MEMORIAL 31 DE MARÇO DE 1964

MEMORIAL 31 DE MARÇO DE 1964
Avião que passou no dia 31 de março de 2014 pela orla carioca, com a seguinte mensagem: "PARABÉNS MILITARES: 31/MARÇO/64. GRAÇAS A VOCÊS, O BRASIL NÃO É CUBA." Clique na imagem para abrir MEMORIAL 31 DE MARÇO DE 1964.

sexta-feira, 14 de agosto de 2020

O CASO HERZOG - por General Raymundo Negrão Torres


O CASO HERZOG

Raymundo Negrão Torres (*)

No início de 1974, a guerrilha urbana e o terrorismo em São Paulo haviam praticamente sido desbaratados. A aventura guerrilheira do Araguaia começava a dar seus últimos suspiros. Iniciava-se o período da “distensão lenta, gradual e segura”, como a imaginava o Presidente Ernesto Geisel. Os órgãos de segurança voltavam suas vistas para o PCB que, seguindo a orientação de Moscou, não se envolvera na luta armada. Em pouco tempo, o pessoal que enfrentara os difíceis anos de uma luta sem quartel concluiria que o pessoal do “Partidão” não tinha o treinamento, a estrutura psicológica e a garra da turma da luta armada.

Cerca de um ano depois, entra na mira da repressão uma célula comunista do PCB existente na redação da revista Visão. Entre os suspeitos está o jornalista Vladimir Herzog Procurado na TV Cultura - onde era responsável pela edição de um telejornal – e intimado a comparecer ao DOI para prestar declarações, alega a impossibilidade de afastar-se do trabalho naquele momento. Fica então combinado que o fará no dia seguinte, o que é cumprido. Em sua cela, após trocar sua roupa por um macacão, o uniforme de todos os presos, Herzog recebe uma folha de papel e uma caneta para escrever o que tivesse a declarar. Era a chamada DPP, declaração de próprio punho. Apesar do pouco tempo de militância, escreve extensamente, descrevendo as atividades de sua célula e apontando os companheiros de partido que conhecia, inclusive Rodolfo Konder, seu colega de redação na revista que também estava preso. Sete horas depois, Vladimir Herzog estava morto e sua morte iniciaria um dos mais rumorosos casos envolvendo os órgãos de segurança e seus incansáveis acusadores.

O ex-presidente Geisel – que teve participação direta e saliente no caso, principalmente depois que a morte do jornalista desencadeou um verdadeiro furor na imprensa, com evidente prejuízo para seu projeto de distensão – declarou em suas memórias, publicadas em 1997 pela Editora da Fundação Getulio Vargas:

“Agora a esquerda tem um herói. De fato criaram um herói. Pegaram uma pessoa relativamente sem importância e a transformaram num herói para a esquerda.” (pág. 372).

Tinha razão o ex-presidente. Mas sua observação era o ponto de partida para desmentir a versão de morte sob tortura. Torturar para quê? Para obter informações de um apagado integrante de uma célula do Partidão na revista “Visão”? As circunstâncias de sua convocação para depor não parecem indicar coisa diferente. Pressionar psicológica e/ou fisicamente quem já havia contado tudo em depoimento espontâneo e de próprio punho e que ia ser posto em liberdade, sem sequer ser indiciado em Inquérito? Não parece fazer sentido. Clarice Herzog, hoje, aos 63 anos, dona de uma conceituada empresa de pesquisa de mercado em São Paulo, dá a versão de que as “torturas” teriam sido conseqüência de ter o preso, em momento de fúria, rasgado o papel em que escrevera o depoimento – que ela chama de “nota de arrependimento” – deixando irados seus interrogadores.

Mas, a repercussão da morte de um jornalista, ainda mais que o fato passou a ser explorado com sensacionalismo pela mídia, traz o presidente Geisel a São Paulo. Meses antes, em março, ele autorizara a ida a São Paulo de seu ministro da Justiça, Armando Falcão, para avaliar as queixas do general Ednardo d´Ávila Melo, pela verdadeira campanha difamatória que a imprensa fazia contra as autoridades militares, visivelmente incentivada pelos novos ares da anunciada abertura política. O relatório secreto dessa viagem está transcrito no livro “Dossiê Geisel” (Editora Fundação Getúlio Vargas, 2002 - Anexo 2). Geisel diria, ainda, anos depois em suas memórias, sobre o caso Herzog:

“Quando resolvi mandar abrir o inquérito e o Ednardo opôs algumas dificuldades, vi que havia problemas,” (pág 370)

O problema é que o comandante do II Ex receava que o IPM pusesse em risco a segurança do pessoal envolvido até ali no combate ao terrorismo e à guerrilha, inclusive os “infiltrados”. Mas Geisel, não só mandou abrir um IPM, como escolheu o encarregado do mesmo, um homem de sua inteira confiança, o general Fernando Cerqueira Lima, circunstância que esqueceu de mencionar em suas memórias. E o que é pior, na página seguinte (371), deixa no ar torpe insinuação de que o homem de confiança que escolhera - um digno e inatacável militar – poderia ter-se prestado à farsa de fazer um inquérito para encobrir a verdade. O inquérito procedido com todo o rigor e a maior correção, apoiado em inúmeras perícias e laudos de autoridades civis, concluiu pelo suicídio, conclusão inteiramente respaldada pela Justiça, mas jamais aceita pela esquerda para quem vinha a calhar mais um cadáver a ser explorado, como já o fizera com o do inditoso estudante Edson, no Rio de Janeiro, nos idos de 1968. Mas este não foi o único inquérito feito sobre a morte do jornalista. Clarice Herzog, moveu ação judicial contra a União, a propósito do propalado assassinato de seu marido e um outro inquérito correu no âmbito da polícia civil. Esse inquérito concluiu que Herzog estava deprimido e fazendo uso de antidepressivos e havia se suicidado; para a Sra Clarice foram imputadas as custas do processo.

Ainda assim, raciocinemos por absurdo, artifício muito usado em matemática para a demonstração de certos teoremas. Admitamos que a morte se tenha dado em decorrência de maus tratos. Diante daquele inesperado e indesejável acidente, os torcionários, como gosta de dizer Jacob Gorender, resolvem simular um suicídio e são tão idiotas e primários que o fazem montando um cenário com uma das formas mais susceptíveis de dúvidas: um suicídio de joelhos, em que ao suicida, nas vascas da morte, bastaria levantar-se para escapar ao resultado de que poderia ter-se arrependido. Não haveria na rua Tutóia uma cela com um suporte mais alto para nele dependurar o corpo já inerte do inditoso jornalista? Seria mais crível do que fazer aceitar que um nó do cinto de náilon usado por Herzog, ao se apertar em torno do pescoço do suicida, o tenha morto por asfixia.

Depois de longo processo, o juiz Marcio Moraes imputou à União a culpa pela morte de Vladimir Herzog. Nada mais lógico, pois a incolumidade de qualquer preso é dever do Estado e nem mais justo, depois que a Avenida Água Branca – no caso de Marighela - e um pedaço do sertão baiano de Brotas de Macaúbas – na morte de Lamarca - foram declarados pela Comissão de Mortos e Desaparecidos, presidida pelo atual ministro Nilmário Miranda, dependências policiais, com a mais cínica desfaçatez.


(*) Raymundo Negrão Torres é general reformado e autor do livro “O fascínio dos anos de chumbo”.


Fonte: Postado em Usina de Letras em 04/11/2004



Enganosa recuperação histórica

Produzido por TERNUMA Regional Brasília

“Em nota de resposta às reportagens que o Correio publica ontem e hoje com arquivos dos tempos da ditadura militar, o Ministério do Exército as classifica como ‘ação pequena’, que tem o intuito de ‘reavivar o revanchismo’. Com todo o respeito, engana-se o Exército. A intenção não é revanchista. É jornalística. O propósito é a recuperação histórica de um dos nossos momentos mais obscuros. O interesse por esses anos só vai parar quando ficar totalmente esclarecido o papel de cada personagem, de cada grupo, de cada instituição naquela época. Por mais que as atitudes de alguns no passado constranjam as instituições de hoje...” (Jornalista Rudolfo Lago, em sua coluna “Nas entrelinhas”, do Correio Braziliense, de 18 de outubro de 2004).

Mais uma vez, o Grupo TERNUMA se vê compelido a replicar artigos afrontosos ao Exército Brasileiro, mesmo que para tal nunca tenha recebido qualquer estímulo de parte dessa Instituição. O Grupo, coerente com seus propósitos programáticos, sempre o fará, de moto próprio, todas as vezes que a mídia, direta ou indiretamente, fizer apologia aos grupos e organizações terroristas que, nos “anos de chumbo”, ensangüentaram o país.

Novamente é o caso do Correio Braziliense, que, em 17 e 18 de outubro de 2004, deu curso à sistemática campanha de deslustre da imagem da Força Armada Terrestre, enfocando a morte do comunista Vladimir Herzog - ocorrida no interior do DOI do então II Exército, em São Paulo/SP, nos idos de outubro de 1975 – e as atividades dos órgãos de inteligência do Exército, já em tempos muito mais recentes. Embora menos deselegantes, graças ao estilo mais profissional do jornalista que assina as matérias, e evitando o burlesco que cercou outros trabalhos afins, as reportagens insistem em meias verdades e em conclusões facciosas e sem nenhuma sustentação em provas documentais ou periciais. A palavra oficial do Exército Brasileiro não tem o menor valor para as “insuspeitas” matérias, o que não ocorre em relação a testemunhos de gente ressentida e de personagens ainda empenhados com o lado vencido da luta armada travada no Brasil e provocada por maus brasileiros, que visavam, tão-somente, a implantar uma ditadura comunista no país.

Estampando em manchete fotografias de um homem nu, sob a legenda sensacionalista “Herzog, humilhação antes do assassinato”, a pantomima sustenta que se tratava de Vladimir Herzog e que o mesmo foi “aviltado pelo Doi-Codi de São Paulo antes de ser morto”. Com que provas o jornal afirma que Herzog foi assassinado pelos militares? Algum exame pericial ou prova material comprova a afirmação e desmoraliza a versão do suicídio? As fotos não mostram o rosto do homem nu. Mesmo que seja verdadeiro o reconhecimento de Herzog pela sua viúva, como o jornalista assevera, trata-se de reconhecer alguém com o rosto encoberto. Outras testemunhas, todas compromissadas com o passado subversivo, deitaram falação, ora sobre a “certeza” de que as dependências aparecidas nas fotos do homem nu eram celas do DOI, ora com a convicção de que o local fazia parte de um sítio usado pelos agentes da repressão para “torturar” e “assassinar”. Nas folhas internas da matéria longa e vazia, o jornalista se trai ao afirmar que “possivelmente, as fotografias foram tiradas na sede do órgão, na rua Tutóia, em São Paulo, ou em um sítio usado para sessões de tortura na periferia da cidade”. Nesse ponto, o articulista foi bisonho, pois que o “possivelmente” encerra dúvida, o que não se coaduna com a certeza em que a matéria se assenta. Ainda sobre o homem nu, não é crível que os militares quisessem humilhar um preso político, fotografando-o com o rosto protegido por suas próprias mãos. Além de bárbaros, os militares que assim o fizessem seriam perfeitos imbecis.

Discernimento parece que não é o forte da equipe de reportagem, nas referências que ela faz a um Relatório Periódico de Informações elaborado pelo II Exército, em setembro de 1975. A equipe distorce uma tabela estatística em que os militares fazem um balanço dos presos políticos que passaram pelo DOI até aquela época. Nada mais natural e coerente que o tivessem feito, pois isso revela controle e responsabilidade com o destino de quem passou por lá.

Se não o fizessem, seriam verdadeiramente criminosos, como foi o PC do B, que, até hoje, desconhece o paradeiro daqueles que a organização mandou para a aventura no Araguaia. Maldosamente, os repórteres tratam o item “mortos” da tabela estatística, como se os três mortos contabilizados até 31 de setembro de 1975 fossem assassinatos cometidos no DOI. Para dar força, exibem a opinião de um dublê de guerrilheiro e suposto delator, que, do alto da sua autoridade moral duvidosa, comenta “eu nunca vi documento do Exército que admitisse a existência de mortes”. A falta de discernimento da equipe está patente no comentário sobre a seção Campo Psicossocial do relatório. Grosseiramente, não se deram conta que psicossocial refere-se aos aspectos sociais da Nação, diferentes dos aspectos políticos, econômicos, militares e científico-tecnológicos que compõem os Campos do Poder Nacional. Incultos, escandalizaram os seus leitores com a afirmação de que Campo Psicossocial “trata-se de um eufemismo para retratar o embate com os movimentos políticos de esquerda”.

Na matéria de 18 de outubro, a equipe desvela-se em acusar o Exército de realizar acompanhamento clandestino e ilegal dos movimentos sociais e partidos políticos de esquerda. Ainda que ocorrida já sob a égide da normalidade democrática, tal atividade encontrava respaldo na ciosa noção de responsabilidade da Força Terrestre para com a sua missão constitucional. Se realizada dentro da lei, nenhum reparo há de ser feito, a não ser o incômodo causado nos eternos revolucionários da esquerda, que se sentem constrangidos por não poderem conspirar contra o Brasil à vontade. O Exército, entretanto, em nota emitida acerca das matérias do Correio Braziliense, assegura, referindo-se aos órgãos de informações e sua atividades: “Nesse novo ambiente de amadurecimento político, a estrutura criada tornou-se obsoleta e desnecessária na atual ordem vigente. Dessa forma, e dentro da atualização doutrinária da Força Terrestre, no Exército Brasileiro não existe nenhuma estrutura que tenha herdado as funções daqueles órgãos”.

Sobre o Cabo ressentido que entregou seus dossiês particulares à Comissão dos Direitos Humanos da Câmara, nenhum comentário será feito pelo TERNUMA, para não dar maior realce a um reles vira-casaca. Acerca da referida Comissão, no entanto, ficou uma grande estranheza. Que negligência é essa da Comissão, que ficou por sete anos detentora dos explosivos dossiês e nada fez? Aliás, não é a primeira vez que a omissão e o descuido ornam as ações dessa entidade. Não é demais lembrar que, desde 23 de abril de 2002, ossadas de seres humanos jazem em alguma gaveta do IML, por não terem mais serventia para a sanha de conhecido procurador de ossos, que via nos restos mortais de gente humilde um instrumento para o delírio de reconhecer neles os desaparecidos políticos do Araguaia...

A quem realmente interessam essas freqüentes matérias do Correio Braziliense? À “recuperação histórica de um momento obscuro”, certamente que não, pois é via de mão única a promover revanchismo. Interessaria ao resgate da verdade se feitas realmente com isenção, abordando as ações das duas partes em conflito. Os crimes da esquerda, para os jornalistas que as produzem, não são hediondos e creditados, velhacamente, ao “patriótico” esforço em “combater a ditadura”.

Por fim, o comprometimento do jornalista signatário das reportagens em questão com o passado parece flagrante, uma vez que, em suas “entrelinhas”, reporta-se à nota do Comando do Exército como manifestação do finado Ministério do Exército. Freud talvez explicasse isso...

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Conseqüências da enganosa recuperação histórica

Produzido pelo TERNUMA Regional Brasília

Todo o imbróglio das reportagens publicadas pelo Correio Braziliense, acerca das supostas barbaridades contra Vladimir Herzog, ficaria restrito a réplicas de ONG como o TERNUMA e a possíveis tréplicas do jornal, não fosse a agitação que povoou a mídia e a Internet, enfocando a contrariedade do presidente Lula com relação à nota do Comando do Exército. Lula se aborreceu com a tônica da mensagem do Centro de Comunicação Social do Exército, que defendeu as realizações da Contra-revolução de 31 de março de 1964 e negou, enfaticamente, qualquer relação da Força Terrestre com a barbárie objeto das matérias do Correio.

Ex-terroristas e ex-guerrilheiros, hoje no poder, sem perda de tempo, declararam-se ”indignados” porque o texto do Exército chama de subversivos os que lutaram contra a ditadura militar. Cinicamente, encobrem que o seu real objetivo era o de levar o Brasil à ditadura do marxismo-leninismo. Sem nenhum retardo, outras expressões da esquerda falam em cobranças ao Exército e na reabertura de investigações, sob a alegação de que o crime de tortura é imprescritível. O TERNUMA desde algum tempo já alertava para um crescente movimento visando a tornar inválida a Lei da Anistia, no que se refere aos militares.

Um parlamentar petista, considerado dos mais moderados do seu partido, em discurso na Câmara, cobrou do governo “uma ação mais efetiva em relação à tortura ocorrida durante a ditadura militar”. Sobre os seqüestros, assassinatos, roubos e atentados violentos perpetrados pela esquerda revolucionária ninguém se manifesta. Pelo contrário, as comissões de anistia e de direitos humanos só cuidam de promover a farra das indenizações e pensões aos “perseguidos”.

Perigosamente, Lula e os demais promotores da crise parecem não perceber que a sociedade brasileira, historicamente, sempre avalizou os posicionamentos do seu Exército, que, mais do que o presidente, detém os maiores índices de aceitação popular. No episódio da contra-revolução de 1964, o clamor popular levou o Exército e as Forças co-irmãs ao movimento.

A nota em nenhum momento pretendeu justificar desvios pessoais ou excessos cometidos pelas forças legais. Verdadeiramente, se hoje vivenciamos a plenitude do regime democrático - malgrado satânicas maquinações urdidas nos porões do petismo, que visam a restringir liberdades essenciais -, é porque as força legais deram legítima resposta à violência revolucionária dos subversivos hoje mansos e indignados cordeirinhos.

O presidente Lula e o seu pusilânime Ministro da Defesa, para pôr fim à crise e ante a afirmação do Comandante do Exército de que a nota saíra sem sua anuência e durante uma sua viagem ao exterior, resolveram determinar ao Gen Albuquerque a emissão de outra nota, desconsiderando tudo o que a anterior dissera. Assim, ficaria o dito pelo não dito. O Presidente ver-se-ia livre do incômodo de ter um subordinado rebelde no comando do Exército e de ver no Ministério da Defesa um titular atropelado, mais uma vez, pelos acontecimentos. A nova nota, como cabe a um instrumento de pacificação de espíritos, saiu neutra e confortável para todos.

Por ela, a mídia poderia regalar-se, como se o Exército tivesse sido enquadrado pela autoridade de seu Comandante Supremo e sem que o Comandante do Exército tivesse que se desculpar por qualquer impostura. Por entender o Gen Albuquerque que “a forma pela qual esse assunto foi abordado não foi apropriada, e que somente a ausência de uma discussão interna mais profunda sobre o tema pôde fazer com que uma nota do centro de comunicação social do Exército não condizente com o momento histórico atual fosse publicada”, tudo, aparentemente, acaba bem.

Não é este, entretanto, o entendimento do TERNUMA. Consideramos que não houve nenhuma pacificação, pois que as comissões e as ONG do revanchismo encontraram fôlego renovado para muita agitação em torno do assunto e o Exército ficará cada vez mais acuado, até por não poder mais reconhecer que a sua atuação no passado foi legítima. Tudo em nome da ordem democrática e da desnecessária reiteração “ao senhor presidente da República e ao senhor ministro da Defesa da convicção de que o Exército não foge aos seus compromissos de fortalecimento da democracia brasileira”.

O Exército e as demais Forças Armadas restaram mais apequenados do episódio. Principalmente porque os militares não vestem punhos de renda e não são vocacionados para práticas diplomáticas e para tessituras políticas. Por infelicidade, estão sob o arbítrio de um diplomata engajado a um partido político.

Tudo isso nos preocupa, pois a pusilanimidade nunca escreveu e jamais escreverá a História. Quem, no entanto, a escreverá?


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Correio Braziliense: central da desinformação

por Félix Maier



Obs.:

Da "História Oral do Exército - 31 de Março de 1964":

VLADIMIR HERZOG: SUICÍDIO OU MORTE SOB TORTURA?

“Minha terceira história refere-se à época em que morreu aquele jornalista, o Vladimir Herzog. Era Chefe do Estado-Maior na 2ª. RM e o General Antônio Ferreira Marques era Chefe do Estado-Maior do II Exército.

O General Ednardo D’Ávilla Melo, em respeito ao Presidente Ernesto Geisel, nomeou o General Fernando Guimarães de Cerqueira Lima, seu ex-assistente, para encarregado do inquérito; um general recém-promovido, que fora nomeado Comandante da Brigada de Caçapava, um brilhante oficial, meu amigo desde Capitão, mais antigo que eu três turmas. Homem de caráter, fez o inquérito com toda a lisura. À época, chegou para mim e disse:

- Oliva, estão aqui as fotografias do Herzog.

Por que ele me mostrou? Cerqueira Lima tinha um problema nos rins, uma virose, e todo dia depois do almoço necessitava descansar meia hora; tinha que deitar, pelo que passou a usar o meu apartamento, no QG.

As fotografias apresentavam o corpo pendurado e depois nu. Não apresentava marca nenhuma. Os legistas têm um método em que lavam o corpo e se existirem sinais de tortura, os sinais aparecem. Mas não havia nada. Ele enforcou-se com o próprio cinto – até então os presos ficavam com o cinto para segurar a calça, depois foi proibido, o preso tinha que segurar as calas com a mão. Perguntei-lhe:

- Cerqueira, alguém morre nessa posição?

- Oliva, eu não sei. Pedi para três médicos legistas me darem parecer, sobre se é possível alguém se matar dessa maneira. Os três afirmaram que sim. Nenhum preso ouviu nada, nem carcereiro, ninguém ouviu nada. O que eu tenho de concreto são os três pareceres dos médicos, logo concluo que houve suicídio.

Cerqueira Lima disse que para ele foi suicídio; até agora, com a prova que existe, documental, foi suicídio. Após o enterro, o ‘Estadão’ publicou declaração do rabino – o Herzog era judeu -, que o enterro tinha sido antecipado por ordens superiores. Diziam que um capitão tinha dado essa ordem ao rabino. Nada disso tinha acontecido, fora notícia mentirosa.

Na ocasião, constou que a esposa dele ia aos colégios, de sala em sala, dizendo que o marido tinha sido torturado e morto. Começaram a promover greve estudantil. O Colégio Objetivo funcionava na Paulista e tinha cinco mil alunos. Seria uma loucura cinco mil meninos, nervosos na rua, à noite. Chamei lá em casa os dois diretores do Grêmio Estudantil e perguntei-lhes se sabiam de alguém que tinha visto ou falado algo. Disseram que não. Orientei-lhes, então, para avisar seus colegas para terem calma e não fazerem bobagem: esperar o resultado do inquérito. Se vocês concordarem, tudo bem, se não, façam greve. Mas agora, não. Foi o único colégio em que não houve greve.

O General Cerqueira chegou a pesquisar a vida dele. Soube que Herzog estava em tratamento médico, era jornalista, atuava no jornal da TV Cultura. Politicamente, não tinha nenhuma expressão, na minha opinião pessoal. Alguém o prendeu, não sei o motivo. Aliás, não era a minha área. O Comando da 2ª. RM só cuidava da corrupção de militares. Combate à subversão era com o Comando do II Exército.

Descobriu que ele estava em tratamento psiquiátrico. Dedução lógica, então, era um homem que provavelmente estava depressivo, em crise ou qualquer coisa dessa natureza; por ter sido preso, poderia ter se auto-sugestionado e cometido suicídio. Admito que a versão real seja essa, não estou dizendo que foi, eu não vi, só conheci a documentação.

Legalmente, no inquérito, ou você tem provas ou tem três testemunhas visuais, isso é da lei civil e militar. Se você não apresenta três testemunhas visuais, se não possui provas documentais, não pode condenar ninguém. Inegavelmente, foi ruim para a Revolução, porque de qualquer modo justificou a posição dos líderes que eram contra nós” (General-de-Exército Oswaldo Muniz Oliva, Tomo 7, pg. 76-77).

Obs.

Quando trabalhei no Departamento-Geral do Pessoal (DGP), de 2009 a 2019, como Prestador de Tarefa por Tempo Certo (PTTC), um coronel da Assessoria de Planejamento e Gestão (APG) me garantiu que um soldado, em uma Unidade do RS, não me lembro qual, havia se enforcado na prisão em situação semelhante à de Vladimir Herzog.

F. M.

“Tenho minhas dúvidas sobre o que dizem em relação ao Vladimir Herzog, pois conheço a pessoa que fez o inquérito – General Cerqueira Lima (Fernando Guimarães de Cerqueira Lima) – fui assistente dele e seu Chefe de Estado-Maior. É um homem muito inteligente, dos mais sérios e lúcidos que eu já via na minha vida. E ele me jurava:

- Pode ser que tenham matado o Herzog, mas não consegui provar nada. Passei um mês sem dormir fazendo o inquérito.

Ele tinha uma cópia do inquérito e hoje me arrependo de não ter solicitado uma para mim. Sou metido a escrever – daria um best seller fantástico.

No final, o D’Ávila (Ednardo D’Ávila Mello) foi responsabilizado e exonerado do Comando” (Coronel Renato Moreira, Tomo 8, pg. 357).

“A imprensa vive explorando a morte do Vladimir Herzog no II Exército. Poucas vezes comenta-se que o General-de-Exército D’Ávila Mello (Ednardo D’Ávila Mello) – que foi meu instrutor na ECEME – foi demitido pelo Presidente Geisel por causa daquela morte, principalmente pelo fato do morto ser jornalista. Mas ninguém sabe o nome, nem faz referência, ao Edson Régis de Carvalho, que também era jornalista e morreu atingido pela bomba no aeroporto de Guararapes, no Recife. Aí está o peso da parcialidade da imprensa no que tange ao ‘revanchismo’ (Tenente-Coronel Alexandre Máximo Chaves Amêndola, Tomo 8, pg. 397).


Segundo jornalista do Estadão, Herzog se suicidou

“Até gostaria de dar um exemplo do que a mídia torce. Vocês devem lembrar do caso Vladimir Herzog e que há um prêmio de reportagem Vladimir Herzog. Ele compareceu ao DOI em São Paulo acompanhado do jornalista que era credenciado lá no II Exército e que se chamava Paulo Nunes. Apresentou-se de manhã, às 8h da manhã, para depor. Após o almoço, já havia terminado tudo, ficando numa sala, afastado, e, ali, ele enforcou-se. Hoje, a imprensa publica, como subsídio para exame de vestibular, encarte em que Vladimir Herzog foi preso e, após uma note de torturas, amanheceu enforcado.

Digo, meu Deus, é só pegar o Estadão da época para ver o que acontecem, mas não se preocupam com isso. O que fica valendo para o jovem, que vai fazer o vestibular, é o que consta nesse recorte que lhe foi fornecido. Mas é a história que eles contam e, a partir daí, passou a ser verdade, mas a verdade foi contada detalhadamente pelos jornais da época, como O Estado de São Paulo, ao qual já me referi.

A verdade foi mostrada pelo jornalista Paulo Nunes. Ele testemunhou, dizendo: ‘Eu fui levar o Herzog de manhã às 8h e às 16h iria busca-lo. Foi uma surpresa para nós, para todos nós que ele tenha se enforcado’. Digo que este sujeito não era mais que um jornalista, não tinha nada de importante.

Não era importante. [entrevistador]

Hoje, ninguém sabe que ele era um jornalista como outro qualquer. Associou-se a sua pessoa uma figura de grande renome. Prêmio Vladimir Herzog – para um judeu, apátrida, que nem brasileiro era.

Um estrangeiro metendo o bedelho nas nossas coisas... [entrevistador]

Ele era iugoslavo, saiu da Iugoslávia, foi para a Itália e depois para o Brasil e, aqui, deram cidadania brasileira. Consta que foi locutor da BBC em Londres” (Coronel Audir Santos Maciel, Tomo 11, pg. 151-152).

Obs.

Prêmio Jornalístico Vladimir Herzog de Anistia & Direitos Humanos

A esquerda é rápida em fabricar heróis, como foi o caso de Vladimir Herzog, o Vlado, filiado ao Partido Comunista Brasileiro, atuante na base comunista infiltrada na revista Visão e, depois, na TV Cultura – vulgo “Viet-Cultura”, e mais recentemente, Marielle Franco, vereadora carioca pelo PSol, duas personalidades opacas que, depois da morte, foram elevadas ao Olimpo dos Heróis da Pátria.

Veja, Visão, Realidade, Vozes eram revistas que serviam de ninho para jornalistas comunistas, que ditavam o que podia e o que não podia ser publicado. Isso, durante a “ditadura”. Que ditadura foi essa?

Todo ano, personalidades e órgãos de esquerda recebem o Prêmio Vladimir Herzog pelo único motivo de serem de esquerda – cfr. os vencedores do Prêmio em 2019:

https://www.conectas.org/noticias/premio-vladimir-herzog-2019-confira-a-lista-de-vencedores?fbclid=IwAR2YzEFwb1bbriiB03CTOXkHT_VsECXKxecQ0VLd46jHgnW-5PcMQShZSLI&gclid=CjwKCAjwhOD0BRAQEiwAK7JHmBF7vtymw0bL6gU4QB0076xVdUrr2gv51JW0VVJhcaRCW8hIQjM7iBoC6cIQAvD_BwE

Na mesma época da morte de Vladimir Herzog, morreram no DOI-CODI, em condições semelhantes, o tenente PM José Ferreira de Almeida e o operário Manoel Fiel Filho. Ao contrário de Vlado, estes nunca são lembrados pela mídia militante. Afinal, não eram jornalistas. Nem pertenciam ao Partidão.

F. M.

 

Vladimir Herzog, agente do Serviço Secreto inglês?

“Mas não foi o General [Cerqueira Lima] que me levantou esse outro aspecto. Isso eu vi e ouvi na televisão, comentado pelo Paulo Francis – um homem de esquerda – quando se referia ao assunto em um de seus programas. Ele disse que se investigassem os seis meses durante os quais o Herzog passara desaparecido, e se conseguissem descobrir onde ele estivera, concluiriam que, na verdade, ele fora um agente duplo, a serviço de sua Majestade. [entrevistador]

Não, não acredito.

É fantástico! É assunto para escrever um livro. [entrevistador]

É a primeira vez que eu ouço tal afirmativa.

Mas é uma tese até romântica. [entrevistador]

Os ingleses não reclamam nada.

Não, talvez por isso é que ele cometeu suicídio. Achou que não conseguiria guardar o segredo e na hora que descobrissem que ele não era só agente do partidão, não era homem do Trotski, do Brejnev e que, na realidade, o líder dele era a rainha-mãe, ele se desmoralizaria e iriam justiça-lo. Porque ele morreu glorificado, vítima da nossa violência. E, se falasse, morreria jutiçado. Agora, há um detalhe, que dá maior credibilidade a essa teoria: ele foi locutor da BBC de Londres durante dois anos” [entrevistador] (Coronel Amarcy de Castro e Araújo, Tomo 8, pg. 375-376).

Obs.

O ex-governador de São Paulo, Paulo Egydio Martins, afirma que Vladimir Herzog foi agente do Serviço Secreto inglês – cfr. https://felixmaier1950.blogspot.com/2020/04/vladimir-herzog-agente-duplo.html.

F. M.

 

Paraquedista é indisciplinado. Palavra de general.

“Aproveito esta ocasião para prestar uma outra homenagem, ao General de Exército Ednardo D’Ávila Mello. Como capitão e major, servindo na Vila Militar, no 26º. Pqdt, em nossa guerreira Brigada de Infantaria Paraquedista, visitava comumente o General D’Ávila em sua residência no Rio de Janeiro. Unia-me ao general por laços fraternos. O estimado Chefe tinha sido praticamente punido – episódio do suicídio do Wladimir Herzog, em São Paulo -, manchado o seu nome para o resto da vida como ‘torturador’.

Indisciplinado, major paraquedista, como todos aqueles malucos que comigo serviam, visitando o general, disse:

- General, o senhor não quer que a gente faça alguma coisa? Levante o dedo que iremos fazer algo pelo senhor.

- Penha Alves, você é meu amigo, mas tem um péssimo defeito: é paraquedista, e paraquedista é indisciplinado – respondeu ele. – Volte para o seu quartel e diga aos seus colegas para tratarem da sua vida militar, adestrando nossos soldados, executando saltos de paraquedas. Tenho todos os motivos do mundo para estar ressentido com a minha Força, mas não vou mexer um dedo para acabar com a coesão. Assisti à divisão dos comandantes, aqui na Vila Militar, no período pré-revolucionário, e o João Goulart teve um mérito imenso para a Revolução: permitiu que a Força, que estava com algumas dissidências, se unisse. Foi o catalisador, embora contrário a nós.

E o general concluiu:

- Não seria eu que destruiria essa coesão” (Coronel Manoel da Penha Alves, Tomo 6, pg. 220).

 

Adendo:

Residência de Vlado serviu de esconderijo para Marighella

“Anos antes, no fim de 1968, quando Vlado nem cogitava assinar ficha no Partidão, um dos expoentes da luta armada, Carlos Marighella, foi um furtivo hóspede de sua casa, que várias vezes serviu de ‘ponto’ para encontros do líder da ALN com sua companheira, Clara Charf” (Audálio Dantas, in “As duas guerras de Vlado Herzog”, Civilização Brasileira, Rio, 2ª. edição, 2014, pg. 90 – vencedor do Troféu Juca Pato 2013).

F. M.



Vladimir Herzog é encontrado morto no DOI/CODI de São Paulo (25/10/1975)




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