MEMORIAL 31 DE MARÇO DE 1964

MEMORIAL 31 DE MARÇO DE 1964
Avião que passou no dia 31 de março de 2014 pela orla carioca, com a seguinte mensagem: "PARABÉNS MILITARES: 31/MARÇO/64. GRAÇAS A VOCÊS, O BRASIL NÃO É CUBA." Clique na imagem para abrir MEMORIAL 31 DE MARÇO DE 1964.

quarta-feira, 12 de agosto de 2020

Operação Araguaia: Outra resposta à Dona Taís - por Carlos I.S. Azambuja



Outra resposta à Dona Taís

por Carlos I.S. Azambuja (*) em 24 de maio de 2005

Resumo: Colunista do MÍDIA SEM MÁSCARA responde aos questionamentos da autora do livro Operação Araguaia.


© 2005 MidiaSemMascara.org


Respondendo ao seu e-mail enviado à redação do Mídia Sem Máscara, repito que o seu livro foi escrito basicamente em cima de documentos de Inteligência secretos, confidenciais e reservados, desviados, ou melhor, furtados, do Centro de Inteligência do Exército. Isso configura um crime em todos os países do mundo. Foi isso que escrevei em meu artigo “Operação Araguaia”. E a senhora não refuta essa afirmação.

A senhora apenas imagina uma justificativa bizarra. Alega que, anteriormente, a filha do brilhante general Antonio Bandeira, responsável pelo desmantelamento da louca empreitada do Partido Comunista do Brasil no Araguaia, entregou ao jornal O Globo os arquivos pessoais de seu pai, já falecido. Esse não é o seu caso. A senhora está viva e muito viva. Os documentos sigilosos que a senhora publicou e se valeu para descaracterizar e escrever uma historinha foram furtados de uma organização militar. É evidente que, segundo as leis do nosso país, a senhora deveria responder por isso ou explicar de que forma esses documentos foram parar em suas mãos.

As “barbaridades cometidas na guerrilha pelos militares”, a que a senhora se refere, foram cometidas por ambos os lados, pois aquele que se aventurar a combater uma guerrilha respeitando a Convenção de Genebra estará antecipadamente derrotado. Aliás, como a senhora foi forçada a reconhecer em seu livro, a primeira vítima “barbarizada” não foi um guerrilheiro e sim um militar, o Cabo Odilo Cruz Rosa, “barbarizado” em 8 de maio de 1972. Aí teve início a “barbárie” a que a senhora se refere em sua carta. Uma guerra suja como, ademais, todas as guerras de guerrilha. Recorde-se que antes da morte do Cabo Rosa haviam sido presos, todos no mês de abril de 1972, três guerrilheiros – Eduardo Monteiro Teixeira, José Genoíno Neto e Francisco Amaro Lins -. A morte do Cabo Rosa teria desencadeado naqueles que combatiam a guerrilha um sentimento semelhante àquele em que, após o assassinato dos atletas israelenses na Olimpíada de Munique, em 1972, quando a Primeira-Ministra de Israel ordenou: “Vamos matar os que mataram”.

A senhora se equivoca imaginando que estou preocupado com a sua vida pessoal. O que me preocupa e deve preocupar muitos brasileiros decentes, é o acesso que a senhora obteve aos arquivos sigilosos de uma instituição militar, sendo lícito inferir que outros documentos tenham também sido furtados. E isso é crime, dona Taís, repito.

Talvez a senhora ignore que desde os anos 60 as esquerdas já alimentavam o ovo da serpente. Por outro lado, não sei em que a senhora se baseou para afirmar que os militares “barbarizaram o país durante duas décadas”. A senhora, com a idade de 30 anos, não era ainda nascida quando da guerra suja nas áreas urbanas, quando o modelo cubano foi importando para o Brasil, ainda no governo Jango e não após a Revolução de 1964, como a senhora parece crer. Os seqüestros de aviões e de diplomatas, os assaltos a bancos, as bombas atiradas em quartéis, os assassinatos a título de “justiçamentos” e, já no final, os assaltos a supermercados, a residências e até a trocadores de ônibus foram transformados em tática militar. Nada disso a senhora vivenciou. Os cerca de 300 brasileiros treinados em Cuba e na China, treinamento iniciado ainda em 1961 – governo Jânio Quadros -. A criação da Organização Latino-Americana de Solidariedade (OLAS) – uma espécie de Komintern para a América Latina -, em 1966, em Cuba, para estender o modelo cubano de revolução, e com ele o paredón a toda a América Latina, nada disso a senhora viveu, pois não era nascida, ou se era ainda engatinhava e não sabia dizer papai e mamãe.

A tresloucada violência armada desencadeada pelas esquerdas não foi, portanto, uma reação à Revolução de 1964 ou ao Ato Institucional nº 5, de 1968. Ela já existia, dona Taís, nos governos Jânio e no governo “progressista” de João Goulart. Essa tática da esquerda, estimulada pelo governo cubano, foi responsável por uma montanha de mortos em toda a América Latina pela qual, hoje, é responsabilizada a “repressão”, ou seja, aqueles que, constitucionalmente, combateram e venceram essa guerra suja. O kamarada Fidel, responsável em última análise por essa guerra suja, hoje proclama que o terrorismo deve ser combatido...

Tudo isso, porém, não aconteceu sem a perda de vidas, não sem sangue, suor e lágrimas e não sem que reputações fossem manchadas – como a senhora insiste em fazer crer -, sem que carreiras fossem abreviadas, promoções postergadas, injustiças e erros fossem cometidos.

Foi um tempo duro, diferente e difícil. Um tempo, no entanto, do qual aqueles que o viveram – o que não é o caso da senhora – devem se orgulhar. Um tempo que, espero, jamais voltará.


***

Abaixo a mensagem enviada pela Sra. Taís Morais ao colunista Carlos Azambuja:

"Ao Senhor Azambuja.

Em primeiro lugar, gostaria de agradecer pela atenção dada ao meu livro.

Em segundo, gostaria de dizer que meu nome é Taís, não Thais como o senhor costuma dizer.

Tantos outros comentários teria eu, mas fico honrada com tanta preocupação acerca desses documentos e com minha vida pessoal.

Infelizmente ninguém apurou as barbaridades cometidas na guerrilha e fora dela pelos militares. Então para quê se preocupar com meros documentos? Porque se preocupar comigo? Pergunte à filha do Bandeira se ela sofreu alguma sanção por ter entregue os arquivos do pai dela ao jornal O Globo, dentre eles a tal Operação Sucuri, e ao deputado Greenhalg?

Espero que se apurem crimes sim, mas não os meus. Sim dos militares que barbarizaram o país durante duas décadas.

Taís Morais Hime".


(*) Carlos I. S. Azambuja é historiador.


Fonte: https://www.usinadeletras.com.br/exibelotexto.php?cod=36512&cat=Artigos&vinda=S


Livro “Operação Araguaia”

por Carlos I.S. Azambuja (*) em 11 de maio de 2005


© 2005 MidiaSemMascara.org

O livro “Operação Araguaia” publica, em fac-simile, cerca de cem documentos ou fragmentos de documentos sigilosos (reservados, confidenciais e secretos), inclusive o documento SECRETO que registra os nomes verdadeiros e os codinomes utilizados pelos 32 militares que participaram da “Operação Sucuri”, que fez o levantamento final da guerrilha, propiciando o seu total desmantelamento. Todos esses documentos foram desviados dos arquivos do Centro de Informações do Exército (CIE), pois têm, à margem, o número atribuído a esses documentos no processo de arquivamento. Exemplos: documento intitulado “Operação Peixe”, datado de 21 de março de 1972, de caráter SECRETO, com o número 000239 000174 0012, após processado pelo Arquivo do CIE; documento intitulado “Operação Cigana”, arquivado no CIE com o número 000236 000174 0070, e assim por diante.

Faz referência detalhada a fatos ocorridos, quando ainda em vida, com guerrilheiros mortos em 1973 e 1974, inclusive diálogos, dos quais não existiam testemunhas e outros fatos extraídos de depoimentos de caráter reservado, de guerrilheiros presos, aos quais teve acesso e também diálogos entre familiares de guerrilheiros e de militares mortos, como se os autores do livro estivessem presentes. Cada um desses depoimentos foi transformado em uma pequena historinha acrescida de opiniões dos autores. Baseados nos documentos sigilosos obtidos não se sabe como e em diversos depoimentos de sobreviventes e familiares de mortos, o senhor Eumano e a dona Thais montaram uma historinha, com 144 capítulos e 656 páginas, à qual deram o nome de “Operação Araguaia”.

Por diversas vezes, comentários dos autores ridicularizam documentos de Inteligência e relatórios do Exército. Por exemplo: referindo-se à manobra, já prevista no Plano de Instrução do Exército (que teria a duração de 24 dias), realizada pelo Comando Militar do Planalto no período de 12 de setembro a 06 de outubro de 1972, na área onde se encontravam os guerrilheiros, os autores escreveram, nas páginas 354 e 355: “Novembro de 1972. O general Vianna Moog leva mais de um mês para concluir seu relatório. Deve explicar aos superiores como quase 4 mil homens fracassaram na tentativa de vencer pouco mais de 60 guerrilheiros. O balanço do comandante militar do Planalto esconde a derrota do Exército. O tom do texto sugere apenas uma manobra, sem se referir ao objetivo de acabar com a guerrilha (...) O general trata como treinamento e não como fracasso. Só 8 inimigos caíram. Moog faz duras críticas e aponta defeitos sem assumir responsabilidade alguma (...)”.

Resta saber se algum inquérito foi ou será instaurado para apurar de que forma os documentos sigilosos publicados foram desviados do Centro de Informações do Exército, fato que o Código Penal Militar define como CRIME.

Recorde-se que a dona Thais Morais é filha de um militar do Exército, recentemente falecido, e casada com um ex-oficial de Marinha.

Para maiores informações sobre o assunto recomenda-se a leitura da série de artigos sobre o Araguaia escrita pelo colunista Carlos Azambuja.


(*) Carlos I. S. Azambuja é historiador.


Fonte: https://www.usinadeletras.com.br/exibelotexto.php?cod=36293&cat=Artigos&vinda=S

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