MEMORIAL 31 DE MARÇO DE 1964

MEMORIAL 31 DE MARÇO DE 1964
Avião que passou no dia 31 de março de 2014 pela orla carioca, com a seguinte mensagem: "PARABÉNS MILITARES: 31/MARÇO/64. GRAÇAS A VOCÊS, O BRASIL NÃO É CUBA." Clique na imagem para abrir MEMORIAL 31 DE MARÇO DE 1964.

quarta-feira, 19 de agosto de 2020

Os Protocolos dos Sábios de Brasília - por Félix Maier

Os Protocolos dos Sábios de Brasília


Félix Maier (*)

16/12/2003 - Usina de Letras


Há bastante tempo, a Praça dos Três Poderes virou um manicômio federal. Senão, vejamos.

Os Ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), ávidos pelo calor dos holofotes da imprensa, ao invés de se aterem ao trabalho de aplicar as leis, passaram a fazer política, com pronunciamentos públicos descabidos, a exemplo do Ministro Maurício Corrêa, presidente do STF.

O Executivo, em vez de governar, perde a maior parte do tempo desempenhando o papel dos legisladores, com a edição de inúmeras Medidas Provisórias, tornando essa atividade muito mais imoral do que a dos antigos decretos-leis assinados pelos presidentes quatro-estrelas. Em vez de tapar os buracos das estradas federais, melhorar o atendimento da Saúde, resolver o problema da segurança pública, colocar as crianças nas escolas, o presidente Lula quer a reforma do Judiciário, dizendo que aquilo é uma “caixa-preta” que precisa ser aberta, esquecendo-se de que o seu Partido não tem a mínima vontade de abrir sua própria “caixa-preta” – para não dizer sua famosa “caixa-vermelha”, de onde saiu o propinoduto de Santo André (“caso Celso Daniel”) e voou a nuvem de gafanhotos de Flamarion Portela, de Roraima. Com a reação do presidente do STF à fala de Lula, houve uma devassa na vida de Maurício Corrêa só comparável ao serviço sujo feito contra Roseana Sarney quando esta figurava bem nas pesquisas presidenciais.

Por fim, o Congresso Nacional, em vez de legislar, realiza investigações policiais, fazendo as vezes de promotor público, delegado, juiz, PM, escrivão e “araponga”. Há investigação para quase tudo, só falta CPI para determinar o tamanho do biquíni deste verão. Legislar, que é bom, nada. Por isso, muitas leis não são adequadamente cumpridas, porque até hoje não foram regulamentadas, como é o caso da Lei de Greve, o que deu margem para o manicômio em que se converteu a universidade pública, que ficou em greve durante quase 100 dias no último ano do Governo FHC. É verdade que no primeiro Annus Lulae o Congresso mostrou seu inconfundível estilo “patrola & trator” (PT) de governar, encerrando o ano com a aprovação das reformas previdenciária e tributária (leia-se “mais arrocho sobre a classe trabalhadora”), e a etérea legislação sobre o desarmamento, dando tratamento idêntico ao bandido e ao cidadão honesto.

Detenhamo-nos um pouco em algumas decisões recentes do Legislativo, o Poder que, enfim, dá o norte a ser seguido pelo Executivo e pelo Judiciário. A recente legislação sobre o desarmamento aprovada pelos “sábios da Sião planaltina” apresenta um paradoxo. A partir de agora, todo cidadão que portar em público uma arma, sem a devida autorização, está sujeito a ser detido sem direito a fiança, podendo ser condenado a até dois anos de prisão. Por sua vez, pela legislação atual, o sujeito que matar uma pessoa a paulada, pedrada ou facada poderá responder pelo crime em liberdade. Pela ótica dos “sábios” de Brasília, matar é menos grave do que carregar um revólver na cintura...

Outra pérola garimpada pelos “sábios” do Planalto e doada à população brasileira foi a Lei nº 9.459, de 1997, que reza, entre outras coisas: “Fabricar, comercializar, distribuir ou veicular símbolos, emblemas, divulgação do nazismo, tem pena de reclusão de dois a cinco anos e multa”. Por conta dessa lei seletiva, o historiador Siegfried Ellwanger, que assina S. E. Castan em seus trabalhos, acaba de ser condenado, em 2003, a 2 anos de prisão por fazer um trabalho revisionista do Holocausto judeu, sendo-lhe negado o direito ao habeas corpus pelos ministros Maurício Corrêa, Celso de Mello, Gilmar Mendes, Carlos Velloso, Nelson Jobim, Ellen Gracie, Antônio Peluso e Sepúlveda Pertence, todos do STF. Por acaso, os três ministros que votaram a favor do réu poderiam ser taxados de nazistas, como Ellwanger foi?

Não se trata aqui de discorrer sobre a condenação de Ellwanger, processo que se arrastava desde 1990. O Supremo apenas cumpriu a lei. Aqui se procura tratar da exótica situação criada pelos “sábios” de Brasília, que criminalizaram um símbolo totalitário, enquanto que é permitido a milhares de pessoas, diariamente, fazerem passeatas nas avenidas brasileiras portando outros símbolos, também criminosos, sem que nada lhes aconteça.

Por que só o nacional-socialismo não pode ser divulgado e defendido no Brasil? E a criminosa bandeira da foice e do martelo, por que também não é proscrita nos “protocolos dos sábios de Brasília”? (1)

Claro, logo vai aparecer meia dúzia de canalhas para me acusar de nazista ou fascista. Isto é próprio de todo defensor do comunismo, com o sangue de 110 milhões de mortos ainda escorrendo em suas mãos (vide “O Livro Negro do Comunismo”), que não se envergonha em continuar propagando sua ideologia criminosa.

A rigor, deveria haver, no Brasil, uma das duas situações descritas abaixo para esse delicado assunto:

- deveria ser como é nos Estados Unidos, onde todos têm o direito de portar suas bandeiras, totalitárias ou não, inclusive da KKK e do nazismo;

- ou todos os símbolos totalitários deveriam ser terminantemente proibidos.

Eu, p. ex., sou a favor da proscrição completa e imediata do uso de todos os símbolos deste cérbero totalitário (nazismo, comunismo e fascismo) que infernizou o mundo durante o século passado, com sangue ainda vertendo neste início de milênio em nações comunototalitárias, a exemplo da China, da Coréia do Norte e de Cuba.

Do jeito como está, os “sábios” da Sião planaltina conseguiram nos apresentar algo inédito: há símbolos criminosos que podem ser tolerados e até enaltecidos (portar uma bandeira com foice e martelo), e há símbolos criminosos que não podem ser absolutamente tolerados (portar, p. ex., uma suástica no braço). Os veneráveis anciões de Brasília souberam mostrar claramente quais são os bandidos de sua preferência. Vale lembrar, ainda, que a estrela petista de cinco pontas é também um símbolo totalitário, tirada da antiga bandeira soviética.

Voltemos ao revisionismo, condenado por nossas autoridades na pessoa de Ellwanger. A revisão histórica é benéfica, desde que os críticos se atenham a critérios científicos tão ou até mais rigorosos do que aqueles que nortearam a história original.

Há muitos exemplos de revisionismo: revisionismo soviético (em que antigos heróis, caídos em desgraça, eram riscados de enciclopédias, ou que tinham suas imagens “apagadas” em fotos oficiais); revisionismo do Holocausto (em que escritores, a exemplo de Ellwanger, colocam em dúvida o número de vítimas do Holocausto judeu promovido pelos nazistas); revisionismo da esquerda brasileira (a história do Brasil é descrita sob a ótica da dialética comunista, em que prevalece a aplicação do materialismo histórico marxista, hegemônico no atual ensino universitário brasileiro, em que não há nenhum estudo sério sobre o assunto, apenas panfletagem e pura molecagem, a exemplo da obra “Outros 500”, escrita por intelectuais do PT e “libélulas da USP” (2) por ocasião das comemorações dos 500 anos do descobrimento do Brasil).

O objetivo desses últimos revisionistas é um só: solapar os fundamentos morais e espirituais do País, ao mesmo tempo em que pregam as excelências da Revolução Cubana e o valor das FARC. Assim, não causa estranheza que o Dia da Pátria seja substituído pelo “dia dos excluídos”, que Lamarca seja apresentado como herói e o Duque de Caxias seja revisto como genocida dos lanceiros negros da Revolução Farroupilha e de meninos paraguaios durante a Guerra do Paraguai. A verdade histórica, porém, é cristalina: Lamarca foi um desertor do Exército, ladrão de armamentos e terrorista assassino. A Guerra do Paraguai só tem uma história: o Brasil, com 15.000 homens armados, teve que se defender da agressão de Solano López, à frente de um exército de 64.000 homens, que aprisionou um navio brasileiro (em que viajava o Presidente da Província de Mato Grosso), invadiu o Mato Grosso, ocupando parte desse território por 3 anos, violou o território da Argentina e chegou a conquistar Uruguaiana. O revisionismo atual, de professores marxistas nas escolas brasileiras, afirma que o Brasil e a Argentina estiveram a serviço do imperialismo inglês, invadindo o Paraguai e esmagando o país mais “progressista” da América do Sul de então. O historiador Francisco Fernando Monteoliva Doratioto, em seu livro “O Conflito com o Paraguai – A guerra do Brasil”, contesta esses revisionistas e afirma que “a formação dos Estados nacionais da região foi a causa do sangrento conflito” (3).

Recentemente, o Ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos – talvez por trabalhar bem próximo do “Pinel” planaltino – deu provas de estar possuído da mesma loucura que afeta os Três Poderes, ao fazer seu próprio “revisionismo” histórico, quando demonstrou carinho público pelo ex-sargento do Exército, Apolônio Carvalho, hoje com 92 anos, que recebeu uma pensão especial por conta de sua rica biografia: foi “militante” do Partido Comunista, ou seja, funcionário do Komintern, pago com o “ouro de Moscou”; foi um dos integrantes da súcia que matou fria e covardemente companheiros de farda durante a Intentona Comunista, em 1935; durante a Guerra Civil Espanhola, foi combater as tropas de Francisco Franco ao lado de Moscou, que ordenou o massacre do POUM (4) e dos anarquistas espanhóis – crime abafado pelas bombas nazistas jogadas sobre Guernica -, ao mesmo tempo em que roubava todo o ouro espanhol e queria fazer daquele país um satélite soviético; participou da resistência francesa contra os nazistas durante a II Guerra Mundial (enfim, uma boa obra!); e esteve envolvido com a guerrilha comunista no Brasil nos anos de 1970, quando foi preso e, segundo ele, torturado. É esse traidor da Pátria, que qualquer outro país teria enforcado em praça pública, que Bastos propõe seja promovido a general!

Outro tipo de revisionismo – na verdade, propaganda da desinformação e da difamação – liga o Papa Pio XII aos nazistas. Por exemplo, o livro de John Cornwell, “O Papa de Hitler”, é um acabado ato criminoso: “A capa do livro de John Cornwell mostra o arcebispo Pacelli saindo de um edifício do governo alemão, escoltado por dois soldados. Essa visita oficial do então Núncio Apostólico na Alemanha teve lugar em 1929, quatro anos antes que Hitler chegasse ao poder (em 30 de janeiro de 1933). Como Paceli saiu da Alemanha em 1929 e nunca mais voltou, é enganoso e tendencioso o uso dessa fotografia” (Texto do jesuíta Peter Gumpel, historiador convidado pelo Vaticano para coordenar o processo de beatificação do Papa Pio XII, in “Pio XII, Hitler e os judeus”) (5).

Como se pode concluir a partir dos fatos acima apresentados, o revisionismo histórico nem sempre é feito com a seriedade que deveria merecer, principalmente quando marxistas e anticlericais se metem a reescrever a História.

A prática do revisionismo, por si só, não é nenhum crime, desde que não se deturpem fatos históricos, nem se inventem acontecimentos que nunca ocorreram. O revisionista deve vasculhar todas as fontes disponíveis para seu estudo, de modo que sua versão seja a mais próxima da “verdade”, pois a verdade é muitas vezes escamoteada do público já no justo momento em que ocorre o fato histórico. Por exemplo, o Massacre de Katyn (6), perpetrado pelos russos contra oficiais poloneses durante a II Guerra Mundial, foi escondido do público pelos próprios ingleses porque, na ocasião, os aliados precisavam de Stálin para combater Hitler.

Voltemos a Ellwanger e seu revisionismo. Em sua obra mais polêmica (7), Ellwanger baseou-se em várias fontes para tirar conclusões que se tornaram bastante polêmicas ao longo da última década:

- “895.392 mortos - Paul Rassinier no ‘El drama de los Judios Europeos’, baseado nos números apresentados pelo Prof. judeu Raul Hilberg, encontra a quantidade acima de judeus que, no período de 1931 a 1945, morreram de alguma forma – doença, velhice, na guerra, na guerrilha, nos bombardeios, etc., o que significa um pouco mais de 9% da população judaica existente em 1939 nos países que estiveram envolvidos na guerra” (pg. 209). Segue Ellwanger: “O Dr. Lisotjewski, judeu, declarou à Revista ‘The Broom’, de San Diego, Califórnia, no dia 11 de maio de 1952: ‘Como estatístico tenho me esforçado durante dois e meio anos em averiguar o número de judeus que pereceram durante a época de Hitler. A cifra oscila entre 350.000 e 500.000. Se nós os judeus afirmamos que foram 6.000.000, isto é UMA INFAME MENTIRA (grifo do autor)’ (“Derrota Mundial”, pg. 598)” (Cit. pg. 210 do livro de Ellwanger).

- “Como contribuição à VERDADE HISTÓRICA (grifo do autor), um leitor enviou-me uma fotocópia da primeira página do jornal inglês ‘Daily Express’, do dia 24/03/1933, cujos títulos e sub-títulos são os seguintes: ‘Mundo judaico declara guerra à Alemanha’, ‘Judeus de todo o mundo unidos’, ‘Boicote às mercadorias alemãs’, e ‘Demonstrações de massa’ ” (pg. 328 do livro de Ellwanger).

- “Jesse Owens, no Hospital do Câncer, antes de falecer deu as seguintes informações ao ‘Tampa Tribune’, do dia 01/04/80, pg. 1 e 3-6: Que Hitler não cumprimentou mais nenhum atleta, após a solicitação do Presidente do C.O.I. Que chegando de volta aos EE.UU., como grande campeão olímpico, não recebeu nenhum aperto de mão do seu Presidente Roosevelt. Ao contrário da Alemanha, na sua própria Pátria não lhe permitiram sequer sentar nos bancos da frente dos veículos coletivos, tinha que ficar na parte traseira destinada aos negros. Nas repartições públicas tinha que usar a entrada dos fundos e não podia morar onde gostaria. Joe Louis e ele foram os primeiros atletas negros de fama mundial. Eles não podiam fazer propaganda de artigos esportivos nos EE.UU., pois os Estados sulinos boicotariam esses produtos. ‘Nós vivíamos na América sob esta discriminação’ ” (Observação/Esclar., não constante da 1ª a 9ª edição – pg. 327-8 do livro de Ellwanger).

Pois é: todo mundo já ouviu falar como Hitler espumou de raiva quando o atleta negro Jesse Owens derrotou os “arianos” durante a Olimpíada de Berlim. Pura mentira, que se propaga como gafanhotos a cada nova Olimpíada. Aposto meu contracheque com você, amigo: nas Olimpíadas de Atenas, em 2004, a mentira será novamente contada.

No Boletim que se autodenomina “primeiro informativo revisionista do Brasil”, “Esclarecimento ao País”, de nº 18, de novembro de 1997, à página 4 (8), lemos o seguinte:

“O American Jewish Commitee, no ano de 1939 dava o número de judeus no mundo: exatos 15 milhões, 688 mil e 259 indivíduos. Assim mesmo: com especificação até a casa das centenas! Após a guerra, em 1948, o jornal New York Times, órgão judaico e maior divulgador das falsidades sobre o ‘holocausto’ em todo o planeta, afirmava que a população judaica no mundo oscilava entre 16 milhões e 250 mil e... 19 milhões e 19 milhões e 800 mil indivíduos.

Mas o número correto e definitivo foi fornecido pelo todo-poderoso Presidente do Congresso Mundial Judaico em 1947, Nahum Goldman, o homem que armou toda a trama do Julgamento de Nuremberg, que viabilizou a existência de Israel através das trilhonárias ‘reparações’ de guerra pagas pela Alemanha àquele Estado e aos milhões de ‘sobreviventes’ e, seguramente, o homem mais importante, poderoso, influente e bem informado dentro do judaísmo sionista deste século. Pois Nahum Goldman, referindo-se à iminente criação do Estado de Israel em 1948, declarou, um ano antes: ‘Dos 17 milhões de judeus do mundo, colocaremos dois milhões de judeus na Palestina’ ”. (grifos do autor).

A obra de Ellwanger, em linhas gerais, defende o seguinte:

- junto com o Holocausto judeu, que teria o número de vítimas distorcido por interesses diversos, inclusive pecuniários, deve-se também discutir o Holocausto alemão, com um número muito maior de vítimas, quando cidades inteiras foram incineradas pelos bombardeiros aliados, matando maciçamente a população civil inocente, a exemplo dos habitantes de Dresden e Berlim;

- o número de judeus existentes no mundo, em 1948, havia tido um aumento de “um milhão e 300 mil”, segundo os dados do próprio Comitê Judaico Americano.

Não é só Ellwanger que discute o Holocausto judeu. No livro “Indústria do Holocausto”, o professor Norman Filkelstein, filho de pais judeus que ficaram presos em campos de concentração nazistas, afirma que uma elite judaica nos EUA transformou o Holocausto numa indústria que vem explorando, com sucesso, a tragédia judaica na II Guerra Mundial. Sem negar a barbárie nazista, Filkelstein afirma que os advogados e os lobbies judaicos continuam “passando a mão” no dinheiro depositado em bancos, roubado dos judeus, enquanto que os sobreviventes do holocausto só recebem indenização do Governo alemão.

Em qualquer trabalho revisionista, a Justiça sempre deverá estar do lado da VERDADE, ou da procura da mesma, nunca do lado da ficção ou do mito. Mas, o que é a VERDADE? A VERDADE deveria ser sempre “filha do tempo”, da razão, nunca do “poder”, como ocorre em nosso País, em que verdades desaparecem sob toques mágicos e mentiras se transformam em dogmas pétreos, fato já há muito decifrado pelo general Leônidas Pires Gonçalves, ex-ministro do Exército: “Bertold Brecht diz que a verdade é filha do tempo. Pois eu tenho a audácia de discordar dele. A verdade é filha do poder. Quem tem o poder diz qual é a verdade”. É exatamente o que ocorre no Brasil desde o início da “Nova República”, quando marxistas começaram a reescrever, com sucesso absoluto, a nova nomenklatura histórica nacional.

Com a palavra, os Ministros do STF, que deveriam ter considerado inconstitucional uma lei que condena apenas uma bocarra do cérbero totalitário, deixando de decepar as outras duas cabeçorras também. E dos “Sábios de Brasília”, que no Parlamento aprovaram os famigerados “Protocolos”, que deram respaldo à elástica interpretação dos ministros do Supremo, condenando um pobre diabo dos pampas, que nenhum perigo real oferece ao País. Fatos históricos e argumentos devem ser rebatidos com argumentos e fatos históricos, não com perseguição e prisão.

Eu, particularmente, não sei se todos os dados apresentados por Ellwanger são verdadeiros, a exemplo do recenseamento feito pelo Congresso Judaico Mundial. Eu gostaria de ter acesso a tais documentos, se de fato existem, para sanar uma dúvida que me persegue há muito tempo. Entretanto, há, em seu livro “Holocausto, judeu ou alemão?”, muitas provas da manipulação de fotografias para distorcer fatos históricos, a favor dos judeus e contra os nazistas. Isto é uma realidade. Há também fotos que documentam a destruição de Dresden, literalmente incinerada, onde uma bomba caiu ao lado da outra, tornando a cidade uma paisagem lunar, cheia de crateras, o tal “holocausto alemão” a que Ellwanger se refere. Apresentar tais fatos não significa fazer apologia do nazismo, mas fazer pesquisa histórica séria, ignorada propositadamente por muitos.

O nazismo, ao lado do comunismo e do fascismo, foi um dos maiores males que já se abateram sobre a humanidade. Deve ser proscrito para sempre. Porém, a lei brasileira, que criminaliza o nazismo, é leniente com o comunismo. Ela precisa ser mais abrangente, enquadrar também o comunismo e o fascismo, não só o nazismo. Este o tema central do ensaio ora escrito. Decepar apenas a cabeça nazista do cérbero totalitário e continuar dando alegremente ração às duas outras bocarras famintas é simples embuste, cinismo acabado, hipocrisia pura.

Acusando-se mutuamente, elaborando (Congresso Nacional), permitindo a elaboração e aplicando (STF) “protocolos” marotos, os “sábios da Sião planaltina” andam em círculos, como doidos varridos dentro do antigo Pinel, no Rio de Janeiro. Do jeito que as coisas vão, logo, logo, homossexual também será elevado à categoria de raça. Aliás, já foi, em Estados como o Rio de Janeiro e o Rio Grande do Sul.


Notas:


(1) Protocolos dos Sábios de Sião, Os - O texto dos “Protocolos”, considerado apócrifo pelos judeus, seria uma pretensão judaica de dominação do planeta. Trata-se, porém, de uma das maiores falsificações já realizadas na história da humanidade, modelar exemplo de desinformação, como nos ensina Maurício Corrêa, ex-presidente do STF:

“Os séculos XIX e XX podem ser definidos como aqueles em que as atividades anti-semitas mais se aprofundaram. Dois episódios se avultam: a acusação de traição de um judeu, no caso o capitão Dreyfus, na França, que notabilizou Émile Zola em Eu acuso, condenado, em seguida, em 14 de outubro de 1894, por um tribunal militar, e posteriormente inocentado, após o cumprimento de parte da pena em Caiena, na Guiana Francesa; e a publicação na Rússia, em 26 de agosto de 1897, no jornal Znamia dos chamados Protocolos dos Sábios de Sião, que seriam uma obra composta por judeus para “dominar o mundo e aniquilar a cristandade” e na qual os seus ideólogos, supostamente, organizam a derrubada da monarquia cristã da Alemanha “e a ruína da aristocracia russa, preparando-se para reinar sobre o mundo e para reduzir os não-judeus à condição de escravos.

Essa publicação foi intensamente explorada em todo o mundo. Em 1921, especialmente por uma carta de um leitor turco remetida ao jornal inglês Times, que declarava a obra autêntica, descobriu-se que tinha sido escrita por um emigrado russo em Paris, Pierre Ratchovsky, colaborador da polícia czarista, que por sua vez havia plagiado um panfleto francês, editado em Bruxelas em 1864, por Maurice Joly, esse, sim, redigido contra Napoleão III, em que, em nenhum momento, menciona algo sobre judeu. Desmascarada a grande farsa, ninguém pôde mais refrear o grande desastre causado!

Com esse cenário e diante de todo um quadro peculiar da época, chega-se a 30 de janeiro de 1933, em que von Papen, achando possível controlar o futuro Führer, sugeriu ao presidente Hindenburg que nomeasse Hitler para o cargo de chanceler alemão. Foi o princípio do fim” (Maurício Corrêa, in “Judeu, Racismo e o Rosh Hashaná”, pub. no jornal Correio Braziliense, coluna “Opinião”, 19/09/2004, pg. 21 – Leia texto na íntegra, abaixo).

Apesar do embuste, muitos intelectuais ainda acreditam que os “Protocolos” são um texto autêntico, especialmente os anti-semitas e os muçulmanos em geral, como Hussein Triki: “Sergio Nilus publicou os ‘Protocolos dos Sábios de Sião’, ou plano secreto dos judeus, pela primeira vez em São Petersburgo, em 1902. Existe um exemplar dessa edição na biblioteca do British Museum de Londres, com o número 3926, d. 17, registrado a 10 de agosto de 1906. Os judeus consideram os ‘Protocolos dos Sábios de Sião’ um texto apócrifo; mas, está ao alcance de quem desejar comprovar sua autenticidade, para o que bastaria considerar a situação política, econômica e social que prevalecia no seio das sociedades humanas, principalmente na Europa, América e no Oriente Médio até 1897, e, logo, confrontar os objetivos sionistas fixados nesses ‘Protocolos’ e os meios de alcançá-los, com o que vem sucedendo desde o fim do século XIX até hoje. A coincidência dos acontecimentos que ocorreram – e ainda ocorrem – com os postulados dos ‘PROTOCOLOS’ é tão evidente como espantoso(!)... tal coincidência jamais pode ser o resultado de pura casualidade!” (Hussein Triki, in “Eis aqui Palestina”, pg. 293).

(2) “Libélulas da USP”: trocadilho de Libelu - Liberdade e Luta, movimento marxista-lambertista existente na USP durante os governos militares, ao qual pertenceu, p. ex., o ministro da Fazenda do Governo Lula, Antônio Palocci (Pierre Lambert foi um dos ideólogos da IV Internacional - Trotskista). Atualmente, as "libélulas" mais conhecidas que esvoaçam sobre o campus da USP são Emir Sader, Paul Singer, Marilena Chauí, Leandro Konder, entre outras, como Alaôr Caffé Alves (que sofreu um “massacre” do Olavo de Carvalho), além daquelas que alçaram vôos "extra muros", como FHC.

(3) “Jornal de Brasília”, 12 de julho de 1999.

(4) POUM - Partido Obrero de Unificación Marxista (Partido Operário de Unificação Marxista), Espanha: comunistas anti-stalinistas. Na Guerra Civil Espanhola (1936-39), integrantes do POUM e anarquistas foram massacrados por comunistas pró-Stalin. “Mais cedo ou mais tarde a Espanha teria de suportar uma guerra civil entre os da esquerda. Esta guerra explodiu em Barcelona, na primavera de 1937, com os comunistas combatendo do POUM e os anarquistas. O pretexto imediato, como na Guerra Civil total, foi o assassinato político de um comunista importante, Roldán Cortada, possivelmente por ‘uma patrulha de controle’ anarquista, e mais possivelmente ainda pelo agente Ernö Gerö, do Komintern. Ambos os lados tinham exércitos particulares, forças da polícia secreta, gangues de bandidos assassinos. O slogan do POUM era ‘Antes de renunciar à revolução, nós morreremos nas barricadas’. Os comunistas entoavam: ‘Antes de capturar Saragossa, nós temos que tomar Barcelona’. (...) Durante o resto do ano de 1937 e ao longo de 1938, vários milhares de membros do POUM e outros esquerdistas de diversas denominações foram executados ou torturados até a morte nas prisões comunistas. Incluía-se aí um grande número de estrangeiros, tais como o ex-secretário de Trotsky, Erwin Wolff, o socialista austríaco Kurt Landau, o jornalista britânico ‘Bob” Smilie e um professor da Universidade John Hopkins, José Robles. Entre aqueles que conseguiram escapar estavam Orwell e Willy Brandt, o futuro chanceler alemão” (Paul Johnson, in “Tempos Modernos”., pg. 279- 80). Orwell é o autor do livro “Nineteen Eighty-Four” (1984), em que o modelo de herói, Goldstein, preferiu morrer sob tortura a confessar crimes nunca cometidos (Há um filme homônimo, “1984”).

O clero era numeroso: 20.000 monges, 60.000 freiras, 35.000 padres, numa população de 24,5 milhões de pessoas. “Onze bispos, um quinto do total, foram assassinados, 12% dos monges, 13% dos padres também. Os chacinados foram reverenciados no famoso poema de Paul Claudel, ‘Aux martyrs espagnols’: ‘Soeur Espagne, sainte Espagne, tu as choisi! Onze évêques, seize mille prêtres massacrés et pas une apostasie!’. Cerca de 283 freiras foram mortas, algumas estrupradas antes da execução. (...) Na província de Ciudad Real, a mãe de dois jesuítas foi assassinada com um crucifixo empurrado garganta abaixo. O pároco do Torrijos foi açoitado, coroado de espinhos, forçado a beber vinagre; colocaram-lhe um pedaço de madeira amarrado às costas e foi então fuzilado, mas não crucificado. O bispo de Jaén foi assassinado juntamente com sua irmã, na frente de 2.000 pessoas; seu carrasco era uma mulher da milícia, a feroz ‘La Pecosa’ (A Sardenta). Alguns padres foram queimados vivos; alguns tiveram suas orelhas decepadas”. (Paul Johnson, op. cit., pg. 273-4). O Papa João Paulo II beatificou 471 mártires.

(5) Publicado em “PODER – Revista Brasileira de Questões Estratégicas”, Ano I, nº 05, pg. 58, Brasília, Maio/Junho 2000.

(6) Massacre de Katyn: “Em setembro de 1939 a Polônia foi derrotada, depois de ter sido invadida simultaneamente pelos nazistas, a Oeste, e pelos aliados destes, os comunistas, a Leste. Como recompensa a seus amigos soviéticos pela preciosa ajuda, Hitler lhes outorgou então uma zona de ocupação de duzentos mil quilômetros quadrados. A partir da derrota da Polônia, os soviéticos massacraram nessa zona, sob as ordens escritas de Stálin, vários milhares de oficiais poloneses prisioneiros de guerra - mais de 4 mil em Katyn (perto de Smolensk), local onde foi descoberto posteriormente um dos mais famosos ossários, além de outros 21 mil em vários locais. Deve-se adicionar a essas vítimas cerca de 15 mil prisioneiros soldados comuns, provavelmente mortos por afogamento no Mar Branco. Perpetrados em poucos dias segundo um plano preestabelecido, esses assassinatos em massa de poloneses vencidos, exterminados pelo simples fato de serem poloneses, constituem indiscutíveis crimes contra a humanidade, e não apenas crimes de guerra, já que a guerra, para a Polônia, havia terminado” (Carlos I. S. Azambuja, in “Mídia Sem Máscara”, 27/09/2003).

O “Colossus” – primeira máquina programável e digital da história – foi construído na Inglaterra em 1943, como parte do projeto militar do país para decodificação das mensagens nazistas criptografadas pela máquina “Enigma” (O ENIAC, desenvolvido na Universidade da Pensilvânia, EUA, em 1946, é erradamente considerado por muitos como o primeiro computador da história.) O “Colossus” permitiu iludir Hitler de que o desembarque dos Aliados seria em Calais e não na Normandia (Operação Overlord) e impediu o Marechal Rommel de chegar ao Egito. O Colossus foi parte fundamental da Máquina Universal de Turing, projetada por Alan Turing. Veja o filme “Enigma”, de Michael Apted (2001), em que um matemático corre contra o tempo para decifrar código secreto utilizado pelos nazistas durante a II Guerra Mundial. Este filme mostra a interceptação e a decifração de uma mensagem nazista, através do “Colossus”, quando tropas de Hitler descobriram as ossadas em Katyn – fato escondido do público, na ocasião, porque os Aliados precisavam da ajuda soviética para combater o III Reich.

(7) “Holocausto: Judeu ou Alemão? Nos bastidores da Mentira do Século”, 10ª edição, Caixa Postal nº 10.466 – CEP 90000 – Porto Alegre – Rio Grande do Sul – Brasil, 1987.

(8) Publicado pela “Revisão Editora e Livraria Ltda.”, Caixa Postal 10.466, CEP 90001-970 – Porto Alegre, RS – Brasil, 1997.


(*) O autor é descendente de judeus marranos, execra o racismo e é a favor de todo trabalho revisionista, seja da História universal ou brasileira, seja da História judaica, desde que o revisionismo busque apenas a VERDADE dos fatos ocorridos.



Judeu, racismo e o Rosh Hashaná

Maurício Corrêa (*)

Dentre as datas comemorativas mais importantes do judaísmo destaca-se a do Rosh Hashaná – o ano novo judaico. No pôr-do-sol do último dia 15, iniciou-se o ano de 5765. Diferente do calendário gregoriano, que é solar, o dos judeus é ao mesmo tempo solar e lunar. Baseia-se, em conseqüência, na movimentação, no espaço, da terra em torno do sol e da lua em volta da terra.

Atendendo ao chamado de Deus, saiu Abraão de Ur, na Caldéia, com destino à Terra Prometida, onde segundo a Bíblia ou a Torá, para os judeus, iria jorrar leite e mel. Diz o Gênese que de Abraão nasceria uma grande nação.

Explica-se, assim, a razão pela qual é a partir da presença do homem na terra que se dá a contagem dos dias e, afinal, dos anos.

A história, como diria o professor de letras clássicas da Brown University, na Inglaterra, Charles Alexander Robinson Jr., ao prefaciar o clássico de Edward Gibbon Declínio e Queda do Império Romano, “pouco mais é do que o registro dos crimes, loucuras e desventuras da humanidade”. É exatamente neste contexto que me permito abordar as comemorações deste ano judaico.

Um minucioso exame que se faça ao longo da história da humanidade não vali localizar nenhum povo que tenha se submetido a tantos reveses descriminatórios, de variadas intensidades, como o judeu. Desmantelado o que era a Terra de Israel, após os reinados de Davi e de seu filho Salomão, e mais tarde, num pequeno período, o dos asmoneus, os judeus, expulsos da terra prometida, viveram de ceca em meca, segundo os ventos, ora mais tranqüilos, ora mais turbulentos, no meio dos quais suportaram toda carga de sofrimento.

Obrigados a conviver na diáspora, foram para a Mesopotâmia, Egito, Turquia, Índia, China, Rússia e outros países da Europa Oriental, norte da África, sobretudo Egito – com acentuada presença em Alexandria, que chegou a contar com mais de dez por cento de toda a população -, bem como para a Europa Ocidental, aí formando a comunidade dos asquenazes, ou para a Península Ibérica, de onde resultaram os sefaradins, e mais tarde para as Américas.

Em 1492, já consumada a instalação da Inquisição na Espanha pelos reis católicos, Fernando e Izabel, e autorizado Colombo – que segundo uma boa referência bibliográfica era judeu converso – a partir para a grande aventura em busca das Índias, a bordo das naus Santa Maria, Pinta e Niña, que além da marujada originalmente batizada, também conduzia seis cristãos-novos, um dos quais o médico Luís de Torres, poliglota que falava hebraico, caldeu, árabe e espanhol, uma vez que Colombo vislumbrava alcançar o oriente e suas tribos perdidas, ou atingir outras terras já visitadas por viajantes judeus.

É fato sabido que entre os professores da Escola de Sagres, que ajudou a abrir para Portugal as portas do mundo, achavam-se cartógrafos judeus, que com os seus primeiros rudimentos de mapas geográficos de rotas marítimas, ilhas e continentes do mundo semidesconhecido, auxiliaram os pilotos portugueses a singrar as águas tão temíveis do grande Mar Oceano.

Os registros históricos do descobrimento do Brasil e dos primeiros passos da colonização portuguesa dão conta da presença de judeus em nosso país, ou de cristãos-novos, ou marranos, como eram chamados os conversos – termo pejorativo originário de porco, porque as prescrições mosaicas vedam-lhes o consumo.

Não se pode perder de vista que em 1648, em Recife, viviam cerca de 1.500 judeus, quase todos dedicados à plantação de cana-de-açúcar, corretagem e refino do produto. À ocasião, a população do Brasil holandês era de aproximadamente 12 mil e 700 habitantes, o que correspondia a mais de dez por cento do total dos imigrantes europeus. Para assistir a essa comunidade, duas congregações judaicas foram instituídas em Recife, na verdade sinagogas. A primeira delas Kahal Zur Irsael – Santo Rochedo de Israel -, e a outra, Maguen Abraham, em Maurícia, situada na então ilha de Antônio Vaz. O primeiro rabino a exercer o seu ministério no Brasil foi Isaac Aboab da Bonseca, vindo diretamente de Amsterdã, na Holanda.

É escusado dizer que, expulsos os holandeses do Brasil e com o fantasma da Inquisição em seus ombros, os judeus trataram de fugir do país, sendo conhecido o fato de que em 1654, 23 deles já haviam chegado ao porto de Nieuw Amsterdam e na ilha de Manhatan, comprada dos índios Canarsee por 26 dólares, que posteriormente passou para as mãos dos ingleses, rebatizada como New York.

Feita essa rápida abordagem da história dos judeus em nossa pátria, é bom recordar a extraordinária contribuição dada por eles à causa da humanidade. Em quaisquer ramos das ciências, da literatura e das artes, sempre estiveram acentuadamente presentes.

Expulsos de sua pátria, máxime logo em seguida à destruição, por duas vezes, da maior relíquia de toda a sua tradição, cultura e religiosidade – o templo de Salomão -, perseguidos nos países que adotaram para viver, sofreram os judeus as mais severas discriminações e suplícios. O elenco de atrocidades é extenso. Prisões, castigos corporais de macabras formas, morte em fogueiras, fuzilamentos, forcas, câmaras de gás, degredos, deportações, banimentos, seqüestros, confiscos e perdas parciais e totais de bens. Tudo isso por quê? Simplesmente, ora por uma questão de interpretação bíblica, ora porque se destacaram com mais evidência nos diversos campos da atividade humana.

Em tempos mais pretéritos poder-se-ia dizer que essas divergências seriam formas de antijudaísmo, visto que, na verdade, o termo anti-semitismo teria sido forjado em uma publicação judia, na Alemanha, em 1879, no Allgemeine Zeitung des Judenthums, para caracterizar as atividades antijudias de um certo panfletário Wilhelm Marr. Diga-se de passagem ser essa expressão infeliz, na medida em que, malgrado dirigido aos judeus, sabe-se que, por exemplo, o povo árabe também é semita.

Os séculos XIX e XX podem ser definidos como aqueles em que as atividades anti-semitas mais se aprofundaram. Dois episódios se avultam: a acusação de traição de um judeu, no caso o capitão Dreyfus, na França, que notabilizou Émile Zola em Eu acuso, condenado, em seguida, em 14 de outubro de 1894, por um tribunal militar, e posteriormente inocentado, após o cumprimento de parte da pena em Caiena, na Guiana Francesa; e a publicação na Rússia, em 26 de agosto de 1897, no jornal Znamia dos chamados Protocolos dos Sábios de Sião, que seriam uma obra composta por judeus para “dominar o mundo e aniquilar a cristandade” e na qual os seus ideólogos, supostamente, organizam a derrubada da monarquia cristã da Alemanha “e a ruína da aristocracia russa, preparando-se para reinar sobre o mundo e para reduzir os não-judeus à condição de escravos”.

Essa publicação foi intensamente explorada em todo o mundo. Em 1921, especialmente por uma carta de um leitor turco remetida ao jornal inglês Times, que declarava a obra autêntica, descobriu-se que tinha sido escrita por um emigrado russo em Paris, Pierre Ratchovsky, colaborador da polícia czarista, que por sua vez havia plagiado um panfleto francês, editado em Bruxelas em 1864, por Maurice Joly, esse, sim, redigido contra Napoleão III, em que, em nenhum momento, menciona algo sobre judeu. Desmascarada a grande farsa, ninguém pôde mais refrear o grande desastre causado!

Com esse cenário e diante de todo um quadro peculiar da época, chega-se a 30 de janeiro de 1933, em que von Papen, achando possível controlar o futuro Führer, sugeriu ao presidente Hindenburg que nomeasse Hitler para o cargo de chanceler alemão. Foi o princípio do fim.

Em 20 de janeiro de 1942, em Berlim, em um belo palacete à beira do lago Wannsee, os representantes dos ministérios do Reich estruturam a solução final. Era o nacional-socialismo decretando a morte de todos os judeus do mundo, como imperativo de necessidade e questão de estado. Em seguida, vieram os campos de concentração e toda a tragédia vivida pelo mundo: seis milhões de judeus morreram na Shoah – o Holocausto.

Em dezembro de 2003, o Supremo Tribunal Federal, ao concluir o julgamento do HC 82424, impetrado em favor de um editor simpatizante do nazismo, por publicações que pregavam a inexistência da Shoah e o anti-semitismo, a despeito da imposição, na decisão condenatória, da imprescritibilidade do delito, entendeu que dentro do conceito da abrangência da cláusula prevista no inciso XLII, do artigo 5º da Constituição Federal, é o anti-semitismo uma das formas de prática de racismo, e por isso denegou a ordem pleiteada.

Embora se tratasse de publicações, o que poderia, em princípio, chocar-se com outro direito fundamental, consubstanciado no direito de liberdade de expressão, como relator para o acórdão tive a oportunidade de registrar que “as liberdades públicas não são incondicionais, por isso devem ser exercidas de maneira harmônica, observados os limites definidos na própria Constituição Federal (CF, artigo 5º, 2º, primeira parte). O preceito fundamental de liberdade de expressão não consagra o ‘direito à incitação ao racismo’, dado que um direito individual não pode constituir salvaguarda de condutas ilícitas, como sucede com os delitos contra a honra. Prevalência dos princípios da dignidade da pessoa humana e da igualdade jurídica”.

Os homens não se subdividem em raças – negra, amarela e branca. Esse conceito está científica e antropologicamente ultrapassado. Só há uma raça, a raça humana.

Sobre a imprescritibilidade, afirmei que “existe um nexo estreito entre imprescritibilidade, este tempo jurídico que se escoa sem encontrar termo, e a memória, apelo do passado à disposição dos vivos, triunfo da lembrança sobre o esquecimento”. No estado de direito democrático devem ser intransigentemente respeitados os princípios que garantem a prevalência dos direitos humanos. Jamais podem se apagar da memória dos povos que se pretendam justos os atos repulsivos do passado que permitiram e incentivaram o ódio entre iguais por motivos raciais de torpeza inominável.

A ausência de prescrição nos crimes de racismo justifica-se como alerta grave para as gerações de hoje e de amanhã, para que impeça a reinstauração de velhos e ultrapassados conceitos que a consciência jurídica e histórica não mais admitem.

Terminei meu voto fazendo uma evocação: “Como é sabido, Auschwitz é o espelho para a memória da humanidade de uma das mais lamentáveis páginas de suplício a que foram submetidos seres humanos. Não vou recordar episódios ali vividos. Mas servem para registrar até onde chegou a loucura e a insanidade nazista”. Em trabalho monográfico de Uílson Linck, desenvolvido por Fernando Meyer, citando Christian Bernardac, em os Manequins Nus, há uma passagem de extraordinária atualidade para o caso: “Hoje cada um ‘imagina’ Auschwitz sabendo que Auschwitz faz parte do remorso do homem – porque este crime, talvez o maior de nossa história, foi cometido pelo homem. E o homem não pode perdoar Auschwitz ao homem. E o homem sabe que em certas circunstâncias, esse mesmo homem é capaz de tornar a inventar Auschwitz”.

“Buchenwald, terceiro campo de concentração, que fica a poucos quilômetros da cidade de Weimar, guarda até hoje em seu museu o detalhe do portão que lhe servia de acesso, que traz o lema Jedem das Seine, o que traduzido significa ‘a cada um o que merece,’”, e que encerra tudo que o nazismo pretendeu com a chamada solução definitiva”.

Moisés Maimônides, médico e filósofo judeu de origem espanhola, forçado a mudar-se para o Marrocos, e em seguida para o Egito, codificador do Talmude e autor do Credo que leva o seu nome, escreveu neste último: “Creio com o pensamento firme e convicto na vinda do Messias, embora isso possa demorar, mas eu estarei esperando por ele”.

Ao pronunciar essas mesmas palavras, os judeus partiam para a morte, nas diversas câmaras de gás dos campos de concentração.

O preâmbulo da Constituição brasileira proclama o bem-estar de todos, bem como a igualdade e a justiça como valores fundamentais de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, não se podendo esquecer que a nossa Carta Política foi promulgada sob a proteção de Deus.

Deixemos ao obscurantismo do passado o peso e as responsabilidades dos que produziram tão terríveis desastres.

A nós nos cabe interpretar esses episódios como fatos históricos para que sirvam de exemplo para a construção de um mundo melhor.

Que o Rosh Hashaná de 5765 seja doce como o mel!


(*) Advogado e ex-presidente do Supremo Tribunal Federal.


(Publicado no jornal Correio Braziliense, coluna “Opinião”, 19/09/2004, pg. 21).



***


De :

Enviado : terça-feira, 16 de dezembro de 2003 23:18:23

Para : ttacitus@hotmail.com

Assunto: Usina de Letras -- Contato do Leitor


Mensagem referente ao texto Os sábios da Sião planaltina - Artigos.


Protesto veementemente contra sua atitudde revisionista, seu apelo à ignorância
e sua atitude que nao condiz, infelizmente, com seu alto grau de conhecimento e
inteligência. Sinto muito pelos desvios que sua mente e sua capacidade de
reflexões. Sinto pelo desperdício de uma mente tão pródiga e criativa como a
sua. Sinto por tomar conhecimento de um brasileiro ilustre como o senhor, que
serviu nossa pátria em tantos quadrantes - e que tenha esta visao do mundo, dos
judeus, do Holocausto, da realidade que atingiu e atinge a tanta gente, a todo o
universo - e falhou em se manifestar na sua inteligencia.

Nereida


*


Caro(a) Nereida,

Em primeiro lugar, não é possível que alguém, "com alto grau de inteligência", faça "apelo à ignorância" - como você escreveu. Ou o sujeito é inteligente, ou é burro. Má fé eu não tenho, sou pesquisador, estudo todos os "lados" da questão, não só a fachada mais bonita.

Outra coisa: você só escreveu generalidades, não mostrou em que parte eu errei no texto publicado em Usina de Letras. Assim, fica difícil eu fazer uma tréplica, pois não há argumentos seus para replicar. Apenas alguém que se mostra decepcionado por não ter visto o que queria, e que não gostou do que viu.

Em momento algum eu coloquei em dúvida o Holocausto judeu. Ele existiu de fato. O que pode ser colocado em questão são os números - o que fazem muitos revisionistas. Se Ellwanger, p. ex., apresenta um número fornecido pelos próprios judeus, esse número deve ser levado em conta mais do que quaisquer outros, pois diz respeito a um povo específico, perseguido durante milênios, que tem, mais do que ninguém, interesse em conhecer a VERDADE. O que poderá ser contestado é a autenticidade da publicação do Comitê Judaico Americano. Se você me provar que Ellwanger - ou qualquer outro estudioso do assunto - usou de má fé, que o Comitê Judaico nunca divulgou aqueles valores citados pelo revisionista brasileiro, eu sou o primeiro a corrigir meu texto em Usina de Letras e pedir desculpas pelo erro cometido.

A História deveria contar a VERDADE, somente a VERDADE. Você já deveria saber que, infelizmente, ela é contada pelos VENCEDORES, nunca pelos VENCIDOS. Basta você observar as barbaridades que são cometidas hoje em dia, as mentiras que são propaladas a respeito da história recente do Brasil, quando terroristas marxistas aqui queriam implantar um regime totalitário do tipo soviético ou cubano, e hoje, descaradamente, dizem que eram "democratas" combatendo os militares. O próprio Ministro da Justiça, Thomaz Bastos, advogado defensor de muitos "militantes" comunistas, cometeu uma aberração, ao propor que o terrorista comunista e ex-sargento do Exército, Apolônio Carvalho, que traiu nossa Pátria a serviço de Moscou, seja promovido a general.

Portanto, meu (minha) cara, não é de estranhar se a triste história do Holocausto porventura também contenha erros cometidos por má fé. E dizer isso não é "fazer apelo à ignorância", como você afirmou. É procurar a VERDADE.

Um Feliz Natal a você e sua família, que 2004 seja mais esperançoso do que foi o ano de 2003.

Cordialmente,

Félix

17/12/2003



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