MEMORIAL 31 DE MARÇO DE 1964

MEMORIAL 31 DE MARÇO DE 1964
Avião que passou no dia 31 de março de 2014 pela orla carioca, com a seguinte mensagem: "PARABÉNS MILITARES: 31/MARÇO/64. GRAÇAS A VOCÊS, O BRASIL NÃO É CUBA." Clique na imagem para abrir MEMORIAL 31 DE MARÇO DE 1964.

segunda-feira, 17 de agosto de 2020

Guerrilha do Araguaia: Polêmica entrevista do General Thaumaturgo Sotero Vaz


General Thaumaturgo Sotero Vaz


Entrevista com o General Thaumaturgo


Assunto: Araguaia Entrevista do General Thaumaturgo Sotero Vaz

Jornal do Norte - 7 de maio/1996

Araguaia - Especial Míriam Malina


O general Thaumaturgo Sotero Vaz, 63 anos, vestiu o pijama há quatro anos e é uma das figuras mais polêmicas do Exército brasileiro - comandante do Destacamento das Forças Especiais (boinas pretas), no Rio de Janeiro; comandante do Centro de Instrução de Guerra na Selva (CIGS), em Manaus; chefe do Estado-Maior do Comando Militar da Amazônia (CMA). E, a Serviço dos EUA, instrutor anti-guerrilha por toda a América Latina.

Thaumaturgo diz que foi combater os guerrilheiros do PCdoB no Araguaia somente em 1972. Essa afirmação é nebulosa, porque outros militares falam que o então Major Vaz teria retornado à região em 1975, o período mais sangrento. Ele nega. Nesta entrevista exclusiva ao JN, o general conta o suficiente para trazer à luz algumas informações no mínimo polêmicas. Ele diz, por exemplo, que o atual deputado federal e ex-guerrilheiro José Genoíno "dedurou" seus companheiros. Confira.


JN - Quando o senhor foi para o Araguaia?

Vaz - Em abril de 1972. Fui chamado para preparar outros destacamentos operacionais. Os guerrilheiros Oswaldão e Fogoió emboscaram um cabo na localidade de Couro Dantas e eu teria que resgatar o corpo.

JN - Resgatar o corpo de um cabo é missão para comandante dos boinas pretas?

Vaz - O guerrilheiro Oswaldão espalhou a informação de que quem entrasse na selva para apanhar o corpo do cabo seria dizimado por outros 100 guerrilheiros. Saí do Rio com 36 homens, menos de um pelotão.

JN - O senhor, então, fez parte da primeira expedição militar?

Vaz - Não é bem a primeira, porque na área já estavam fazendo operações militares. A 8ª região Militar conduzia há um certo tempo atividades de reconhecimento e informações, codificadas com o nome de Operação Peixe. O general Rodrigo Otávio, comandante militar da Amazônia, realizou uma grande manobra em 70, para impedir a arrancada da força guerrilheira.

JN - Qual o calibre operacional e moral dos seus homens?

Vaz - As minhas equipes eram de gente muita cara, especializadíssima. Demos as instruções para as tropas do 1º e 2º Bis montarem uma difícil Operação Andorinhas, que foi um grande cerco aos guerrilheiros do PCdoB. O saldo foi positivo, porque destruiu vários campos de treinamento dos guerrilheiros, pistas de combate e pontos clandestinos de suprimento.

JN - Como a população local se relacionava com os guerrilheiros?

Vaz - Eles tinham grande simpatia pelos guerrilheiros, que participavam das atividades da comunidade com eficiência, principalmente, nas áreas da educação, saúde, agricultura e pecuária, com padrões morais inigualáveis. Inicialmente, os guerrilheiros não pensavam em sair para a luta direta. Só > quando se iniciou a intervenção militar é que começaram a fazer proselitismo armado.

JN - Era fácil pegar guerrilheiro?

Vaz - Eu preparei as Operações Couro Dantas e Andorinhas, mas durante 15 dias de patrulhamento não consegui encontrar, mesmo patrulhando 24 horas uma área de mais de 100 quilômetros quadrados, uma palha sequer.

JN - E a moral dos seus soldados?

Vaz - A formação que o Exército dá até hoje aos oficiais e sargentos chega a ser ingênua. Só fala de virtudes e qualidades, como bravura, disciplina, honestidade, mas há deficiências sérias de caráter e formação no combatente de selva. Tive que afastar pára-quedistas e operadores das forças especiais porque eram demasiadamente violentos e indisciplinados.

JN - Quais os seus melhores embates anti-guerrilha?

Vaz - O melhor deles foi quando um matreiro que comprava gêneros para os guerrilheiros pediu dinheiro do Exército e se ofereceu para guiar um destacamento até a base de Caiano. Os guerrilheiros mandaram bala e dois dos meus homens caíram feridos. Peguei um helicóptero e fui resgatá-los, mas tive que trazer o corpo do guerrilheiro Bergson Gurjão Farias, também chamado Jorge e Ciro.

JN - Algum momento lhe paralisou no Araguaia?

Vaz - Eu fiquei besta quando vi os campos de treinamento dos guerrilheiros. As pistas de aplicação ficavam na subida das colinas, o que exigia um grande preparo físico, resistência e determinação. Os obstáculos ultrapassados eram idênticos aos do Centro de Instruções de Guerra na Selva, em Manaus. As bases guerrilheiras tinham sistemas sutis de alarme, com varetas, armadilhas, estacas pás e stands de tiro. Os guerrilheiros chegaram a fabricar uma submetralhadora semelhante a Uru do exército > brasileiro. Tinham FAL, que o Lamarca expropriou do quartel de Quitaúna, mas também armamentos rústicos, fuzis 1908 e mosquetões. Coisas de idealistas determinados, pica-pau de rolha brigando contra canhão.

JN - Como o senhor via os guerrilheiros?

Vaz - Não posso subestimar o valor daquele pessoal e desrespeitar a memória deles. Eram inimigos. Podiam ter me metido uma bala na cabeça. Azar, é contingência da guerra. Mas eles eram determinados, corajosos, idealistas, puros.

JN - Porque as Forças Armadas esconderam essa guerra?

Vaz - Eu não sei.

JN - Devido as atrocidades que ocorreram?

Vaz - Deve ter sido.

JN - Esconderam, porque muitos estavam com os corpos dilacerados?

Vaz - É possível.

JN - Mas o senhor era comandante de uma tropa de elite militar conhecida como das mais ferozes...

Vaz - É verdade.

JN - Assassina...

Vaz - Pára aí... Minha tropa tinha moral, ética, tranqüilidade e flexibilidade psíquica. Ninguém matava por matar. Se usassem a arma fora de combate para matar alguém, eu considerava um assassino comum.

JN - Qual a diferença das forças especiais para o resto das tropas?

Vaz - É o treinamento. Uma das máximas que usamos no treinamento é: "o suor poupa o sangue". Se eu estou em combate, o cara está lá, eu dei a voz de prisão e ele atirou em mim, ele vai tomar uma mecha (tiro) direto.

JN - E o peso da tortura?

Vaz - Tem que aproveitar o momento psicológico da prisão. Nesse momento, se não for arrancada a informação, se o cara não abrir a boca, ele não vai falar nunca. A tortura só faz falar as pessoas fracas, porque o cara pode inventar para se livrar. E na selva, ele inventa também.

JN - Como vocês tiravam informação dos guerrilheiros?

Vaz - Genoíno, gosto muito dele, mas quando ameaçaram, ele saiu indicando campo aqui, campo de treinamento ali, posto de suprimento acolá, dedurando. Mas viveu. Quando eu vi ele lá, perguntei: "o que esse cara está fazendo aqui. Porque esse cara já não foi para Brasília? Mandem esse cara embora. Ele já deu toda a informação que tinha que dar". E mandaram ele para Brasília.

JN - Qual foi o guerrilheiro que o senhor encontrou cara a cara?

Vaz - Foi uma mocinha. Ela está viva até hoje... Ela ficou lá. Não me lembro o nome... será que era a Petit? Não, não era nâo... Era uma das Dinas... não era a bunduda não, era uma fraquinha. Só estive com ela e o Genoíno.

JN - Como a Rádio Tirana confundiu a cabeça dos militares?

Vaz - As transmissões da Rádio Tirana deixavam todo mundo maluco. O que me surpreendia é que a rádio dava todo o movimento do dia. Dizem que dentro das unidades militares no Araguaia haviam informantes dos guerrilheiros. Nem tudo era controlado por nós. Podia ser um cara infiltrado no Exército, Marinha e Aeronáutica.

JN - Haviam contradições e brigas entre os militares no Araguaia?

Vaz - Aqueles pústulas de informações eram um bando de safados, vagabundos, que não faziam nada e viviam correndo atrás da gente, para saber o que estava acontecendo, para puxar o saco do seu chefe, pegar o telefone e prestar um serviço para Brasília. Mandavam botar o fulano pra fugir. Eles queriam que o Genoíno fugisse pra matá-lo. Haviam brigas, sim. Ele está vivo porque eu não deixei matar. "Bota esse cara no avião. Bota esse cara pra Brasília". Enquanto os malucos diziam: "Não, tem que deixar ele fugir". Era um bando de vagabundos da informação, sem curso nenhum. Para eles, o mais fácil era matar, acabar com o cara... É assim? Não, isso não pode ser assim, não. Nós somos do Exército para combater. Morre-se em combate ou fere-se em combate. E não se pode pegar o guerrilheiro, levar para um > canto e pá, pá, pá...

JN - O que mais lhe impressionou em tudo isso?

Vaz - A humildade, a modéstia de equipamento e de armamento, ao lado de uma determinação e coragem inabalável dos guerrilheiros do Araguaia na defesa dos seus ideais contra Fal, Parafal, armamento pesado, helicópteros, foguetes, granadas de mão...

JN - Hoje, os militares falam em causas sociais, chamam o regime de exceção de ditadura mesmo e são contra a tortura. Esse discurso é para camuflar a realidade que viveram antes ou naquele tempo vocês já tinham essa consciência?

Vaz - Sempre houve um certo nojo à ação política dentro do Exército. E há até hoje. Mas nós tivemos no passado muito mais generais políticos, que usavam farda por acaso. A república e o tenentismo são exemplos. Com a maior divulgação dos meios de comunicação, maior liberdade de expressão e informação a coisa mudou. A mentalidade do Exército hoje é completamente diferente.

JN - A formação do soldado regular é na base das virtudes que chegam até ser ingênuas, como o senhor falou. Em contato com um combatente guerrilheiro, ele não poderia ser influenciado?

Vaz - Poderia! Havia esse perigo. A técnica e formação psicológica do guerrilheiro são perigosas para o militar, porque são muito plásticas.

JN - Hoje, a chamada condição objetiva revolucionária existe?

Vaz - Os sem-terra são um exemplo...

(M.M.)


***

Prezado Bahia - retransmito: Prezado Madruga –

Considero a entrevista do Thaumaturgo o fato mais escabroso que surgiu até hoje sobre o assunto. Nem mesmo o Pedro Cabral chegou a tanta baixeza. Ele devia estar delirando. Alta traição, principalmente pelo posto hierárquico que tem. Padrões morais dos guerrilheiros, é brincadeira; só se ele admirava os justiçamentos entre eles. Tudo que ele declarou foi justamente contrário à realidade. Os bandidos não pensavam em começar a luta, mas os três primeiros militares que eles mataram? E os moradores assassinados, antes do primeiro bandido ser eliminado? Até mesmo as diretrizes do PCdoB o contradizem.

Contra fatos não há argumentos. Quando o Genoino foi preso, o Thaumaturgo não estava lá. Após ser entregue por mim ao Major Othon, o Genoino foi conduzido pelo Cel Torres, com escolta, em aeronave militar, diretamente para Brasília. Depois que a patrulha do EB foi atacada pelo grupo do Osvaldão, cerca de uma semana depois da prisão do Genoino, quando mataram o Cabo Rosa, é que o Thaumaturgo chegou a Xambioá e foi ao local na mata resgatar o corpo; eu estava lá e vi toda a operação. Em seguida, ele retornou ao Rio de Janeiro. Portanto, o Thaumaturgo não viu o Genoino em Xambioá. Ele deve citar nomes, ao afirmar que afastou militares por violência e indisciplina; nunca ouvi, nem mesmo comentários, a este respeito.

É, no mínimo, hilariante ele afirmar que até submetralhadoras os bandidos fabricavam no Araguaia; qualquer pessoa pode constatar a impossibilidade desta afirmação. Nunca vi FAL na mão dos bandidos. O único que eu soube, foi o que eles tomaram do Cb Rosa. Mosquetões, só os que eles roubaram no assalto ao Destacamento Policial em S. Domingos e que foram retomados e devolvidos pela minha equipe, no combate ao grupo do Zé Carlos.

O idealismo a que ele se refere, foi incutido por João Amazonas e Maurício Grabois em jovens inexperientes e não era idealismo, era puro fanatismo político, como eram os discípulos religiosos de Antonio Conselheiro, no Arraial de Bom Jesus. Confessou que gosta muito do Genoino, naturalmente está querendo o beneplácido do presidente do PT. Diz também que o salvou de ter sido eliminado pelo pessoal de informações. As referências dele ao pessoal de informações são realmente revoltantes. Inacreditáveis.

Não havia telefones na área; as únicas ligações eram feitas através estações rádio. Eles queriam que o Genoíno tentasse fugir para eliminá-lo; mas quem pegou o Genoino na mata foi uma equipe do CIE. É taxativo ao afirmar que salvou o Genoino; o Thaumaturgo não estava lá em Xambioá e nunca viu o Genoíno por lá. As considerações restantes que ele fez são lamentáveis, nojentas.

Mensagem original

Sem comentários para não ofender a uma infeliz senhora que deu a luz a um......qualquer coisa que o amigo queira imaginar e mais alguma coisa. Sinto vergonha de ter convivido com este .........no Araguaia. Mentiroso, fanfarrão!

Obs.: Texto recebido por e-mail em 20/05/2004 (F. Maier)


Fonte: https://www.usinadeletras.com.br/exibelotexto.php?cod=31339&cat=Artigos&vinda=S


P.S.: O General Thaumaturgo faleceu em 20/12/2015 aos 83 anos de idade (F. Maier).


Área da Guerrilha do Araguaia

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