Médici,
um exemplo de cidadão e de militar
“Sempre cito um fato, para
comparar o que hoje existe por aí: certa vez, necessitávamos de aumentar o
preço da carne, que estava congelado. (...) Pois bem, havíamos congelado o
preço da carne, devido a uma dificuldade de suprimento, ‘bateu no teto’ e
tivemos que pedir para mexer no preço da carne. O Presidente ficou um pouco
triste, mas disse: ‘vou decidir isso daqui a uns dias, não quero tomar decisão
agora’. Dois dias depois me telefonou o Dr. Leitão e falou: ‘o Presidente
autorizou você a liberar o preço da carne’. Aí, fiquei curioso para saber o que
tinha havido e o Leitão me disse que ele mandara vender os bois que tinha para
não se aproveitar do aumento do preço da carne. Isso devia servir de exemplo”
(Deputado Federal Antônio Delfim Neto, Tomo 5, pg. 158-159).
“Realmente, a crítica mordaz
e injusta dos contrários está sempre presente. Mas eu pergunto: ‘Por que um
presidente que assumiu contra a sua própria vontade, que reduziu em quase dois
anos seu mandato e que não admitia que se falasse em continuísmo, ia precisar
de uma máquina para exaltar sua pessoa? Será que um presidente com essas características
precisaria de um Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP) de Getúlio Vargas
para segurá-lo no poder por 15 anos?’ ”
(Engenheiro Roberto Nogueira Médici, Tomo 14, pg. 193).
“Em
tempos de guerra, não existe imprensa livre”
“No governo de meu pai
[Presidente Médici], havia uma guerra a ser vencida e, em tempos de guerra, não
existe imprensa livre. Não existe nação, por mais democrática que seja, que não
imponha censura à imprensa em tempo de guerra.
A relativa liberdade que os
americanos deram à mídia, durante a guerra do Vietnam, foi, em grande parte,
responsável pela derrota que amargaram. Já na Guerra do Golfo, nada, nenhuma
notícia, fugia do controle militar” (Engenheiro Roberto Nogueira Médici, Tomo
14, pg. 196).
Médici
converteu, pelo menos, um comunista...
“No Governo Emílio
Garrastazu Médici, a presença do Presidente na televisão era como um calmante:
de fala pausada, sincero, honesto, correto. Quero contar um fato, breve. Na
época, como diretor do Departamento de Obras da Universidade Federal do Ceará,
eu estava com um projeto de expansão do campus universitário e viajava sempre a
Brasília. Numa das viagens, a meu lado, no avião, um jovem de aproximadamente
20 anos foi logo puxando conversa, dizendo que era estudante, líder estudantil,
comunista convicto. Mas, ao ver e ouvir o Presidente Médici na televisão,
acreditou nele e mudou radicalmente de convicção política” (Major Geraldo
Nogueira Diógenes, tomo 12, pg. 231).
“O Presidente Médici
tornou-se simpático, também, ao poro, pelo hábito de assistir aos jogos ouvindo
o radinho de pilha. Porém, a guerrilha e a perturbação da ordem levaram-no a
agir com máo-de-ferro, razão por que o pessoal da esquerda chama o seu período
de governo dos ‘anos de chumbo’. Para mim, ‘anos de ouro’, anos do milagre
brasileiro. E se os terroristas sofreram, foram perseguidos, os cidadãos
comuns, todos aqueles que trabalhavam pela grandeza, pelo crescimento do País,
experimentaram um período de prosperidade” (Tenente-Coronel Affonso Taboza
Pereira, Tomo 12, pg. 222).
“Certa vez, quando
acompanhei o Presidente Médici e o General Sardenberg ao Maracanã, em dia de
jogo, pude ver oitenta mil pessoas, de pé, o estádio inteiro, aplaudindo o
Presidente. Hoje, onde se poderia ver algo parecido? Atualmente, se o Presidente da República for anunciado no Maracanã,
certamente será vaiado. É uma prova, quer queiram quer não, da popularidade
do Presidente Médici” (General-de-Brigada Flávio Oscar Maurer, Tomo 8, pg.
312).
Obs.
Palavras
proféticas: em 2007, o Presidente Lula da Silva foi vaiado durante a abertura
dos Jogos Pan-americanos, no Maracanã – cfr. em https://oglobo.globo.com/esportes/lula-vaiado-quatro-vezes-nao-faz-abertura-do-pan-4171774.
A
Presidente Dilma também foi vaiada, durante a abertura da Copa das
Confederações, no Mané Garrincha, em Brasília, em 2013 – cfr. https://oglobo.globo.com/brasil/dilma-vaiada-na-abertura-da-copa-das-confederacoes-8701173.
F.
M.
Atentado
contra o Presidente Médici
“Passei cinco anos muito
próximo dele [Presidente Médici], como chefe da sua segurança. Ia ser o chefe
dos ajudantes-de-ordens, mas um dia me chamou, na época em que começaram os
atos terroristas, e disse:
- Eu quero que você seja o
meu Chefe de Segurança, cuide da minha família. Você aceita?
- General – respondi –
aceito trabalhar com o senhor, a função o senhor estabelece.
Foi realmente um período
muito difícil, porque ocorreram as tentativas de sequestro da Dona Scylla; fui
alvejado com um tiro, no meu carro, na inauguração da Estrada
Curitiba-Blumenau; um atentado à bomba contra o Presidente, numa viagem a Porto
Alegre, mas essa bomba não funcionou, era um artefato de fabricação caseira.
Esses e outros incidentes deixavam o General preocupado, sobretudo com as noras
dele e com a esposa D. Scylla que ainda é viva, tem 92 anos e está lúcida.
Recentemente falamos ao telefone e ela me pediu que fosse visita-la. Na minha
próxima ida ao Rio irei visitar D. Scylla, é uma pessoa muito querida para mim.
O General Médici, quando
assumiu a Presidência naquelas circunstâncias, fez um pronunciamento no qual
disse esperar, ao final do seu mandato, que a vida política estivesse
reconstituída no Brasil. O General, novo Presidente, mostrava, como os outros
dois, a intenção de normalizar a vida política do País.
Infelizmente, sobreveio a
guerra revolucionária no Brasil. Fui testemunha de um episódio na saída de uma
reunião dos ministros com o Presidente, quando ele se virou para o Ministro
João Leitão de Abreu, seu Chefe da Casa Civil, e disse:
- Eu não tenho mais tempo
para fazer a abertura, fica para o outro” (Coronel Luiz Carlos de Avellar
Coutinho, Tomo 7, pg. 185).
Geisel teria aceitado ser candidato a Presidente da República se Médici mantivesse o AI-5 em vigor
“O nome Geisel só foi confirmado depois de [Médici] certificar-se, pela palavra de seu Chefe da Casa Militar, General João Figueiredo, do seu afastamento do General Golbery. Sempre teve desprezo por esse oficial e dos artifícios que usava para estar sempre ao lado do Poder. Desprezo que evoluiu para asco cívico depois que esse senhor, após ter criado e dirigido, no Governo Castello Branco, o Serviço Nacional de Informações, que lhe a oportunidade de conhecer o direito e o avesso de todos os homens importantes desse País, ter tido o despudor de colocar essas informações a serviço de uma multinacional. De ter tido a coragem de ser um mandante remunerado, um abridor de portas da Dow Chemical. Mercadejando um produto que não lhe pertencia, a dignidade de um oficial do Exército Brasileiro.
Sabedor da influência que
Golbery exercia sobre Geisel, não queria correr o risco de vê-lo na futura
equipe de governo. Eliminada essa possibilidade, pois para meu pai, que acreditava
em honra militar, era inconcebível que um general Chefe da Casa Militar pudesse
mentir ao seu presidente, comunicou pessoalmente ao Geisel a intenção de
indica-lo ao Congresso como candidato do Governo à presidência da República
que, sem impor nenhuma condicionante, de pronto aceitou. Comunicou sua decisão
aos chefes militares e a sua liderança política o pedido de que respaldassem.
Geisel a partir de então, até pelo prestígio de quem o indicava (meu pai
terminou o governo com 82% de aprovação), já era o futuro presidente do Brasil.
Quando, a pedido do meu pai, o Dr. Leitão de Abreu, seu Chefe na Casa Civil,
foi ao encontro de Geisel formalizar o convite e oferecer os préstimos do
governo, este, para surpresa e estupefação do enviado, declarou: ‘Só aceito com
o AI-5 em vigor.’ A meu pai só cabia curtir a traição. Já não tinha mais espaço
de manobra para articular outra candidatura.
Quando mais tarde Geisel
anunciou seu ministério e nele viu figurar Golbery e João Figueiredo, soube com
amargura que também tinha sido traído pelo seu Chefe da Casa Militar. Ficou,
então, sabendo que Geisel precisava do AI-5 para remunerar Figueiredo por
serviços prestados. Para impô-lo como seu sucessor. E como foi generoso e
agradecido. Deu-lhe um mandato de 6 anos. Mais uma vez a troika - Geisel,
Golbery e Figueiredo - que havia, por amor desmedido ao Pooder, contribuído
substancialmente para afastar o Governo Castello Branco dos objetivos da
Revolução de 1964, assumia novamente as rédeas do Movimdento e mais uma vez
postergava o retorno do País à democracia. Agora, para enxovalhá-lo e manchar o
prestígio das Forças Armadas que até hoje sofrem as consequências de um
desengajamento que poderia ter sido honrado e vitorioso, mas que foi uma
vergonhosa debandada.
Geisel, com o ‘Pacote de
Abril’, se proclamou em Assembleia Constituinte. Fechou o Congresso Nacional,
criou o ‘senador biônico’, cassou um senador e, para dar maioria no Congresso
ao partido que dava sustentação a seu governo, deu maior peso político aos
Estados do Nordeste e do Norte, subvertendo completamente a representação dos
Estados na composição da Câmara dos Deputados. A sociedade viu que estava à
frente de um presidente arrogante que, jogando fora o esforço de pacificação do
governo anterior, usava a força para humilhar e impor sua vontade. Por outro
lado, a determinação de fazer Figueiredo seu sucessor agitou o quartel. O nome
de Figueiredo não era bem recebido e a violência para impô-lo, como as
demissões do Chefe da Casa Militar, General Hugo de Abreu, e do Ministro do
Exército, General Sylvio Frota, quebrou a unidade da Corporação. Quando
Figueiredo assumiu, a Revolução de 1964 já era repudiada pela sociedade civil e
pleos militares idealistas que não se deixaram amolecer pelos anos de Poder.
Queriam, no mais breve espaço de tempo, desvincular as Forças Armadas de um
governo que estava sujando sua imagem. Só restava a Figueiredo a retirada. Sua
Lei de Anistia não foi um ato de clemência de um vencedor, mas um gesto
obrigatório e encabulado de quem sai pela porta dos fundos. Fou mais uma ata de
rendição. Por isso mesmo, até hoje, só protege os que se opuseram à Revolução”
(Engenheiro Roberto Nogueira Médici, Tomo 14, pg. 199-200).
Obs.:
No
livro “Ernesto Geisel”, publicado pela Editora Fundação Getúlio Vargas, 5ª.
Edição, 1998, à pg. 233, Geisel desmente a versão de que teria imposto a
continuação do AI-5 para ser Presidente:
“Há tempos, depois de o
Médici já ter morrido e eu já estar fora da presidência da República, no
governo Sarney, o Jornal do Brasil revolveu ouvir algumas ex-primeiras-damas. E
aí apareceu a senhora do Médici, uma senhora muito distinta, muito retraída,
com a história de que o Médici, no fim do governo, queria acabar com o AI-5,
queria normalizar a situação, e que eu me opus, declarando ao Médici que, nesse
caso, eu não assumiria a presidência da República. Isto tudo é uma grande
inverdade. Houve uma tentativa no governo Médici, feita pelo Leitão de Abreu. O
sr. Huntington, cientista político americano, em visita ao Brasil, conversou
com o Leitão de Abreu sobre as possibilidades de normalização do país, sem que
obtivesse resultado prático. Depois, quando eu já era presidente, ele esteve
uma ou duas vezes com o Golbery também para tratar do mesmo problema. Também
não deu em nada. O que eu posso afirmar é que essa conversa em que o Médici
teria manifestado o desejo de acabar com o AI-5 e que eu me teria oposto não
existiu”.
Verdade
ou não, Geisel utilizou o AI-5 com gosto, até 13 de outubro de 1978, quando foi
extinto, quase no final do seu governo, que se estendeu de 15 de março de 1974
a 15 de março de 1979.
F.
M.
Desengajamento: hora de “desmontar do tigre”
“Já se dava uma
desmobilização grande, quando aconteceu a primeira ocorrência, em julho de
1966, o atentado no aeroporto de Guararapes, em Recife, tentando vitimar o
candidato Costa e Silva. Morreram um almirante e um jornalista, além da
existência de vários feridos graves, entre eles, o Coronel Sylvio, mais tarde
General, que ficou com o corpo cheio de estilhaços.
Por que eles nunca se preocuparam
com a atentado de Guararapes como fazem em relação ao Riocentro? Isso não
demonstra ‘revanchismo’ [entrevistador]?
Pois sabe o porquê? Não
houve punição. O inquérito conduzido pela Aeronáutica – o atentado ocorreu
dentro do aeroporto – foi muito malfeito. Apesar disso, na prática, soube-se
quem foi o responsável. O terrorista errou ao confiar demais no operário
bombeiro que fez o dispositivo: um cano de duas polegadas, para encher de
explosivo. Visitou-o três vezes. Quando aconteceu a explosão, e os jornais
começaram a noticiar, o bombeiro apresentou-se na Aeronáutica para confessar o
que sabia, e apontou o engenheiro Ricardo Zaratinni.
Hoje, o pessoal de esquerda
tenta inocentar o Zaratinni, mas foi ele” (General-de-Brigada Hélio Ibiapina
Lima, Tomo 2, pg. 182).
“As manchetes dos jornais de
15 de dezembro de 1970 reproduziam frases do discurso do Chefe do Estado-Maior
do Exército, General Alfredo Souto Malan, preconizando o que chamou de ‘o
desengajamento controlado das Forças Armadas de outras atividades que não
fossem as de soldado, e o advento de um Brasil democrático, forte e livre’.
Estávamos no segundo ano do Governo Médici, nos, agora, cognominados, por
importação do francês, ‘anos de chumbo’.
(...)
A idéia do ‘desengajamento
controlado foi mais tarde reproduzida por Golbery, com o nome de ‘distensão,
lenta e segura’. É a mesma coisa. Tratava-se de desmontar do tigre, sem ser por
ele devorado.
Ullysses Guimarães, em 1964,
fora co-autor de um projeto de Ato Institucional que previa cassações por 15,
em lugar de 10 anos. Em 1970, na oposição, líder do MDB, exasperava-se:
‘Enquanto houver cachaça, samba, carnaval, mulata e campeonato de futebol, não
haverá rebelião no Brasil. O Corinthians segura mais o povo do que a Lei de
Segurança Nacional’. Existe mesmo um desabafo do ex-Capitão Lamarca, terrorista
em fuga para a Bahia: ‘Há três anos o Brasil está crescendo a 10%, ao ano, e a
esquerda foi a última a saber’. Tudo isso está registrado em livro do
brasilianista Thomas Skidmore [BRASIL – De Castello a Tancredo, Editora Paz e
Terra, 1988 – Traduzido do original em inglês The Politics of Military Rule in
Brazil – 1964-1985].
Quanto ao cidadão comum,
perguntava ele: ‘Se está dando certo, para que mudar?’; e não se aceitava a
resposta de ser quando tudo está dando certo é que é a hora de mudar. Quando a
situação está ruim, não se pode. Naquele momento, era hora de ‘desmontar do
tigre’. Se deixar o tigre com fome, ele nos devora. Aliás, a demora em
desmontar vai-nos fazer perder bons nacos de carne abocanhados pelas
jaguatiricas revanchistas.
(...)
Médici, em depoimento
prestado a um jornalista, pouco antes de falecer, disse que não teria sido
viável ser sucedido por um civil, porque ainda havia a subversão. Realmente, a
guerrilha de Xambioá não havia sido debelada. Embora em História seja difícil
falar-se em hipóteses, é possível que a luta contra as esquerdas armadas
pudesse ter sido ultimada sob um presidente civil, com forças policiais,
desonerando o Exército desse ônus. Afinal, a subversão nunca conseguiu o apoio
da população, que via, na ordem, a garantia do bom estado da economia.
O Presidente tinha um
prestígio imenso. Sua figura inspirava respeito, parecia um grande patriarca.
Que presidente arrisca-se a ir ao Estádio do Maracanã? Nenhum, só o Médici. Pediram-lhe
um palpite sobre o resultado do jogo contra a Itália, pela decisão da Copa do
Mundo de futebol de 1970, e ele acertou a vitória do Brasil por 4 a 1. Tinha o
dom que Napoleão dizia ser indispensável aos generais: sorte.
É preciso restaurar essas
verdades, contrapondo-as ao constante fustigamento à memória do Presidente
Médici. Quanto ao desengajamento, perdeu-se a oportunidade, e nada mais há que
fazer, senão melancolicamente, registrar essa perda” (Coronel Luís de Alencar
Araripe, Tomo 2, pg. 236-237).
“O Presidente Médici durante
todo o seu mandato foi amado pelo povo, o que até adversários da Revolução
reconhecem. Só não foi amado pelos terroristas, guerrilheiros e elementos que
os apoiavam – uma minoria sem nenhuma expressão no contexto nacional. Pelo povo
trabalhador, diligente, que dá duro e ganha pouco na luta pela sobrevivência, o
Presidente Médici era muito querido.
No entanto, depois de tantos
e tão expressivos acertos, não posso deixar de consignar o seu grande e único
erro: deveria ter passado o Governo para um civil, entregaria o Governo com a
casa arruada, com o PIB crescendo a mais de 10% ao ano, com a inflação de 15%
ao ano, inflação que viera dos 400% ao ano, no tempo do incompetente Jango
Goulart; passaria a um civil, um País que se transformou totalmente naqueles
dez anos – 1964 a 1974.
Ernesto Geisel recebeu a
casa arrumada mas, como dizia o meu amigo Ministro Frota, sendo ele um
socialista disfarçado, criou 254 empresas estatais. Além disso, fez-se
acompanhar daquele que fora o ‘anjo mau’ do Castello Branco – Golbery do Couto
e Silva. O retorno do Golbery ao Governo, aquele homem que conheci coronel no
QG da ID 4 – Infantaria Divisionária da 4ª. DI -, ‘exilado’ do Rio de Janeiro e
aceito pelo meu pai em Belo Horizonte. A sua ‘expulsão’ do Rio de Janeiro teve
como causa o episódio do discurso do Coronel Bizarria Mamede, discurso que teve
uma repercussão enorme, no enterro do General Canrobert Pereira da Costa,
Presidente do Clube Militar” (Coronel Henrique Carlos Guedes, Tomo 3, pg. 267).
“Em vez de realizar um
trabalho de peso para que a democracia fosse reforçada nas universidades,
fortalecendo a cátedra democrática, procurando penetrar nos diretórios
estudantis – todos comandados por comunistas -, dificultando, de forma
inteligente, a ação livre do MCI no ensino superior, o ‘intelectual’ fez ao
contrário, tornou a universidade uma ‘área liberada’ de todas as correntes
comunistas – marxistas, trotskistas, maoístas. Médicos, engenheiros,
professores, advogados, jornalistas etc. nas universidades do Governo, foram
formados por professores quase todos marxistas. E, ainda, inventaram a
profissão de sociólogo. O que faz um sociólogo? Tudo é um artifício para
difundir o marxismo, abertamente, e com o aval de serem diplomados” (Coronel Henrique
Carlos Guedes, Tomo 3, pg. 269-270).
“Alguns elementos,
principalmente da mídia, procuram caracterizá-lo [Presidente Médici] como um
ditador impiedoso, carrasco, torturador. Muito ao contrário, era um homem
afável, de boníssimo coração e que prestou inestimável serviço ao País. Sua
popularidade era tão grande que um fato ocorrido com ele jamais aconteceu com
outra autoridade no Brasil. Ao assistir a um jogo de futebol entre o Vasco e o
Flamengo, no Rio de Janeiro, por dificuldades de trânsito, chegou uns dez
minutos depois de iniciado o jogo. Quando entrou no estádio, na Tribuna de
Honra, ao anunciarem o seu nome, todo o estádio se levantou e, de pé, o
aplaudiu entusiasticamente” (General-de-Brigada Luciano Salgado Campos, Tomo 4,
pg. 76).
“Devíamos ter entregue [o
Poder] em 1974. Deram-se mais cinco anos e depois mais seis. Estou convencido
de que a conjuntura internacional, então, já era completamente diferente e,
digamos assim, o regime militar, o regime autoritário, caiu de moda. Caiu de
moda na verdade. Foi um instrumento importante, mas produziu um cansaço. Não
tinha mais condição daquilo funcionar, principalmente depois da crise mundial
de 1982. Essa crise, digo e repito, já disse aqui, foi de tal profundidade que
se permitiu dizer o seguinte: os ‘marqueteiros’, os manipuladores de opinião,
conseguiram convencer o Brasil de que a crise era brasileira, de que a crise
era do Governo brasileiro. Quer dizer, quem levou o mundo ao default foi o Brasil, falso
absolutamente. O Brasil foi arrastado no default,
mas a crise era mundial. Eu digo, os Estados Unidos tiveram uma recessão
poderosíssima porque, veja, a taxa de juros americana era de 21%. Se falar isso
para alguém hoje...
As pessoas pensam que foi o
Gorbatchov que acabou com a União Soviética. Nada. Quem acabou com ela foi a
recessão de 1982. Em 1982 ficou claro: quebrou a Polônia, quebrou a Romênia,
quebrou a Bulgária, quebrou a União Soviética. Quer dizer, depois daquilo, a
URSS era uma máquina faltando engrenagem. O Gorbatchov só veio para completar.
Quem acabou com o mundo chamado comunista foi a recessão capitalista de 1982,
que desintegrou tudo aquilo. Uma das coisas mais fantásticas é você ver a
esquerda – claro que há exceções – na média, é de uma ignorância monumental. O
susto com a esquerda não é o seu programa, é a ignorância com que eles pensam
que vão implementar o programa. Então o que acontecia? As pessoas criticavam o
Brasil: ‘vocês viram? Estão se endividando’.
O caso brasileiro era uma
coisa... Em 1974, o Brasil tinha 12 bilhões de dólares de dívida, tinha reserva
de 6 bilhões e exportava 6 bilhões, ou seja, a dívida era um ano de exportação.
Hoje, a dívida é quatro anos de exportação, cinco anos – já foi até mais. Mas,
os países da União Soviética, que usavam a Rússia como paradigma, estavam se
endividando ainda mais e eles não tinham conhecimento disso. É uma coisa
deliciosa ler, hoje, os documentos que escreveram naqueles anos, porque mostra
que eles não tinham o menor conhecimento do que estava se passando e, na
verdade, foram adquirindo esse conhecimento ao longo desses anos” (Deputado
Federal Antônio Delfim Neto, Tomo 5, pg. 163).
“O desengajamento foi lento
e gradual, conforme queriam os teóricos Jda Revolução. Pena que as
transformações necessárias no campo político não chegaram a realizar-se. As
cassações foram casuísticas e os políticos que apoiavam a Revolução, na sua
maioria, eram fisiológicos e aproveitadores das vantagens de estarem próximos
do Poder. Infelizmente, os governos que se seguiram ao ciclo revolucionário caracterizaram-se
pela incompetência, despreparo e corrupção. Isto era mais ou menos previsível
mas não se esperava esta desqualificação nos níveis apresentados. Não concordo
com alguns chefes militares entrevistados na pesquisa realizada pela Fundação
Getúlio Vargas, que consideram que a Revolução deveria ter acabado antes. Nem
aceito o continuísmo daqueles radicais que pretendiam o regime autoritário para
sempre” (General-de-Divisão João Carlos Rotta, Tomo 8, pg. 152).
“Progressivamente, houve o
fechamento do Poder, promovido por aqueles grupos quem não interessava qualquer
mudança que comprometesse seus privilégios.
Reagiram contra a abertura
aqueles que desfrutavam de vantagens, facilitadas pela grande latitude
atribuída ao exercício do Poder, às vezes sem freios, contenções e limites.
Para defender seus interesse se fecharam em torno do Presidente Médici, sem
admitir abertura. Para se ter uma ideia, durante o Governo Figueiredo, já sem a
égide do AI-5, eu, um simples General, conversando com um Secretário de Estado
da Bahia, na Ilha de Itaparica, ouvi da parte dele:
- Vocês não podem abrir, não
podem entregar o Poder. Vocês têm é que fechar, senão perderemos tudo o que foi
conquistado.
Quanto mais se fecha, mais
difícil fica para se promover uma abertura no sentido da institucionalização
democrática. O Presidente Médici não teve a felicidade de fazer o que ele
poderia ter feito e, lamentavelmente, é estigmatizado – há uma distorção da sua
imagem – só porque teve sucesso no combate ao terrorismo” (General-de-Brigada
Egêo Corrêa de Oliveira Freitas, Tomo 8, pg. 227).
Félix Maier
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