Fichamento de trechos da "História Oral do Exército - 31 de Março de 1964", 15 volumes, editado pela Bibliex, 2003:
“Outros fatores se
conjugaram para a eclosão do Movimento de 1964: a inflação deixada pelo Governo
Juscelino e agravada no Governo Jango, a frustração pela renúncia de Jânio, o
panorama político-social, em crescente degenerescência etc. Costumo dizer que o
Presidente Juscelino, com a construção de Brasília – um sumidouro de dinheiro –
fundou uma cidade e afundou o País. Quando fui oficial de gabinete, espécie de
secretário do Ministro do Trabalho, algumas vezes levava despacho do ministro
para o Palácio do Catete. Vinha telefonema de lá, avisando que o presidente ia
viajar, saindo do aeroporto militar, no centro da cidade. Então, corria o
ministro para lá com o despacho, eu segurando a pasta do ministro, o avião com
as hélices rodando, já partindo, o ministro entregando os processos, e o
presidente autorizando-os, sem os ler e sem nada. Dentro daqueles processos
estavam milhões e milhões da Previdência Social, retirados dos Institutos para
a construção de Brasília. Portanto, quando se fala em crise, em rombo da
Previdência Social, em inflação, temos que voltar ao período de 1956 a 1961, no
Governo Juscelino, quando a situação se agravou. Foi o rombo antecipado da
Previdência, com o dinheiro desviado e a inflação crescente com a construção de
Brasília.
Outra face visível na
desordem do Governo de Jango era o descalabro da economia do País: inflação
galopante, desvios de recursos, corrupção. Se olharmos bem a história deste
País, veremos que a sua desorganização econômica começou com o Governo JK. O
Juscelino, na ânsia de tornar-se eterno no Poder, eterno na história pátria,
quis marcar a sua presença com a construção de Brasília e utilizou
criminosamente todo o dinheiro da Previdência Social, entre outros desacertos.
Quando JK deixou o Governo, Jânio quis consertar a economia, mas,
irresponsável, renunciou ao cargo de presidente e deixou para Jango a
desorganização herdada, sem força para segurar o barco. E os ‘pelegos’ tomaram
conta do Governo. Já Luís Carlos Prestes vinha dizendo que os comunistas
estavam no Governo, só lhes faltava o Poder. Aí, deu no que deu. No período
compreendido entre o final de 1963 e começo de 1964, a situação se agravava:
inflação, infiltração comunista, corrupção e , sobretudo, a deletéria ação da
esquerda, ameaçando a hierarquia e a disciplina nas Forças Armadas”
(General-de-Divisão Francisco Batista Torres de Melo, Tomo 4, pg. 63).
JK colocou Jango na Presidência
“Para se ter uma idéia da
falta de patriotismo e de espírito público da maioria de nossos políticos, vou
contar um fato ocorrido em 1961, por ocasião da queda de Jânio. Estava sentado
numa cadeira, na Companhia Telefônica; no andar de baixo estava o Coronel
Montagna. A telefonista disse: ‘O Juscelino vai falar com o Jango, em Paris.’
Liguei para o Montagna e perguntei: ‘Pode autorizar?’ Autorizou. Na conversa,
ouvi o Juscelino pedir, implorar, a vinda do Jango e este dizer: ‘Eu não, vou
nada, vou nada; aquele pessoal da FAB é um bando de doidos’ – alegava medo de
ter o avião derrubado. Aí o Juscelino respondeu: ‘Rapaz, venha; o que interessa
é o PSD, PTB, o resto que se lasque.’ Quer dizer, o País à beira de uma guerra
civil e um político da estatura do Juscelino pensando em PSD e PTB. Fui
conversar com o Montagna e disse: ‘Meu Deus do céu, e o País, e a Nação?’ Isto
me marcou profundamente: a falta de caráter do homem público brasileiro”
(General-de-Divisão Francisco Batista Torres de Melo, Tomo 4, pg. 72).
“Voltemos um pouco à época
da Legalidade. As coisas se acirraram demais e vivíamos a iminência de uma
guerra intestina muito séria, pois as próprias Forças Armadas estavam
divididas, alguns considerando que na obediência à Constituição estava a
legalidade; não viam o perigo que se corria por detrás disso. Antes, o General
Denys (Odylio Denys), querendo contornar a situação, pedira ao Deputado
Santiago Dantas, muito amigo do Jango, que o convencesse a desistir do governo.
O deputado telefonou para o Vice-Presidente, que estava em Paris, retornando da
China. Foi uma conversa tensa e, quando finalmente chegaram a um acordo, pois Jango
já havia concordado, aqui no Brasil, o Juscelino Kubitschek entrou na sala,
arrancou o telefone das mãos do Santiago Dantas e disse:
- Presidente, não desista.
Venha e assuma o Governo que nós faremos uma frente para apoiá-lo.
O Jango voltou atrás e veio.
Então, a Revolução que eu vivi tem três nomes: revolução redentora,
contrarrevolução e revolução que poderia não ter existido, não fosse a presença
e a ação inesperada do JK” (General-de-Brigada Ramão Menna Barreto, Tomo 13,
pg. 137).
“Juscelino, já Presidente da
República, preocupado com o desenvolvimento do País e com a construção de
Brasília, entregou a área fundamental do Ministério do Trabalho e da
Previdência Social a João Goulart, que a transformou em verdadeira sinecura
político-partidária com a participação de comunistas, aproveitadores e
‘pelegos’ ” (Professor Luiz Queiroz Campos, Tomo 4, pg. 361-362).
“Muita gente pensa que as
cassações foram arbitrárias, como pegar uma lista e ir cortando nomes. Não.
Todas passaram pelo crivo dessa investigação. Tínhamos aviões da Força Aérea
Brasileira (FAB) à nossa disposição e íamos ao lugar onde o sujeito estivesse.
Sentávamos com ele e dizíamos francamente: ‘Sr. Fulano, acontece isso, isso e
isso. Queremos que o Sr. Esclareça.
Fomos buscar documentos nos
cartórios, abrimos as suas dependências para fazê-lo. Fomos buscá-la onde
existisse e, realmente, fizemos um dossiê com tempo suficiente; algumas
daquelas pessoas foram levadas à própria Escola de Comando e Estado-Maior para
um depoimento. Lembro-me muito bem dos depoimentos de pessoas ligadas ao
Presidente Juscelino, que estiveram lá. A equipe que investigava o Juscelino
organizou 17 pastas de problemas ligados ao ex-Presidente. Sabedor que as
pessoas eram chamadas para serem ouvidas, antes que o pessoal fosse ao encontro
dele para conversar, Juscelino pediu autorização e foi embora do País. Esse foi
o problema do Presidente Kubistchek” (Coronel Sérgio Mário Pasquali, Tomo 5,
pg. 189).
Corrupção do Governo JK: Jacareacanga e Aragarças
“Apenas serviu para que nós,
assustados com a corrupção que já vinha anunciada e prevista com a posse do
Juscelino, recomeçássemos a conspirar para derrubar o Juscelino.
Aqueles dois episódios de
Jacareacanga, PA, e Aragarças, GO, por exemplo, foram essencialmente dois
movimentos um tanto românticos, dirigidos contra a corrupção de Juscelino, e
não sou eu quem falo da corrupção do Juscelino, quem declara e cita fatos e
tudo é o Samuel Wainer no livro ‘Minha Razão de Viver’. O Samuel Wainer era o
dono da Última Hora, o jornal que
apoiava o Getúlio, criado para o seu próprio apoio e depois mantido pelo
Juscelino com o dinheiro maciço do Banco do Brasil.
O que o Samuel Wainer roubou
do Banco do Brasil é uma loucura, e depois foi parar na Comissão Parlamentar de
Inquérito (CPI) do Congresso, em que aparecem todos os valores, datas e
documentos” (Coronel-Aviador Gustavo Eugenio de Oliveira Borges, Tomo 10, pg.
276).
F. Maier
MEMORIAL 31 DE MARÇO DE 1964
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