Brasil só pela metade, enaltecendo terroristas e demonizando os militares, é criar uma mentira por inteiro. Será que nem Veja consegue enxergar algo de positivo em 1964, que colocou o Brasil na modernidade (Embratel, Banco Central, sistema Telebrás), investiu pesado na infraestrutura (rodovias, sistema Eletrobrás e as hidrelétricas de Itaipu, Sobradinho, Tucuruí, Ilha Solteira etc., metrôs, Ponte Rio-Niterói), criou a Embrapa e a Embraer, só para citar alguns feitos extraordinários, transformando uma nação insignificante, que saiu da 46ª posição no PIB para ser a 8ª potência econômica do planeta em apenas uma década?

Frei Betto, o “Vítor” ou “Ronaldo”, ligado ao Agrupamento Comunista de São Paulo (AC/SP), que depois se transformaria na Ação Libertadora Nacional (ALN), de Carlos Marighella, ficou encarregado do sistema de imprensa e também dos contatos com Joaquim Câmara Ferreira, que coordenava as atividades do AC/SP, e se infiltrou na Editora Abril e no jornal Folha da Tarde, do Grupo Folha. Na Folha da Tarde, Frei Beto recrutou os jornalistas Jorge Miranda Jordão (diretor), Luiz Roberto Clauset, Rose Nogueira e Carlos Guilherme de Mendonça Penafiel. Clauset e Penafiel cuidavam da preparação de “documentos”, e Rose, do encaminhamento de pessoas para o exterior. Na Editora Abril, a base de apoio era de aproximadamente 20 pessoas, comandadas pelo jornalista Roger Karman, e composta por Karman, Raymond Cohen, Yara Forte, Paulo Viana, George Duque Estrada, Milton Severiano, Sérgio Capozzi e outros, que elaboraram um arquivo secreto sobre as organizações armadas (servia também como fonte de informações para organizações subversivas). O AC/SP tinha assistência jurídica, composta de 3 advogados: Nina Carvalho, Modesto Souza Barros Carvalhosa e Raimundo Paschoal Barbosa.

Sempre que se estuda o movimento de 1964, deve-se observar com rigor o contexto da época, em que corações e mentes eram influenciados pela Guerra Fria: ou se era a favor do comunismo, ou se era a favor do capitalismo. Sem essa premissa elementar, discorrer sobre 1964 não passa de embuste. Assim, como entender a revista Veja, que não reconhece nenhuma ação positiva dos militares, se o que ela defende é essencialmente o mesmo que os militares defenderam e, para isso, tiveram que interferir politicamente no País até derrotar os movimentos revolucionários que pretendiam transformar o Brasil numa ditadura comunista?

Em 2014, ocorrerá o 50º aniversário do movimento de 1964. Vamos aguardar o que a revista Veja escreverá sobre o acontecido, se será uma avaliação equilibrada do governo dos militares, com prós e contras, como ocorre com a quase totalidade dos governos, ou apenas um “papo cabeça” como o do escrevinhador acima citado.

E olha que o “papo cabeça” não foi elaborado em Montevidéu, onde existe a livre circulação da marijuana. Imagina se fosse...

 

Fonte: MÍDIA SEM MÁSCARA


Fonte: 

http://www.rplib.com.br/index.php?option=com_k2&view=item&id=3532:liberais-uni-vos&Itemid=545&tmpl=component&print=1

terça-feira, 28 de setembro de 2021

Amazônia "pulmão do mundo" - Por Félix Maier


Amazônia "pulmão do mundo"

Félix Maier

23/08/2019
A Amazônia não é o pulmão do mundo, como até os bispos da CNBB apregoam, anunciando o Sínodo sobre a Amazônia que será realizado este ano no Vaticano.
Essa bobagem, nestes tempos de queimadas que existem devido ao período de estiagem, que ocorrem todos os anos, é reverberada em caixas de ressonância da desinformação pela mídia nacional e internacional, e por personalidades como o presidente da França, Emanuel Macron, e o boleiro Cristiano Ronaldo, postando fotos de queimadas antigas e classificando a Amazônia como "pulmão do mundo". Até a funkeira Anitta e a modelo Gisele Bundchen viraram especialistas em bioma amazônico.
A floresta tropical da Amazônia consome praticamente todo o oxigênio que produz, por ser uma floresta antiga. Só árvores novas, em crescimento, produzem mais oxigênio do que consomem. Isso eu aprendi ainda no ginásio, na década de 1960.
São as algas dos oceanos, dos rios e dos lagos nossa principal fonte de oxigênio e ponto final.
Há trinta anos, houve também uma campanha internacional pela preservação da Amazônia, muito bem orquestrada por ONGs e governos do Primeiro Mundo, no rastilho de pólvora que foram a morte do seringueiro e "defensor da Amazônia" Chico Mendes, o mentiroso genocídio de índios e a cena teatral feita em torno da criação da reserva indígena Yanomami, uma interferência indevida de estrangeiros em assuntos nacionais. Até Bush pai cobrou providências ao presidente Fernando Collor, nos EUA, depois de chamá-lo de Indiana Jones, por voar em jato da FAB e fazer acrobacias em jetsky no Lago Paranoá.
Na época, o ministro do Exército Leônidas Pires Gonçalves apresentou uma palestra sobre a Amazônia, que teve boa repercussão, desmentindo que a Floresta Amazônica seja o "pulmão do mundo".
A Amazônia é importante no contexto climático global. Ninguém em sã consciência é a favor de seu desmatamento total e de queimadas sem controle que, este ano, aumentaram consideravelmente. A real preocupação quanto ao oxigênio que respiramos deve ser direcionada à saúde dos rios, mares e oceanos, hoje verdadeiros despejos de esgotos e materiais que levam centenas de anos para se decomporem, como as garrafas PET.
Já era esperado esse ataque ao Brasil, devido a algumas atitudes e declarações do presidente Bolsonaro, que jogou gasolina para apagar as queimadas, ao ameaçar não aderir ao Acordo de Paris, sobre o clima mundial, e dizer que suspeita que ONGs estejam tocando fogo no mato. E sugerir que mineradoras operem em áreas indígenas.
Além das posições ioiô de Bolsonaro, que diz uma coisa aqui no cercadinho da guarita do Palácio da Alvorada, e desdiz ali no mesmo cercadinho, não podemos esquecer que o agronegócio brasileiro, altamente produtivo, incomoda países como EUA, França, Irlanda etc. No Brasil, há até três safras anuais de alguns produtos. Colhem-se duas safras e meia de uva por ano no Vale do São Francisco, cinco safras em dois anos. (Não é preciso lembrar que, devido a isso, consumimos mais defensivos agrícolas.) Por isso essa chantagem de países europeus, que ameaçam não comprar carne e grãos do Brasil, colocando em cheque também o acordo União Europeia-Mercosul.
Depois de falar abobrinhas durante as últimas semanas, parece que o presidente Bolsonaro caiu na real, autorizando o envio de militares das Forças Armadas para ajudar a combater os incêndios na Amazônia. Ao mesmo tempo, acionou as embaixadas para fazer uma contrapropaganda que deveria já ter sido feita antes, para mostrar ao mundo a real situação do "pulmão do mundo em chamas". Com tanta indecisão em momento tão crucial para o Brasil, o que faz o estrelado staff militar de Bolsonaro? Nada? Nem uma sugestão?
Causa espanto o Vaticano se meter nesse assunto revigorado pelo ambientalismo mundial, no caso da Amazônia. Logo o Vaticano, que tem assuntos muito mais graves e urgentes para resolver, como o crime de pederastia cometido durante anos, por padres abusadores de seminaristas e coroinhas.
A CNBB, que já se posicionou ao lado do PT contra o FMI e a favor do calote da dívida da União, está infestada de esquerdistas desde Dom Hélder Câmara, e faz parte desse barulhento ambientalismo melancia atual, avivado por ONGs milionárias que têm por objetivo demonizar o governo Bolsonaro e prejudicar o Brasil: vermelho comuna por dentro, verde dos dólares por fora.
O autor é militar reformado do Exército (capitão).

segunda-feira, 27 de setembro de 2021

Salve o 31 de Março de 1964! - Por Félix Maier


Salve o 31 de Março de 1964!

Por Félix Maier

31/03/2019

O Movimento Cívico-Militar de 1964 redundou num contragolpe que impediu a comunização do Brasil e evitou a instalação de guerrilhas comunistas, a exemplo das FARC e do ELN na Colômbia.

A mídia militante só fala em "golpe", quando na realidade ocorreu um “contragolpe” contra Jango e Brizola, que pretendiam fechar o Congresso Nacional e dar um golpe no dia 1 de maio de 1964 - Dia do Trabalho -, como consta em documentos encontrados com subversivos comunistas presos após o contragolpe. Desde 1961, Fidel Castro começou a enviar agentes e armas ao Brasil, oferecendo cursos de guerrilha a brasileiros comunistas, como Francisco Julião, líder das Ligas Camponesas, e comprando fazendas em vários Estados, para criação de focos de guerrilha.
O contragolpe militar, exigido por toda a sociedade em passeatas que levaram milhões de pessoas às ruas de todo o Brasil nas famosas Marchas da Família com Deus pela Liberdade, deveria ser desfechado no dia 2 de abril de 1964. Mas, o general Olympio Mourão, junto com os generais Denys, Muricy e Guedes, e o comandante da PMMG, precipitou os acontecimentos no dia 31 de março de 1964, contrariando líderes militares como Castelo Branco, que tentou impedir a marcha de Minas Gerais para o Rio de Janeiro, por achar que seria um fracasso.
Depois, como a insurreição anticomunista não tinha mais volta, Castelo, Costa e Silva – que se autoproclamou Comandante Supremo da Revolução - e demais chefes militares proclamaram a Revolução Democrática, que foi vitoriosa em um dia apenas, depois de serem neutralizadas as ações dos comandos militares do Rio de Janeiro e do Rio Grande do Sul, simpáticos a Jango, além da prisão de Miguel Arraes, em Recife, que tentou resistir com a ajuda da PMPE. Talvez devido a essa precipitação da marcha militar, os generais Mourão e Guedes tenham conhecido o ostracismo no governo dos generais-presidentes. Seria um ciúme dos revolucionários de última hora?
Na Colômbia, não criaram o AI-5, e 40% do seu território chegou a ficar sob comando das FARC, ocasionando o assassinato de mais de 260.000 pessoas em 60 anos.
Quantos mortos haveria no Brasil, com base nesses números, sabendo que a população colombiana em 1970 era de 21 milhões de pessoas, e a do Brasil, 90 milhões? Um milhão e duzentos mil mortos? Dois milhões de mortos? Principalmente se Cuba e outros países comunistas mandassem tropas e armas para as "zonas liberadas" de Xambioá, Registro, Caparaó e outros focos guerrilheiros que seriam criados - como ocorreu em Angola, e os militares não tivessem impedido essa desgraça que iria afetar não só o Brasil, mas todo o território latino-americano, num efeito dominó.
Resumo do resumo: não houve golpe, mas contragolpe. Essa é a verdade.

Artigo no Alerta Total – www.alertatotal.net
Por Félix Maier
a true history.
Félix Maier é oficial reformado do Exército.
Postado por Alerta Total às 02:59:00

sexta-feira, 17 de setembro de 2021

Messianismo no Brasil - Por Félix Maier

Messianismo no Brasil

Félix Maier (*)

Usina de Letras - 21/10/2003

O Messianismo refere-se a movimento dito “messiânico”, dirigido por um líder que teria origem divina, o “messias”. O nome tem origem na religião judaica, cujos devotos ainda esperam o Messias. Os cristãos acreditam que esse Messias foi Jesus Cristo.

Os ditos “movimentos messiânicos” têm ocorrido com bastante freqüência no início de cada século ou, principalmente, milênio, donde surge o nome “milenarismo”. No século II, surgiu na Grécia o Montanismo, movimento que pregava a iminência da 2ª Vinda de Cristo (Parusia), de acordo com uma revelação do Espírito Santo.

As Cruzadas também foram movimentos milenaristas, que tinham como objetivo a conquista da Terra Santa e a preparação da “Nova Jerusalém” para a 2ª vinda de Cristo. No ano de 1033, multidões de fiéis se dirigiam a Jerusalém.

Uma famosa lenda milenarista remonta ao Rei de Portugal, D. Sebastião, que morreu na batalha de Alcácer-Quibir, no Marrocos, em 1578, em desastrada guerra contra os mouros, o que resultou na dominação de Portugal pela Espanha durante 60 anos. Muitos portugueses não acreditaram em sua morte e D. Sebastião se converteu no messias nacional português, lembrado sempre a cada dificuldade do Reino, e a crença em seu regresso foi denominada de “Sebastianismo”. Sobre o assunto, leia “No Reino do Desejado”, de Jacqueline Hermann.

No Brasil, houve vários movimentos messiânicos, como o de Silvestre José dos Santos, que começou a pregar o “paraíso terrestre” na Serra do Rodeador, em Pernambuco, a partir de 1817, tendo a seu redor 12 “sábios” que desempenhavam a função de seus apóstolos. Para Silvestre, quando o número de fiéis atingisse o número de 1.000, D. Sebastião regressaria da ilha de Brumas e organizaria um exército para libertar Jerusalém. O movimento foi extinto após uma carnificina.

Um outro movimento, em 1838, no sertão de Pernambuco, dirigido pelo mameluco João Antônio dos Santos, afirmava que D. Sebastião estava encantado na Pedra Bonita (hoje Pedra do Reino, no município de Vila Bela, PE) e que seria desencantado depois que dois rochedos fossem regados a sangue humano. Desencantado o Rei, os fiéis que tivessem sido sacrificados, se eram pretos, ressuscitariam brancos; se eram velhos, ressuscitariam jovens; e todos seriam poderosos e imortais. Os sacrifícios foram bárbaros: pais atiravam os filhos do alto dos penedos, maridos degolavam as mulheres, adultos se ofereciam para o sacrifício. O grupo também foi desbaratado pelas autoridades e por fazendeiros locais.

Outro movimento messiânico no Brasil foi o do “beato” Antônio Conselheiro, que fundou sua “cidade santa” em Canudos e pretendia reconduzir seus fiéis à “divina monarquia”, a um “paraíso terrestre”. O movimento foi esmagado por tropas federais, salvando-se apenas mulheres e crianças. Havia crença de que Antônio Conselheiro não morrera, mas seu prestígio aos poucos foi sendo superado pela figura do Padre Cícero. Hoje, a lenda em torno do “Padim Ciço” afirma que ele ressuscitará no dia do Juízo Final e instalará o “paraíso terrestre” em Juazeiro, a “Nova Jerusalém”.

Na colônia de São Leopoldo, RS, surge, a partir de 1872, o movimento dos Mucker. João Jorge Maurer e sua mulher Jacobina passam a realizar curas, interpretar a Bíblia e a pregar. Jacobina se torna a chefe religiosa e é considerada santa pela comunidade, se apresenta como a própria encarnação de Cristo e escolhe 12 “apóstolos” entre seus seguidores, prometendo fundar um império. Oponentes do movimento Mucker levaram o caso ao Presidente da Província, que mandou força militar para a região. Atacados, os Mucker se refugiaram na cidadela santa que haviam construído, a qual foi tomada depois de 2 meses de cerco, quando quase toda a comunidade foi morta, inclusive Jacobina.

Em Santa Catarina, em 1842, surgiu o “monge” João Maria, que atraiu muitos simpatizantes, ao levar sementes aos agricultores, curar homens e animais. Em 1911, surgiu outro “beato” na região, de nome José Maria, dizendo-se irmão de João Maria. Na época, havia guerras políticas no interior de Santa Catarina e José Maria, prometendo paz, conseguiu reunir um grande número de fiéis, amedrontando os fazendeiros, que diziam que no Estado estava se formando um novo Canudos. Depois de várias campanhas militares, conhecida como “A Guerra do Contestado”, o movimento foi desbaratado em 1916.

Em 1947, surgiu um movimento messiânico urbano, no Rio de Janeiro, o Movimento Yokaanam. Em 1960, o Yokaanam adquiriu uma fazenda em Luziânia, a 70 km de Brasília, onde instalou a Fraternidade Eclética Espiritualista Universal – uma comunidade agrária.

Ao lado do messianismo de tempero sebastianista, existe o messianismo que integra outros elementos, como a lenda de Carlos Magno e dos Doze Pares de França – o que ocorreu em Santa Catarina com o “monge” João Maria. Além do aspecto religioso, há também o aspecto político e social relacionado ao messianismo, como o pregado pelo comunismo, que pretendia (ou pretende ainda) formar um “paraíso terrestre” para uma “comunidade universal”.

***

Guerra do Contestado

João Maria de Agostini ou “Agostinho” foi o primeiro dos três monges messiânicos que fizeram pregação em Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Paraná. Ele era italiano, nasceu no Piemonte (1801), passou pelo Pará, Rio de Janeiro, Sorocaba, deslocando-se depois para o Sul do Brasil, construindo capelas e erguendo cruzes ao longo de sua passagem.

João Maria de Jesus foi o segundo andarilho religioso que surgiu no Sul. Disse ele: “Eu nasci no mar, criei-me em Buenos Aires e faz onze anos que tive um sonho” (“João Maria – Interpretação da Campanha do Contestado”, de Oswaldo R. Cabral, Companhia Editora Nacional, São Paulo, 1960, pg. 155). Frei Rogério Neuhaus conheceu bem esse beato (Vide “Frei Rogério Neuhaus”, do Frei Pedro Sinzig, Ed. Vozes, Petrópolis, 2ª edição). Este monge profetizou a guerra que iria ocorrer anos mais tarde.

O último dos monges, José Maria de Santo Agostinho, cujo nome verdadeiro era Miguel Lucena de Boaventura, era um soldado foragido do Exército (segundo uma versão) ou da Força Policial do Paraná (segundo outra versão).

“Como ex-militar, organizou então os acampamentos, aos quais denominou de ‘Quadros Santos’, entregando aos adeptos que julgou mais capazes não só o comando como ainda a direção das rezas e da forma. Para a sua guarda especial, cercado da qual se apresentava, soberbo e importante, ante as turbas que o aclamavam, reuniu uma curiosa escolta de 24 sertanejos, aos quais chamou de ‘os Pares de França’.

As simpatias, segundo dizem, eram em sua maioria dirigidas para o regime monárquico, imperando uma certa forma deturpada de saudosismo nas pregações. Corriam, de boca em boca, as aventuras guerreiras, hauridas na ‘História de Carlos Magno’ ” (CABRAL, op. cit., pg. 180-1).

José Maria comandou os colonos fanáticos contra uma tropa do Paraná, nos Campos do Irani, região onde hoje se situa a vila de Irani e a “cidade da Sadia”, Concórdia, dando início a Guerra do Contestado no dia 22 de outubro de 1912. Na ocasião, morreram tanto o monge como o coronel do Exército, João Gualberto Gomes de Sá, chefe da tropa paranaense.

Muitos foram os herdeiros de José Maria, que se dispuseram a vingar o sangue do monge e dos companheiros derramados em Irani. A campanha militar dos “fanáticos” foi uma guerra de guerrilha, com os “redutos” (Quadros Santos) mudando continuamente de lugar (principalmente na região de Videira e Caçador), desgastando as forças policiais e, inclusive, o Exército, que chegou a empregar pela primeira vez aviões em combate, para reconhecimento aéreo. Os rebeldes atacavam continuamente as localidades de Canoinhas, Papanduva (que chegou a ser tomada), Itaiópolis, Calmon, a estação ferroviária de São João. Curitibanos foi parcialmente destruída em 26 de setembro de 1914.

O maior reduto foi Santa Maria, chefiado por Aleixo Gonçalves, que se situava na atual região de Caçador, cidade que abriga o importante Museu do Contestado. Santa Maria foi destruída pela artilharia do general do Exército, Fernando Setembrino de Carvalho, comandante geral das operações, no dia 2 de abril de 1915, quando Adeodato Manuel Ramos conseguiu fugir para organizar a Cidade Santa de São Pedro, onde reuniu 4.000 pessoas. Esse reduto foi destruído no dia 17 de dezembro de 1915. Alemãozinho, Bonifácio Papudo, Carneirinho foram alguns dos líderes revoltosos, porém o mais célebre dos herdeiros do monge foi Adeodato, cuja epopéia pode ser vista no filme do catarinense Sílvio Back, “A Guerra dos Pelados”.

***

Atualmente, o “beato” José Rainha Júnior, líder do MST, pretende criar uma “Nova Canudos” na região do Pontal do Paranapanema. Seria mais um movimento milenarista, neste início do terceiro milênio? Parece que sim: “beatos”, há vários, além do próprio Rainha, revezando-se em sua apresentação à mídia; “quadros santos” se multiplicam Brasil a fora (bantustões ou sovietes do messetê, apresentados na mídia como “acampamentos”), aumentando cada dia mais o contingente de caboclos, iludidos por falsas promessas de falsos joões e josés marias.


(*) Félix Maier nasceu em Luzerna, SC, em cuja região ocorreram os episódios do Contestado.


quarta-feira, 8 de setembro de 2021

Bolsonaro provou que ainda é gigantesco - Felix Maier

Presidente Jair Messias Bolsonaro
Discurso em Brasília, 7/9/2021


Bolsonaro provou que ainda é gigantesco

Felix Maier
Bolsonaro provou que ainda tem uma força extraordinária, levando milhões de apoiadores às ruas no dia 7 de setembro de 2021, comprovada na hashtag #Dia7VaiSerGigantesco. De fato, #Dia7FoiGigantesco. Multidões que a Mídia Antifa qualificou de realizarem "atos antidemocráticos", como a #GloboLixo e a #CNNGarbagge, enquanto taxava de democráticas as manifestações pró-Lula, com cartazes pregando a "ditadura do proletariado". Vai ser muito difícil os institutos de pesquisa insistirem que Luladrão está à frente nas pesquisas, assim como será difícil os deputados aprovarem o impeachment de Bolsonaro. A "voz rouca das ruas" é sempre ouvida por políticos com interesses imediatistas, e essas vozes de 7 de setembro foram gritos agudos de quem não aguenta mais ver tanta patifaria. Infelizmente, Bolsonaro perdeu a oportunidade de fazer um discurso de estadista, tanto em Brasília, quanto em São Paulo, mostrando empatia com a multidão que sofre com a pandemia, com mortes nas famílias, fome, inflação e redução de renda. Preferiu jogar confete para a platéia e partir para o confronto direto com o Supremo Talibã Federal (STF), prometendo fazer coisas que não poderá cumprir, como não acatar decisão judicial emitida pelo ministro Alexandre de Moraes, como prometeu, o que configuraria crime de responsabilidade. Todos sabem que a atual Corte Suprema tem "7 líderes do PT", 4 indicados por Lula e 3 por Dilma, que, juntamente com os outros ministros, cometem toda sorte de arbitrariedades, como empastelar decisões do Presidente Bolsonaro via partidos da esquerda radical - PT, PDT, PCdoB, PSol e outros genéricos do PT - e perseguir e prender apoiadores do Presidente, com a tese esfarrapada de que propagam fake news e ameaçam fisicamente os ministros. Sem falar na suprema patifaria de terem livrado a cara do maior ladravaz da História do Brasil, para que se eleja de novo Presidente do Brasil. Como reagir a isso? Entendo as reações intempestivas de Bolsonaro e suas fanfarronices frente a essas patifarias do Supremo Talibã, assim como entendo a agonia de milhões de brasileiros que foram às ruas neste 7 de setembro para clamar por mudanças urgentes. Mas, como atender o clamor da população? Decretar Estado de Sítio, na marra, sem aprovação do Congresso Nacional, destituindo ministros do STF, e sofrer boicote internacional, desgraçando ainda mais o País com possível guerra civil? Qual será o próximo movimento desse xadrez letal que Bolsonaro está jogando com a morte, como visto no filme "O Sétimo Selo", de Ingmar Bergman? *** P. S.: Consegui emplacar uma hashtag: #Dia7FoiGigantesco

sexta-feira, 3 de setembro de 2021

O ouro de Lula - Por Jose Mauricio de Barcellos


O ouro de Lula

Jose Mauricio de Barcellos

 

Ainda me recordo de um vídeo, que há alguns anos transitou pela rede mundial de computadores e no qual assisti ao indomável filósofo Olavo de Carvalho perguntar em público, referindo-se às três décadas de roubalheira dos vermelhos, se naquela altura dos acontecimentos havia ainda algum ingênuo cidadão que pudesse acreditar que Lula – o ladrão – e sua gente tivessem roubado mais de 1 trilhão e 500 bilhões do Brasil só para dar para suas as amantes; para comprar ternos “Armani’s” na Europa; para comer pato numerado no “Tour d’Argent” em Paris; para andar de jatinho particular ou para viver como um nababo deslumbrado, de má origem?

Claro que não! Exclamava o grande intelectual. Dizia ele que o motivo do roubo era, em si, infinitamente maior e mais perverso do que o próprio roubo do dinheiro público. Tudo que aqueles patifes fizeram foi visando a implantar o comunismo, a sustentar as “narcos-ditaduras” na “América Latrina” e para expandi-las por todo Sul do Continente, de forma absoluta e implacável.

Também assisti a um antigo vídeo, que circulou pelas redes sociais, em que aparece o odiado Ministro do STF, Gilmar Mendes, aí por volta do final do governo Temer, fazendo campanha política para a quadrilha do PSDB liderada pelo finório FHC e pelos moleques Aécio e Serra igualmente, em que o Mandarim afirmava, categoricamente, que o PT havia roubado o suficiente ou muito mais do que se podia imaginar para se manter poder até 2038.

Pois bem, para onde foi esta grana toda? É evidente que a insignificância apreendida pela Justiça ou devolvida por aquela gente que a “Nova Ordem Brasileira” colocou para fora do Planalto não representa nada em relação ao total surrupiado e que esta se encontra muito bem guardada à disposição da petralhada e de seus agentes do mal, que circundam as hostes do “Ogro Duplamente Condenado”.

É justamente esta fortuna incalculável – cujas senhas ou sofisticados e indecifráveis esquemas de liberação do dinheiro escondido, aqui e no exterior, se encontram em poder do tal facínora-que com ela pagou seu “Alvará de Soltura”, isto é, pagou a libertação do maior criminoso da vida pública no Brasil de todos os tempos – exatamente para que pudesse continuar fazendo a máquina da esquerda delinquente funcionar.

Percebam como depois da saída do bruto do xilindró a “esquerdalha” voltou a circular mais; como ressuscitaram os falidos e desmoralizados institutos de pesquisa de opinião de propriedade do PT; como se intensificaram os “movimentos pão com mortadela” bancados pelos chupa-sangues sindicatos de classe; como se passou a fornir as algibeiras dos terroristas “Blak-Blocs” e “ANTIFAS”; como o MST voltou a aparecer; como se passou a garantir e a propagar os ataques do bandidaço Zé Dirceu contra a democracia; como estão sendo vandalizadas as sedes de partidos políticos que apoiam o governo central e muito mais.

Para que se possa dimensionar a força da grana sob o controle de Lula para ser posta a serviço do Foro de São Paulo e de outras entidades terroristas do Continente Americano, basta que não esqueçamos como aquele vagabundo, embora encarcerado na Polícia Federal, no Paraná, comprou o serviço de desprezíveis sites internacionais – como “The Intercept” da bichoca Greenwald – que abriu caminho para ajudar a canalha na desmoralização da grande Operação Lava Jato que antes o havia trancafiado e, segundo se sabe, para também custear sozinho, a peso de ouro, a chegada ao poder de Alberto Fernandes na Argentina, o tal comunista safado que vem desgraçando a vida dos “hermanos” e que antes veio ao Brasil especialmente para pedir dinheiro ao condenado.

Lula está solto porque a grande maioria dos vermelhos depende da dinheirama que roubou para continuar existindo e operando posto que, para aquela gente, secaram as tetas públicas que a alimentava e agora, na porta do erário tem um intransigente patriota empunhando uma “doze” de arrepiar, desde janeiro de 2019.

Sabe-se lá quanto o “bandidão” nos dias de agora está derramando para comprar os parlamentares que votaram contra a PEC do voto “auditável” e quanto de propina está pagando à turma do STF e do STE para impedir, de qualquer forma, que se tenham eleições limpas e democráticas no País, em 2022, o que sepulta, em definitivo, a pretensão do criminoso de voltar ao poder.

Os crimes de lesa Pátria foram tantos nestas três últimas décadas, que não só a quadrilha petista comandada e dirigida com mão de ferro por Lula, mas também outras facções conseguiram amealhar muita coisa, porém nada que se compare com o “Ouro de Lula” que, a uma lhe garante a vida contra a sanha criminosa de outros como ele que disputam o poder e, em segundo lugar, permite que Lula mantenha debaixo de seus pés e a reboque de suas pretensões os cachorrinhos da chamada 3ª via, que vão desde os Ciros da vida aos Amoedos ou aos MBL’s pilotados por um “porcariazinha” de olhos rasgados e por outros cretinos do mesmo naipe.

Caso Lula ainda estivesse preso, não estariam ocorrendo tantas tentativas de impedir o movimento verdadeiramente revolucionário de 07 de setembro próximo, todas irrigadas com a grana do petista, tal como nesta semana que permitiu o traidor da Pátria, Zé Dirceu, convocar sua militância raivosa para ir às ruas enfrentar os patriotas no dia da “Nova Independência do Brasil”. O tal ex-guerrilheiro incompetente e agente cubano fracassado da luta urbana já chamou sua escumalha, mas é a “bufunfa” do Chefão que sustenta os custos e o faz com muita folga.

Do tesouro vermelho guardado a sete chaves por Lula também provém, por vias transversas, o dinheiro com o qual serão aquinhoados os agentes públicos, no judiciário e no legislativo, como o atual Presidente do Senado, senador Rodrigo Pacheco – o “pachequim” das ações milionárias na Suprema Corte – que não se pejou em apunhalar o povo das ruas que clama pelo impeachment de todos os Mandarins do STF por despudorada afronta à Constituição Federal, e tudo para se cacifar junto à corja do mal.

Enquanto Lula viver terá seu ouro espúrio para gastar em troca da volta ao poder e, como está se vendo claramente depois que foi libertado, está sabendo bem administrá-lo em prol de seus propósitos criminosos tanto que, mesmo odiado por onde passa às escondidas do povão, ainda consegue com muito dinheiro dado aos vassalos da mídia dos Barões Marinhos, que eles divulguem sua atuação pífia e insignificante, como se fosse a de um grande líder popular.

De uma coisa tenho muita convicção. Se essa vermelhada tivesse roubado tanto assim em um país comunista – justos aqueles que tanto defendem, como Cuba ou Venezuela – não estaria viva para contar sua história; não mais teria um tostão no bolso e as suas propriedades há muito que teriam sido confiscadas pelo partidão dominante. Aqui ainda estão livres, soltos e tranquilos, pensando em roubar mais e mais ou tramando, no dia a dia, contra a vida do Presidente eleito. Tudo bem, a gente se vê em 07 de setembro deste ano.


Jose Mauricio de Barcellos ex-Consultor Jurídico da CPRM-MME é advogado. E-mail: bppconsultores@uol.com.br

Grupos de Onze: o braço armado de Brizola - Por Mariza Tavares





Documentos: Fonte


MEMÓRIA 1964 - O dossiê do braço armado de Brizola


No fim de 1963, em meio à crescente radicalização do ambiente político do governo de João Goulart, Leonel Brizola era a liderança que unificara as esquerdas na Frente de Mobilização Popular. Entrincheirado na Rádio Mayrink Veiga, onde discursava todas as noites, ele pregava a criação dos Grupos de Onze Companheiros, compostos por cidadãos que marchariam unidos quando a esquerda tomasse o poder. A CBN teve acesso a documentos daquela época – que estavam em poder dos militares – que detalham como Brizola idealizou os Grupos de Onze: uma militância que pretendia utilizar mulheres e crianças como escudos civis; realizar ataques a centrais telefônicas, de rádio e TV; e previa a execução de prisioneiros.


Grupos de Onze: o braço armado de Brizola

Por: Mariza Tavares


Edição de arte: Fernanda Osternack

Fonte original: http://cbn.globoradio.globo.com/hotsites/grupo-dos-onze/GRUPO-DOS-ONZE.htm


'Este é o documento a que me referi. O Exército não sabe que este dossiê ainda existe, porque foi dada uma ordem para que fosse destruído.' Este era o texto do curto bilhete que acompanhava o pacote que recebi pelo correio, enviado por uma ouvinte fiel da CBN. Dentro, um calhamaço de 64 páginas já amareladas, no qual chamava atenção o carimbo no alto, em letras garrafais: SECRETO. A ditadura militar brasileira incinerou regularmente documentos sigilosos. Este dossiê estava em poder de um militar que preferiu desobedecer à ordem e decidiu guardar os papéis em casa.

Datado de 30 de setembro de 1964 e assinado pelo general-de-brigada Itiberê Gouvêa do Amaral, o documento ostenta a classificação A-1, que até hoje é utilizada pela área militar e que significa que é de total confiança. A classificação varia de A a F para a confiabilidade da fonte; e de 1 a 6 para a confiabilidade do conteúdo.

No tom formal e meticuloso típico dos relatórios dos serviços de inteligência, o texto de abertura, a circular de número 79-E2/64, anunciava que havia sido identificada a criação de diversas células dos chamados 'Grupo de onze companheiros' no interior do Paraná e de Santa Catarina.

'Os grupos constituíam a célula de um grande contingente, no qual seriam arregimentados homens das mais variadas categorias e profissões para servirem de instrumento a um pseudolíder, Leonel Brizola, em sua política de subversão do regime e implantação de um Governo de tendências antidemocráticas', explicava o documento.

Os militares já haviam deposto o presidente João Goulart e tomado o poder naquele ano; e a circular festejava a ação ao afirmar, categoricamente, que, 'com o advento da revolução de 31 de março, foi cortado o processo ainda na fase inicial'. No entanto, o documento assinalava: 'Há indícios de que, no futuro, possa ser novamente equacionada a reestruturação dos grupos.' Leonel Brizola já se encontrava no exílio no Uruguai desde maio daquele ano, mas a circular assinalava que havia informes de contatos entre 'antigos elementos' que integravam esses grupos. Daí a necessidade de mobilização de oficiais para mapear qualquer atividade suspeita.

Jorge Ferreira: 'Houve quem se inscrevesse apenas porque gostava de Brizola. Teve gente que pôs até o nome de filhos pequenos nas fichas de inscrição.'

Os chamados Grupos de Onze Companheiros – simplificadamente, Grupos de Onze ou Gr-11 – e também conhecidos como Comandos Nacionalistas foram concebidos por Brizola no fim de 1963. Tomando por base a formação de um time de futebol, imagem de fácil assimilação e apelo popular, Brizola pregava a organização de pequenas células – cada uma composta de onze cidadãos, em todo o território nacional – que poderiam ser mobilizadas sob seu comando.

Jorge Ferreira, professor-titular de História da UFF (Universidade Federal Fluminense), doutor em História Social pela USP (Universidade de São Paulo) e autor do livro 'O imaginário trabalhista', explica que um dos poucos documentos disponíveis sobre o Grupo de Onze é o modelo de ata de adesão. 'Há poucos estudos sobre este movimento e praticamente não há documentação a respeito. As atas, com os dados dos participantes, eram enviadas para a Rádio Mayrink Veiga e depois ficaram em poder da repressão. Como os Grupos de Onze foram criados no fim de 1963, o clima de radicalização já se generalizara. A imprensa também supervalorizava sua capacidade de ação, mas a verdade é que houve quem se inscrevesse apenas porque gostava de Brizola e nunca teve participação efetiva. No Sul, muitos achavam que iam ganhar terra, sementes. Teve gente que pôs até o nome de filhos pequenos nas fichas de inscrição.'

O dossiê a que a CBN teve acesso disseca o manual de ação desses militantes e foi criado quando Brizola, eleito deputado federal pelo PTB (Partido Trabalhista Brasileiro) com 300 mil votos – até então, o mais votado da antiga Guanabara – ocupou quase que diariamente o microfone da Rádio Mayrink Veiga entre 1962 e 1963. A tradicional emissora do antigo Distrito Federal, existente desde 1926, funcionava como palanque para Brizola, que ali destilava inflamados discursos pela aprovação das reformas de base – pilar do governo João Goulart e que compreendiam da reforma fiscal à agrária, com a desapropriação de terras de grandes proprietários rurais. E garantia que elas seriam aprovadas, 'na lei ou na marra'. A Mayrink Veiga estava tão identificada com o projeto político brizolista que uma cópia do documento assinado pelos integrantes de cada recém-criado Gr-11 deveria ser enviada para a emissora. A militância da Mayrink Veiga provocou uma reação dos empresários de comunicação Roberto Marinho (Rádio Globo), Manoel Francisco Nascimento Brito (Rádio Jornal do Brasil) e João Calmon (Rádio Tupi): a criação da Rede da Democracia, uma cadeia radiofônica para combater a política do presidente Jango. Também selou sua sorte: a emissora foi fechada pelo presidente militar Castelo Branco um ano depois da queda de João Goulart.

O documento é composto de anexos que detalham o modus operandi dos Grupos de Onze. O primeiro deles tem cinco páginas dedicadas aos 'companheiros nacionalistas', numa espécie de cartilha para a promoção e organização de um comando nacionalista. Na abertura, uma afirmação categórica de vitória: 'A ideia de organização do povo em Comandos Nacionalistas (CN) ou em Grupos de Onze (Gr-11) está amplamente vitoriosa. Milhões e milhões de patriotas integram os Comandos Nacionalistas formados em todo o território pátrio: a palavra de ordem, organizados venceremos, penetrou na consciência de todos os nacionalistas brasileiros.'

Para organizar um Gr-11, a primeira providência era a leitura e o estudo das instruções, 'quantas vezes forem necessárias até uma segura compreensão dos fins e objetivos da organização.' A etapa seguinte era 'procurar os companheiros com os quais têm convivência e ligações de confiança'. Vizinhos ou colegas de trabalho eram os mais indicados, e sempre em grupos reduzidos, de três ou quatro pessoas. Diante de receptividade para a ideia de organizar um Gr-11, 'tal decisão significará um verdadeiro pacto de solidariedade e confiança entre os companheiros.'

O objetivo era reunir 11 pessoas, mas as instruções reconhecem que arregimentar este contingente poderia ser um pouco difícil e estabelece que, com sete integrantes, a célula de militantes poderia começar a atuar. Ao alcançar este quorum mínimo, o grupo é fundado oficialmente e, depois da leitura do manual e do 'exame da situação política e da crise econômica e social que estamos atravessando', é escolhido o dirigente do Gr-11; seu assistente – e eventual substituto – e o secretário-tesoureiro. 'Tomadas estas decisões', prosseguem as instruções, 'proceder à leitura solene, com todos os onze companheiros de pé, do texto da ata e da carta-testamento do presidente Getúlio Vargas.' Os integrantes devem assinar seus nomes logo abaixo da assinatura de Vargas e do seguinte texto: 'O presidente Vargas sacrificou sua vida por nós. Nosso sacrifício não conhecerá limites para que o nosso povo, de que ele foi escravo, conquiste definitivamente sua libertação econômica e social.' Entenda-se que a 'libertação' passava por reforma agrária e fim da espoliação internacional.

A primeira reunião formal do grupo tinha objetivo bem burocrático: montar a estrutura do Gr-11. As funções estão bem detalhadas e cada integrante tem um papel específico (esta é a transcrição da descrição das tarefas):

Líder, dirigente ou comandante: representa, orienta e coordena as atividades do grupo, de acordo com as instruções partidárias e os objetivos da organização. Está previsto que seu mandato será a duração de um ano;

Assistente: prestar colaboração direta ao dirigente ou comandante do grupo, substituindo-o em seus impedimentos;

Secretário-tesoureiro: responsável pela gestão dos recursos financeiros e guarda de papéis e documentos (líder, assistente e secretário-tesoureiro formam a comissão executiva do Gr-11);

Comunicações: dois integrantes ficam encarregados das comunicações, que englobam a troca de informações entre os elementos do Gr-11, inclusive no caso de ser preciso avisar aos companheiros sobre a necessidade de esconderijo ou fuga;

Rádio-escuta: acompanhamento pelo rádio dos acontecimentos nacionais e locais;

Transporte: coordenação das possibilidades de transportes para os membros do grupo no caso de atos e concentrações públicas;

Propaganda: responsável por faixas, boletins, pichamentos, notícias para a imprensa;

Mobilização popular: contatos e ligações com o ambiente local, visando a formar um círculo de relações e colaboração em torno do grupo, principalmente para garantir o comparecimento em comícios ou outros atos públicos;

Informações: atribuição de fazer contatos e o levantamento de informações sobre a situação política e social, além de outros problemas que interessem o grupo. Também fica responsável pela organização partidária local;

Assistência médico-social: o companheiro deve ser, se possível, médico, enfermeiro ou assistente social, 'ou no mínimo com alguma noção ou treinamento para prestar assistência ou orientação a todas as pessoas necessitadas no ambiente onde atuar o Comando Nacionalista (por exemplo, aplicar injeção, conseguir medicamentos, curativos de emergência)'.

A proposta era criar sucessivos grupos de 11 integrantes até atingir 11 células com estas características, quando, como relata o documento, 'seus onze líderes formarão um Gr-11-2, isto é, um grupo de onze de 2º. nível, reunindo um total de 121 companheiros.'
Esta seria a matriz de multiplicação dos comandos nacionalistas: os 11 líderes escolheriam, entre si, um comandante de segundo nível, cuja responsabilidade seria a coordenação dos onze grupos; e os outros dez companheiros deste Gr-11-2 dariam apoio ao novo chefe. Mas nada de parar por aí, porque cada nova célula deveria perseguir sua clonagem ao infinito: 'se num município, numa cidade, área ou bairro, se organizarem onze grupos de onze, portanto um Gr-11-2 e depois onze grupos de 2º. nível, teremos um total de 1.331 companheiros na organização, os quais serão orientados e dirigidos por um Gr-11-3, ou seja, um grupo de onze de 3º. nível, integrado pelos onze líderes dos grupos de 2º. nível.'

As 'recomendações gerais' sugerem que os Gr-11 deveriam ser integrados inicialmente por companheiros de 'maior capacidade de direção e liderança'. Os demais grupos seriam compostos por militantes de capacidade 'aproximada ou igual'. O documento frisa que o movimento recebe, de braços abertos, gente de todas as procedências: 'No mesmo Gr-11 poderão estar um trabalhador da mais modesta atividade, ao lado de um médico; um trabalhador ou técnico especializado, um estudante, um agricultor, um intelectual, um motorista, ao lado de um camponês, um militar.'

O contato com a liderança nacional era de responsabilidade de um delegado de ligação (DL); enquanto não chegavam novas instruções, cabia ao Gr-11 realizar reuniões para estreitar os laços entre seus militantes e analisar a conjuntura, além de buscar adesões em sua área de atuação. 'Os companheiros devem estimular, particularmente, a formação de Gr-11 entre a mocidade e estudantes. É da maior significação esse ponto das presentes instruções. A nossa causa depende fundamentalmente do apoio e da integração dos jovens e das classes trabalhadoras.'

Embora não fizesse restrições a analfabetos, a arquitetura dos Gr-11 praticamente ignorava uma militância integral das mulheres: 'As companheiras integrantes do Movimento Feminino ou simpatizantes devem formar seus próprios Gr-11.

Oportunamente serão enviadas instruções especiais sobre a estrutura desses grupos de companheiras.'

O chamado Anexo C é composto de documentos de Leonel Brizola com o sugestivo título de 'Subsídios para a Organização dos Comandos de Libertação Nacional'. Tem oito seções, todas subdivididas num minucioso roteiro para a militância. E começa pelo nome a ser dado ao grupo. No capítulo 'Denominação', há cinco sugestões, por ordem preferencial: Comandos de Libertação Nacional (Colina); Comando Revolucionário de Libertação Nacional (Corlin); Comando Revolucionário dos Onze (Cron); Comando de Libertação Brasileira (Colb); e Comando dos Onze Revolucionários (Core).

O capítulo seguinte é o da 'Justificativa': 'A palavra revolucionária, como é sabido, exerce poderosa atração nas pessoas entre 17 e 25 anos – fator que servirá à etapa de arregimentação'. O documento aposta na força de atração do termo: 'A sigla onde aparece a ideia de revolução pode, com maiores possibilidades, ser difundida com certo mistério e mística de clandestinidade, complementada por instruções secretas, senhas, códigos, símbolos etc...', diz o texto que exibe rudimentos de técnica de marketing e motivação.

Vitor Borges: 'Os militares queriam saber como pretendíamos envenenar o reservatório de água e perguntavam onde estavam os sacos de veneno.'

O gaúcho Vitor Borges de Melo, natural de Alegrete, cidade que fica a cerca de 500 quilômetros de Porto Alegre, é um bom exemplo de arregimentação de jovens que queriam um pouco de ação. 'Eu e meus companheiros éramos simpatizantes de Brizola desde a Cadeia da Legalidade, em 1961. Eu já tinha me apresentado como voluntário nesta época. Depois passei a acompanhar os discursos na Rádio Mayrink Veiga e decidi entrar para o Grupo de Onze. Todos usavam nomes de guerra e o meu era Tavares.'

Aos 63 anos, embora seja citado como ex-integrante do Gr-11, Vitor na verdade só se lembra de ter participado de uma reunião. Mesmo assim ficou preso, incomunicável, por 31 dias. 'Os militares queriam saber como pretendíamos envenenar o reservatório de água de Alegrete e perguntavam onde estavam os sacos de veneno. Não sei de onde tiraram isso, como é que faríamos uma coisa dessas?', lembra Vitor, hoje aposentado, filiado ao PTB e beneficiado, pela Lei da Anistia, com uma indenização de R$ 12 mil.

Provavelmente, por só ter ido a uma reunião, Vitor não foi 'iniciado' em todas as propostas de ação do movimento.

No dossiê, a delimitação de áreas de ação é meticulosa e pretende cobrir todo o território nacional. Do contingente inicial de 11 membros, a proposta é multiplicá-los de forma que um distrito tenha 11 unidades de 11 membros, contabilizando 121 almas. A província terá 22 distritos, ou 2.662 membros; e a região será composta por 11 ou mais províncias, com 29.282 membros. O documento divide o país em sete regiões, mas exclui a Região Norte, provavelmente por problemas de logística:

1ª. Região: Guanabara, Rio de Janeiro e Espírito Santo;

2ª. Região: Bahia e Sergipe;

3ª. Região: Minas Gerais;

4ª. Região: São Paulo e Paraná;

5ª. Região: Santa Catarina e Rio Grande do Sul;

6ª. Região: Pernambuco, Alagoas, Paraíba e Rio Grande do Norte;

7ª. Região: Ceará, Piauí, Maranhão e Fernando de Noronha.

A estrutura administrativa nacional também previa um organograma que contava com um comandante supremo (CS); dois inspetores regionais (IN); e oito conselheiros regionais (CR), uma elite de burocratas encarregados de escolher, nomear ou destituir as camadas inferiores de militantes. Mas, abaixo deles, também havia espaço para muita gente se acomodar. O desenho da burocracia interna do poder é rico em categorias e deixaria qualquer analista de RH impressionado com o número de cargos.

Sob a estrutura nacional, há estruturas administrativas regionais, provinciais e distritais, com direito a chefias, secretarias-executivas, assessorias e monitorias. Ao todo, são listados 32 cargos de alguma relevância – uma longa carreira que se descortinava para os aspirantes à militância.

Especialmente suculento é o capítulo sobre instruções gerais aos companheiros que quisessem organizar um Gr-11. Uma das principais preocupações diz respeito à seleção de indivíduos: 'Procure conhecer bem as ideias políticas de cada uma das pessoas que você pretende convidar', ensina a cartilha, batendo na tecla da prudência: 'Convide a pessoa para uma conversa reservada. Peça sigilo sobre o assunto. Procure certificar-se de que ela manteve sigilo. Mande alguém, seu conhecido, testá-la nesse pormenor.'

A paranóia pela segurança se estende aos deveres dos dirigentes. Entre os dez itens listados, cinco dizem respeito ao controle da informação e dos membros do grupo: 'manter severa vigilância em sua jurisdição para evitar infiltrações de inimigos entre os seus comandados'; 'alternar, sempre, os locais de reuniões de seu grupo, fazendo as convocações sempre em código ou através de senhas'; 'manter sob rigoroso controle os arquivos secretos e os dados sigilosos sobre a organização e seus membros'; 'não discutir assuntos referentes aos planos dos Comandos de Libertação Nacional exceto com as pessoas autorizadas'; 'procurar organizar em sua jurisdição um esquema de rápida mobilização popular para enfrentar golpistas, reacionários e grupos antipovo.'O código de segurança detalha os cuidados a serem adotados e a ordem é clara: desconfiar o tempo todo. Por isso o telefone fica banido na transmissão de mensagens. O militante também deve anotar tudo o que ouvir sobre a organização, especialmente quando partir de um 'reacionário': 'até as piadas têm sua importância. Não as despreze.'Os comandantes são instruídos a buscar subordinados para os Grupos de Onze que sejam 'os autênticos e verdadeiros revolucionários, os destemerosos da própria morte.'

Os comandantes regionais, devido à sua importância na estrutura do movimento, recebem instruções secretas que só devem ser compartilhadas com os companheiros do Grupo de Onze 'com as devidas cautelas e ressalvas'. O filé mignon da pregação revolucionária brizolista se encontra no Anexo D, cuja abertura tem o pomposo título 'Preâmbulo Ultra-secreto' e determina que 'só os fortes e intemeratos podem intentar a salvação do Brasil das garras do capitalismo internacional e de seus aliados internos. Quem for fraco ainda terá tempo de recuar ante a responsabilidade que terá que assumir com o conhecimento pleno destas instruções.'

Os comandantes são instruídos a buscar subordinados para os Grupos de Onze que sejam 'os autênticos e verdadeiros revolucionários, os destemerosos da própria morte, os que colocam a Pátria e nossos ideais acima de tudo e de todos.' E a recomendação seguinte é evitar arregimentar parentes ou amigos íntimos.
Findo o preâmbulo, as instruções secretas têm dez seções. A primeira, sobre os objetivos, volta a pregar a importância do Gr-11 como a 'vanguarda avançada' do movimento e compara esta célula à Guarda Vermelha da Revolução Socialista de 1917.

Por ser revolucionária, ela não precisa prestar contas dos seus atos: 'Não nos poderemos deter à procura de justificativas acadêmicas para atos que possam vir a ser considerados, pela reação e pelos companheiros sentimentalistas, agressivos demais ou até mesmo injustificados.' Sem sombra de dúvida, os fins justificam os meios.

O quesito seguinte, que tem o título genérico de 'Observações', descreve o que seria uma espécie de estado de espírito permanente dos participantes: 'Os Grupos dos Onze Companheiros, como vanguardeiros da libertação nacional, terão que se preparar devidamente (...) devendo considerar-se, desde já, em REVOLUÇÃO PERMANENTE e OSTENSIVA.' A revolução cubana vitoriosa de Fidel Castro é a principal referência: 'A condição de militantes dos gloriosos Gr-11 traz consigo enormes responsabilidades e, por isso, embora para formação inicial de nossas unidades não seja condição sine qua o conhecimento da técnica propriamente militar, torna-se absolutamente necessário o da técnica de guerrilhas e a leitura, entre outras importantes publicações, do folheto cubano a respeito daquele mister.'

No terceiro capítulo, sobre a ação preliminar, os companheiros são instados a tentar conseguir o quanto antes armamentos para o 'Momento Supremo'. E a lista contempla desde espingardas a pistolas e metralhadoras. Com um lembrete: 'Não esquecer os preciosos coquetéis Molotov e outros tipos de bombas incendiárias, até mesmo estopa e panos embebidos em óleo ou gasolina.' A instrução reconhece a escassez de armas no movimento, mas conta com aliados militares (segundo o documento, 'que possuímos em toda as Forças Armadas') e garante ter o apoio da população rural. 'Os camponeses virão destruindo e queimando as plantações, engenhos, celeiros e armazéns.'

O descolamento entre propostas e realidade é flagrante, mas não diminui o grau de virulência da ação que, pelo menos em tese, seria desencadeada pelos Grupos de Onze. Juarez Santos Alves, de 61 anos, é contemporâneo e até hoje amigo de Vitor Borges de Melo. O pai, dono de farmácia, e o tio, militar, eram militantes do PCB (Partido Comunista Brasileiro) e foram sua inspiração. No entanto, no que diz respeito à sua passagem pelo Grupo de Onze, a monotonia imperava. 'Considero mais um grupo poético, porque nunca demos um passo além das reuniões. Falava-se em tomar o quartel, mas como é que iríamos resistir se no máximo tínhamos armas pessoais ou de caça?', rememora Juarez, que depois ingressou na Vanguarda Popular Revolucionária. Preso e torturado, foi beneficiado com uma indenização de R$ 100 mil.

A cartilha de ação inclui escudos humanos, saques e incêndios de edifícios públicos e empresas particulares, além da difusão de notícias falsas.

Em centros urbanos, a tática adotada será assumidamente a de guerra suja, com a utilização de escudos civis, principalmente mulheres e crianças. 'Nas cidades, os companheiros (...) incitarão a opinião pública com gritos e frases patrióticas, procurando levantar a bandeira das mais sentidas reivindicações populares, devendo, para a vitória desta tática, atrair o maior número de mulheres e crianças para a frente da massa popular.' Agitação é a palavra de ordem, com direito a depredação de estabelecimentos comerciais, saques e incêndios de edifícios públicos e de empresas particulares. Também estão incluídos ataques a centrais telefônicas, emissoras de rádio e TV. O objetivo? 'Com as autoridades policiais e militares totalmente desorientadas, estaremos, nesse momento, a um passo da tomada efetiva do Poder-Nação.'

Sobre a tática geral da guerrilha nacional, tema do item quatro, a ênfase recai na guerra de informação. Depois de a autodenominada ação revolucionária ter provocado o caos, o passo seguinte seria cortar a comunicação entre as cidades e divulgar apenas o que interessasse ao movimento. 'Difundindo-se notícias falsas, tendenciosas e inteiramente favoráveis aos nossos Gr-11 e aos nossos planos, com interceptação de comunicações telefônicas isolamento das cidades e de seus meios de comunicação.'

Em 'O porquê da revolução nacional libertadora', a explicação de cartilha revolucionária: a exploração do capital monopolista estrangeiro, principalmente americano; e a estrutura agrária baseada na concentração latifundiária. No capítulo sobre 'o aliado comunista', não resta dúvida de que Brizola não via o Partido Comunista Brasileiro (PCB) com a menor simpatia. 'Devemos ter sempre presente que o comunista é nosso principal aliado mas, embora alardeie o Partido Comunista ter forças para fazer a Revolução Libertadora, o PCB nada mais é que um movimento dividido em várias frentes internas em luta aberta entre si pelo poder absoluto e pela vitória de uma das facções em que se fragmentou.' E continua, aumentando o tom da crítica: 'São fracos e aburguesados esses camaradas chefiados pelos que veem, em Moscou, o único sol que poderá guiar o proletariado mundial à libertação internacional. Fogem à luta como fogem à realidade e não perderão nada se a situação nacional perdurar por muitos anos ainda.'

'No caso de derrota do nosso movimento, os reféns deverão ser sumária e imediatamente fuzilados.'

O trecho mais chocante das instruções secretas aos comandantes diz respeito à guarda e ao julgamento dos prisioneiros. Para esta tarefa, a orientação é clara: 'Deverão ser escolhidos companheiros de condições humildes mas, entretanto, de férreas e arraigadas condições de ódio aos poderosos e aos ricos'. Além da prisão, está previsto o julgamento sumário de oponentes ao movimento, onde se incluem autoridades públicas, políticos e personalidades. 'No caso de derrota do nosso movimento, o que é improvável, mas não impossível (...) e esta é uma informação para uso somente de alguns companheiros de absoluta e máxima confiança, os reféns deverão ser sumária e imediatamente fuzilados, a fim de que não denunciem seus aprisionadores e não lutem, posteriormente, para sua condenação e destruição.'

Para o professor Jorge Ferreira, entre 1961 e 1964 houve uma profunda mudança nos interesses que alimentavam a correlação de forças entre militares, partidos políticos e sociedade. 'Em agosto de 1961', diz ele, 'quando Jânio Quadros renuncia, os militares deram um golpe que foi rechaçado pelo Congresso, pelos partidos e pelas entidades civis. Os grupos progressistas e legalistas venceram. A sociedade brasileira não queria romper com o processo democrático.' O período parlamentarista manteve o equilíbrio, ainda que precário, entre essas correntes. Jango sabia que precisava de maioria no Congresso ou não governaria, mas o plebiscito que lhe devolveu o presidencialismo acabou dando outro rumo aos acontecimentos, como afirma Ferreira: 'a Frente de Mobilização Popular, encabeçada por Brizola, havia unificado praticamente todas as esquerdas, englobando o Comando Geral dos Trabalhadores, Ligas Camponesas, UNE, Ação Popular, a esquerda do Partido Socialista Brasileiro, a esquerda mais radical do PCB, os movimentos de sargentos e marinheiros. E a exigência dessas esquerdas era o rompimento com o PSD (Partido Social Democrático), a convocação de Assembléia Nacional Constituinte e o questionamento das instituições liberais vigentes. É quando se estabelece o confronto.' Desta vez, o estado de direito não venceu.

Fonte: 

https://www.usinadeletras.com.br/exibelotexto.php?cod=66829&cat=Ensaios


***


Brizola, o último dos maragatos

Félix Maier (*)


Pessoas importantes, ou que se julgam como tais, dão um jeito de morrer em uma data especial. Foi assim que ocorreu com o imperador Constantino, que se converteu ao cristianismo e possibilitou a rápida expansão da nova religião por todo o Império Romano: deu um jeito de morrer num glorioso dia de Páscoa. Com Tancredo Neves não foi diferente: marcou encontro com São Pedro justo no dia 21 de abril, data da morte de seu conterrâneo mais famoso, Tiradentes. Dizem que Tancredo já havia morrido dias antes, apenas se escolheu uma data cívica melhor para avisar a imprensa – mas isso é outra história. O certo é que Tancredo virou santo sem precisar apresentar milagres, como Santa Paulina, romarias levam as massas a seu túmulo em São João del Rey a cada feriado da Inconfidência. Já Leonel Brizola, o último dos maragatos, não escolheu nenhuma data significativa para ser levado pela Senhora da Gadanha. Foi acariciado pelas parcas, de supetão, no dia 21 de junho deste ano. Do jeito que imaginava, ainda em atividade política, pois havia profetizado “serei como um cavalo inglês: só vou morrer na cancha”. O certo é que, se tivesse que escolher uma data para chegar às canhadas do purgatório, Brizola ficaria em dúvida - 7 de setembro ou 15 de novembro? -, pois, mais nacionalista do que ele, impossível.

Quem foi, afinal, Leonel Brizola, por quem muitos brasileiros, com um lenço vermelho no pescoço, bem à moda maragata, verteram compungidas lágrimas durante o velório e promoveram uma vaia fenomenal ao “traidor” Lula da Silva quando este tentou se aproximar do defunto no Rio de Janeiro?

Antes de mais nada, Brizola simbolizava como ninguém o protótipo do anarquista espanhol, Don Pepe, que vagueia na trilogia O Tempo e o Vento, de Érico Veríssimo: “se há governo, sou contra!”. Prova disso foi o seu rápido afastamento de Lula quando este, enfim, se tornou presidente do Brasil. Não havia ninguém que fazia críticas tão ácidas quanto Brizola. Mas, afinal, o que queria o último dos maragatos? O que queria o maior de todos os nossos carbonários? Enfim, qual era o tipo de Brasil que existia na imaginação do ultranacionalista Leonel de Moura Brizola, o antiamericano número um do continente?

Brizola teve uma carreira política meteórica. Nasceu em 22 de janeiro de 1922 com o nome de Itagiba, no povoado de Cruzinha, RS, que pertenceu a Passo Fundo até 1931, quando passou à jurisdição de Carazinho. Adotou o nome do chefe maragato Leonel Rocha, passando a ser conhecido como Leonel Brizola. Em 1939, formou-se técnico agrícola no Instituto Agrícola de Viamão, próximo de Porto Alegre. Em 1945 começa a estudar engenharia civil na Universidade do Rio Grande do Sul, formando-se em 1949. Ainda em 1945, fundou o primeiro núcleo gaúcho do PTB. Um ano depois, foi eleito deputado estadual . Em 1950, Brizola foi reeleito deputado estadual do Rio Grande, e no dia 1º de março do mesmo ano casou-se com Neusa Goulart, irmã do então deputado estadual João Goulart, que viria mais tarde a ser presidente do Brasil. O padrinho foi Getúlio Vargas, que seria eleito presidente do País no dia 3 de outubro do mesmo ano. Em março de 1951, Brizola se torna líder do PTB na Assembléia Legislativa e se candidata a prefeito de Porto Alegre, porém perde por um diferença de apenas 1%, no pleito de 1º de novembro. Em 1952, foi secretário estadual de Obras Públicas do governo Ernesto Dornelles (PTB) e em 1954 elegeu-se deputado federal, com a maior votação da história gaúcha até então. Em 1955 foi eleito prefeito de Porto Alegre e, em 1958, governador do Rio Grande do Sul.

No período de 1959 a 1963, Brizola governa o Rio Grande do Sul, época em que começa a desempenhar um papel “nacionalista” de repercussão nacional. “Empossado em janeiro de 1959, criou a Caixa Econômica Estadual e adquiriu o controle acionário do Banco do Rio Grande do Sul. Criou a Aços Finos Piratini e a Companhia Riograndense de Telecomunicações e pressionou o governo federal a instalar uma refinaria no Estado. Encampou a Companhia Telefônica Rio-Grandense, uma subsidiária da ITT. No setor de educação, construiu 5.902 escolas primárias, 278 escolas técnicas e 131 ginásios e escolas normais” (http://www1.folha.uol.com.br/folha/brasil/ult96u61836.shtml).

O presidente Jânio Quadros havia entrado em atrito com os chefes militares, ao conceder a Medalha do Cruzeiro do Sul a Ernesto “Che” Guevara, em solenidade na capital brasileira. A divisão nas Forças Armadas aumentou após a renúncia de Jânio, em 1961, pois muitas autoridades militares não aceitavam a posse do vice, João Goulart, o “Jango”, visto como “comunista”. Na ocasião, “Jango” estava em viagem à China comunista, acompanhado de “líderes trabalhistas, convocados para observação e estudo das comunas populares daquele país” (AUGUSTO, 2001: 70). Na China, “Jango” fez “um pronunciamento radical, em que revelou sua intenção de estabelecer também no Brasil uma república popular, acrescentando que, para tanto, seria necessário contar com as praças para esmagar o quadro de oficiais reacionários” (AUGUSTO, 2001: 71) – prenúncio da Revolta dos Sargentos, em Brasília, em 1963, e da Revolta dos Marinheiros, no Rio de Janeiro, em 1964.

Em manifesto à nação, os ministros militares afirmaram o perigo que representaria um governo chefiado por Goulart: “As próprias Forças Armadas, infiltradas e domesticadas, transformar-se-iam, como tem acontecido noutros países, em simples milícias comunistas” (TAVARES, 1977: 65). Porém, o Marechal Henrique Teixeira Lott, “candidato derrotado à presidência da República, tendo Goulart como companheiro de chapa, lançou um manifesto exigindo que a presidência fosse assegurada ao vice-presidente eleito, conforme previa a Constituição” (AUGUSTO, 2001: 71). A candidatura Lott havia surgido da “Novembrada” (11/11/1956), durante o Governo Juscelino Kubitschek, quando o vice João Goulart entregou uma “espada de ouro” ao Marechal Lott, em uma homenagem que seria, aparentemente, o de “promover um grande movimento de caráter populista de solidariedade ao Exército, embora com o propósito oculto de sensibilizar, apenas, uma parte dele” (TAVARES, 1977: 31). Ou seja, criar a figura do “general do povo”, que durante o Governo Goulart teve outros adeptos fervorosos.

Para defender a posse de João Goulart, Brizola criou a Rede da Legalidade. “No Rio Grande do Sul, o Governador Leonel Brizola, cunhado de Goulart, mobilizou a Brigada Militar, ganhou o apoio do comandante do III Exército, General Machado Lopes, e lançou um movimento legalista pela posse de Jango, que se estendeu a todo o País” (AUGUSTO, 2001: 71). Como recentemente se pôde observar, tanto nos jornais como na TV, durante os funerais de Brizola, comentaristas consideram essa ação do maragato como o de mais alto prestígio em toda sua carreira política.

A solução encontrada para o impasse foi o parlamentarismo, aceito por Jango. Porém, o seu Partido Trabalhista, com a força de Leonel Brizola e a mobilização do Comando Geral dos Trabalhadores (CGT) e do Partido Comunista Brasileiro (PCB), consegue reverter a situação, e a 6 de janeiro de 1963 é restabelecido, por plebiscito popular, o sistema presidencialista.

Um mês após a posse de Jango, que ocorreu no dia 7 de setembro de 1961, Leonel Brizola e Mauro Borges, governador de Goiás, lançam a Frente de Libertação Nacional (FLN). A Frente enfatizava a ação exploradora dos capitais estrangeiros e a necessidade de nacionalização de empresas e efetivação da reforma agrária. Nacionalista, o “Manifesto de Goiânia” proclamava que “não seremos colônia dos EUA, nem satélite da URSS”. Compareceram ao ato o Prefeito de Recife, Miguel Arraes, os deputados Francisco Julião, Barbosa Lima Sobrinho e outros esquerdistas. Brizola, com anseios de se tornar o Fidel Castro sul-americano, pretendia criar um grupo armado, o que levou o jornal New York Time a considerá-lo a maior ameaça aos interesses dos EUA depois da Revolução Cubana. Com o major do Exército (cassado), Joaquim Pires Cerveira, durante o período de governo militar, a Frente agregou remanescentes do Movimento Revolucionário 26 de Março (MR-26) - que viria a ser extinto em 1969 -, promovendo ações terroristas no Rio Grande do Sul e no Rio de Janeiro, em conjunto com a Ação Libertadora Nacional (ALN), de Carlos Marighela, e a Vanguarda Popular Revolucionária (VPR), de Carlos Lamarca. A Frente brizolista foi extinta em 1970, com a prisão de Cerveira.

Durante sua gestão no Rio Grande do Sul, além do nacionalismo xenófobo demonstrado na encampação da ITT americana, Brizola investe no populismo a la Getúlio Vargas, vergastando as elites rurais e endossando as ações do Movimento dos Agricultores Sem-Terra (Master), criado por Rui Ramos - uma aclimatação das Ligas Camponesas de Francisco Julião nos pampas gaúchos.

O “general do povo” Osvimo Ferreira Alves, comandante do I Exército, é simpático ao PCB e às idéias nacionalistas de Brizola. Este, populista de feições caudilhescas, encorajado pelo abrigo à sombra do quepe do general, reúne-se com 150 sargentos e realiza uma mobilização popular para fechar o Congresso; Goulart seria afastado, caso se opusesse. O presidente, porém, consegue evitar o golpe do carbonário gaúcho, que sonhava ser o Fidel Castro brasileiro, e começa o desmonte do esquema dos militares ligados a Brizola.

Como se pode comprovar, o “legalista” de véspera, que havia defendido a posse de Jango, deixou de sê-lo repentinamente, para se converter em um fanático golpista pronto a derrubar o próprio cunhado. (“Cunhado não é parente” era um dos muitos motes repetidos por Brizola.)

Eram tumultuados aqueles anos em que o carbonário Leonel “Don Pepe” Brizola se especializou em apagar incêndios com gasolina. Os agora chamados “anos de chumbo” dos governos militares foram precedidos por uma febril convulsão política e social. Em 24 de novembro de 1961, são restabelecidas relações diplomáticas com a URSS. Há uma aproximação de Jango com os comunistas, e o PCB conquista a presidência da poderosa Confederação Nacional dos Trabalhadores na Indústria (CNTI). Vale a pena lembrar o que ocorreu em 1963 e 1964, antes de os militares darem um fim à dupla baderneira Jango-Brizola.

Com o restabelecimento do presidencialismo, em 1963, cresce a subversão comunista no Brasil, com a infiltração de militantes nos ministérios. Há propaganda soviética generalizada nos jornais e livrarias. As invasões de terra aumentam no Brasil, fomentadas pelas Ligas Camponesas, que abatem gado e incendeiam canaviais em Pernambuco, com o apoio tácito do Governador Miguel Arraes. Greves políticas começam a pipocar por todos os cantos, há desabastecimento de gêneros de primeira necessidade, agravado por uma terrível seca. Míngua a entrada de capital estrangeiro no País. O Comando dos Trabalhadores Intelectuais congrega nomes da cultura nacional, como Barbosa Lima Sobrinho, Dias Gomes, Enio Silveira, Jorge Amado.

Em fevereiro de 1963, cerca de 6.000 sargentos, cabos e soldados realizam passeata em São Paulo, em apoio à posse dos companheiros de farda eleitos. Em março, é realizado em Niterói, RJ, o Encontro de Solidariedade a Cuba, pois o Governador da Guanabara, Carlos Lacerda, havia proibido o encontro no seu Estado, antigo Distrito Federal.

O Instituto Superior de Estudos Brasileiros (ISEB), dominado por intelectuais marxistas, atrai subtenentes e sargentos, apresentando cursos e palestras de doutrinação comunista. “... o trabalho de aliciamento nas Forças Armadas se concentraria sobre os graduados, por serem em maior número e, na sua maioria, menos preparados para resistir ao assédio dos profissionais do Partido Comunista. (...) O jornal esquerdista ‘O Semanário’ dava cobertura a essas atividades, vinculando os subtenentes e sargentos à campanha nacionalista” (AUGUSTO, 2001: 103).

Em julho de 1963, nas comemorações do aniversário do general Osvino, então comandante do III Exército, reuniram-se em Porto Alegre cerca de 800 subtenentes e sargentos das Forças Armadas e da Brigada Militar do Rio Grande do Sul, para fazer afagos ao velho “general do povo”.

Em 6 de março de 1963, houve uma passeata de militares em São Paulo, exigindo a posse dos sargentos eleitos. Militares da Aeronáutica e da Força Pública compareceram fardados. “À mesa diretora sentaram-se os comunistas Rio Branco Paranhos, Geraldo Rodrigues dos Santos, José da Rocha Mendes Filho, Mário Schemberg, Luiz Tenório de Lima, Oswaldo Lourenço e o General reformado Gonzaga Leite, um dos organizadores do Congresso Continental de Solidariedade a Cuba” (AUGUSTO, 2001: 104).

As críticas e reivindicações populares dos militares de baixa patente aumentam de tom. “Em Fortaleza, o sargento-deputado Garcia Filho afirmou que, se não houvesse uma decisão favorável à posse dos eleitos, a Justiça Eleitoral seria ‘fechada’. Pregou ‘o enforcamento dos responsáveis pela tirania dos poderes econômicos’ e rotulou a instituição militar de ‘nazista’ ” (AUGUSTO, 2001: 105).

A 12 de setembro de 1963, há uma rebelião de sargentos em Brasília: sargentos da Marinha e da Força Aérea, liderados pelo sargento da Força Aérea, Antonio Prestes de Paula, “apossam-se sucessivamente do Ministério da Marinha, da Base Aérea, da Área Alfa (da Companhia de Fuzileiros Navais), do Aeroporto Civil, da Estação Rodoviária e da Rádio Nacional” (AUGUSTO, 2001: 106). Os revoltosos prenderam um ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) e o presidente da Câmara Federal. Na tentativa de invasão do Ministério da Aeronáutica, um marinheiro foi morto a tiro. À tarde os revoltosos já haviam sido presos.

No dia 4 de outubro de 1963, Castello Branco, Chefe do Estado-Maior do Exército (EME), enviou documento ao Ministro da Guerra, assinalando a necessidade de providências sobre “a ação ilegal, inclusive subversiva, do Comando Geral dos Trabalhadores, a agitação insurrecional promovida pelo Deputado Leonel Brizola, a conexão de atividades de políticos com o motim de Brasília e os abusos do poder econômico” (TAVARES, 1977: 76). Na mesma ocasião, Castello mostrou-se contrário ao Estado de Sítio pleiteado por Goulart, para implantação de suas “reformas de base”.

Sua experiência no Comando do Exército no Nordeste – onde teve atritos com o governador Miguel Arraes – deu a Castello “visão segura de como as injustiças sociais, crônicas e chocantes, eram premeditadamente agravadas para fins políticos. Em vez de medidas construtivas, para proteger os interesses dos homens da lavoura contra a exploração dos senhores de engenho, o caminho adotado foi de mobilizá-los como agentes da subversão, alguns treinados em Cuba, para a agitação na área rural, a depredação de propriedades e os incêndios de canaviais. (...) Em Anápolis (Goiás) já funcionava, a essas alturas, um centro de treinamento para guerrilhas rurais” (TAVARES, 1977: 80).

O lado subversivo tinha uma “frente” bastante ampla para subversão das “massas”, além do PCB e da dupla Jango-Brizola: a Ação Popular (AP) atuava por meio do Movimento de Educação de Base (MEB); a União Nacional de Estudantes (UNE), por meio de seu Centro Popular de Cultura; a União dos Lavradores e Trabalhadores Agrícolas do Brasil (ULTAB), com atuação em vários Estados; e o próprio Ministério da Educação e Cultura (MEC), com as Secretarias de Educação dos Estados, por intermédio da Comissão de Cultura Popular.

Para a formação do “homem novo”, a história também deve ser “nova”. A Coleção História Nova surgiu durante o governo Goulart, na “Campanha de assistência ao estudante”, do MEC, em que os livros tradicionais de história foram reformulados e os fatos interpretados sob a ótica marxista. O MEC editou também a cartilha “Viver é lutar”, reconhecida pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), para a alfabetização rural – ou seja, alfabetização marxista. A Rádio Ministério da Educação (Rádio da Verdade) era utilizada para propaganda comunista. Nada mais que o Pravda (“Verdade”, em russo) em ação.

Além dessas organizações, havia a disseminação no Brasil dos chamados “folhetos cubanos”, distribuídos pelo Movimento de Educação Popular (MEP), que serviam de inspiração às ações revolucionárias das Ligas Camponesas, de Francisco Julião, e aos Grupos dos Onze, de Brizola. Em tudo havia o dedo de Fidel Castro e sua Revolução Cubana: “As tentativas revolucionárias de inspiração cubana em vários países da América Latina – contrárias à linha política do PCB –, iniciadas na década de 1960 em Honduras, Guatemala, Nicarágua, Venezuela, Peru, Colômbia, Argentina e Equador, se haviam esgotado no nascedouro ou estavam derrotadas no final de 1963” (AUGUSTO, 2001: 121). Com exceção, sabe-se hoje, da Colômbia, onde as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) já atuam por mais de 40 anos e acarretaram a morte de dezenas de milhares de patrícios.

A reação ao estado de desordem que prosperava no País, com a complacência do presidente da República, começou a surgir de todos os lados. O apoio à democracia era exigido pela imprensa: os principais jornais do Brasil pediam o fim dos movimentos baderneiros, como os Diários Associados, O Estado de S. Paulo, Jornal da Tarde, Tribuna da Imprensa, O Globo, Jornal do Brasil. Organizações civis, encabeçadas por empresários e intelectuais, passaram a promover encontros, desde o final do Governo Kubitschek, para combater a infiltração comunista, que pregava propaganda esquerdista e a estatização da economia. Assim, no final de 1961, foi criado o Instituto de Pesquisa e Estudos Sociais (IPES). Têm ainda grande influência na reação à progressão comunista o Instituto Brasileiro de Ação Democrática (IBAD), formado também por empresários e intelectuais, e a Campanha da Mulher pela Democracia (CAMDE), que surge no Rio de Janeiro em 1962, reunindo donas de casa e esposas de líderes sindicais, funcionários públicos e militares. Essas organizações produziam literatura própria e tinham ramificações em várias cidades do País. A “cruzada democrática” se amplia: no movimento sindical, com a atuação do Movimento Sindical Democrático (MSD); no campo, com o Serviço de Orientação Rural de Pernambuco (SORPE) que, junto com o IBAD, “atuava naquela área, contrapondo-se ao método de alfabetização de Paulo Freire” (AUGUSTO, 2001: 118).

O IPES, o IBAD, a CAMDE e as Forças Armadas formaram a base quadrangular decisiva para o desencadeamento da Contra-revolução de 31 de março de 1964, contra Jango e Brizola, em sua política de implantar a “República Sindicalista” no Brasil.

Em janeiro de 1964, Luiz Carlos Prestes viajou a Moscou para prestar contas dos últimos trabalhos do PCB, desenvolvidos à luz da estratégia traçada por ele e Kruschev em novembro de 1961. Nesse encontro, participaram, além de Kruschev, Mikhail Suslov (ideólogo de Kruschev), Leonid Brejnev (Secretário do Comitê Central do Partido), Iuri Andropov e Boris Ponomariov (Chefe do Departamento de Relações Internacionais). Naquela ocasião, Prestes afirmou: “A escalada pacífica dos comunistas no Brasil para o poder abrindo a possibilidade de um novo caminho para a América Latina. (...) ... oficiais nacionalistas e comunistas dispostos a garantir pela força, se necessário, um governo nacionalista e antiimperialista. Implantaremos um capitalismo de Estado, nacional e progressista, que será a ante-sala do socialismo. (...) ... uma vez a cavaleiro do aparelho do estado, converter rapidamente, a exemplo de Cuba de Fidel, ou do Egito de Nasser, a revolução nacional-democrática em socialista” (AUGUSTO, 2001: 121-2).

Em fevereiro de 1964, foi realizada em Belo Horizonte a “Marcha do Terço”, pelos padres Peyton e Botelho e por várias organizações femininas patrocinadas pelo IPES. A Marcha condenou Leonel Brizola publicamente como “Anticristo”. Também havia condenado o Governo de João Goulart e pedido uma intervenção militar.

No dia 13 de março de 1964, há um comício das esquerdas na Praça da República, ao lado da estação ferroviária da Central do Brasil e do próprio Ministério da Guerra. Como se sabe, a capital da República havia sido transferida para Brasília, em 1960, porém muitos ministérios ainda permaneciam na antiga capital, Rio de Janeiro. Esse o motivo, também, dos vários comícios das esquerdas no Rio, com a presença do presidente Goulart e do deputado Brizola. “Dezenas de faixas e cartazes conclamavam às reformas, à legalização do Partido Comunista e à entrega ao povo de armas para a luta. No palanque, ao lado dos principais líderes sindicais e comunistas, alguns deles membros do Comitê Central do PCB, alinhavam-se Jango, Arraes e Brizola. Emissoras de rádio e televisão transmitiam para todo o País os inflamados discursos que se sucediam, preparatórios da fala do presidente” (AUGUSTO, 2001: 125-6).

A 25 de março, ocorre a rebelião dos marinheiros no Rio de Janeiro, que “foi a gota d’água que congregou os militares e os levou à decisão de partirem para a ação” (AUGUSTO, 2001: 128). Na mesma data, ocorre a reunião festiva do 2º aniversário da Associação de Marinheiros e Fuzileiros Navais do Brasil (AMFNB), uma entidade criada à revelia dos regulamentos militares. O marinheiro Anselmo critica as autoridades navais e conclama o povo a derrubar a “estrutura anacrônica do País, onde apenas os grupos privilegiados absorvem a riqueza que por direito pertence ao povo” (AUGUSTO, 2001: 128-9). Na mesma ocasião, foi aprovada uma proposta para que todos permanecessem no local até que fossem canceladas punições disciplinares contra militares e que os “almirantes gorilas” fossem substituídos por “almirantes do povo”. A indisciplina chegou ao ápice quando os marinheiros amotinados, desuniformizados, exibindo faixas de apoio do CGT, da Liga Feminina e dos Trabalhadores Intelectuais, saíram em passeata pela Avenida Presidente Vargas até a Igreja da Candelária, levando nos ombros os almirantes Aragão e Suzano.

No dia 30 de março, ocorre uma reunião na sede do Automóvel Clube, em comemoração do aniversário da Associação dos Subtenentes e Sargentos da Polícia Militar do Rio de Janeiro. “A reunião contou com a presença de centenas de sargentos da polícia e também de graduados recrutados nas Forças Armadas. Compareceram ainda diversos oficiais e ministros, entre eles o Almirante Paulo Mário, recém-empossado como Ministro da Marinha. Dezenas de comunistas confraternizaram-se com os militares. A manifestação atingiu o seu clímax no momento em que se abraçaram, sob os aplausos gerais, o Almirante Aragão e o cabo Anselmo” (AUGUSTO, 2001: 132). Jango, falando em nome do povo e das Forças Armadas e “incentivado pelos constantes aplausos, fez um dos discursos mais inflamados de sua vida pública” (AUGUSTO, 2001: 132) – na verdade, o último como presidente da República. Segundo Luís Mir, em “A Revolução Impossível”, “a exemplo de 1935, a revolução deveria começar, novamente, pelos quartéis.” (cfr. AUGUSTO, 2001: 121).

No dia 31 de março, as Forças Armadas brasileiras, com o Exército à frente, colocaram uma pá de cal no sonho dos comunistas de implantar uma “ditadura do proletariado” no País. A Contra-revolução teria cinco generais-presidentes e se estendeu até 1985, quando o senador José Sarney assumiu a presidência da República devido à morte de Tancredo Neves, eleito presidente em eleição indireta.

Com altos e baixos, o governo dos militares tirou o País da 48ª posição e o colocou entre as 8 primeiras economias do mundo. (Em 20 anos de “Nova República”, porém, caímos para a 15ª posição, e a Rússia deverá nos ultrapassar em 2005. Caímos três posições somente nos 12 meses de governo Lula da Silva e seu propalado “espetáculo do crescimento”). O “milagre brasileiro” foi detido pelas crises do petróleo de 1973 e 1979. Se não houvesse o monopólio da Petrobrás, fruto de nacionalismo estúpido, quem sabe, àquela época já seríamos auto-suficientes, como a Argentina havia se tornado em apenas 5 anos, e a história econômica brasileira poderia ter tomado outro rumo. Outra grande obra dos militares foi a erradicação dos grupos terroristas que infernizavam o Brasil, os quais tinham orientação e apoio financeiro de Havana, Moscou e Pequim. Não fosse a enérgica ação das Forças Armadas, quem sabe, ainda hoje estaríamos, como a Colômbia, combatendo as Forças Armadas Revolucionárias Brasileiras (FARB) nas matas de Xambioá.

Os erros básicos dos militares foram: o gigantismo estatal; a tomada de dinheiro no exterior a juros flutuantes; o descuido com a educação básica – o que não ocorreu com os “tigres asiáticos”, como Coréia do Sul, Taiwan, Cingapura e Malásia -; a Lei da Reserva de Informática, que atrasou o ingresso brasileiro no mundo digital em pelo menos 20 anos; a não assinatura do Tratado de Não-Proliferação Nuclear (TNP) – nem fabricamos a bomba, nem recebemos o supercomputador dos yankees –; enfim, o nosso eterno nacionalismo burro e a xenofobia obsessiva atrasaram a entrada efetiva de nosso País no processo de globalização, iniciado tardiamente no governo Collor de Melo.

Mas esse é outro assunto, para os economistas dissecarem, não para a análise da trajetória de Don Pepe que estamos fazendo neste trabalho. Voltemos, pois, ao maragato dos pampas. Vimos acima o resumo daqueles loucos anos pré-1964, em que a dupla Jango-Brizola se sentia tão bem no caldo anarquista como pato dentro da água. Interessante é que hoje não se lê nos jornais, depois da viagem sem volta do maragato para o purgatório, alguns fatos marcantes de Brizola, como a criação dos G-11 e a acusação de que teria desviado 200 mil dólares enviados por Fidel Castro para promover um movimento guerrilheiro no Brasil. Por que será? Falta de informação? Ou apenas safadeza da imprensa?

Quando estourou a Contra-revolução de 31 de março de 1964, Brizola tentou comandar a resistência aos militares a partir do Rio Grande do Sul. Por rádio, incitou os sargentos das Forças Armadas a prender todos os oficiais nos quartéis e seqüestrar todo o armamento e munição. Se dependesse de Brizola, o Brasil teria iniciado uma guerra civil sangrenta. Jango, ao contrário, talvez demonstrando um gesto de grandeza, ou de simples realismo, ou ainda, quem sabe, em um raro momento de lucidez não-etílica, preferiu sair do País a ver um derramamento de sangue entre brasileiros. E tinha razão, pois não houve nenhum candidato a dar um tiro sequer para defender a insânia do carbonário gaúcho.

Até mesmo Márcio Moreira Alves, parlamentar de oposição ao novo Governo, foi a favor dos atos de Castello Branco, como afirma em seu livro 'O Despertar da Revolução Brasileira', em que aborda o violento discurso que proferiu na Câmara dos Deputados contra os militares, que teria sido o estopim do Ato Institucional nº 5 (AI-5), em 13 de dezembro de 1968: “O protesto que escrevi era uma crítica por dentro. De um modo geral era eu simpático ao governo militar” (pg. 50). Para “Marcito”, foi um alívio ver a saída de Jango, pois 'achava-o oportunista, instável, politicamente desonesto... Aparecia bêbado em público, deixava-se manobrar por cupinchas corruptos... e tinha uma grande tendência gaúcha para putas e farras' (op. cit., pg. 51 e 52).

Com a deposição de Jango, o Brasil passou a conhecer um pouco mais sobre Brizola. O maragato havia criado, em 1963, os Grupos dos Onze (G-11), ou Grupo dos Onze Companheiros, na verdade, “comandos nacionalistas”, que seriam o embrião de um futuro Exército Popular de Libertação (EPL). Um documento do Grupo afirmava que os G-11 seriam a “vanguarda do movimento revolucionário, a exemplo da Guarda Vermelha da Revolução Socialista de 1917 na União Soviética”. (Prova a ignorância de Brizola, pois em 1917 havia apenas a Rússia, não a URSS.) “... os reféns deverão ser sumária e imediatamente fuzilados, a fim de que não denunciem seus aprisionadores e não lutem, posteriormente, para sua condenação e destruição”. Havia centenas desses Grupos espalhados em todo o País e tinham como missão eliminar fisicamente todas as autoridades do Brasil – civis, militares e eclesiásticas, como se pode ler nas “Instruções secretas” do EPL e seus G-11, no item 8, “A guarda e o julgamento de prisioneiros”: “Esta é uma informação para uso somente de alguns companheiros de absoluta e máxima confiança, os reféns deverão ser sumária e imediatamente fuzilados, a fim de que não denunciem seus aprisionadores e não lutem, posteriormente, para sua condenação e destruição” (AUGUSTO, 2001: 112).

No site antiterrorista Ternuma (Terrorismo Nunca Mais), lê-se: “No início de 1964, Brizola lançou seu próprio semanário, ‘O Panfleto’, que veio se integrar à campanha agitativa já desenvolvida pela cadeia da Rádio Mairink Veiga.
Em seus sonhos quixotescos, distribuiu diversos outros documentos para a organização dos G-11, tais como as ‘Precauções’, os ‘Deveres dos Membros’, os ‘Deveres dos Dirigentes’, um ‘Código de Segurança’ e fichas de inscrição para seus integrantes.
Chegou a organizar 5.304 grupos, num total de 58.344 pessoas, distribuídas, particularmente, pelos Estados do Rio Grande do Sul, Guanabara, Rio de Janeiro, Minas Gerais e São Paulo” (http://www.ternuma.com.br/brizola.htm).

Sem ter ninguém para segui-lo no enfrentamento armado, Brizola fugiu para o Uruguai, dizem que vestido de mulher, onde ficou exilado até 1977, fugindo para Portugal depois que o país platino foi também tomado pelos militares.

No Uruguai, Brizola tentou criar vários movimentos de “libertação” do Brasil. Em janeiro de 1965, foi realizada no Uruguai a unificação de diversos grupos de esquerda, para formar uma “frente revolucionária”, que seria desencadeada no Brasil pelos “Grupos dos 5” (Comitês instalados nas empresas e comitês rurais). O chamado Pacto de Montevidéu foi assinado por Leonel Brizola, Max da Costa Santos, José Guimarães Neiva Moreira, Darcy Ribeiro e Paulo Schilling, além de representantes do Partido Comunista do Brasil (PC do B), da AP (Aldo Arantes), do PCB (Hércules Correia dos Reis) e do Partido Operário Revolucionário Trotskista (PORT) (Cláudio Antônio Vasconcelos Cavalcante). Denominada de Frente Popular de Libertação (FPL), os “atos de guerra” deveriam incluir sabotagem urbana e guerrilha no campo. A maioria dos integrantes da FPL era formada por ex-militares cassados das Forças Armadas e da Brigada Militar do Rio Grande do Sul. A única sabotagem, malsucedida, foi em um bueiro da antiga BR-2, próximo a Jaguarão, RS, com o apoio de um ex-soldado do 13º Regimento de Cavalaria, de nome Ponciano, que trabalhava com explosivos em uma firma de Jaguarão.

Brizola era o líder idealizado por Fidel Castro para a Revolução no Brasil, devido a seu “nacionalismo antiimperialista”, ou seja, sentimento antiamericano. Após a Contra-revolução de 1964, por intermédio de Lélio Telmo de Carvalho, o grupo de Brizola no Uruguai obteve ajuda de Cuba: treinamento de guerrilha e auxílio financeiro de mais de 1 milhão de dólares. O primeiro “pombo-correio” enviado a Cuba foi Herbert José de Souza, o “Betinho”, seguido de Neiva Moreira e do ex-coronel do Exército, Dagoberto Rodrigues (na Tricontinental, Brizola havia enviado Aloísio Palhano, ex-membro do CGT). Pressionado por Cuba, para justificar os recursos financeiros, Brizola, João Goulart e outros exilados no Uruguai criaram em 1966 o Movimento Nacionalista Revolucionário (MNR), para implantar a guerrilha no campo. O MNR articulou a Guerrilha do Caparaó, na região do Pico da Bandeira, em Minas Gerais, onde todos os integrantes foram presos em 1967, depois de serem denunciados às autoridades, por abaterem reses, antes mesmo de desencadear qualquer tipo de ação terrorista. Brizola não contratou advogados para os presos e não prestou conta dos dólares cubanos. Os remanescentes desse grupo uniram-se à esquerda da Organização Revolucionária Marxista Política Operária (POLOP) para criar a Vanguarda Popular Revolucionária (VPR).

As Forças Armadas de Libertação Nacional (FALN) foram outro movimento criado pelo brancaleone dos pampas. O plano previa um movimento (coluna) que sairia do Rio Grande do Sul, sob comando do ex-coronel do Exército, Jefferson Cardim Osório, para juntar-se no Mato Grosso com outra coluna que viria da Bolívia, sob comando do ex-coronel da Aeronáutica, Emanuel Nicoll. Os comandados do Cel Jefferson assaltaram alguns postos policiais da Brigada Militar, levando um automóvel, fardamentos e munição, além de realizarem um assalto a um agência do Banco do Brasil. Atravessaram Santa Catarina e penetraram no Paraná; no município de Leônidas Marques, no dia 27 Mar 1965, os rebeldes prepararam uma emboscada a uma viatura do Exército, porém foram repelidos pelos militares, fugindo para o mato e depois capturados. Na operação, morreu o 3º sargento Carlos Argemiro Camargo. O ex-sargento da Brigada Militar, Albery Vieira dos Santos, um dos integrantes das FALN, declarou em 1978 que o dinheiro para financiar a operação – 1 milhão de dólares – havia sido conseguido em Cuba e levado a Brizola por Darcy Ribeiro e Paulo Schilling; em fevereiro de 1979, o ex-sargento Albery foi misteriosamente assassinado. O Cel Jefferson só veio a falecer em 1995, embora o livro “A Esquerda Armada no Brasil” (título original de “Los Subversivos”, editado pela Casa de las Americas, de Havana) afirme que o Cel Jefferson foi torturado até a morte em 1971. Como sempre, os comunistas - ou socialistas, se assim preferir o leitor, dá na mesma – são mestres na arte do assassinato, da desinformação e da mentira.

As ações quixotescas de “L’Armata Brizoleone” (uma alusão ao “Fantástico Exército de Brancaleone”, filme de Mario Monicelli, com Vittorio Gassman) e seu escudeiro Darcy “Sancho Pança” Ribeiro estão muito bem descritas por F. Dumont em http://www.ternuma.com.br/brizola.htm. Deve ser por isso que o líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio, afirmou que Brizola foi sempre seu “herói de capa e espada” (Correio Braziliense, 22/06/2004, seção “Política”, pg. 4). Sabia-se, pelos jornais, que Brizola teria desviado 100 mil dólares enviados por Cuba. Betinho, que mais tarde viria a ser a Madre Teresa dos coitadinhos do Brasil, porém, em depoimento ao Jornal do Brasil, em 17/07/1996, afirma que foram 200 mil. Ironicamente, Brizola, que tinha o hábito de colocar apelidos em seus adversários, como “sapo barbudo” para se referir a Lula, ou “filhote da ditadura” para atazanar Fernando Collor, recebeu o devastador apelido de “el ratón” de Fidel Castro. Está explicado por que, nestes anos todos, nunca se viu uma foto do Abutre do Caribe conversando com Don Pepe de los Pampas.

No início de 1979, o último dos maragatos lançou a Carta de Lisboa, base do futuro Partido Democrático Trabalhista (PDT). Brizola criou esse novo partido em 1981, depois de perder para Ivete Vargas, sobrinha de Getúlio, a sigla PTB. Depois da Lei da Anistia, em 1979, além da recriação do PTB e do nascimento do PDT, destaca-se a criação do PMDB (oriundo do antigo MDB, de oposição) e do PDS (substituto da Arena, partido de apoio aos governos militares).

Convém lembrar que o Projeto de Anistia, proposto pelo PMDB e PDS durante o Governo Figueiredo, era mais restrito do que o apresentado pelo próprio Governo, pois “deixara de fora importantes líderes como Prestes, Brizola e Arraes. Naturalmente, não desejavam a concorrência desses líderes na vida política do país” (AUGUSTO, 2001: 460 e 461).

De volta ao Brasil, Brizola recomeça sua vida política, em campanha para governador do Rio de Janeiro. São tempos ainda conturbados, com ações terroristas de direita, inconformada com a abertura política iniciada por Geisel. No dia 18 de janeiro de 1980, foi desativada uma bomba no Hotel Everest, no Rio de Janeiro, onde estava hospedado Leonel Brizola. “Na noite de 30 de abril de 1981, durante um show de música popular para 20 mil jovens, uma bomba explode dentro de um automóvel que manobrava no estacionamento do Riocentro, na Barra da Tijuca. Morto no seu interior o Sargento Guilherme Pereira do Rosário; gravemente ferido abandona o veículo semidestruído o Capitão Wilson Luís Chaves Machado, ambos do Destacamento de Operações de Informações do 1º Exército sediado no Rio de Janeiro. Minutos depois outra bomba, mais poderosa, é lançada e explode próximo à casa de força do Riocentro. Como não atinge o seu alvo, não provoca a escuridão geral que certamente ocasionaria o pânico no recinto fechado do show, com conseqüências fáceis de se imaginar” (GRAEL, 1985: 81).

Antes do Atentado do Riocentro, nos anos de 1980 e 1981, durante 16 meses, houve 40 atentados diversos contra Órgãos que faziam oposição ao governo Figueiredo – incluindo o atentado contra Brizola, citado acima. Nenhum desses atentados foi elucidado por Figueiredo, que passou a ser, desde o caso do Riocentro, um cadáver político.

Em 1982, Brizola elege-se governador do Estado do Rio de Janeiro, em disputa polêmica, só solucionada depois de ser descoberta a fraude: “um programa adulterado lançava parte de seus votos para os concorrentes” (Correio Braziliense, 22/06/2004, seção “Política”, pg. 5). O espalhafatoso maragato dos pampas estava de volta à luta para decepar as cabeças dos chimangos que existiam somente em sua imaginação.

Em seu primeiro governo fluminense, Brizola fez algumas coisas úteis, como a construção dos Centros Integrados de Educação Pública (CIEPs) e do “Sambódromo. O resto foi um desastre só, como a encampação de linhas de ônibus e a entrega dos morros cariocas aos traficantes de armas e drogas, know-how depois exportado para São Paulo e outras grandes cidades brasileiras com grande sucesso.

A idéia dos CIEPs era formidável. Nessa invenção de Darcy Ribeiro, concretizada por Oscar Niemayer, as crianças permaneceriam na escola em tempo integral. Além das disciplinas escolares, teriam tempo para usufruir da biblioteca local, para os “trabalhos de casa”, além de quadras para a prática de esportes. Coisa de primeiro mundo. Porém, a verba era curta e a construção dos prédios imponentes, muito cara. Da boa idéia brizolista nasceram uns poucos CIEPs, colocados estrategicamente à beira das avenidas mais conhecidas, como a Avenida Brasil, e na entrada de algumas favelas. Os adversários políticos tinham razão em afirmar que se tratava de uma mera jogada de marketing.

Não faltaram, nem faltam, imitadores de Brizola. Collor tentou dar continuidade aos CIEPs, porém chegou apenas a construir meia dúzia desses elefantes brancos, aos quais deu o nome de Centro Integrado de Apoio à Criança (CIAC). Itamar Franco, que o substituiu depois do impeachment, emplacou alguns Centros de Atendimento Integral à Criança (CAICs). E, hoje, Marta Suplicy impressiona os incautos com seus faraônicos Centros Educacionais Unificados (CEUs). Como se vê, ninguém neste País dá continuidade a um projeto iniciado por outro político. Se dá, logo muda de nome, como ocorre no momento com o “Fome Zero” de Lula da Silva, baseado em programa semelhante iniciado por Fernando Henrique Cardoso. É a síndrome de Macunaíma, a ética da esculhambação nesta Terra dos Papagaios. Infelizmente, não deu certo a idéia de Darcy Ribeiro em fazer avançar a educação brasileira, que continua a avançar como caranguejo.

O “Sambódromo” foi outra obra importante e necessária feita por Brizola. A cada carnaval, firmas contratadas levavam uns dois meses para montar a estrutura e outros dois meses para desmontar. Gastava-se uma fortuna e nada ficava no lugar. Com a construção do “Sambódromo”, a obra ficou perene e ainda abriga salas de aulas embaixo das arquibancadas, além de servir para shows diversos, especialmente na Praça da Apoteose.

Hoje, é ponto pacífico (exceto entre os pedetistas) que os dois governos Brizola favoreceram a propagação do tráfico de drogas e armas no Rio de Janeiro. A respeito do assunto, é importante transcrever o que Sebastião Nery escreveu em 1988:

“Noriega-Brizola

Sebastião Nery

Tribuna da Imprensa – Set 1988

1. SALVADOR. Na semana passada, em Brasília, fui jantar em casa de uns amigos e lá encontrei um grupo de importantes oficiais da ativa do Exército: generais, coronéis, majores. A conversa começou pelas eleições deste ano, passou para a sucessão presidencial e daí a pouco estava na gravíssima e dramática penetração do tráfico internacional de drogas no Brasil e sua ligação com políticos brasileiros. De repente me vi dentro de uma sabatina. Eles queriam saber qual a verdadeira medida da ligação de Brizola com o crime organizado no Rio: jogo do bicho, cocaína, ferro-velho, ouro fundido, prostituição, etc. Entrei na madrugada fazendo uma análise minuciosa, detalhada, do problema e mostrando como Brizola substituiu conscientemente, estratégicamente, a representação política nas favelas e subúrbios do Rio, tirando os velhos líderes tradicionais do fisiologismo chaguista, que trocavam votos por empregos, assistencialismo, força política e pondo no lugar deles os poderosos chefes do tráfico de drogas que Brizola chama de “cinturão popular para derrotar as elites urbanas”.

2. MILITARES – Os oficiais do Exército ficaram perplexos. Eles tinham dados, conheciam os fatos, estavam preocupados, mas ainda não tinham feito uma análise política e sociológica do processo. Mostrei-lhes que o poder político sempre foi uma transferência de representação. No interior, no Nordeste, os coronéis são o braço social e político do poder estadual. Os governadores governam ainda hoje através dos líderes do interior, muitos deles de tradicionais famílias. Comandam pelo assistencialismo, pelo fisiologismo, pela troca de voto por poder administrativo. É um velho vicio do concentrado poder político do país. Mas de qualquer forma esses “coronéis” são legais, representam suas comunidades, defendem a seu modo os interesses da população, conseguem estradas, escolas, melhorias e empregos públicos. Nas grandes cidades, os coronéis são de famílias ou líderes que dominam tradicionalmente os subúrbios, as favelas. No Rio, eram ou são os Mesquita em Jacarepaguá, os Fernandes em Santo Cristo, Jorge Leite em Madureira, Armando Fonseca na Rocinha, etc. Um método antigo e viciado de fazer política. Mas, de qualquer forma legal, eles se elegiam ou mandavam representantes para a Câmara de Vereadores, para a Assembléia, para a Câmara Federal.

3. BRIZOLA – Os oficiais do Exército tinham ouvido o galo cantar, mas não sabiam bem onde. Mostrei-lhes que, na medida em que Brizola substituiu esses “coronéis urbanos” tradicionais pelos chefes do tráfico de drogas nas 454 favelas do Rio, ele criou um “exército marginal” para comandar seu “cinturão popular” em torno da cidade. É que, no primeiro instante de uma convulsão social que não está longe de acontecer, não seriam os partidos políticos, a Igreja, ou quaisquer lideranças legais que iriam comandar ou controlar a explosão. Seriam inevitavelmente os chefes da droga, porque são eles que tem armas, dinheiro, ligações com autoridades, força, portanto poder sobre os mais de 2 milhões de favelados e mais de 2 milhões de moradores das periferias pobres, é o “exército brizolista”. Não é mais o ilegal “Clube dos Onze” de 1963. É o marginal “Clube dos 454” de hoje. E uma estrutura dessas não se monta trocando flores. É negociando poder ou dinheiro. Daí é que vem toda essa fantástica “caixinha” que Brizola faz em nome do PDT para tentar comprar a presidência da República. Até agora ele aplicou o dinheiro em terras no Uruguai e nas suas gordas contas bancárias de Montevidéu e Nova Iorque. Mas, na hora em que a campanha esquentar, ele vai “desovar” esse “dinheiro sujo”.

4. GABEIRA – Na saída do jantar, já madrugada, um dos oficiais me chamou a um canto e perguntou nervoso: “Nery, será que você não está exagerando? Será que o Brizola e o PDT do Rio têm mesmo esse acordo, essa associação, essa aliança com o tráfico de drogas e o crime organizado?” Eu lhe disse apenas duas coisas: “Coronel, ponho minha mão sobre a bíblia e lhe asseguro que, diante de Brizola, Maluf é uma menina de primeira comunhão. E mais. Lembre-se da declaração de Gabeira, poucos dias atrás. Gabeira é um dos intelectuais mais brilhantes, mais lúcidos, mais capazes e mais profundamente participantes que o país tem hoje. Ele disse que o poder militar do Comando Vermelho, da Falange Vermelha, do tráfico de drogas no Rio, é muito maior do que toda a luta armada dos anos 70 contra os governos militares. E este é um exército marginal à disposição de Brizola. O coronel me perguntou se eu estava disposto a discutir esse assunto mais profundamente, outra hora. Disse-lhe que estava, contanto que fosse em público, em um auditório. Não sei se ele dormiu aquela noite. Mas certamente acordou em pânico, Domingo, com a magnífica denuncia de Roni Lima, no Jornal do Brasil: “Comando Vermelho abre morros para Marcelo Alencar”.

5. JORNAL DO BRASIL – Logo no Domingo um dos oficiais presentes ao jantar telefona para minha casa em Brasília (eu já estava aqui em Salvador), não me encontra e depois diz a um amigo meu que não era possível que, no jantar de quarta-feira, eu já não soubesse da matéria que o Jornal do Brasil publicaria Domingo, porque antecipei todos os dados e fatos. O que me impressionou sobretudo foi os traficantes terem fechado as favelas para todos os outros candidatos, com exceção do candidato do PDT, terem recebido a bala e corrido do morro de São Carlos, no Catumbi, o candidato do PTB, deputado Roberto Jefersson, e todas as ordens estarem sendo dadas a partir dos presídios onde estão Escadinha e outros líderes do Comando Vermelho, da Falange Vermelha através de bilhetes de “torpedos”. E o oficial perguntou a este amigo meu: “Será que não vai ser feita uma Comissão Parlamentar de Inquérito na Câmara Federal ou Senado para apurar isso? Onde estão os partidos e seus líderes”?

6. ARTUR DA TÁVOLA – Foi perfeita a reação de Artur da Távola: “Marcello Alencar é o candidato dos bandidos. A notícia do Jornal do Brasil atesta a aliança entre o jogo do bicho, o tóxico e os pedetistas”. E Marcello Alencar, com aquela tremenda cara-de-pau tombando como garrafa vazia, passou recibo: “Vou ter os votos dos bandidos mas terei também votos das polícias civil e militar”. O Roni Lima, do JB, tem razão: “Essa aproximação de políticos com os cada vez mais armados e organizados traficantes dos morros é pelo oportunismo eleitoral. Não existe nenhuma favela do Rio se organizando sem o aval do tráfico, atesta o funcionário da prefeitura. Fingir que os caras não existem é chumbo grosso”.

7. NORIEGA – Quem assistiu o debate entre os dois candidatos a presidência dos EUA, Bush e Dukakis, ouviu bem quando Dukakis acusou o governo Reagan “por suas relações com o general Noriega, o ditador panamenho, traficante de droga”. Aqui no Brasil é muito pior. Um candidato a presidência da República é o próprio Noriega nacional, o Noriega Brizola que faz ele próprio o seu partido, aliança com o crime organizado. Engane-se quem quiser. Seja estúpido quem for. Mas a esta altura ninguém mais tem direito, no país, de dizer que não sabe, não viu, não lhe contaram, que os candidatos do PDT são os candidatos do tráfico de drogas, que Brizola é o candidato à presidência do “cartel Medelin” nacional, já está denunciado, mostrado, provado. Os ilustres oficiais da ativa do Exército do jantar da semana passada em Brasília já não tem o direito de se mostrarem surpresos, perplexos, com a audácia de Brizola, o único político brasileiro importante que já teve coragem de fazer alianças e engordar sua caixinha com o crime organizado todo. Até aqui, o mais que ousavam era fazer pactos com o jogo do bicho. Brizola joga pesado com os traficantes de drogas, como disse Artur da Távola, ele e o PDT foram os primeiros.

8. E O EXËRCITO – As Forças Armadas lutaram desde o primeiro dia da Constituinte para manterem, na Constituição, seu privilégio de responsáveis e fiadores da ordem interna. O que é ordem interna? Será que a ordem interna é apenas a greve dos trabalhadores empobrecidos e explorados por uma política econômico-financeira criminosa? Será que a ordem interna é apenas a luta do povo brasileiro em defesa dos interesses nacionais negociados, retalhados, vendidos nos açougues dos banqueiros internacionais pelos Mailson Nóbrega da vida? Será que a entrega do poder político a o tráfico de drogas nas favelas e periferias das grandes cidades não é problema de ordem interna? Como imaginar que possa chegar à presidência da República um Noriega nacional publicamente aliado, conluiado, associado, ele e seu partido, com os bandidos do tóxico? Não podemos entregar a Nação ao Noriega de Carazinho”.

Nem por nada que cocaína, durante o governo do maragato, era sinônimo de “brizola”, também abreviado para “briza” na gíria carioca. Nada mais esclarecedor. A trouxinha de “briza” custava na época, segundo os jornais, “1 quina” – uma alusão ao número 5 seguido de não me lembro quantos zeros. Afinal, a inflação naqueles tempos galopava mais rápido que a egüinha pocotó de Figueiredo na Granja do Torto. Vez por outra, Neusinha, filha de Brizola, se via envolvida com traficantes de drogas nos morros, onde ia renovar seu “abastececimento”.

Brizola proibiu a polícia de subir os morros cariocas. Dizia que a medida era para evitar o “constrangimento” dos cidadãos, de serem revistados, como se todos fossem bandidos. Dentro dessa lógica, Brizola deveria ter abolido a própria Polícia Militar, porque, se o “cidadão do morro” não pode se sentir constrangido, por que o “cidadão do asfalto” deveria ser nas blitzen da polícia?

Além do aumento do tráfico de armas e drogas, os dois governos Brizola permitiram a proliferação desenfreada de favelas. Praças públicas foram invadidas para a construção de barracos e até casas de alvenaria, principalmente no subúrbio carioca. Revistas importantes, como Veja, sempre deram destaque a esse assunto, como em seu número 1860, de 30/05/2004, pg. 54, no texto “As mortes de Brizola”, de Mario Sabino: “O antibrizolista ressente-se de um fato inconteste: a alastramento das favelas, inclusive no cartão-postal da Zona Sul, e a ascensão dos traficantes de drogas durante o governo de Brizola. Não se trata de coincidência. O brizolismo nutriu-se diretamente dos bolsões de pobreza cariocas, por meio de duas medidas: o fim das remoções de favelas e a proibição de que a polícia fizesse incursões nos morros favelizados, sob a alegação de que os seus habitantes sofriam muito com a violência policial. Pois os pobres favelados deixaram de ser atormentados pela polícia, para penar sob os traficantes. Sem repressão, em pouco tempo, os traficantes armaram-se pesadamente e os morros se transformaram em fortalezas. Sem ameaça de remoção, as favelas incorporaram construções de alvenaria e multiplicaram-se. Quando Brizola assumiu o governo, em 1983, havia 377 favelas no Rio de Janeiro – número que pulou para 520 ao fim do seu primeiro mandato. O brizolismo matou o urbanismo, para ganhar a simpatia imediata dos humildes”.

Os bandidos, até hoje, agradecem. Passaram a ter um campo fértil para prosperar na capital fluminense, sem restrição séria das autoridades, a exemplo do Comando Vermelho (CV) e Terceiro Comando (TC). Só podia dar no que deu. O CV foi criado em 1979 no Presídio Cândido Mendes, na Ilha Grande, RJ. Nasceu da promiscuidade entre criminosos comuns e presos políticos – um grave erro cometido pelos governos militares pós-1964. Seu principal fundador foi William da Silva Lima, o “Professor”, que pregava teses marxistas em sua “luta pelos direitos dos presos”. O CV virou um poder paralelo e passou a controlar o sistema penitenciário fluminense desde o início da década de 1980. O Primeiro Comando da Capital (PCC), inicialmente denominado de “Serpentes Negras” na Penitenciária do Estado (SP), onde era atuante desde 1983, passou a ter essa denominação em 1993, na Casa de Custódia de Taubaté, SP. O PCC seria uma ramificação do Terceiro Comando, organização que se rebelou na década de 1990 de sua matriz, o Comando Vermelho.

“O Haiti é aqui” – diz uma conhecida canção brasileira. Para que, então, enviar tropas àquele outro Haiti, o do Caribe? “Segundo a PF, há pontos de tóxicos de morros cariocas com 300 fuzis, ou seja: um poder de fogo superior ao de duas companhias de fuzileiros de um batalhão de infantaria do Exército. É esse arsenal, sobre o qual as Forças Armadas e a Polícia Federal não têm nenhum controle, que torna o tráfico do Rio peculiar e mais assustador do que qualquer outra grande cidade no mundo” (revista Istoé nº 1707, de 19/06/2002, pg. 27, in “No front inimigo”, de Francisco Alves Filho e Marcos Pernambuco). Trata-se de fato consumado: a bandidagem tomou conta das cidades do Rio de Janeiro e de São Paulo. São seus verdadeiros prefeitos. Não existe nada de mais preciso e cruel do que aquela letra de rap, que diz: “Dominado! Tá tudo dominado!” Por isso, são sucesso nos bailes funks dos morros CDs como “Proibidão”, que faz apologia ao tráfico de drogas e à morte de policiais: “Cheiro de pneu queimado/ Carburador furado/ Um X-9 foi queimado” (Istoé, nº cit., pg. 29).

Brizola, como todo gaúcho “de dentro” (do interior) que se preza, sempre foi um pai e um avô atento com a família, exercendo um poder patriarcal que não admitia contestação. Quando Neusinha quis tirar a roupa para um revista masculina, o velho maragato foi energicamente contra, impedindo que a prostituição impressa se consumasse, alegando que tinha que resguardar a vida de sua netinha, que merecia um melhor exemplo de sua mãe. Nada mais correto.

Sobre o “Governo Paralelo”, inventado pelo PT após a vitória de Fernando Collor de Melo, Ipojuca Pontes tem uma premonição, ao escrever, em “Estratégia terrorista”, publicada em O Estado de S. Paulo, em 1989: “O projeto de Lula, a ser discutido e provavelmente acatado por Brizola e Arraes, mais do que criar condições estratégicas para firmar uma posição intransigente, tem por objetivo claro desestabilizar o futuro governo Collor de Melo e, se possível, depois, pela radicalização, levá-lo ao impeachment” (PONTES, 2003: 117). Collor foi afastado do governo, acusado de ser conivente com a corrupção conduzida por seu tesoureiro de campanha política, Paulo César Farias. Posteriormente, Collor foi absolvido pelo STF e isso comprova que tudo não passou de um mero golpe de Estado de Lula e seus “companheiros de viagem”. Deve-se frisar aqui a firme posição de Brizola: ele não apoiou a malandragem petista e foi um dos últimos políticos a apoiar o afastamento de Collor. Afinal, corrupção por corrupção, ela foi muito maior no governo FHC e nestes 18 meses da República dos Companheiros, que instalou um mafioso na ante-sala do Palácio do Planalto, Waldomiro Diniz, braço direito do Rasputin da República dos Companheiros, José Dirceu.

O autoproclamado esperto povo carioca e fluminense ficou hipnotizado pela conversa mole daquele maragato que sempre repetia “eu venho de longe, tás me compreendendo?” e o elegeu pela segunda vez, em 1991. Desgraça pouca é bobagem. Dizia-se, à época, que Brizola era o maior latifundiário do planeta: criava gado no Uruguai, cangurus na Austrália e burros no Rio de Janeiro. Meu compadre, de Bangu, então brizolista doente (hoje arrependido), quase brigou comigo quando contei a anedota...

Sobre uma coisa Brizola sempre teve razão: as críticas que fazia contra as Organizações Globo, especialmente a TV Globo. Nascida à sombra dos quepes dos militares, a TV Globo sempre se mancomunou com o poder. Impôs quem devia ser eleito, como Collor em 1989, para depois arruiná-lo e pavimentar o seu caminho até o cadafalso. Da mesma forma, a TV Globo colocou Lula da Silva em uma bolha de vidro, na campanha de 2002, isolando-o de qualquer tipo de crítica ou ataque, como as suspeitas de ter recebido dinheiro do propinoduto de Santo André e das FARC. Quando Bóris Casoy inquiriu sobre as ligações do PT com as FARC, Lula ameaçou: “Nunca mais faça esse tipo de pergunta!”. Hoje, é corriqueira a versão de que as Organizações Globo quiseram tê-lo à mão no futuro, como presidente, quem sabe quando precisarem do estratégico dinheiro do BNDES para tirar algumas de suas empresas do buraco, onde se encontram há algum tempo. Uma ameaça ao governo Lula já veio de uma empresa dos Marinhos, a revista Época, que mostrou ao País as íntimas ligações do principal assessor de José Dirceu, Waldomiro Diniz, com um bicheiro, de quem exigia gorda propina. Brizola, mais uma vez, tinha toda a razão em criticar o Polvo Global.

O maior erro de Brizola, depois do desastre carioca, foi seu nacionalismo pueril e sua xenofobia obsessiva. Nesse sentido, tem razão a revista Veja nº 1860, de 30/06/2004, pg. 52, ao colocar em manchete: “Caudilhismo, populismo, nacionalismo: as idéias e os conceitos em que acreditava o político foram sepultados antes dele”. Brizola sempre falava a favor dos “interésses” (sic!) do Brasil, porém agia de modo a prejudicar nosso País, na medida em que tinha ódio infantil aos EUA e restrições à entrada de capital estrangeiro. Brizola era um dos principais integrantes da monocórdia batucada cabocla, que prega a estatização da economia e a perseguição aos empresários, especialmente estrangeiros. A prova mais veemente desse erro de interpretação pode ser facilmente constatada com um exemplo simples. A cidade de São Bernardo do Campo, SP, hoje, ocupa no Brasil a primeira posição de Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). Foi a entrada de capital estrangeiro, erguendo inúmeras indústrias, especialmente a automotiva, que desenvolveu a cidade e deu emprego a milhares de pessoas, inclusive Lula. Riqueza sempre gera mais riqueza, não importa se o capital é nacional ou estrangeiro. Miséria só traz miséria. Não fossem as empresas estrangeiras terem se instalado na região da Grande São Paulo, Lula hoje, provavelmente, estaria colhendo xique-xique e caçando calango em Garanhuns para sobreviver.

“Corção estabelece a distinção para destacar que o patriotismo é o aspecto positivo do nacionalismo. O nacionalismo, porém, é o aspecto negativo do patriotismo. O que há de reprovável no nacionalismo é o exclusivismo, a agressividade, a xenofobia... No nacionalismo sempre há bodes expiatórios e a crença em secretas conspirações maléficas” (MEIRA PENNA, 1992: 176).

“Um antigo e esquecido exemplo de nacionalismo xenófobo a que se refere Meira Penna – e burro, como são todos os nacionalismos xenófobos – vale ser lembrado. Em 1918, o empresário americano Percival Farquhar pretendia instalar uma siderurgia no Brasil, ao mesmo tempo em que exploraria a mineração de ferro, para exportação de 3 milhões de toneladas. Farquhar era chamado de ‘trustman’ pelos ‘nacionalisteiros’, por ser controlador de várias empresas no Brasil – ferrovias, portos, energia elétrica, frigoríficos, a Amazon Land Colonisation. A sua Brazil Railway Company em 1916 dominava quase a metade das ferrovias nacionais: 11.064 km do total de 23.491 km – posteriormente encampadas pelo Governo Federal.

Pois bem: a competente xenofobia brasileira na época se opôs ao projeto de Farquhar, atrasando nossa arrancada industrial por três décadas. Foi preciso haver uma II Guerra Mundial e os americanos utilizarem bases militares no Nordeste brasileiro e na Amazônia para que nos presenteassem a Companhia Sicerúrgica Nacional (CSN), construída em Volta Redonda, RJ, que veio a operar em 1946. A então estatal Vale do Rio Doce pretendia exportar 3 milhões de toneladas de minério de ferro, em 1955, quando 30 anos antes era essa a quantidade do projeto de Farquhar. O mais grave é que, na época, provavelmente não havia ainda o conluio comunista para tal nacionalismo terceiro-mundista, tão em voga nos tempos atuais de ‘Paz no Iraque’, ‘fora ALCA’, ‘fora EUA’, ‘A Amazônia é nossa’, ‘O Pantanal é nosso’ e ‘Alcântara é nossa’. Enquanto inflamos nosso ego, com orgulho nacionalista tolo, deixamos de ocupar a Amazônia, onde transitam traficantes de drogas, traficantes de minerais raros e contrabandistas que levam nossa rica biodiversidadel para patenteação no exterior. Enquanto gritamos irados slogans antiamericanos a respeito de Alcântara, deixamos de faturar 30 milhões de dólares anuais” (MAIER, 2003).

A culpa pelos nossos fracassos, segundo os nacionalistas brasileiros, são os EUA. Tanto essa moda caipira foi cantada pelos violeiros esquerdosos que 66% dos brasileiros passaram a acreditar no sofisma, conforme pesquisa feita pela BBC e publicada na revista Veja nº 1815, de 13/08/2003, pg. 59, sob o título “Aversão ao Tio Sam”. Na referida pesquisa, somente a Jordânia ultrapassou o Brasil em sentimento anti-ianqui. Hoje, somos mais antiamericanos do que a Rússia (28%), que, teoricamente, teria muito mais motivo para ter ódio dos americanos; a França (51%), carro-chefe da esquerda mundial; e a própria Indonésia (58%), que tem a maior população muçulmana do mundo. E olha que ainda não se tem notícia do desembarque de nenhum marine na Amazônia. Inveja do progresso americano, aliada ao saudosismo stalinista - essas são as reais causas, nada mais, deste tipo de ódio visto em várias partes do mundo, inclusive nesta Terra dos Papagaios, como bem provou Jean-François Revel em seu magistral livro “A obsessão antiamericana”.

A mesma virose nacionalisteira, que também infectou Brizola, pode ser comprovada no antigo slogan “O petróleo é nosso”. Devido a essa estupidez, o País criou uma empresa estatal para monopolizar a extração, comércio e refino do petrólo, a Petrobrás, não permitindo a competição com empresas privadas, mesmo nacionais. Como resultado da burrice, ainda importamos, hoje, cerca de 15% do petróleo e temos uma das gasolinas mais caras do mundo. Nem é preciso dizer que a “Petrossauro” - um apelido preciso inventado por Roberto Campos -, como todo dinossauro estatal, é um formidável cabide de empregos, gerando corrupção e desvio de dinheiro, além de patrocinar um clube de futebol falido, o Flamengo, às custas do suado dinheiro do trabalhador brasileiro. Também não é preciso lembrar que, para comemorar o 50º aniversário de criação, ocorrido em 2003, a Petrobrás já desperdiçou centenas de milhões de reais em publicidade televisiva, para sua narcisista adoração do próprio umbigo refletido nas águas onde bóiam suas plataformas, no Atlântico.

Brizola era tido como um bom frasista. Quando surgiu o Viagra, o macho dos pampas garganteou: “Para gaúcho esse Viagra é overdose!”. Em 2002, ironiza o antigo afilhado político: “Garotinho é como uma bola, não tem lado e é oco por dentro”. Sobre o PT, saiu-se com esta frase lapidar em 2000: “O PT é como uma galinha que cacareja para a esquerda, mas põe ovos para a direita”. Quando o PT contratou um marqueteiro para Lula, em 2001, Brizola profetizou: “O Lula, que veio para reformar, está sendo reformado”. Após fechar apoio a Lula contra Collor no segundo turno das eleições presidenciais de 1989, o rico fazendeiro, com terras no Uruguai, destilou veneno contra a burguesia: “Não seria fascinante fazer agora a elite brasileira engolir o Lula, sapo barbudo?” Nestes anos todos, entre tapas e beijos com o PT, já em 1990 Brizola mordia bonito: “O PT é a UDN de tamanco e macacão”.

O que será do PDT e do trabalhismo defendido por Brizola, de inspiração getulista? Há ainda nomes de expressão no partido, como o do senador Jefferson Perez. Só não se sabe por quanto tempo Perez se manterá fiel ao partido do último maragato, se já não está “costeando o alambrado” antes de “pular a cerca”, no linguajar gauchesco de Brizola, como fizeram tantos políticos, a exemplo de Saturnino Braga, Jamil Haddad, Marcello Alencar, César Maia e Miro Teixeira. Porém, longe vai o tempo em que o PDT era um partido de expressão nacional, fazendo governadores como Jaime Lerner, no Paraná, e Antony Garotinho, no Rio de Janeiro. Mais longe ainda ficou o tempo em que o centro do Rio de Janeiro era tomado diariamente por brizolistas, que vendiam camisas, flâmulas e chaveirinhos, cuja área se chamava “Brizolândia”, famosa calçada da Cinelândia, cercada pelo Cine Odeon, Teatro Municipal, Câmara Municipal e pela choperia O Amarelinho. “O herdeiro, de fato, do trabalhismo, ainda que não se defina como tal, é o PT. Esse fato se evidencia até no caráter nacional e popular do governo Lula, que alia a classe trabalhadora ao empresariado nacionalista e ao estamento militar” (Moniz Bandeira, cientista político, in “PT herda o trabalhismo”, Correio Braziliense, 27/06/2004, seção “Política”, pg. 8).

Há três anos, José Vicente Brizola, filho do último maragato, havia rompido relações com o pai e se bandeado de guaiaca, cuia, poncho e bombacha para o PT. Deve ter-se arrependido muito, pois logo depois denunciou à imprensa as falcatruas existentes dentro do Partido de Lula. Ao jornalista Plínio Fraga, da Folha de S. Paulo, durante o sepultamento do pai em São Borja, ocorrido no dia 24 de junho de 2004, José Vicente disse que havia se reconciliado com o pai, apenas não havia comunicado ainda o fato à imprensa. Leonel Brizola foi enterrado no mausoléu que já continha os restos mortais de Getúlio Vargas, João Goulart e de sua mulher Neusa Brizola.

“A última vontade do meu avô era te capar” – disse Leonel Neto, neto de Leonel Brizola, ao deputado Pompeo de Matos, acusado de assediar Juliana, neta de Brizola, quando Pompeu pediu para “esquecer tudo isso” (Cfr. Revista Veja nº 1861, pg. 40). Pelo visto, não sobrou tempo para o maragato dos pampas puxar sua “prateada” da guaiaca e cumprir a ameaça.

Hoje, ao ouvirmos os imponentes acordes iniciais da “Grande Fantasia Triunfal com Variações sobre o Hino Nacional Brasileiro” nas propagandas televisivas do PDT, logo nos vem à mente a figura do ultranacionalista Leonel de Moura Brizola, o último dos maragatos. Ironicamente, a bela música da “Fantasia” foi escrita por um inspirado yankee (Louis Moreau Gottschalk), povo declarado por Brizola como sendo o inimigo número um da humanidade.


Bibliografia:


1. ALVES, Márcio Moreira. “O Despertar da Revolução Brasileira”. Seara Nova, Lisboa, 1974.
2. AUGUSTO, Agnaldo Del Nero. “A Grande Mentira”. Biblioteca do Exército Editora, Rio de Janeiro, 2001.
3. GRAEL, Dickson Melges. “Aventura, Corrupção e Terrorismo – à sombra da impunidade”. Editora Vozes, Petrópolis, RJ, 2ª edição, 1985.
4. MAIER, Félix. “Nacionalismo e esquerdismo nas Forças Armadas”. Usina de Letras (www.usinadeletras.com.br), 2003.
5. MEIRA PENNA, José Osvaldo de. “Decência Já”. Instituo Liberal e Nórdica, Rio de Janeiro, 1992.
6. PONTES, Ipojuca. “Politicamente Corretíssimos”. Topbooks, Rio de Janeiro, 2003.
7. REVEL, Jean-François. “A Obsessão Antiamericana – causas e inconseqüencias”. UniverCidade, Rio de Janeiro, 2003.
8. TAVARES, Aurélio de Lyra. “O Brasil de Minha Geração – Mais dois decênios de lutas – 1956/1976”. Biblioteca do Exército Editora, Rio de Janeiro, 1977.


Anexo: Pequeno glossário retirado de “Arquivos I – uma história da intolerância”, de Félix Maier – www.usinadeletras.com.br:

CAMDE - A CAMDE foi criada pouco antes das eleições de 1962, sob orientação de Leovigildo Balestieri (vigário franciscano de Ipanema, Rio de Janeiro), Glycon de Paiva e o general Golbery do Couto e Silva. “Eles convincentemente argumentavam que o Exército fora minado pelo ‘vício do legalismo’, que só mudaria se ‘legitimado’ por alguma força civil, e que as mulheres da classe média e alta representavam o mais facilmente mobilizado e interessado grupo de civis” (P. Schmitter, in “Interest, Conflict and Political Change in Brazil”, Stanford, California University Press, 1971, pg. 447). A CAMDE era uma organização feminina anticomunista, promoveu a “Marcha da Família com Deus pela Liberdade”, no dia 19 de março de 1964, em São Paulo (19 de março, Dia de São José, Padroeiro da Família), reunindo 500.000 pessoas, protesto que exigia o fim da balbúrdia e da carestia durante o Governo Goulart, e que antecedeu à revolução de 31 Mar 1964. No dia 2 de abril, a CAMDE reuniu 1 milhão de manifestantes no Rio de Janeiro para agradecer a interferência dos militares nos destinos do país, ocasião em que Aurélia Molina Bastos encerrou seu discurso dizendo: “Nós louvamos, nós bendizemos, nós glorificamos a Deus e o soldado do Brasil”.
As mulheres do CAMDE de Minas Gerais ofereceram a Castello Branco, ainda antes de sua eleição, uma nova faixa presidencial, para que não usasse a tradicional, “já conspurcada pelos maus presidentes que o precederam” (O Estado de S. Paulo, 12/04/1964). Outras organizações femininas e grupos católicos atuantes em 1964, além da CAMDE, foram: Liga de Mulheres Democráticas (LIMDE), (MG); União Cívica Feminina (UCF), organizada em 1962 (SP); Campanha para Educação Cívica (CEC); Movimento de Arregimentação Feminina (MAF), teve início em 1954, foi liderado por Antonieta Pellegrini, irmã de Júlio de Mesquita Filho, proprietário de “O Estado de S. Paulo”; Liga Independente para a Liberdade, dirigida por Maria Pacheco Chaves; Movimento Familiar Cristão (MFC); Confederação das Famílias Cristãs (CFC); Liga Cristã contra o Comunismo; Cruzada do Rosário em Família (CRF); Legião de Defesa Social; Cruzada Democrática Feminina do Recife (CDFR); Ação Democrática Feminina (ADF), Porto Alegre, RS.

Foquismo - Teoria revolucionária, em que a revolução seria iniciada em pequenos núcleos (focos), para começar a guerrilha rural, com objetivo de dominar a nação. O foquismo foi sistematizado pelo revolucionário comunista francês Jules Debray, e defendida por Fidel Castro e Che Guevara. O PC do B tentou colocar em prática essa teoria na região do Araguaia. “O treinamento a brasileiros em Cuba continua até os dias atuais, embora somente no terreno político-ideológico, na Escola Superior Nico Lopez, do PC cubano, Escola Sindical Lázaro Peña, Escola de Periodismo José Martí, Escola da Federação de Mulheres Cubanas, Escola da Federação Democrática Internacional de Mulheres e Escola Nacional Julio Antonio Mella, da União da Juventude Comunista. Por essas escolas já passaram mais de 100 brasileiros. Todavia, o mais importante em tudo isso, é que a ida de qualquer brasileiro para fazer cursos em Cuba depende do aval do Partido Comunista Cubano, após entendimentos anteriores, de partido para partido. Atualmente, existem diversos brasileiros, militantes do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra vêm recebendo, em Havana, treinamento em técnicas agrícolas, e outros matriculados na Faculdade Latino-Americana de Ciências Médicas. O site do Partido dos Trabalhadores oferece vagas e publica as condições definidas por Cuba para matrícula nessa Faculdade” (Huascar Terra do Valle, in “Histórias quase esquecidas”, site Mídia Sem Máscara, 10/2/2003). Veja OLAS.

IPES - O IPES passou a existir oficialmente no dia 29 de novembro de 1961 (Jânio Quadros havia renunciado em agosto do mesmo ano). O lançamento do IPES foi recebido favoravelmente por diversos órgãos da imprensa e contou com a aprovação do Arcebispo do Rio de Janeiro, Dom Jayme de Barros Câmara. Além do Rio e de São Paulo, o IPES rapidamente se expandiu até Porto Alegre, Santos, Belo Horizonte, Curitiba, Manaus e outros centos menores.
O IPES foi formado pelo trabalho do empresário de origem americana, Gilbert Huber Jr., do empresário multinacional Antônio Gallotti, dos empresários Glycon de Paiva, José Garrido Torres, Augusto Trajano Azevedo Antunes, além de serviços especiais de oficiais da reserva, como o general Golbery do Couto e Silva. Sandra Cavalcanti era uma das mais famosas conferencistas do IPES. As sementes do IPES, assim como do IBAD e do Conselho Superior das Classes Produtoras (CONCLAP) haviam sido lançadas no final do Governo JK, cujos excessos inflacionários geraram descontentamento entre os membros das classes produtoras do país, e durante a Presidência de Jânio Quadros, em cujo zelo moralista eles depositaram grandes esperanças.
O IPES produziu em torno de 8 filmes, para alertar os desmandos do Governo Goulart, como a ameaça comunista; os cineastas eram Jean Mazon e Carlos Niemeyer. Um escritor de peso do IPES foi José Rubem Fonseca, autor de “Feliz Ano Novo”; segundo Fonseca, o “IPES buscava mobilizar a opinião pública no sentido do fortalecimento dos valores democráticos” (Cfr. AUGUSTO 2001). O IPES chegou a promover, mais tarde, Estudos de Problemas Brasileiros para os Governos Militares pós-1964.
O IPES participou também de operações internacionais, que ajudaram a derrubada de Salvador Allende, no Chile, e do general Juan Torres, na Bolívia (em Ago 1971, o general Hugo Banzer tomou o poder). Entidades congêneres do “Complexo IPES/IBAD”: 1) México: Centro de Estudios Monetarios Latinoamericanos – CEMLA; Centro Nacional de Estudios Sociales - CNES; Instituto de Investigaciones Sociales y Económicas – IISE; 2) Guatemala: Centro de Estudios Económico-Sociales – CEES; 3) Colômbia: Centro de Estudios y Acción Social – CEAS; 4) Equador: Centro de Estudios y Reformas Económico-Sociales – CERES; 5) Chile: Instituto Privado de Investigaciones Económico-Sociales – IPIES; 6) Brasil: Sociedade de Estudos Interamericanos – SEI; Fundação Aliança para o Progresso; 7) Argentina: Foro de la Libre Empresa; Acción Coordinadora de las Instituciones Empresariales Libres. “Em 64, quando Castelo Branco organizou o Governo, a maioria dos cargos foi entregue a quem tinha ensinado ou feito cursinho no IPES. A começar por Golbery e Roberto Campos” (Sebastião Nery, in “Os filhos de 64”, Jornal Popular, Belém, PA, 6 Out 1995).

Ligas Camponesas - As origens da organização dos camponeses datam da década de 1940, no trabalho do PCB, que estabeleceu as Ligas Camponesas. Essa atividade ressurgiu na década de 1950, em Galiléia, com a criação da Sociedade Agricultural de Plantadores e Criadores de Gado de Pernambuco, assistida por um ex-membro do PCB, José dos Prazeres, e depois com a formação de sociedades de direito civis e legais, que rapidamente se espalharam por todo o Nordeste, passando a uma rede de Ligas Camponesas – como eram chamadas pelos proprietários de terras, devido à sua origem da década de 1940. Francisco Julião foi o principal líder das Ligas, com atuação, especialmente, em Pernambuco, do então Governador Miguel Arraes, onde as Ligas colocavam fogo em canaviais e depredavam fazendas. No dia 27 Nov 1962, na queda de um Boeing 707 da Varig, quando se preparava para pousar em Lima, Peru, estava entre os passageiros o Presidente do Banco Central de Cuba, em cujo poder foram encontrados relatórios de Carlos Franklin Paixão de Araújo, filho do advogado comunista Afrânio Araújo, o responsável pela compra de armas para as Ligas Camponesas. Os relatórios detalhavam os atrasos dos preparativos para a luta no campo, acusava Francisco Julião e Clodomir Morais de corrupção e malversação de recursos recebidos. Esses documentos chegaram às mãos do Governador Carlos Lacerda, da Guanabara, que fez vigorosa campanha na imprensa, denunciando a interferência cubana em nosso País. No Brasil, antes de 1964, Cuba financiou ainda as Ligas Camponesas para comprar fazendas que serviram de campos de treinamento de guerrilha. A revista Veja, de 24 Jan 2001, sob o título 'Qué pasa compañero?', faz uma análise centrada na tese de doutorado da pesquisadora Denise Rollemberg, da UFRJ, a qual afirma que 'o primeiro auxílio de Fidel foi no Governo João Goulart, por intermédio do apoio às Ligas Camponesas, lendário movimento rural chefiado por Francisco Julião. (...) O apoio cubano concretizou-se no fornecimento de armas e dinheiro, além da compra de fazendas em Goiás, Acre, Bahia e Pernambuco, para funcionar como campos de treinamento”. Após a Contra-revolução de 1964, as Ligas Camponesas, de inspiração comunista, foram dissolvidas, e Julião obteve asilo no México.

OLAS - Organización Latinoamericana de Solidaridad: no dia 16 Jan 1966, 1 dia após o término da Tricontinental, em Havana, Cuba, as 27 delegações latino-americanas reuniram-se para a criação da OLAS, proposta por Salvador Allende. O terrorista brasileiro Carlos Marighella foi convidado oficial para a Conferência da OLAS em 1967. Ola, em espanhol, significa “onda”, seriam, pois, ondas, vagalhões de focos guerrilheiros espalhados por toda a América Latina, como disse o próprio Fidel Castro: “Faremos um Vietnã em cada país da América Latina”. Após a Conferência, começam a surgir movimentos guerrilheiros em vários países da América Latina, principalmente no Chile, Peru, Colômbia, Bolívia, Brasil, Argentina, Uruguai e Venezuela. A OLAS, substituída pela JCR, tem sua continuidade no Foro de São Paulo (FSP) e no Fórum Social Mundial (FSM).

Pinar del Río - Província de Cuba, onde havia cursos para terroristas brasileiros nas décadas de 1960 e 1970. O “currículo” incluía: 1) Tática guerrilheira – o observador, o mensageiro, a coluna guerrilheira, o acampamento, a marcha, sobrevivência na selva (montanhas de Escambray), o ataque, a emboscada; 2) Tiro – limpeza e conservação do armamento, fuzis: AD, FAL, AK, Garand; metralhadoras: MG52, Uzi; bazuca, morteiro e canhão 152 mm; 3) Comunicações; 4) Topografia – leitura de mapas, uso de bússola e do binóculo, orientação; 5) Organização do terreno – construção de abrigos individuais e coletivos, espaldões para metralhadoras e morteiros; 6) Higiene e primeiros socorros – fraturas, hemorragias, imobilizações, transporte de feridos; 7) Política – o comissário político, semanalmente, fazia uma palestra. No regresso, o terrorista brasileiro recebia de volta os documentos verdadeiros, nova documentação com nome falso, cerca de 1.500 dólares, itinerário até o Chile de Salvador Allende, antes de chegar ao Brasil. Quando preso, o terrorista era instruído para utilizar algumas artimanhas, para ser levado ao hospital e, assim, prejudicar o interrogatório: 1) colocar fumo na água e bebê-la, provocando crise de vômitos; 2) usar uma dose mínima de estriquinina para provocar convulsões; 3) “tentar” o suicídio; 4) simular grande descontrole nervoso; 6) bater com a cabeça nas paredes.
Hoje, Pinar del Río se destaca pela produção de tabaco, matéria-prima dos charutos cubanos de prestígio internacional, como o Cohiba esplendido (R$ 180,00 a unidade) que Lula da Silva gosta de saborear em 18 cm do mais puro prazer.

Tricontinental - Criada durante a OSPAAAL, que se realizou em Havana, Cuba, de 3 a 15 Jan 1966 – juntamente com o XXIII Congresso do PCUS. (Em 1965, em Gana, ficou decidido que a OSPAA realizaria seu próximo encontro em Cuba, no ano seguinte, para integrar também a América Latina – daí OSPAAAL). “Consiste no princípio de que a coexistência pacífica não se pode estender às chamadas ‘guerras de libertação nacional’, isto é, às guerras ‘entre oprimidos e opressores, entre os povos coloniais explorados e seus exploradores colonialistas e imperialistas’ ” (Meira Penna, in “Política Externa”, pg. 133). À Tricontinental compareceram representantes de 82 países, dos quais 27 latino-americanos. A delegação brasileira foi composta por Aluísio Palhano e Excelso Rideau Barcelos (indicados por Brizola), Ivan Ribeiro e José Bastos (do PCB), Vinícius Caldeira Brandt (da AP) e Félix Ataíde da Silva, ex-assessor de Miguel Arraes, na época residindo em Cuba. A tônica do encontro foi a defesa da luta armada. No encerramento, Fidel Castro afirmou que a “luta revolucionária deve estender-se a todos os países latino-americanos”. A Tricontinental foi a estratégia que desencadeou a Guerra do Vietnã e guerras civis como em Angola e Moçambique, e os grupos terroristas que surgiram na América Latina a partir de 1967/68, especialmente no Brasil, Argentina e Chile. No campo cultural, a Declaração da Tricontinental recomendava a “publicação de obras clássicas e modernas, a fim de romper o monopólio cultural da chamada civilização ocidental cristã, cuja derrocada deve ser o objetivo de todas as organizações envolvidas nessa verdadeira guerra”. Nesse encontro, o Senador Salvador Allende (futuro Presidente do Chile) faria uma proposta aprovada por unanimidade pelas 27 delegações: a criação da OLAS. Assim, no dia 16 Jan 1966, um dia após o término da Tricontinental, as 27 delegações latino-americanas reuniram-se para a criação da OLAS, que passou a ser dirigida pelo Comitê de Organização, constituído de representantes de Cuba, Brasil, Colômbia, Peru, Uruguai, Venezuela, Guatemala, Guiana e México. A Secretaria-geral foi entregue à cubana Haydee Santamaria, e o representante brasileiro era Aluísio Palhano.

ULTAB - União dos Lavradores e Trabalhadores Agrícolas do Brasil: fundada em 1957 pelo PCB, teve suas principais bases em São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. Porém, obteve seu maior sucesso em Goiás, onde o movimento tomou as cidades de Trombas e Formoso, e só foi desmobilizado em 1964 pelos militares.


(*) O autor é ensaísta e militar da reserva. Articulista de Mídia Sem Máscara, publicou “Egito – uma viagem ao berço de nossa civilização”, Thesaurus, Brasília, 1995.


***

De: Carmen Fagundes
Enviado: sexta-feira, 30 de julho de 2004 10:42:40
Para:
Assunto: RES: Mensagem para o Senador

Prezado senhor

O senador Arthur Virgílio recebeu sua mensagem e pediu-me que lhe parabenizasse pelo excelente texto.

Carmen Fagundes
Assistente Parlamentar

***

De: Saul Cardoso
Enviado: Enviado: segunda-feira, 2 de agosto de 2004 18:58:21
Para:
Assunto: A propósito de Brizola & maragatos

Prezado Senhor Felix Maier,

Breve comentário ao artigo: Brizola o útimo dos maragatos, publicado no Usina de Letras de 27/07/04

Em relação à observação quanto ao comparecimento de pessoas portando lenço vermelho ao velório do finado Leonel Brizola, nada a discordar. Entretanto, inferir, a partir daí ou das convicções revolucionárias do pai do ex-Governador, qualquer identificação entre a trajetória política do Sr. Brizola e a visão político-ideológica dos maragatos (entendendo-se aí a linha doutrinária do antigo Partido Libertador) não constitui a meu ver uma ilação historicamente defensável. Entendo que não há nada mais distante das convicções políticas dos maragatos que o trabalhismo, principalmente se considerarmos que o trabalhismo do ponto de vista da seqüência de lideranças foi uma espécie de continuação do Castilhismo passando pelo Borgismo (Partido Republicano Riograndense). Apenas na aliança havida no episódio da Revolução de 30 os maragatos marcharam juntos com Getúlio, Flores da Cunha, Osvaldo Aranha e outros aos quais haviam combatido de armas na mão na então recente Revolução de 23. De qualquer forma, pode-se considerar que essa proximidade a rigor acabou em 37. Daí para diante nada mais antagônico que maragatos e seguidores de Getulio Vargas. Ressalte-se que Leonel Brizola foi até a morte um fiel e ferrenho defensor de Vargas.

Minha observação não tem nenhuma pretensão de restringir os méritos do Sr. Brizola ou do seu artigo, uma compilação preciosa e rica em dados da nossa história política recente. A preocupação foi apenas no sentido de evitar que pesquisadores jovens, interessados nesse capítulo da história do Brasil, possam fazer confusão a respeito do que defendiam os maragatos pertencentes ao partido fundado por J. F. Assis Brasil e Raul Pilla em Pedras Altas, e que teve nos Senadores Paulo Brossard e Mem de Sá algumas de suas últimas lideranças destacadas, e supor que o brizolismo fosse algo remotamente assemelhado.

Para estabelecer com nititez as diferenças, basta observar que a principal 'bandeira' dos libertadores (maragatos) foi sempre a adoção do parlamentarismo e o Sr. Brizola, junto com Tancredo Neves et caterva, tudo fez para acabar com esse regime, como de fato conseguiu na manobra do Plebiscito em 1963. E aí, como sabemos, deu no que deu.

Atenciosamente,

Saul O. G. Cardoso
saulgil@sulconsult.com.br


***

Brasília, 03/08/2004.

Caro Saul,

Obrigado pelas considerações apresentadas, especialmente a rápida definição histórica e política dos maragatos, que enriquecem o conhecimento de todos nós, leitores e escritores de Usina de Letras.

Ocorre que em nenhum momento do presente trabalho fiz um paralelo entre a obra de Leonel Brizola e o credo político de Gaspar da Silveira Martins. Para isso, eu deveria ter explicado, inicialmente, o pensamento político dos maragatos e tirado a devida conclusão, depois de analisar a trajetória política de Brizola. Em nenhum parágrafo foi dito que Brizola é o herdeiro de Martins, Castilhos ou Borges de Medeiros.

O termo maragato (*), empregado por mim tanto no título quanto no corpo do texto, é nada mais do que uma licença literária para exprimir o modo “revolucionário” de Brizola se apresentar ao público, muitas vezes com um espalhafatoso lenço vermelho no pescoço, exatamente como os maragatos se vestiam. Uma “licença” muito mais forçada do que a minha foi a da TV Globo, ao apresentar os farroupilhas de “A Casa das Sete Mulheres” (**) com lenços vermelhos no pescoço. Garibaldi e Bento Gonçalves nunca usaram lenços vermelhos, como sugere a minissérie. A respeito do assunto, vejamos o que diz o presidente da Academia de História Militar Terrestre do Brasil e do Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul, coronel (do Exército) Cláudio Moreira Bento, em seu elucidativo artigo “A Casa das Sete Mulheres”:

“Mas como disse seu diretor Jaime Monjardin ‘ela possui 40% de História e 60% de fantasia’. E aproveitou um tema histórico e o vestiu de gala com toda a pompa e circunstância, e de forma notável.

No tocante a fantasia como elemento notável para atrair os tele espectadores e passar-lhes o essencial da História, usou recursos inexistentes na época, e tudo por conta da citada e louvável fantasia.

Exemplos: O uso de lenços vermelhos e brancos pelos farrapos e imperiais, um costume que remonta a Guerra Civil na Região do Sul 1893-95. O cenário lindíssimo dos Aparados da Serra onde a revolução não chegou. Luxo nas estâncias, casas e igrejas incompatível com aspecto espartano das mesmas, do que a estância de Bento Gonçalves em Cristal-RS, hoje Parque Histórico em sua memória é um exemplo. Imperiais entrando a cavalo dentro de uma igreja quando os santos no Império eram mais respeitados que os próprios generais e a canção do Exército era a de N. S. da Conceição a sua padroeira. Era raro o uso de carroças e sim carretas. E não existiam carruagens, que só aparecem em Pelotas por volta de 1865”.

Já que Maomé, quero dizer, Bento Gonçalves e Garibaldi não foram até as montanhas dos Aparados da Serra, com suas lindas cachoeiras, os Aparados desceram até a campanha gaúcha – pelo menos na novela global. Um golpe de mestre para embelezar a peça histórica que tanto nos encantou e que, com certeza, encantou também milhões de pessoas em outros países.

Aliada à liberdade literária por mim usada no texto acima, convém repetir que o nome “Leonel” foi tirado do chefe maragato Leonel Rocha. Não importa se o nome foi imposto pelo pai de Leonel Brizola ou se este assim se autobatizou. O que importa é como Leonel Brizola se comportava e se assumia em público.

Hoje, não há como, rigorosamente, denominar alguém de chimango ou maragato, a não ser em liberdades poéticas. Chimangos e maragatos não existem mais, assim como não existem mais socialistas depois que Lula afirmou nunca ter sido socialista... Mesmo se ainda existissem maragatos, estes não pautariam mais sua política sobre os antigos caudilhos gaúchos, como Castilhos e Medeiros. 'History is again on the move' – definiu magistralmente Arnold Toynbee. Exceto para Leonel Brizola, que não percebeu a mudança da História e morreu congelado no tempo d’antanho.

Cordialmente,

Félix Maier

Obs.:

(*) Maragatos - Federalistas que em fevereiro de 1893, ano da campanha eleitoral para o governo estadual do Rio Grande do Sul, iniciam sangrento conflito com os Republicanos, apelidados de “Chimangos” ou “Pica-paus”, ocasionando milhares de vítimas (normalmente degoladas). Entre fins de 1893 e início de 1894, os “Maragatos” avançam sobre Santa Catarina e unem-se à Revolta da Armada, ocupam a cidade de Desterro (atual Florianópolis) e, depois, a cidade de Curitiba. Sem recursos, os Maragatos recuam até o território gaúcho, onde lutam até meados de 1895. O novo Presidente, Prudente de Morais, consegue um acordo de paz e anistia os revolucionários.

(**) “A Casa das Sete Mulheres” foi baseada no best-seller de mesmo nome escrito pela gaúcha Leticia Wierzchowski (Editora Record, Rio e São Paulo, 5ª Edição, 2003).

***

De: Saul Cardoso
Enviado: terça-feira, 3 de agosto de 2004 19:14:04
Para: Félix Maier
Assunto: Re: A propósito de Brizola & maragatos - Mais algumas linhas

Prezado Sr. Felix,

Senti-me muito lisonjeado com a atenção dada às minhas despretensiosas observações e agradecido pela análise histórico-cultural complementar com que me obsequiou. Na realidade não quis, na mensagem anterior, estabelecer qualquer nexo ideológico necessário entre Vargas/Brizola (trabalhismo) e os antecessores Castilhos/Borges de Medeiros. O meu nexo foi em relação à cadeia de próceres políticos que foram influenciando de alguma forma seus sucessores que, por sua vez, foram adiante criando rumos políticos próprios consentâneos com as épocas em que viveram. Neste sentido é que considero que há uma linhagem Castilhos/Borges/Getúlio/Brizola. É interessante levar-se em conta que o menino Brizola, certamente marcado pelo sacrifício político-revolucionário do pai, identificou-se de início com as lideranças maragatas como Leonel Rocha, Felipe Portinho e outros que haviam lutado contra Borges de Medeiros, Flores da Cunha etc. em 23. Entretanto, ele como muitos outros e recebendo outras influências, não tiveram suficiente robustez e nitidez nas convicções para entender o momento de não mais aceitar o Vargas de 30 como alguém confiável aos maragatos, após 37. Certamente ficou fascinado pelo inegável carisma de Vargas e preferiu bandear-se de vez para o aliado transitório dos maragatos e para o que ele era politicamente no mais profundo de suas convicções.

Sobre a não mais existência de chimangos e maragatos, nos dias de hoje, não tenho a sua certeza. Vou relatar um pequeno episódio para justificar a minha dúvida, ainda que decorridos já trinta anos do acontecido. Foi no ano de 1973 quando no R. G. do Sul estruturou-se um movimento para comemorar o cinqüentenário da revolução de 23. Na oportunidade foi constituída uma comissão para percorrer o Estado e organizar os vários eventos nos municípios que haviam se destacado na contenda. Ao chegar a comissão a S. Francisco de Assis e informar às lideranças locais o intento, foram por estas desaconselhados de levar a idéia adiante, dado que os ânimos ainda não eram considerados suficientemente serenados para uma confraternização isenta de riscos de reabertura das hostilidades!

Um abraço,

Saul Cardoso (filho, neto e bisneto de maragatos e federalistas e apreciador de história política do Brasil pós-independência)

***

Brasília, 04/08/2004.

Caro Saul,

Claro que ainda existem maragatos e chimangos, assim como existem socialistas, ainda que Lula tenha dito nunca ter sido um deles. Naquela minha afirmação, coloquei uma dose de ironia, pois todos sabemos que o socialismo está mais forte do que nunca nesta Terra dos Papagaios. Da mesma forma, ainda há chimangos e maragatos, embora hoje sejam mais figuras folclóricas do que políticas. Espero que S. Francisco de Assis, nos dias atuais, esteja mais pacificada...

Foi um prazer ter trocado algumas palavras com o Sr., as quais acrescentarei no texto escrito em Usina de Letras
(www.usinadeletras.com.br/exibelotexto.php?cod=4886&cat=Ensaios).

Cordialmente,

Félix Maier

Fonte: https://www.usinadeletras.com.br/exibelotexto.php?cod=63446&cat=Ensaios


  • Usina de Letras -- Contato do Leitor‏

15/08/2011
andregbrizola@hotmail.com
Para ttacitus@hotmail.com
De:andregbrizola@hotmail.com 
Enviada:segunda-feira, 15 de agosto de 2011 21:06:26
Para:ttacitus@hotmail.com

Mensagem referente ao texto Internet revela novos escritores - Ensaios.

Mail enviado para: Félix Maier

Enviado Por: Andre Brizola - andregbrizola@hotmail.com
Da cidade : Carazinho

Jamais poderiam escrever tamanhas blásfemias sobre Brizola, de onde foi tirado tamanhas mentiras. Olhem a quantidade de obras que Brizola fez para o seu povo. Já o exército, além de matar milhões de inocentes ainda deixou uma divída enorme aos cofres púlicos. Também não há o que discutir, quem decidiu pelo presidencialismo foi o povo. Então pessoas como Felix Maier são uns derrotados que não tem respaldo nenhum, e ficam tentando criar um bicho Papão de uma pessoa que tanto fez por esse Brasil

 

Caro André,

Você deve estar se referindo a meu texto Brizola, o último dos maragatos. Nesse texto não existe nada inventado, apenas o currículo de Brizola:

- que foi o criador do G-11 (que, se tivesse êxito, seria um grupo de extermínio);

- que acabou com a cidade do Rio de Janeiro nos dois mandatos de governador, com a multiplicação de favelas, onde a polícia foi proibida de subir o morro para prender traficante;

- que não passou de um político populista e embusteiro.

Aliás, Brizola foi chamado por Fidel Castro de el ratón, por não explicar o sumiço de 200 mil dólares enviados a ele pelo Abutre do Caribe, no Uruguai, via pombo-correio Betinho, o santo de pau oco. A única obra de relevo foi o sambódromo na Sapucaí, no Rio, evitando o monta-desmonta de arquibancadas todo ano, com custo altíssimo. O projeto das escolas de tempo integral também foi bom - pena que só no papel, pois os "brizolões" foram obras faraônicas plantadas em locais estratégicos, para turista ver, especialmente os gringos.

O Exército não matou milhões de pessoas. Apenas defendeu o País contra grupos criminosos, que se intitulam "militantes políticos" mas que não passam de terroristas, assassinos, que queriam implantar aqui uma ditadura cubana. Os militares deixaram dívidas, sim, mas fizeram obras excepcionais de infraestrutura, que levou o Brasil, da 48ª para a 8ª economia mundial. Que obras foram essas? A TV colorida PAL-M, a Embratel, o sistema Telebrás, a Portobrás, as usinas de Itaipu, Tucuruí, Sobradinho e tantas outras, o Banco Central, os primeiros metrôs, a ponte Rio-Niterói etc. As dívidas de FHC e Lula foram muito superiores às dos militares, e o que estes fizeram de excepcional, além de doar um Paraná inteiro ao messetê e conceder bolsas-famílias a quem não precisa, mas que se revelou esperto sistema de voto de cabresto para o petismo? Você por acaso sabe qual a dívida atual do Brasil, tanto a externa (que Lula disse que tinha pago) e a interna?

Deixa de ser embusteiro, André Brizola. Não há como você brigar contra os fatos. O currículo de Brizola está aí abaixo. Não há chororô que modifique isso!

Att,

F. Maier

G-11- Grupo dos Onze, ou Grupo dos Onze Companheiros: “comandos nacionalistas”, que foram formados em todo o Brasil em 1963, a mando do ex-governador gaúcho Leonel Brizola. Os G-11 seriam o embrião do Exército Popular de Libertação (EPL). Um documento do Grupo afirmava que os G-11 seriam a “vanguarda do movimento revolucionário, a exemplo da Guarda Vermelha da Revolução Socialista de 1917 na União Soviética”. (Prova a ignorância de Brizola, pois em 1917 havia apenas a Rússia, não a URSS.) Quando ocorreu a Contrarrevolução de 1964, havia centenas desses Grupos espalhados em todo o País e tinham como missão eliminar fisicamente todas as autoridades do Brasil – civis, militares e eclesiásticas, como se pode ler nas “Instruções secretas” do EPL e seus G-11, no item 8, “A guarda e o julgamento de prisioneiros”: “Esta é uma informação para uso somente de alguns companheiros de absoluta e máxima confiança, os reféns deverão ser sumária e imediatamente fuzilados, a fim de que não denunciem seus aprisionadores e não lutem, posteriormente, para sua condenação e destruição” (AUGUSTO, 2001: 112). Sobre os G-11, leia os documentos secretos em http://cbn.globoradio.globo.com/hotsites/grupo-dos-onze/GRUPO-DOS-ONZE.htm. 

AUGUSTO, Agnaldo Del Nero. A Grande Mentira. Biblioteca do Exército Editora, Rio de Janeiro, 2001.


***


Obs.:

Veja outros textos sobre Brizola em 

http://felixmaier1950.blogspot.com/2020/07/grupos-de-onze-dossie-do-braco-armado.html