MEMORIAL 31 DE MARÇO DE 1964

MEMORIAL 31 DE MARÇO DE 1964
Avião que passou no dia 31 de março de 2014 pela orla carioca, com a seguinte mensagem: "PARABÉNS MILITARES: 31/MARÇO/64. GRAÇAS A VOCÊS, O BRASIL NÃO É CUBA." Clique na imagem para abrir MEMORIAL 31 DE MARÇO DE 1964.

segunda-feira, 3 de agosto de 2020

Cartilha ideológica do MEC - entrevista de Ali Kamel e outras fontes


Entrevista de Ali Kamel a Reinaldo Azevedo sobre a cartilha ideológica de Mário Schmidt


Maio 24, 2012


Em Ilusões Perdidas, Balzac usa uma expressão elegante, um tanto de época, para definir certos canalhas do jornalismo. Na era da comunicação eletrônica, a tarefa é um tanto facilitada. Fiz uma síntese dos argumentos do PCC do jornalismo contra o artigo de Ali Kamel que trata da manipulação da informação histórica em livros didáticos. Em vez de presumir coisas, decidi ouvi-lo. Assim como os espadachins divulgam a mentira, divulguemos a verdade.

Blog – Você manipulou as datas dos livros comprados pelo MEC só para incriminar o PT?
Ali Kamel – Tenho arquivada toda a troca de e-mails entre mim e a assessoria do MEC. Em nenhum momento — repito, em nenhum momento —, o MEC me informou que o livro em questão tinha sido incluído na lista em 2002 e que dela não constaria em 2008.

Blog – Mas o livro continua sendo usado, não continua?
Ali Kamel – Sim, continua.

Blog – Você perguntou isto ao MEC, isto é, se o livro continuava em uso?
Ali Kamel – Perguntei expressamente se o livro era recomendado oficialmente pelo MEC.

Blog – Você tem arquivado o histórico de seus contatos com o MEC?
Ali Kamel – Tenho. A minha pergunta, no dia 5 de setembro, foi feita exatamente nestes termos: “Peço agora que você me ajude a descobrir se o livro Nova História Crítica, da oitava série, que leva o selo PNLD 2005, FNDE, Ministério da Educação, da Editora Nova Geração, cujo autor é Mario Furley Schmidt, é mesmo recomendado pelo MEC. Se for – e creio que é -, gostaria de saber quantos livros foram comprados e quantos livros foram distribuídos pelo Brasil inteiro. Você me ajuda?”

Blog – E o que seu interlocutor responde?
Ali Kamel – Reproduzo entre aspas: “Pode deixar, vou conversar com a equipe.” Seguiu-se o feriado de Sete de Setembro, e, no dia 10, o MEC respondeu da seguinte forma, também entre aspas: “Seguem os dados sobre o livro Nova História Crítica.” Na mesma mensagem, vinha descrito o número de exemplares comprados em 2005, 2006 e 2007. Mandei ainda outra mensagem, perguntando se o número bruto estava certo, e recebi nova mensagem explicando que sim, que os números estavam certos. A assessoria dizia na mesma mensagem: “Vou pedir para a equipe verificar se esse foi mesmo o livro de história mais adotado.”

Blog – E qual foi a resposta?
Ali Kamel – No dia 11, recebi uma mensagem dizendo: ” Esclarecimentos feitos pelo FNDE sobre o livro Nova História Crítica: “Sim, ele foi o livro de história mais adotado no PNLD 2005.” Em nenhum momento, a assessoria do MEC se preocupou em me dizer que estávamos falando de um livro que já saíra do catálogo por apresentar falhas. Depois que o artigo foi publicado, perguntei ao MEC por que a informação me fora sonegada. Responderam-me que, desde o início acreditaram que eu me referia ao triênio começado em 2005. Ora, mesmo que assim tenha entendido, por que o MEC não quis me dizer que o livro já estava descartado? Não sei e fico intrigado, já que o ministério, muito republicanamente, sempre foi solícito ao responder as minhas perguntas. Se tivesse me dito que o livro já fora reprovado, eu teria registrado o fato no meu artigo.

Blog – A opinião é minha, você não precisa concordar. Isso não muda nada. Nem livra ninguém de responsabilidades. De resto, você não atacou governos. E os livros estão aí, sendo usados em sala de aula. Outra crítica que a tropa de choque faz a seu artigo é que você teria selecionado trechos favoráveis à sua tese, desconsiderando aspectos também críticos ao marxismo.
Ali Kamel – Não é verdade que o livro critique o marxismo. Isso é coisa de gente que não leu o livro. Em todas as suas páginas, o marxismo é elogiado. As passagens que reproduzi, em que o autor elogia Mao, a Revolução Cultural, a revolução cubana e dá explicações canhestras para o fim da URSS falam por si. Na abertura do meu artigo, eu disse textualmente que, para o autor, o socialismo só “fracassou até aqui por culpa de burocratas autoritários.” É essa a visão de todo o livro: todos os erros do socialismo real se deveram ao autoritarismo de burocratas.

Blog – Fica parecendo que o livro é crítico a Stálin? É?
Ali kamel – No meu artigo, nem menciono Stálin. Mas posso fazê-lo agora. Depois de lamentar que Stalin tenha traído os ideais de Marx e Engels, o autor lança um olhar compreensivo para ele. Está escrito lá: “Na verdade, Stálin e seus camaradas do Partido Comunista pareciam sinceramente preocupados com o bem-estar da população e com o desenvolvimento de uma sociedade socialista. Mas não admitiam a oposição, o debate democrático.” Isso soa ridículo quando sabemos que Stálin foi o responsável pela morte de milhões de homens e mulheres.

Blog – Acho que você ainda foi bonzinho (risos). Talvez foi por falta de espaço. Qual é o tratamento dispensado, por exemplo, aos EUA?
Ali Kamel – Há momentos vexatórios. Os EUA são sempre pintados como a representação do mal. Quando se refere à entrada dos americanos na Primeira Guerra Mundial, que provocou a morte de milhões de pessoas, o autor diz: “O grande vencedor foram os EUA. Seus soldados lutaram na Europa para salvar os lucros dos grandes empresários.” Isso é apenas um exemplo, pequeno.

Blog – Você sabe que conheço bem a acusação de que a crítica é sinônimo de intolerância. Dizem que você está querendo ser juiz do que pode e do que não pode estar num livro didático.
Ali Kamel – Que alguns não se importam que seus filhos estudem segundo essa cartilha, isso não é da minha conta. Que o estado brasileiro compre milhões de exemplares desse livro e os distribua aos nossos alunos da rede pública, isso é algo que um jornalista tem a obrigação de informar. A crítica dos “jornalistas” que parecem preferir que eu tivesse me calado diz muito do próprio jornalismo que praticam.

Blog – Você acusou a atual gestão do MEC?
Ali Kamel – Quem leu o artigo sabe que não. Até porque a questão é bem mais ampla e profunda, como você mesmo tem escrito em seu blog. Encerrei o artigo dizendo: “É isso o que deseja o MEC? Se não for, algo precisa ser feito”. E precisa.

 
http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/geral/uma-entrevista-com-ali-kamel/

Fonte: http://www.escolasempartido.org/blog/entrevista-de-ali-kamel-a-reinaldo-azevedo-sobre-a-cartilha-ideologica-de-mario-schmidt/


"Livro didático e propaganda política"

por Ali Kamel

Ainda os livros didáticos, um problema mais grave do que eu imaginava. Para 2008, o MEC me informa que já comprou mais de um milhão de exemplares do livro de História "Projeto Araribá, História, Ensino Fundamental, 8", a ser distribuído na rede pública a partir de janeiro. Para ser exato, 1.185.670 exemplares, a um custo de R$ 5.631.932,50. É agora o campeão de vendas.

Sem dúvida, o livro tem um pouco mais de compostura que o "Nova História Crítica", que analisei há 15 dias, mas, em essência, apresenta os mesmos defeitos e um novo, gravíssimo: faz propaganda político-eleitoral do PT. Na unidade 3, "A Primeira Guerra Mundial e a Revolução Russa", o livro diz o seguinte, logo na abertura, sob o título "Um sonho que mudou a História": "Em 1o - de janeiro de 2003, o governo federal apresentou o programa Fome Zero. Segundo dados do IBGE, 54 milhões de brasileiros vivem em estado de pobreza. Em nenhum país do planeta existem tantos pobres vivendo entre pessoas tão ricas (...). Por que, apesar de tantos avanços tecnológicos, pessoas continuam morrendo de fome? É possível mudar essa situação? Os revolucionários russos de 1917 acreditavam que sim. Seguros de que o capitalismo era o responsável pela pobreza, eles fizeram a primeira revolução socialista da História. Depois disso, o mundo nunca mais seria o mesmo. Hoje, passado quase um século, o capitalismo retornou à Rússia, e a União Soviética, (...) não existe mais. Valeu a pena? É difícil responder. Mas como dizia um membro daquela geração de revolucionários, é preciso acreditar nos sonhos."

Entenderam a sutileza? Os alunos são levados a acreditar que não há país no mundo com mais pobres do que o nosso (os autores se esqueceram da Índia, para citar apenas um?). E que o Fome Zero seria o sonho de 1917 revivido.

Por uma questão de espaço, publico apenas na internet uma análise completa sobre como o livro trata o socialismo e o capitalismo, simpatia extrema pelo primeiro, crítica aguda contra o segundo (o leitor encontra essa análise em www.oglobo.com.br/opinião). Aqui vou me concentrar na novidade do livro, naquilo que mais espanta: a propaganda político-eleitoral.

Depois de relatar o sucesso do Plano Real no governo Itamar, o livro explica assim a vitória de FH sobre Lula nas eleições de 1994: "Uma habilidosa propaganda política transformou o candidato do governo, Fernando Henrique, no pai do Plano Real." Sobre os resultados do primeiro governo FH, o livro contraria tudo o que os especialistas dizem sobre os efeitos imediatos do Plano Real: "A inflação foi controlada, mas a um preço muito elevado. O desemprego cresceu, principalmente na indústria, elevando a miséria, a concentração de renda e a violência no país." Herança maldita é pouco.

Depois de contar como o governo foi obrigado a desvalorizar o real, o livro diz que o segundo mandato de FH trouxe duas conquistas no campo social: ampliou as matrículas no ensino fundamental e reduziu a mortalidade infantil. Mas o capítulo termina assim: "O PT chegou ao poder com a responsabilidade de vencer um enorme desafio: manter a inflação sob controle e combater a desigualdade social no Brasil, onde 54 milhões de pessoas vivem em situação de pobreza." Como os autores disseram no início, o sonho não acabou.

O livro termina com oito páginas sobre a fome no mundo e no Brasil. As causas da fome, apontadas pelo livro, são as dificuldades de acesso à terra, o aumento do desemprego e a divisão desigual da renda. Depois de repetir que "o nosso país tem fome", o livro "esclarece": "O combate à fome é o principal objetivo do governo Lula, que tomou posse em janeiro de 2003. Para isso, o governo lan- çou o Programa Fome Zero. A implantação do programa tem como referência o Projeto Fome Zero — uma proposta de política de segurança alimentar para o Brasil, um documento que reúne propostas elaboradas pelo Partido dos Trabalhadores em 2001. Leia agora parte desse documento."

E as crianças são então expostas a 52 linhas do documento de propaganda partidária elaborado em 2001 pelo Instituto da Cidadania, do PT. E a nenhum outro.

O Fome Zero, que não conseguiu sair do papel, vira História.

Tudo isso distribuído gratuitamente pelo governo federal a mais de um milhão de alunos. Isso é possível? Isso é republicano?

Não acredito que o presidente Lula aceite que propaganda política de um único partido seja distribuída com o uso de dinheiro público como se fosse aula de História. Não acho também que o MEC concorde com isso.

Fica aqui o alerta.

Três detalhes.

O livro, deliberadamente, confunde pobreza com fome. A OMS admite até 5% de pessoas magras em qualquer população (os geneticamente magros e, não, os emagrecidos pela falta de alimento). O Brasil tem 4% de magros e, em pouquíssimas áreas, esse percentual chega a 7%; a Índia tem 50%. A fome no nosso país é, portanto, um fenômeno localizado, na casa das centenas de milhares de pessoas, nunca na casa dos milhões.

O livro, que se bate contra a globalização e o neoliberalismo, foi impresso na China. Usando uma linguagem que poderia ser a dos autores, "roubando empregos brasileiros".

E, por último, para que o leitor tenha certeza da péssima qualidade do projeto, sugiro uma visita à página 83 do livro de geografia para a oitava série, da mesma coleção (1.087.059 exemplares, ao custo de R$ 4.859.153,73). Lá, num texto sobre o Islã, está escrito que a corrente sunita é a mais moderada e que "a xiita ou fundamentalismo islâmico é a mais radical". Sim, eles acham que o xiismo e o fundamentalismo são sinônimos. Sim, eles ignoram que a AlQaeda, a manifestação mais brutal do fundamentalismo, é sunita. No mesmo texto, está escrito também que a Arábia Saudita, o berço do sunismo radical, é... xiita.

Pobres de nossas crianças.





Lênin, um democrata?



O livro Nova História Crítica, de Mário Schmidt, da editora Nova Fronteira, em seu volume único para o Ensino Médio, como todo livro, tem qualidades e defeitos. A principal qualidade é a maneira próxima e muitas vezes informal que o autor conversa com o “leitor-aluno”, procurando, sempre, fazer analogias que procuram facilitar a compreensão do estudante. Muitas vezes, reconheço, essas analogias pecam pela pobreza; mas de qualquer forma é um recurso eficiente para explicar conceitos quase sempre complexos.


Os principais defeitos do livro são seu antiamericanismo bocó, sua visão romântica do socialismo e, claro, a forma deplorável como ele se refere ao sistema capitalista e aos burgueses. Tudo isso faz o autor esquecer a objetividade e a responsabilidade no ensino da história.


Em conteúdos em que a ideologia turva o entendimento, como é o caso da Revolução Russa, o autor faz uma verdadeira ginástica intelectual para defender o socialismo, a ponto de considerar Lênin um democrata frustrado pelas contingências da vida. Sem poder defender Stálin, o autor exalta a figura do chefe dos bolcheviques durante a Revolução de Outubro, reforçando a tese furada de que o socialismo imaginado por Lênin e, em certa medida, também por Trotsky, fora completamente desvirtuado por Stálin, transformando-se numa ditadura infame e assassina. O objetivo dessa tese é clara: mostrar que o socialismo teorizado por Karl Marx e imaginado por Vladmir Lênin, ainda não aconteceu.


Antes de mostrar os equívocos dessa tese, vou reproduzir trechos do livro de Schmidt que a meu ver contradizem sua afirmação de que o líder dos bolcheviques era, na essência, um democrata, e que pelas circunstâncias tornou-se um totalitário.


“ [Lênin] não hesitou em calar a boca de todos aqueles que punham em dúvida os caminhos tomados. Os outros partidos políticos foram proibidos de funcionar. A imprensa ficou controlada pelos bolcheviques. Uma rebelião de marinheiros, influenciada pelos anarquistas, na base de Kronstadt, foi esmagada com energia.” (página 511)


Digam-me aí se essas medidas tomadas por Lênin após a Guerra Civil podem qualificá-lo como um democrata?

Mário Schmidt sugere que as medidas de Lênin se inserem num contexto único de perigo revolucionário. Em outras palavras: as prisões, os banimentos, os assassinatos, a repressão e as medidas antidemocráticas foram necessárias para “salvar a revolução”. Em 1793, os jacobinos – pelo menos esse é o raciocínio de Eric Hobsbawn - adotaram a Política do Terror com o argumento de que a Pátria estava em perigo, justificando as medidas de exceção que levaram à guilhotina 35 mil franceses.


O trecho abaixo seria cômico, se não fosse trágico.


“O dirigente bolchevique [Lênin] estava muito preocupado com o futuro da democracia na URSS. Dizia que o socialismo só poderia triunfar se fosse democrático. Tinha medo da vaidade de Trotski e da brutalidade de Stálin. Propunha dissolver a autoridade pessoal do partido em favor da autoridade coletiva.” (página 511)


Na mesma página, o autor do livro menciona que no testamento político de Lênin, o então líder máximo da União Soviética gostaria que seu sucessor fosse Trotsky. Ao que parece, entre a vaidade de Trotsky e a brutalidade de Stálin, Lênin temia mais a brutalidade.


Não existe nenhum livro escrito por Lênin em que ele defenda a democracia. Desafio alguém a mostrar. Assim como, não há nenhum livro em que Trotsky tenha, mesmo que de longe, defendido a democracia. Em verdade, num livro famoso, Moral e Revolução, o adversário de Stálin condena veementemente valores liberais e democráticos, qualificando-os de burgueses e inadequados para a moral bolchevique. Por tudo isso, soa-me estranho a afirmação de que Lênin esteve preocupado com a democracia na Rússia e que por isso pensava em propor o fim da “autoridade pessoal do partido em favor da autoridade coletiva”, seja lá o que isso signifique.


De concreto, o que se tem é que nos países onde o socialismo triunfou a democracia nunca passou pela cabeça dos dirigentes comunistas. Se é verdade que teóricos como Rosa de Luxemburgo criticavam os rumos da Revolução de 1917 na Rússia, sobretudo porque calcada na falta de liberdade, não é menos verdade de que em nenhum regime político socialista, a democracia, mesmo capenga, existiu.


Lênin pensava em acabar com a autoridade pessoal do partido, mas deixou um testamento transferindo essa autoridade para Trotsky? Não é estranho?


Na luta entre Trotsky e Stálin pelo controle do país, venceu aquele que dominava a máquina do partido e perdeu aquele que era tido pelos companheiros de revolução como um intelectual arrogante e presunçoso. A disputa entre os dois não foi por causa do futuro da revolução. Foi pelo poder.


Lênin pensava em acabar com a autoridade pessoal do Partido, mas no X Congresso do Partido, em março de 1921, acabou aprovando a resolução que discliplinava os críticos. Admtia a divergência durante os debates, mas depois da aprovação da proposta, exigia dos derrotados a obediência cega! Quem insistisse na dissidência seria "expulso" do partido. Claro que o termo "expulsão" aqui significa prisão, condenação a trabalhos forçados e fuzilamentos.


Lênin pensava em acabar com a autoridade do partido, mas no mesmo congresso aprovou a criação do Politburo, órgão formado por ele e mais 4 membros, depois ampliado para 7 e 9 membros e que na prática centralizava todas as decisões políticas do país comunista. Se com essas medidas Lênin imaginava acabar com a autoridade pessoal do partido, assusta-me imaginar se ele quisesse o contrário.


Lênin nunca foi um democrata. Nem quando enchia a cara com vodca russa. Leitor atento de Karl Marx, jamais poderia coadunar com os valores liberais em política. O socialismo seja do ponto de vista econômico, seja do político, não combina com democracia. A história o comprova.


Numa obra recente e obrigatória, A Guerra particular de Lênin, a historiadora britânica, Lesley Chamberlain, revela quão pouco democrático Lênin agiu durante e depois da Guerra Civil. De prisões, passando por confiscos e deportações, até chegar a fuzilamentos sumários de milhares de padres ortodoxos, ou mesmo dissidentes que até há pouco haviam sido companheiros na Revolução. Lênin tinha a mesma sede de sangue que o vaidoso Trotsky e o brutal Stálin. As vítimas dele, em sua esmagadora maioria, tinham cometido um único crime: ousaram discordar do líder e da maneira como a revolução estava sendo conduzida.


Leiam com atenção este trecho do livro de Lesley Chamberlain:


“Quando os bolcheviques tomaram o poder, ele ficou furioso[refere-se aqui a Kizevetter, intelectual idealista russo]atacando ‘todo esse fanatismo selvagem e destrutivo lançado sobre Moscou e a Rússia por um punhado de cidadãos russos que se entregaram a atos de inédita maldade contra seu próprio povo e tentam garantir o poder em suas próprias mãos a qualquer preço, violando, com ilimitada desfaçatez, os mesmos princípios de liberdade e irmandade que eles defendem de forma blasfema’”(página 42)


Mais adiante a historiadora continua:


“Praticamente todos os homens na futura relação de Lênin de jornalistas políticos, economistas, críticos literários, filósofos e editores devia sua vaga nos navios à sua participação na campanha antibolchevique pelos jornais. Se alguém escrevesse defendendo o outro lado, provavelmente seria deportado.”

(página 43)


O livro está repleto de exemplos de como o projeto bolchevique imaginado e implantado por Lênin no início da Revolução de Outubro e, sobretudo, durante a Guerra Civil nunca fora democrático. O socialismo, em todos os lugares onde foi implantado, mal grado a vontade de muita gente ingênua, jamais produziu riqueza e igualdade e ainda por cima solapou os valores democráticos, extinguindo as liberdades individuais, alicerces fundamentais de uma sociedade livre.


É falaciosa, portanto, a idéia de que se Lênin não tivesse morrido em 1924, ou mesmo Trotsky tivesse derrotado Stálin, o regime socialista na União Soviética teria tido outro rumo. O que se vê nas obras de Lênin e de Trotsky ou nas suas ações políticas, leva-nos a uma conclusão óbvia: leninismo, trotskismo ou stalinismo, não importa: todos desprezavam a democracia, as liberdades e a vida humana. Eram, desde as origens, doutrinas assassinas e liberticidas!





Quem é Mario Schmidt?

O autor brasileiro recordista em vendas com livros de História distribuídos pelo MEC é um completo desconhecido com uma biografia ridícula.

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O projeto de lei “Escola Sem Partido” vem tirando o sono de gente poderosa da esquerda nacional. O projeto, longe de ser, como alardeia a imprensa, uma “lei da mordaça” ou uma “volta à ditadura”, prevê tão somente a afixação de um cartaz orientando os alunos, pais e professores sobre o grave problema da propaganda político-partidária em sala de aula. É uma lei que visa a orientação, não a punição ou censura.

Um dos casos mais emblemáticos dessa doutrinação é o do livro didático “Nova História Crítica”, de Mario Schmidt, distribuído aos alunos das escolas públicas durante quase uma década – de 1998 a 2007, quando foi reprovado pelo MEC não por conta de seu conteúdo distorcido, mas por uma lei que obriga os autores de livros didáticos a ter curso superior completo.

Em 1998, Olavo de Carvalho no Jornal da Tarde já alertava sobre a deturpação dos fatos históricos e o gritante viés ideológico contidos nesse livro. A beautiful people acadêmica, midiática e cultural fingiu não ouvir o alerta e dez milhões de exemplares do livro foram comprados pelo MEC e usados para deformar as mentes de milhões de jovens.

Trecho do livro mais vendido do Brasil.

Em 2007, quando o livro já havia sido reprovado e não era mais comprado, o jornalista Ali Kamel revelou em um artigo algumas frases do livro. Desta vez, o caso ganhou visibilidade. O blogueiro petista Luis Nassif saiu logo em defesa do livro. A editora respondeu por meio de uma nota. Reinaldo Azevedo também tratou do assunto.

Nesses 18 anos, muito já foi dito sobre o livro e seu conteúdo, não vamos repisar aqui tudo isso. O problema é que, embora muito tenha sido dito, nada foi apurado e a recente discussão sobre o projeto Escola Sem Partido trouxe à tona uma questão:

Como o autor de livros mais vendido no Brasil, em sentido literal e figurado, pode ser uma incógnita? Ninguém o conhece, ninguém sabe, ninguém viu. Ele não tem um blog, não dá aulas, não escreve.

Segundo o autor, os aviões do 11 de setembro foram pilotados por odiosos leitores de Thomas Sowell e Roger Scruton.

Sua biografia na Wikipédia afirma que ele tem rating registrado na Federação de Xadrez do RJ. Aí, curiosamente, o link de referência está errado e cai num blog nada a ver. No site oficial da Fexerj o nome dele não está entre os 661 registros de rating.

Quem sabe se procurarmos uma foto dele? No Google Imagens, nenhuma foto corresponde ao “famoso escritor”.

Voltando à Wikipédia, a biografia do maior best seller brasileiro, autor de um livro só, descartando irrelevâncias como ter sido colega de alguns integrantes do Casseta e Planeta, pode ser resumida assim:

“Em 1977 ingressou na Escola de Engenharia da UFRJ. Não concluiu o curso. Em 1984, também na UFRJ, ingressou no curso de Filosofia. Mais uma vez abandonou as aulas sem se formar. Foi professor de cursos pré-vestibulares em Niterói.”

Apelamos para o Youtube. Pesquiso “mario schmidt”, “mario schmidt brasil”, “mario schmidt educação”, “mario schimidt”. Nada. Procurando no Facebook, nada, mais uma vez. Nem adianta procurar no Lattes pois, segundo sua biografia, ele não concluiu a faculdade.

Por incrível que pareça, a única referência pública que encontramos sobre Mario Schmidt foi no site FiliaWeb, que mostra que existe uma pessoa de nome Mário Furley Schmidt filiada ao PT desde 1981.

Mario Schmidt PT

Faça o teste: pesquise na internet o nome de alguém que fez alguma coisa pública. Você vai encontrar alguma coisa. Como pode não haver nenhuma referência em foto ou em vídeo do, segundo a Wikipédia, “conhecido escritor brasileiro” Mario Schmidt?

O mega best seller Paulo Coelho, que vendeu 150 milhões de livros no mundo inteiro, fica atrás do desconhecido Mario Schmidt, no Brasil. São 4 milhões de exemplares (de vários títulos) vendidos por Coelho contra 10 milhões do único livro escrito pelo anônimo Mario Schmidt.

Por que ele se esconde? Por que quem sai em sua defesa são sempre terceiros, como Luis Nassif ou sua editora, nunca ele mesmo? Como é possível não encontrarmos ao menos um texto de blog, uma foto, um vídeo, uma entrevista sua?

Para variar, vivemos no Brasil a nossa própria versão surrealista de uma distopia. Enquanto no romance de Ayn Rand as pessoas perguntavam-se “quem é John Galt?”, aqui perguntamos “Quem é Mario Schmidt?”, com a diferença de que, se um representa a redenção de uma sociedade, o outro é o sintoma de um grande esquema de doutrinação ideológica contido num projeto de poder político que se estende por décadas, ou seja, é a própria perversão da sociedade.

doutrina 1

Créditos à sensacional Caneta Desesquerdizadora.

Tal campanha de doutrinação existe, está em plena atividade e não de depende de um partido político em particular. É justamente por isso que vemos os partidos de esquerda, toda a grande mídia, o ambiente acadêmico e cultural aliando-se desesperadamente contra o Escola Sem Partido. Perder a possibilidade de transformar jovens em massa de manobra seria um golpe fatal ao comuno-fascismo tupiniquim.

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Fonte: https://sensoincomum.org/2016/08/03/quem-e-mario-schmidt/

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