HISTÓRIA ORAL DO EXÉRCITO
31
DE MARÇO DE 1964
O
Movimento Revolucionário e sua História
15 Tomos
Biblioteca do Exército Editora, Rio de Janeiro, 2003
Félix Maier
Cap QAO Reformado do Exército
“O Exército nunca foi
intruso na História desse País, o Exército sempre foi um instrumento da vontade
nacional” (General-de-Exército
Leonidas Pires Gonçalves, ex-Ministro do Exército – Tomo 1, pg. 85).
“Estaremos sempre solidários
com aqueles que, na hora da agressão e da adversidade, cumpriram o duro dever
de se oporem a agitadores e terroristas, de armas na mão, para que a Nação não
fosse levada à anarquia” (General-de-Exército Walter
Pires de Carvalho e Albuquerque, ex-Ministro do Exército).
“A revolução gramsciana está para a revolução leninista
assim como a sedução está para o estupro” (Olavo de
Carvalho, in “A Nova Era e a
Revolução Cultural - Fritjof Capra & Antonio Gramsci”)
A obra, que tem o general
Aricildes de Moraes Motta como coordenador geral, é composta de 15 volumes e abrange
entrevistas concedidas por 247 personalidades, incluindo principalmente
militares do Exército (de general a tenente), almirantes, brigadeiros,
deputados, embaixadores, jornalistas, advogados, engenheiros, juízes,
desembargadores, que foram testemunhas oculares dos históricos Idos de Março de
1964.
Méritos pelo lançamento da
importante obra devem ser creditados ao então Comandante do Exército, Francisco
Roberto de Albuquerque, e ao Conselho Editorial da Biblioteca do Exército
Editora (Bibliex), tendo o coronel Luiz Paulo Macedo Carvalho como presidente,
e seus membros efetivos e beneméritos, como o general Carlos de Meira Mattos, o
embaixador Álvaro da Costa Franco Filho, o general Aricildes de Moraes Motta, o
general Ulisses Lisboa Perazzo Lannes, o Professor Doutor Arno Wehling e o Professor
Doutor Ricardo Vélez Rodríguez (ex-Ministro da Educação do Governo Jair Messias
Bolsonaro), dentre outros.
Tomei a iniciativa de fazer um fichamento dos 15 livros, referente aos
trechos dos depoimentos que julgo serem os mais importantes, em uma certa ordem
cronológica, ao mesmo tempo em que fiz algumas observações e disponibilizei
links relativos ao assunto.
Há entrevistas que são
verdadeiras pérolas históricas, por apresentarem fatos desconhecidos do
público, com riqueza de detalhes. Por outro lado, há entrevistas - poucas - que
são lacônicas, quase nada acrescentando a respeito do Movimento Revolucionário
de 1964, como é o caso do General-de-Exército Ivan de Souza Mendes, que foi
Chefe do SNI durante o Governo de José Sarney. O General-de-Divisão Octávio
Pereira da Costa, na entrevista, dá uma aula sobre História do Brasil, desde a
Guerra do Paraguai até a campanha presidencial de Tancredo Neves.
Alguns entrevistados falaram
a respeito de algo específico, como o coronel Lício Maciel, sobre a Guerrilha
do Araguaia; o general Danilo Venturini, sobre o governo Geisel e o programa
nuclear brasileiro; o Coronel Pasquali, sobre o Projeto Rondon; o coronel
Renato Brilhante Ustra, irmão do coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, sobre
ordem do Presidente Goulart e ministros para prender e matar Carlos Lacerda; o
general Negrão Torres, sobre o “Pentateuco” de Elio Gaspari, 5 livros, com base
em material surrupiado pelo general Golbery do Couto e Silva e pelo coronel Heitor
de Aquino, em que há muita desinformação e mentira em estado puro – cfr. em https://felixmaier1950.blogspot.com/2020/05/general-raimundo-negrao-torres-desanca.html.
O General Ibiapina nos
informa que Marco Maciel, Vice-Presidente eleito na chapa de Fernando Henrique
Cardoso, fez curso de explosivos em Cuba e solicitou uma carteira de “araponga”
ao General Antônio Bandeira.
Há até o depoimento do
ex-deputado federal José Genoino Neto que, sobre os “acertos da Revolução de
1964”, saiu-se com esta pérola: “Acho que o que tem que ser frisado – esse é o
destaque que eu faria – é que, nesse período, o Brasil montou uma
infraestrutura razoável” (Tomo 5, pg. 174). Quando perguntado se sofreu
tortura, disse: “Exatamente dentro da ‘comunidade de informações’, as pessoas
eram torturadas, fui torturado. Era uma situação extremamente grave, delicada,
na qual o cidadão ficava negociando a vida” (Tomo 5, pg. 179). E nada mais
disse, sobre onde foi torturado, quem o torturou, em que circunstâncias;
preferiu sair pela tangente, fazendo elucubrações sobre a tortura.
A maioria dos entrevistados
respondeu a um questionário-padrão, que englobava as seguintes perguntas:
- O senhor poderia precisar
quais foram as raízes do Movimento Revolucionário de 31 de Março de 1964?
- O senhor julga que a
guerra fria teve alguma influência na Revolução de 31 de Março?
- Como o senhor situaria o
panorama político brasileiro no período anterior ao Movimento de 31 de Março?
- Na sua opinião, a Igreja
apoiava ou se opunha ao governo deposto?
- O que se passava no meio
militar? Como se encontrava o ambiente nos quartéis, na fase
pré-revolucionária?
- Qual a sua avaliação sobre
a atuação das “Ligas Camponesas” e dos “Grupos dos Onze”? Esses movimentos
poderiam ser entendidos como a progressão de uma revolução esquerdista no
Brasil?
- No seu entender, o que se
passava no meio militar? Houve tentativa de criar cisões nos quadros das Forças
Armadas? Como estava o ambiente nos quartéis, nessa fase pré-revolucionária?
- A seu ver, quais os
principais acontecimentos que foram determinantes para o desenvolvimento da
Revolução de 31 de Março?
- Qual o real significado
das Marchas da Família com Deus pela Liberdade, consideradas pelos opositores,
hoje, como um grande movimento reacionário ao status quo implantado por João Goulart?
- Qual a atitude do
Congresso Nacional, ao eclodir a Revolução?
- Como se portaram os
movimentos sindicais e entidades taxadas de esquerdistas como a UNE, CGT, PUA,
logo após o início da Revolução?
- O senhor nomearia os
principais líderes civis e militares da Revolução de 31 de Março?
- O movimento foi
exclusivamente de preparação interna? Houve alguma intervenção externa, algum
auxílio externo?
- Qual o posicionamento dos
Estados Unidos com relação ao nosso movimento revolucionário?
- A que o senhor atribui o
rápido desmoronamento do tal “esquema militar” que o Jango sempre apregoava
ter?
- Qual a sua opinião sobre a
participação dos cadetes da AMAN na Revolução, tomando parte ativa no
movimento?
- O Movimento trouxe maior
união e robusteceu a coesão das Forças Armadas?
- O Movimento de 31 de Março
baseou-se em alguma ideologia?
- A mídia, na época, apoiou
o Movimento?
- É correto o termo
Revolução? Como denominaria o Movimento de 31 de Março de 1964?
- O senhor entende que houve
erros na Revolução? Caso positivo, quais foram?
- A mídia desta última
década e aqueles que hoje detêm o poder fazem absoluta questão de omitir os
acertos da Revolução de 1964. Poderia citar alguns desses acertos?
- Quais foram os objetivos
da luta armada, desencadeada no campo e na cidade, e onde buscava orientação e
apoio?
- O AI-5 foi necessário?
- E a criação de órgãos de
informações, como os DOI, bem como o agravamento da Lei de Segurança Nacional?
- Hoje em dia muito se fala
em “ditadura militar”, “anos de chumbo”. O que o senhor pensa a esse respeito?
- Ao tempo dos governos
revolucionários, acha o senhor que as Forças Armadas se aproveitaram da
situação para auferir qualquer tipo de vantagem?
- Existe o chamado
“revanchismo”, por parte de autoridades, da imprensa e outros setores, em
relação aos militares? O que o senhor pensa sobre a Lei da Anistia?
- A chamada “batalha da
comunicação social” foi perdida pelos militares? Caso positivo, qual a razão?
- Com a queda do Muro de
Berlim e o colapso da União Soviética, desapareceu o comunismo?
- A imagem do Exército
Brasileiro vem apresentando elevados índices de aceitação junto à sociedade,
como atestam numerosas pesquisas de opinião. Como o senhor analisa esse fato?
POR
AMOR OU POR TEMOR
“Aí
retorno ao fenômeno do tenentismo. Desde a Proclamação da República com Deodoro
e depois Floriano, houve sempre uma maneira específica de tratar os militares.
Denota uma preocupação da liderança política civil em – creio até como uma
espécie de defesa – manter o militar padrão Duque de Caxias... O político civil
sempre fez uma espécie de restrição as lideranças militares. Aceita a liderança
militar porque percebe o pesa da força das armas. É como se ama a Deus, de duas
maneiras: pelo amor ou pelo temor.
Os
civis temem as Forças Armadas porque sabem que são poderosas. São poderosas
quer em termos organizacionais, quer por seus valores morais e espirituais,
pouco comuns a inúmeros segmentos da sociedade. Nós, militares, vemos isso com
alguma clareza e podemos até ser chamados de sectários, narcisistas, por
admitir esse quadro de condutas, por achá-lo bom, porém, os políticos não
pensam assim” (Coronel José Roberto Eichler, Tomo 5, pg. 270).
PREÂMBULO
A
TENTATIVA DE ASSASSINATO DE CARLOS LACERDA
GETÚLIO
VARGAS SE SUICIDOU OU FOI ASSASSINADO?
“Havia uma corrupção
generalizada no Governo Getúlio Vargas. Era escândalo em cima de escândalo, e
quem mais denunciava, com base em documentação farta e raciocínio lógico, era o
Carlos Lacerda, através, primeiro, de colunas na Tribuna de Imprensa e no Correio
da Manhã, e depois no seu próprio jornal chamado Coluna da Imprensa.
Até que um belo dia nós
soubemos lá na Diretoria de Rotas, onde eu trabalhava, no Aeroporto Santos
Dumont, que um coronel da FAB (Força Aérea Brasileira) chamado Guilherme Telles
Ribeiro estava fazendo uma operação irregular na compra de material para a FAB.
Irritados e envergonhados,
denunciamos o fato e demos todos os documentos e comprovantes para o Carlos
Lacerda publicar, o que ele fez. Resultado: 15 dias depois, esse Coronel Telles
Ribeiro e um capanga entraram no edifício do Lacerda e deram uma surra nele
dentro do elevador.
Assim que soubemos na
Diretoria de Rotas, eu e os majores ficamos muito revoltados, com um claro
sentimento de culpa, porque tínhamos induzido o Lacerda a publicar aquele
artigo, aquela denúncia que geraria a agressão.
Reunimo-nos no Aeroporto e
resolvemos passar a acompanhá-lo, armados de 45, para defendê-lo com a nossa
presença. Daí para frente, começamos a acompanhar o Lacerda.
Todo dia tinha um acompanhante.
No dia 4 de agosto de 1954, eu estava escalado, mas na hora do jantar recebi um
telefonema do Galeão me convocando para voo do Correio Aéreo Nacional no dia
seguinte de madrugada. Como a gente decolava muito cedo, eu não quis fazer o
voo cansado, maldormido.
Telefonei para o meu colega
Rubens Florentino Vaz para me substituir e ele pegou o serviço no Colégio São
José, na Tijuca, onde o Lacerda proferia uma palestra. De lá, passei o bastão
para ele às 9h da noite, e ele levou o Lacerda no carro dele até em casa, na
Rua Tonelero, 180.
Lá chegando, o Lacerda, que
estava com o filho Sérgio, desceu de um lado e o Major Vaz desceu do outro.
Ficaram conversando um pouco, depois o Lacerda se afastou pela calçada para
entrar. Este fato está descrito com todo o detalhe em meu livro, lançado há
pouco, novembro de 2001, com o título ‘Getúlio e o Mar de Lama’, que estou
deixando no Projeto História Oral. Ele mostra a verdade sobre 1954 e faz uma
análise de todo esse período. De maneira que não vou entrar em muito detalhe,
porque já consta aí...
Ficou muito conhecido esse
episódio do assassinato do Major Vaz e ocorreu uma coisa que não é ressaltada
no livro, que foi a aglutinação das Forças Armadas em torno da FAB para caçar
os assassinos do Vaz. Isso foi muito comovente, a FAB ficou extremamente grata.
Havia dias, como digo no livro, em que apareciam no Aeroporto Santos Dumont mil
oficiais do Exército, fardados, com 45 na cintura, para caçar o bandido Euribes
da Silva.
Esse episódio resultou no
suicídio de Getúlio – o Getúlio se matou de vergonha. Dizem que foi o Lacerda
que derrubou o Getúlio, coisíssima nenhuma, o Getúlio se matou de vergonha. Há
uma versão de alguns médicos de que ele foi morto, não foi suicídio, porque
existem umas circunstâncias meio esquisitas relacionadas com a sua morte.
Por que é que Getúlio, um
homem que sempre gostou de andar bem-apresentado, bem-vestido, iria se suicidar
de pijama e chinelo? Essa é a primeira dúvida que aparece. Segunda dúvida: por
que a família impediu a realização da autópsia? Isso também é muito estranho,
pois seria do interesse deles fazer a autópsia, para constatar se a bala tinha
realmente partido do revólver de propriedade de Getúlio. Impediram a autópsia e
nunca se soube se a bala era aquela mesma que tinha partido do revólver dele”
(Coronel-Aviador Gustavo Eugenio de Oliveira Borges, Tomo 10, pg. 275-276).
ANTECEDENTES
DO 31 DE MARÇO DE 1964
Muitos dos entrevistados
voltam aos tempos da Proclamação da República, golpe desferido pelo Exército
contra a Monarquia por militares doutrinados na filosofia do Positivismo de
Augusto Comte, lembrando sua ideologia autoritária, que levou a muitas
quarteladas durante quase um século, e que, inicialmente, pensavam que o
Movimento de 1964 fosse mais uma dessas quarteladas passageiras, logo
retornando o poder aos civis.
Outros entrevistados voltam
à década de 1920, afirmando ser o Tenentismo (Revolta dos 18 do Forte, Coluna Miguel
Costa-Prestes, Revolução de 1930) um dos motivos longínquos que redundou no
Movimento de 1964, por ser um movimento político-militar que criticava a corrupção
e o atraso sócio-econômico do Brasil, ao mesmo tempo em que pregava um
desenvolvimento industrial rápido para o País. Estes analistas afirmam que a
força remanescente ou pelo menos o espírito dos “Jovens Turcos” de outrora
prevaleceu no sentido de o Movimento de 1964 se prolongar por 21 anos. Ou seja,
venceu a turma dos “costistas” (Costa e Silva) – incluindo o presidente Médici,
que queria aproveitar o Movimento para desenvolver econômica e socialmente o
Brasil - sobre a turma dos “castelistas” (Castello Branco) – esses querendo
devolver o poder logo aos civis, após a arrumação da ordem pública.
Diz Geisel no livro “Ernesto
Geisel”, publicado pela Editora Fundação Getúlio Vargas, 5ª. Edição, 1998, à
pg. 166:
“Lembro-me também de um
fato, que nunca vi publicado, ocorrido um ou dois dias depois da revolução:
houve uma reunião no gabinete do Costa e Silva e outros generais à qual
compareci com Castello. Lá estavam Costa e Silva e outros generais, entre eles
Peri Beviláqua, que aderiu à Revolução mas era muito ligado à esquerda. Costa e
Silva, falando sobre a revolução, declarou: ‘Nossa revolução não vai se limitar a botar o
Jango para fora! Temos que remontar aos ideais das revoluções de 22, de 24 e de
30!’ Ele queria fazer uma revolução
mais profunda. Ficaram todos em silêncio”.
“Sobre a Revolução de 31 de
Março de 1964, podemos listar causas tanto remotas quanto imediatas. As remotas
retrocedem à década de 1920, quando irromperam os primeiros movimentos
revolucionários militares, conduzidos por jovens oficiais idealistas, que não
se conformavam com a situação de subdesenvolvimento do País. Achavam que o
Exército – a maioria era do Exército – deveria fazer algo para mudar aquele
panorama, caracterizado pela ‘política do café-com-leite’, que vigorava na
época, a qual mantinha no Poder algumas oligarquias que nada faziam para
conduzir o País, apesar de toda a sua potencialidade, ao nível de
desenvolvimento das grandes nações do mundo, o que aqueles idealistas
pretendiam.
Esses movimentos ficaram bem-marcados
pelo episódio heroico dos ’18 do Forte’, em 1922, tendo à frente o Capitão
Siqueira Campos, e depois pela coluna revolucionária que percorreu o País,
entre 1924 e 1926, erroneamente chamada de Coluna Prestes, pois ele era apenas
um dos seus integrantes. Esses movimentos acabaram redundando na Revolução de
1930, cujos participantes acreditavam que iria redimir o País dos seus
problemas.
Foi justamente nessa época,
em que predominava tal pensamento em grande parte da oficialidade do Exército,
sobretudo entre os oficiais jovens, que ingressou nas Forças Armadas a maior
parte dos homens que fizeram a Revolução de 1964.
Então, imbuídos dos mesmos
ideais daqueles jovens de 1922 - reformar o Brasil, alçá-lo rapidamente a uma
posição de relevo mundial, acabar com o subdesenvolvimento - criou-se entre os
oficiais do Exército uma corrente que pretendia lutar para alcançá-los. Dela
originou-se o movimento de deposição de Getúlio Vargas e, depois, no segundo
mandato de Getúlio, o movimento da Cruzada Democrática contra os comunistas, o
Memorial dos Coronéis e o inquérito do Galeão, este determinante da queda e do
suicídio do Presidente Vargas.
Essa corrente, que em 1930
imaginou poder atingir seus objetivos, foi traída por Getúlio, mais caudilho do
que idealista. Novamente frustrou-se diante do comportamento do Marechal Lott
(Henrique Baptista Duffles Teiseira Lott), em 1955, que afastou aqueles
idealistas das posições onde poderiam fazer algo pelo qual almejavam. Mais
tarde, no Governo João Goulart, passaram a conspirar no sentido de dar um basta
ao caos que se implantava no País.
Esses homens, e outros que
em face da situação a eles aderiram, foram os que fizeram a Revolução de 1964.
Eis a razão por que fui buscar as causas remotas da Revolução de 1964 no idealismo
que veio desde 1922, na corrente que se formou durante 40 anos, dentro do
Exército, de homens que queriam fazer pelo Brasil mais do que simplesmente
exercer as funções militares – queriam também mudar o País, a sua mentalidade
política e transformá-lo numa potência” (Contra-Almirante Luiz Pragana da
Frota, Tomo 14, pg 168-169).
“Existia, então, em algumas
lideranças castrenses uma certa doutrina que vinha do passado, preconizando que
os valores da elite militar seriam capazes de resolver os problemas brasileiros,
sem a presença das elites civis. Foram refratários a essa doutrina nomes como
Castello Branco e Eduardo Gomes, este sempre um militar civilista e
democrático. Muitos coronéis daquela época e outros oficiais mais jovens
queriam fazer algo em proveito do Brasil e, como entendo, a doutrina
militarista tinha raízes nos chamados ‘jovens turcos’, que no princípio do
século, durante o Governo Hermes da Fonseca, aperfeiçoaram-se na Alemanha.
A segunda questão está
ligada às características da formação do militar, preparados para dirigir,
comandar e dar ordens pressupostamente capazes de resolver os problemas que as
pessoas estavam vendo nas ruas. Tudo seria fácil mediante a intervenção
militar.
Quando o Movimento de 1964
foi vitorioso, indiscutivelmente quase 95% do País bateram palmas. Mas, à
medida que o processo revolucionário de 1964 vai se implantando, ao mesmo tempo
vai provocando discórdias e conflitos. Daí, a contestação que começava a
surgir. No processo revolucionário, o Poder é arbitrário e provoca contestação.
Cresciam dois tipos de oposição: os adeptos do marxismo, bem fortes, naquela
época, ligados a Cuba e à União Soviética; e algumas lideranças liberais
democratas que não estavam concordando com a execução do processo implantado no
País. Eis a terceira causa: essas duas forças vão se unir, a de esquerda e a
liberal, ambas antimilitaristas. Esta forma de oposição não sabia distinguir
entre o militar de tendências civilistas e o de tendências militaristas. Tudo
para eles era militarista” (Deputado Federal Bonifácio de Andrada, Tomo 15, pg.
96-97).
“Havia, nas Forças Armadas, três grupos de
oficiais, a saber: a corrente originada em 1922, que pretendia fazer algo para
eliminar o quadro de subdesenvolvimento e a mentalidade política que tanto prejuízo
trazia ao País; outro grupo que não achava necessária a intervenção das Forças
Armadas, mas às vésperas do Movimento aderiu ao mesmo; e um terceiro grupo,
menor, que apoiava a escalada marxista.
Depois da Revolução, este
último grupo foi praticamente extinto: seus integrantes foram afastados,
cassados ou demitidos e outros passaram para a reserva. Deste modo,
permaneceram dois grupos dentro do sistema revolucionário militar: o grupo que
defendia a transformação do Movimento numa Revolução, isto é, que queria
aproveitar a intervenção militar de grande porte – afastou o Presidente da
República – para conquistar os objetivos, de muitos anos antes, de transformar
as estruturas política e administrativa do País, saneá-lo moralmente, afastar
os políticos corruptos e criar novos quadros, redimir a economia abalada,
resolver os problemas das desigualdades sociais e afastar definitivamente do
cenário nacional a subversão, que era bem forte. Para tal, a Revolução deveria
demorar tempo maior no Poder. O maior expoente desse grupo era o Marechal Costa
e Silva.
Já o outro grupo, a outra
corrente de pensamento, defendia a opinião de que a intervenção militar deveria
apenas neutralizar aquela escalada comunista, afastando os homens do Governo
ligados diretamente à subversão marxista e, logo que possível, dever-se-ia
restabelecer o sistema político vigente antes da Revolução. Essa corrente,
ligada ao Marechal Castello Branco, não queria o prosseguimento da Revolução
por muito tempo.
Essa divergência resolveu-se
com a ascensão à Presidência da República do Marechal Costa e Silva. Durante
todo o seu Governo predominou a linha revolucionária, ou seja, aquela que
queria transformar o Movimento de 31 de Março em uma Revolução, entendendo-se
que uma revolução vem para mudar as estruturas existentes, para estabelecer uma
nova ordem e não somente para restabelecer a antiga, como queria a outra
corrente” (Contra-Almirante Luiz Pragana da Frota, Tomo 14, pg. 170-171).
Obs.
O
Contra-Almirante Frota é filho do General-de-Exército Sylvio Couto Coelho da
Frota, Ministro do Exército no Governo Geisel. O Ministro Frota é autor do livro “Ideais traídos: A mais grave crise
dos governos militares narrada por um de seus protagonistas”.
As
ações do Tenentismo (“Jovens Turcos”) que levaram ao Movimento de 1964 pode ser
visto em https://felixmaier1950.blogspot.com/2020/06/o-tenentismo-e-as-acoes-dos-jovens.html.
F.
Maier
MOVIMENTO
COMUNISTA INTERNACIONAL
Praticamente todos os
entrevistados concordam em dizer que o Brasil, em 1964, sofria a influência
direta da Guerra Fria, com o Movimento Comunista Internacional (MCI) lançando
suas garras sobre o Ocidente democrático, inclusive o Brasil, e os americanos
fazendo a contrapropaganda a essa doutrina que tornava o mapa mundi cada vez mais vermelho.
“Ao término da Segunda
Guerra Mundial, a União Soviética, em inferioridade nuclear em face dos Estados
Unidos, adotou, em relação aos países não comunistas, política externa
defensiva, caracterizada pelo movimento pró-paz – ofensiva pela paz – e pala
promoção da subversão naqueles países – guerra psicológica – sempre acusando os
EUA de intenções agressivas e imperialistas.
A seguir, logo que conseguiu
produzir armas nucleares, a URSS mudou sua política externa, passando a
utilizar a subversão e a guerra revolucionária para a rápida expansão do
comunismo no mundo” (Coronel Helio Mendes, Tomo 1, pg. 255).
“As raízes remotas encontram-se
em 1922. Desde a criação do Partido Comunista, começou a ininterrupta pressão
do Movimento Comunista Internacional (MCI) sobre o Brasil; é a velha teoria do
dominó: se o Brasil caísse, cairia o resto.
Sobreveio a Coluna Prestes
e, depois, a Revolução de 1930. Luís Carlos Prestes, com a dissolução da
Coluna, se exilou na Argentina e se negou a participar da Revolução de 1930,
porque julgou-a burguesa, tendo declarado, pela primeira vez, que tomava a
linha do comunismo.
A essa altura, conta a
história que Oswaldo Aranha já lhe tinha enviado oitenta mil dólares. Da
Argentina, Prestes foi para a Rússia, onde passou bastante tempo; aquele
dinheiro foi um dos recursos que financiaram, mais adiante, a Intentona
Comunista de 1935.
Esses acontecimentos incorporaram-se
às raízes mais longínquas.
Como causa mais próxima,
tenho que me reportar à queda de Jânio Quadros. Emergiram contradições, no
período que vai da renúncia do Presidente Jânio Quadros à posse de João
Goulart, e corremos o risco de uma divisão dentro do Exército” (Coronel Gabriel
Antônio Duarte Ribeiro, Tomo 6, pg. 80-81).
“Amplos setores da
administração pública, a Confederação Geral dos Trabalhadores (CGT), a União
Nacional dos Estudantes (UNE), a União Brasileira de Estudantes Secundaristas
(UBES) e a maioria dos sindicatos estavam completamente dominados por
esquerdistas ou notórios comunistas. O Secretariado de Miguel Arraes, em
Pernambuco, também era constituído de elementos vinculados ao esquerdismo.
Leonel Brizola fundara o ‘grupo dos onze’ e criara a Frente de Libertação
Nacional. Francisco Julião, no Nordeste, atuava, vigorosamente, através das
Ligas Camponesas.
As greves se sucediam em
proporções assustadoras, tanto no meio sindical como no estudantil, surgindo as
chamadas greves de solidariedade. Janto tinha, no meio sindical, o seu grande
sustentáculo. A agitação no campo era intensa. Os sindicatos rurais eram
organizados por comunistas, militantes da Ação Popular trabalhista e sacerdotes
católicos, sendo criada a Confederação Nacional dos Trabalhadores na
Agricultura (CONTAG) que se tornou mais uma integrante da CGT. Setores da
Igreja Católica, considerados progressistas, expandiam o Movimento de Educação
de Base, aplicando o método de alfabetização de Paulo Freire.
O Plano Trienal de Celso
Furtado fracassou e o País mergulhou em impressionante ritmo inflacionário”
(General-de-Exército Sebastião José Ramos de Castro, Tomo 1, pg. 118-119).
Imigrantes
trouxeram dogmas do comunismo
“As forças políticas eram o
resultado de 50 anos de confrontos e formação de elites políticas entre essas
vertentes. Importamos ideologia comunista e projeções internacionais de
interesses capitalistas. Dou exemplos marcantes que comprovam isso. A vinda de
imigrantes europeus para o nosso País, em face das condições de trabalho em
seus países, nas condições deixadas pela segunda revolução industrial e pelo
sistema capitalista que dela emergiu, bem como a influência de intelectuais que
haviam aderido aos dogmas da revolução bolchevista, foram responsáveis pela importação
do comunismo. Essas ideias permearam a industrialização nascente nos centros
urbanos do País e as relações de trabalho no campo, para onde parte daqueles
contingentes impregnaram a força de trabalho” (Coronel Adalto Luiz Lupi
Barreiros, Tomo 14, pg. 254).
Obs.
O
Coronel Adalto faz um relato detalhado sobre a Guerrilha do Vale do Ribeira, em
Registro, SP, implantada por Carlos Lamarca (pg. 276-285).
F.
Maier
As
21 condições para admissão do PCB à Terceira Internacional (COMINTERN)
“Em março de 1922, foi
criado o Partido Comunista no Brasil, no Rio de Janeiro, que logo aderiu ao
Movimento Comunista Internacional, aceitando as 21 condições de admissão à
Terceira Internacional (COMINTERN).
Através dessa entidade,
agindo como central da subversão, Moscou, impondo disciplina férrea, dirigidas
às atividades comunistas do mundo inteiro. É conveniente ressaltar, para melhor
compreender o fanatismo ideológico do comunismo, que para aderir ao COMINTERN
era indispensável a aceitação de determinadas condições, dentre as quais soa
como chocante a de número 16, que prevê: ‘Todos os Partidos Comunistas devem renunciar não somente ao
patriotismo, como também ao pacifismo social’.
Dentre os primeiros líderes
a serem trabalhados em Moscou para vir exercer funções de destaque no Brasil,
deve ser citado Luís Carlos Prestes (ex-capitão do Exército). Durante anos
permaneceu na URSS realizando cursos de liderança e capacitação marxista-leninista.
Retornou ao Brasil para participar da Intentona Comunista de 27 de novembro de
1935” (Coronel Humberto Ayres Corrêa, Tomo 14, pg. 232).
Obs.
A
história do PCB, assim como as 21 condições para admissão ao COMINTERN, pode
ser visto em https://felixmaier1950.blogspot.com/2020/06/partido-comunista-brasileiro-pcb-fgv.html.
Hoje, temos na América Latina outra Internacional Comunista, que pretende comunizar toda a região: o Foro de São Paulo. Conheça o histórico e as Atas Finais de vários Encontros do FSP no link https://midiasemmascara.net/atas-fsp/
A
Universidade de Amizade dos Povos Patrice Lumumba, em Moscou, era uma
incubadora de terroristas e guerrilheiros, inclusive do Brasil – cfr. https://felixmaier1950.blogspot.com/2020/07/a-tv-lumumba-e-o-ai-5-por-felix-maier.html.
O documentário “The Soviet Story” (A História Soviética) apresenta os bárbaros crimes cometidos na URSS – Cfr. em https://www.youtube.com/watch?v=_e_-gLw860U.
Em
12 de junho de 2007, foi inaugurado em Washington, D.C. o “Memorial das Vítimas
do Comunismo”, com a dedicatória "Para os
mais de cem milhões de vítimas do comunismo e para os que amam a liberdade."
Cfr. em https://pt.wikipedia.org/wiki/Memorial_das_V%C3%ADtimas_do_Comunismo.
F.
Maier
Revolução
de cunho comunista: tomada do Poder em dois tempos
“Sem dúvida, havia uma
revolução de cunho comunista, em preparação no País. Permito-me explicar como
isso acontece: os comunistas nunca fizeram ou nunca iniciaram uma revolução,
nem na União Soviética. Eles foram sempre os grandes aproveitadores das
revoluções. A isso chamam de transformação da revolução. A revolução surge como
um movimento determinado e depois se transforma. Lenine advertia: ‘Não é
possível triunfar apenas com a vanguarda’. E o Partido Comunista é a vanguarda,
é a direção.
A estratégia aplicada no
Brasil tinha duas fases distintas. Na primeira, haveria uma espécie de golpe
revolucionário, aplicado pelo próprio Governo João Goulart, originando um
regime de força. O Congresso seria fechado e promover-se-ia um expurgo, nas
Forças Armadas, de todos os elementos contrários.
Na segunda fase, esses
elementos golpistas seriam postos de lado, e os comunistas assumiriam o Poder.
Esse era o plano para a revolução comunista no Brasil. Eles não iam iniciar a
revolução; quem iria fazê-lo era João Goulart.
Há, inclusive, uma carta
enviada a Miguel Arraes por um jornalista, seu parente, contendo as conclusões
de várias entrevistas de confidentes de João Goulart, como Samuel Weiner e
outros, em que ele diz que o Presidente estava entusiasmado com a possibilidade
de aplicar esse golpe, fechando o Congresso e estabelecendo uma outra
Constituição para o Brasil. Era o que ele chamava de ‘República Sindicalista’,
uma república dominada pelos sindicatos.
Mas os comunistas estavam
preparados para a segunda fase, que era assumir o Poder, eliminando esses que a
iniciaram” (General-de-Brigada Ferdinando de Carvalho, Tomo 2, pg. 152).
Como Tenente-Coronel, Ferdinando de Carvalho foi encarregado do
Inquérito do Partido Comunista, que durou dois anos, resultando em mais de 150
volumes, que foram transportados num caminhão até o Superior Tribunal Militar
(STM).
“Quando implantaram o
comunismo na União Soviética, que ainda era o Império russo, no ambiente
militar iniciaram a sua revolução pelo aliciamento dos marinheiros. Lembrem-se
todos do episódio do encouraçado Potiomkin, também chamado por alguns de
Potemkim, em 1905, quando os comunistas insuflaram a rebeldia dos marinheiros
por motivos de rancho, ou ainda, do cruzador Aurora, que, nos antecedentes da
Revolução de Outubro de 1917, levantou-se e bombardeou a Cidade de Leningrado.
No Chile de 1963, a subversão nas Forças Armadas tinha importantes células na
Marinha de Guerra.
No Brasil, também escolheram
iniciar a revolução pela Marinha, embora as três Forças Armadas,
indistintamente, tenham sido inoculadas pelo germe da quebra da hierarquia e da
disciplina e pela tentativa de aliciamento das praças contra os seus
superiores.
Gostaria de lembrar dois
episódios que antecederam a revolta dos marinheiros e fuzileiros, aqui, no Rio
de Janeiro. Falo da revolta dos sargentos em Brasília, um ano antes, na área
Alfa, e da sabotagem que os sargentos mecânicos da Força Aérea fizeram contra
as aeronaves, que, consequentemente, ficaram impossibilitadas de decolar.
Felizmente, essa tentativa de cisalhamento não teve sucesso, porque a maioria
esmagadora dos graduados se posicionou contra a crise provocada,
artificialmente, pela subversão de cúpula conduzida pelo governo, aliada à
subversão de base, a cargo, principalmente, do Comando Geral de Greve, depois
CGT, e das Confederações de Trabalhadores, que agiam ao lado da UNE (União
Nacional dos Estudantes)” (Vice-Almirante Sérgio Tasso Vásquez de Aquino, Tomo
9, pg. 96-97).
“Quando eu estava na ativa,
era muito convidado para reuniões com empresários. Era solicitado pela
Confederação Nacional do Comérico e, num almoço que eles fizeram, estava um
grupo de empresários americanos. Junto se encontrava aquele que veio a ser
presidente – o Jimmy Carter. Eram da Geórgia, do Sul dos Estados Unidos. E,
naquela conversa, como eu falava inglês e eles não falavam o português,
perguntei a eles: ‘Quais são os produtos brasileiros que vocês estão mais
interessados em importar?’ E um deles respondeu: ‘Gostaríamos de importar o
método de combate aos comunistas adotado por vocês’. Os americanos consideravam
a coisa mais perfeita do mundo. Nenhum país tinha conseguido neutralizar, com
tanta eficácia, o comunismo naquele nível que ele havia alcançado, porque eles
já se diziam do governo: ‘Só não temos o Poder, mas estamos no Governo’. Eles
falavam isso, o próprio Luís Carlos Prestes.
Era a tal tomada do Poder em
dois tempos que falei, lembrando que Kerenski e Trotsky fizeram a revolução.
Lênin entrou e derrubou os dois e estabeleceu a ditadura do proletariado, de
triste memória. Na Tchecoslováquia, lembramos a tomada do parlamento, a queda
do parlamento, eles assumiram o Poder, valendo-se do próprio Congresso... Eles
apoiavam todo e qualquer movimento nacionalista. Você brigava com o governo e
fazia um movimento de oposição. Eles apoiavam. Essa oposição ganhava, chegava
ao governo e os comunistas entravam com eles. Era a chamada do Poder em dois
tempos. Uma vez lá dentro, eles davam o tombo final, o golpe de misericórdia.
Isso eles fizeram, também,
na própria Cuba. O movimento de Cuba, pelo Fidel Castro, a tal campanha de
Sierra Maestra, foi apoiada pelos Estados Unidos. Foi, porque eles queriam se
livrar do Batista, que estava tornando-se nacionalista. O Batista era um
ex-sargento, um fantoche, mas ele começou a desagradar os americanos,
reivindicando uma série de benefícios. Os cassinos, os hotéis, o jogo, era tudo
explorado pelos americanos. Ele começou a querer colocar ordem no assunto e
isso desagradou-lhes. A derrubada do Batista não foi ideológica, ele não era
comunista, ele era nacionalista. Quem era e enganou os americanos, foi o Fidel
Castro. Apoiado pelos americanos, derrubou o Batista, só que ‘o tiro saiu pela
culatra” (General-de-Brigada Celso dos Santos Meyer, Tomo 10, pg. 141-142).
Sobre
o “Bogotazo” e “La era de la violência”
“Quando
exercia a função de Adido Militar no Peru, um jornal comunista de Lima, por
ocasião das comemorações de um dos aniversários do famoso episódio conhecido
como ‘Bogotazo’, publicou uma reportagem alusiva, inclusive com a fotografia do
jovem Fidel Castro, na época, presente em Bogotá. O motim na Capital colombiana
desencadeou-se com o assassinato do candidato do Partido Liberal às eleições
presidenciais. Foram 4 dias de violentos distúrbios urbanos.
O
jovem Fidel Castro, então com vinte e poucos anos, era convidado dos liberais.
Nos conflitos morreram quarenta mil pessoas. O confronto entre as correntes
liberais e conservadoras continuou ao longo do tempo e ficou conhecido como La era de la violência. Foram 4 anos e
morreram aproximadamente quatrocentas mil pessoas de lado a lado. Liberais e
conservadores matando-se mutuamente, até na zona rural; e com requintes de
perversidade” (Coronel Roberto Monteiro de Oliveira, Tomo 13, pg. 219-220).
Obs.
O
livro “O Homem que inventou Fidel – Cuba, Fidel e Herbert L. Matthews do New
York Times”, de Anthony DePalma, Companhia das Letras, São Paulo, 2006, narra
em detalhes a “tomada do Poder em dois tempos” em Cuba.
F.
Maier
RAÍZES
DO MOVIMENTO REVOLUCIONÁRIO DE 31 DE MARÇO DE 1964
Origem
externa e interna
“Podem ser considerados como
raízes do Movimento revolucionário de 31 de Março de 1964, de origem externa,
os seguintes fatos: a expansão do comunismo soviético, no período pós-1945, na
Europa e em outros continentes; a vitória do comunismo de Mao Tsé-Tung, na
China, em 1949, exportando sua ideologia, inclusive para a América Latina; a
divisão da Coréia pelo Paralelo 38, decorrente do comunismo ali implantado; a
introdução do comunismo, por Fidel Castro, em Cuba, e a expansão de sua
ideologia marxista-leninista para a América Latina; a Guerra dos 30 anos no
Vietnã, 1946/1976, culminando na derrota e expulsão dos franceses e, depois,
dos norte-americanos; radicalização da bipolaridade, com ameaça de conflito
nuclear entre Estados Unidos e a União Soviética, com a instalação de mísseis.
De origem interna:
antagonismo político-militar, envolvendo parcela das Forças Armadas, nos anos
1950; o suicídio do Presidente Getúlio Vargas, em agosto de 1954, acentuando a
dicotomia entre os denominados ‘golpistas gorilas’, direitistas e os
esquerdistas ‘comunistas populistas’. O antagonismo entre esses grupos aumenta,
radicalizando-se as posições nos anos de 1950 e início dos anos de 1960;
reflexo da guerra fria, com poucas opções político-estratégicas e
político-econômicas para o Brasil e cenário interno instável, do ponto de vista
político-ideológico. No período de 1960 a 1964, quatro governos no Brasil de
características contraditórias e antagônicas: Juscelino Kubitschek, final de
Governo, Jânio Quadros, João Goulart e Castello Branco, este a partir de 1964” (Coronel
Amerino Raposo Filho, Tomo 2, pg. 277).
“Nas raízes do Movimento de
1964 encontram-se os acontecimentos da década de 1950, a eleição de Getúlio
Vargas e, depois, atentado contra o Carlos Lacerda, que causou a morte do Major
da Aeronáutica Rubens Vaz. Em 1953, houve um manifesto dos coronéis que levou a
deposição de Jango, Ministro do Trabalho de Vargas. Todos esses fatos, no fim,
culminaram com o suicídio de Vargas, em 1954” (General-de-Divisão César
Montagna de Souza, Tomo III, pg. 40).
Nordeste,
o trampolim da vitória
“Corremos sério risco. O
Brasil é detentor de uma das áreas estratégicas para o equilíbrio mundial. Se
entrássemos em um estado-maior de qualquer país do mundo, entre as principais
áreas estratégicas identificadas encontraríamos o Nordeste do Brasil (saliente
nordestino). É a parte do continente americano mais próxima do Velho Mundo e a
Segunda Guerra Mundial mostrou isso quando o Brasil cedeu bases para a Marinha
e Força Aérea americanas. Também se deslocaram tropas do Centro-Sul do País
para o Nordeste, quando a guerra se desenvolvia no Norte da África. Tanto é que
os expedicionários, como são conhecidos os integrantes da FEB, estavam
preparados para desembarcar no Norte da África.
Justifica-se, desse modo, consequente orientação da União Soviética,
o esforço para uma revolução no Nordeste brasileiro, a fim de passar aquela
parte toda para a órbita da URSS. Estávamos bem-informados e
conhecíamos os riscos que estávamos correndo.
(...)
A questão brasileira deve
ser entendida inserida na estratégia mundial. Por isso que insisto em destacar
a importância do saliente nordestino. Foi chamado de ‘Trampolim da Vitória’ por
ingleses e americanos. Exerceu importância fundamental como suporte de bases
aéreas e navais na Segunda Guerra Mundial. Assim, ao descrever questão como
esta, deve-se examinar o quadro mundial, a situação que a precedeu e qual a sua
projeção para o futuro. O Brasil dominado por uma ideologia que todos
repelíamos seria um desastre total. Somos um País muito importante para sermos
ignorados pelos outros, principalamente pela Europa Ocidental e pelos Estados
Unidos” (General-de-Brigada Rubens Resstel, Tomo 7, pg. 97-102).
A
renúncia do Presidente Jânio Quadros
A maioria dos analistas
prefere focar o dia 24 de agosto de 1961 como antecedente próximo do Movimento
de 1964, data da renúncia do presidente Jânio Quadros. Houve uma fissura muito
forte dentro das Forças Armadas, especialmente no Exército, devido à não
aceitação do vice de Jânio, João Goulart, para assumir o governo. Houve
deslocamento de tropas do Exército do RS para SC, e de SP para o PR, porém não
houve confronto bélico. Há depoimentos detalhados de militares sobre essas
manobras que alcançaram Lajes e Criciúma.
Após o arranjo do
parlamentarismo, Jango assumiu o governo, mas logo colocou em campo sua massa
de manobra dos tempos em que era ministro do Trabalho de Getúlio Vargas –
pelegos ligados a sindicatos, estudantes, comunistas – e reverteu, em
plebiscito, novamente para o sistema presidencialista, com a ajuda de seu
cunhado Leonel Brizola e sua “Cadeia da Legalidade”, pregada em várias rádios,
especialmente no Rio Grande do Sul.
“Por felicidade, hoje digo
por felicidade e, quando estávamos ultrapassando a divisa de Santa Catarina,
entrando em território gaúcho, veio a ordem para retornar. Naquele período,
soubemos depois, que os deputados reunidos com os ministros militares chegaram
a um acordo. Aí vem a importância, que eu sei que ocorreu, do Tancredo Neves
ter apresentado uma fórmula para evitar aquele derramamento de sangue – o
parlamentarismo. Voltamos – o parlamentarismo foi aceito. O Vice-Presidente
João Goulart não desfrutava mais dos poderes do presidencialismo. Sabemos que
não demorou muito, porque o próprio Tancredo Neves, no cargo de Primeiro-Ministro,
fez tudo para que o parlamentarismo terminasse e se retornasse ao
presidencialismo. Essa é uma passagem importante que vejo na minha vida de
tenente” (General-de-Brigada Durval Antunes Machado Pereira de Andrade Nery,
Tomo 10, pg. 158).
“República de Trombas e Formoso”
“Quanto
às ‘Ligas Camponesas’, criadas por Francisco Julião, vou relatar uma
experiência pessoal que tem ligação com as mesmas.
Em
1962, recebi uma missão para ir ao meio-norte de Goiás e produzir um relatório
sobre a chamada ‘República de Trombas’. Havia um elemento complicador, pois a
mesma não admitia gente estranha em seu território.
Estimava-se
serem dez mil habitantes a população de toda a área, em sua maioria posseiros,
com maior incidência de baianos e cearenses. De um modo geral, os que
demandavam aquela ‘República’ tinham sempre um passado a esconder, inclusive
condenados pela Justiça. O ânimo de todos era a defesa intransigente de suas
‘posses’. Com a construção de Brasília e da Rodovia Belém-Brasília, passando
próxima ao território da ‘República’, as terras foram valorizadas e novos
proprietários, com documentos legais ou forjados, surgiram na região, atritando
com os posseiros.
O
líder local era o José Porfírio de Souza, homem ‘chucro’, mas com sensibilidade
e carismático. Começou a montar uma cidade com aquela gente que precisava de
terra, traçando os limites da área, ou da ‘República’, como eles mesmos diziam.
Sei que um limite era o rio Tocantins, outra a Serra Dourada, mais a oeste a
Rodovia Belém-Brasília.
(...)
Lá
pude verificar que era uma sociedade organizada no molde socialista. A produção
era entregue à Associação de Lavradores que se encarregava de vende-la em Anápolis
e Goiânia.
A
distribuição de terras, convém frisar, obedecia a alguns fatores. O candidato
recebia a quantidade de lotes dependendo da idade, número de braços para o
trato da terra – filhos e dependentes -, disposição física e, principalmente,
tratar ele mesmo da gleba de ser um ‘associado’.
O
José Porfírio de Souza era uma pessoa muito ligada ao Deputado Estadual de
Pernambuco Francisco Julião, a quem considerava ídolo e orientador. (...)
Notei
que os homens portavam armas, de tipos bem variados. Havia desde as
rudimentares de caça, do tipo ‘espingarda do papo-amarelo’, até boas carabinas.
Organizações do Terreno (OT) eram encontradas nas proximidades do povoado. A
Associação possuía planos para a sua defesa; cada ‘grupo’, conforme a hipótese,
sabia o que fazer.
Quanto
à assistência médica, no caso de serem insuficientes os recursos locais, os
doentes eram levados para Goiânia, onde três médicos, previamente contratados
pela Associação, os atendiam, entre os quais se incluía um notório comunista.
Os
políticos de âmbito estadual e mesmo federal cortejavam José Porfírio, porque
era voto certo. O Vice-Governador já tinha estabelecido contato com ele.
(...)
Então,
a ‘Liga Camponesa’ não estava mais só no Nordeste, mas procurando atuar no
Norte goiano e com probabilidade de expandir-se para Mato Grosso e outros
lugares” (Coronel José Tancredo Ramos Jubé, Tomo II, pg. 329-330).
“As
ações criminosas das ligas camponesas se robusteceram e se ampliaram em virtude
do apoio oficial, sob a influência dos comunistas junto à alta administração
federal. Para se ter uma ideia da gravidade da situação, vou citar o caso do
distrito de Trombas, município de Formoso-GO, com base em documentação oficial
a que tive acesso. Ali existia um cearense, José Porfírio de Sousa, mais
conhecido como Zé Porfírio, que tinha o comando total da área e mantinha
quatrocentos homens em armas. Não se sabe de onde vinha o armamento, mas se
pode imaginar. Quando ocorriam eleições em Formoso, os mil e duzentos votos do
distrito de Trombas iam todos para Zé Porfírio ou para o candidato que ele
apoiasse. Os outros candidatos recebiam ‘zero voto’. Outra área infectada era
Araguaia, famosa, mais tarde, por emprestar esse nome – ‘guerrilha do Araguaia’
– aos focos guerrilheiros que por lá se instalaram. De início, como um núcleo
denominado ‘guerrilha de Xambioá’ ” (Tenente-Coronel Idalécio Nogueira
Diógenes, Tomo 4, pg. 185).
JANGO, PLAYBOY COM VOCAÇÃO PARA CAUDILHO
“Estancieiro
milionário, dono de grandes fazendas no Rio Grande do Sul e no Uruguai, Jango
não tinha nenhuma vocação para comunista; podia ter vocação para caudilho, como
mostrava o seu pensamento populista ou por herança, talvez; ele foi uma cria do
Vargas. Como João Goulart não tinha uma base sólida, ficou isolado dos governantes
dos principais Estados e pelo Congresso, que era dominado pela UDN e pelo PSD,
forças tradicionalmente conservadoras que não aceitavam aquelas teses. Então,
buscou amparo nos sindicatos, no meio estudantil, nos intelectuais, e fez
aquela agitação de rua, levantando aquelas bandeiras. Apesar disso, não via
nele um homem a serviço de Moscou – linguagem que se usava na época – como não
estava, também, a serviço de Washington. Jango era um homem que queria fazer o
seu traçado próprio, dentro da realidade do continente sul-americano, política
que Jânio Quadros, de certo modo, tinha iniciado, mas equidistante das grandes
potências” (Jornalista José Blanchard Girão Ribeiro, Tomo 4, pg. 299).
“Em 1963, na revolta da
Polícia Militar do Piauí, sendo eu oficial de operações, recebi, como
comandante da Guarda de Honra, o Presidente João Goulart. Do meu conhecimento,
foi a primeira vez, na minha vida militar, que um homenageado chamou o
comandante da tropa para ficar ao seu lado. Conversamos e, do princípio ao
último momento, ele tentava dar razão à revolta da Polícia Militar, para
finalmente indagar: ‘O senhor não acha que essa revolta é justa, já que o
pessoal da Polícia Militar tem passado fome?’ A minha resposta: ‘Não,
presidente. O pessoal da Polícia Militar tem uma cadeia de comando; eles têm
que observar os degraus dessa cadeia para ponderar os seus direitos. A
indisciplina é um dos fatores que mais destroem as Forças Armadas”
(Tenente-Coronel Murilo Walderk Menezes de Serpa, Tomo 4, pg. 205-206).
Jango
fazia caçadas em Mato Grosso
“De vez em quando, o
Presidente Jango fazia caçadas lá em Mato Grosso.
O próprio Comandante da 9ª.
Região Militar determinava aos comandantes de Regimento que dessem apoio ao
Presidente, cuja chegada se dava no aeroporto de Ponta Porã: enviar uma
viatura, proporcionar segurança. Essa programação era comum, quase todo final
de semana, enquanto Goulart caçava. Este fato não o vi escrito em canto nenhum,
participei dele, porque fiquei como Subcomandante e, depois, como Comandante.
Tínhamos que arrumar aqueles
meios, mas pensava: ‘Para o Presidente caçar precisávamos dar esse apoio:
viatura, segurança?’ Considerava um absurdo.
O Jango tinha amigos entre
os fazendeiros da região, na faixa de fronteira, em Mato Grosso, que poderiam
dar apoio a ele. De fato, os amigos iam recebê-lo, mas João Goulart fazia
questão da presença do Exército, para mostrar que a tropa estava com ele.
Percebi isso: queria demonstrar que contava com o Exército para dar-lhe apoio
em qualquer situação, até num simples passeio a Mato Grosso, para caçar. Aquele
Presidente, que a gente esperava que melhorasse a situação do povo, estava
mostrando-se, apenas, um playboy; assim a gente via o Presidente, o Jango”
(Coronel Dynaldo Domingos de Souza, Tomo 6, pg. 40-41).
Jango, filho bastardo de Getúlio?
“As
raízes mais profundas do Movimento Revolucionário de 31 de Março de 1964
encontram-se na revolução de 1930, a revolução dos Tenentes.
Naquele
movimento revolucionário, Getúlio Vargas usurpou o Poder e os que o apoiaram acabaram
frustrados; muitos dos que tomaram parte, naquela ocasião, participaram da
Revolução de 1964, a exemplo do General Ernesto Geisel, seru irmão Orlando
Geisel e muitos outros.
Getúlio,
com o Poder absoluto, criou dois partidos para dar sustentação ao seu governo:
o PSD, Partido Social Democrático, para as elites ricas e corruptas, e o PTB,
Partido Trabalhista Brasileiro, para mobilizar o operariado.
Assim
foi até a Segunda Guerra, após a qual foi deposto, sendo, mais tarde, eleito o
Marechal Eurico Gaspar Dutra.
Depois
de Dutra, Getúlio voltou ao Poder, desta vez pelo voto direto. Esse governo
terminou com a sua morte, um dramático suicídio, num mar de corrupção e crises
políticas e militares, principalmente envolvendo a Aeronáutica.
Nesse
contexto, Getúlio protegia um afilhado, João Goulart que, dizem, era seu filho
bastardo. Na gíria popular, era ‘cria política’ de Getúlio Vargas.
O
partido de oposição que existia era a UDN, União Democrática Nacional, que
nunca conseguiu vencer o esquema dos dois grandes partidos do Governo,
eficiente sustentação de Getúlio durante muito tempo, baseado nos currais
eleitorais.
Juscelino
Kubitschek foi eleito apoiado por esses dois partidos, PTB e PSD, e derrotou o
Marechal Juarez Távora, que era o candidato da UDN.
Depois
de Juscelino veio Jânio, eleito com o apoio da UDN, embora não pertencesse aos
quadros do partido, visto ser um candidato independente.
Foi
eleito juntamente com João Goulart, que era de outra chapa [PTB]; a legislação
eleitoral daquela época permitia isso.
Goulart
era vetado pelos militares para a Presidência da República. Jânio, sabendo
disso (assumiu em 1961), armou aquela renúncia-golpe para assumir poderes
totais; mandou Goulart fazer uma viagem diplomática à China e renunciou,
esperando ser reconduzido com poderes totais. Mas a sua estratégia falhou e ele
realmente foi afastado do Governo, em meio a uma crise institucional muito
grande: o País esteve à beira da guerra civil.
João
Goulart assumiu a Presidência no regime parlamentarista.
Logo
em seguida, articulou uma campanha objetivando a realização de um plebiscito
para que voltasse a ser Presidente sob o regime presidencialista. Obtida essa
nova condição, iniciou o ataque às instituições brasileiras, visando à criação
de uma república sindicalista, o que era o seu objetivo, porque com essa
república, baseada nas esquerdas, se perpetuaria no Poder, tal como o seu
mestre Getúlio Vargas.
Dentro
desse quadro, iniciou o seu plano: armou um esquema militar baseado em
nomeações de generais e, também, no aliciamento de oficiais de baixa patente e
muito principalmente de graduados: subtenentes, sargentos e cabos.
Utilizava
a Caixa Econômica Federal, concedendo empréstimos para a compra de automóveis,
financiamento de casas, e assim achava que tinha, por exemplo, a Brigada
Pára-Quedista na mão. Buscou controlar os comandos dos Exércitos, como a
nomeação para o IV Exército do General Joaquim Justino Alves Bastos, ainda
General-de-Divisão, para depois, dando-lhe a quarta estrela, mantê-lo conivente
com suas ações” (Coronel Petrônio Araújo Gonçalves Ferreira, Tomo 6, pg.
170-171).
“Em
maio de 1953, o Getúlio escolheu o conterrâneo João Goulart para seu Ministro
do Trabalho. O Jango, com 35 anos, idade mínima para ser ministro, era um
advogado que se elegera deputado federal em 1945. Foi reeleito em outubro de
1950, quando coordenou a campanha que levou o Getúlio ao Poder pelo voto. Era
muito ligado ao caudilho, e até se dizia ‘no baixo mundo’ que ele seria filho
do Presidente. Cansei de ouvir essa versão, mas nunca li de nenhuma fonte
qualquer comprovação sobre esta suspeita. Na realidade, havia uma estima muito
grande do Getúlio pelo pupilo” (Major Sady Fialho Fagundes, Tomo 13, pg. 310).
O Senador Auro de Moura Andrade se
vingou em Jânio
“Vamos
voltar no tempo, para a renúncia do Jânio: o que se assistiu? Era Presidente do
Congresso o Senador Auro de Moura Andrade, adversário do Jânio e que perdera,
inclusive, eleição para ele em São Paulo. O que fez Moura Andrade no momento em
que recebeu a carta-renúncia? Bateu a campainha, informou de imediato, não deu
tempo para ninguém respirar, para conversar, nem nada, bateu a campainha e
informou, de pronto, a renúncia de Jânio, declarou vaga a Presidência da
República e convocou Ranieri Mazzili para assumi-la.
Veja
você a figura o Presidente do Congresso, um senador, adversário político, a
agilidade com que ele deu sequência ao ritual institucional.
Agora
vamos para o Jango. Quem era o Presidente do Congresso? Auro de Moura Andrade.
De que partido? Do PSD, partido que havia rompido com Jango no momento daqueles
famosos decretos sobre Rforma Agrária. O Juscelino havia se encolhido. ‘Não vou
hostilizar o Jango’ disse, ‘mas o PSD vai fazer oposição’. Disso avisou o
Jango. E avisou novamente, por intermédio do João Pinheiro Neto – há um
depoimento do João Pinheiro Neto sobre isso – de que o PSD era majoritário,
embora a ‘tropa de frente’ fosse a UDN,
com o Lacerda vociferando etc. E o que aconteceu?
No
momento em que o Jango deixa Brasília, e o Congresso é informado – não me lembro
mais quem informou, se não me engano foi o Comandante do Planalto (na época não
tinha esse nome), não sei se foi o General Fico, enfim – de que o Jango havia
deixado Brasília, o que fez o Auro de Moura Andrade? Tocou a campainha e disse:
‘O Presidente [Jango] abandonou a chefia do Governo, está vaga a Presidência da
República’. E convocou novamente Ranieri Mazzili para assumir a Presidência da
República, e lhe deu posse imediatamente. Repete-se aquela mesma aceleração do
ritual institucional.
Lá
de 1961, repetindo o mesmo procedimento adotado com a intempestiva renúncia de
Jânio Quadros, que deixara o País completamente perplexo. [entrevistador]
Semelhante
ao que aconteceu em 1961 com Jânio Quadros. E foi usada, em 1964, pelo mesmo
Auro de Moura Andrade, representando o mesmo grupo político, e dando posse...
Por
acaso ao mesmo Ranieri Mazzili... [entrevistador]
Que
era o Presidente da Câmara, e que, se não me engano, foi 17 vezes Presidente
interino da República. Veja só a importância de um episódio relativamente
pequeno. Por quê? Porque ficou caracterizada a continuidade institucional, quer
dizer, quando o Jango chega ao Sul, e depois vai para o Uruguai, já não era
mais presidente, não havia mais como ele se dizer presidente.
Esse
aspecto é relevante.
Nós,
dentro do quartel, nem estávamos sabendo disso. Só ficamos sabendo dias depois
e só prestaram atenção nisso pessoas como eu que, por minhas origens, devido a
meu pai, lá em Minas, sempre acompanhei as coisas da política.
(...)
Interessante,
é que eu me chamo Luiz Carlos por causa do Prestes. Meu pai o admirava e nunca
pensou que Prestes se tornaria comunista e estaria à frente da Intentona de
1935. Nasci em setembro e a Intentona foi em novembro. Eu tenho, escrita à mão
por meu pai, uma verdadeira declaração de arrependimento por haver me dado o
nome que tenho. Mas era tarde...” (Coronel Luiz Carlos Carneiro de Paula, Tomo
9, pg. 301-303).
GÊNESE DA CONTRARREVOLUÇÃO MILITAR
O
JK verdadeiro
“Outros fatores se
conjugaram para a eclosão do Movimento de 1964: a inflação deixada pelo Governo
Juscelino e agravada no Governo Jango, a frustração pela renúncia de Jânio, o
panorama político-social, em crescente degenerescência etc. Costumo dizer que o
Presidente Juscelino, com a construção de Brasília – um sumidouro de dinheiro –
fundou uma cidade e afundou o País. Quando fui oficial de gabinete, espécie de
secretário do Ministro do Trabalho, algumas vezes levava despacho do ministro
para o Palácio do Catete. Vinha telefonema de lá, avisando que o presidente ia
viajar, saindo do aeroporto militar, no centro da cidade. Então, corria o
ministro para lá com o despacho, eu segurando a pasta do ministro, o avião com
as hélices rodando, já partindo, o ministro entregando os processos, e o
presidente autorizando-os, sem os ler e sem nada. Dentro daqueles processos
estavam milhões e milhões da Previdência Social, retirados dos Institutos para
a construção de Brasília. Portanto, quando se fala em crise, em rombo da
Previdência Social, em inflação, temos que voltar ao período de 1956 a 1961, no
Governo Juscelino, quando a situação se agravou. Foi o rombo antecipado da
Previdência, com o dinheiro desviado e a inflação crescente com a construção de
Brasília.
Outra face visível na
desordem do Governo de Jango era o descalabro da economia do País: inflação
galopante, desvios de recursos, corrupção. Se olharmos bem a história deste
País, veremos que a sua desorganização econômica começou com o Governo JK. O
Juscelino, na ânsia de tornar-se eterno no Poder, eterno na história pátria,
quis marcar a sua presença com a construção de Brasília e utilizou
criminosamente todo o dinheiro da Previdência Social, entre outros desacertos.
Quando JK deixou o Governo, Jânio quis consertar a economia, mas,
irresponsável, renunciou ao cargo de presidente e deixou para Jango a
desorganização herdada, sem força para segurar o barco. E os ‘pelegos’ tomaram
conta do Governo. Já Luís Carlos Prestes vinha dizendo que os comunistas
estavam no Governo, só lhes faltava o Poder. Aí, deu no que deu. No período
compreendido entre o final de 1963 e começo de 1964, a situação se agravava:
inflação, infiltração comunista, corrupção e , sobretudo, a deletéria ação da
esquerda, ameaçando a hierarquia e a disciplina nas Forças Armadas”
(General-de-Divisão Francisco Batista Torres de Melo, Tomo 4, pg. 63).
JK
coloca Jango na Presidência
“Para se ter uma idéia da
falta de patriotismo e de espírito público da maioria de nossos políticos, vou
contar um fato ocorrido em 1961, por ocasião da queda de Jânio. Estava sentado
numa cadeira, na Companhia Telefônica; no andar de baixo estava o Coronel
Montagna. A telefonista disse: ‘O Juscelino vai falar com o Jango, em Paris.’
Liguei para o Montagna e perguntei: ‘Pode autorizar?’ Autorizou. Na conversa,
ouvi o Juscelino pedir, implorar, a vinda do Jango e este dizer: ‘Eu não, vou
nada, vou nada; aquele pessoal da FAB é um bando de doidos’ – alegava medo de
ter o avião derrubado. Aí o Juscelino respondeu: ‘Rapaz, venha; o que interessa
é o PSD, PTB, o resto que se lasque.’ Quer dizer, o País à beira de uma guerra
civil e um político da estatura do Juscelino pensando em PSD e PTB. Fui
conversar com o Montagna e disse: ‘Meu Deus do céu, e o País, e a Nação?’ Isto
me marcou profundamente: a falta de caráter do homem público brasileiro”
(General-de-Divisão Francisco Batista Torres de Melo, Tomo 4, pg. 72).
“Voltemos um pouco à época
da Legalidade. As coisas se acirraram demais e vivíamos a iminência de uma
guerra intestina muito séria, pois as próprias Forças Armadas estavam
divididas, alguns considerando que na obediência à Constituição estava a
legalidade; não viam o perigo que se corria por detrás disso. Antes, o General
Denys (Odylio Denys), querendo contornar a situação, pedira ao Deputado
Santiago Dantas, muito amigo do Jango, que o convencesse a desistir do governo.
O deputado telefonou para o Vice-Presidente, que estava em Paris, retornando da
China. Foi uma conversa tensa e, quando finalmente chegaram a um acordo, pois Jango
já havia concordado, aqui no Brasil, o Juscelino Kubitschek entrou na sala,
arrancou o telefone das mãos do Santiago Dantas e disse:
- Presidente, não desista.
Venha e assuma o Governo que nós faremos uma frente para apoiá-lo.
O Jango voltou atrás e veio.
Então, a Revolução que eu vivi tem três nomes: revolução redentora,
contrarrevolução e revolução que poderia não ter existido, não fosse a presença
e a ação inesperada do JK” (General-de-Brigada Ramão Menna Barreto, Tomo 13,
pg. 137).
“Juscelino, já Presidente da
República, preocupado com o desenvolvimento do País e com a construção de
Brasília, entregou a área fundamental do Ministério do Trabalho e da
Previdência Social a João Goulart, que a transformou em verdadeira sinecura
político-partidária com a participação de comunistas, aproveitadores e
‘pelegos’ ” (Professor Luiz Queiroz Campos, Tomo 4, pg. 361-362).
“Muita gente pensa que as
cassações foram arbitrárias, como pegar uma lista e ir cortando nomes. Não.
Todas passaram pelo crivo dessa investigação. Tínhamos aviões da Força Aérea
Brasileira (FAB) à nossa disposição e íamos ao lugar onde o sujeito estivesse.
Sentávamos com ele e dizíamos francamente: ‘Sr. Fulano, acontece isso, isso e
isso. Queremos que o Sr. Esclareça’.
Fomos buscar documentos nos
cartórios, abrimos as suas dependências para fazê-lo. Fomos buscá-la onde
existisse e, realmente, fizemos um dossiê com tempo suficiente; algumas
daquelas pessoas foram levadas à própria Escola de Comando e Estado-Maior para
um depoimento. Lembro-me muito bem dos depoimentos de pessoas ligadas ao
Presidente Juscelino, que estiveram lá. A equipe que investigava o Juscelino
organizou 17 pastas de problemas ligados ao ex-Presidente. Sabedor que as
pessoas eram chamadas para serem ouvidas, antes que o pessoal fosse ao encontro
dele para conversar, Juscelino pediu autorização e foi embora do País. Esse foi
o problema do Presidente Kubistchek” (Coronel Sérgio Mário Pasquali, Tomo 5,
pg. 189).
Corrupção
do Governo JK: Jacareacanga e Aragarças
“Apenas serviu para que nós,
assustados com a corrupção que já vinha anunciada e prevista com a posse do
Juscelino, recomeçássemos a conspirar para derrubar o Juscelino.
Aqueles dois episódios de
Jacareacanga, PA, e Aragarças, GO, por exemplo, foram essencialmente dois movimentos
um tanto românticos, dirigidos contra a corrupção de Juscelino, e não sou eu
quem falo da corrupção do Juscelino, quem declara e cita fatos e tudo é o
Samuel Wainer no livro ‘Minha Razão de Viver’. O Samuel Wainer era o dono da Última Hora, o jornal que apoiava o
Getúlio, criado para o seu próprio apoio e depois mantido pelo Juscelino com o
dinheiro maciço do Banco do Brasil.
O que o Samuel Wainer roubou
do Banco do Brasil é uma loucura, e depois foi parar na Comissão Parlamentar de
Inquérito (CPI) do Congresso, em que aparecem todos os valores, datas e
documentos” (Coronel-Aviador Gustavo Eugenio de Oliveira Borges, Tomo 10, pg.
276).
Jânio, o ébrio, renuncia ao mandato
presidencial
“Jânio
Quadros bebia em Palácio. Dizem que depois de ter entregue as medalhas no dia
25 de agosto, ele foi até o Palácio, escreveu a carta, embriagou-se e entregou
a carta. Ele renunciou pensando que o Exército iria buscá-lo e recoloca-lo de
novo no governo. Fecharia o Congresso e seria um ditador. Ficou sobrevoando São
Paulo por duas horas e ouvindo, a bordo de um avião da Força Aérea Brasileira
(FAB) o que se passava no País. Uma coisa de louco, inteiramente tresloucada.
Infelizmente, deram posse a João Goulart. Talvez tivesse sido menos traumático
não tê-lo empossado, do que ter que derrubá-lo, o que foi feito, repito,
atendendo ao pedido aflito do povo nas ruas” (General-de-Brigada Augusto Cid de
Camargo Osório, Tomo 14, pg. 114).
Campanha da Legalidade, de Brizola
“A
Legalidade resultou em uma grande insatisfação nas Forças Armadas e nas classes
políticas não comprometidas com o populismo, o esquerdismo e o comunismo. A
partir de então, e com o apoio de uma corrente de políticos de renome nacional
como Carlos Lacerda, Magalhães Pinto, Ney Braga, iniciou-se um processo de
conscientização da opinião pública, que ajudou a ampliar a fissura existente no
arcabouço político do País e acabou por gerar as ações que passaram a
tumultuá-lo. As Forças Armadas – particularmente uma parte significativa do
Exército – inconformadas com o Governo João Goulart começaram a conspirar”
(General-de-Brigada Egêo Corrêa de Oliveira Freitas, Tomo 8, pg. 213).
“Surgiu
o problema Jânio Quadros [renúncia à Presidência da República]. Em consequência,
vagou a Presidência, que caberia ao Vice-Presidente Jango, em viagem oficial
pela China. Os ministros militares, preocupados, editaram aquela circular,
informando sobre o que poderia acontecer no Brasil. Um jornal da época, Hora
Presente, se não me engano, declarou que não tinha visto ainda uma observação
tão penetrante como aquela declaração.
Como
consequência, teve início o desfile de tendências. O Brizola era o Governador
do Rio Grande do Sul e desencadeou a campanha pela Legalidade. Punha a toca no
telefone, no alto-falante e no rádio, dia e noite. Insultava
todo o mundo e dizia coisas apavorantes como as que ouvi: ‘os postes de luz em
Porto Alegre não seriam suficientes para pendurar os gorilas’.
Hostilizava os militares, procurando desmoralizá-los, chamando-os de gorilas”
(General-de-Brigada Ramão Menna Barreto, Tomo 13, pg. 136).
“Atribuo
a reação da oficialidade jovem contra a subversão, ao estudo da guerra
revolucionária, que começou a ser ministrado na ECEME e na EsAO. O conhecimento
doutrinário proporcionado pelas escolas, e até mesmo aquelas reuniões sobre as
quais já falei, conseguiram formar um arcabouço intelectual adequado para
proteger o militar contra a subversão” (General-de-Brigada Egêo Corrêa de
Oliveira Freitas, pg. 217).
A conspiração militar para derrubar
Jango começou em outubro de 1961
“Inicialmente, farei a seguinte colocação: não houve, a meu ver, uma
revolução, em 1964, mas uma contrarrevolução. Quem
queria fazer uma revolução não éramos nós; reagimos à revolução que estava
sendo montada. Em plena guerra leste-oeste, o Brasil era disputado pelas forças
da época, de um lado lideradas pela União Soviética, China e, também, Cuba; do
outro, nós, democratas dispostos a defendê-lo. Fizemos a contrarrevolução.
Impedimos uma revolução comunista, que transformaria o Brasil, não em uma nova
Cuba, porém em uma nova China, em função da sua extensão territorial, riquezas,
grande população e posição geográfica – na época o Atlântico Sul era
militarmente vital. Geopoliticamente falando, se o Brasil caísse, cairia toda a
América Latina. Foi dentro dessa visão contrarrevolucionária que se articulou a
Revolução de 1964, ou seja, a Contrarrevolução de 1964.
Tudo
tem início, a meu ver, na renúncia do Presidente Jânio Quadros, quando os três
ministros militares, Marechal Odylio Denys, Almirante Sylvio Heck e Brigadeiro
Grüm
Moss, assumem a liderança da Nação, durante um período. O Presidente Jânio
Quadros simplesmente abandonara sua cadeira de Chefe de Estado, e seu sucessor,
Sr. João Goulart, já estava comprometido com as forças ponderáveis da esquerda
brasileira.
Na
ocasião, Jango recebe a adesão do General José Machado Lopes, Comandante do III
Exército, que apoia a posição de Leonel Brizola, então Governador do Rio Grande
do Sul.
Seguem-se
as démarches, nos setores militares e políticos. A realidade é que os três
ministros das Forças Armadas queriam dar um basta ao avanço das articulações da
esquerda, desencadeadas no País com uma força incrível. Eles pensavam, até, em
tomar definitivamente o Poder, fixando a data de 5 de setembro de 1961.
Entretanto, as forças militares se dividiram. Uns queriam a tomada do Governo
pelas forças militares, outros optavam por manter o País na frágil legalidade
existente. O Comandante do Exército, combalido por uma fratura no pé e febre,
marcou, mesmo assim, uma reunião com os generais para o dia 3 de setembro, às
7h da manhã, no Palácio Laguna, para tomar a posição definitiva.
Na
véspera, tanto o Almirante Heck, que exercia forte liderança na Marinha, quanto
o Brigadeiro Moss, haviam obtido total apoio dos seus pares. O Marechal Denys,
porém, no dia da reunião, no Palácio Laguna, conseguiu apenas o apoio de poucos
generais, cinco ou seis, se não me falha a memória. Terminada a reunião, o
Marechal Denys chamou os Ministros da Marinha e da Aeronáutica ao seu
escritório, no Palácio Laguna, e relatou-lhes o resultado do encontro.
O
Almirante Heck dirige-se à sala de visitas, onde se encontravam todos os
generais convocados pelo Marechal Denys, e apoiado pelo Brigadeiro Grüm
Moss faz a seguinte declaração: ‘É lamentável que a decisão tenha sido de
entregar o Governo ao Jango. A revolução que poderia ocorrer hoje, de cima para
baixo, amanhã será feita de baixo para cima. Mandarei fazer uma placa referente
ao 5 de setembro de 1961, data que marcará o início de uma longa e dura
caminhada’.
Dito
isto, retirou-se para o Ministério da Marinha, acompanhado pelo Brigadeiro Grüm
Moss e pelo Capitão-de-Fragata José Calvet Aranha, mais tarde Almirante; também
me encontrava no carro com eles, nesta ocasião. Entregou-se o Governo ao Jango.
Um grupo da Aeronáutica tentou, ainda, uma reação que o Brigadeiro Moss
conseguiu evitar.
Um mês depois, no Edifício
Avenida, na Avenida Rio Branco, no Rio de Janeiro, realiza-se a primeira
reunião, para se articular a Revolução de 1964, presidida pelo Almirante Heck. Estavam presentes, também, do Exército: Marechal Odylio Denys,
General José Pinheiro Ulhôa Cintra, enteado do Presidente Dutra; da
Aeronáutica: Brigadeiro Grüm Moss e outros;
da Marinha: Almirantes Silveira Lobo, Acir de Carvalho Rocha, Augusto
Rademaker, Mário Cavalcante, Levy Aarão Reis e Heitor Lopes de Sousa, este do
Corpo de Fuzileiros Navais; do Itamaraty: Embaixador Abelardo Hermann Moraes e
Barros, Osvaldo Américo Campiglia, e os médicos Nemésio Bailão e Sílvio Fausto,
este muito amigo do Dr. Júlio de Mesquita Filho.
Coube-me
secretariar este encontro memorável em que se decidiu iniciar o processo de
articulação junto às Forças Armadas e à sociedade civil.
Como
havia alguns representantes de grupos civis paulistas, na reunião, o processo
começou em São Paulo, no meio civil. Em seguida, formou-se um núcleo chefiado
pelo General Agostinho Cortes e outro coordenado pelo General Sebastião Dalysio
Menna Barreto. Precisou-se ampliar com a formação de um terceiro grupo de
coordenação e suporte financeiro, chefiado pelo Dr. Júlio de Mesquita Filho.
Dele fazem parte: Dr. Gastão Vidigal, Dr. Hermann Moraes e Barros, Dr. João
Bapstista Leopoldo Figueiredo, que fundou, logo em seguida, o Instituto de
Pesquisa e Estudos Sociais (IPES), órgão de relevante influência no processo
conspiratório” (Doutor Carlos Eduardo Guimarães Lousada, Tomo 7, pg. 342-343).
“Com
a queda do parlamentarismo, João Goulart sentiu-se livre para fazer o que
queria: implantar no Brasil uma república sindicalista, nos moldes peronistas.
Os acontecimentos foram se precipitando; todos viam e sentiam que caminhávamos
para um regime de esquerda implantado pelo próprio Governo. Como E/1 (Oficial
de Informações) da 10ª. Região Militar, em Fortaleza, trabalhei no preparo do
que seria uma contrarrevolução, ou seja, planejando as ações que deveríamos
desencadear após a possível implantação comunista no País.
Naquele
momento, ainda sem nenhuma orientação do escalão superior, sem nenhuma
orientação de um líder – porque ainda não tínhamos líder -, estávamos trabalhando,
preparando essas ações. A ideia central era esta: se implantado um regime
comunista, deixaríamos os quartéis, levando a maior quantidade possível de
armamento e equipamento para o interior. Iríamos para zonas previamente
escolhidas, solidários aos líderes rurais, onde montaríamos núcleos de
resistência para derrubar o regime anárquico que seria instalado”
“General-de-Brigada Gentil Nogueira Paes, Tomo 12, pg. 140).
“É
preciso que a opinião pública entenda que o objetivo de 1964 não foi uma ação
de tomada do Poder. Houve apenas uma contraposição ao que estava ocorrendo.
Lembro que no Rio de Janeiro o Almirante Aragão havia cercado o Palácio do
Governo do Estado, cujo Governador [Carlos Lacerda] foi obrigado a usar a
retransmissão de uma estação de rádio de Belo Horizonte para denunciar o cerco.
O Exército tem nos seus arquivos uma gravação da primeira reunião do Partido
Comunista Brasileiro depois do 31 de março. Na sua autocrítica eles reconhecem
que a precipitação da esquerda em tentar a tomada do Poder foi uma das causas
do fracasso” (General-de-Brigada Léo Guedes Etchegoyen, Tomo 8, pg. 180).
O
DITO “ESQUEMA MILITAR” DE JANGO
“O
General Osvino, à frente da Petrobras, pagou todas as despesas com os comícios
da Central do Brasil e do Automóvel Clube. Era o dinheiro da Nação a serviço
dos comunistas e corruptos”
(Tenente-Coronel Murilo Walderk Menezes de Serpa, Tomo 4, pg. 205).
“Os
militares viviam ansiando por um lar onde pudessem viver condignamente com a
família. Aí, João Goulart entrou, prometendo financiamento pleno para a
aquisição da casa própria a quem levasse um requerimento em sua presença. Ele
despachava: ‘Aprovo’, e a Caixa Econômica atendia. Conheci vários militares que
tiveram os seus requerimentos aprovados e adquiriram sua casa própria
financiada pela Caixa Econômica a perder de vista. Desta forma, o Governo
considerava que estava preparando um dispositivo militar que lhe daria total
cobertura para seus planos de implantação da república sindicalista-comunista
dos seus sonhos. Muitos subtenentes e sargentos do Exército foram ao Automóvel
Clube do Brasil naquela noite com o requerimento dentro de uma pasta para
conseguir o ‘aprovo’, que lhes daria o financiamento da casa própria até um
determinado valor, como acontecera com alguns conhecidos meus” (Coronel Italo Mandarino, Tomo 3, pg.
189).
“O
esquema militar foi montado com base em favores e não em adesão espiritual, de
consciência. O General Assis Brasil, através da Presidência da República,
prometia às pessoas, de vários níveis, que se comprometessem com ele, uma série
de favores. Vários coronéis foram promovidos a generais, nessas condições. Ele
influía nas promoções, concedia benefícios financeiros pessoais através de
organizações, como, por exemplo, a ‘Casa dos Sargentos’, ‘Casa dos Cabos’,
‘Casa dos Tenentes’ etc. Ele criou um esquema, mas não era um esquema de
consciência. Quem tinha essa consciência éramos nós.
A
prova disso é que os comandos da Vila Militar quando quiseram deslocar tropas
para nos confrontar, não conseguiram. Era consenso entre eles que, como
deslocavam a tropa na época dos comícios a título de segurança, para dar apoio
e proteção à cidade, a deslocariam em outras ocasiões. Enganaram-se
redondamente. Aqueles deslocamentos envolviam dois aspectos. Oficialmente, por
exemplo, o Batalhão de Polícia do Exército vinha para o comício da Central do
Brasil proteger o povo contra a desordem etc., mas, para eles, a tropa lá
estava porque os apoiava. Imaginavam que era uma adesão à causa deles. Houve,
pois, da parte deles, muita mistificação, e um erro crasso, confundiram as
coisas, e acabaram literalmente derrotados” (General-de-Exército Carlos
de Meira Mattos, Tomo 1, pg. 230-231).
Jango
era assessorado por maus conselheiros
“Parece-me que o Sr. João
Goulart estava inteiramente alheio a qualquer problema, por culpa dos seus
auxiliares mais próximos, os quais os historiadores apontam como formuladores
de ilusões. Entre eles, o Chefe do Gabinete Civil, Professor Darci Ribeiro, e o
secretário de imprensa, Raul Ryff. Por isso, tomou como sendo da sociedade
aquilo que os seus assessores pensavam. Mas a sociedade tinha um pensamento
muito diferente e se sentia cada vez mais aflita com aquela situação”
(General-de-Brigada Danilo Venturini, Tomo 15, pg. 152).
Comunista
febiano na ECEME
“Uns poucos alunos [na
ECEME] assumiram claramente posição contrária à Revolução. Quando o diretor de
ano suspendeu as aulas, dois deles foram fazer parte de um grupamento que saiu
do Rio e subiu a Serra para barrar as tropas que vinham de Minas, inclusive um
muito conhecido, o Major Granja (Alirio Granja), Oficial de Infantaria que
participou da Força Expedicionária Brasileira (FEB). Profissionalmente era
muito bom, mas comunista convicto. Lembro que durante as manobras que fazíamos
no campo, o Granja não comia a etapa da ração dele. E quando a meninada se
acercava do acampamento, pedindo sobras de comida, ele a distribuía toda,
justificando:
- É um absurdo que existam
brasileiros passando fome.
Algum
aluno ou instrutor foi cassado? [entrevistador]
Instrutor, não me lembro.
Houve algumas cassações de alunos. O Granja foi com o grupamento comandado pelo
General Cunha Mello (Luiz Tavares da Cunha Mello) enfrentar os revoltosos do
General Mourão (Olympio Mourão Filho) e como não tiveram êxito na missão,
apresentou-se na Escola e, de imediato, requereu o seu desligamento e
transferência para a reserva. Era um sujeito correto, e por isso teve sorte. Os
esquerdistas que não se anteciparam, inclusive um colega do segundo ano,
responderam a um inquérito. Tentaram negar qualquer ligação com a subversão,
mas acabaram sendo cassados” (Coronel Hélio Lourenço Ceratti, Tomo 13, pg.
187-188).
Lista
negra do General Assis Brasil
“Durante o Comando do
General Jair, até maio de 1963, quando foi convidado para o cargo de Ministro
da Guerra, aconteceram as transferências dos oficiais que, em 1961 e também
mais tarde, haviam sido considerados pelo agora General Assis Brasil e
comparsas como contrários à posse e à permanência do Vice-Presidente no
governo. O curioso é que, dentro do nosso limite de atuação, a expressiva
maioria dos oficiais, que foi movimentada como ‘castigo’, era favorável à
solução constitucional, isto é, à posse do Vice-Presidente João Goulart.
Trouxe aqui uma cópia de
documentos encontrados em 1964 na residência do Brizola, nos quais o General
Assis Brasil [Chefe da Casa Militar do Governo Jango] acusa seus colegas de
farda de serem opositores ao Governo do Jango. Nesta nota está a relação dos
oficiais sujeitos ao pedido de afastamento: Raphael Zipin, Milton Baptista
Pereira, Telmo de Oliveira Sant’Anna (Asperante da Arma de Cavalaria de 1940),
Jayme Moreno e Décio Barbosa. Estou eu aqui nesse pacote, sei lá por quê; mas
um fato interessante: essa movimentação, como já falei, só foi acontecer depois
de 1961.
Vivíamos, em nossos
apartamentos [da EsAO], em clima de tensão, porque corria muita história, muito
boato e o que ocupávamos dava a frente para a Brigada Pára-quedista. Dizia-se
que os sargentos para-quedistas iriam tomar aqueles apartamentos e nos prender
ou qualquer coisa assim. Dávamos guarda à noite, armados, era uma escala de
serviço que durou os 15 dias que antecederam a Revolução. No dia do Movimento
estávamos escalados de serviço” (General-de-Exército Domingos Miguel Antonio
Gazzineo, Tomo 4, pg. 35).
“Já no Mec [3º. Regimento de
Reconhecimento Mecanizado], a situação ficou muito difícil porque havia uma
nítida separação [entre oficiais e sargentos]. Durante o dia parecia tudo
normal, mas à noite os oficiais dormiam no pavilhão da administração e os
sargentos nos esquadrões e cada grupo dava ronda para o seu lado, separados,
como se estivessem se protegendo uns dos outros. Quando clareava o dia, a
tranquilidade voltava ao quartel, era como se nada houvesse acontecido. Tudo
porque realmente o Comandante nunca chamou os oficiais e sargentos para dizer o
que estava acontecendo e de que lado estava a Unidade” (General-de-Divisão
Lélio Gonçalves Rodrigues da Silva, Tomo 8, pg. 161).
O
“Paralelo 38”
“Desconfiávamos da unidade
que partilhava o antigo aquartelamento ‘40’ [1º. Grupo de Canhões Automáticos
Antiaéreos 40mm]. Havia o que chamávamos de ‘paralelo 38’, evocando o que se
passara na divisão da Coréia, pois o quartel era dividido com o 24º. BIB
(Batalhão de Infantaria Blindado, que atualmente se encontra aquartelado em
Bonsucesso). Dizia-se que o pessoal do 24º. Estava sendo influenciado pelos
líderes favoráveis a João Goulart. Então, nós não atravessávamos o ‘paralelo
38’, chegando-se ao absurdo de deixar armas automáticas, e até cachões,
apontados, dentro dos parques, contra o vizinho do lado. Esse era o clima. Além
disso, desconfiava-se de alguns chefes militares, nitidamente contrários ao
pensamento dominante no Exército, e que não escondiam o fato de esposarem
idéias marxistas-leninistas desde 1935.
Havia, pois, uma divisão no
interior dos quartéis em facções pró e contra, sendo que, evidentemente, a
maioria era contrária àquele estado de coisas que o Governo alimentava. Grande
maioria” (Coronel Luiz Paulo Macedo Carvalho, Tomo 1, pg. 286).
“Nesse período, servindo no
3º. Regimento de Infantaria (3º. RI), em Niterói, RJ, jovem tenente ainda,
lembro-me bem que a divisão entre militares de direita e de esquerda nos trazia
muita inquietação e até uma certa aflição, por não sabermos quem era quem. Um
ambiente que realmente contrastava com a nossa formação militar, assentada na
hierarquia e na disciplina. No 3º. RI o oficial-de-dia não dormia: passava a
noite de metralhadora na mão, acordado, indo aos postos, preocupado com a
segurança.
Para que se tenha a ideia da
desordem que ocorria no interior da caserna, cito um graduado, 3º. Sargento
Quintaninlha, que era o presidente da Associação dos Subtenentes e Sargentos de
Niterói, e que se ligava diretamente com o Presidente da República. Certa vez,
passando bem próximo às dependências do Estado-Maior do Regimento, ele
chamou-me e disse: ‘Aspirante, vou falar com Jango!’ Realmente, fez a ligação e
era Jango quem estava na linha. Essas coisas contrastam com a cadeia de
comando. Era a fase das greves, da indisciplina, dos chamados ‘generais do
povo’, nós que somos generais do Exército Brasileiro. Povo somos todos nós, mas
‘generais do povo’, isso já é populismo demais.
Cito alguns nomes,
permitam-me, pois este é um testemunho fidedigno. Era Comandante do I Exército
o General Osvino Ferreira Alves que, durante visita ao 3º. RI, depois de passar
em revista a tropa, tirou a túnica e, pendurando-a no ombro, dirigiu-se ao
refeitório dos oficiais, para a apresentação individual. Após suas palavras,
recebeu alguns apupos; os tenentes estavam insatisfeitos... divisão realmente!
Lembro-me, também, do Almirante Cândido Aragão sendo carregado nos ombros pelos
marinheiros e fuzileiros” (General-de-Divisão Théo Espindola Basto, Tomo 12,
pg. 128).
“Ninguém sabia direito de
que lado estava este ou aquele sargento. Como proceder durante o serviço de
oficial-de-dia? Procurava-se, primeiro, saber qual a posição do Adjunto, bem
como do Comandante da Guarda, e depois a dos sargentos-de-dia das subunidades
para se ter um pouco mais de tranquilidade ou, quem sabe, de mais tensão.
Dormir no quarto do oficial-de-dia, jamais. O tenente entrava no aposento,
chaveava a porta, abria a janela, saltava-a e passava o resto da noite em outro
lugar do Regimento.
Durante as rondas noturnas,
era comum perceber-se que havia alguém nos seguindo ou nos observando na
escuridão. Nunca foi possível saber quem era. Uma noite, estando de
oficial-de-dia, escutei uma rajada de metralhadora no fundo do quartel. Corri
até lá e não vi nada, tampouco qualquer coisa. Ninguém sabia de nada. Alguns
escutaram os tiros mas não sabiam dizer quem os dera, outros sequer os ouviram.
Registrei no livro de partes, mas tudo ficou por isso mesmo. Durante o dia,
quando os tenentes e aspirantes ministravam instrução para os soldados,
podia-se ver que alguém ficava espreitando de longe, escutando o que o
instrutor dizia para seus instruendos. Normalmente era um cabo ou soldado
antigo do 2º. Batalhão [ID/6, Pelotas, RS], a mando de alguém de lá”
(General-de-Brigada Flávio Oscar Maurer, Tomo 8, pg. 317-318).
“Na verdade, não havia
esquema militar. O General Assis Brasil, Chefe da Casa Militar, pensava que
possuía um esquema militar que, simplesmente, nada tinha de concreto. Ele e
seus assessores se empenharam para criar o tal esquema em determinadas
guarnições e em algumas Grandes Unidades, como na Brigada Pára-Quedista, onde
muitos sargentos receberam, naquela oportunidade, um financiamento para comprar
casa pela Caixa Econômica. Isso influiu no desempenho da Brigada, que ficou
dividida e acabou não saindo, deixando de manifestar-se, não optou por lado
nenhum, porque as coisas, lá, não estavam bem. Enquanto o General Muniz Aragão
não chegou, a Brigada mostrou-se indecisa.
O grupamento de tropas que
se voltou contra Minas, partindo do Rio, foi comandado pelo General Cunha Melo.
Ele, por exemplo, achava que a guerra estava ganha. Perdeu, porque não sabia
que o Comandante do Regimento Sampaio – Coronel Raimundo – na verdade, um
revolucionário, contribuiria, decisivamente, para a sua derrota.
Nesse ponto surgiu um dos
líderes da Revolução, que esqueci de citar anteriormente, cometi um lapso – o
Marechal Odylio Denys. Ele foi para Juis de Fora, antes da eclosão da
Revolução, conseguiu ligar-se com o Coronel Raimundo, seu ex-Assistente,
solicitando que ajudasse as tropas mineiras a tirar o Brasil das mãos
despreparadas de Jango e do fanfarrão Brizola, que faziam o jogo dos comunistas
infiltrados no Governo, nos sindicatos e nas Forças Armadas.
Com a adesão do Coronel
Raimundo, as coisas ficaram feias para o lado dos janguistas” (Coronel Henrique
Carlos Guedes, Tomo 3, pg. 261).
“É coisa natural,
infelizmente existe uma banda podre e outra boa. Todos os elementos que
integravam a banda boa não aceitavam os desmandos e as manifestações de
indisciplina, correntes no Governo Goulart, que, por sua vez, valeu-se da banda
que convivia bem com a anarquia generalizada.
O Comandante do Primeiro
Batalhão de Caçadores (1º. BC) de Petrópolis, por exemplo, deslocou sua tropa
e, no corte do rio Paraibuna, cerca das 18h de 31 de março, estabeleceu contato
com o Destacamento Tiradentes que descia de Minas. As duas tropas se
enfrentaram; as tentativas de entendimento não lograram sucesso; um tenente do
BC passou para o nosso lado, convencido da pureza dos ideais que defendíamos.
Criada a situação de fato, foi notificado, ao Comandante do BC, de Petrópolis,
que o Destacamento atacaria logo que as circunstâncias o permitissem. Nesse instante,
desfez-se a resistência e o Comandante do Batalhão desapareceu, proporcionando
um triste exemplo. No avanço para o Rio de Janeiro, recolhemos, na estrada,
soldados do Batalhão de Petrópolis abandonados por seu comando.
Qual
o nome do Comandante do Batalhão de Petrópolis [entrevistador]?
Coronel Kerensky (Coronel
Kerensky Túlio Motta)”
(General-de-Brigada José Antônio Barbosa de Moraes, Tomo 2, pg. 205).
“Quando no Escav [Escalão
Avançado do Conselho de Segurança Nacional], em Brasília, ouvi – não é anedota
– que Jango no Aeroporto de São Borja, ao embarcar de avião que o levaria para
o Uruguai, voltou-se para o General Assis Brasil, seu Chefe de Gabinete
Militar, e disse-lhe, no melhor sotaque de gaúcho fronteiriço:
- General, muito obrigado
por tudo. Agora, queria lhe dizer uma coisa: aquele seu dispositivo militar...
Mas que dispositivo de m... E soltou o palavrão adequado.
Não havia dispositivo algum,
a não ser que se dê esse nome a uns poucos oficiais e generais que estavam do
lado de Jango, uns por ideologia, outros por puro aventureirismo. Excetue-se a
figura por todos os títulos respeitável do General Ladário Pereira Telles,
Comandante da 1a. Região Militar e que aceitou assumir o comando do III
Exército em Porto Alegre. Pelos motivos que já expus.
Aventureirismo semelhante
ocorreu na Marinha, onde de destacaou o inefável Almirante de Fuzileiros
Cândido Aragão. Assinale-se ter sido na Marinha que ocorreu o maior número de
cassações” (Coronel Luís de Alencar
Araripe, Tomo 2, pg. 242-243).
“Conforme havia sido
acertado na comunicação pela Rede da Presidência, o Presidente João Goulart foi
de avião para Porto Alegre, acompanhado da mulher e filhos. De Porto Alegre,
foram, por terra, para o Uruguai.
Até o Presidente e sua
família chegarem ao Uruguai, o Exército tratou de protege-los, já que um
acidente com eles poria por terra, de certa forma, a brilhante vitória da
Revolução, sem mortes e sem derramamento de sangue. Um fato, sob todos os
aspectos, extraordinário.
Coube ao Itamaraty, por
intermédio de nossa Embaixada em Montevidéu, avisar da chegada, a salvo, dos
viajantes, Jango e família, à sua estância. A notícia trouxe um alívio geral!”
(Coronel Alcio Barbosa da Costa e Silva, Tomo 14, pg. 213).
Obs.:
O
Coronel Alcio é filho do Presidente Costa e Silva.
F.
Maier
GENERAIS, ALMIRANTES E BRIGADEIROS DO POVO
“A política partidária e a oferta
desabrida de empregos e outras benesses constituíram uma tentativa de criar cisão
nos quadros das Forças Armadas, mas, em maior intensidade, na Marinha e na
Aeronáutica.
Militares como o General Henrique
Baptista Duffles Teixeira Lott, Almirante Pedro Paulo de Albuquerque Suzano e o
Brigadeiro Francisco Teixeira, em fase inicial, para citar apenas os de mais
alta patente e mais responsáveis, por suas ambições políticas e por simples
escravidão ideológica, fugindo aos seus juramentos profissionais e ao respeito
ao Estatuto dos Militares, tentaram subverter a ordem e a disciplina castrenses,
lançando oficiais contra oficiais, sargentos contra oficiais, desrespeitando as
Instituições, praticando ações político-partidárias dentro dos quartéis,
protegendo graduados e oficiais ligados ao esquema governamental da época. De
outro lado, líderes civis e altas patentes das Forças Armadas – Ademar de
Queiroz, Sylvio Heck, Grüm Moss – buscaram preservar a disciplina nas Forças Armadas.
Posteriormente, Almirante Aragão,
Generais Osvino Ferreira Alves, Assis Brasil e o Brigadeiro Teixeira foram os
que mais atuaram para fomentar a discórdia nas Forças Armadas, com a quebra da
disciplina, o estímulo à desobediência, esteios das ações subversivas que
caracterizaram o Governo Goulart.
São exemplos as inúmeras
transferências de oficiais do Exército para as Circunscrições de Recrutamento,
Nordeste e Amazônia, a discriminação de oficiais para missões no exterior etc.
Outros, foram a revolta dos sargentos em Brasília, a baderna dos marinheiros e
fuzileiros navais, as tentativas de organização de clubes de cabos e soldados
nos moldes das organizações trotsquistas de 1916 e 1917” (General-de-Brigada
Hélio Ipiapina Lima, Tomo 2, pg. 170-171).
“Quando Major, Comandante do Forte
dos Andradas, fui ativo participante da Contrarrevolução de 1964, tendo ocupado
simultaneamente a Refinaria Presidente Bernardes e encarregado de IPM, na
Alfândega de Santos, à revelia do então Comandante da Guarnição, General Carlos
Buck, um dos ‘Generais do Povo’ de então. Aquela missão me custou uma prisão”
(Coronel Antonio Erasmo Dias, Tomo 7, pg. 143).
“Concluí a EsAO no final de 1963. O
Ministro, General Jair, não permitiu que naquele ano os capitães da EsAO
ficassem no Rio de Janeiro. Acho que ele não foi hábil: dispersou pelo Brasil
inteiro centenas de capitães descontentes e doutrinados. Estudáramos a guerra
revolucionária durante o curso e acreditávamos – era opinião dos instrutores e
da maioria dos alunos – que já estávamos imersos em um de suas fases”
(General-de-Divisão João Carlos Rotta, Tomo 8, pg. 136).
“Segundo soubemos a posteriori, o
Almirante Aragão deixou de marchar sobre o Palácio Guanabara porque o General
Amaury Kruel, Comandante do II Exército, aderiu ao Movimento. Kruel chegou a
fazer vários apelos ao então Presidente João Goulart para que fizesse uma
declaração contrária aos comunistas. Avaliava o General Kruel que conseguiria
travar o Movimento, mas Jango evitou fazê-la. Diante da negativa do Presidente,
ordenou às tropas sob seu comando que marchassem em direção ao Rio de Janeiro.
O Comandante do I Exército, General Moraes Âncora, que até a reunião nas
Agulhas Negras com Kruel, segundo nos foi relatado, estava rigorosamente
neutro, deu um ultimato ao Almirante: ‘Não venha, porque senão vai enfrentar o
Exército’. Aragão era ‘posudo’, falastrão, mas tinha bom-senso e mudou de
ideia, desistindo do ataque ao Palácio Guanabara, cujas consequências seriam
trágicas para nós” (Doutor Emílio Antonio Mallet de Souza Aguiar Nina Ribeiro,
Tomo 10, pg. 245).
Obs.
Nina Ribeiro foi deputado estadual e federal pelo Rio de Janeiro, e é “trineto,
por parte de mãe, do Marechal Emílio Luiz Mallet, Barão de Itapevi, Patrono da
Artilharia Brasileira” (pg. 242).
F. Maier
“Tínhamos oficiais que eram
considerados comunistas, como o General Assis Brasil, o Jeová Mota – que é lá
de Pernambuco. Aliás, o General Ibiapina relata isso muito bem. Quem
desencaminhou, doutrinou o Gregório Bezerra, que era sargento, foi o Jeová
Mota. Se bem que o Kerenski Mota, que comandou o Batalhão de Petrópolis, embora
o nome leve alguma relação, nunca se revelou comunista, como o irmão. Conta um
oficial que assessorava de perto o Castello que ele vacilou na hora de assinar
o ato de transferência para a reserva do Kerenski Mota, depois do devido
inquérito. A caneta falhou e o oficial que estava secretariando o Castello puxou
uma ‘Bic’ e disse: ‘General, essa aqui não falha’. Era um oficial altamente conceituado, principalmente, pelo Castello.
Nunca senti esse esforço de doutrinação. Havia os naturalmente voltados para o
comunismo como é o caso do Luís Carlos Prestes, na Intentona. Ele, com seus
seguidores, que enlutaram o 3º. Regimento de Infantaria com os assassinatos dos
seus companheiros democratas quando dormiam. Aquele pessoal já era comunista e
desenvolveu uma atividade de doutrinação em alguns oficiais.
(...)
(...) Lembro de um que era até meu
aluno de inglês que se gabava do dispositivo militar do Jango: ‘Ah!, o
dispositivo militar do Jango é muito bom, muito forte e ele vai fazer e vai
acontecer’. Respondi-lhe: ‘Olha, esse dispositivo do Jango, na minha opinião, é
fictício, porque os que são conhecidos não têm destaque, os militares de
projeção não estão com o Jango’. Ele citou: ‘Assis Brasil, Jeová Mota, Osvino e
Napoleão Nobre’. ‘Eles não têm expressão no meio militar. Os que têm são altos
chefes militares: Castello Branco, Penha Brasil, Costa e Silva etc.’ Esse
cidadão era um civil, mas aí a discussão cessou” (General-de-Brigada Celso dos
Santos Meyer, Tomo 10, pg. 135-136).
Obs.
O Presidente Jair Messias Bolsonaro também usa uma “Bic”, que às vezes
falha, por obra da judicialização política do STF, subserviente aos partidos de
esquerda, como a nomeação (frustrada) do delegado Alexandre Ramagem para o
cargo de Diretor-Geral da PF.
F. Maier
“Quando estava na ECEME, nos
dias que se seguiram à Revolução, cheguei a ser telefonista de dia revezando
com o Malan. Num desses telefonemas, dado por pessoa desconhecida, recebi o
seguinte informe: os senhores estão querendo prender o Almirante Aragão – o
almirante Fuzileiro Aragão era elemento altamente subversivo. E, eu disse:
‘gostaríamos sim’. E me informaram: ‘Se quiserem prendê-lo, ele agora está na
casa de uma senhora de quem ele é amante. Ele era chegado a essa atividade que
aliás era uma atividade interessante – ser mulherengo.
(...)
Com a decisão do General
[Mamede], foi pedido ao Almirante Heitor, já falecido também, que fosse
prendê-lo com alguns fuzileiros contrários ao Almirante Aragão. E, assim foi
feito, e, desta forma, ele acabou preso” (Coronel Hernani D’Aguiar, Tomo 9, pg.
173-174).
“Com a renúncia do Jânio
Quadros e com a posse do Presidente João Goulart, o General Santa Rosa foi
nomeado comandante. Ele assumiu o comando da Brigada, ainda, com a denominação
de Núcleo da Divisão Aeroterrestre. Ele vinha do Rio Grande do Sul, estava com
o Governador Leonel Brizola.
(...)
Os oficiais e sargentos de
todas as unidades paraquedistas se reuniram naquela sala. Fui conhecer o novo comandante - General Santa Rosa - e
fiquei surpreso, levei um susto, um susto muito grande, porque ele subiu numa
mesa, num tablado, nós sentados - oficiais e sargentos - e disse assim: ‘Quero falar com os
sargentos paraquedistas, quero cumprimentá-los porque vocês não cumpriram as
ordens de seus oficiais’. Era inadmissível para mim, presenciar o
General comandante em flagrante desrespeito aos princípios basilares da
Instituição.
Diante de tal absurdo,
passamos a nos envolver cada vez mais naquele movimento para derrubar, destruir
aquele império – o soviético – que usava um movimento que se chamava Movimento
Comunista Internacional, pretendendo ocupar um país continental, o Brasil,
geoestrategicamente área de influência e de interesse do outro império – o
norte-americano. Sentimos que a ameaça era muito maior do que aquela que
tínhamos imaginado e precisávamos, sim, o mais rápido possível, acelerar aquilo
e evitar o mal maior, porque a disciplina começou a cair visivelmente. Como um
General-de-Brigada assume um Grande Comando de uma tropa tão preparada como a
nossa e o seus primeiro ato é pregar a indisciplina, é jogar os sargentos
contra os oficiais? Aquilo foi demais para mim” (General-de-Brigada Durval
Antunes Machado Pereira de Andrade Nery, Tomo 10, pg. 160).
“No IME, não sentimos o
problema da indisciplina porque, como alunos, não tínhamos subordinados, éramos
responsáveis por nós mesmos. Mas sabíamos que nos quartéis havia problemas
sérios de indisciplina. Certo dia, perto do Iate Clube, na Avenida Pasteur,
encontrando um amigo, Capitão-Tenente, que servia numa Unidade da Marinha, no
Rio de Janeiro, ele me contou que partira para a luta corporal com um cabo, seu
subordinado, que se recusava à ordem de faxina.
Ora, quando uma Força Armada
chega a uma situação dessa natureza, é sinal de que estamos diante de uma
crise. Pois se a disciplina e a hierarquia – esteios da Instituição Militar –
deixam de existir, algo vai muito mal. Infelizmente, era este o quadro
precedente à Revolução. Oficiais da alta hierarquia das Forças Armadas,
principalmente do Exército e da Marinha, davam-nos maus exemplos. O Almirante
Aragão, Comandante do Corpo de Fuzileiros Navais, era chamado de ‘almirante do
povo’ ” (Tenente-Coronel Affonso Taboza Pereira, Tomo 12, pg. 218-219).
General
queria saber o que a “laboriosa classe dos sargentos precisava”...
“Um general que eu tinha em
algo conceito inspecionou o Regimento e foi uma decepção para mim. Havíamos preparado
vários temas táticos para que, mediante escolha dele, pudéssemos realizar uma
demonstração no terreno. Terminada a inspeção da
tropa, ele reuniu os sargentos no ginásio do 18º. e perguntou – palavras que me
repetiram; eu não escutei - o que a laboriosa classe dos sargentos
precisava.
Ora, no Exército não existe
classe, existe hierarquia. Como é que um general vem nos inspecionar e fala em
classe dos sargentos? E a decepção foi maior, porque ele retirou-se do
Regimento sem ouvir ninguém sobre a eficiência da Unidade, nem a mim que estava
encarregado da instrução e a nenhum outro oficial. Nós nos preocupávamos com
isso” (General-de-Brigada José Mattos de Marsillac Motta, Tomo 13, pg. 104).
“Nessa época, o ambiente
reinante no quartel não era de confiança. A hierarquia e a disciplina, dois
fundamentos da carreira militar, não estavam sendo respeitados. Testemunhei
algumas ações ligadas ao objetivo de conquistar a confiança de cabos e
sargentos. No final de 1963, o General Jair Dantas Ribeiro, Ministro do
Exército [na verdade, Ministro da Guerra], visitou a Guarnição de Santa Maria.
O programa constou, em relação aos oficiais, apenas a apresentação de praxe,
mas fez uma reunião com todos os cabos e sargentos da Guarnição, sem a presença
da oficialidade, o que nos deixou desconfiados e apreensivos. Em seguida, foi
embora.
Na minha subunidade, havia
um terceiro-sargento chamado Pozzibom, que tomava conta da casa do General
Osvino Ferreira Alves, que era de Santa Maria e lá mantinha essa moradia. Esse
graduado liderava os demais sargentos da Guarnição e mantinha uma intimidade
muito grande com o General Osvino, um dos sustentáculos de Jango. O sargento
Pozzibom fora transferido da Guarnição. Eu, que era o Subcomandante,
informei-lhe que iria publicar no boletim a sua transferência. Ele me respondeu
que não o fizesse, porque seria revogada em breve. Dois ou três dias depois,
chegou uma comunicação, cancelando a transferência.
Eu não era bem-visto na
Unidade, porque me opunha àquele ambiente, até de hostilidade, em que se vivia.
Certa vez, a Unidade entrou de prontidão e só pude ser avisado mais tarde, pois
não estava em casa. Quando cheguei, o Comandante já havia mandado distribuir o
armamento e a munição para todos. Fui ao seu encontro e disse-lhe que se
deveria recolher a munição da tropa – sargentos, cabos e soldados – porque não
havia confiança. Autorizou-se a resolver o assunto. Coloquei a tropa em forma,
expliquei que tinha havido um engano de munição entre a pistola Colt 45 e a
metralhadora INA, e mandei que passassem em coluna, um por um, a fim de que
fosse depositada, na lona previamente colocada no chão, a munição recebida. Já
era noite e todos cumpriram a ordem. Levei a munição para a reserva de
armamento, onde permaneceu com uma guarda. Para maior precaução, no dia
seguinte conversei com o capitão que me autorizou a tirar o percussor de todo o
armamento da tropa. Então, passamos a ter tranquilidade no quartel. Mas esse
era o ambiente reinante” (Engenheiro João Paulo Simões Accioly de Carvalho,
Tomo 12, pg. 286-287).
Obs.
O
engenheiro João Paulo foi oficial do Exército. Em 1964, era aluno do IME, onde
cursou Engenharia Elétrica.
F.
Maier
Palestras sobre Guerra Revolucionária
são feitas nos quartéis
“Eu
convidei uns companheiros ilustres, como o Coronel Meira Mattos, depois
General, bem como o Chefe do Estado-Maior da 1ª. Região, de quem não me recordo
o nome, para fazerem palestras sobre Guerra Revolucionária. Fui denunciado, e,
por isso, exonerado do Comando do G Can 40.
Posteriormente,
fui para São Paulo. Companheiros nossos, principalmente o Chefe do Gabinete do
Marechal Castello, no Estado-Maior do Exército, conseguiram uma vaga em São
Paulo, na 2ª. Região Militar, cujo comandante era o General Olympio Mourão
Filho. No II Exército estava o Pery Constant Bevilaqua, homem incerto,
enigmático.
Dizia:
‘Eu prego a Constituição, eu sou descendente de Benjamim Constant’, e, com
isso, ele não fazia nada” (General-de-Brigada Augusto Cid de Camargo Osório,
Tomo 14, pg. 116).
Casais compram armas e fazem treinamento
de tiro
“[Na
2ª. Região Militar] coube-me dar uma dimensão a esse esforço, procurando
ligações até mesmo no meio civil, na classe produtora, em toda parte. Tivemos
integral apoio do Governador do Estado. O doutor Adhemar de Barros era
contrário ao comunismo, enfrentava o Jango na televisão e nos dava todo o
apoio. O Secretário de Segurança era o General Albérico Barbosa, que sempre nos
apoiou. A Polícia Militar – muito bem comandada pelo General Franco Pontes –
também estava conosco. Comecei a ‘trabalhar’ os comandantes de Unidades do
Exército na área, ligando-me a eles estreitamente, conversando, visitando,
quase todos meus colegas de turma da Escola Militar.
Desta
forma, o meu trabalho pôde crescer, contando com a irrestrita solidariedade de
muitos compatriotas. Junto à população houve uma ação muito bem-feita pelo
General Menna Barreto – muito bem-quisto na sociedade. Ele fez até com que
casais comprassem armas e fossem realizar treinamento de tiro por ele
coordenado. Era um trabalho psicológico feito junto à população, assustada com
os desvarios daquele Governo míope e antinacional” (General-de-Brigada Augusto
Cid de Camargo Osório, Tomo 14, pg. 117).
Primeira reação pacífica popular
anticomunista
“Na
realidade, a minha participação nos pródromos da Revolução de 31 de Março de
1964 começou em 1961, quando, indignado pela falta de reação, naquela época,
aos fatos graves que estavam acontecendo no Brasil, idealizei e realizei, em 27
de novembro de 1961, às 17h, junto ao Monumento aos Mortos da Segunda Guerra
Mundial, com o pseudônimo de José Carlos Gomes, a primeira reação pacífica
popular anticomunista da década de 1960.
Ela
teve o objetivo de alertar a opinião pública brasileira contra a infiltração
comunista no País; contra a corrupção e a subversão que ameaçavam a vida
nacional; levantar o moral do povo para uma possível luta e para protestar
contra a política exterior do Brasil, principalmente a de apoio a Cuba.
Na
ocasião, eu era capitão-aluno da Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais.
Organizei o comício contando com a cooperação de membros da família de minha
esposa, que era grande; do doutor José Carlos, da Confederação Nacional do
Comércio; da Liga Faminina Anticomunista; do jornalista Álvaro Americano, dos
jornais O Globo e Tribuna da Imprensa e, também, do Palácio Guanabara.
Contei
com a segurança oferecida pelo doutor Boré, do Departamento de Ordem Política e
Social – DOPS. Tive apoio de Dom Jaima Câmara, do Monsenhor Bessa, doutor Cecil
Boré e da Confederação Nacional do Comércio. O comício contou com a
participação de associações religiosas, Liga Feminista Anticomunista e do povo
em geral. Usaram da palavra Niaze Gerude, sob o pseudônimo de José Carlos
Gomes, Dona Dulce Magalhães, Herculano Carneiro, Paulo Sérgio Carneiro, Angel
Aparecido, refugiado cubano, Padre Pancácio Dutra e Erodines Saraiva”
(General-de-Brigada Niaze Almeida Gerude, Tomo 11, pg. 90).
Obs.
O General Niaze informa, ainda, na pg.
91, que publicou o livro “O Movimento Revolucionário de 1964 e a Verdade dos
Fatos”.
F. Maier
Grupos de Combate com 5 integrantes
(GC-5), de Newton Cruz
“Participei
de reuniões de conspiração, que se aceleraram desde o início de março de 1964,
quando cursava o segundo ano da Escola de Comando e Estado-Maior do Exército
(ECEME).
Em
determinada ocasião, fui convidado pelo Tenente-Coronel Newton Cruz (Newton
Araújo de Oliveira e Cruz) a participar de um grupo de combate, com cinco
integrantes, para determinadas missões de caráter excepcional. Segundo ele nos
deu ciência, este era o primeiro grupo de cinco membros a ser organizado, e
outros estavam em formação. O chefe desse grupo era o Newton Cruz e dele
participavam o então Capitão Oliveira (Argos Gomes de Oliveira), o Capitão
Einar Walter Bergh – o famoso alemão Berg – o Capitão Ronaldo (Ronaldo Celso
Lima), da turma de 1950, eu, Roberto Monteiro de Oliveira e um Major, também de
Artilharia, que era do terceiro ano da ECEME, e só me recordo de seu sobrenome
Oliveira.
Tínhamos,
como os outros grupos, a incumbência de cumprir missões especiais. Uma delas já
estava definida: uma vez iniciado o movimento (ou mesmo antes), receberíamos
ordem e iríamos calar a TV Rio, através de golpe de mão ou explodindo a
geradora dessa televisão que se situava na área do cais do Porto. Fizemos até
mesmo reconhecimentos dessas instalações.
Havia
também a possibilidade de outras missões mais complicadas e delicadas, que
poderiam ser extremamente perigosas para os executantes, mas que deveriam ser
cumpridas, mesmo com extremo risco de suas próprias vidas. Mas tudo ficou no
campo das hipóteses, porque a Revolução caminhou favoravelmente e esse gurpo de
combate foi praticamente dissolvido sem realizar nenhuma dessas missões”
(Coronel Roberto Monteiro de Oliveira, Tomo 13, pg. 199).
Treinamento de tiro à noite, às
escondidas, no Recreio dos Bandeirantes e no Campo de Instrução de Gericinó, no
Rio de Janeiro
“Vivíamos,
então, uma grave crise militar que rapidamente evoluiu para a área política com
sérias repercussões. Em consequência, o Marechal Denys e o General Moniz de
Aragão intensificaram as ligações com a tropa. Começamos a perceber que era
preciso haver maior entrosamento entre as unidades. Como começamos a reagir, a
tropa paraquedista foi proibida de realizar tiros de exercício e até tiro do
recruta. Proibiu-se que a munição fosse entregue à Brigada. Começamos então a
fazer acampamentos no Recreio dos Bandeirantes, que era totalmente deserto
naquela época. Entrávamos com os carros particulares no Regimento-Escola de
Infantaria – eu cansei de fazer isso no meu carro – para pegar com os oficiais
daquele Regimento, a munição necessária para adestrar a tropa paraquedista.
Fazíamos o tiro no Recreio dos Bandeirantes. Era a única possibilidade de
adestramento. Fomos proibidos de participar de qualquer exercício. Entrávamos
no Campo de Instrução de Gericinó, à noite.
O
Tenente José Aurélio Valporto de Sá foi preso, assim como o Tenente Eglair
Barcelos Alves. Foram presos porque estavam adestrando os seus pelotões em um
exercício programado pelo Regimento. É claro que nós só podíamos fazer isso
escondidos e durante a noite, ou no Recreio dos Bandeirantes ou no Campo de
Instrução de Gericinó” (General-de-Brigada Durval Antunes Machado Pereira de
Andrade Nery, Tomo 10, pg. 168).
Livro “Guerra Revolucionária”, de um
coronel português
“Primeiramente,
a minha participação na Revolução de 31 de Março de 1964 foi de expectativa,
como era de praticamente todos nós militares, voltados para seus afazeres
castrenses. Já diplomado pela Escola de Estado-Maior do Exército, em 1949, a
minha visão se ampliou. Aliás, um dos objetivos da Escola de Comando e Estado-Maior
é abrir os horizontes. Passei a me preocupar mais com os problemas políticos
que, até então, nunca tinham me inquietado. Acredito, também, que fosse a
situação da maioria dos meus companheiros. Cada um cuidava da sua vida,
ministrava a sua instrução, as suas aulas, recebia ensinamentos nas escolas
militares, e o tempo ia passando.
Gostaria
de assinalar o seguinte: na época – não digo que tenha sido o único, porque não
sei os outros – recebi um livro de autoria de um coronel português intitulado Guerra Revolucionária. Esse livro era
uma antevisão da Quinta Coluna que foi muito bem usada pelos nazistas para
dominar, praticamente, toda a Europa, visando ao domínio mundial. Esse coronel
descrevia o processo com muita lucidez e objetividade e era um alerta. Para
mim, foi um alerta. Depois, emprestei esse livro e como livro e dinheiro quando
se empresta geralmente se perde, não sei mais aonde ele foi parar. Dali, então,
é que comecei a despertar mais para essa questão – perigo comunista, política
em si” (General-de-Brigada Celso dos Santos Meyer, Tomo 10, pg. 128).
João Cotrim: Um Engenheiro Brasileiro na
Rússia
“O
País marchava a passos largos para a implantação do que se chamava, na época,
de república sindicalista, que, no fundo, significava a adoção do marxismo-leninismo,
ou seja, a comunização.
Era
preciso reagir!... E começamos modestamente... Os tenentes do Regimento [RO 105
– Itu-SP] passaram a fazer um programa anticomunista na Rádio Convenção, de
Itu, o qual era gravado em instalações da Igreja Matriz, o que retrata, de
maneira clara, a posição da Igreja na época, em sua grande maioria contrária às
artimanhas daquele Governo, voltado para a implantação do comunismo ateu. A
Igreja, além do incentivo, oferecia-nos todo o apoio.
Trabalhávamos
em duplas: Tenentes Danilo Rubens Marini e Ronaldo Gouveia de Miranda faziam
uma dupla de jornalistas, apresentando um jornal comentado, com críticas aos
atos e medidas populistas do governo federal. Um outro quadro era o meu, como
Engenheiro João Cotrim, especialista em construção de barragens e
hidrelétricas, com o Tenente Montedônio, como um interlocutor ávido de
notícias, interessado em saber tudo sobre a Rússia, de onde Cotrim acabara de
vir, após estagiar nos canteiros de trabalho de grandes barragens, como autoridade,
reconhecida internacionalmente, no assunto, obras apresentadas ao mundo pela
Rússia e pelos seus admiradores no Brasil como fabulosas e inigualáveis. Esses
mesmos brasileiros, anos depois, criticavam Itaipu, que teve como principal
técnico João Cotrim, chamando-a de obra faraônica, obra que vem permitindo ao
Brasil sobreviver em termos de energia.
Para
viver o papel de João Cotrim, tive que estudar, nas suas minudências, o livro
por ele escrito ‘Um Engenheiro na Rússia’. Nesse livro, ele mostra a grandeza
das barragens, das hidrelétricas, mas enfatiza que a propaganda russa as
tornava maiores e mais importantes do que na verdade o são.
Aborda,
também, o Engenheiro Cotrim, o outro lado, mostrando a carência e a má
qualidade dos bens de consumo na Rússia e destaca a intoxicação doutrinária,
verdadeira lavagem cerebral, que sofria o povo na União Soviética. Ele cita em
seu livro, por exemplo, uma propaganda muito difundida na Armênia, através de
uma metáfora. Dizia o texto: ‘Raia no horizonte o comunismo perfeito’. E os
camponeses da região não entenderam a figura de retórica e pediram explicações.
A principal rádio estatal mandou-os procurar a definição de horizonte, uma vez
que o conceito de comunismo já era por demais conhecido. E veio a definição de
horizonte: ‘Linha imaginária que separa o céu da terra e que se afasta de nós à
medida que nós nos aproximamos delas’.
Realmente,
o conceito de horizonte retrata muito bem o ‘comunismo perfeito’, mostrando que
ele nunca será alcançado, não existia, portanto, e nunca existirá.
Tudo
isso era assunto de minha conversa no papel do Engenheiro Cotrim, com o
Montedônio, o interlocutor à procura da verdade sobre a Rússia, que, no Brasil,
era uma incógnita naquela época. Só chegavam de lá informações positivas, deixando
todo mundo impressionado com o seu poder. Assim, o livro do Engenheiro Cotrim
era, no início de 1963, uma atração; fazia parte dos primeiros livros a
apresentar uma amostragem da realidade russa, diferente do que se difundia
naquele período” (General-de-Brigada Geraldo Luiz Nery da Silva, Tomo 10, pg.
203-204).
Júlio de Mesquita Filho, dono do jornal
O Estado de S. Paulo, queria uma Revolução muito mais dura
“Quem
teve a oportunidade de ler o livro Março 1964: a
mobilização da audácia, editado em 1965, irá relembrar as razões
do acima exposto. Os que não leram vão tomar conhecimento do que escreveu o
jornalista José Stachini, autor do livro, integrante de O Estado de São Paulo e, como citado no texto, considerado um de
seus mais notáveis repórteres. Logo, aceito como pleno de credibilidade.
A
carta do Dr. Júlio de Mesquita Filho, de 20 de janeiro de 1962, ao Estado-Maior
clandestino, transcrita no livro, demonstra a articulação posta em andamento
para a derrubada do Governo Goulart. Divergindo de alguns pontos, ressalta as
falhas dos movimentos de outubro de 1945, contra a ditadura e na queda de
Getúlio em agosto de 1954, com a precipitação da entrega do Poder ‘a homens que
vinham do mesmo passado’; discute sobre o prazo de permanência de um governo
discricionário; trata do expurgo dos quadros do Poder Judiciário, como
absolutamente necessário, mas sem violências desnecessárias; opta pela
decretação de estado de sítio, de início, com a dissolução das Câmaras, após a
conquista da confiança da opinião pública; defende a vigência da Constituição
de 1946, com as devidas alterações; propõe nomes para as pastas ministeriais,
concluindo que ‘seria meio caminho andado para que o País se convencesse de
que, afinal, se haviam apagado da nossa História os hiatos abertos na sua
evolução pela ditadura do senhor Getúlio Vargas e pela ação corruptora dos seus
discípulos nos governos que se sucederam até os nossos dias’; e, com extrema
convicção, proclama que: ‘Acha-se o País em estado de profunda comoção e não
esconde a descrença que o vai dominando, relativamente à possibilidade de
sairmos da situação de anarquia e desordem em que desesperadamente nos
debatemos’.
A
etapa seguinte, de acordo com o livro, foi a apresentação por parte do doutor
Júlio de Mesquita Filho aos chefes da conspiração de um projeto de ‘Ato
Institucional’, elaborado pelo diretor de O
Estado com a colaboração de professor de Direito Constitucional. Os seus
dezesseis artigos definem que o governo será constituído por uma Junta Militar,
que serão dissolvidos o Senado, a Câmara dos Deputados, as Assembleias
Legislativas e as Câmaras Municipais, que governadores e prefeitos poderão ser
confirmados ou destituídos com a nomeação de interventores, além de outras
providências. Em suma, o que ocorreu efetivamente com a Revolução de 31 de
março de 1964 foi muitíssimo mais tímido, muitíssimo mais brando, muitíssimo
mais democrático do que havia sido proposto pelo doutor Júlio de Mesquita Filho”
(Coronel Ernesto Gomes Caruso, Tomo 11, pg. 252-253).
TV Tupi era um alento para os
conspiradores anti-Jango
“A
euforia da esquerda só se comparava à nossa decepção e tristeza. Mas tínhamos
um alento: a batalha travada pelo Governador da Guanabara, Carlos Lacerda, que
desmontava o Governo por meio de artigos e discursos. E o Governador de Minas,
Magalhães Pinto, que também era favorável à Revolução. Outro fato alentador era
ligar a TV Tupi, à noite, e ouvir o editorial escrito por David Nasser, grande
jornalista, lido com muita ênfase pelo locutor Gontijo Teodoro”
(Tenente-Coronel Affonso Taboza Pereira, Tomo 12, pg. 219).
General Mourão conspira contra Jango,
primeiro em São Paulo, depois em Minas
“Em
1964, eu era Oficial do Estado-Maior da 2ª Região Militar, em São Paulo. Quando
lá cheguei, em 1963, o Comandante da Região era o General Lyra Tavares, que
ficou pouco tempo, sendo logo substituído pelo General Olympio Mourão Filho.
Com
o General Mourão, logo após ele assumir, passamos a ter reuniões conspiratórias
presididas por ele, com alguns oficiais do Estado-Maior da Região. Quero aqui
destacar o nome de dois deles que foram os padrinhos dos mais novos que lá
estavam, foram o Coronel Policarpo e o então Coronel Augusto Cid Camargo
Osório, depois General. Lá em São Paulo, tínhamos essas reuniões na parte da
manhã, porque, naquela época, o expediente iniciava às 11h. O General Mourão nos reunia pela manhã, quando fazia
exposições a respeito da situação, do pensamento dele; fizemos, inclusive,
estudos e planejamentos para, se fosse o caso, montarmos um grupo de
resistência na Serra da Bocaina, a meio caminho entre o Rio de São Paulo” (General-de-Divisão
Anápio Gomes Filho, Tomo 11, pg. 48).
O estratagema do General Mourão, para
ter tropa a seu comando
“Mas,
o General Mourão queria ir para Minas, para uma Região Militar com tropa,
porque não havia unidades de combate na 2ª. Região Militar; e ele acabou sendo
transferido para a 4ª. Região Militar/4a. Divisão de Infantaria, em Juiz de
Fora.
Aqui
convém lembrar uma história que ele nos relatou em uma visita que fez a São
Paulo após a Revolução. Disse-nos que fora informado por pessoas amigas que
estava sendo acompanhado, vigiado em São Paulo, porque estaria conspirando
contra o Governo. Então, em meados de 1963, nas comemorações da Revolução
Constitucionalista de 1932 de São Paulo, ele e alguns oficiais compareceram à
Assembleia Legislativa para a sessão solene e lá estava também o General Peri
Constant Bevilaqua, que comandava o II Exército. Quando um dos oradores começou
a criticar o Governo, naquele exato momento, o General Mourão fez um sinal para
os seus oficiais, ficou de pé, e abandonou o recinto, em sinal de protesto aos
ataques que o Governo estava sofrendo por parte daquele orador. Era a maneira
que ele encontrou para mascarar a sua posição diante daquela corrente ligada ao
Governo, contrária a ele e ao seu desejo de ir para a 4ª. RM/4ª. Di e, com
aquela iniciativa, ele acabou sendo transferido, como queria, para Minas
Gerais” (General-de-Divisão Anápio Gomes Filho, Tomo 11, pg. 48).
MOVIMENTOS DE GRUPOS CIVIS E MILITARES SÃO CRIADOS EM
TODO O BRASIL, PARA COMBATER O DESGOVERNO DE JOÃO GOULART E A AMEAÇA COMUNISTA
Devido
à baderna Jango-Brizola nos campos econômico e social, e seu aparato militar a
serviço da indisciplina e insubordinação de militares nas Forças Armadas, desde
1961 houve criação de inúmeros órgãos de combate às pretensões de Jango se
tornar um novo Getúlio – na verdade um novo Kerensky, pois estava alimentando o
dragão vermelho, vale dizer o Comunismo -, como o IPES, o IBAD, a CAMDE, a Arca
de Noé, o MED etc., além de grupos de conspiração formada por militares.
Empresários, militares, escritores e artistas se empenharam em realizar
palestras, lançar livros e filmes, para alertar a sociedade sobre o perigo
comunista que cada dia era mais forte e evidente. Causou-me surpresa saber que
poucos oficiais-generais, entre os entrevistados, fizeram menção a essas
organizações civis anti-Jango.
INSTITUTO DE PESQUISAS E ESTUDOS SOCIAIS (IPES)
“Gostaria também de relatar
sobre uma atividade que participei com três dirigentes do Instituto de
Pesquisas e Estudos Sociais (IPES). O IPES foi um Instituto civil que atuou
muito com o fito de difundir os princípios da livre iniciativa, da propriedade
privada e, também, condenando as reformas de base do Governo de João Goulart.
Junto
com três diretores membros do IPES, o Paulo Ayres Filho, o João Baptista
Leopoldo Figueiredo e o Paulo Reis de Magalhães, formamos uma caixa única com o
objetivo de traduzir quatro livros favoráveis à livre iniciativa. Um deles
chama-se ‘O Caminho da Servidão’, principal livro de Hayek, fundador da Escola
Neoliberal.
Traduzimos
e publicamos esse livro; fizemos uma edição de cinco mil exemplares.
Procedemos, ainda, a tradução e a publicação de mais três livros, tudo à nossa
custa, e distribuímos gratuitamente os quatro livros por todos os quartéis
brasileiros, por todas as universidades brasileiras, por todos os seminários
brasileiros e para todos os jornalistas que tratavam de assuntos políticos.
Quer dizer, eles podiam ser contra, mas não podiam dizer que eram ignorantes.
Esses quatro livros já mostravam o que seria a economia de mercado, que veio
triunfar nos dias de hoje” (Doutor Adolpho Lindenberg, História Oral do Exército – 1964, Tomo 7, pg.
300).
“Atribuo
o início das atividades de defesa da democracia à fundação do IPES (Instituto
de Pesquisa e Estudo Social) e IBAD (Instituto Brasileiro de Ação Democrática)
duas instituições que foram criadas por civis com a participação de militares.
Não tive a oportunidade de tomar parte, mas alguns militares foram convocados e
participaram, tentando vender a ideia de que alguma coisa tinha que ser feita.
O ritmo dos acontecimentos estavam se desenvolvendo, principalmente, a partir
da posse de João Goulart, com a renúncia do Jânio, começou a estabelecer uma
enorme preocupação. Havia mesmo civis que estavam pensando em se retirar do
País, achando que não havia mais solução. Um companheiro nosso, contemporâneo,
que chegou aos mais altos postos do Exército, chegou a considerar que estava tudo
perdido, tirou um ano de licença sem vencimentos e foi trabalhar numa empresa
civil. Acreditava que já estava tudo perdido!
Outros
militares, que eram mais politizados, começaram a fazer oposição ao Governo
Goulart que tinha assumido e foram afastados, mandados para as chamadas
Circunscrições de Recrutamento (CR), que passaram a ser, depois, as
Circunscrições do Serviço Militar, as CSM. Por que os mandaram para as CSM?
Porque eram administrativas relativas a Serviço Militar e Mobilização, contando
com um efetivo muito reduzido. Eram oficiais muito politizados, como os irmãos
Serpa. Para Bauru, foi o Golbery, se não me engano, e o Couto e Silva. O Serpa
‘louro’ foi para Sorocaba, o Serpa ‘preto’, que era o irmão mais velho, foi
para o Piauí, o Serpinha – Luiz Gonzaga de Andrada Serpa -, o mais moço e o
mais politizado, foi para Manaus. Esses oficiais merecem todo o meu respeito e
minha admiração. Eles tiveram a antevisão, que eu mesmo admito que não tinha.
Estava voltado para a minhas atividades castrenses, como já disse, para o meu
esporte... Às vezes, achava que eles exageravam, que eles estavam vendo, como
se diz normalmente, ‘chifre em cabeça de cavalo’ ” (General-de-Brigada Celso
dos Santos Meyer, Tomo 10, pg. 128-129).
“Telefona-me
do Rio de Janeiro um senhor chamado Gilberto Huber Filho, responsável pela
impressão das listas telefônicas amarelas, naquela época. Numa reunião social
no Rio de Janeiro ele fazia parte de um grupo que conversava sobre as ameaças
de esquerdização do Brasil: socialização, comunização, a possibilidade de se
chegar a choques, conflitos violentos, guerra civil; era um negócio muito
aterrorizante, na época. Nesse grupo carioca estava o Trajano Pupo Neto, outro
grande amigo meu, que disse a eles: ‘Olhem, não façam nada sem conversar com um
grande amigo lá em São Paulo que é um ‘tarado’ em matéria de liberdade
econômica.’
(...)
E
esse Senhor Huber, como disse, tornou-se um ‘amigão’, chegou no meu escritório
mais ou menos umas 16h e só saiu da minha casa depois da meia-noite. Então, nesse
primeiro encontro, creio que o Huber concorda comigo, nasceu o que veio a se
chamar Instituto de Pesquisa e Estudos Sociais (IPES), porque resolvemos que
faríamos alguma coisa nesse sentido: ele com o grupo do Rio e eu com os amigos
de São Paulo.
(...)
Assim,
outras entidades surgiram, também, mas Rio e São Paulo criaram o IPES e o seu
presidente foi o João Baptista [João Baptista Leopoldo Figueiredo]. Em São
Paulo, além do próprio João, contávamos, também, com gente como Paulo Reis de
Magalhães, que foi um grande companheiro, Roberto Pinto e Sousa, enfim, são
tantos que vou fazer a injustiça de nem tentar relacioná-los. No Rio de
Janeiro, junto com o Huber tinha muitos outros companheiros como Harold
Polland, presidente do grupo carioca, Augusto Trajano de Azevedo Antunes,
enfim, muitas pessoas sérias, de nível alto e, sobretudo, de um patriotismo
estupendo.
O
IPES deu início, então, ao seu trabalho e hoje estou tendo o prazer de entregar
aqui, ao Exército, os arquivos do IPES. O do Rio de Janeiro foi doado para a
Biblioteca Municipal, o que achei um erro grave. Aqui não, eles vão ficar
guardados no Exército e vão ser consultados por quem, sem ideia preconcebida,
queira estudar o que foto aquele movimento.
(...)
Por
que o IPES parou? Porque assim que houve a Revolução de 1964, das 440 empresas
que contribuíam para ele – para defendermos as próprias empresas, defendermos o
País, defendermos o interesse brasileiro – foram deixando de fazê-lo. Era uma
tragédia: em cada reunião, dez, vinte, trinta paravam.
Em
1965 e 1966 já se pensava em fechar o IPES. Em São Paulo, em 1967, passou a
hibernar, e, finalmente, fechou em 1968. O do Rio de Janeiro durou um pouco
mais, mas também desviou as atividades. Hão havia, por parte dos empresários,
seja brasileiros ou, muito menos, estrangeiros, interesse em apoiá-lo para que
continuasse realizando aquele trabalho de tão bons resultados.
(...)
Institutos Liberais
Anos
atrás estava voltando a ser panfletário e, por isso, me procuraram para formar
um Instituto Liberal. Não pude aceitar, naquela ocasião. Paralelamente, surgiu
um outro no Rio, liderado por um empresário que se dedicou realmente 100%
àquilo, mas morreu há pouco tempo. Era um sujeito extraordinário; reuniu o
pessoal do IPES e outras pessoas que queriam trabalhar e conseguiu fazer um
Instituto Liberal dedicado exclusivamente à doutrinação e à cultura econômica.
Obteve muito sucesso.
Em
São Paulo, foi formado outro Instituto Liberal. Tive o privilégio de ser
convidado para me aliar a eles e acabei presidente do seu Conselho Consultivo.
Doei ao Instituto a minha biblioteca de economia, tudo sobre mercado. Existem
hoje, pelo que sei, oito institutos liberais no Brasil inteiro. Porém, aí vem a
dolorosa informação: todos, sobretudo o de São Paulo, estão passando pelo mesmo
problema que o IPES viveu – queda de arrecadação e elevação dos custos.
Começa-se a perguntar: para ou não para?” (Doutor Paulo Ayres de Almeida
Freitas Filho, Tomo 7, pg. 381-389).
Obs.
O IPES, o Instituto Brasileiro
de Ação Democrática (IBAD), a Campanha da Mulher pela Democracia (CAMDE) e as
Forças Armadas formaram a base quadrangular decisiva para o desencadeamento da
Contrarrevolução de 31 de março de 1964, contra Jango, em sua política de implantar
a "República Sindicalista" no Brasil.
Em 2002, fui convidado pelo secretário
executivo do Instituto Liberal de Brasília, professor emérito da Universidade
de Brasília, Nelson Lehmann da Silva – autor do livro A Religião Civil do Estado Moderno –, para participar das reuniões
do Instituto, às quintas-feiras, à noite. O presidente era o embaixador,
professor, pensador e escritor José Osvaldo de Meira Penna, autor de mais de
duas dezenas de livros – cfr. em https://www.amazon.com.br/Livros-Jos%C3%A9-Osvaldo-de-Meira-Penna/s?rh=n%3A6740748011%2Cp_27%3AJos%C3%A9+Osvaldo+de+Meira+Penna.
O IL de Brasília fechou em 2004, assim
como muitos outros no País inteiro, por falta de patrocínio. Herdei cerca de 20
livros do IL, versando principalmente sobre Economia e Liberdade, como O Caminho da Servidão, de Friedrich F.
Hayek.
Nelson Lehmann faleceu em 2011.
Meira Penna faleceu em 29 de julho de
2017, aos 100 anos de idade.
F. Maier
ADENDO:
(não consta da “História Oral do
Exército – 31 Março 1964”)
Para tirar o PT do governo,
tiveram importante papel nessas manifestações grupos diversos, como Movimento
Brasil Livre (MBL), Patriotas, #NasRuas etc., que convocavam as pessoas por
meio das redes sociais.
Desde 1961, por ocasião da
renúncia de Jânio Quadros, até o Movimento Cívico-Militar de 31 de Março de
1964, houve também movimentos diversos que se uniam para combater a subversão
político-social instalada no Brasil pela dupla baderneira Jango-Brizola, como
IPES, IBADE, CAMDE, Cruzada Democrática, Arca de Noé, entre outros, que
ajudaram a derrubar o governo de João Goulart – como visto acima, no presente
fichamento.
Sobre o IPES, IBAD e CAMDE, leia os verbetes
de meu trabalho “Arquivos I – Uma História
da Intolerância”, disponível em http://felixmaier1950.blogspot.com/2020/06/arquivos-i-uma-historia-da-intolerancia_78.html
IPES
-
Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais: fundado em 1961 no Rio de Janeiro
pelo coronel Golbery do Couto e Silva e um grupo de empresários anticomunistas,
dispostos a readequar e a reformular o Estado brasileiro. Tinha por objetivo
criar barreiras intelectuais contra a propagação das ideias marxistas durante o
governo João Goulart. Promovia Estudos de Problemas Brasileiros para os
governos militares pós-1964. “No setor privado, destaca-se o Instituto de
Pesquisas e Estudos Sociais (Ipes), fundado em 1961. O Ipes é geralmente
associado à conspiração para depor o presidente João Goulart, mas a sua
contribuição foi relevante para as reformas. Na verdade, o Ipes apoiou uma
série de estudos sobre problemas estruturais da economia de que participaram
muitos especialistas, entre os quais Roberto Campos, Mário Henrique Simonsen e
Delfim Netto” (Maílson da Nóbrega, in “Há esperança”, Veja no. 2459, 6/1/2016).
O IPES, o IBAD, a CAMDE e as Forças Armadas formaram a base quadrangular decisiva
para o desencadeamento da Contrarrevolução de 31 de março de 1964, contra Jango
e sua política de implantar a “República Sindicalista” no Brasil. O IPES passou
a existir oficialmente no dia 29/11/1961 (Jânio Quadros havia renunciado em
agosto do mesmo ano). O lançamento do IPES foi recebido favoravelmente por
diversos órgãos da imprensa, como o Jornal
do Brasil, O Globo, O Correio da Manhã e Última Hora. Contou com a aprovação do
Arcebispo do Rio de Janeiro, Dom Jayme de Barros Câmara. Além do Rio e de São
Paulo, o IPES rapidamente se expandiu até Porto Alegre, Santos, Belo Horizonte,
Curitiba, Manaus e outros centos menores. O IPES foi formado pelo trabalho do
empresário de origem americana, Gilbert Huber Jr., do empresário multinacional
Antônio Gallotti, dos empresários Glycon de Paiva, José Garrido Torres, Augusto
Trajano Azevedo Antunes, além de serviços especiais de oficiais da reserva,
como o general Golbery do Couto e Silva. Sandra Cavalcanti era uma das mais
famosas conferencistas do IPES. As sementes do IPES (assim como do IBAD e do
CONCLAP) foram lançadas no final do governo JK, cujos excessos inflacionários
geraram descontentamento entre os membros das classes produtoras do país, e
durante a Presidência de Jânio Quadros, em cujo zelo moralista eles depositaram
grandes esperanças. O IPES produziu em torno de oito filmes, para alertar os
desmandos do Governo Goulart, como a ameaça comunista; os cineastas eram Jean
Mazon e Carlos Niemeyer. Escritores de peso do IPES foram Nélida Piñon, Rachel
de Queiroz e José Rubem Fonseca, autor de Feliz
Ano Novo; segundo Fonseca, o “IPES
buscava mobilizar a opinião pública no sentido do fortalecimento dos valores
democráticos” (AUGUSTO, op. cit.). “Somente
nas ações contra o regime, despendeu o equivalente a 100 milhões de dólares,
fortuna bancada com doações de centenas de grandes e megaempresários
brasileiros e estrangeiros. O número de corporações americanas que apoiaram
financeiramente a entidade chegou a
IBAD -
Instituto Brasileiro de Ação Democrática, o IBAD era uma organização
anticomunista fundada em maio de 1959 por Ivan Hasslocher. Ao lado dele, jovens
empresários fariam parte desta organização e da sua entidade-irmã, o Instituto
de Pesquisas e Estudos Sociais (IPES), dois anos e meio depois. Entre eles,
Gilbert Huber Jr. (Grupo Gilberto Huber - Páginas Amarelas), de ascendência norte-americana,
Glycon de Paiva e Paulo Ayres Filho. O financiamento para a criação do
Instituto se deu a partir de contribuições de empresários brasileiros e
norte-americanos. A finalidade inicial era combater o estilo populista de JK e
possíveis vestígios da influência do comunismo no Brasil. A ação do IBAD era
baseada na manipulação dos rumos do debate econômico, político e social do país
através da ação publicitária e política. Para dar apoio publicitário ao IBAD,
foi criada por Hasslocher a agência de propaganda Incrementadora de Vendas
Promotion. Esta era subsidiária daquele Instituto, financiada por capital
norte-americano, para a criação de modismos favoráveis para a implantação do american way of life. Os métodos
utilizados pela agência foram herdados do Office
of the Coordinator of Inter-American Affairs (OCIAA). O IBAD criou e
incentivou a Ação Democrática Popular, ADEP, cuja função era direcionar capital
e financiar os candidatos contrários a Goulart que concorreriam às eleições
legislativas e para o governo de 11 estados. O IBAD e o IPES financiaram,
produziram e difundiram uma grande quantidade de programas radiofônicos, de
televisão e matérias nos jornais com conteúdo anticomunista. As duas entidades
contribuíram decisivamente no doutrinamento ideológico que acentuou a oposição
ao governo João Goulart e seu programa de reformas, fator crucial para o êxito
do contragolpe militar de 1964. Muitas das radionovelas, filmes de cinema e
programas de televisão da época tinham mensagens explícitas e implícitas a
favor da absorção pelos brasileiros das modas, usos, costumes e consumo de
produtos norte-americanos. Foi nessa época que surgiu entre a classe média
brasileira a expressão “anos dourados”. Em Minas, articularem-se com o IBAD o
Pe. jesuíta João Cândido de Castro e o deputado Bonifácio de Andrada, líder do
governo Magalhães Pinto na Assembleia Legislativa, onde organizou a ADEP. O
IBAD foi alvo de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investigava a
participação de capital estrangeiro na entidade, fato considerado ilegal. O
deputado Rubens Paiva (PTB) era um dos integrantes dessa CPI e teve seu mandato
cassado no dia 10/4/1964. Membros do IBAD queimaram alguns documentos
comprometedores visando dificultar as investigações, porém foram comprovados
investimentos estrangeiros na entidade. No dia 20/12/1963, o IBAD foi
dissolvido pelo Poder Judiciário. No dia 20/1/1971, Rubens Paiva foi
sequestrado em sua residência do Rio e, desde então, foi dado como
desaparecido. Documentos em posse do antigo comandante do DOI-CODI/Rio, coronel
Júlio Miguel Molinas Dias, executado no dia 4/11/2012 com 15 tiros em Porto
Alegre em situação não esclarecida pela polícia, comprovam que Rubens Paiva
ficou preso no DOI-CODI. A documentação, que inclui uma relação de itens
particulares do preso, foi entregue por Tarso Genro, governador do RS, à
Comissão Nacional da Verdade em 27/11/2012.
CAMDE -
Campanha da Mulher pela Democracia: criada pouco antes das eleições de 1962,
sob orientação de Leovigildo Balestieri (vigário franciscano de Ipanema, Rio de
Janeiro), Glycon de Paiva e o general Golbery do Couto e Silva. “Eles convincentemente argumentavam que o
Exército fora minado pelo ‘vício do legalismo’, que só mudaria se ‘legitimado’
por alguma força civil, e que as mulheres da classe média e alta representavam
o mais facilmente mobilizado e interessado grupo de civis” (P. Schmitter, in Interest, Conflict and Political Change
in Brazil, Stanford, California University Press, 1971, pg. 447). A CAMDE
era uma organização feminina anticomunista, promoveu a “Marcha da Família com
Deus pela Liberdade”, no dia 19/3/1964, em São Paulo (19 de março, Dia de São
José, Padroeiro da Família), reunindo 500.000 pessoas, protesto que exigia o
fim da balbúrdia e da carestia durante o Governo Goulart, e que antecedeu à
revolução de 31/3/1964. No dia 2 de abril, a CAMDE reuniu 1 milhão de
manifestantes no Rio de Janeiro para agradecer a interferência dos militares
nos destinos do país, ocasião em que Aurélia Molina Bastos encerrou seu
discurso dizendo: “Nós louvamos, nós
bendizemos, nós glorificamos a Deus e o soldado do Brasil”. As mulheres do
CAMDE de Minas Gerais ofereceram a Castello Branco, ainda antes de sua eleição,
uma nova faixa presidencial, para que não usasse a tradicional, “já conspurcada pelos maus presidentes que o
precederam” (O Estado de S. Paulo,
12/4/1964). Outras organizações femininas e grupos católicos atuantes em 1964,
além da CAMDE: Liga de Mulheres Democráticas (LIMDE), (MG); União Cívica
Feminina (UCF), organizada em 1962 (SP); Campanha para Educação Cívica (CEC);
Movimento de Arregimentação Feminina (MAF), teve início em 1954, foi liderado
por Antonieta Pellegrini, irmã de Júlio de Mesquita Filho, proprietário de “O
Estado de S. Paulo”; Liga Independente para a Liberdade, dirigida por Maria
Pacheco Chaves; Movimento Familiar Cristão (MFC); Confederação das Famílias
Cristãs (CFC); Liga Cristã contra o Comunismo; Cruzada do Rosário em Família
(CRF); Legião de Defesa Social; Cruzada Democrática Feminina do Recife (CDFR);
Ação Democrática Feminina (ADF), Porto Alegre, RS.
F. Maier
MOVIMENTO ESTUDANTIL DEMOCRÁTICO (MED)
“Nos idos de 1963, época em que cursava o
2º. Ano do Curso Colegial, no Colégio Dante Alighieri, aqui em São Paulo, foi
organizado por um pugilo de colegas, um movimento chamado Movimento Estudantil
Democrático (MED). Os colegas, de quem me recordo, Rafael Boschesi, filho de um
antigo presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, e Moacir
Porfírio, orientados por nosso saudoso mestre de Português, à época, Professor
Francisco Sodero, organizaram o movimento. Possuía dois campos de ação, um de
ordem cultural e outro de ordem eminentemente política.
Qual o sentido desse movimento? Por que
foi organizado?
Porque o Brasil caminhava, tudo levava a
crer, para um momento de forte confronto, naqueles tempos de enorme agitação em
nosso País: agitação cultural, agitação política, agitação econômica e, é bom
recordar, também, agitação militar – em 1963, o Presidente João Goulart
compareceu a uma solenidade da Marinha e, praticamente, incitou a tropa contra
seus respectivos comandantes. O confronto viria entre os grupos que,
praticamente, detinham o Poder, homens da extrema esquerda, e os que queriam
evitar que o País caísse totalmente nessa linha política.
Daí a razão desses cursos e conferências,
digamos, preparatórios, para os estudantes que estavam em fase de conclusão de
seus respectivos cursos colegiais e entrando nas faculdades, que, de uma
maneira geral, eram verdadeiros ninhos de subversão sob orientação da União
Nacional dos Estudantes (UNE) e da União Estadual de Estudantes (UEE).
Tentava-se algum exercício democrático,
um preparo de ideias democráticas para podermos enfrentar os colegas
esquerdistas, estes sim, que já vinham tremendamente preparados pelo pessoal da
extrema esquerda. Em outras palavras, esforçávamo-nos para que os demais estudantes
não caíssem presas fáceis nas mãos das hostes comunistas. Naquela época, se
usava muito essa expressão ‘comunista’, ‘esquerdista’. Aparentemente, hoje,
esses termos estão fora de moda, mas talvez não estejam tão fora de moda assim;
muda-se a forma, mas não se altera o conteúdo.
O MED, movimento de reação democrática,
parecia muito promissor e eram convidadas para falar pessoas ilustres do nosso
meio jurídico. Recordo-me, por exemplo, do Dr. José Carlos Graça Wagner,
advogado de grande renome, excelente conferencista, do Dr. Ives Gandra Martins,
outro advogado de muita respeitabilidade, e que, também, fazia suas
conferências, suas palestras, e do Dr. Francisco Albuquerque, então integrantes
do Partido Liberal, dentre outros.
Lamentavelmente, este movimento encerrou
suas atividades. Assim, chegamos ao 3º. Ano do Curso Colegial, às portas de
entrarmos na faculdade, sem essa preparação.
Nessa ocasião, eu e mais um punhado de
outros colegas, integrantes do antigo movimento, fundamos um novo, nas mesmas
bases, que se chamou Associação Democrática Estudantil de São Paulo (ADESP)”
(Doutor Antônio Carlos Adler, Tomo 7, pg. 318-319).
ASSOCIAÇÃO DOS HOMENS LIVRES
“A AD/6 estava sem General Comandante e o
Coronel Paula Couto a comandava interinamente. Por sua posição anticomunista
claramente definida, estava preocupado com o crescimento dos movimentos de
esquerda. A principal ameaça provinha dos ‘grupos dos onze’ do Brizola que se
organizavam em todo o Estado [RS]. Para contrabater os tais grupos, ele criou a
Associação dos Homens Livres.
Parecia até que, no início de 1963, Cruz Alta tornara-se um reduto de oficiais
ligados a uma conspiração contra o governo. Essas precauções e a atuação
democrática junto à população civil tiveram depois, em março de 1964, efeito
muito positivo. Esse era o quadro da Guarnição” (General-de-Exército Décio
Barbosa Machado, Tomo 13, pg. 91).
LIGA DE DEFESA NACIONAL
“No meio civil, destaco algumas pessoas
que colaboraram conosco. O Dr. Apodyr Almeida de Oliveira, representante da
Liga de Defesa Nacional na cidade. Foi um homem com quem me liguei
permanentemente desde que cheguei em Pelotas. Nunca duvidei do seu sentimento
patriótico. Advogado, não exercia cargo público, coisa rara. Era dedicado à
Liga de Defesa Nacional, onde eu o auxiliava. Também o Dr. Edmar Fetter,
Prefeito municipal, nos deu apoio antes, durante e depois da eclosão do
movimento, e ainda um radioamador que servia de ligação entre a minha pessoa e
o Etchegoyen (Léo Guedes Etchegoyen) – perdi o nome, é uma das minhas mágoas.
Tínhamos uma rede-rádio de radioamadores que, mediante palavras-código,
aparentemente sem importância, estávamos ligados: ‘Como vai o futebol? E o teu
time? Já tens novos reservas?’ Parecia só brincadeira, mas sabíamos do que
estávamos falando. Cito também o repórter Mário Emílio de Menezes, que hoje
mora em Porto Alegre. Trabalhou muito na Liga de Defesa Nacional e tem muito
para contar.
(...)
Entre os militares da Guarnição
destacavam-se: o Major Scarone (Cid Scarone Vieira), meu braço direito na
Revolução; o Major Prates (Paulo Sylvio Prates); o Tenente ou Aspirante Suppa
(Mário Ângelo Suppa Thomaz Pereira), foi um grande auxiliar que tive. Como
Aspirante ele até corria risco, proque eu, se me mandassem embora, iria
promovido com todas as vantagens, mas o pobre do Aspirante.
Destaco, ainda, o Major Lúcio (Lúcio
Madeira Guimarães), que era Assistente na ID/3, trabalhava ligado ao Coronell
Joaquim. A ID não tinha oficial de Estado-Maior. Eram só o Comandante, o
Assistente e dois oficiais do Quadro Auxiliar de Oficiais, por sinal,
excelentes; um deles – o Cavalcanti (Humberto Pessoa Cavalcanti) – faleceu há
pouco tempo.
Convém deixar aqui registrado que houve
unanimidade por parte dos demais oficiais e praças da Unidade em apoiar o Movimento.
Não tivemos defecção. A partir do momento que o Regimento disse que estava a
favor da Revolução, nenhuma voz discordante se apresentou” (General-de-Brigada
José Mattos de Marsillac Motta, Tomo 13, pg. 109-110).
EDUCANDO PARA A DEMOCRACIA
“Uma organização que nos ajudou muito foi
a ‘Educando para a Democracia’, cuja história retrato no artigo ‘O acordar dos
militares’. Cortamos todo o Rio Grande pregando Democracia para os estudantes
do 3º. Grau. Era uma linha intelectual que reunia homens como: o Galeano
Lacerda, desembargador, hoje está aposentado; o Hugo di Primio Paz, professor
da UFRGS; o Clóvis Stenzel, psicólogo e advogado, foi líder da Arena no
Congresso; a Ecilda Haenzel, advogada, cujo marido, o médico José Mariano
Haenzel, já morto, foi quem me possibilitou não embarcar para Ipameri e ficar
resistindo aqui. Um colaborador de peso foi o José Otão, reitor da Pontifícia
Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC/RS), que nos possibilitou
organizar a ‘Educando para a Democracia’, que nasceu dentro da PUC” (Coronel
Pedro Américo Leal, Tomo 13, pg. 246).
“Os ‘janguistas’ me anularam, mas me
vigiavam. Sabiam que eu tinha proteção da Junta [Médica], através do seu
presidente e do Mariano Haenzel, que emitiu um atestado para meu filho – na
verdade, ele sempre foi profundamente asmático. Tudo isso era uma articulação e
logo depois que iniciei a Licença para Tratamento de Saúde de Pessoa da Família
(LTSPF), senti que fui esvaziado.
Eu, o Léo Etchegoyen, o Lauro Rieth, o
Sommer de Azambuja e o Comandante do 2º. Regimento de Reconhecimento
Mecanizado, o Admar Borges Fortes da Silva; nós cinco fomos transferidos. O
Sommer de Azambuja e o Lauro Rieth solicitaram transferência para a reserva;
não sei se o Etchegoyen chegou a ir para Santo Ângelo; eu não fui e o Coronel
de Cavalaria, irmão de um jornalista do Correio do Povo, não sei o que se
passou com ele. Fiquei uns dois ou três meses completamente isolado, porque
quem falasse comigo era identificado e ficava marcado” (Coronel Pedro Américo Leal,
Tomo 13, pg. 248).
GRUPO DE AÇÃO PATRIÓTICA (GAP)
“Fiz a Revolução com 19 anos, liderando
um movimento de jovens do Grupo de Ação Patriótica – GAP – que se opunha à
representação da União Nacional dos Estudantes (UNE), dominada por comunistas.
Nossa atuação está registrada em muitos autores e os jornais da época destacam
a presença do GAP em atos públicos de defesa da ordem e dos valores mais
expressivos e conservadores da sociedade brasileira.
O nosso Grupo, que atuava principalmente
no Rio de Janeiro, em Minas Gerais e em São Paulo, era composto, basicamente,
por jovens estudantes, tendo por programa de ação o combate às reformas
comunizantes de Brizola e Goulart; ao sistema de representatividade da classe
estudantil, adotado na União Nacional dos Estudantes e na União dos Estudantes
do Ensino Secundário (UEES); à encampação de refinarias; à ocupação de
postos-chave da administração na Petrobras, no Departamento de Correios e
Telégrafos, na Rede Ferroviária, nos Portos etc. por elementos comunistas; à
influência desmedida dos dirigentes sindicais nos destinos do País; à censura à
palavra de políticos da oposição, como Amaral Neto, Carlos Lacerda, Raimundo
Padilha e muitos outros, no rádio e na televisão; à omissão governamental
diante das greves e das agitações permanentes, de caráter político e
subversivo.
Os jovens tinham como referência maior o
trabalho desenvolvido pelo Almirante Sílvio Heck, Ministro da Marinha no
Governo Jânio Quadros, para fugirem a uma identidade partidária, de vez que
eram muitas as lideranças políticas que se opunham a Goulart, como os
governadores de Minas, Magalhães Pinto, de São Paulo, Adhemar de Barros, e da
Guanabara, Carlos Lacerda, todos candidatos em 1965, e o grupo de JK, do PSD,
onde muita gente se contrapunha ao Presidente.
O GAP se integrou a entidades formadas
por empresários, mulheres, militantes católicos, militares da reserva,
ex-líderes estudantis, para se opor à pregação revolucionária das esquerdas,
que encontravam acolhida no Governo Goulart, bem como ao grevismo político que
fazia parte do cotidiano do País.
(...)
O Brasil é quase todo o continente, e
para onde se inclina, a América Latina tende a seguir, como bem disse o
Presidente Nixon. Os EUA não tolerariam uma Cuba do tamanho do Brasil. Nem do
Chile, salvo por uma das mais impressionantes e completas personalidades
históricas de nosso tempo, o General Augusto Pinochet, um grande amigo do
Brasil, que nos visitou várias vezes como Presidente e, depois, como mero
turista. Este forma com o General Franco, de Espanha, a dupla de grandes
benfeitores do Ocidente, tratados com tanta ingratidão e maior desonestidade no
que tem sido publicado. Foram eles que infringiram as maiores derrotas ao
comunismo no século XX.
A bibliografia é rica em confirmar o
empenho da União Soviética em agitar a situação política e social no Brasil, na
América Latina, insistindo na violência no campo, na dominação da mídia e do
meio intelectual. A Igreja e as Forças Armadas eram prioridades do comunismo
desde a década de 1940. Afinal, as grandes derrotas do comunismo se deram no
final da década de 1930 com a Guerra Civil da Espanha, em meados da década de
1960 com o Brasil e de 1970 com o Chile. Em todos os três casos, a mão
comunista – com base na Rússia principalmente – era visível e os bons
resultados da reação no campo social e do desenvolvimento econômico foram duros
golpes. As bases do progresso da Espanha, do Chile e do Brasil são devidas a
Franco, Pinochet e aos nossos generais-presidentes, especialmente Castello,
Costa e Silva, Médici, e João Figueiredo. A única vitória do comunismo
importante foi a Revolução dos Cravos, em Portugal, que acabou por permitir uma
independência sangrenta em Angola e Moçambique, territórios que estavam
marchando para uma solução de alto nível, com base na lusitanidade, em algo que
se parecesse com a do Brasil que foi proporcionada por um rei de Portugal, na
ocasião príncipe-herdeiro. Mas a cobiça comunista das riquezas de Angola,
principalmente, falou mais alto, não contando apenas com a reação de uma parte
não comunista, a União Nacional para Independência Total de Angola (UNITA), que
sustentou uma guerra violenta por mais de 25 anos, com grande número de
mutilados. Uma tragédia, em que o Brasil agiu de forma omissa no governo Geisel
e, daí, em diante.
(...)
A partir daí, a prioridade dos soviéticos
foi a infiltração entre militares e religiosos. No Brasil, não poderia ser
diferente. Os militares sofreram de tal maneira a infiltração, que tivemos,
pouco antes da Guerra da Espanha, a Intentona de 1935 e, em 1964, a nossa
Revolução precisou retirar, de forma autoritária de suas fileiras, mais de
quatro mil militares sob suspeição de tolerância com o comunismo, número muito
maior do que o de afastamento no funcionalismo civil, por exemplo. A Igreja, por
sua vez, foi muito usada pelos radicais da luta armada e pela influência que os
temas políticos passaram a ter na Conferência Nacional dos Bispos do Brasil
(CNBB). O saldo desta militância de esquerda de parte do clero abriu as portas
do Brasil para seitas ditas cristãs, que acabaram se tornando verdadeiros
negócios e comitês eleitorais, a chamada ‘bancada evangélica’.
(...)
Ao ser fundado em junho de 1962, o GAP
firmou convênio com a Aliança Democrática Brasileira e o Centro José Bonifácio,
organizações democráticas de São Paulo, presididas pelos estudantes Waldo
Domingos Claro e Fânio Sandoval, e formou um núcleo em Juiz de Fora, dirigido
pelo universitário Marcos Ventura de Barros.
(...)
Não tendo vinculação com qualquer
partido, o GAP aceitava, de bom grado, a colaboração e a adesão de todos os
verdadeiros patriotas, independente de onde viessem ou estivessem.
De nossa Carta de Princípios, constava a
defesa intransigente do regime democrático, da família, da Igreja, da
propriedade e da iniciativa privada.
(...)
Hélio Silva recorda os Comícios pela
Democracia, realizados pelo Deputado Amaral Neto, com a presença de parlamentares
de todo o País, membros da Ação Democrática Parlamentar, nos quais pregávamos,
em praça pública, a reação ao Governo. Nesses comícios, realizados semanalmente
em várias cidades, coube-me sempre falar em nome dos estudantes democratas como
presidente nacional do GAP.
Lembra o escritor que me cabia, através
da Rede da Democracia – cadeia de emissoras de rádio que se opunha à cadeia da
legalidade, de Leonel Brizola – falar, semanalmente, na qualidade de Presidente
do GAP, recomendando, inclusive, a mobilização armada contra os camponeses de
Francisco Julião e os elementos dos Grupos dos Onze, de Brizola.
A participação da rapaziada do GAP,
relembra o escritor, estava intimamente ligada ao grupo conspirador liderado
pelo Almirante Sílvio Heck. Por algumas
vezes, realizamos transporte de armas de São Paulo para o Rio de Janeiro.
Chegamos, inclusive, a trazer metralhadoras em malas e em ônibus da viação
Cometa. Este transporte e movimentação de
armamento foi uma vez estourado pela Polícia do Exército, mas eu e mais dois
companheiros conseguimos escapar na própria estação rodoviária.
Em consequência desta ação, a sede da
entidade Ação Vigilante do Brasil, na Rua 1º. de Março, no Rio de Janeiro, foi
invadida e interditada, assim como um sítio em Jacarepaguá, onde o Governo
apreendeu as armas. Por sorte, o Inquérito Policial Militar (IPM) que o
Ministro da Guerra instaurou foi confiado ao General Idálio Sardemberg. Como a
imprensa janguista insistia em citar Heck, além de citar-me juntamente com o
GAP, tomei a iniciativa de procurar pessoalmente o General Sardemberg, em sua
casa, na Rua Souza Lima. Na conversa que mantive com ele, aleguei que o
movimento distribuía livros, combatia a UNE etc. e que o noticiário dos jornais
era maldoso. O General Sardemberg me ouviu e por fim disse-me: ‘Sei que as
coisas não são bem como você diz, mas elogio o seu civismo e peço levar ao
Almirante Heck minhas palavras de tranquilidade. Vocês não serão incomodados’.
(...)
Lembro-me de que, no final de 1962, logo
após o Almirante Sílvio Heck deixar o Quartel Central do Corpo de Fuzileiros
Navais, onde se encontrava preso, formamos um grande cortejo de automóveis
integrado por delegações de diversas entidades, entre as quais a nossa – o
Grupo de Ação Patriótica – e muitas outras, como a Frente da Juventude
Democrática, a Ação Vigilante do Brasil, a União Operária Camponesa do Brasil,
o Movimento Estudantil Católico, o Movimento Estudantil Marítimo, a Aliança
Democrática Popular etc.
(...)
A primeira operação conjunta foi a
distribuição de livros e folhetos em fábricas e colégios da Guanabara, São
Paulo de Minas Gerais. Distribuímos, inicialmente, três livretos: ‘Depoimento
sobre a Rússia’, mais de seis mil exemplares, de Nascimento Brito, Diretor do Jornal do Brasil; ‘Estopim da Fraude’,
de Waldo Domingos Claro, presidente da Aliança Democrática Brasileira; e ‘UNE,
Instrumento da Subversão’.
Numa ação continuada, conseguimos, ainda,
distribuir mais de vinte mil livros de esclarecimento popular, alcançando maior
destaque ‘Um Engenheiro Brasileiro na Rússia’, de John Cotrim; ‘Estudantes
Brasileiros na Tcheco-Eslováquia’, de Ronaldo Pereira Rodrigues, que fora
Secretário da UNE; e ‘Condição Humana da China Comunista’, de Suzanne Labin.
(...)
A Cadeia Radiofônica da Democracia
iniciou suas atividades no final de outubro de 1963, liderada pelas Rádios
Tupi, Globo e Jornal do Brasil, com a
participação no primeiro programa de João Calmon, Roberto Marinho e Nascimento
Brito, diretores das emissoras que encabeçavam a Cadeia” (Jornalista
Aristóteles Drummond, Tomo 9, pg. 144-158).
Obs.:
As grandes derrotas dos comunistas
ocorreram na Espanha, no Brasil e no Chile. Nem por nada que o General
Francisco Franco, o General Emílio Garrastazu Médici e o General Augusto
Pinochet são demonizados por toda a esquerda mundial, que tenta apagar a
história desses heróis nacionais, removendo estátuas, retirando nomes de
logradouros públicos e até exumando o cadáver de Franco, para retirar seus
restos mortais do Valle de los Caídos.
Sobre a Guerra Civil Espanhola, leia
textos em https://felixmaier1950.blogspot.com/2020/09/guerra-civil-espanhola-75-anos-depois.html.
F. Maier
AÇÃO DEMOCRÁTICA PARLAMENTAR (ADEP)
“Dia a dia, eu e meu pai sentíamo-nos na
obrigação de tomar posição favorável ao movimento contra João Goulart. Meu pai,
Deputado José Bonifácio Lafayette de Andrada me chamou para vir a Brasília e
disse que o Deputado João Mendes tinha organizado uma frente parlamentar
poderosa, a Ação Democrática Parlamentar (ADEP), para defender a democracia
contra qualquer manobra que surgisse. A ADEP realmente reuniu deputados da UDN,
quase todos do PSD, também do PTB e de outros partidos da Câmara dos Deputados.
Conversei com o João Mendes e ele disse: ‘Bonifácio, você podia organizar a
ADEP em Minas. Temos o apoio do IBAD (Instituto Brasileiro de Ação
Democrática), instituição não ligada a nós diretamente, mas que está muito
preocupada com o avanço da esquerda no Brasil. É um grupo poderoso de
industriais brasileiros dispostos a apoiar financeiramente o combate ao
comunismo’.
Essa foi a informação que recebi sobre o
IBAD. Ele disse mais: ‘Você lá em Minas, além da direção da ADEP na Assembleia,
como também vou me comunicar com os dirigentes do IBAD, poderá fazer contato
com eles.’ O professor Ivan Hassolocher, segundo me disse, era o presidente do
IBAD. Respondi: “Deputado João Mendes, esse negócio de dinheiro do IBAD é algo
com que não gosto de lidar. Nesse caso, lá em Minas, há uma figura muito
interessante, Padre jesuíta José Cândido de Castro, que está também muito
atemorizado com os movimentos de esquerda no País e poderá gerenciar esta área,
com garantia de correção.’ Nesse episódio, preferi que tudo se articulasse com
ele, porque todos ficariam seguros de que não haveria nenhuma hipótese de
desvio de dinheiro. Realmente, não cuidei desse setor. O Padre Castro
articulou-se com o IBAD e passou a ser o responsável por essa área, em Minas. E
mantinha contato comigo. Organizei a ADEP na Assembleia Legislativa, que logo
recebeu o apoio de quase todos os deputados mineiros. Lançamos um manifesto
nesse sentido” (Deputado Federal Bonifácio de Andrada, Tomo 15, pg. 67).
CRUZADA TIRADENTES
“A determinação era muito grande. Acho
que uma pesquisa, antes que desapareçam os dados, precisa ser mais bem-feita
sobre aquela fase e sobre o ambiente psicossocial de Minas Gerais. Recordo-me
bem da Cruzada Tiradentes, de um Padre interiorano. Não me lembro direito da
figura dele. Esse Movimento andava pelo interior de Minas, em grupos enormes,
organizados para apoiar o Cristianismo contra o Comunismo. Era um movimento
altamente significativo. Estive também com grupos sindicalistas desejosos de
participar. Os meios empresariais, da mesma forma. O movimento feminino era
poderoso, desfilando nas ruas por Deus e pela Pátria. Quer dizer, é preciso
caracterizar bem que esse 31 de Março de 1964, em Minas Gerais, fou uma reação
vigorosa do seu povo para depor o pró-comunista João Goulart. No dia 31 de
março, a vitória das forças mineiras, da maioria do povo de Minas, inegável e
decisivamente contribuíram, até além das Alterosas, para que as Forças Armadas
ocupassem o Poder e iniciassem a institucionalização do movimento
revolucionário” (Deputado Federal Bonifácio de Andrada, Tomo 15, pgl 76-77).
MANIFESTO DOS PROFESSORES UNIVERSITÁRIOS, COM SOBRAL
PINTO
“O ambiente nacional exigia providências
emergenciais. No campo, havia uma violência muito grande. Os brasileiros não
mais se sentiam seguros. E ainda se apresentava a anarquia institucional: os
deputados a fazerem leis apenas compatíveis com a ideologia que cada um
adotava. Em 1963, falava-se abertamente de uma república sindicalista.
No primeiro trimestre de 1964,
quatrocentos ou mais professores universitários, tendo à frente a figura
grandiosa de Sobral Pinto, divulgaram um manifesto, criticando a complacência
do Governo e pedindo soluções. O cardeal do Rio de Janeiro fez um alerta sobre
a eclosão possível de uma revolução popular. À época, eu era juíza de Barbalha
e, ouvindo a Rádio Mayrink Veiga, mesmo como juíza, era difícil entender se o
Governo estava dentro da legalidade ou se o povo estava com a ilegalidade. Com
o manifesto dos professores universitários, pude, então, compreender que o
Governo se posicionava do lado das esquerdas” (Desembargadora Águeda Passos
Rodrigues Martins, Tomo 12, pg. 244).
CRUZADA
DEMOCRÁTICA
“Em 1950, os comunistas
conseguiram infiltrar-se no Clube Militar, utilizando a revista para fazer
proselitismo da sua doutrina. Nasceu, então, a reação dos verdadeiros patriotas
e democratas para retomar a direção do Clube, através de um movimento que se
denominou Cruzada Democrática.
Não podendo utilizar as
dependências do Clube, as reuniões da Cruzada foram realizadas, inicialmente,
na Federação de Escoteiros do Brasil e, posteriormente, na sede do Clube dos
Oficiais Reformados e da Reserva das Forças Armadas, na Praça da República,
197, no Rio de Janeiro: a Casa de Deodoro.
(...)
Em meados de 1962, nos
reuníamos rotineiramente às quartas-feiras à noite, na Casa de Deodoro,
participando das reuniões da Cruzada Democrática, as quais compareciam muitos
oficiais da reserva e da ativa (General Bina Machado, Coronel Sebastião Chaves,
Tenente-Coronel João Baptista de Oliveira Figueiredo etc.).
(...)
Fazíamos reuniões com outros
companheiros, no porão do edifício residencial da Praia Vermelha e na Vila
Militar, em Marechal Hermes, numa academia de judô.
Conseguimos, enfim, realizar
a tão esperada assembleia no Clube Militar, em 3 de julho de 1963, na presença
de quase dois mil sócios. Os comunistas, cerca de sessenta pessoas, em sua
maioria oficiais, audaciosamente, tentaram tumultuar a reunião inscrevendo-se
para falar e abordando assuntos contrários aos nossos objetivos. Foi preciso
que um companheiro, o Tenente-Coronel Aviador Coqueiro, mais tarde Brigadeiro,
tomasse o microfone das mãos de um esquerdista para que toda a assembleia, aos
gritos, os expulsassem do recinto.
Nessa assembleia, os irmãos
Torres de Melo (Artur de Freitas Torres de Melo e José Ramos Torres de Melo
Filho) falaram de forma incisiva em defesa dos postulados democráticos e da
dignidade da classe militar. No dia seguinte, esses companheiros foram presos:
Artur, no Forte de São João, e o José, no Forte Rio Branco” (Coronel Edgar
Maranhão Ferreira, Tomo 6, pg. 107-108).
“Inicialmente muito tímido,
o Clube Militar, com o tempo, foi-se encorajando, graças, em grande parte, à
presença de oficiais-alunos da EsAO, do IME e da ECEME e, juntamente com o
Clube Naval e o Clube da Aeronáutica, teve um papel de grande relevância na
preparação do Movimento de 1964. Havia uma ala conhecida como ‘Cruzada
Democrática’, que reunia muitos oficiais que pensavam igualmente sobre aquele
momento nacional. Entre esses oficiais, incluíamo-nos eu e meu irmão Artur
Torres de Melo, então major, e outros bem conhecidos, como os então coronéis
Arnizaut de Matos, Sebastião Chaves e João Baptista Figueiredo. Aí
confabulávamos sobre a situação do País, sobre o que deveria ser feito e como.
Motivado pela ‘Cruzada Democrática’, no dia 3 de julho de 1963, o Clube Militar
promoveu uma grande reunião, com mais de três mil oficiais, presidida pelo
General Magessi da Cunha Pereira, seu presidente. Capitão e aluno do 3º. ano do
IME, compareci a essa reunião juntamente com o Artur, e fizemos, cada qual, um
pronunciamento contra o estado de coisas reinante, imputando as
responsabilidades ao Ministro da Guerra e ao Presidente da República. Os dois discursos,
por sua veemência, valeram-nos trinta dias de prisão para cada um, dados pelo
Ministro da Guerra, General Jair Dantas Ribeiro. Mas nós, os oficiais mais
jovens, não arrefecemos e continuamos nessa batalha, sem sabermos qual o
pensamento dos nossos chefes” (Major José Ramos Torres de Melo Filho, Tomo 4,
pg. 236-237).
ARCA
DE NOÉ
“Idealizada pelo então
capitão dos Portos [do Ceará], o Comandante Fernando Cavalcante, que aos
sábados reunia-se com pessoas de todas as classes sociais, na Capitania. A ‘Arca
de Noé’ tinha como objetivo a união de todas as categorias, exatamente o
contrário do movimento comunista, que preconizava a luta de classes para a
tomada do poder. Tínhamos representantes de todas as classes sociais:
estivadores, militares, advogados, juízes, industriais, todos em harmonia,
inclusive os representantes de sindicatos patronais e de empregados. As
reuniões da ‘Arca de Noé’ tiveram início em 1961. Em 1963, a ‘Arca de Noé’
passou à condição de pessoa jurídica. Seu objetivo era o de promover a união
entre todas as classes sociais e o combate ao comunismo internacional”
(Tenente-Coronel Silvio de Magalhães Sampaio - Tomo 4, pg. 226).
“Por intermédio da
Associação ‘Arca de Noé’, colaboramos com importante trabalho de
conscientização anticomunista em instituições locais.
No mês de fevereiro de 1964,
fui preso pelo Cmt da 10ª. RM (amigo do Presidente João Goulart) por vinte
dias, no quartel do 23º. BC, e transferido, a bem da disciplina, por ter
determinado a distribuição de folheto, divulgando informações de trabalho
anticomunista em algumas instituições. O fato teve grande repercussão na cidade
e em várias guarnições do Exército. Antes de seguir destino, recebi várias
homenagens de militares e civis, voltando mais tarde para receber os títulos de
cidadão cearense e fortalezenense, qua guardo até hoje” (General-de-Brigada
Helio Duarte Pereira de Lemos, Tomo 1, pg. 240). Como Chefe de Gabinete do SNI,
o general Lemos participou da apuração dos fatos realizados pela PF contra o
governador de Goiás, Mauro Borges, que foi deposto depois de o STF dar habeas
corpus ao político, por unanimidade.
“No Ceará, participamos de
algo muito interessante: um grupo, constituído por Antônio Guimarães, que já
morreu – quase todos já morreram – Hélio Lemos, o Comandante do 23º. BC, o
Coronel Diegues, eu e outros, fundou um clube, chamado ‘Arca de Noé’. Todos os
sábados nos reuníamos com o pessoal dos sindicatos e a gente conversava, tomava
uns aperitivos e almoçava. Dessa forma, fomos nos preparando e trocando idéias.
O resultado é que, em 1964, quando eclodiu a Revolução, o único Estado
brasileiro em que não houve greve foi o Ceará. Os sindicalistas compreenderam
que o Brasil não podia continuar com a anarquia existente, consequência daquela
ação psicológica desenvolvida com o objetivo de conscientizar a opinião
pública” (General-de-Divisão Francisco Batista Torres de Melo, Tomo 4, pg. 57).
“Destaco, também, a Arca de
Noé, cujo significado pré-revolucionário pouca gente conhece. Não era a Arca de
Noé bíblica, que reuniu todos os bichos da Terra, mas uma Arca de Noé que
acolhia, harmonicamente, os sindicalistas, os patrões e os empregados, pessoas
de diversas procedências, mas com um só pensamento: a defesa da Pátria! A ela
se deve, por exemplo, a imunização dos portuários cearenses às idéias
anarquistas vindas de fora. Estas, portanto, são reminiscências de um período
vivido, pouco antes da eclosão do Movimento Revolucionário de 1964”
(General-de-Brigada Manoel Theóphilo Gaspar de Oliveira Neto, Tomo 4, pg. 90).
“Quando o Sr. João Goulart
assumiu a Presidência da República, os oficiais que aqui serviam, por não concordarem
com o procedimento adotado pelo Poder Executivo, de seguir fielmente o
movimento comunista, chegaram a lançar um Manifesto, que lhes custou prisão e
transferência. No 10º. Grupo de Obuses 105 mm (10º. GO 105), a totalidade dos
seus componentes não se intimidou diante das ameaças. Eu estava servindo lá,
nessa época. O Grupo, sob o comando do Coronel Hélio Lemos, antecipou-se aos
acontecimentos, junto com a sociedade, preparando-se materialmente e com
pessoal para combater o governo central. Foi criada, nessa época, uma entidade
civil chamada ‘Arca de Noé’, idealizada pelo então Capitão dos Portos, o
Comandante Fernando Cavalcante, que, aos sábados, reunia-se com pessoas de
todas as classes sociais, na Capitania. A ‘Arca de Noé’ tinha como objetivo a
união de todas as categorias, exatamente o contrário do movimento comunista,
que preconizava a luta de classes para a tomada do poder. Tínhamos
representantes de todas as classes sociais: estivadores, militares, advogados,
juízes, industriais, todos em harmonia, inclusive os representantes de
sindicatos patronais e de empregados. As reuniões da ‘Arca de Noé’ tiveram
início em 1961. Em 1963, a ‘Arca de Noé’ passou à condição de pessoa jurídica.
Seu objetivo era o de promover a união entre todas as classes sociais e o
combate ao comunismo internacional” (Tenente-Coronel Silvio de Magalhães
Sampaio, Tomo 4, pg. 226).
GRUPO
ÁGUIA BRANCA E “OPERAÇÃO MARIMBONDO”
“Muito pouco contato tive
com o General Mourão; convivi mais com o Bragança – o Coronel Bragança – que
teve um irmão assassinado em 1935. Esse não era anticomunista, ele era mais do
que anticomunista; a coisa era pessoal, era uma declaração integral contra o
comunismo, porque perdera...
Perdera
o irmão em 1935? Era tenente o irmão dele? [entrevistador]
Era tenente, assassinado
pelos comunistas. O Bragança nunca esqueceu esse fato. Ele foi, realmente, um
elemento de ação – foi contra o populismo do Getúlio, foi contra o Juscelino,
foi contra o João Goulart – um anticomunista sistemático. O Bragança, na década
de 1960, uniu-se a uma rapaziada, formada de estudantes de Belo Horizonte, o
grupo dos ‘Águia Branca’, participando de uma série de episódios para calar os
comunistas na base da pancadaria.
O Brizola e seu pessoal
queriam realizar um comício em Belo Horizonte, mas o Governador Magalhães
Pinto, a polícia, não autorizavam comícios. Fizeram, então, uma reunião, uma
famosa assembleia, no auditório da Secretaria de Administração, alguma coisa
assim, lá em Belo Horizonte. Era um auditório muito grande para a época, e o
certo é que o Bragança e seu grupo entraram lá e bateram no Brizola, bateram na
mulher do Brizola, foi um inferno, acabaram com a tal a Assembleia ‘a tapa’.
Depois disso, marcou-se um
comício com presença do Jango – interessante, aqui no Rio, o Comício da Central
do Brasil. Lá, em Belo Horizonte, antes, realizaram um comício na Praça da
Estação. O Jango chegou de trem para o tal comício. E a turma Águia Branca fez
a Operação Marimbondo, que consistiu em levar, em sacos plásticos, marimbondos
que foram soltos na hora do comício, dispersado a turba que viera para
participar do comício. Isso é coisa que entra para o folclore político, mas que
aconteceu realmente.
O Mourão, promovido a
general, foi outro que, em todos os lugares por onde passou, fez uma campanha
sistemática anticomunista. Ele falava diretamente aos seus oficiais, aos seus
subordinados, em todos os lugares onde comandou” (Coronel Luiz Carlos Carneiro
de Paula, Tomo 9, pg. 300).
CLUBES
DE MÃES
“D. Iedda: (...)
Naquela época, visitei
favelas, todo o ABCD; fui a vários lugares. Tínhamos total consciência da
existência de um terreno fértil para aquelas ideias enganosas do comunismo;
conhecíamos perfeitamente a semente e o terreno onde seria semeada. Não tomamos
nenhuma atitude movida por impulso, mas por grande conscientização.
Estávamos muito bem
acompanhadas de pessoas como Carlos Lacerta, que tinha sido comunista e que
havia se desencantado com essa ideologia e punha a público o que eles faziam e
os maus intentos deles; Padre Calazans, Senador, e o Padre Godinho, Deputado
Federal, sempre nos elucidando e ensinando. Insisto que não foi um impulso de
‘patriotada’. Foi um movimento consciente, com maturidade, de dever cívico e
dever de mãe.
D. Maria Lucia: Foi bom você
lembrar que nós trabalhávamos na periferia.
D. Iedda: Você se lembra o
que se fundou em decorrência da camanha política?
D. Maria Lucia: Os Clubes de
Mães e chegamos a ter 15 Clubes de Mães, cada um com trinta mulheres.
Ensinando inclusive a cuidar
do bebê. [entrevistador]
D. Maria Lucia: Não só a
cuidar do bebê, mas também de toda a família.
D. Iedda: Foi algo que deu
resultado. Esses Clubes de Mães começaram em 1965 e existem até hoje. Várias
das atuais professoras foram nossas alunas e ficamos amigas; fazíamos chás em
nossas casas, havia uma comunicação de culturas. O resultado foi excelente não
só para elas, assim como para nós. Recebemos, também, muitíssimo. Aprendi muito
com aquelas senhoras de outra cultura, de comunidades extremamente carentes, e
fico gratificada de pensar que estávamos mais devolvendo do que entregando.
Mas, penso que a Marcha da
Família simboliza a nossa atuação, na Revolução (Doutora Iedda Borges Falzoni e
Doutora Maria Lucia Whitaker Vidigal, Tomo 7, pg. 359).
Obs.:
Em
2003, a Doutora Maria Lucia Whitaker Vidigal era a presidente da Liga das
Senhoras Católicas, onde prestava assistência a mais de 4.500 pessoas.
Trabalhou na TV Cultura como produtora e apresentadora, durante vinte anos.
F.
Maier
RADIOAMADORES:
O WHATSAPP DA ÉPOCA
“D. Iedda: Meu filho tinha
entre 13 e 14 anos; morávamos em frente ao Palácio do Governo e quando saí
disse:
- Henrique, você fica
tomando conta da casa e o revólver está aqui; defenda a sua casa.
O meu marido era radioamador
e o Exército perdera a confiança em alguns graduados, naquele momento. Então
foram convocados os radioamadores para que fossem feitos os contatos; é bom
lembrar que não havia esse boom de
comunicação, como hoje. Os radioamadores, como qualquer empresa de radiofonia,
receberam uma licença para operar. Eles não foram convidados, mas convocados
para ajudar. Muitos, porém, se omitiram, alegando que seu equipamento não
estava bom.
Lembro-me de meu marido até
de madrugada transmitindo mensagens sigilosas, que ele não me deixava ouvir.
Foi uma atuação muito grande. A Revolução levou só dois dias para vencer, mas
devo dizer que foram dois dias de intensa vivência. Definiram um momento
histórico que deve ser lembrado, constantemente” (Doutora Iedda Borges Falzoni,
Tomo 7, pg. 358).
“Tivemos, também, o apoio
dos radioamadores. Durante o deslocamento, o Coronel Faceda montou um PDR de
radioamadores em Juiz de Fora e durante todo o deslocamento uma rede montada
atuou como informante. Tínhamos informações de todo o movimento do Destacamento
Cunha de Melo através dessa rede. Uma série de providências administrativas
foram tomadas através da rede, por exemplo, alguns fogões de campanha não
estavam funcionando a gasolina e sim com botijão de gás e, naquela época,
variava conforme a empresa. E se fez o levantamento do tipo de botijão de gás
etc., através dos radioamadores da rede e, daí, se pedia a subsistência: um
caminhão com tantos botijões de gás de tal tipo para atender ao suprimento de
tais Companhias. É interessante assinalar que isso em combate seria um caos. Se
a linha de suprimento de fogões funcionava a gasolina e o subtenente macetoso
botou o botijão de gás, que realmente era muito mais confortável, mas, em
situação de campanha, qual era o gás? Como é que seria suprido? Isso é um
ensinamento que tem que ser levado sempre em consideração” (Coronel Amaury
Friese Cardoso, Tomo 10, pg. 359).
Obs.
Me ocorre o trabalho feito por jornais
editados por militares aposentados, nas últimas décadas, como Letras em Marcha,
Ombro a Ombro, Inconfidência – além de grupos similares como o Grupo Guararapes,
Grupo Estácio de Sá, Grupo Anhanguera, Quero-Quero, Associação dos Militares da
Reserva e Reformados (ASMIR) etc., que iniciaram um trabalho de conscientização
da população nos tempos revanchistas dos governos FHC, Lula e Dilma, culminando
na obra de Olavo de Carvalho, os quais tiveram o mérito de enfrentar o
“pensamento único” das esquerdas nas universidades, nos meios artísticos, na
mídia cada vez mais militante de esquerda – uma luta ainda longe para se chegar
a um mero empate.
A trilogia de Olavo de Carvalho “A Nova
Era e a Revolução Cultural: Fritjof Capra & Antonio Gramsci” (1994), “O
Jardim das Aflições: de Epicuro à Ressurreição de César” (1995) e “O Imbecil
Coletivo: Atualidades Inculturais Brasileiras” (1996), junto com “O Mínimo Que Você Precisa Saber
Para Não Ser Um Idiota” (2013) - 193 artigos de Olavo escritos entre os anos de
1997 e 2013, e organizados pelo jornalista Felipe Moura Brasil - é fundamental
para se entender os últimos 50 anos do Brasil, em termos culturais, de pregação
marxista em todos os setores da sociedade brasileira.
F. Maier
PARA OS ENTREVISTADOS, OS ANTECEDENTES MEDIATOS E IMEDIATOS
DO MOVIMENTO DE 1964 FORAM:
ANTECEDENTES
MEDIATOS OU INDIRETOS
“A maioria dos que se dedicam ao assunto
crê, no entanto, que o Movimento de 1964 vem do repúdio ao comunismo no meio
militar, nascido em 1935, pelos crimes perpetrados pelos marxistas-leninistas,
na Intentona Comunista, levante armado que irrompeu em Natal, Recife e no Rio
de Janeiro, financiado e determinado pelo Komintern
– a Internacional Comunista -, fundada em 1919 por Lênin, para propagar o
comunismo, e aproveitada por Stálin para promover os interesses da política
exterior da União Soviética.
A Intentona, conduzida por Luís Carlos
Prestes, que entrou no País com passaporte falso para chefiá-la, contou com 23
estrangeiros para a sua preparação e execução, dos quais apenas nove foram
presos no Brasil após o fracasso do movimento. Ficou, no seio do Exército e das
Forças Armadas, a revolta contra aquela infame Intentona, na qual os comunistas
mataram covardemente seus companheiros de farda, enquanto dormiam”
“General-de-Brigada Geraldo Luiz Nery da Silva, Tomo 10, pg. 196).
RENÚNCIA
DE JÂNIO QUADROS:
“OPERAÇÃO
MOSQUITO”, UMA OPERAÇÃO QUE NUNCA EXISTIU
Crise surgida após a
renúncia de Jânio Quadros, em 1961:
“É oportuno que se relate,
neste momento, a fim de deixar claro, o sub-reptício e ardiloso comportamento
dos políticos, em Brasília: o episódio ocorrido, pessoalmente, conosco, fruto
de manobras e falsas versões articuladas pelos partidários ideológicos do
senhor João Goulart.
Na condição de Oficial de
Gabinete do Ministro da Aeronáutica, Brigadeiro Grüm
Moss, e mais antigo presente em Brasília, recebemos ordem expressa do Ministro
de interditar os aeroportos de acesso à Capital da Repúbica, a fim de
impossibilitar o pouso de qualquer aeronave, civil ou militar, que conduzisse o
Vice-Presidente, João Goulart. Cumprimos estritamente as ordens recebidas,
através das providências normais, de bloqueios das pistas de pouso,
interditando-as com obstáculos.
Logo, os políticos,
senadores e deputados, aliados do senhor João Goulart, reagiram à ordem e às
medidas tomadas, através de declarações amplamente divulgadas pela imprensa do
País, denunciando a existência de um plano que passaram a chamar de ‘Operação
Mosquito’, operação militar com o objetivo de atacar e derrubar qualquer
aeronave, civil ou militar, que conduzindo o Vice-Presidente, tentasse pousar
na Capital da República.
A verdade é que a ‘Operação
Mosquito’ nunca existiu, nem foi cogitada. A interdição dos aeroportos foi,
porém, executada, com rigor, sobre a nossa orientação, e em obediência às
ordens superiores” (Brigadeiro-do-Ar Marcio Cesar Leal Coqueiro, Tomo 10, pg.
92).
“A
renúncia de Jânio Quadros foi a causa remota da Revolução de 31 de março de
1964. O governo foi cair, então, nas mãos de um homem cuja história pessoal não
o colocava como amante da democracia representativa. Ao contrário, vinha cevado
dos valores de Julio de Castilhos, Borges de Medeiros e Getúlio Vargas,
positivistas que, por muitos anos, governaram com mão de ferro o Rio Grande do
Sul, pouco preocupados com ‘democracia e liberdade’. Assim que assumiu como
presidente de um regime parlamentarista, João Goulart começou a lutar pelo
restabelecimento do presidencialismo. Tão logo conseguiu plenos poderes através
de um plebiscito, iniciou a campanha pelas suas ‘reformas de base’ que faziam
do Brasil uma república sindicalista chefiada por um caudilho. Como a isso se
opunha o Congresso Nacional, essa república só poderia ser implantada por golpe
de estado” (Engenheiro Roberto Nogueira Médici, Tomo 14, pg. 186).
Obs.:
O engenheiro Roberto Médici é filho do
General-de-Exército Emílio Garrastazu Médici, Presidente do Brasil de outubro
de 1969 a março de 1974.
F. Maier
A partir de 1961, já havia a
infiltração de cubanos comunistas no Brasil, para aquisição de campos de
treinamento de guerrilheiros, em PE, BA, GO, AC.
As
Ligas Camponesas de Francisco Julião, o qual havia feito curso de guerrilha em
Cuba, promoviam o terror no meio rural, especialmente em Pernambuco, colocando
fogo nos canaviais e destruindo equipamentos industriais em usinas de
cana-de-açúcar (um MST avant la letre);
ao mesmo tempo, havia cartilhas comunistas sendo distribuídas pelo MEC,
contrapondo o “odioso” usineiro ao “miserável” trabalhador rural – trabalho de
massa que os comunistas sabem fazer como ninguém, especialmente o “mestre”
Paulo Freire.
A
título de informação, há um livro ilustrativo do fato histórico, escrito por
Denise Rollemberg, O Apoio de Cuba à Luta
Armada no Brasil – o treinamento guerrilheiro.
Obs.:
A revista Veja", de 24/01/2001, sob o título "Qué pasa
compañero?", faz uma análise centrada na tese de doutorado da pesquisadora
Denise Rollemberg, da UFRJ, a qual afirma que "o primeiro auxílio de Fidel foi no Governo João Goulart, por
intermédio do apoio às Ligas Camponesas, lendário movimento rural chefiado por
Francisco Julião. (...) O apoio cubano concretizou-se no fornecimento de armas
e dinheiro, além da compra de fazendas em Goiás, Acre, Bahia e Pernambuco, para
funcionar como campos de treinamento”. Em sua língua de pau, Rollemberg se
refere a incêndios a canaviais, verdadeiros atos terroristas, como um “lendário
movimento rural”. Após a Contrarrevolução de 1964, as Ligas Camponesas foram
dissolvidas e Julião obteve asilo no México.
Sobre o assunto, leia “Guerrilha Comunista no Brasil", de minha autoria, em http://www.aman75-83.com.br/terror_comunanobr.htm.
F. Maier
“No
Brasil, a UNE, a CGT, a SUPRA [Superintendência da Reforma Agrária], a Frente
Parlamentar Nacionalista, o Grupo dos Onze, as Ligas Camponesas, alguns
Ministros de Estado, os Governadores do Rio Grande do Sul, Pernambuco, Goiás e
Sergipe e alguns Chefes Militares pressionaram o então Presidente, exigindo
reformas de cunho comunista.
Nas
Forças Armadas, a disciplina, base e alicerce primordial das Instituições
Militares, foi solapada, numa tentativa de jogarem praças contra oficiais”
(Coronel do Exército Márcio Matos Viana Pereira, in “O Direito de Opinar”, Editerra Editorial, Brasília, DF, 1987,
pg. 18).
É
importante citar a célebre frase do chefe comunista Luis Carlos Prestes, em
janeiro de 1964: “Nós, os comunistas, estamos no Governo, só nos falta o Poder.” Em viagem a Moscou, Prestes deu ciência a Kruschev
sobre a subversão comunista no Brasil e recebeu o sinal verde para implantar o
golpe.
Campanha psicológica de Brizola no RS
“O
ano de 1961 mexeu com os brios do Rio Grande do Sul: ‘Com a difusão de que o
Rio Grande do Sul seria invadido, que as nossas famílias seriam presas e
violentadas pelas tropas que vinham do Norte’. Isso contribuiu para que
houvesse um chamamento grande em todo o Rio Grande do Su. Não digo somente na
minha Unidade, porque o Brizola fez a campanha psicológica que foi a única que
vi no meu Exército ao longo dos meus quase cinquenta anos de vida militar e sei
que não verei outra campanha que venha a envolver tão intensamente todo um
poro, porque o Brizola colocou nos porões do seu palácio os transmissores da
Rádio Guaíba e, através dela, arregimentou todo o povo gaúcho, organizando-o em
forças militares.
Eram
batalhões de operários metalúrgicos, eram batalhões de operários têxteis, eram
batalhões de operários da indústria civil, era a cavalaria através dos Centros
de Tradição Gaúcha (CTGs). Enfim, todo o Rio Grande do Sul foi motivado e
distribuiu as armas que tinha. Com isso, a decisão do III Exército foi tardia,
muito tardia. O nosso Comandante do III Exército na época custou a tomar a sua
decisão de aderir às forças, aderir ao Governo Brizola, mas o fez para impedir
também lá dentro quase que um massacre, pois o Exército ficaria sozinho face ao
seu povo” (Generao-de-Exército Luiz Gonzaga Schroeder Lessa, Tomo 10, pg. 50).
A infiltração política dos comunistas
dentro dos quartéis, especialmente na Marinha e na Aeronáutica, pregando a
separação de praças e oficiais
Várias
vezes, Brizola conclamou os sargentos a prender e matar os oficiais, e se
apoderar dos quartéis
“A partir de 1960, as forças
de esquerda persistiram nas tentativas de infiltração no meio militar,
voltando-se para os quadros subalternos, buscando dividir e corroer o organismo
militar, através da cisão entre oficiais e praças.
Na Aeronáutica, o Brigadeiro
Francisco Teixeira, então Cmt da Zona Aérea, dirigia essa infiltração. A
eleição do Clube de Oficiais, vencida pelas esquerdas, graças a certas
facilidades, foi uma luta de caráter ideológico. O Chefe do EM da Aeronáutica,
Brigadeiro Correia de Melo, por ter dado difusão a uma publicação anticomunista,
foi punido.
Na Marinha, mantinha-se o
mesmo clima de agitação e o Clube de Suboficiais era um verdadeiro foco de
propaganda comunista.
No Exército, o Gen Osvino,
Cmt do I Exército, cercado de elementos ditos progressistas e nacionalistas,
deixava a subversão alastrar-se nos quartéis.
Por todo o Brasil, nas
organizações militares, criou-se um clima de desconfiança entre oficiais e
sargentos. Os comunistas conseguiram êxito nessa primeira fase, e foi esse
clima que ensejou a rebelião de sargentos, de 12 a 13 de setembro de 1963, em
Brasília, sufocada, principalmente, por tropas do Exército”
(General-de-Exército Sebastião José Ramos de Castro, Tomo 1, pg. 121).
“Importa também registrar
que, ainda no Comando de Oswaldo de Mello Loureiro [2º. RO 105, Itu-SP], todos
os subtenentes e sargentos foram chamados a São Paulo para conversar,
pessoalmente, com o Presidente João Goulart a respeito de aquisição de casa
própria. Recordo-me de que estava toda a Linha de Fogo em plena instrução
visando ao tiro do Grupo, quando a sessão foi interrompida para que todos os
sargentos se apresentassem imediatamente para viajar a São Paulo, onde o
Presidente da República os receberia. A instrução prosseguiu comigo, com os
cabos e soldados, sem os chefes de peça. Veja que absurdo!... Os próprios
sargentos foram apanhados de surpresa e tiveram dificuldade, em termos de
uniforme de passeio, para cumprir, de pronto, aquela ordem que veio diretamente
da Casa Militar da Presidência, o que soubemos posteriormente.
Esse fato mostrou claramente
como o Presidente da República buscava a aproximação com os graduados, sonhando
valer-se dos mesmos mais tarde para neutralizar os oficiais, quando do
desencadeamento da revolução comunista, para a qual passou a trabalhar, com o máximo
empenho, após ter conseguido o retorno do País ao regime presidencialista”
(General-de-Brigada Geraldo Luiz Nery da Silva, Tomo 10, pg. 202).
“O outro fato, único
episódio negativo durante toda a participação do Grupo [2º. GO 105], deu-se
pouco antes da Revista do Recolher (21h) do dia 31 de março. O Subtenente
Rubens, da 1ª Bia O, surpreendeu a todos, quando, ao se ver sozinho com os
cabos e soldados da Bateria, fez um rápido discurso a favor das reformas de
base de João Goulart e do seu sindicalismo. Disse-lhes que o Regimento não
podia colocar-se contra o movimento dos trabalhadores porque, no futuro, eles,
cabos e soldados, seriam os trabalhadores.
O Capitão Luís Gonzaga
Camargo, S/2 do Regimento, ao ser informado do fato, efetuou, pessoalmente, a
sua prisão. Esse subtenente era, desde o tempo do Coronel Loureiro, o
Presidente do Grêmio de Subtenentes e Sargentos do Regimento, tendo lidado, com
certa frequência, com aquele Coronel, com quem nós, tenentes, o vimos, várias
vezes, conversando nas imediações do Gabinete do Comando. Coube-lhe conduzir os
graduados a São Paulo ao encontro com o Presidente da República, anteriormente
citado” (General-de-Brigada Geraldo Luiz Nery da Silva, Tomo 10, pg. 209-210).
“Cheguei a Brasília, em
janeiro de 1964 e encontrei, no Batalhão da Guarda Presidencial, um ambiente
pior ainda, pois, embora a Revolta tivesse ocorrida em Brasília e,
praticamente, dela não participaram os sargentos do Exército – os praças
graduados e soldados da Marinha e da Aeronáutica foram, realmente, os que
fizeram o Movimento – mesmo assim, persistia uma desconfiança total com relação
aos nossos graduados do Batalhão da Guarda Presidencial, a maior Unidade, na
época, em Brasília. Existiam, também, na guarnição, uma bateria de Artilharia
Antiaérea, comandada pelo Major Stockler, considerado de esquerda; uma
Companhia de PE, embrião do Batalhão da Polícia do Exército de hoje e um
Esquadrão, o 3º. Esquadrão C Mec (Cavalaria Mecanizada), que havia vindo do Rio
de Janeiro, de Campinho, para Brasília, por ocasião da Revolta dos Sargentos.
No ar, o clima de
desconfiança entre oficiais e sargentos. Tínhamos ordem de andar sempre armados
com a pistola engatilhada’ (Coronel Carlos Fernando Freitas Almeida, Tomo 5,
pg. 286-287).
“Paralelamente
a esses fatos [infiltração esquerdista no MEC e nas universidades], ocorreu o
problema da inelegibilidade dos sargentos, levando a agitação para a área
militar, o que, em fevereiro [1963], torna-se manifesto. Cerca de seis mil
graduados realizaram uma passeata em São Paulo, em apoio à posse dos
companheiros de farda eleitos. O Instituto Superior de Estudos Brasileiros
(ISEB), dominado por elementos esquerdistas, procurava atrair os subtenentes e
sargentos com palestras e cursos nos círculos e clubes militares. Em 6 de março,
foi realizada uma nova passeata de militares em São Paulo, desta vez com os
integrantes da Força Pública de São Paulo e da Aeronáutica, comparecendo
fardados. Os aniversários dos ‘generais do povo’ passaram a ser comemorados com
a presença maciça de graduados e com extremados discursos nacionalistas.
(...)
Ante
os fatos sinteticamente narrados, não se constitui em grande surpresa a
rebelião dos sargentos, em Brasília, em 12 de setembro de 1963. Tanto assim é
que providências tomadas impediram a participação dos graduados do Exército.
Embora o movimento fosse controlado em poucas horas, foi grande a sua
repercussão no País e no Exterior” (General-de-Divisão Agnaldo Del Nero
Augusto, Tomo 5, pg. 99).
ISEB – doutrinação comunista
“Em
1958, fui transferido para o Rio de Janeiro para fazer o curso de Defesa
Antiaérea. O ambiente que encontrei na Escola era o mesmo de Santa Maria.
Estávamos divididos entre azuis e vermelhos.
Nos
primeiros dias de aula, fui procurado por um colega de curso, um 1º. Tenente,
oficial muito inteligente, segundo de sua turma de formação e que acabou sendo
o primeiro da turma do curso que íamos fazer. Este oficial, que posteriormente
foi cassado pelo Ato Institucional no. 1 (AI-1), certo dia perguntou-me se
pretendia fazer concurso para a Escola de Comando e Estado-Maior do Exército.
Disse-lhe que sim. Ele então me falou sobre um curso muito bom, gratuito, com
aulas sempre aos sábados. Falou-se também da competência dos seus professores.
Fiquei interessado e passei a frequentar as aulas do ISEB (Instituto Superior
de Estudos Brasileiros). Eu e mais alguns colegas assistimos a umas quatro ou
cinco aulas e quase todos nos retiramos quando sentimos que estávamos sendo
doutrinados para apoiar a política de esquerda que vinham pregando” (Coronel
Carlos Alberto Brilhante Ustra, Tomo 5, pg. 218).
O
empastelamento do jornaleco Binômio
“Aqui, em Minas, há um fato,
um episódio muito importante, do qual pouco se fala. Foi a quebra do jornaleco
chamado Binômio. O Binômio era um jornal panfletário que
explorava as pessoas, exigindo dinheiro para não divulgar notícias que lhes
fossem adversas. Esse jornal, certo dia, publicou uma matéria que era
degradante para o Comandante da Infantaria Divisionária da 4ª. Divisão (ID/4) –
na época, General Punaro Bley. Ele teve a coragem de ir à redação do Binômio e tirar satisfação. Foi
acompanhado do motorista. Este ficou na rua, no carro, esperando, e o general
subiu e foi enfrentar a direção do jornal. Destratado e agredido, saiu de lá
ferido, machucado. Voltou para o QG (Quartel-General). Um companheiro, um
oficial que estava de serviço, viu o estado do General e comunicaou aos
comandantes de Unidades que, basicamente, naquela época, eram o 12º. RI, o
Centro de Preparação de Oficiais da Reserva (CPOR) e mais a Base Aérea, que
ficava, exatamente, junto ao aeroporto da Pampulha.
Os comandantes de Unidades do
Exército resolveram ir ao jornal impedir que a próxima edição saísse, porque,
fatalmente, publicaria coisas desagradáveis contra o General, inclusive fotos.
Reuniram oficiais, somente oficiais e sargentos, pegaram um ônibus da
Aeronáutica que ficava sempre no pátio do 12º. RI e foram ao jornal Binômio. Era o final de 1961.
Quando lá chegaram, foram
recebidos de forma muito agressiva. Os militares, então, resolveram o seguinte:
‘Vamos impedir a saída da edição de amanhã e de qualquer outra edição; vamos empastelar
o jornal.’ A ordem era não deixar nada inteiro que tivesse mais do que 20 cm.
Tudo que tivesse mais de 20 cm deveria ser quebrado. E assim foi feito.
Oficiais e sargentos dessa gloriosa guarnição assim agiram e destruíram o
jornaleco Binômio, que nunca mais circulou em Belo Horizonte ou em lugar
nenhum, graças a Deus.
(...)
A única punição que sobrou
foi a transferência dos Comandantes do 12º. e do CPOR para outra guarnição, e,
também, do Comandante da Base Aérea. Ninguém mais foi punido. Mas esse fato
gerou uma coesão muito grande no meio militar de Minas Gerais; somado a uma
série de outros, fez com que as tropas de Minas tivessem fortalecido o espírito
revolucionário, levando-as à eclosão da Revolução de 1964” (Tenente-Coronel Pedro Cândido Ferreira
Filho, Tomo 3, pg 349).
“Esse jornalista do Binômio,
de nome José Maria Rabelo, era um dos homens fortes do Brizola, que nunca
conseguiu se eleger para coisíssima nenhuma, mas acabou premiado com uma
vice-presidência do Banerj, quando o Brizola se elegeu Governador aqui no Rio”
(Coronel Carlos Alberto Guedes, Tomo 9, pg. 261).
“Este oficial-general
[Punaro Bley], quando tenente, fora interventor do Espírito Santo, onde há um
estádio com seu nome, e, com esse passado político da década de 1930, a imprensa,
especificamente um jornal chamado Binômio,
começou a escrever artigos tentando desmoralizá-lo e culminou com, em dezembro
de 1961, quando, além de chamá-lo de ‘gorila’, era o de menos, chamou-o de
desonesto em artigo violentíssimo, que atentava contra a sua honra pessoal;
sentindo-se ofendido moralmente, foi tomar satisfações com o então redator do
jornal.
O Binômio começou, em Minas, fazendo oposição ao Governo Juscelino
Kubitschek em 1955; algumas gozações, algumas brincadeiras e, com o tempo, ele
foi descambando, inclusive veio a se constituir em um dos jornais daqueles que
nós chamamos de imprensa marrom.
Ele passou a viver de
ataques a pessoas honradas, a firmas que não forneciam propaganda para a
manutenção do jornal, assacar contra a honra de empresários, contra filhas de
empresários e lançavam tudo aquilo no tabloide, ao mesmo tempo em que, quando
havia um desmentido, era muito pequeno e muito discreto, mas o mal já estava
feito.
Essa reportagem do jornal Binômio sobre o General Bley fez com que
ele pessoalmente numa manhã, vésperas de vir para o Rio – ele ia entrar de
férias – fosse tomar satisfações com esse jornalista que assacara contra a sua
honra pessoal, independente do achaque ao comandante da guarnição. Ele foi
sozinho, com um capitão que estava de serviço na ID/4, que ficou esperando
embaixo, na Rua Curitiba, onde se localizava o escritório do Binômio, que não era impresso lá, e sim
nas oficinas do Diário de Notícias do
Rio de Janeiro.
Ele subiu e, ao ser recebido
por esse jornalista, Rabelo [José Maria Rabelo] e outros mais, fizeram uma
armação e ele acabou – quando viram que estava sozinho – sendo agredido por
esse jornalista, que o fez até descer sangrando no elevador do prédio em que se
localizava o jornal Binômio.
O capitão ajudante-de-ordens
dele, que passava pelo local, vendo o capitão que estava de serviço lá,
aguardando no carro, procurou saber onde estava o general e foi atrás dele, mas
quando chegou no prédio, o general já estava deixando o elevador, sangrando,
com o uniforme com manchas de sangue que saíam do seu nariz, fruto da agressão
que sofrera.
Isso causou uma revolta
muito grande na guarnição federal de Belo Horizonte, inclusive porque, pela
idade do general, estava já com 63 anos, e o seu aspecto físico, franzino,
contrapôs-se esse jornalista, no vigor dos seus quarenta e poucos anos, que não
titubeou em agredi-lo.
Na ocasião, eu era 1º.
Tenente, servia no 12º. RI, onde exercia a função de Secretário, tendo como
comandante o Coronel Itiberê Gouveia do Amaral.
No nosso quartel, houve uma
reunião, era pouco antes do almoço, em que os oficiais do CPOR (Centro de
Preparação de Oficiais da Reserva), que era a Unidade vizinha ao 12º. RI, foram
se encontrar conosco e, inclusive, o pessoal da Base Aérea; o Coronel Luna, que
comandava a Base, também revoltado com a repercussão do fato e a afronta ao
general, mandou um ônibus para o 12º. RI com alguns oficiais – naquele tempo
nós chamávamos aquele tipo de ônibus de papa-fila.
O Coronel Itiberê foi
chamado ao gabinete do General Punaro Bley, que proibiu qualquer ação contra o
jornalista que provocara o incidente com ele, porque era um problema pessoal, e
que ele iria, depois das férias, resolver da melhor maneira possível, mas não
queria que se fizesse nada.
Quando o Coronel Itiberê
voltou ao 12º. RI, já encontrou a tropa praticamente preparada para sair, à sua
revelia, é verdade, indignada com aquele acontecimento. Digo por mim, que era
1º. Tenente – andava-se fardado nessa época – era até universitário em Belo
Horizonte, além do meu curso na Academia Militar, fazia, na Faculdade de
Ciências Econômicas de Minas Gerais, Administração de Empresas, e frequentava
aquele meio universitário normalmente, como aluno.
Imaginava-me saindo do
quartel, muitas vezes fardado, indo para a aula, sem tempo de trocar a roupa – o curso era noturno – ser recebido
por outros elementos com chacota ou com agressão. Não se agride um general –
era o que passava pela minha cabeça de 1º. Tenente, que estava, ali, estudando,
cumprindo uma outra atividade, vamos dizer assim, extracarreira, sem prejuízo
da mesma.
Então, houve uma revolta
muito grande no meio da tropa, e o Coronel Itiberê, quando chegou ao quartel e
viu o espírito, ele disse apenas o seguinte: ‘Não, se a tropa vai, não quero
soldado metido nisso...’. Apenas os oficiais e sargentos é que tinham se
movimentado, não foi nenhum recruta.
Inclusive, porque já
estávamos num período de desincorporação, o efetivo era pequeno, o que não vem
ao caso, mas não se queria envolvimento de soldado. Ele falou assim: ‘Não, eu
também sou contra, vou descumprir a ordem que recebi do General Punaro Bley,
mas vocês vão me dar licença, que vou ao Quartel-General da ID/4 dizer a ele
que o pessoal vai sair para uma ação efetiva, e eu, por ser o mais antigo, é
quem vai comandar’.
Ele não abriu mão de
comandar e organizar o efetivo, para que não fosse uma tropa desorganizada,
fosse uma tropa com um comando. Veio, também, o Comandante do CPOR, Coronel
Roberto Gonçalves, e o Coronel Luna, que comandava a Base Aérea.
Depois disso, nos deslocamos
e chegamos ao local em que se situava a sede do Binômio – até então muita gente, nem eu sabia, que o jornal não era
impresso em Belo Horizonte – e, para surpresa nossa, havia apenas lá um retrato
muito grande do Che Guevara, atrás da mesa do Diretor do Binômio, que já não estava lá.
Obviamente, ele já tinha
saído, tinha procurado se esconder; depois, fugiu até vestido de padre, essa é
que é a realidade, para se exilar durante algum tempo enquanto os ânimos se
acalmavam. A única coisa que se fez foi o que se chama de ‘empastelamento’, do
que havia pela frente.
Era máquina de escrever,
eram cadeiras, esse retrato, que foi quebrado, e o dono do jornal que, na
ocasião era o Deputado Euro Arantes, apareceu para emprestar solidariedade e
acabou sendo um dos elementos que foram conduzidos à Base Aérea – inicialmente,
todo mundo apanhado lá foi encaminhado à Base Aérea – para que se pudesse ouvir
o que tinham a dizer.
Logo depois, por
interferência do Governador Magalhães Pinto, todos foram liberados e esse fato
gerou um inquérito policial militar, ao qual respondi, assumindo a
responsabilidade pela minha participação. Esse acontecimento, por uma
coincidência muito grande, provocou o retorno de meu pai [General Carlos Luís
Guedes] ao Comando da ID/4, em Belo Horizonte.
(...)
Com relação, ainda, ao
jornal Binômio, o fato ali ocorrido
trouxe até uma satisfação muito grande à população civil de Belo Horizonte,
porque era uma imprensa marrom declarada e os que o patrocinavam, seja por
pressão, seja por qualquer outro motivo, dando dinheiro para o Binômio, ficaram livres dessa obrigação”
(Coronel Carlos Alberto Guedes, Tomo 9, pg. 235-238).
Obs.
O
Coronel Carlos Alberto Guedes, às páginas 251 a 253 do Tomo 9, transcreve o
editorial de O Globo, no Jornal do Brasil, do dia 27 de dezembro
de 1961, “Para preservar a verdade”, relatando os motivos do empastelamento do
pasquim Binômio.
F.Maier
O sargento panfleteiro comunista da
Central do Brasil
“Recebo
o Comando da 4ª. Bateria de Canhões de um 1º. Tenente que já conheci pelo seu
passado e sabia que estava comprometido com o pessoal de esquerda. (...) Formei
a Bateria e fiz a chamada. Faltava um sargento. Procurei saber, então, onde é
que estava esse sargento.
Informaram-me
de que ele faltava ao quartel porque, diariamente, ia para a Central do Brasil
– estação ferroviária de passageiros, no centro do Rio de Janeiro -, onde
estacionava uma Kombi do Partido Comunista, junto do qual ele ficava, com o
microfone na mão, fazendo propaganda para o partido. Verifiquei que isso era
verdade, coloquei-o no pernoite e dei parte de ausência. Quando ele estava para
passar a desertor, apresentou-se. Chegou num estado deplorável, com um uniforme
todo sujo, barbudo, uma bota – nem coturno usava – uma bota ‘natal’, com uma
faca, eu me lembro, no cano da bota; mandei que ele fosse arrumar-se, cortar o
cabelo, fazer a barba... Ele saiu e não o vi mais. Soube que ele tinha baixado
ao hospital, naquele mesmo dia, e que, do nosocômio militar, saía todos os dias
para fazer a propaganda junto à Kombi, em frente à Central do Brasil. Esse
sargento foi cassado pelo AI-1.
Da
mesma forma, e logo em seguida, no primeiro ou no segundo dia, fui fazer uma
inspeção para receber a carga do material bélico da Bateria e constatei que
faltava muito armamento e munição. Procurei saber onde ele se encontrava.
Procura daqui, procura dali...
- O
armamento está nessa sala, aqui na frente.
-
Mas, com quem está a chave? Onde ela está?
A
chave e a sala eram utilizadas pelo sargento que estava na Central, fazendo
propaganda do Partido Comunista. Mandei, então, arrombar a dependência, retirar
o armamento e a munição que lá estavam e retoná-los à sala de material bélico
da Bateria, local adequado à guarda desse material” (Coronel Carlos Alberto
Brilhante Ustra, Tomo 5, pg. 220).
A vil situação salarial dos militares
Nos anos que antecederam o
Movimento de 1964, os militares tinham vencimentos aviltantes. Assim, muitos
aumentavam seus orçamentos domésticos fora do expediente, trabalhando como
professor, escrevendo para jornais, ou fazendo serviços diversos, como
motorista de táxi. O próprio general Castello Branco escrevia artigos com o
pseudônimo de “Mister X” e “Mister Y”.
Devido a essa penúria
financeira, quando eram transferidos para regiões distantes de suas famílias,
muitos militares viajavam sozinhos, deixando a mulher e filhos com algum
familiar, como pai ou sogro, só voltando de tempos em tempos.
“Em 1952, ele [Castello
Branco] foi promovido a General-de-Brigada pelo Getúlio Vargas, em 1958, a
Divisão, pelo Juscelino e, em 1962, a General-de-Exército, pelo João Goulart.
Na promoção a General-de-Divisão, foi nomeado para o Comando da 8ª. Região
Militar, em Belém, castigo imposto por causa de suas críticas, usando os
codinomes Mister X ou Mister Y, ao episódio em que o Marechal Lott (Henrique
Baptista Duffles Teixeira Lott) foi agraciado com uma espada de ouro.
Na chegada à capital
paraense, ainda no aeroporto, esposas das autoridades do Exército, Marinha e
Aeronáutica, ofertaram à D. Argentina uma espada pequena, de ouro, cravejada de
brilhantes. Mais tarde, depois da morte da esposa – faleceu nos braços de
Arminda – o General Castello deu-a de presente à Arminda. Minha esposa nunca a
usou, mantendo-a guardada” (Coronel Anysio Alves Negrão, Tomo 15, pgl 327).
“Naquela ocasião, a bem da
verdade, todos os integrantes do Exército viviam uma quadra bastante
estressante; muitos companheiros tinham dificuldade para sustentar a própria
família, por isso se dedicavam, além dos estudos da Escola [ECEME], ao
exercício do magistério em vários estabelecimentos de ensino. Outros
trabalhavam como redatores em jornal. Fui convidado para empregar-me como
redator auxiliar no Jornal do Brasil;
não aceitei porque, com família muito grande – tinha cinco filhos – o pouco
tempo de que dispunha seria mais bem aproveitado para cuidar da prole” (Coronel
Gabriel Antônio Duarte Ribeiro, Tomo 6, pg. 78).
“A
deterioração da autoridade do Governo começava a refletir-se nas Forças
Armadas, mais precisamente na guarnição do Rio de Janeiro, então o palco de
maior ressonância no País. Houve, ainda, especulação de que os militares teriam
se engajado com maior ímpeto no movimento revolucionário, viabilizando-o, em
função das péssimas condições salariais que viviam na ocasião. É possível.
Para
dar uma noção do quadro salarial que vivíamos na época, exemplifico com o meu
caso. Era Segundo-Tenente e chefiava 120 funcionários civis. Apenas seis deles
ganhavam menos do que eu. Todos os outros 114 ganhavam mais. E eram
funcionários nível motorista, carpinteiro etc. Só ganhavam menos do que eu os
que não tinham qualquer habilitação. Não sei avaliar o peso dessa situação e
como ela influenciou na decisão dos chefes militares que montaram e deflagraram
a Revolução. Mas é fácil imaginar que era impossível ficar insensível aos
diferentes movimentos que espocavam pelo País, pedindo o fim daquela
conjuntura, daquela vergonha” (General-de-Brigada Álvaro Nereu Klaus Calazans,
Tomo 8, pg. 300-301).
“...
A fila do arroz, a fila do feijão, a fila do açúcar, a falta de energia. Uma
greve por semana. Às vezes, duas ou três, eram as greves de solidariedade. O
quadro era de inépcia e de crescente subversão.
Uma
outra coisa: tenho que falar o que eu vivi. Lembro-me, segundo-tenente, tinha o
meu filho com dois anos, o mais velho, que teve um problema no pé, sendo
obrigado a engessá-lo. Fui ao médico, paguei a consulta e tive que empenhar uma
joia. Entrei na Caixa Econômica Federal e empenhei um anel para pôr um gesso e
pagar uma consulta de um médico. E depois? Não tinha mais dinheiro. Fui ao cabo
enfermeiro do quartel e disse para ele: ‘Ensina-me como fazer’. ‘Tenente, o
senhor vai à farmácia e compre atadura gessada – é barato e o senhor não vai
mais precisar gastar’. Passei a engessar o pé do meu filho, porque não tinha
dinheiro para pagar! Essa era a situação de um tenente paraquedista que ganhava
90% a mais do que os outros. A nossa gratificação era de 90% para saltar de
paraquedas e para ter a coluna lesionada como tenho hoje. Atualmente, a
gratificação caiu para 20%, houve uma deterioração” (General-de-Brigada Durval
Antunes Machado Pereira de Andrade Nery, Tomo 10, pg. 182).
“A
coisa vinha em ebulição. Era 1º. Tenente e ganhava menos do que o salário-mínimo
da época. Quem tinha dado aquele salário-mínimo grande? Tinha sido o João
Goulart. Nós, militares, estávamos sempre sendo amesquinhados. Ticamos
impressionados ao ver a Polícia do Exército tomar conta de um comício contra o
próprio Governo e contra o Exército. Ele, João Goulart, pregando contra ele
mesmo e contra as suas Forças Armadas!” (Coronel João Franco Pontes Filho, Tomo
11, pg. 131).
O medo generalizado dos oficiais, que
desconfiavam dos praças quando tiravam serviço de oficial-de-dia, devido às incitações
de Brizola
O “esquema militar”,
alardeado pelo Chefe da Casa Militar de Jango, general Assis Brasil, de colocar
praças das Forças Armadas contra oficiais, trouxe funestas consequências. A
desconfiança era total. O oficial-de-dia da Unidade não dormia, ficava a noite toda
fazendo ronda, com a arma engatilhada, com medo de ser assassinado enquanto
dormia no seu quarto (Lembrai-vos de 1935!). Os “laranjeiras” também não tinham
sossego. Era um clima de terror, não se sabia em quem confiar.
“ ‘Lisbôa, tome cuidado.
Ainda existem aqui no quartel algumas alamedas sem nome’. Novo na Unidade,
procurei informar-me e fiquei ciente de que as alamedas tinham o nome de
militares mortos em serviço... A partir daí, recordando-me dos ensinamentos de
1935, tirava serviço a cada três dias, mas não me recolhia durante a noite para
o quarto destinado ao oficial-de-dia, localizado no corpo da guarda. Agindo com
mais cautela, passei a andar pelo quartel atento a tudo e, quando exausto,
entrava na boléia de qualquer viatura para dar uma breve ‘cochilada’.
O ambiente era tenso. Os
tenentes passaram a concorrer a outra escala de serviço, a de Comandante de
Pelotão de Choque, devendo estar preparados para serem empregados,
particularmente nas estações da Estrada de Ferro. Algumas vezes desloquei-me
para Deodoro, ocupei a estação com os meus soldados e, pelo menos em duas
ocasiões, deparei-me com a difícil situação de ter que me confrontar com
badernistas que tentavam quebrar os trens. Na missão, quase sempre indefinida
que recebia de meus superiores, apesar de inquirir a respeito, nunca me foi
dada explicitamente a ordem de ‘quando atirar’. A idéia que tinha era de que
estava ali como uma espécie de ‘bucha de canhão’, com a finalidade de permitir
criar uma situação difícil e incômoda, envolvendo o pessoal militar que, na
realidade, atendesse a outros objetivos não claramente explícitos.
(...)
Certa vez fui à 3ª. Bateria
(os mais perigosos estavam reunidos nas 1ª. E 3ª. Baterias) procurar o Tenente
Amorim. Ele era o Diretor do Curso de Formação de Cabos (CFC) e,
intencionalmente, não coordenava a instrução com os tenentes das Baterias.
Certamente, agia assim na tentativa de desestabilizar a Unidade e estava
conseguindo o seu objetivo, pois a instrução de cabo era um verdadeiro caos...
Encontrei-o na reserva dos sargentos recebendo, de um deles, detalhada
orientação sobre ‘ordens’ que deveriam ser seguidas. Perplexo, observei que o
referido tenente estava sendo enquadrado pelo sargento, em flagrante inversão
de todos os valores hierárquicos que conhecia. Compreendi, naquele momento, que
alguma coisa de grave estava para acontecer...” (Coronel José Carlos Lisbôa da
Cunha, Tomo 3, pg. 340).
“Em
1922, fundou-se o Partido Comunista Brasileiro, cujo chefe maior foi Luís
Carlos Prestes. Daí para frente, os comunistas brasileiros, orientados pela III
Internacional Comunista – Komintern – e apoiados por Moscou, começaram a
articular um movimento para implantar no Brasil o regime comunista. Este
movimento se desencadeou em novembro de 1935, começando em Natal-RN, com a
deposição e prisão de autoridades, com assaltos, sequestros, estupros e todo
tipo de violência. Estendeu-se para o Recife, onde houve confrontos e mortes
entre as forças da ordem e bandos comunistas armados. Tornou-se mais grave no
Rio de Janeiro. Na noite de 27 de novembro de 1935, foram atacados vários
quartéis e mortos 28 militares, enquanto dormiam em seus alojamentos. O mais
brutal desses ataques ocorreu no 3º. RI, na Praia Vermelha. Essa Intentona
Comunista de 1935, por suas características de traição e perversidade,
traumatizou a alma brasileira e vacinou o nosso militar contra essa ideologia
malsã. Foi, portanto, um marco deplorável na vida nacional e o antecedente
preponderante da Revolução de 1964” (General-de-Brigada Manoel Theóphilo Gaspar
de Oliveira Neto, Tomo 4, pg. 94).
“De
um modo geral, nos quartéis, existia sempre uma minoria muito atuante, cooptada
para implantar uma espécie de um processo de insubordinação. Havia um ambiente
de muita insegurança e, pior, de desconfiança, uma coisa que nunca vira
anteriormente. Havia uma desconfiança um do outro. Ninguém sabia quem era quem
ali, ou seja, quem era a quinta-coluna, que ali estava para gerar a
indisciplina. O quadro fazia-nos lembrar a Intentona de 1935, na qual os
comunistas, obcecados pela sua ideologia descabida, mataram seus colegas
dormindo. O postulado que eles obedecem cegamente é aquele que volto a
salientar – os fins justificam os meios” (Coronel Audir Santos Maciel, Tomo 11,
pg. 147).
FAKE NEWS? TAMBÉM TINHA, COM A RÁDIO MAYRINK
VEIGA, PORTA-VOZ DE BRIZOLA
Malas
de dinheiro, já havia naquela época...
“Agora me lembrei de um
pequeno episódio. O Brizola conhecia bem o poder da mídia, ele prestava muita
atenção a esse lado. Veio para o Rio trazendo uma mala de dinheiro, porque ele
não assinava cheque, cuja origem naturalmente não era possível traçar, e
comprou a Rádio Mayrink Veiga.
Essa rádio falava bem do
Jango e mal dos militares. Lá no Sul, ele tinha a Rádio Farroupilha, uma outra
estação, com a mesma finalidade, assim como em vários outros pontos do Brasil
ele tinha estações de radiodifusão. Vivia fazendo propaganda a favor do
comunismo.
O Lacerda, antes de o
Brizola ser o dono, tinha conseguido umas horas na Rádio Mayrink Veiga. Um dia
o Lacerda ia saindo da Rádio, quando foi interceptado por dois ou três capangas
do Mendes de Moraes, que lhe deram uma surra, a primeira surra da vida dele, na
calçada da Mayrink Veiga” (Coronel-Aviador Gustavo Eugenio de Oliveira Borges,
Tomo 10, pg. 301).
“Dia 31 começamos a ouvir,
tarde da noite, notícias sobre a movimentação conduzida pelo Mourão que, como
se sabe, saiu intempestivamente. O próprio Castello ainda tentou fazer com que
ele voltasse – já não dava – quando, então, o Magalhães Pinto decidiu o início do
processo revolucionário. Não tínhamos informação segura, era tudo precário
demais. Comunicação quase nenhuma, ouvir o rádio, uma dificuldade enorme.
Escutava-se a rádio Mayrink Veiga, noticiando que o Castello estava preso e
outras coisas mais, um monte de inverdades. Mas eu tinha uma ligação com São
Paulo com São Paulo, através de radioamador. Eu era radioamador. Tínhamos um
grupo clandestino com o Coronel Sebastião.
Dia 31, à noite, passamos em
prontidão rigorosa [26º. BC, Belém]. Os oficiais – todos os oficiais menos dois
– eram partidários de um movimento, que nós chamávamos de ‘vamos almoça-los,
antes que nos jantem’. Essa era a expressão. Os adversários estavam prontos
para dar um golpe e nós queríamos nos antecipar. Esse era o ambiente que dominava:
somente dois oficiais do Estado-maior faziam restrições, não chegando a serem
contra” (Senador Jarbas Gonçalves Passarinho, Tomo 5, pg. 65-66).
“Esse homem, Francisco Julião, inclusive
foi eleito deputado federal, aproveitou a situação existente e veio a criar,
naquela região, as ‘Ligas Camponesas’, espécie de quistos, perigosos e difíceis
de controlar. O Governo do Estado de então, Miguel Arraes, estava de acordo com
isso tudo e, também, o Professor Paulo Freire, organizador de uma cartilha que
ensinava a ler assim: ‘Letra ‘f’ – ‘f’ de fome. O Brasil tem fome” (General-de-Brigada
Ruy Leal Campello, Tomo III, pg. 60).
“As
Ligas Camponesas foram criadas em 1958 por Francisco Julião. Até 1961, a
proposta ressaltada por Julião era decididamente correta, pois recomendava a
utilização de instrumentos legais para reivindicar, organizar e atribuía papel
privilegiado aos advogados. Em 1961, já existiam federações das Ligas em dez
Estados e foi fundado o Conselho Nacional das Ligas Camponesas, com
representação em 13 estados. Mas, nesse ano, Julião visita Cuba e de lá retorna
com o pensamento impregnado pelas ideias locais. Abandona a orientação seguida
até então e passa a pregar uma concepção socialista coletivizante de reforma
agrária, passando as Ligas a representarem os focos de atração do movimento
camponês. Julião se manifesta, nacionalmente, através das Ligas e, em 1963,
procura ampliar a ação das mesmas criando o Movimento Unificado da Revolução
Brasileira (MURB), que englobaria, numa frente única, os setores radicais da
subversão. Embora Julião mantivesse estreitas ligações com o PCB, o seu
movimento inspirava-se nas ideias da China Popular e de Cuba. Já em 1962, no
dia 21 de abril, lançava, em Ouro Preto, o Movimento Revolucionário Tiradentes
(MRT) e pregava a reforma agrária, ‘na lei ou na marra’. Comprou fazendas e
nelas instalou campos de treinamento de guerrilhas. Essa maneira de agir veio
enfraquecer o movimento das Ligas. O MURB contava com o apoio de elementos
treinados em Cuba, na União Soviética e na República Popular da China e poderia
ter-se transformado em executor de uma ação armada de guerrilha rural de vulto,
não fora o Movimento de 1964.
Em
outubro de 1961, foi lançada, em Goiânia, a Frente de Libertação Nacional, sob
a liderança dos governadores estaduais Leonel Brizola, Mauro Borges e Miguel
Arraes, e de Francisco Julião; Barbosa Lima Sobrinho, Bento Gonçalves e várias
outras pessoas, escolhidas para mascarar a nítida orientação comunista, estavam
presentes. A Frente era uma tentativa de
formação de uma frente única, de caráter amplo, inspirada no nacionalismo e
fundamentada nos motivos de emancipação econômica do País. Ressurgia, assim,
até com semelhança no nome, a Frente Democrática de Libertação Nacional,
lançada por Prestes em 1950, por intermédio do Manifesto de Agosto, coo é
conhecido. A Frente não era inteiramente ligada ao PCB, porque nela
predominavam as tendências chinesa e cubana” (General-de-Exército Sebastião
José Ramos de Castro, Tomo 1, pg. 120-121).
“Francisco
Julião esteve em Cuba, fez curso de guerrilha rural, e todos nós sabíamos
disso. Peguei essa fase em 1961, 1962, aqui em Pernambuco, quando aconteceu
aquela greve geral dos estudantes secundaristas, em 1961, e o Governo Federal
mobilizou tropas do Exército.
Do Rio
de Janeiro veio a tropa paraquedista, veio tropa da Marinha, e tropa da Paraíba...
A
greve geral foi estimulada por quem? Pelos ativistas comunistas e teve todo o
apoio do Governo do Estado, que não mobilizou a Polícia para reprimi-la. O
Exército é que foi para a rua acabar com a greve” (Coronel Clidenor de Moura
Lima, Tomo 6, pg. 116).
“As
ligas camponesas, aqui no Nordeste, particularmente na Paraíba e em Pernambuco,
faziam, talvez, pior do que o MST de hoje, porque ameaçavam diretamente com
invasões armadas e apregoavam o apoio
que recebiam de Cuba. Sabíamos que era real, não era sonho, porque tínhamos
informações e conhecíamos perfeitamente o mecanismo que usavam. Isso nos
preocupava profundamente, a tal ponto de o comandante da Base Aérea – o Coronel
Hipólito, que também participava dessas reuniões – querer derrubar o avião do
Jango, aproveitando-se de uma viagem dele para apoiar as ‘Ligas Camponesas’, na
Paraíba. Mais calmos, o comandante do 23º. BC, eu e o Dr. Armando Falcão
convencemo-l0 de que aquilo era inoportuno, já que o Sr. João Goulart, depois,
seria endeusado” (Tenente-Coronel Idalécio Nogueira Diógenes, Tomo 4, pg. 179).
“Muito
superficialmente, as Ligas Camponesas foram herdeiras naturais das primeiras
tentativas feitas no campo para mostrar força e poder, pressionando os órgãos
do Governo que tratavam do setor de terras. Lembro-me de que começaram no
Estado do Rio de Janeiro. A Fábrica Nacional de Motores (FNM) foi invadida sob
o comando do falso Padre Aníbal. No campo agrário propriamente considerado,
foram frequentes os distúrbios e invasões chefiados pelo Deputado Francisco
Julião. Realizaram marchas sobre engenhos e fazendas, especialmente no
Nordeste. O primeiro nome das Ligas foi Bloco Operário Camponês. Invasões
semelhantes foram levadas a cabo, também, no Rio Grande do Sul.; depois,
realizou-se em Goiânia, o Congresso dos Camponeses Sem Terra para estabelecer
os objetivos do Movimento.
Quanto
ao ‘grupo dos onze’, sob liderança de Leonel Brizola, jamais chegou a tornar
público os estatutos desta organização. Todas as sextas-feiras, utilizando o
rádio, apresentava ideias sobre os grupos que chamava de Comandos Nacionalistas
ou ‘grupo dos onze’. Deixava transparecer que a eles caberiam tipos específicos
de missão: uma ofensiva, em qualquer caso de golpe, fosse qual fosse sua
origem. Se eles fossem dar um golpe, poderiam contar com a participação desses
grupos, como também nas medidas preliminares de defesa.
Em
30 de novembro de 1963, afirmou Brizola: ‘Estes grupos não estão sendo
organizados para fazer crochê, jogar cartas ou tomar chá. Estão sendo
organizados para a ação’. Mas era voz corrente que o mais importante dessas
ações seria a neutralização por ou mesmo a destruição dos chefes militares. O
grosso desses grupos era constituído por comunistas militantes ou por
simpatizantes das três Forças Armadas, principalmente, graduados e soldados”
(Coronel Hernani D’Aguiar, Tomo 9, pg. 175-176).
“Tanto
as ‘Ligas Camponesas’ de Francisco Julião, que agiam no Nordeste,
particularmente em Pernambuco, com a tolerância do Governador Miguel Arraes,
quanto os ‘grupos dos onze’, cuja formação, em todo o País, era fomentada pelo
Governador do Rio Grande do Sul, Leonel Brizola, para agirem como uma milícia
paramilitar, estavam no contexto da preparação da tomada do Poder e implantação
no Brasil de uma República Popular Sindical.
Além
desses, podemos citar:
O
Movimento Cultural Popular (MCP), organizado em Pernambuco por Gregório
Bezerra, notório comunista, egresso de 1935, com o objetivo de conscientizar os
estudantes com relação aos jargões comunistas; o Comando Geral dos
Trabalhadores (CGT), braço sindical a serviço de Jango, como arma para a
implantação da tal república sindicalista” (General-de-Exército Carlos Tinoco
Ribeiro Gomes, Tomo 10, pg. 33).
“Posso
dizer que as ‘Ligas Camponesas’ e os ‘grupos dos onze’, na verdade, foram
blefes. Eram usados pela imprensa, faziam estardalhaço, mas sentir a
existência... e a ação... Não houve nenhuma, absolutamente. Apenas no interior
de Goiás foram apreendidos uns caixotes com armas que eram destinadas ao ‘grupo
dos onze’, mas o pessoal fugiu e nunca mais apareceu. Havia um oficial amigo do
Jango, Coronel Seixas, responsável pela repressão, e que, ao invés de mandar
aquelas armas para o Exército, enviou para a Presidência da República. As armas
tinham vindo de Cuba” Coronel Renato Brilhante Ustra, Tomo 5, pg. 256).
“A
partir desses quatro ou cinco dias após o 31 de março, começaram a ocorrer aqui
alguns inquéritos. Prenderam muitas pessoas envolvidas com terrorismo, outras
com guerrilhas e corrupção. Trabalhei num inquérito do Banco do Brasil. Também
participei, nesse período, até o final do ano, da prisão do Francisco Julião.
Muito inteligente, nunca tentou esconder nada, sempre se confessou esquerdista,
comunista convicto, e que não iria mudar a posição dele. Era uma conversa muito
interessante. Durante um serviço que tirei no Batalhão, Como oficial de dia,
solicitou a Bíblia, porque não tivera tido oportunidade, na vida, de ler o
Livro Sagrado” (Coronel Carlos Fernando Freitas Almeida, Tomo 5, pg. 293).
“Existia
um médico comunista em Goiânia que reuniu um pessoal das ‘Ligas Camponesas’ e
começou a marcar as portas e janelas das casas daqueles que concordavam com a
Revolução e não eram a favor do comunismo. Isso aconteceu antes e nos primeiros
momentos após o 31 de Março; esse pessoal, dizia-se na cidade de Goiânia, seria
fuzilado!” (Coronel Gabriel Antônio Duarte Ribeiro, Tomo 6, pg. 82).
“Na
Paraíba, o Governador Pedro Gondim não era de confiança dos militares, em
virtude de suas atitudes populistas; os integrantes das Ligas Camponesas faziam
passeatas armados de foices, principalmente nas cidades próximas das usinas (de
açúcar); os portuários, também, em Cabedelo, faziam comícios agressivos,
procuravam o apoio das Ligas do Francisco Julião.
Se
um militar chegasse fardado na região portuária de Cabedelo, eles mostravam seu
desapreço, eram acintosos.
(...)
Antes
da Revolução de Março de 1964, houve casos de invasão de usinas. Em Goiana, PE,
redundou na morte de empregados e policiais, assassinados pelos camponeses
revoltados.
A
cidade de Cabedelo, PB, foi invadida por camponeses armados que ocuparam até
prédios públicos, como a prefeitura; o povo se escondeu daquela massa, isso a
cerca de 18 km de João Pessoa” (Coronel Expedito Bandeira de Araújo, Tomo 6,
pg. 154-155).
“O
senhor tem conhecimento de alguma atividade que estaria prevista par o dia 1º.
de maio de 1964?
Aqui
em Recife, um desfile das célebres ‘Ligas Camponesas’ e de trabalhadores
rurais. Já existia até uniforme: um macacão, faltando apenas um bordado que
seria colocado na lapela, estampando a foice e o martelo. Estive com esse
uniforme em minhas mãos.
Como
chegou às suas mãos?
Por
ser intendente, conhecia o pessoal que fabricou o macacão. Não me lembro do
nome da firma, da confecção que os fez, mas localizava-se na Rua da Matriz; não
sei se apenas ela” (Coronel Clycio D’Azevedo, Tomo 6, pg. 145).
“Os
fatores internos começaram muito antes de 1964. Já em 1961 o manual de
guerrilha do Che Guevara era distribuído no Brasil pelo Partido Comunista
Brasileiro (PCB) e no Nordeste foram implantadas as ‘Ligas Camponesas’. Tudo
uma repercussão ou consequência interna de um fator externo, a guerra fria
grassava no mundo da época. A União Soviética e todos os seus satélites –
Alemanha Oriental, Checoslováquia, Cuba etc. exportavam revoluções para os países
do Terceiro Mundo. Dissidentes apenas sobre os métodos a serem adotados, também
a China e seus aliados buscavam a tomada do Poder e a implantação do
socialismo, em escala mundial, através de movimentos revolucionários”
(General-de-Brigada Daniel Lomando Andrade, Tomo 8, pg. 235).
“Para
se ter uma ideia da situação antes do Movimento Democrático, as ‘Ligas
Camponesas’, chefiadas por Francisco Julião, invadiam fazendas, desrespeitando
o direito de propriedade. O presidente da Superintendência da Reforma Agrária
(SUPRA), João Pinheiro Neto, pregava as invasões de terras, a violação do
direito de propriedade, incêndio de lavouras, matança de gado, enfim a quebra
do setor produtivo agrícola. Numa dessas pregações, em Curvelo, o povo da
cidade o expulsou a tiros para fora de Minas” (Doutor Carlos Eduardo Guimarães
Lousada, Tomo 7, pg. 348).
“As
‘Ligas Camponesas’ nada mais foram do que uma instrumentalização feita em
homens bons, em homens que estão precisando de ajuda ainda hoje. Sou
nordestino, não tenho nada que ser contemporizador com a mentalidade dominante
de certa camada do Nordeste, que conheço muito bem, que sufoca, que priva da
dignidade o ser humano. Mas não é reduzir isso somente para o usineiro. Não é
só o usineiro, somos todos nós.
Então,
resumiria assim: esse absurdo de não ter havido – não chamo a reforma agrária –
o desenvolvimento agrário no Brasil, capaz de solucionar o problema das
demandas dessa gente, que precisa de terra ainda hoje. E isso foi, entre outras
bandeiras sociais, assumido pelo senhor Francisco Julião, que as transformou
através de cartilhas que foram apreendidas – e eu li algumas delas, em
instrumento da subversão comunista, no campo. Então, ninguém precisa me ensinar
essas coisas. Cartilhas ensinando a violência e armamento foram apreendidos nos
aparelhos das ‘Ligas Camponesas’. Em Minas Gerais, em 1962, foi apreendido um ônibus da
Faculdade de Arquitetura da Universidade de Minas Gerais que estava se
deslocando lá para o Nordeste com um carregamento de armas.
(...)
No
seu discurso de posse, ele [Castello Branco] foi até o Estatuto da Terra, que
ainda hoje é o melhor documento que existe no Brasil sobre isso. Pois bem,
aonde existia a possibilidade de compatibilizar este objetivo a ser atingido –
não digo nem ideal – com a reforma agrária na marra, na violência, na
usurpação, na loucura, na cegueira, no fanatismo, inspirado no exemplo de Cuba,
que muito encantava os nossos líderes socialistas? Essas ‘Ligas Camponesas’
nada mais eram do que braços políticos que estavam sendo transformados em
braços armados da guerrilha rural” (Coronel Francimá de Luna Máximo, Tomo 11,
pg. 222-223).
“Entendo
bastante do ‘grupo dos onze’ porque fui designado para fazer um IPM (Inquérito
Policial Militar) desses grupos. Sobre as ‘Ligas Camponesas’, sei que elas
foram criadas e eram chefiadas pelo Francisco Julião, mas elas cresceram mais
no Nordeste e pretendiam, sob orientação cubana, fazer a reforma agrária ‘na
marra’, como eles diziam. (...)
Quanto
ao ‘grupo dos onze’, disse que fui designado para fazer o IPM. Era a milícia
‘brizolista’. Com ela, o Brizola pretendia se opor às Forças Armadas em apoio
ao ‘cunhado-presidente’ e depois em benefício próprio, porque ele já teria,
naquela época, pretensões de chegar ao Palácio do Planalto. Eles assumiram a Rádio
Mayrink Veiga, que era uma estação do Rio de Janeiro, de certo renome, e ali
instalaram o seu quartel-general. O seu chefe de estado-maior na rádio era um
cidadão chamado Paulo Shilling, cuja filha, extremista de esquerda, foi presa e
não sei se desapareceu ou não no Uruguai, onde andou exercendo atividades
terroristas. O ‘grupo dos onze’ se propôs a criar uma milícia à imagem de uma
equipe de futebol – onze jogadores – pois achavam que aquilo tinha um
chamamento místico sobre a população: futebol, onze jogadores, onze
integrantes. Na noite da Revolução – noite de 31 de março – eles tentaram
convocar a sua milícia, mas não conseguiram” (General-de-Brigada Celso dos
Santos Meyer, Tomo 10, pg. 133).
“O
‘grupo dos onze’ era uma espécie de formação de guerrilheiros: eram grupos
pequenos, armados, com 11 integrantes, efetivo de um grupo de combate, para
proteger o Brizola. Isso era coisa do Brizola. Dias antes da Revolução, ele
publicou num tabloide de Porto Alegre – e nós tínhamos lá em São Paulo um
exemplar – um artigo concitando os sargentos a matarem os oficiais e a
assumirem os comandos.
Esse
homem ia para a Rádio Mayrink Veiga com aquela mala de dinheiro na mão – ele
não pagava com cheque não, era mal de dinheiro – para pagar as horas em que
ficava pregando a subversão” (General-de-Brigada Augusto Cid de Camargo Osório,
tomo 14, pg. 124).
“Os seguintes fatos demonstraram essa
realidade: aceleração do processo de sindicalização do País; tentativas de
cisões no seio das Forças Armadas; criação das ‘Ligas Camponesas’ e dos ‘grupos
dos onze’; distribuição velada de armamento no meio operário.
Em Juiz de Fora, numa ocasião, foi visto
uma viatura passar cheia de metralhadoras para os operários da época, ali na
minha cidade, nas nossas barbas, porque eu estava em Juiz de Fora.
E também, manifestações culturais,
induzindo à revolta popular. Exemplo foi a encenação de uma peça teatral
chamada ‘Cristo Total’, onde eles mostravam que Cristo encarnava o povo que
estava sendo agredido, morrendo na cruz, com o intuito de levar o nosso povo a
se revoltar, como se o povo do Brasil fosse o Cristo. Queriam que o povo se
rebelasse e adotasse o regime comunista que ia libertá-lo. Isso é o que eles
queriam. Quem não viu isso é porque não quis ver ou porque não interessava
ver!” (Coronel Reynaldo de Biasi Silva Rocha, Tomo 3, pg. 320).
“... quando o Jango estava em Porto
Alegre fugindo para o Uruguai, ele se encontrou com o Brizola e com o
comandante do III Exército, e o Brizola começou a preconizar a resistência:
‘Temos que resistir, vou ser o Ministro da Justiça e ‘fulano de tal’ Ministro
da Guerra. O General Ladário, que estava lá, era adepto daquilo. Está tudo aqui
no livro...
O Brizola diz textualmente que eles
tinham que reagir e que diante da ponderação de um dos generais que estava
presente, de que a maioria dos oficiais estava contra Jango e, portanto, querendo
aderir à Revolução, ele disse: ‘Não tem problema, tenho um sargento ao lado de cada oficial
e esse sargento está instruído para matar o oficial e assumir o comando,
assumir a posição dele” (Coronel-Aviador
Gustavo Eugenio de Oliveira Borges, Tomo 10, pg. 290).
“Mas, antes de prosseguir enfocando esse
Movimento, que salvou o Brasil e seu povo de uma verdadeira catástrofe,
impõe-se caracterizar a índole perversa da mais perigosa entidade atuante no
meio comuno-janguista, que eram os ‘grupos dos onze’, criados por Leonel
Brizola (naquela época, estimava-se em cerca de 1.300 grupos). Um documento de
cinco a seis folhas, apreendido pelo Exército logo após a Revolução, na célula
comunista de Niterói, dedica um capítulo ao papel dos ‘grupos dos onze’ na guarda
e julgamento de prisioneiros. Por oportuno, dele transcrevo o que se segue:
‘Devemos instruir os grupos dos onze companheiros para missões
especiais de prisão, guarda e julgamento sumário de prisioneiros de guerra. Os
reféns deverão ser sumária e imediatamente fuzilados, a fim de que não
denunciem os seus aprisionadores e não lutem posteriormente para sua
condenação. Os grupos dos onze serão como foi a guarda vermelha da Revolução
Socialista de 1917, na União Soviética, da qual seguirão o vitorioso exemplo’ ” (Coronel Luciano Moreira de Souza, Tomo
4, pg. 123).
Adendo:
(não consta da “História Oral do
Exército/1964”)
Guerrilha de Dianápolis, Goiás
“De
todos os núcleos das Ligas, o mais importante, o mais expressivo e o de maior
efetivo foi o de Sapé, na Paraíba. Esse núcleo congregaria 10.000 membros.
Em
1960 e 1961, as Ligas organizaram comitês regionais em 10 Estados e criaram o
jornal A Liga, porta-voz do
movimento, que circulava entre seus militantes. Também nesse ano tentou criar
um partido político chamado Movimento Revolucionário Tiradentes – MRT
(Movimento que atuou na luta armada, no período pré e pós-revolucionário de
1964).
No
plano nacional, Francisco Julião reuniu, em torno das Ligas, estudantes,
idealistas, visionários e alguns intelectuais, como Clodomir dos Santos Morais,
advogado, deputado, militante comunista e um dos organizadores de um malogrado
movimento de guerrilha em Dianápolis/Goiás em 1962” (“A Verdade Sufocada”, pg. 69).
“Em
04;12;1962, o jornal O Estado de S. Paulo
noticiou a existência de áreas de guerrilha e anunciou a prisão de membros das
Ligas Camponesas, em Dianápolis, no interior de Goiás, hoje Tocantins.
No
local foram apreendidos retratos e textos de Fidel Castro, bandeiras cubanas,
manuais de instrução de combate, planos de sabotagem e armas, além da
contabilidade da ajuda financeira enviada por Cuba e dos planos das Ligas
Camponesas em outros Estados do País. O responsável por esse centro de
treinamento guerrilheiro era Carlos Montarroyo. Vinte e quatro militantes foram
presos. Também foram decretadas as prisões de Clodomir dos Santos Morais,
Tarzan de Castro e Amaro Luiz de Carvalho.
João
Goulart era presidente do País, o que prova que essas guerrilhas foram
iniciadas antes da Contrarrevolução de 1964, portanto a motivação do movimento
guerrilheiro não era a luta contra nenhuma ditadura” (“A Verdade Sufocada”, pg.
138-139).
F.
Maier
Brizola,
o carbonário
“O Brizola foi o primeiro
político brasileiro que entrou em ligação com Fidel Castro e mandou gente fazer
curso em Cuba. Inclusive esse Diógenes que andou se complicando há pouco tempo
em uma Comissão Parlamentar de Inquérito. O atual Vice-Governador do Rio Grande, Miguel Rosseto, também
andou por lá e é coronel honorário do exército cubano. Estes dois
são das primeiras turmas encaminhadas a Cuba pelo Brizola. Como Governador e
Deputado, o Brizola colocou as manguinhas de fora e os cubanos circulavam por
aqui. Sabíamos da presença em Porto Alegre de três cubanos. Fui um dos que
saíram para a rua e andavam à cata de agitadores estrangeiros que circulavam
por aqui. Além do mais, o Brizola agitava o País com seus célebres discursos
das sextas-feiras, uma pura ameaça à sociedade organizada. Foram criados os
‘grupos dos onze’, o Brasil estava cheio deles. Estimávamos que existiam cerca
de cinco mil Grupos, um efetivo de quase sessenta mil homens. E quem fazia o
proselitismo e os unia em termos nacionais era a Rádio Mayrink Veiga.
Sintonizávamos aquela emissora à noite e ouvíamos:
- Alô, alô Santo Ângelo,
comando revolucionário número trinta e quatro, alô doutor Fulano...
A mensagem para o
correligionário informava o número do grupo, a sua localização e convocava os
responsáveis para a transmissão de ordens ou transmitia alguma instrução. Isso
era feito o dia inteiro. Belo exemplo de sigilo nas operações...
(...)
Aqui no Estado, onde houve a
maior resistência à Revolução? [entrevistador]
Creio que foi aqui mesmo em Porto
Alegre. O Brizola fez um discurso na Praça da Prefeitura em que instigou os
sargentos a arrancarem os olhos dos oficiais com os dedos. Imaginem a reação!
Isso ninguém me contou, eu fui lá para ver e ouvir. Acho até que o Gusmão
estava comigo. Éramos dois ou três oficiais assistindo ao comício. Ele falou
claramente que os oficiais eram golpistas e que os sargentos não deviam cumprir
as ordens dos gorilas.
-
Ataquem, ataquem esta gente e arranquem os olhos deles
nem que seja com os dedos.
Ele disse isso. A
resistência era coordenada por ele que dispunha de um staff – inclusive já
citei o nome de alguns dos integrantes desse grupo – para lhe municiar das
informações necessárias” (General-de-Brigada Léo Guedes Etchegoyen, Tomo 8, pg.
178-179).
“Sobre aquele discurso [de
Leonel Brizola] não me falaram, eu mesmo o ouvi em uma emissora comercial. A
rede-rádio da 2ª. DC nos ligava com todas as Unidades. A 3ª. Seção sintonizou
nossa rede na emissora que transmitia a agressão verbal do agitador. Através
dessa escuta ouvíamos e transmitíamos o Brizola vociferar:
-
Fuzilem os oficiais! Matem esses gorilas!
Ele estava aqui em Porto
Alegre e bem que tentou conter a Revolução mas não conseguiu. Fugiu de avião,
dizem que travestido de padre!” (General-de-Brigada Léo Guedes Etchegoyen, Tomo
8, pg. 206).
“Ficava, portanto, no rádio,
acompanhando a tal cadeia da legalidade, com o Brizola insuflando: ‘Passa a mão
nesses gorilas, mata, agora vai correr sangue’, aquele jeito dele de falar,
instigando a Nação contra o movimento revolucionário que eclodira. O
Tenente-Coronel Raposo me disse: ‘Coloca isso no alto-falante para todo mundo
do quartel ouvir’. O nosso quartel era do lado do 8º. BC, e, à noite, aquele
silêncio, todo mundo ouviu tanto no Grupo de Artilharia, como no Regimento de
Cavalaria, o Brizola dizendo: ‘Matem os oficiais, passem fogo neles, ainda não correu
sangue’, o que trouxe uma revolta geral dentro dos quartéis diante
daquelas palavras insanas de ordem. O tiro saiu pela culatra. Até o povo nas
ruas ficou indignado com aquele tipo de mensagem voltado para a completa quebra
da hierarquia e da disciplina, uma mensagem diabólica, do líder daqueles que
queriam instalar, em nosso País, uma ‘república sindicalista’, tão falada
naquele Comício da Central do Brasil, no dia 13 de março” (Tenente-Coronel
Carlos Claudio Miguez Suarez, Tomo 9, pg. 384-385).
Obs.:
Um pouco sobre a carreira política do
carbonário Leonel Brizola pode ser visto em “Brizola, o Último dos Maragatos” -
http://felixmaier1950.blogspot.com/2020/07/brizola-o-ultimo-dos-maragatos-por.html
Sobre
os “Grupos dos Onze”, veja “Documentos Revelados”, do ex-guerrilheiro e amigo
de Lamarca, Aluizio Palmar – link http://www.documentosrevelados.com.br/repressao/grupo-dos-onze-companheiros-movimento-liderado-por-brizola-para-barrar-o-golpe-e-avancar-com-as-reformas-parte-3/ .
F. Maier
A
Aliança para o Progresso
“A crise continuava, e
deu-se em 1962 o meu segundo ‘entrevero’ com o ex-Governador Brizola.
O Embaixador Lincoln Gordon,
americano, ia ao Recife e a Natal, a fim de inaugurar umas tantas obras que
tinham sido feitas em cooperação com as autoridades americanas.
Estava eu numa reunião, que
não me lembro qual, com o Governador Aluízio e ele me disse:
- General Muricy, vamos ter
aborrecimento.
- Por quê?
- Porque o Prefeito Djalma
Maranhão disse que não vai tomar conhecimento da vinda do Embaixador americano.
- Mas como? Ele é o dono da
casa, e o Embaixador é o representante de uma potência, de uma nação amiga,
como é que ele não toma conhecimento?
- Não, ele disse nenhuma;
que eu é que me virasse.
- Bem, vamos nos preparar
para os aborrecimentos que vêm – respondi.
Foi quando o Governador
resolveu desmoralizar o Djalma Maranhão e publicou no jornal A Tribuna, de Natal, um retrato dele,
Djalma Maranhão, pedindo dinheiro à ‘Aliança para o Progresso’, que era uma
instituição americana. Natal inteiro riu do Djalma Maranhão: ‘Então esse é o
homem que ataca os americanos e vai lá para pedir dinheiro? Que moral tem ele?’
O Djalma Maranhão ficou sem
saber o que fazer e pediu socorro aqui no rio para as ligações dele, e quem foi
lá para apoiá-lo foi Leonel Brizola, então Deputado e já agitando o Brasil, na
preparação do ‘grupo dos onze’ e seu movimento revolucionário reformista, que
não era comunista, mas de agitação revolucionária populista; mas cooperava para
criar o ambiente para a guerra revolucionária comunista.
O Deputado foi a Natal no
dia exatamente em que o Embaixador americano fazia a visita protocolar. (...)
(...)
No dia seguinte, depois de
levar o Embaixador ao aeroporto, fui para o Quartel-General, ouvi a gravação do
discurso que o Brizola havia feito na véspera. O discurso era francamente
subversivo. Entre as coisas que ele disse, lembro-me do seguinte: ‘É preciso
deixar estourar esta panela de pressão para que possamos fazer alguma coisa
pelo povo brasileiro. É preciso...’ e por aí afora. Brizola pregou um
‘movimento revolucionário’ naquela noite em plena praça pública. Esta gravação
deve estar ainda lá em Natal, se não jogaram fora.
A seguir, houve a
manifestação de apoio a minha pessoa. Recebi oficiais do Exército, da Marinha e
da Polícia Militar (o Governador me apoiou completamente e, depois, mandou
imprimir a conferência que eu tinha feito sobre a guerra revolucionária). E eu
fiz o meu pronunciamento, aceitando a manifestação de desagravo que teve larga
repercussão.
Por coincidência, estava em
Natal o jornalista do Correio da Manhã,
Fernando Luiz Cascudo, filho do meu velho amigo Câmara Cascudo. E o Fernando
pegou minha documentação, mandou para o Rio e, no mesmo dia, foi publicado em
todos os jornais daqui (lembro-me que O
Globo colocou como manchete a frase: ‘Basta de agitação!’, que era um
trecho do que eu tinha dito). Essa minha resposta a Brizola encontra-se
impressa, por iniciativa do General Antonio Jorge Corrêa numa Coletânea de
escritos sob o título: ‘Palavras de um Soldado’, editado pelo Ministério do
Exército.
(...)
Ainda em Natal, outro
episódio.
Estava um dia no
Quartel-General, quando me avisaram: ‘O Deputado Sargento Garcia vem a Natal.’
São coisas do passado. Quem era o Deputado Sargento Garcia? Era um sargento que
tinha sido eleito deputado federal e que corria o Brasil pregando a subversão
contra os oficiais para, dentro do princípio da guerra revolucionária,
dissolver ou tentar fazer com que as Forças Armadas perdessem substância.
No dia marcado, lá estava
ele, que tinha ido pregar a união dos sargentos. Precisavam ‘se unir’, para
enfrentar a ‘autocracia’ dos oficiais etc. No dia seguinte, estava eu no QG
quando entrou o Dr. Aluízio Alves: ‘General Muricy, ontem foi ao Palácio o
Deputado Sargento Garcia e ele, julgando que eu era de sua corrente de opinião,
abriu-se e disse que estão preparando a subversão e que já há postes escolhidos para pendurar os
Chefes que a ela se opuserem; inclusive o senhor, já tem poste escolhido’.
Isto é para os senhores sentirem o ambiente daquela época”
(Generall-de-Exército Antonio Carlos da Silva Muricy, Tomo 14, pg. 31-34).
Obs.
Além
da Aliança para o Progresso (https://felixmaier1950.blogspot.com/2020/06/em-1961-jfk-cria-alianca-para-o_17.html), os EUA mantinham um apoio às
cooperativas canavieiras do Nordeste, por meio da The Cooperative League of the USA (CLUSA) - Cfr. https://felixmaier1950.blogspot.com/2020/06/the-cooperative-league-of-usa-clusa-e-o.html.
F.
Maier
“Capacete
Verde”, chefe do “Grupo dos Onze” em Xerém, RJ - Companhia paraquedista foi
usada como tropa pretoriana
Ainda em 1961, na Brigada
Paraquedista:
“Meu comandante de Companhia
me chama às 7h da manhã, início de uma jornada, ainda, na Companhia de
Petrechos Pesados, da qual eu era o subcomandante. ‘Nery, nós temos uma missão,
agora, muito importante – prontidão’. Perguntei-lhe: ‘O que é?’ O problema era
com um ‘grupo dos onze’, lembra – grupos com formação guerrilheira. Um ‘grupo
dos onze’ estava atuando em Xerém, aqui no Estado do Rio de Janeiro, invadindo
terras nos moldes das ‘Ligas Camponesas’. Tinha um comandante que era chamado
pelo codinome de ‘Capacete Verde’. Não sei o nome do indivíduo, muito em
evidência na imprensa na época. Em Xerém, aqui! ‘Ele está criando problemas e
nós vamos com a Companhia. A ordem foi do capitão’. Vamos eliminar este ‘grupo
dos onze’. A missão é do General Santa Rosa. ‘Está bem. A gente cumpre – missão
não se discute’. A missão veio do comandante. Partimos. Eu com a companhia.
Primeira surpresa: Ocupamos umas cinco viaturas, todos armados. Eu, ao lado do
motorista, na ‘boleia’ da viatura, e o capitão, no jipe, puxando o comboio pela
Avenida Brasil. Assim, fomos na direção de Xerém. Num dado momento, ele entrou
ao lado do caminhão e fez um sinal para que eu prosseguisse. ‘Cumpra a missão.
Vou aparecer depois – não espere por mim’. Entendi, prontamente – estava
sozinho e, assim, iria cumprir a missão.
Chegamos em Xerém no ponto
exato previsto na carta. Tínhamos feito um estudo de situação, antes de sair do
quartel. Quando percebi que ali era o local que deveríamos desembarcar e
penetrar na selva de Xerém, fomos emboscados pelo grupo a comando do ‘Capacete
Verde’ – ‘grupo dos onze’. Abriram fogo contra nós! Imediatamente, fim um
sinal, a tropa desembarcou pelo lado direito da viatura e ficamos protegidos.
Olhei e vi a seguinte cena: na orla da selva, num mastro estava sendo hasteada
uma bandeira que não deu para identificar. Não era a brasileira. O líder estava
com um capacete, realmente típico daquele caçador inglês dos filmes de caçadas
na África, uma bermuda cáqui e um casaco, também, cáqui e armado. Após a
emboscada, eles imediatamente retraíram para a selva. Entramos, vasculhamos,
fizemos prisioneiros e não foi preciso atirar. Recolhemos farto material.
Bastante material de propaganda marxista-leninista, treinamento de guerrilha,
todos oriundos de Cuba, bem como armamento ‘zero quilômetro’. Peguei aquilo tudo e levei para
o comando da Brigada onde recebi ordem para entregar ao ajudante-de-ordens do
então comandante General Santa Rosa. Assim o fiz. Escrevi o meu relatório e
retornei ao meu quartel. Fui encontrar o capitão, no dia seguinte, que me
perguntou: ‘Como é que foi?’ Como é que foi? Eu lhe disse: ‘Tudo bem, capitão,
foi bem’.
Dois dias depois, descobri o
objetivo da missão – a Companhia tinha sido usada como tropa pretoriana!
Acontece que o local era um loteamento do Automóvel Clube do Brasil e seus
sócios, alguns membros da sua diretoria, tinham comprado terrenos naquela área.
Um dos donos de
terreno era o General Santa Rosa, que havia assumido o cargo de Presidente do
Automóvel Clube do Brasil. Fui usado e a minha tropa também. Fomos
usados para tirar de cima do terreno dele o ‘grupo dos onze’ que fazia aquilo
que ele pregava – ocupava terras dos outros indiscriminadamente, segundo o
modelo empregado pelas ‘Ligas Camponesas’ no Nordeste e no Centro-Oeste. Que
decepção! Uma decepção muito grande. Não foi para isso que fui formado, não foi
para isso que recebemos a nossa instrução, a nossa formação moral. Uma
decepção! E, aí, nos envolvemos com mais determinação ainda de impedir,
primeiro, a ação do soviético dentro do
território brasileiro” (General-de-Brigada Durval Antunes Machado Pereira de
Andrade Nery, Tomo 10, pg. 160-162).
O sistema de promoções de altas patentes
militares era de acordo com o apoio que o militar dava ostensivamente ao
presidente Goulart
Afinal,
era o Presidente João Goulart, e não o Alto Comando, que promovia os coronéis a
generais. Os que não se enquadravam nessa ordem de capachos do regime eram
“queimados” e transferidos para a fronteira ou para Unidade sem tropa, como as
CR (Central de Recrutamento), atuais CSM (Circunscrição do Serviço Militar).
O
próprio general Castello Branco ficou “queimado” como comandante do IV Exército
(Nordeste), e foi transferido para a Chefia do Estado-Maior do Exército, devido
à pressão do governador Miguel Arraes.
Essas
ações de subjugar militares faziam parte do “Esquema Militar” do general Assis
Brasil, chefe da Casa Militar de Jango, além da dominação de amplos setores da
administração pública, sindicatos dominados por esquerdistas e comunistas, a
Confederação Geral dos Trabalhadores (CGT), a União Nacional dos Estudantes
(UNE), a União Brasileira de Estudantes Secundaristas (UBES).
Foi desencadeada a Operação Mata Lacerda
(ver “Carlos Lacerda – um capítulo à parte”)
A tropa
paraquedista teve por missão prender e matar o governador da Guanabara, Carlos
Lacerda. A ordem foi dada pelo próprio presidente João Goulart, num apartamento
do Copacabana Palace, com o aval dos ministros da Guerra e da Justiça. Graças
ao coronel Boaventura, comandante do
Grupo de Obuses Aeroterrestre, a ordem criminosa não foi cumprida, ao
mesmo tempo em que Lacerda foi avisado sobre a tentativa de atentado,
antecipando sua visita ao Hospital Miguel Couto, onde seria morto.
Oficiais e praças alinhados com o
governo Goulart tinham preferência para aquisição da casa própria via Caixa
Econômica, assim como a aquisição de automóvel
O
Fusca e o Gordini eram o sonho de consumo na época.
Os
sargentos levavam pessoalmente os contratos para financiamento de compra de
casa ou automóvel ao Presidente Goulart, que assinava no ato.
Imagine, hoje, o presidente Jair
Messias Bolsonaro colocando sua Bic em funcionamento, com longa fila de
sargentos paraquedistas gritando “Mito, Mito, Mito”...
“Vivíamos
numa situação financeira muito complicada. Precisávamos de dinheiro para deixar
com a esposa e para sobrevivermos no Rio, e os vencimentos extremamente baixos.
O Presidente João Goulart fazia alguns acenos para captar a simpatia,
principalmente dos paraquedistas, que recebiam financiamento para comprar
carro, normalmente um Gordini, o carro apropriado do momento, o carro se que se
podia ter, desde que se estivesse do lado do governo. Mas vivíamos numa
verdadeira miséria: sábado e domingo, de manhã, à tarde e à noite, íamos para o
rancho da EsAO porque não tínhamos o recurso necessário para fazer um lanche na
rua. Era, de fato, uma situação revoltante. Na Vila, também mantínhamos
contatos com outros oficiais, todos numa angústia muito séria e determinados a
fazer alguma coisa, mas sempre, contidos pelos chefes. Além disso, a EsAO
obrigava-nos a uma dedicação muito grande, pois o curso nos exigia bastante.
Mesmo assim, dávamos umas escapulidas para o Clube Militar, onde a
efervescência era grande: reuniões, debates e tudo mais” (General-de-Exército
Domingos Miguel Antonio Gazzineo, Tomo 4, pg. 34).
Obs.:
Quando fui promovido a 3º. Sargento do
Exército e classificado, como cinegrafista, no Campo de Provas da Marambaia, em
Guaratiba, RJ, em fevereiro de 1972, a situação financeira dos militares era
bem melhor do que nos tempos em que o General Gazzineo fazia a EsAO. Com meus
vencimentos, eu aluguei um quarto em Campo Grande, RJ, me matriculei numa
faculdade de Economia e comecei a pagar a poupança para a entrega de um
apartamento no Engenho Novo, que foi entregue em 1976, passando a pagar, daí em
diante, prestações bancárias durante 25 anos. Ao mesmo tempo, ainda sobrou
dinheiro para entrar num consórcio de automóvel, para aquisição de um Fusca
zero km.
A situação financeira, para os
militares, começou a se degradar novamente durante o Governo Geisel. Tanto é
que tive que vender um Fusca velho para mobiliar o apartamento.
F. Maier
Greves frequentes na indústria, no
comércio e nos meios de transporte, provocando o caos nas grandes cidades
“Olha,
só vendo o que nós sofremos neste País, onde imperava o caos. Basta lembrar,
aqui, no Rio de Janeiro: a greve do pessoal do gás, obrigando-nos a ter que
comprar ‘fogãozinho’ de querosene para confeccionar as refeições; a greve dos
coveiros do Cemitério São João Batista e lembro, acerca dessa paralisação, um
episódio. Indo ao cemitério, com o General Castello, para o enterro do pai do
General Adhemar Villela dos Santos – o General Castello era amicíssimo dele,
por ligações desde Realengo e do 12º. Regimento de Infantaria, de Belo
Horizonte – vimos os caixões colocados na entrada do cemitério, pois, em
virtude da greve, o sepultamento não era realizado.
Faltavam
feijão, arroz e outros tipos de suprimentos. Não havia transporte para chegar
ao trabalho e sei muito bem disso porque enfrentei esse problema, num período
mais recuado, dentro dos pródromos da Revolução, quando era major, adjuto da
4ª. Seção da Zona Militar Leste (posteriormente I Exército e, atualmente,
Comando Militar do Leste), e tínhamos que atualizar o planejamento para
assegurar o transporte da cidade, no caso da greve dos bondes” (General-de-Brigada
Ruy Leal Campello, Tomo III, pg. 57-58).
“Sabíamos
que era meia dúzia de líderes sindicais que tumultuavam o País. A grande massa
dos trabalhadores não queria saber disso, o que ficou claro com o
desencadeamento do Movimento revolucionário.
Os
agitadores se valiam da massa. Eram sempre as mesmas pessoas que já conhecíamos
bem. Dentre eles, Dante Pelacani, Clodomith Riani, Oswaldo Pacheco (líder da
CGT), Hércules Correia (Deputado Federal), os Ministros Abelardo Jurema e
Amauri Silva e outros mais, figuras extremamente atuantes no processo de
tumultuar, permanentemente, a vida nacional” (Coronel Everton da Paixão Curado
Fleury, Tomo 3, pg. 230).
“Paravam
o transporte no Rio e ninguém conseguia deslocar-se para o trabalho, ou se
interrompiam durante o dia, prejudicavam o regresso para o lar, e isso se
repetia continuamente, toda a semana. Entre outras, greves de hospitais, houve
até greve de coveiros, impedindo que pessoas enterrassem seus mortos, então a
situação era de desordem incontrolada. E falei do Rio de Janeiro como um
exemplo expressivo, mas era assim no Brasil todo, sobretudo nas grandes
cidades” (Coronel Gustavo Petito, Tomo 7, pg. 238).
“Em
agosto desse ano, 1962, o Comando Geral de Greve transformou-se em Comando
Geral dos Trabalhadores, o famoso CGT. Com a eleição do comunista Clodsmidt
Rianni para a presidência do mesmo, o PCB coroava sua hegemonia sobre os
sindicatos, conquistando um poderoso instrumento de pressão, permanentemente
dom ameaças de greve geral.
Em
novembro desse ano, as Forças Armadas desarticularam vários campos de
treinamento de guerrilha. Em 27 de novembro de 1962, a queda de um Boeing da
Varig, no Peru, proporcionou comprometedoras informações sobre o apoio de Cuba
às ‘Ligas Camponesas’. Esses documentos caíram nas mãos do Governador Carlos
Lacerda que, naturalmente, os difundiu à imprensa e criou uma grande celeuma a
respeito desse apoio direto de Cuba às ‘Ligas Camponesas’ ” (General-de-Divisão
Agnaldo Del Nero Augusto, Tomo 5, pg. 98).
“Outra
situação, que visava nos desgastar e antagonizar com a população, pois
sentíamos perfeitamente que era essa a finalidade, consistia nas missões de
segurança das estações da Estrada de Ferro Central do Brasil. Com as constantes
greves, frequentemente recebíamos a missão de ocupar as estações e protege-las
de depredação. No entanto, tal encargo era muito mais um pano de fundo para o
verdadeiro objetivo, que era o desgaste. Determinava-se que apenas dois
soldados permanecessem no local para avisar que não havia trem circulando. As
pessoas ficavam revoltadas” (General-de-Brigada Oacyr Pizzotti Minervino, Tomo
7, pg. 110-111).
“Foi
um período muito tenso. A situação de prontidão era permanente. Parecia haver
um propósito de desgastar não só o militar, mas também a sua família. Parecia
que as próprias autoridades desejavam atingir a nossa base familiar, que ficava
também intranquila; a esposa saía para o trabalho e não sabia se lá chegaria;
nós vínhamos para casa e a esposa não havia retornado, os filhos tinham ficado
presos na escola por conta de fatos os mais diversos, por conta de
greves-relâmpago e outros tipos de distúrbios civis que nós conhecemos”
(Coronal Luiz Carlos Carneiro de Paula, Tomo 9, pg. 287).
“Somente
no Estado de São Paulo, no ano de 1961, realizaram-se 1.700 greves, conforme
registrou Luiz Jover Telles, um dos elementos radicais da Comissão Executiva do
Partido Comunista Brasileiro (PCB), em seu artigo O Movimento Operário em 1961, o que está mencionado no livro ‘A
Grande Mentira’, do General Agnaldo Del Nero Augusto. Eles realmente paravam o
País” (Coronel Nelson Roberto Bianco, Tomo 14, pg. 319).
Infiltração comunista no meio artístico,
no MEC, na Cultura, nos sindicatos, nas escolas, nas universidades – via UNE
“Meu
primeiro desafio, em 1945 ou 1946, ainda adolescente. Em Santos, onde morava,
concluída a apuração das eleições, passou a ser dominada completamente pelos
comunistas, tanto a Câmara Municipal como, também, os organismos sindicais e
estudantis da cidade. O marxismo para mim, a rigor, representa a negação do
Cristianismo, a negação das minhas convicções religiosas.
Convidei
um amigo, de apenas 13 anos, a iniciarmos um trabalho a fim de mudar o quadro
do setor estudantil. Pensamos que seria bom conversar com Dom Idílio José
Soares, Bispo local, pois a natureza do nosso impulso era religiosa. Ele nos
disse que via com bons olhos o fato de os cristãos assumirem suas
responsabilidades na vida do País e que, portanto, ele não se oporia se
procurássemos organizá-los para enfrentar os comunistas, nos centros estudantis
de Santos. Sem entrar em detalhes, conseguimos organizar uma chapa, visitamos
todos os colégios católicos e ganhamos as eleições, para surpresa dos
comunistas. Fizemos um trabalho de inteligência, de disfarce. Os comunistas
controlavam os mecanismos de movimentação dos estudantes, mas conseguimos que
nossos eleitores chegassem a serem percebidos.
Repetimos
a mesma estratégia nas eleições da União Estadual dos Estudantes (UEE), naquele
tempo presidida pelo Almino Alves Afonso, e o derrotamos. Mais tarde, José
Gregório quis ser presidente e também o derrotamos. Posteriormente, fizemos uma
mobilização a nível nacional com os estudantes udenistas e de outros partidos e
conseguimos derrubar a chapa comunista na União Nacional dos Estudantes (UNE).
Nesse tempo, já era presidente do Departamento Estudantil da União Democrática
Nacional (UDN)” (Doutor José Carlos Graça Wagner, Tomo 7, pg. 366).
“Seguindo a orientação
nacional, o Sindicato dos Estivadores paralisou o porto de Manaus e mandou
colocar barricadas por toda a cidade, inclusive na entrada do 27º. BC. O
Governador era Gilberto Mestrinho, um oportunista aliado de Jango, que ficou
indiferente àquele estado de coisas. (...) Em situação semelhante estavam os
pilotos da FAB, que não podiam ter acesso aos aviões. Neste caso, alguns
soldados desimpediam o acesso, jogavam as pedras no rio e os pilotos decolavam
com seus aviões. Diariamente se armava uma confusão em Manaus, provocada por
‘pelegos’ e outros, que só prejudicava a população. Fechavam o mercado e
ninguém podia fazer sua feira” (General-de-Brigada Manoel Theóphilo Gaspar de
Oliveira Neto, Tomo 4, pg. 95)
Comando dos Trabalhadores Intelectuais
“As
causas vêm de longe: desde a década de 1930, o Partido Comunista organizou em
células, sindicatos e agremiações de fachada, os ‘trabalhadores intelectuais’ –
conceito surrealista que reunia sambistas a físicos nucleares, professores
primários a banqueiros em transe poético, sem outro vínculo que não a
uniformidade do discurso ideológico, travestida em representatividade cultural.
As defecções após o relatório Kruschev, a preferência crescente da esquerda pelas
modalidades de adesão informais e discretas, não mudaram em nada a
solidariedade de fundo, que sustenta ainda hoje o espírito do unanimismo.
Essa
unidade postiça manteve-se à força de exclusões inconcebíveis. Em 1964, pelo
menos quatro das maiores figuras da nossa inteligência, Manuel Bandeira,
Gilberto Freyre, Augusto Frederico Schmidt e Miguel Reale, tomaram partido do
novo regime. Sua opinião foi imediatamente excluída do rol das ideias
significativas, para criar a impressão de que a inteligência nacional estava à
esquerda, de que no outro lado só havia a força bruta de sargentões iletrados.
Mentira grossa. Farsa comparável, só o pathos
democrático nos discursos de servidores, não raro profissionais, da ditadura
cubana” (Olavo de Carvalho, “O Imbecil Coletivo”, pg. 404).
“Em
1963, a subversão, até então conduzida mais ou menos na clandestinidade,
aflorou. Como não havia certeza do seu sucesso e até como uma forma de pressão,
começou a colocar-se à luz do dia. Nesse ano, foi criado o Comando dos Trabalhadores Intelectuais. Esse Comando, reunindo
nomes como Dias Gomes, Jorge Amado e Ênio Silveira, constituiu-se num baluarte
da propaganda esquerdista. A infiltração comunista se derramou sobre o ensino
em todos os níveis, com a orientação e apoio do próprio Ministério da Educação
e Cultura. A UNE criou centros populares de cultura que submeteram a população
a uma intensa propaganda esquerdista. A UNE, além de receber vultosos subsídios
do Ministério da Educação e Cultura, recebia subsídios financeiros e propaganda
da União Internacional de Estudantes (UIE), uma entidade de fachada do
Movimento Comunista Internacional onde a UNE tinha um representante: um dos
vice-presidentes dessa UIE era da UNE, um brasileiro.
(...)
Atendendo
uma específica orientação da Internacional Comunista, o PCB realizou, em
Niterói – O Governador da Guanabara [Carlos Lacerda] negou a permissão para a
realização do evento em seu Estado – um encontro de solidariedade a Cuba com a
presença de representantes de mais de oitenta países. Apesar das mensagens de
solidariedade enviadas para esse encontro pela União Soviética e pela China, a
vedete do encontro foi Prestes. Este, entre outras pregações revolucionárias,
profetizou que o Brasil teria o privilégio de ser a segunda nação
Latino-Americana, onde o socialismo seria implantado” (General-de-divisão
Agnaldo Del Nero Augusto, Tomo 5, pg. 98-99).
Obs.:
Assim como Prestes, que desencadeou a
Intentona Comunista em 1935, a UNE também recebeu o “Ouro de Moscou” – cfr. http://felixmaier1950.blogspot.com/2020/07/ouro-de-moscou.html.
F. Maier
Ameaça de enforcamentos na Fábrica
Nacional de Motores
“Um
fato me chamou a atenção, logo depois da vitória do movimento. Eu vi, ninguém
me contou. Foi na antiga Fábrica Nacional de Motores (FNM), que funcionava em
Xerém, arredores do Rio de Janeiro, a única fábrica de veículos brasileiros, os
famosos ‘Fenemê’. De serviço, com uma tropa, o que vi lá foi estarrecedor; nos
postes havia escrito o seguinte: ‘Nesse poste será enforcado o engenheiro tal, nesse poste
será enforcado fulano de tal, nesse poste será fuzilado sicrano de tal.’ Os nomes das pessoas estavam escritos pelos
comunistas que dominavam a fábrica e pensavam, um dia, tomar conta de tudo e
assassinar os desafetos. Na FNM, a mais nítida demonstração de qual era a
situação brasileira; as pessoas já tinham local certo e tipo de morte
escolhida, se era enforcamento ou fuzilamento” (General-de-Brigada Ozcyr
Pizzotti Minervino, Tomo 7, pg. 121-122).
Pelegos ligados ao Governo João Goulart
“Os
pelegos – líderes sindicais ligados ao Governo – faziam comício em lugar
proibido, faziam depredações, ocupações do tipo dos sem-teto hoje e invasões de
terras, estas sob o comando das ‘Ligas Camponesas’, que hoje se chamam de
Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), mas fazem a mesma coisa, e
o governo, naquela época, convivia com a desordem por eles promovida,
exatamente como acontece hoje [Governo FHC].
Sabe
o que o CGT e o PUA faziam com os desafetos? Eles agarravam à força as pessoas
e com barras de ferro quebravam as pernas das pessoas, esses sindicalistas,
esses extremistas do PUA e do CGT quebravam as pernas de quem não rezava pela
cartilha deles.
O
PUA inventou uma arma terrível, e o Departamento de Ordem Política e Social
(DOPS) apreendeu várias delas antes e depois da Revolução. Eles pegavam toco de
cabo de aço usado em atracação de navio, amarravam numa ponta, fazendo uma
espécie de uma empunhadura de espada e a outra ponta eles desfiavam para ficar
ouriçado e usavam aquilo como chicote, como rebenque para cortar qualquer
recalcitrante. O sujeito queria romper a greve, então tomava uma rebencada, que
rasgava o sujeito todo e ia parar no pronto-socorro. Era assim que eles agiam,
na ‘democracia’ ” (Coronel-Aviador Gustavo Eugenio de Oliveira Borges, Tomo 10,
pg. 293).
“Os
Ministros, inclusive os militares, temiam o CGT, o Comando Geral dos
Trabalhadores, que mandava mesmo, tendo como secretário-geral Dante Pelacani,
cujas ordens faziam curvar-se o Ministro do Trabalho, Amauri Silva, que não
realizava nenhuma nomeação para cargo de direção sem a aprovação de Pelacani” (General-de-Exército
Mario Orlando Ribeiro Sampaio, Tomo 11, pg. 32-33).
Movimento de Cultura Popular
“Além
disso, o Movimento de Cultura Popular, que foi uma criação do Miguel Arraes, do
Gregório Bezerra, que era o homem que mandava nesse negócio, fazendo cartilhas
preparadas no sentido de ‘fazer a cabeça’ daquela juventude; inclusive, uma das
publicações dessa cartilha se chamava ‘O Tijolo’, e nela constava o seguinte:
‘Como é que é feito o tijolo? É tirado da terra, a terra é do agricultor, que é
pobre. E esse tijolo é feito por quem? É feito pelos operários, pobres. E para
quê? Para fazer a casa dos ricos’. É tudo uma sequência para ‘colocar na
cabeça’ dos pobres que eles estavam sendo explorados pelos ricos; então, o
exemplo era o tijolo, as coisas eram concebidas dessa forma”
(General-de-Exército Mario Orlando Ribeiro Sampaio, Tomo 11, pg. 33).
Ligação criminosa do apátrida Prestes
com Moscou
“Em
março [1964], houve um fato importante. Prestes voltou a Moscou e foi
encontrar-se novamente com Kruschev, com Suslov e, agora, com Brejnev, que
viria a substituir Kruschev e apresentou o que ele tinha feito nesses dois
anos: o trabalho de massa, inclusive a infiltração nas Forças Armadas. Veio de
lá com a aprovação da União Soviética, inclusive com a proposta de
financiamento para a Usina de Itaipu, que já era cogitada, naquela época. Ele
relatou o seu encontro para o Goulart. No dia 13 de março de 1964, realizou-se
o primeiro desses comícios no Rio de Janeiro, na Praça da República, entre o
prédio do Ministério da Guerra e a estação da Central do Brasil. Valendo-se de
transportes oferecidos por órgãos estatais [como a Petrobras] e do natural
afluxo de pessoas no final da trade em direção à estação da Central do Brasil,
o chamado ‘comício da reforma’ reuniu cerca de cem mil pessoas. No comício,
faixas pela organização do Partido Comunista, distribuição de armas ao povo
etc. e tal; e a situação de agitação já criava uma ansiedade, uma instabilidade
na população” (General-de-Divisão Agnaldo Del Nero Augusto, Tomo 5, pg.
100-101).
Jango fazia questão de desprestigiar as
Forças Armadas
“Quando
o Presidente chegou mais ou menos na testa da Academia, as pessoas postadas nas
sacadas e janelas dos edifícios situados no outro lado da Avenida começaram a
aplaudi-lo e a jogar papel picado. Ele passou a AMAN em revista ficando o tempo
todo de costas para nós, respondendo e agradecendo os aplausos e acenos da
população. E aqueles cadetes de todos os cursos que estavam ali em forma – na
maioria do terceiro e último ano – ficaram descontentes com a atitude e o pouco
respeito do nosso Comandante Supremo para com a Academia.
Este
fato nos causou uma indignação muito grande. Talvez até tenha sido algo pequeno
e irrelevante, mas os comentários entre os cadetes se prolongaram ao longo dos
meses, até o final do ano. A revolta por ele ter passado de costas para nós
fundamentou, na grande maioria da turma de 1963, até mesmo naqueles que tinham
uma tendência de esquerda, uma forte aversão ao Jango. Ficamos inconformados
com a atitude dele” (General-de-Brigada Flávio Oscar Maurer, Tomo 8, pg. 307).
Desabastecimento geral de gêneros
alimentícios; o Exército passou a distribuir feijão e arroz no Rio de Janeiro
“Ultrapassado
o período da renúncia de Jânio Quadros, passamos a viver momentos difíceis,
sacrificados mesmo. Por exemplo, o GO 155, e outras Unidades, como o Primeiro
Regimento de Obuses 105 (1º. RO 105, sistematicamente ocupavam as estações de
trem, a fim de manter a ordem; a todo instante irrompiam os ‘quebra-quebras’
que a gente chamava de ‘quebra-quebra feijão’. Chegou a ponto de as Forças
Armadas serem incumbidas de comercializar gêneros alimentícios nas ruas.
Saíamos com uma viatura de cinco toneladas, abarrotada de arroz para vender à
população, por força de determinação do governo. Isso acontecia em São João de
Meriti, em Nova Iguaçu, em Nilópolis, sempre enfrentando sérios problemas. O
povo sofrido queria o produto e nós – um 2º. Tenente, um sargento, um cabo
motorista e um soldado – tínhamos que fazer das ‘tripas coração’ para conseguir
controlar a multidão” (Coronel Hahenderson Vieira, Tomo 5, pg. 276).
“Houve
uma ocasião em que o Governo João Goulart bloqueou a saída de arroz do Sul do
País, impedindo-o de chegar a São Paulo e Rio de Janeiro. O Governo culpava os
plantadores do Rio Grande do Sul e os capitalistas pela falta de arroz, mas, na
verdade, sabíamos do bloqueio que era feito. Numa jogada demagógica, fomos
obrigados, por determinação de Goulart, a utilizar os caminhões militares para
distribuir na rua o pouco arroz que chegava. Formavam-se filas intermináveis.
Alguns sargentos mais jovens, muitas vezes, quando iam entregar o arroz, viam
uma moça bonita e para namorar a jovem acabavam facilitando a entrega. Tal
procedimento, como era de se esperar, provocava tumulto e confusões terríveis,
envolvendo o Exército” (General-de-Brigada Oacyr Pizzotti Minervino, Tomo 7,
pg. 110).
Obs.
Na enchente de 1983, em Santa Catarina,
eu soube que na região de Joaçaba uma moça se tornou amante de um oficial da
PM, e sua família passou a receber produtos não perecíveis que dava até a
próxima enchente.
F. Maier
INÍCIO
DA INSTRUÇÃO DE GUERRA REVOLUCIONÁRIA (G REVO)
Célula
comunista na AMAN
O general-de-Exército
Antonio Jorge Corrêa destaca que, quando assumiu as funções de Comandante do
Corpo de Cadetes, na AMAN, deparou-se “com
uma situação que, em síntese, era a clara descaracterização do ambiente e da
sistemática de formação e de ensino de uma Academia Militar. Destaco que o
Regulamento de 58 contemplava o ensino, então chamado universitário, com carga
horária maior que o dobro da que se destinava ao ensino militar, numa
manifestação específica da Academia, pretendendo fazer daquele Centro uma
universidade leiga e indiferente às suas origens e finalidades. Os reflexos
destes dispositivos regulamentares foram desastrosos do ponto de vista da
formação dos oficiais: impediam a disciplina que se espera de uma Academia
Militar.(...) Por outro lado, o aspecto ideológico que se difundia na Academia
se tornara comprometedor a ponto de criar-se uma célula comunista, que operava,
abertamente, sobretudo na Cadeira de Português; destaquem-se aqui as ligações
francas desta célula com a UNE, do Rio de Janeiro. Tão logo se comprovou este
triste e inédito quadro, foram tomadas necessárias providências que abortassem
sua continuação: substituiu-se o Cel Prof Manoel Cavalcante Proença,
identificando-se e afastando os participantes, do que resultou o
desmantelamento do sistema” (Tomo 1, pg. 31-32).
“Em 1960, após inspecionar a
AMAN, o general Castello Branco mandou que se instalasse uma Comissão, para
elaboração de novo Regulamento para a Academia: “Revogado o nefasto Regulamento de 58 e com a aplicação de novas
diretrizes, foi possível, nos decênios de 1961 e 1962, restabelecer-se o
primado da profissão militar, da hierarquia, da disciplina, do culto dos nossos
heróis e do civismo genuíno. Nos meados de 1962, equipes selecionadas de todos
os Estabelecimentos de Ensino do Exército participaram de estágios realizados
na DGE [Diretoria Geral do Ensino],
destinados à preparação e à padronização de procedimentos na execução de planos
e programas de Guerra Revolucionária, previstos na Nota de Instrução baixada
pelo Estado-Maior do Exército” (idem, pg. 32).
A partir de então, passou-se
a ministrar G Revo em todas as Unidades do Exército, com ênfase para as escolas
militares.
“O Chefe do Estado-Maior do
Exército Brasileiro, onde estava presente o General Castello, que não era o
titular nessa ocasião, organizou um curso de Guerra Revolucionária: Ação
Educativa Contra a Guerra Revolucionária, que recebi quando Chefe do
Estado-Maior da 8ª. Região Militar, no Pará. Um trabalho do próprio
Estado-Maior do Exército, quase clandestino e todos eram informados de que
deveria ser reservado. No Pará, recebíamos os fascículos (o Senador Passarinho
exibiu um exemplar do documento), nos quais estavam incluídos todos os
ensinamentos sobre a guerra revolucionária e a forma pela qual progrediam e
conquistavam seus objetivos; inclusive sobre a guerra psicológica preparatória
da guerra revolucionária” (Senador Jarbas Gonçalves Passarinho, Tomo 5, pg.
52).
“Particularmente
interessante, naquela época [1963], o fato de a carga horária da instrução
estar dividida quase meio a meio: uma parte era a regular de Artilharia [I/7º.
RO 105, no Recife], e a outra, por influência da guerra do Vietnam e da
conjuntura internacional, era absorvida pela instrução de guerra revolucionária
– guerrilha, controle de tumultos etc.
A instrução foi muito
intensificada, no início de 1964, coincidentemente com a chegada à Unidade de
um oficial superior que passou a desempenhar as funções de S/3, o Major Hugo
Caetano Coelho de Almeida, especialmente se comparada com a do ano anterior.
(...)
Em um exercício realizado no
Forte de Pau Amarelo, local onde havia muito mato, foi feita a limpeza a fim de
balizar no terreno um arruado para a prática de instrução de controle de tumulto
em área urbana. Um repórter do Diário de
Pernambuco assistiu ao exercício e, no final – quem estava no comando era o
Major João José Cavalcanti de Albuquerque, pois o Coronel Ivan Ruy Andrade de
Oliveira estava de férias – o Major Hugo disse ao repórter:
- Com esse tipo de
treinamento somos capazes de controlar cerca de seis mil pessoas na rua, sem
que seja necessário disparar um único tiro (Coronel Osman Godoy, Tomo 6, pg.
192-193).
“Ainda como subsídio para
nos prepararmos contra a subversão, recebíamos o Mensário de Cultura Militar,
da Escola Superior de Guerra, que publicava periodicamente artigos de coronéis
franceses que lutaram na Argélia e enfrentaram a guerra revolucionária e também
artigos sobre a guerra dos portugueses na África. Alguns brasileiros escreveram
artigos sobre o assunto. Além dos nossos, a Suzanne Lebin publicou o livro Il Est Moin Cinq e ainda o Curzio
Malparte – um autor italiano – publicou La
Tchnique du Coup d’État (A Técnica do Golpe de Estado” (General-de-Divisão
Léo Guedes Etchegoyen, Tomo 8, pg. 178).
Obs.:
Durante
o governo militar, foram criados Programas-Padrão de Instrução, voltados para a
instrução militar de recrutas e alunos das Escolas Militares, que incluíam o
Movimento de 1964 e a Intentona Comunista de 1935.
Quando
fui monitor fotocinegrafista na Escola de Instrução Especializada (EsIE), na
Seção de Meios Auxiliares, projetei no Auditório muitas vezes esses
audiovisuais, compostos por slides e som em fita K-7, após o horário de
expediente, para instrução dos alunos e recrutas da Escola, ainda no período de
internato.
Sobre
as vítimas da Intentona Comunista, acesse https://felixmaier1950.blogspot.com/2020/06/vitimas-da-intentona-comunista-de-1935.html.
F. Maier
Panfletagem
comunista dos capitães Chuay e Suzano
“Nessa época, estava eu como
instrutor da Escola de Artilharia de Costa, sediada em prédio próximo à Escola
Superior de Guerra (ESG), no interior da Fortaleza de São João.
Existia, durante esse tempo,
uma rede de rádio interligando o Quartel-General da Artilharia de Costa da 1ª.
RM (QG ACos/1ª. RM), com sede junto ao Forte Copacabana, com seus dois
Grupamentos e suas OM subordinadas, da qual a EsACos fazia parte como ouvinte.
Atento à manobras daquele
Governo e sabedores de que no QG da A Cos havia alguns oficiais declaradamente
comunistas, como o Capitão Eduardo Chuay e o Capitão Suzano, permanecíamos na
escuta, a fim de surpreender diálogos que viessem a confirmar nossos informes
e, ao mesmo tempo, colher outros indícios que fossem de posterior valia.
O Capitão Chuay, ainda na
Academia Militar, como cadete, já defendia com veemência a doutrina marxista,
exercendo forte influência sobre aqueles companheiros que não possuíam uma
acendrada convicção democrática. Através de ampla bibliografia voltada para
seus interesses, distribuía livros a esses companheiros que se deixavam
entusiasmar por essa literatura espúria. Isto explica o fato de que a sua turma
de formação tenha sido aquela com o maior número de cassados.
Voltemos ao ano de 1963,
quando, fiel aos seus pensamentos de jovem cadete, o Capitão Chuay, já com
livre trânsito junto à Presidência da República, usava de sua influência na
Caixa Econômica Federal para conseguir financiamento para aquisição da casa
própria para seus pares que, desta forma, se deixavam levar por suas ideias,
passando a defender suas convicções” (Coronel Luiz Mario Portocarrero de Castro
Sá Freire, Tomo 11, pg. 164).
“A
América ficou assustada com a vitória da revolução cubana. A família militar
brasileira ainda mais, pela recordação do sacrifício de 1935, a conhecida
Intentona Comunista. O General Castello Branco, quando Diretor Geral de Ensino,
tomou a iniciativa de introduzir nos cursos das escolas a matéria Movimentos
Revolucionários. Que me lembre, foi o primeiro chefe militar brasileiro a
preocupar-se com o estudo desses movimentos que se expandiam pelo mundo.
(...)
(...)
Essa preocupação com a questão do comunismo continuou na chefia do EME.
Ele estava bem consciente?
[entrevistador]
Estava
bem consciente. Quando assumiu o EME, sua preocupação foi intensificar o estudo
do Movimento Comunista Internacional (MCI) nas escolas e comandos militares. Na
ECEME, mais tarde, foi instrutor da Área 1 – Segurança Interna – passamos a
fazer traduções de manuais de guerrilha dos Estados Unidos escritos à época da
Guerra da Coreia (Coronel Anysio Alves Negrão, Tomo 15, pg. 321).
O ensino da Guerra Revolucionária (G
Revo)
O
ensino de Guerra Revolucionária (G Revo) foi previsto em Nota de Instrução
baixada pelo Chefe do EME, general Castello Branco. Um trabalho exemplar sobre
G Revo foi feito na AMAN, cujo comandante era o general Médici.
A
esquerda diz que a G Revo era decorrente da influência americana no Brasil,
principalmente por meio da Escola das Américas, localizada no Panamá. Queria
ela que nossos estudos sobre G Revo fossem influenciados pela Universidade de
Amizade dos Povos Patrice Lumumba, sediada em Moscou?
“A guerra fria influiu poderosamente, e é
preciso ver uma coisa muito importante, que precisa ser caracterizada: as
lições das guerras da Indochina, do Vietnã, de Angola e da Argélia fizeram com
que surgisse toda uma literatura sobre a guerra subversiva, sobre a guerra
insurrecional.
Lembro
de um grande autor francês, Gabriel Bonnet, que escreveu um livro sobre guerras
insurrecionais, interessantíssimas. Também existia um militar português, com
grandes obras, todas desenvolviam essas idéias. Eis que surgiu, então, a
doutrina da guerra revolucionária. Essa doutrina – as pessoas confundem um
pouco – pois pensam que foi trazida da Escola das Américas e dos Estados
Unidos. A Escola das Américas contribuiu muito, ajudou em outros aspectos,
sobretudo nos ligados à repressão e ações policiais, mas esse clima da guerra
revolucionária foi importado da Escola Superior de Guerra de Paris, que passou
a desenvolver a teoria da guerra revolucionária. Recordo-me claramente, estava
na Escola de Estado-Maior, como instrutor, e as conferências da Escola Superior
de Guerra versavam sobre guerra revolucionária. Havia aquelas famosas ‘cinco
fases da Guerra Revolucionária” (General-de-Divisão
Octávio Pereira da Costa, Tomo 2, pg. 59-60).
Obs.:
O ex-guerrilheiro, amigo de Lamarca, Aluizio
Palmar, no blog “Documentos Revelados”, apresenta a relação dos alunos
brasileiros que frequentaram a Escola das Américas – cfr. em http://felixmaier1950.blogspot.com/2020/07/relacao-de-militares-que-frequentaram.html.
F. Maier
“As
medidas tomadas pelo Estado-Maior do Exército (EME), a fim de instruir os
quadros – oficiais e sargentos – sobre a doutrina de guerra revolucionária foram
oportunas e acertadas. O EME produziu uma série de documentos que facilitavam o
entendimento do assunto. Passamos a dominá-lo e, como tal, a reconhecer nos
fatos que corriam a existência de uma guerra revolucionária em andamento. A
sensibilidade do EME permitiu a inclusão, nos currículos dos estabelecimentos
de ensino militares, o assunto Guerra Revolucionária.
O
próprio General Castello, que era o chefe do EME, quando proferiu a aula
inaugural do ano letivo de 1964, no mês de fevereiro, na Escola de Aperfeiçoamento
de Oficiais (EsAO), teve o ensejo, como chefe, de deixar uma mensagem para a
reflexão dos capitães, sobre o assunto” (General-de-Divisão César Montagna de
Souza, Tomo III, pg. 42).
“Chegamos,
então, à década de 1960 e às causas próximas do Movimento de 1964. Naquela
ocasião, o Movimento Comunista Internacional conseguira lançar uma cunha no
território americano: Cuba, no Caribe, com a subida de Fidel Castro, em 1959, e
a implantação do regime comunista, trampolim para a Revolução Bolchevista nos
países em desenvolvimento. Nessa época, surgiu a guerra revolucionária. E em
1961, foi feito o primeiro exercício de guerrilha rural. Eu era Cadete de
Infantaria. Colocaram-nos em grupos e nos mandaram para o campo em trajes
civis. Era uma coisa assim meio diferente, pois, até então, estávamos
acostumados com a instrução padrão, o Batalhão no ataque e a Companhia na
defesa, e de repente nos colocam à paisana e de barba crescida, para fazer um
exercício” (General-de-Divisão Théo Espindola Basto, Tomo 12, pg. 127-128).
“Se
não nos apressássemos, iríamos pegar a revolução deles – comunistas – já
iniciada e em franca evolução. Acredito que todos chegamos à mesma conclusão:
enfrentar uma revolução em que eles tomaram a iniciativa. E, em guerra, tomar a
iniciativa é essencial. Estaríamos limitados, possivelmente, a uma atuação
igual à do Vietnã, em que as duas partes externas tomaram o controle da guerra.
Seríamos a bucha de canhão. Cuba estava preparada, através da Rússia,
financeira e materialmente, para desembarcar armamento no Brasil, onde já
contava com alguma coisa e com elementos por ela infiltrados. E os Estados
Unidos, tranquilamente, não iam deixar sua retaguarda à mercê dos comunistas. E
numa hora dessas, de desespero, aceitaríamos ajuda. Nunca pedimos, mas
aceitaríamos ajuda dos Estados Unidos ou da Argentina, de alguém que nos
fornecesse armamento. Porque, quando chega o desespero, ninguém pode avaliar.
Foi esse desespero que, felizmente, as Forças Armadas, basicamente, o Exército,
enxergaram antecipadamente. Pelo próprio preparo, talvez pelo exemplo do
Vietnã, anteciparam-se na ação e, com o apoio do povo, conquistaram a vitória,
em menos de vinte e quatro horas” (Tenente-Coronel Idalécio Nogueira Diógenes,
Tomo 4, pg. 181).
“Agora
estou certo de que essa vitória da Revolução, até porque a história é
controversa, no meu entender, foi uma vitória no plano internacional, porque
representou a maior derrota do expansionismo soviético no mundo. Um dia será
reconhecida não só por ter livrado a população brasileira dos horrores do
comunismo, mas também por ter limitado ou atenuado o avanço do comunismo no
mundo. (...)
Não
tenho dúvida de que haveria intervenção, no ambiente da guerra fria em que
vivíamos; haveria intervenção dos Estados Unidos, da União Soviética e iríamos
sofrer as consequências da disputa entre eles pela hegemonia no mundo”
(General-de-Divisão Agnaldo Del Nero Augusto, Tomo 5, pg. 102-103).
Obs.:
Em 1971, quando fiz o curso de sargentos
na Escola de Instrução Especializada (EsIE), período básico, depois fui para a
Escola de Comunicações (Es Com), também havia ensino de G Revo, um manual de
mais de 200 páginas.
F. Maier
Plano Junção
“A preparação da Revolução foi coordenada e minuciosa ou seu
desencadeamento foi espontâneo?
[entrevistador]
Eu diria que foram as duas coisas. Em
parte, foi coordenado, porque o Estado-Maior do Exército (EME) publicava uns
folhetos sobre a Guerra Revolucionária. Então os tenentes, capitães e mesmo
outros militares de postos mais elevados nos indagavam:
- Coronel? Estamos na primeira ou na
segunda fase?
Houve essa coordenação. Falando sobre
isso, temos o caso da nossa Divisão: ela foi sui generis, talvez no âmbito do Brasil, porque foi comandada pelo
General Mourão (Olympio Mourão Filho) e temos que dar mérito a quem o tem. Sou
testemunha porque fui seu Chefe de Estado-Maior. Ele já estava preocupado com a
situação desde á muito, e todos os meses um oficial do Estado-Maior visitava as
Grandes Unidades e Unidades subordinadas, às vezes de quinze em quinze dias,
para verificar se estava tudo bem. O General fazia ligações com o Governador
Ildo Meneghetti e com outras autoridades, expondo sua preocupação. Foi o grande
batalhador da causa.
Tentei servi no Rio, fiquei três
meses lá e voltei para Santa Maria. No meu retorno, o General estava aborrecido
com o Chefe do Estado-Maior interino, pois queria elaborar um planejamento
revolucionário e o camarada estava relutando. Isso aconteceu alguns dias antes
da minha chegada. Assim que me apresentei, ele me falou sobre o assunto. Então
me dediquei ao ‘Plano Junção’ que, após ser desenvolvido, foi assinado. Era o
seguinte: se fechassem o Congresso, como prometiam – há provas irrefutáveis
sobre isso – a 3ª. DI sairia campo afora, não sei para onde nem por onde, mas
sairia.
Tempos depois, o Mourão foi
transferido para São Paulo e, ao passar pelo Rio, declarou que eu fora um Chefe
de Estado-Maior leal e revolucionário. E era verdade. Agíamos muito, mas em
sigilo absoluto, porque se algo transpirasse, seríamos transferidos. O Adolpho
João (Adlopho João de Paula Couto) foi transferido para uma Circunscrição de
Recrutamento (CR), em Mato Grosso. Na CR de Santa Maria, havia o Coronel
Edmundo (Edmundo da Costa Neves), que depois foi promovido a general.
Eram mandados normalmente para uma CR.
[entrevistador]
Porque aquelas Unidades não dispunham
de tropa.
Lembro que, em 1963, quase todas as CR eram comandadas por excelentes
coronéis: heróis da FEB, oficiais de Estado-Maior, todos brilhantes. [entrevistador]
Pois é, nós éramos transferidos e o
pessoal que atuava no outro lado era prestigiado. Havia um sargento deputado –
se não me engano de nome Antônio Garcia Filho – que percorria as Unidades,
falando e doutrinando os sargentos e subtenentes. Esteve em Santa Maria e
entrou em duas Unidades. Naquela ocasião, eu comandava interinamente o 7º. RI e
fiquei sabendo. Ordenei que se ele aparecesse, não o deixassem entrar e se por
um motivo qualquer ele burlasse a vigilância, que o prendessem no xadrez. Não
apareceu mais. O pessoal da esquerda era favorecido, haja vista o Castello
Branco, que foi removido de Pernambuco porque estava atrapalhando o Arraes” (
General-de-Brigada Ramão Menna Barreto, Tomo 13, pg. 138-139).
O contragolpe dos militares contra Jango
estava marcado para ocorrer no dia 3 ou 4 de abril de 1964, segundo muitos dos
entrevistados
Depoimentos
de vários militares nesta obra “História Oral do Exército – 1964” se referem a
essas datas. A data foi antecipada para 31 de março devido ao levante de Minas
Gerais, feito pelo General Olympio Mourão Filho.
Já
cientes do golpe de Jango em marcha, a cúpula militar conspiratória havia
marcado a data do contragolpe para 3 ou 4 de abril de 1964; mas, como é do
conhecimento de todos, o general Mourão Filho antecipou o levante em Minas
Gerais para o dia 31 de Março de 1964 e o resto é história; a ECEME já se
considerava sublevada desde o dia 30 de março, segundo o depoimento do Coronel
Hélio Lourenço Ceratti; houve movimentação de tropas do Rio para Minas e para
São Paulo, de Mato Grosso e de Minas para Brasília, de São Paulo para o Rio –
com a disposição dos cadetes da AMAN na
Via Dutra, além de muita movimentação no RS; felizmente, não houve
enfrentamento bélico, assim como não houve em 1961.
“Sabemos
que, dentre os nossos princípios de guerra, está um muito aplicado por
Napoleão: a surpresa. Então a surpresa foi decisiva, aquilo aniquilou qualquer
tentativa de uma reação ordenada. Lembro-me de uma das capas da Revista
Petrobras que continha o desenho camuflado de fuzis e armas de uma possível
revolução comunista, que iria se manifestar em maio de 1964. A Petrobras estava
completamente infiltrada de comunistas a ponto de apresentar em sua revista
oficial um sinal claro do estava por vir” (Coronel Reynaldo de Biasi Silva
Rocha, Tomo 3, pg. 322).
“No
dia 30 [de março de 1964], mais ou menos às 8h30m da manhã, o nosso diretor de
ano, Coronel Cesário (Luiz Cesário da Silva), pai do General que hoje chefia o
Centro de Comunicação Social do Exército (CComSEx), chegou a nossa sala e
suspendeu a aula em curso. Informou que a Escola estava rebelada e que a partir
daquele momento só obedeceria às ordens do Chefe do Estado-Maior do Exército,
General Castello Branco.
Só para confirmar, a data é importante,
este posicionamento da ECEME ocorreu no dia 30 de março?
[entrevistador]
Confirmo,
foi no dia 30 de março de 1964. Quem estava ministrando a aula interrompida
pelo Coronel Cesário era o Paiva Chaves (Carlos Alfredo Malan de Paiva Chaves).
No fim da reunição chegiada pelo Coronel Cesário, os oficiais sabidamente
ligados ou simpáticos ao Governo Jango foram convidados para uma conversa no
gabinete do diretor de ano. Eram uns quatro ou cinco colegas que não mais
retornaram ao nosso convívio.
Os
que permaneceram na sala foram distribuídos em vários grupos, com missões
específicas. Uns foram ocupar os Fortes da Zona Sul, onde só atuariam para
assumir o comando de Unidades ou dar assessoramento aos comandantes
revolucionários. O encargo de um desses foi o de coordenar a segurança do
Governador Carlos Lacerda no Palácio das Laranjeiras” (Coronel Hélio Lourenço
Ceratti, Tomo 13, pg. 183).
“Quando
o General Castello Branco tomou conhecimento das linhas gerais do planejamento
feito, repetiu: ‘Qualquer movimento armado deveria partir de Minas Gerais e não
de São Paulo, porque todos se voltam contra São Paulo’. Ele não queria a
repetição do que aconteceu em 1932” (General-de-Brigada Rubens Resstel, Tomo 7,
pg. 97).
“O
povo brasileiro, irmanado em três raças fortes, base da sua formação, em
perfeita harmonia com suas Forças Armadas, iria reagir à ideologia comunista
estimulada pelas apátridas declarações do Sr. Luís Carlos Prestes. A primeira
delas foi quando Prestes, numa discussão no Senado com o ex-interventor da Bahia,
Juraci Magalhães, declarou que, em caso de guerra entre o Brasil e a Rússia,
combateria ao lado da Rússia. A segunda declaração, já em março de 1964, foi no
Recife, ao fazer o seguinte pronunciamento: ‘Nós, os comunistas, já estamos no
governo, só nos falta o Poder’. Por aí a gente vê e confirma o grau de
infiltração e de comandamento comunista no Governo Jango” (Empresário Francisco
Martins de Lima, Tomo 4, pg. 266).
“Esses
três episódios [dias 13, 26 e 30 de março de 1964] mostravam o avanço das ações
comunistas na direção da tomada do Poder, a ponto de Luís Carlos Prestes, o
chefe maior de todos os comunistas do Brasil, pronunciar, no Recife, a seguinte
frase: ‘Nós, os comunistas, já estamos no Governo, só nos falta o Poder’. Esse
pronunciamento confirma a intenção comunista da tomada do Poder que, aliás,
estava prevista para o dia 1º. De maio de 1964, Dia do Trabalho, conforme
indicava a documentação da cúpula comunista apreendida na época. Então, esses
três eventos, associados ao ‘1º de maio’ e ao estímulo das Marchas da Família
com Deus pela Liberdade, apressaram o desencadeamento da Revolução e
precipitaram o seu eclodir para 31 de março de 1964” (Tenente-Coronel Idalécio
Nogueira Diógenes, Tomo 4, pg. 186).
“No
fim do ano de 1963 – setembro de 1963 – o General Castello Branco assume a
Chefia do EME e, interessante registrar, vai encontrar um grande número de
oficiais completamente engajados no processo revolucionário. O EME era tratado
como se fosse um ‘depósito de pessoal’: quem não estivesse concordando com o
governo, iria para o Estado-Maior do Exército”
(General-de-Brigada Ruy Leal Campello, Tomo III, pg. 55).
“Eu,
como tenente, desconhecia que algo estivesse sendo feito, para dar um fim a
essa situação. A única vez em que tive alguma pista, algum sinal, e não entendi
absolutamente nada do que foi dito. Foi em uma determinada prontidão, quando um
tenente comprou um vinho branco da marca Castelo. Os oficiais sentados à mesa,
eu ponderava sobre todos esses fatos que estavam acontecendo e afirmava que não
aguentava mais e que estava pensando em sair do Exército. O Tenente Porto
Alegre (Jorge Carlos Porto Alegre Rosa), que depois chegou a general-de-brigada,
interveio:
-
Pizzotti, fique calmo porque este vinho ‘Castelo’ vai nos salvar.
Sinceramente,
não entendi coisa alguma e, ainda, tentei questionar. Ele insistiu:
- É
o vinho que vai nos salvar; tome dele que você vai ser salvo” (General-de-Brigada
Oacyr Pizzotti Minervino, Tomo 7, pg. 113).
“Naquele
quadro político que emergiu após a Legalidade, era de se presumir que o Governo
colocasse pessoal de sua confiança nos comandos importantes. Mas na hora ‘H’ o
que se viu foi o esquema todo ruir. O General Luiz Tavares da Cunha Mello que
comandou a Divisão que partiu na direção de Minas foi um dos poucos que
conseguiram mobilizar tropas para a defesa do Governo. Mesmo assim, no primeiro
confronto com as tropas do General Mourão houve a rumorosa defecção do
Regimento Sampaio e de outras Unidades. No Rio, praticamente, foi só o General
Cunha Mello que se definiu claramente em favor do Governo.
Aqui
no Sul, o General Ladário Pereira Telles assumiu o Comando da 6ª. DI e depois o
do III Exército, mas não conseguiu exercê-los. Os oficiais da 6ª. DI e os do
III Exército não cumpriam as ordens dele contrárias à Revolução.
(...)
Uma
cena que não esqueço: quando correu a notícia de que o Jango fugira, ou viajara
para o Uruguai, olhávamos do Forte [Duque de Caxias] e era uma festa só em
Copacabana: desfile, carros, buzinaço, velas e lençóis brancos nas janelas, o
povo todo na rua e foguetes por todo o Rio de Janeiro. Foi realmente um
espetáculo inesquecível a homenagem às forças que haviam derrubado o Jango. Um
exemplo de apoio popular impressionante que muitos insistem em esquecer”
(General-de-Brigada Egêo Corrêa de Oliveira Freitas, Tomo 8, pg. 218).
Suspensão do licenciamento dos soldados
em Novembro de 1963
“Estudávamos
guerra revolucionária, terrorismo, guerrilha urbana, tudo isso os cursos
ensinavam. Agora, em nenhum dos cursos que fiz, nem nas áreas de
quartéis-generais onde servi, nunca ouvi dizer que isso fosse especificamente
dirigido para um determinado movimento como se formou em 1964.
Então
vou entrar na sua ‘chave’. Primeiro: acredito que o Estado-Maior do Exército
agiu, naquela época, com uma precisão notável até o último momento. O golpe fatal foi
suspenderem a baixa dos soldados em novembro. Aquilo foi de uma perspicácia
enorme.
É a primeira vez que ouço isso. [Entrevistador]
Quando
março chegou, não tínhamos recrutas, só soldados adestrados, inclusive para
controle de tumultos. Isso é mais um aspecto a ressaltar. Acho que o
Estado-Maior do Exército foi quem visualizou e conduziu esses caminhos que a
EsAO e a Escola de Comando e Estado-Maior do Exército (ECEME) adotaram e que
propiciaram ao Exército estar em plenas condições para atuar, como ocorreu em
1964” (Tenente-Coronel Alexandre Máximo Chaves Amêndola, Tomo 8, pg. 393).
“Meu
pai [General Carlos Luís Guedes], muito tempo depois, contou um episódio do
então General Ademar de Queiroz, Ministro da Guerra, já na época do Castello
Branco, o qual dizia que, no QG, neste QG que hoje pertence ao Comando Militar
do Leste, nos corredores, nos banheiros, já se conspirava contra aquilo que
estava acontecendo no País. E havia tentativas concretas de se fazer alguma
coisa.
Minas
apenas saiu na vanguarda, porque meu pai dizia o seguinte: ‘Ou nós começamos ou
eles [os comunistas] começam; se nós começarmos nós conseguiremos a
redemocratização e não deixaremos o País ir para o comunismo porque, se o
comunismo vier, aí vai demorar uma eternidade para se voltar à democracia e vai
correr muito sangue’. Essa era uma das mensagens dele.
Aquela
reunião no Acaiaca colocou o civil na rua, e os movimentos, então, começaram a
ser mais claros, até o próprio rompimento do Governador Magalhães Pinto com o
Presidente João Goulart.
Faço
um parêntesis quando falo no Governador Magalhães Pinto, porque ele era
governador de um grande Estado, e precisava do apoio do Presidente. Mesmo
assim, em 1962, ele uniu a Polícia Militar (PM) e colocou sob o comando do
Exército. Aí, aparece o Coronel José Geraldo, Comandante da PM, um dos grandes
chefes revolucionários, e que pensava da mesma forma do meu pai; lembro que a
PM tinha 18 mil homens na ocasião e que as tropas de Minas não passavam de três
mil.
Então,
a união com a PM era muito importante para nós, e isso é que fez com que Minas
partisse, finalmente, unida. Foi a partir desse episódio, que o Magalhães foi
num crescendo, num crescendo mesmo. No início ele dizia que não podia mostrar a
sua face revolucionária, porque o Governo de Minas é que seria prejudicado,
verbas não viriam, o Governo seria afetado, enfim, a dependência do Estado de Minas
ao Governo Federal era um fato inegável.
Mas,
em 30 de março de 1964, ele fez um manifesto, no qual ele rompia publicamente
com o Governo Federal, expondo as mazelas que vinham sendo praticadas a olho
nu, como se dizia: todo mundo via, mas ninguém falava.
Daí,
a aceleração das providências visando à partida do Movimento de 31 de Março de
1964, antes que fossem destruídas todas as bases daquilo que estava sendo
organizado, volto a dizer, praticamente desde 1962, inclusive, porque a ideia
inicial do movimento não era apenas derrubar o Presidente – nem se sabia se
iríamos conseguir uma coisa dessas – mas criar, dentro do Brasil, um Estado que
permitisse a quem não fosse comunista vir ao seu encontro” (Coronel Carlos
Alberto Guedes, Tomo 9, pg. 241-242).
“Sabemos
que o então Coronel Figueiredo, mais tarde Presidente da República, era da
ECEME e na época organizou um grupo de oficiais para pressionar, trabalhar e
conspirar contra o Governo. Sabíamos também que Castello Branco era um homem
extremamente legalista; isso faz parte da sua biografia e ele só se decide pelo
Movimento de 1964 praticamente no seu deflagrar.
(...)
Diria
mais que o Dutra entrou nisso, há evidências do Dutra nessa coisa. De todos,
temos mais a falar do General Mourão Filho e do General Carlos Guedes, que
foram os homens que botaram a cabeça na guilhotina, porque foram os chefes que
saíram lá das Minas Gerais, com forças fraquíssimas, mas moralmente potentes
para vir ao Rio deflagrar e consagrar o Movimento armado, juntamente com o
Comandante da coluna – o General Muricy, que marchou à frente das tropas
mineiras” (General-de-Exército Luiz Gonzaga Schroeder Lessa, Tomo 10, pg. 63).
“É
como eu disse: o Mourão quis ser, e foi o estopim, provocou, deu o primeiro
passo. É aquela história dos ratos, da assembleia dos ratos para se defender
dos gatos: os ratos estavam preocupados, pois vinham sendo comidos pelos gatos
e aí convocaram uma assembleia. Lá se discutiu isso e aquilo – como se discute
coisas inúteis em assembleia – até que um rato disse: ‘Vamos colocar um guizo
no rabo do gato e toda a vez que ele se mexer, o guizo toca e nós nos
escondemos’. Foi aplaudido, aprovada a moção por unanimidade. Então, um outro
rato perguntou: ‘E quem é que vai botar o guizo no rabo do gato?’ O Mourão pôs
o guizo no ‘rabo do gato’. Ele criou o problema. Porque o que havia muito... Eu
estava perto do General Penha Brasil (quatro estrelas), vivia ‘batendo papo’,
digamos, assim como o Castello e os outros e nos mantinham relativamente bem-informados.
Ninguém estava falando em colocar o guizo. E os quatro-estrelas? O Amaury Kruel
vacilou até a última hora, custou muito a se definir. O Âncora estava do outro
lado. Os generais estavam divididos. O Osvino era nitidamente do Governo e o
Jair Dantas Ribeiro uma péssima figura. Estava disposto a fazer o que quiser
que fosse para ser ministro, como foi. Havia essas simpatias. O Kruel, na
madrugada de 31 de março para 1º. de abril, telefonou para o Médici na AMAN,
informando-lhe que decidira pela Revolução e solicitava o apoio de Médici, no
que fosse possível, e o Médici hipotecou-lhe solidariedade.
Foi
daí que ele partiu de São Paulo para a AMAN – na tarde do dia 1º., quando parte
de suas tropas já havia chegado a Resende – para a reunião com o Âncora, que
foi do Rio e estava respondendo pelo Ministério – o Jair estava no hospital. O
Médici promoveu o encontro dos dois, no qual chegaram a um consenso. Vale
lembrar que o Médici já havia ocupado, com o Corpo de Cadetes, uma posição
defensiva frente às forças do I Exército que viriam para São Paulo. O Âncora,
após o encontro com o Kruel, retornou e entregou o comando para os generais que
já estavam reunidos no Palácio Duque de Caxias, no Rio, aguardando o final das
tratativas na Academia. Se tivesse sido diferente, poderia ter acontecido um
problema muito sério, porque a situação da tropa não estava ainda definida
totalmente” (General-de-Brigada Celso dos Santos Meyer, Tomo 10, pg. 139-140).
Estrangeiros infiltrados na Faculdade
Nacional de Filosofia
“Vários
estrangeiros estavam infiltrados, plantados na sociedade brasileira. Como
exemplo, citamos o casal russo Sônia e Ivan, conhecidos, no Brasil, por Stela e
Heinz, fazendo-se passar por alemães.
A
Faculdade Nacional de Filosofia era sempre frequentada por um senhor de idade,
estrangeiro, que se dizia alemão e que todos os dias ia àquele educandário para
jogar xadrez. Quando eclodiu o movimento revolucionário, ele desapareceu e
ninguém até hoje sabe nada a respeito dele.
No
dia 30 de março de 1964, véspera do Movimento 31 de Março de 1964, o estudante
Antônio Carlos Silveira Alves foi ferido, acidentalmente, por um tiro quando
recebia instrução de uso de arma de fogo dentro de uma das salas de aula da
Faculdade Nacional de Filosofia, o que pode caracterizar bem que a revolução
comunista se encontrava em andamento. No início do fato do tiro acidental, o
membro do Partido Comunista e também aluno Antônio Carlos Faria Pinto Peixoto,
que ministrava a instrução, se opôs a que o ferido recorresse a um hospital,
para que não denunciasse e não desse informação a respeito do assunto.
Só
no dia seguinte é que ele foi atendido no Hospital Miguel Couto, sendo que
correu um boato muito forte de que ele tinha morrido, sem ter sido atendido.
Isso é prova suficiente que Alfredo Sirkis está errado ao dizer que tudo
começou com a morte do estudante Edson Luís de Lima Souto no restaurante do
Calabouço, no Rio de Janeiro, em 28 de março de 1968.
O
Calabouço era um núcleo tremendo de comunistas e mantinha ligação com a
Faculdade Nacional de Filosofia, cuja atuação tinha um âmbito enorme, muito
vasto, alcançava vários pontos aqui do Rio de Janeiro, mantendo ligação
permanente com várias outras faculdades.
Em
alguns dias daquele ano, quando estava no Rio, a serviço, assisti àquela turba
de estudantes no Centro da Cidade, quebrando tudo por onde passavam. Inclusive
lojas comerciais que não tinham tido tempo de fechar as suas portas. Era uma
multidão incontida, raivosa, verdadeiras hordas.
(...)
Clube da cueca
Dentro
das normas gerais de ação adotadas pelos comunistas num primeiro estágio,
deviam procurar fazer com que o aluno quebrasse os seus vínculos com a família
e, por esse motivo, o membro do partido comunista Pedro Celso Uchoa Cavalcante
Neto, anterior inclusive ao inquérito da Faculdade Nacional de Filosofia, mas
que levantamos na época, fundou o ‘clube da cueca’, que nada mais era do que um
apartamento para encontros com a finalidade de alunos da Faculdade Nacional de
Filosofia realizarem relações sexuais de acordo com quem estivesse lá
disponível.
Alguns
anos depois, quando aquele aluno comunista saiu da Faculdade, foi então criado
pelo aluno membro do PCB (Partido Comunista Brasileiro), Antônio Carlos Faria
Pinto Peixoto, o ‘clube do amor livre’, que funcionava de maneira ideêntica ao
‘clube da cueca’ ” (Tenente-Coronel Orestes Raphael Rocha Cavalcanti, Tomo 11,
pgl 284-285).
Chineses com muitos dólares e
canetas-revólveres
“Quando
eclodiu o Movimento de 31 de Março de 1964, foram detidos vários chineses.
Muita gente também não se lembra disso. Eles estavam de posse de muitos dólares
e canetas-revólveres calibre 32. Estive com essas canetas na minha mão, na
época que estava à disposição do inquérito policial militar da Faculdade
Nacional de Filosofia e andava sempre em contato íntimo com o SNI e, através do
SNI, cheguei a manusear essas canetas.
Eram
canetas como essa aqui, como uma caneta comum. Tinha percussor que ficava
travado, era do tipo dessa técnica que é usada com essas canetas multicores,
que a gente abaixa uma e prende. Servia para fazer a eliminação seletiva,
atividade em que era muito usada. A pseudocaneta-tinteiro era muito empregada
no terrorismo seletivo.
Quando
eclodiu o Movimento de 31 de Março, estavam cheios de dólares e com essas
canetas, e a única coisa que aconteceu na época é que eles foram expatriados,
recambiados lá para a China, foram expulsos do País” (Tenente-Coronel Orestes
Raphael Rocha Cavalcanti, Tomo 11, pg. 298).
Na Faculdade de Direito da Universidade
Federal do Ceará, comunistas ameaçam professores no “paredão de fuzilamento”
“Na
Faculdade de Direito, onde exercia o cargo de professor: era um professor
jovem, um desportista atuante, e, por conta disso, tinha boa convivência com os
jovens universitários e depois, junto ao 10º. GAC, onde estagiava. Na Faculdade
de Direito, realmente, pude sentir violentar ameaças que motivaram, inclusive,
a necessidade da ocupação daquele estabelecimento de ensino, para que a ordem
fosse restaurada. E quero dizer que, naqueles momentos, muitos professores
foram constrangidos a assinarem manifesto comunista. Os que se recusaram a
tanto foram violentamente ameaçados de morte no ‘paredão de fuzilamento’,
quando os comunistas vencessem a batalha. Eu, certamente, fui um desses tantos,
mas não me quebrei sob as ameaças e reagi” (Procurador de Justiça Meton César
de Vasconcelos, Tomo 12, pg. 323).
Obs.:
O Procurador de Justiça Meton fez CPOR,
com estágio de segundo-tenente, no 10º. Grupamento de Obuses 105, atual 10º.
GAC.
F. Maier
ANTECEDENTES IMEDIATOS OU DIRETOS
Corrupção generalizada
“A
Alfândega de Santos era o exemplo da instituição da corrupção no âmbito
governamental pela ‘máfia’ ligada ao janguismo e pela ‘burguesia-pelega’ da
época. Inspetores, conferentes, despachantes, constituindo verdadeiras
quadrilhas, não raro com o beneplácito de elementos do Judiciário, como
advogados e juízes, forjando mandados de segurança, oficializando o
contrabando.
Na
ponta do fio, os despachantes patrocinavam ‘andorinhas’, pessoas de todo o
tipo, desde garçons a vendedores de loja, com passaporte, viagens e estadas
pagas nos Estados Unidos. Dessas viagens, tão ‘ilustres’ passageiros importavam
Impalas – automóveis de último tipo da época – com porta-malas lotados de
muamba com destino ao Paraguai, em trânsito por Santos, como ‘bagagem
desacompanhada’. Chegavam a Santos Impalas e mais Impalas que, através de
‘mandados de segurança’, impetrados pelos ‘viajantes’ – isto é, despachantes –
eram liberados no Porto de Santos e negociados de imediato por figurões da
época que já aguardavam a ‘mercadoria’.
Tudo
forjado, falsificado, contrabandeado, enriquecendo a burguesia pelega da época.
Fui designado encarregado de Inquérito Policial Militar (IPM) para apurar a
corrupção latente, o que realizei a duras penas, desmascarando a máfia e
apontando à Justiça os envolvidos” (Coronel Antonio Erasmo Dias, Tomo 7, pg.
136-137).
Sublevação de sargentos no 18º. RI, no
19º. RI e na Companhia de Guardas – 29 para 30 de agosto de 1961
“Na
época, servia no 18º. Regimento de Infantaria (18º. RI) e comandava um dos seus
Batalhões. O Comandante do Regimento, Coronel Ottomar (Ottomar Soares de Lima),
teve que assumir interinamente a Infantaria Divisionária da 6ª. Divisão de
Intantaria (ID/6). (...) Nesse tempo, aconteceu um movimento comunista dentro
do 18º. Coincidência ou não, no mesmo momento eclodia algo semelhante em outras
duas Unidades do III Exército: na Companhia de Guardas, comandada pelo Pedro
Américo Leal, e no 19º. RI. Consta, não confirmei nunca, que houve até um
sargento ferido lá. Se não me engano, servia lá um comunista notório, o Nunes
(Oswaldo Nundes).
Para
meu azar, quando me informaram que os sargentos haviam se sublevado, o
Comandante estava fora do quartel; tinha sido chamado ao Qaurtel-General e não
regressara. Os sargentos estavam reunidos em uma subunidade do quartel e
pretendiam prender o Peri quando ele voltasse. Instruí meus oficiais do
Estado-Maior para que permanecessem a postos, mantendo o pavilhão de comando em
condições de receber o Comandante do Regimento. Disse:
- Se
os sargentos tentarem qualquer ação, revidem porque trarei o Coronel.
Uma
das Companhias do meu Batalhão – eu era Subcomandante eventual – a 1ª., era
comandada por um grande Capitão, o Erydson (Erydson Pereira Magalhães).
Simultaneamente, determinei a ele que preparasse um Pelotão de confiança e
fosse buscar o Comandante onde ele estivesse, porque iria assumir o Comando do
Regimento. E mandei os oficiais garantirem a posse.
Decidi
abordá-los e quando entrei na sala, deparei-me com uma porção de sargentos na
minha frente, todos armados. Era de madrugada. Pensei comigo: ‘estou roubado’.
Aí fiz uma peroração:
-
Como é que vocês se arvoram no direito de abandonar suas Unidades e se reunirem
aqui como desordeiros.
Disse
o que tinha vontade de dizer, porque, nessa hora, mesmo não sendo de falar
muito, a palavra vem fácil, é uma coisa interessante. Falei com naturalidade,
mas forte. E terminei dizendo:
-
Não tenho medo de vocês, tanto é que vim aqui sozinho, se quiserem me fazer
alguma coisa, façam. Mas saibam que vou reagir.
Eu
atirava muito bem de metralhadora de mão – era até convencido. Nos estandes de tiro das Companhias,
utilizava uma metralhadora de mão INA, de minha propriedade, e enchia o alvo.
Era demagogia, porque apenas queria mostrar que também sabia atirar, mas
naquela ocasião na Legalidade, me serviu.
Era
uma sala pequena e estava com a minha metralhadora atravessada. Quando terminei
de dizer: ‘(...) mas saibam que vou reagir’, vi todos os olhares convergirem
para trás de mim e pensei comigo: ‘estou cercado’. Virei-me rápido e me deparei
com um punhado de oficiais que estavam ali oferecendo solidariedade e proteção
para mim. Fiquei muito comovido.
Embora
tenha conseguido amainar a revolta dos sargentos, eu não me sentia tranquilo,
pois o movimento ainda não tinha terminado. Disseram que a guarda do quartel
estava com as armas voltadas para nós e que há haviam prendido o Capitão
Alencastro (Sérgio Pêgas de Alencastro). Saí brabo e fui ao corpo da guarda
para ver o que estava ocorrendo. Cheguei, desarmei a guarda e prendi os sargentos.
Voltei para o pavilhão de comando, mas sem saber o que poderia ocorrer ali em
diante.
Embora
o movimento estivesse aparentemente debelado, poderia ressurgir a qualquer
hora. Não sabiam quem estava no comando da sublevação. Quando conversei com os
sargentos que iam prender o Comandante, eles disseram que o líder não era
sargento, era um oficial. Como eu confiava nos meus oficiais, não me contive e
disse:
-
Quero o nome desse traidor porque vou matá-lo!
No
relatório que mandei para o QG, escrevi que não permitiria que continuasse vivo
em nosso Regimento um traidor.
Um
dos sargentos, o Mader, disse que daria o nome do oficial. Não sei por que, ele
teve uma crise, começou a chorar enquanto os sargentos diziam:
-
Não diz! Não diz!
Nesse
instante, ouvi um tiro fora da sala e saí correndo na direção do corpo da
guarda. O Capitão Einloft (Oscar Carlos Einloft) surgiu atrás de mim, vindo na
minha direção, indagando: ‘O senhor está bem, Coronel?’ Ele pensou que tivessem
atirado em mim.
Por
fim, tudo acalmou. Este fato ocorreu na noite de 29 para 30 de agosto de 1961.
E aqui está o resultado desse movimento, são doze folhas do meu relatório,
feito no dia 11 de setembro. O Major Péricles Augusto de Machado Neves) foi
quem movimentou o Regimento contra nós. Era comunista. Isso está aqui escrito.
Major Péricles. Ele era de que turma?
[entrevistador]
Foi
meu cadete na Escola Preparatória nos idos de 1943 ou 1944. Uma cabeça
privilegiada, falava vários idiomas, era professor de psicologia, fazia clínica
de psiquiatria. Infelizmente, foi ele que promoveu esse movimento no 18º. RI.
O senhor disse que houve outros
movimentos em duas outras Unidades. [entrevistador]
Na
Companhia de Guardas e no 19º. Agora, em nenhuma, com a mesma intensidade.
Aquela noite eu pensei que ia morrer. Sentimos que o movimento viera de fora
para dentro, porque nos cortaram a luz e o telefone. Eu via a Vila São José
iluminada e no quartel tudo escuro” (General-de-Brigada José Mattos de
Marsillac Motta, Tomo 13, pg. 99-101).
REVOLTA
DOS SARGENTOS EM BRASÍLIA
Mas ali havia também oficiais,
deputados, quiçá generais.
“Com
esse Sargento Prestes de Paula e com o fotógrafo foi capturado um documento, ao
qual tive acesso e li. Por que li? Porque o Capitão José Fernandes Santana Andrade,
Comandante da Companhia, disse: ‘Máximo, você vai levar para o Regimento
[Santos Dumont], no Rio, esse documento que é da máxima importância, que é o
planejamento da revolta.’ Esclareço que chamam de revolta dos sargentos, mas
ali havia oficiais.
Vamos ouvir bem esse trecho do
depoimento do nosso Coronel, porque é da maior importância.
[entrevistador]
Veja
bem, li, tomei conhecimento, o Capitão Fernandes leu para todos nós, e eu
considero aquilo um trabalho de estado-maior. Os sargentos não poderiam fazer
aquilo sem terem generais, oficiais de estado-maior, comprometidos com essa
causa comunista no País, seja por oportunismo, seja por convicção ideológica,
ou seja, por fisiologismo, fazendo aquele jogo. Então, pude me deter na leitura
e considero um documento de peso, que tem aspectos que jamais me esqueci.
Antes
de trazê-lo para o Rio, como uma missão dada pelo Capitão Fernandes, senti-me
tentado a tirar cópias, coisa que lamento muito hoje não tê-lo feito. Mas
aquele rigor, aquela nossa formação o impedia, porque era um documento
confidencial, já tinha tomado conhecimento. De qualquer maneira, hoje também
estaria privado de fazê-lo. Espero que ele exista, em algum lugar porque o
entreguei ao Coronel José Aragão Cavalcante, meu Comandante, que levou para o
quartel-general e, de lá foi encaminhado para a 1ª. DE. Por isso, não sei mais
onde se encontra, e esta cópia eu não tenho. Ele dizia claramente, as ações
estavam previstas, como se uma ordem de operações fosse, em uma delas havia um
item: ‘pelotão de fuzilamento dos oficiais considerados irrecuperáveis para o
regime’. Que regime?
Vou repetir essa frase, esse
título da ordem de operações, que jamais esquecerei: ‘pelotão de fuzilamento
dos oficiais irrecuperáveis para o regime’. Logo a seguir: ‘Comandante do
pelotão de fuzilamento: sargento Dantas, fuzileiro naval’! São passados 38 anos, e isso foi tão fortemente marcado
na minha consciência, na minha visão de oficial diante daquela balbúrdia, que o
nome por eles escolhido não esqueci. Depois, ‘local das execuções’ – é algo que
tem um certo refinamento, e sem dúvida um apuro na escolha por parte desses
mentores, porque foi selecionado um local adequado, que eram os porões do
prédio das torres de televisões de Brasília. E, realmente, ali é uma espécie de
garagem enorme. Tive o cuidado de ir lá, depois de passados os acontecimentos,
é um lugar bem adequado para fuzilamentos, sobretudo para um grande número de
pessoas. Eles tiveram esse requinte” (Coronel Francimá de Luna Máximo, Tomo 11,
pg. 207-208).
“Em setembro
de 1963, em Brasília, a fim de contrapor-se a uma resolução do Supremo Tribunal
Federal sobre questão de inelegibilidade, os sargentos rebelaram-se. Quase
tomaram conta de tudo, não o fazendo por mero acaso. Ocuparam a Base Aérea, a
Base Naval, os quartéis do Exército, sujeitaram os ministérios da Aeronáutica e
da Marinha. Não foram tomados o Ministério do Exército, cuja guarda reagiu, e o
BGP.
Tomaram
o BPE, prenderam os oficiais e os levaram para a Base Aérea.
Por
que não tomaram o BGP? Quando o motorista do Comandante da Base Aérea, após ter
deixado o Coronel em casa, chegou à noite na Base, encontrou uma grande
agitação. Perguntou o que estava havendo e lhe responderam: ‘É a Revolução!
Pega o seu fuzil!’ Ele se esgueirou, pegou o carro de novo e foi para a casa do
Coronel avisar-lhe o que estava acontecendo na Base Aérea. O Coronel, já de
madrugada, ligou para o Comandante do BGP. Não sei se propositadamente ou não,
o Presidente estava ausente; o Comandante da Região Militar também. Estavam todos
viajando, restando presente como maior autoridade o Coronel Raymundo. O
Comandante da Base disse o que tinha acontecido.
O
Comandante, imediatamente, ligou para alguns oficiais do quartel, um deles fui
eu, por acaso tinha telefone. Ele me ordenou para apanhar os companheiros que
pudesse e me dirigir para o quartel, porque havia problemas. Não disse mais
nada. Pois bem, ele saiu, foi para o quartel e quando entrou no Corpo da
Guarda, disse:
-
Sargento, coloca a Guarda em forma!
Ele
não sabia que aquele sargento estava ali para imobilizar a Guarda. Mas, diante
da ordem de supetão, o sargento a cumpriu. Assim ele evitou a surpresa.
O
Oficial de Dia mandou o Adjunto fazer uma ronda nos fundos do quartel e ele foi
preso pelo pessoal da Aeronáutica que já estava cercando o aquartelamento, com
uma boa quantidade de armamento e munição, muito mais novo do que o nosso. Mas
o Adjunto teve presença de espírito e disse:
-
Calma, também sou sargento. Esperem aí que vou lá e aviso aos companheiros que
vocês estão chegando.
De
volta, relatou tudo para o Oficial de Dia, que acordou algumas subunidades; o
pessoal começou a armar-se e a fazer os preparativos. Quando chegamos de carro,
por volta das 2h30min ou 2h40min da manhã, assumimos o comando dos pelotões de
recrutas e saímos para romper o cerco do quartel. Houve tiros, prendemos muita
gente e recuperamos as viaturas, a munição e o armamento que eles tinham.
Rechaçamos o cerco do quartel.
A
partir daí o combate aos rebeldes foi planejado. Um pelotão foi designado para
reforçar a guarda do Ministério do Exército, sob o comando de um companheiro,
Tenente André, que foi caçado juntamente com seu pelotão na Esplanada dos
Ministérios, pelo pessoal dos ministérios da Marinha e da Aeronáutica. Era fogo
cerrado em cima e ele com um pelotão de recrutas, mas só ele e os sargentos
respondiam ao fogo, pois os recrutas não sabiam atirar direito. Conseguiram
progredir e se abrigaram no prédio do Ministério, mas as rajadas de
metralhadora estilhaçavam os vidros e as persianas caíam sobre eles; foi
difícil.
O
Comandante Raymundo Netto Corrêa assumiu o comando de toda operação. Organizou
três colunas: uma partiu para a Esplanada dos Ministérios, a fim de retomar os
ministérios da Marinha e da Aeronáutica; uma foi para a Base Aérea e a outra coluna
para a Base Naval. Cercamos esses locais, os revoltosos se renderam e foram
todos enviados para uma prisão na Baía de Guanabara.
Apurou-se que haviam
documentos com os nomes de todos os companheiros que eram contra eles,
relacionados para serem fuzilados debaixo da grande torre de TV, de Brasília,
onde havia uma plataforma de concreto. Isso
já serviu de ensinamento, mais adiante, e aconteceu em setembro de 1963.
Os
fatos se sucederam cada vez mais graves. Tínhamos ciência da existência do que
seria o Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST) daquela época, a
chamada Polícia da Boa Vontade, comandada por um cidadão de nome Raulino, na
cidade satélite de Taguatinga. A sede era lá, mas eles vinham em direção a
Brasília, fechavam os acessos e reivindicavam isto ou aquilo. Quando a polícia
se aproximava para tentar liberar a via e retirar os manifestantes, chegava a
ordem do Palácio do Planalto para deixá-los. O Governo era conivente com aquela
situação, mais ou menos parecida com que se vê hoje com relação ao MST.
Aceita-se violência da parte deles” (Coronel Marnio José Signorelli Teixeira
Pinto, Tomo 7, pg. 211-212).
Ainda sobre a Polícia da Boa Vontade,
após o Movimento de 31 de Março
“Notícias
nos davam conta de que seriam 15 mil candangos armados que atacariam o quartel,
destruiriam o Congresso e saqueariam os supermercados. Essa resistência em
Brasília seria montada com a tal Polícia da Boa Vontade armados pelo General
Fico [General Nicolau Fico, Comandante da Região Militar] e que este teria
desistido da ideia ao saber que o BGP estava revoltado” (Coronel Marnio José
Signorelli Teixeira Pinto, Tomo 7, pg. 216).
PM do RN e do PI se solidarizaram com a
Revolta dos Sargentos em Brasília
“Em
setembro de 1963, os sargentos de Brasília, a maioria da Aeronáutica,
revoltaram-se. Com isso, duas polícias militares, do Rio Grande do Norte e do
Piauí, resolveram, digamos, apoiar aquela revolta e fizeram uma greve. Nessa
época, disputava o campeonato de basquete do Exército, no Rio de Janeiro e, ao
regressar, fui designado para reorganizar a Polícia Militar do Rio Grande do
Norte. Para a Polícia Militar do Piauí, seguiu o Coronel Torres de Melo
(Francisco Batista T. de Melo). Assumi o comando, em Natal, no dia 1º de
outubro de 1963, e dei início ao meu trabalho. Foi instaurado um inquérito para
apurar as causas daquela situação de anormalidade da Polícia Militar.
A
missão ordenada pelo General Pinheiro, se fosse cumprida, geraria um massacre
de paraquedistas
“Entra o General Pinheiro –
Comandante do Núcleo da Divisão Aeroterrestre, indagando: ‘Qual é a Companhia
que vai cumprir a missão?’ ‘A 1ª. Companhia’. ‘Quem é o Comandante?’ ‘Tenente
Nery’. ‘Tenente, aqui’. Fiquei em pé, ao lado dele. Ele abriu em cima daquela
mesa grande, no cassino dos oficiais, local da reunião, a carta de Brasília.
Quando olhei, entendi o que já sabíamos durante a noite. Tinha havido uma
rebelião em Brasília, a Base Aérea foi tomada, alguns quartéis já estavam
tomados, alguns oficiais presos e a cidade estava na mão de uma rebelião. Só
não sabíamos a extensão do problema, naquele momento. Mas era sério. O
Presidente, os ministros e as principais autoridades estavam propositadamente
fora de Brasília. Na verdade, foi tudo planejado. Inclusive, deputados
participaram daquele levante. O General Pinheiro disse: ‘Tenente, não está acontecendo nada
em Brasília. Você vai levar a sua tropa, desembarca, vai desarmado. Você vai
fazer um desfile semelhante ao de Sete de Setembro, no Dia da Pátria, na
Alameda dos Ministérios’.
Sabíamos que não era aquilo.
Acabáramos de ouvir na rádio – estávamos atentos, ligados, tínhamos
informações. A realidade era outra. Brasília estava sublevada, era a rebelião
dos sargentos, a maioria da Marinha e da Aeronáutica. Obedeciam a um
intelectualizado comando civil, não se restringia apenas a Brasília e devia
estender-se por todo o País. Da chefia da rebelião, participaram os Deputados
Neiva Moreira, do PSP-MA, Hércules Correia, Marco Antonio, do PCB-GB, e Max da
Costa Santos, do PSB-GB, sob a liderança de Leonel de Moura Brizola. Pela
ordem, os revoltosos pretendiam: depor o Presidente da República; fechar o
Congresso; acabar, sumariamente, com o Supremo Tribunal Federal, classificado
como órgão inútil e dispensável; desvirtuar o regime e implantar uma república
(ditadura) socialista; transformação total das Forças Armadas.
Os prédios dos Ministérios
da Marinha e da Aeronáutica estavam ocupados e os revoltosos já estavam no
terraço, na cobertura, no telhado dos pavilhões nos esperando. Sabiam que a
tropa paraquedista ia saltar. Seríamos eliminados como pombos. Íamos saltar e
desfilar desarmados. Disse para o General: ‘General, não é isso...’ Não
completei a frase! Quando ia começar a falar, levei uma ‘botinada’, por debaixo
da mesa. Eu estava em pé e os outros oficiais do Estado-Maior do Regimento,
sentados. O Oficial de Operações, Major Giácomo Jannuzzi Neto, me deu um
pontapé. Eu entendi. Era para ficar calado. Calei-me e ouvi a missão – desfilar
desarmado.
Ao sair dali, fui falar com
o Major Jannuzzi. Ele me disse: ‘Nery, é rebelião, se você for desarmado, você
vai morrer, sua tropa vai ser eliminada. É guerra! Eles ocuparam Brasília e já
leram o manifesto de criação da República Sindicalista Comunista do Brasil’. Eu
pergunto: ‘Como é que eu vou, Major?’ ‘Vá armado, claro! Você vai para a
guerra’. ‘Qual é a minha missão?’ ‘Você vai saltar para libertar Brasília’.
Saltar, para libertar Brasília das mãos dos revoltosos, ou seja, conquistar
Brasília. Essa foi a missão. ‘Onde estão os revoltosos?’ ‘Ocupando os prédios
dos ministérios militares. Já existem oficiais presos. Você tem que libertá-los
– descobrir onde eles estão e libertá-los’.
Naquele momento, minha maior
preocupação era armar a Companhia – duzentos homens. E a munição? Veio a
informação de que tinham trancado a munição. O Oficial de Munições do
Regimento, Tenente Eglair Barcelos Alves, disse: ‘Nery, vou me virar. Deixa
comigo’. E saiu, para conseguir a munição. Comecei a pegar o armamento, quando
chegou uma parte da munição. Tinha que ‘enfardar’. Dei ordem para colocar a
munição no carregador e levá-la também no cinto. O grosso da munição seria
acondicionado em um cunhe-te, com um paraquedas em cima para ser lançado do
avião. Após o salto, você sai correndo para procurar a munição, pegá-la e levá-la
com você. Sabendo que precisava de muitos paraquedas, mandei buscá-los. Chegou
a informação: o major encarregado dos paraquedas fechou a ‘baiúca’ – como nós
chamamos o local de acondicionamento dos mesmos – e não vai distribuir os
paraquedas para você, por ordem do general – o paraquedas da munição! Na hora,
imediatamente, dei a ordem para que os cunhetes fossem abertos. Mandei
distribuir a munição pelos bolsos. Iríamos saltar com a munição dentro do
bolso, em quantidade. Aí, surgiu um problema. Soubemos que a rebelião era dos
sargentos de Brasília, com o foco principal na Marinha e na Aeronáutica.
Em virtude daqueles
acontecimentos de 1961, quando o General Santa Rosa, Comandante dos
paraquedistas, elogiou os sargentos por não terem cumprido ordem de seus
superiores hierárquicos, e do Governador Brizola mandando os sargentos matarem
seus oficiais, criou-se um ambiente de mal-estar dentro da tropa. Aquilo foi
sendo alimentado numa sequência, agora essa rebelião em Brasília, era o dia 12
de setembro de 1963. Apesar de preocupado, mandei distribuir a munição para os
sargentos. Não podia duvidar da lealdade dos sargentos. Paguei para ver.
Estávamos em pleno
aprestamento, tínhamos que preparar a munição, preparar os fardos. O
subtenente, aquele homem mais antigo, aquele sargento que foi alçado à função
de subtenente, o administrador da carga da Companhia, chegou para mim e disse:
‘Capitão, preciso falar com o senhor, aliás, todos os sargentos querem falar
com o senhor’. Eu disse: ‘Bom, o que houve? Vou lá’. Eles estavam numa sala,
reunidos. O subtenente iniciou: ‘Capitão, o senhor mandou distribuir a munição
para todos nós, sargentos. O senhor confia nos sargentos da Companhia?’ Chamei
a atenção dele: ‘Em algum momento, desconfiei de vocês? Em algum momento,
pensei isso? Não estou entendendo o que vocês estão falando’. ‘Capitão, a
reunião é para agradecer a confiança. Conte conosco. Em nenhum momento, o
senhor deixará de contar com a nossa lealdade. Conte conosco’.
Assim, fui para Brasília.
Eram 14 aviões. Até aeronave em manutenção decolou. Os antigos aviões C-82
voavam de porta aberta. Cruzando a serra de Petrópolis e Teresópolis, e
seguindo para Brasília, fazia muito frio, eu sentado ao lado da porta, olhando
o voo em formação, vi um avião pegar fogo – o avião do Tenente Maia Martins.
Retornou para os Afonsos. Mais adiante, o avião do Valporto, também, pega fogo
e pronto, o efetivo estava se reduzindo. Depois, eles chegaram a Brasília -
dois dias depois – não houve problema.
A nossa viagem foi longa.
Foi aquilo que eu disse: dentro do avião, você olha para o soldado e ele está
lhe olhando, você vai para lá e ele olha para lá, você vem para cá e ele olha
para cá. E eu me dei contra de que eu tinha dado a ordem, antes de decolar:
‘Nós vamos saltar na Alameda dos Ministérios. O suposto inimigo está ocupando
os telhados dos quatro prédios e vai atirar em nós. Todos os oficiais e
sargentos deverão tirar a arma do invólucro e durante a queda atirar em tudo o
que se mover’. Eu, como comandante, tinha que dar uma ordem que protegesse a
minha tropa e que permitisse o cumprimento da missão. Sabia que, com duzentos
homens, tinha que libertar Brasília. O que é isso? A cabeça não funcionava.
Qual a verdadeira dimensão disso. Brasília é muito grande. Aonde eu iria
procurar esse pessoal? A ordem estava dada.
Durante o voo, fiquei
pensando: vou chegar em Brasília às 5h da tarde, o expediente está terminando,
os funcionários estão cruzando a Alameda dos Ministérios. São pessoas que vão
estar se movimentando. Vamos atirar? Muita gente vai morrer, muita gente
inocente. O mestre de salto, o comandante em cada avião, vai com o fone no
ouvido, escutando os pilotos. Eu ouvia a conversa dos pilotos. Não ia haver
combustível para prosseguir o voo depois de Brasília. Eles diziam: ‘Vamos
pousar em qualquer lugar’. A situação era difícil e preocupava. Confesso que,
sozinho – não tinha ninguém para conversar, eu era o único oficial no meu
avião, os outros tenentes estavam nas demais aeronaves – fiquei preocupado,
muito preocupado.
Aí, me veio a história de um
outro livro – o emprego de paraquedistas belgas no Congo – quando houve um
levante e muitos reféns, mais de 1.500 reféns. A tropa paraquedista foi
empregada com sucesso – eles não saltaram em cima do objetivo. Você, na sua
introdução, falou na nossa EsAO, não foi? A Escola que aplica a doutrina no seu
laboratório, que é o campo, associando tática e técnica com tiro real, o
mestrado do oficial, a última escola onde aprendemos e aplicamos a tática da Arma.
É errado, no planejamento paraquedista, você traçar a zona de lançamento em
cima do objetivo – você não salta em cima do inimigo. Ah! Que felicidade! No
avião, lembrei-me disso. Então, me veio aquela sensação de satisfação – não
devo saltar em frente aos ministérios – tenho que saltar longe. Fazer como os
paraquedistas belgas: pegaram tudo o que andava, tudo o que tivesse roda e
foram correndo para o objetivo e libertaram os homens que estavam presos, seus
patrícios.
Então, imaginei: vou saltar
em outro lugar, assim vamos evitar atirar em tudo o que se mova. Tudo que se
mova seriam os funcionários terminando o expediente, saindo de Brasília.
Adquiri confiança e disse para o Comandante da aeronave – ele me avisaria vinte
minutos antes, com um toque de sirene dentro do avião: ‘Comandante, determine a
entrada em formação cerrada – para as aeronaves se aproximarem – dê uma rasante
em cima da alameda dos Ministérios. Depois, vou dar a final para você’. Nós
íamos saltar, eu tinha decidido saltar depois da Alameda dos Ministérios, bem
distante. Preferia ir a pé, correndo, para o objetivo.
Quando ele cerrou, dez
minutos antes de chegar em Brasília, o meu ala esquerda – eu via, a distância é
curta – o meu ala esquerda estourou o motor e pegou fogo. Era, justamente, a
aeronave do Tenente Brandão. Pegou fogo no motor. Aquilo foi imediato! Mudei a
missão! Eu disse para o Comandante da Aeronave: ‘Mande que siga direto para o
aeroporto’. O aeroporto estava nas mãos dos revoltosos. ‘Mande-o seguir direto
para o aeroporto e vamos todos para lá, vamos desembarcar’. Salto de viatura em
movimento – nós sabíamos fazer isso. Quando a aeronave tocar no chão, nós
saltamos sem paraquedas, ou seja, salta e rola. É claro que nós íamos ter
baixas com isso, mas estávamos treinados. Saltávamos de viatura em movimento
até na Avenida Brasil. Fazíamos esse adestramento. Ele falou: ‘O aeroporto está
nas mãos dos revoltosos’. Porém, eu sabia que um pelotão de Goiânia já estava
se dirigindo para lá – uma Companhia de Goiânia – sob o comando do então
Tenente Machado Borges, o mesmo que chegou a General. Quando a primeira
aeronave, que era a do Brandão, tocou a pista, ele comandou o salto. Todo mundo
pulou da aeronave – joga a arma e salta feito um fardo, feito uma roda. Você
encolhe todo o corpo e sai girando, pois machuca menos. Posamos em seguida.
Mas houve uma ocorrência.
Realmente, o aeroporto ainda estava nas mãos dos sargentos revoltosos. Um
deles, ao ver o avião pegando fogo no motor, comentou que aquele ali já está
sendo destruído pelo fogo e que ele iria acabar com ele, jogando uma granada. E
correu na diração do avião para jogar a granada. Acontece que ele estava perto
da cerca e parece que o estacionamento dos táxis, no aeroporto de Brasília. Os
motoristas ouviram aquilo e pularam a cerca, começando a correr atrás dele. Foi
uma cena inusitada. Os motoristas se abraçaram com aquele sargento que tinha
uma granada na mão, enquanto ele gritava: ‘Vou soltar a granada’. Quando o
Brandão chegou, com alguns homens, a granada não tinha nem mais grampo. Estava
sendo presa pelo capacete, na mão, e o sargento já com medo de soltar a
granada. Após ser preso, ele confirmou que ia jogar a granada para destruir a
aeronave, que sabia ser da tropa paraquedista.
Neste ínterim,
desembarcamos, corremos para frente do aeroporto e pegamos todas as viaturas,
carros, caminhões e ônibus que apareceram por ali. Desloquei-me em comboio com
a minha tropa – duzentos homens – chegamos na Alameda dos Ministérios, do outro
lado dos ministérios militares. Fiz o sinal para parar e logo a seguir o de
avançar. Não falei mais nada. Desembarcamos correndo, tomamos de assalto os
ministérios, fomos do primeiro piso até o último e fizemos setecentos
prisioneiros. Todos estavam armados.
É preciso lembrar que
ocorrera uma ação de um pelotão da Polícia do Exército-PE, na véspera. Naquela
noite, o Tenente era o Uchoa. Mas o que houve com ele? Acontece que no momento
do ataque dos sublevados ao Ministério da Aeronáutica, ele estava com o pelotão
guarnecendo e resistiu ao ataque. Foram disparados muitos tiros contra o
pelotão dele. Que era composto de ‘catarinas’, lembra? Naquela época, a Polícia
do Exército incorporava somente soldados do Sul do Brasil – os
‘barrigas-verdes’ catarinenses – os ‘catarinas’. Ele deu ordem de fogo, porque tinha que impedir
o ataque – era um ataque mesmo. Nenhum soldado atirou, nenhum soldado atirou.
Ele tomou o fuzil de um soldado e atrás de uma coluna gastou a munição, rolou
para outra coluna – todos os soldados estavam atrás das colunas do ministério.
Ele foi de soldado em soldado e resistiu ao ataque sozinho, atirando, porque os
soldados não o fizeram.
A Biblioteca do Exército tem
um livro, de 1958, ‘Homens ou Fogo’. Eu li muito esse livro e se eu não me
engano é do General Omar Bradley que fez um inquérito na Segunda Guerra Mundial
sobre o porquê do homem não atirar, quando está em combate. Após uma operação
nas ilhas do Pacífico, ele colocou dois ou três regimentos de ‘quarentena’,
vamos dizer assim, numa ilha do Pacífico e ouviu do comandante ao último soldado.
Onde você estava na hora do ataque? O que houve? Por que você não atirou?
Etc... E concluiu, dizendo o seguinte: ‘O fator psicológico’. Ele tem uma
referência interessante: o jovem, principalmente – é o nosso caso, que
incorporamos recrutas – o jovem é criado para não maltratar até os animais. É
aquele negócio, não amarrem uma lata no rabo do gato, não maltratem o animal e
de uma hora para outra, dos dezessete para os dezoito anos ele se apresenta no
quartel e nós vamos ensiná-lo a atirar para matar.
Disse isso, quando estava na
Academia Militar das Agulhas Negras: ‘Estamos aqui para ensinar vocês a matar,
mas a matar em defesa da Pátria’. O Tenente Uchoa ficou abismado. Como é que o
soldado não atirava – não houve jeito dele atirar! No livro, Omar Bradley diz:
‘O maior índice de aproveitamento de tropas na Segunda Guerra Mundial foi com a
tropa paraquedista e de comandos’. Os paraquedistas russos chegavam a ter 18%
dos que atiram, no máximo 20%. Ou seja: de cada grupo de combate de infantaria
só dois homens atiram quando se deparam com o inimigo, mesmo quando ele está
correndo a dez metros de distância. Um grupo de combate tem um sargento e um
cabo. Se, dos dez integrantes, dois atiram, somente o sargento e o cabo
atiravam. Os soldados, não. Os recrutas não atiram, é preciso muito treinamento.
Uma prova foi o que ocorreu com o Tenente Uchoa.
Com a tropa paraquedista, o
rendimento é maior, mas chegamos ao último andar dos quatro prédios dos
ministérios e fizemos setecentos prisioneiros. Quantos tiros demos? Nenhum;
Prendemos a todos, depois de tomarmos de assalto o local. Foram colocados num andar e ficamos no
outro andar, embaixo. Durante 45 dias, nós ficamos ali guarnecendo. Dormíamos
no chão. Eles dormiam no andar de cima, também, no chão, o mesmo espaço, as
mesmas condições sanitárias – estávamos no andar de baixo e eles sabiam que não
podiam descer, eram sargentos.
Já à noite, reorganizei
minha tropa. Veio
uma informação rápida: acabaram de entrar num bloco de apartamentos, em uma
superquadra e cortaram os pulsos da esposa de um oficial, porque queriam
prender o marido. Ela foi salva pelos vizinhos. Cortaram os dois
pulsos porque ela não dizia onde estava o marido. Ela também não sabia. Ele
tinha saído para ir ao quartel. Ela nem sabia se ele já estava preso. Queriam o
seu marido. Era um oficial do Exército, um capitão, e cortaram os pulsos dela.
Fiquei com medo, porque aquilo poderia representar para a tropa uma reação
maior, a partir dali. Graças a Deus, não foi preciso.
Outra informação: na rodoviária
de Brasília, a última passagem, a mais baixa, naquela época de 1963 – a
rodoviária não estava concluída, ainda estava em obra -, fora fechada pelos
revoltosos. Eles fecharam de um lado e do outro. Deixaram uma porta e escreveram no muro –
Paredão – e colocaram, em posição, um pelotão da tropa de fuzileiros navais,
com metralhadoras. Iam começar o fuzilamento dos oficiais que já
estavam presos. Peguei um grupo e mandei ao comando do Tenente Valporto, para a
rodoviária. Prendemos todo o pelotão, com as metralhadoras em posição, prontas
para fuzilar os oficiais. Essa foi a minha vivência em 1964 e antes de 1964, em
1963. Prendemos o pelotão e abriu-se um inquérito. Fizemos até um comentário,
porque o inquérito foi feito na Marinha. A maioria dos sublevados era da
Marinha. Conversando com o encarregado do inquérito, lhe disse: ‘Comandante,
daqui a 15 dias vão estar todos de volta, como se nada tivesse ocorrido’. Esses
presos foram trazidos de avião, por nós, para o Rio de Janeiro. Ficaram no
navio-prisão.
Há um fato que gostaria de
acrescentar. Quatro ou cinco dias depois, chegou a Brasília um Batalhão do
Regimento Santos Dumont. Não trazia munição. O general [Pinheiro] não tinha
deixado. Passaria a integrá-lo. O negócio estava quente, porque, ainda, estávamos
fazendo a limpeza de Brasília. Informei ao major que havia reunido toda a
munição que trouxera, em uma sala do pavilhão do ministério. ‘Tem suficiente?’
perguntou. Respondi: ‘Tenho munição para um batalhão, por um ano’. A nossa
corrida, a proibição de sair armado! Foi tanta gente levando munição, ao
sairmos do Rio! O Barcelos, Eglair Barcelos Alves – Oficial de Munições.
Lembro-me de que, já com todas as aeronaves ‘taxiando’, motor ligado, ele
chegou com a viatura e foi jogando os cunhetes pela porta dos aviões. Os
pilotos ficaram preocupadíssimos. Tinha muita munição, o Batalhão cumpriu a sua
missão e nós retornamos para o Rio.
O Comandante do Batalhão,
Major Giácomo Jannuzzi Neto, chamou-se, aqui no Rio, depois da operação e
disse: ‘Nery, você fai fazer uma relação dos militares que vão receber
condecoração, por bravura, nesta operação, você faz isso?’ ‘Claro, indico os
homens da minha Companhia que merecem a medalha’. Chamei o meu sargenteante e
pedi que ele me desse o mapa da força – o manifesto do voo de lançamento dos
paraquedistas, para que todos fossem incluídos, todos os militares que foram
para Brasília comigo, que tomaram Brasília de assalto e que tinham consciência
de que libertaram Brasília. Entreguei ao Major Jannuzzi, Comandante do Batalhão,
a relação de toda a Companhia. Ele disse: ‘O que é isso? Pedi para você o nome
daqueles que merecem...’ Eu lhe disse: ‘Major, todos nós fizemos a mesma coisa.
O que um fez, o outro fez também. Todos fomos além do dever’. Palavras dele:
‘Nery, só vou indicar você, porque condecorar duzentos por ato de bravura vai
desmoralizar a medalha’. Sendo assim, somente eu seria indicado. ‘Major, essa
eu não vou receber. O senhor me desculpe – ou concede para todos ou não me
mantenha na relação’. E realmente, foi isso que ocorreu. Aqueles que estavam em
Brasília, foram condecorados. Os tenentes, sargentos e soldados paraquedistas
que, numa ação enérgica e eficaz, sufocaram um movimento revolucionário que
pregava uma ampla indisciplina contra a hierarquia militar e contra a
autoridade e a legitimidade do Poder Judiciário, representado pelo tribunal
mais alto, que é o Supremo Tribunal Federal, não foram reconhecidos. Essa era a
situação vivida naquela época, que levou à eclosão da Revolução de 1964”
(General-de-Brigada Durval Antunes Machado Pereira de Andrade Nery, Tomo 10,
pg. 169-176).
General
Pinheiro, o “Faz Tudo”, era acrobata e promovia festanças em Brasília
“Recordo-me de que o NuDAet
teve uma fase sob o comando do General Pinheiro, apelidado de ‘Faz Tudo’. Ele
era um homem da ‘corte’, mas causava admiração por sua figura de paraquedista.
Ele tinha uns cacoetes que encantavam os mais jovens. Por exemplo: por vezes,
ao receber a apresentação da tropa em plena forma física, lépido, se antecedia
com um salto mortal e recebia a apresentação, como se fosse um desses ases das
equipes de saltos ornamentais. Coisas assim, consideradas um pouco
deslumbrantes para os capitães, tenentes e para os sargentos. No entanto, ele
era um homem da absoluta e irrestrita confiança do Presidente João Goulart,
tendo desempenhado o cargo de Comandante do Batalhão da Guarda Presidencial
(BGP) e, segundo comentava-se durante nossa permanência naquela cidade,
organizava festas, recepções íntimas e orgias planaltinas para devaneio da alta
cúpula do poder, em Brasília” (Coronel Francimá de Luna Máximo, Tomo 11, pg.
212).
Obs.:
Durante a rebelião em Brasília, além
de alguns feridos, foram mortos o fuzileiro naval Divino
Dias dos Anjos (rebelde) e o motorista civil Francisco Moraes
(cfr. “A Verdade Sufocada”, pg. 65).
F. Maier
CONTINUAÇÃO:
Parte I
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PARTE II
http://felixmaier1950.blogspot.com/2020/09/historia-oral-do-exercito-31-de-marco_3.html
PARTE III
http://felixmaier1950.blogspot.com/2020/09/historia-oral-do-exercito-31-de-marco_72.html
PARTE IV
http://felixmaier1950.blogspot.com/2020/09/historia-oral-do-exerctio-31-de-marco.html
***
HISTÓRIA ORAL DO EXÉRCITO - 31 DE MARÇO DE 1964
Em
15 Tomos
Biblioteca
do Exército Editora, Rio de Janeiro, 2003
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BIBLIOGRAFIA:
MOTTA, Aricildes de Moraes (Coordenador
Geral). História Oral do Exército - 1964
- 31 de Março - O Movimento Revolucionário e sua História. Tomos
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