MEMORIAL 31 DE MARÇO DE 1964

MEMORIAL 31 DE MARÇO DE 1964
Avião que passou no dia 31 de março de 2014 pela orla carioca, com a seguinte mensagem: "PARABÉNS MILITARES: 31/MARÇO/64. GRAÇAS A VOCÊS, O BRASIL NÃO É CUBA." Clique na imagem para abrir MEMORIAL 31 DE MARÇO DE 1964.

sexta-feira, 24 de julho de 2020

Memorial das Vítimas do Comunismo - por Félix Maier


Memorial das Vítimas do Comunismo

Félix Maier


No dia 23 de outubro de 2007, mesmo dia no qual Santos Dumont realizou em Paris o feito histórico do primeiro vôo do “mais pesado que o ar”, em 1906, com o “14-Bis”, o Senado Federal brasileiro rende homenagem a um serial killer comunista (desculpe o pleonasmo), Che Guevara, el chancho (o porco). A data foi escolhida a dedo pelos kamaradas brasileiros: nesse mesmo dia, os comunistas de todo o mundo comemoram os 90 anos da Revolução Russa, aquela que pariu a maior desgraça do século XX, a Peste Vermelha que Emir Sader chamou de “O ano I do assalto ao céu” (Correio Braziliense, 21/10/2007, “Opinião”, pg. 17). Isso prova que nosso País, nas últimas décadas, está sendo dirigido por um descarado governo comunofascista, que segue os preceitos do Foro de São Paulo, órgão esquerdista criado por Fidel Castro e Lula da Silva em 1990, o qual pretende transformar toda a América Latina em uma nova União Soviética, tendo Cuba como modelo e a Venezuela de Chávez como método de tomada do poder.

Em vez de homenagear um assassino, o qual, apesar de médico era uma “perfeita máquina de matar”, o Parlamento brasileiro já deveria ter aprovado um projeto de construção de um Memorial das Vítimas do Comunismo, como o dos EUA (https://pt.wikipedia.org/wiki/Memorial_das_V%C3%ADtimas_do_Comunismo) que será uma memória viva de todos os crimes cometidos pela Hidra Vermelha ao redor do mundo, especialmente na União Soviética, na China, no Camboja e em Cuba, e que deixou o saldo macabro de mais de 110 milhões de vítimas.

Já que é época da farra vermelha, agrego-me à festa dos distintos kamaradas para lembrar a heróica história de alguns dos dissidentes soviéticos, especialmente Alexandre Soljenítsin, que legou à humanidade o portentoso livro Arquipélago Gulag (1). E assim deixar minha modesta contribuição ao inexistente Memorial Brasileiro das Vítimas do Comunismo.

Na antiga URSS, não havia “opositores”, mas apenas “dissidentes”. Diz-se dos intelectuais perseguidos por se oporem ao regime comunista, que surgiram a partir da desestalinização efetuada por Kruschev, a partir de 1956. Os dissidentes eram condenados a molestamento, demissão do emprego, expulsão dos sindicatos profissionais, exames psiquiátricos e confinamento em casas de saúde mental, julgamento e exílio em campos de concentração para trabalhos forçados.

Durante o férreo regime de Stálin, poucos dissidentes conseguiram sobreviver, como o escritor Alexandre Soljenítsin e o talentoso projetista aeronáutico Andrey Tupolev, que foi preso no final da década de 1930 e libertado em 1943 por intercessão do marechal Alexandre Golovanov, Chefe do Comando de Bombardeiro de Grande Alcance, da Força Aérea Vermelha, durante a II Guerra Mundial.

Abraham Rothberg (2) identifica 3 correntes de dissidência russa: a artística, a política e a científica. A dissidência artística inclui nomes como Ehrenburg (Degelo), Dudintsev, Yevtushenko, Pasternak (Doutor Jivago), Soljenítsin (Arquipélago Gulag). A dissidência política: Yakir, Amalrik, Litvinov, Grigorenko, Marchenko. E a dissidência científica: Sakharov (pai da bomba de hidrogênio soviética), Tamm, Kapitsa, Medvedev.

Um dissidente famoso foi o escritor Boris Pasternak, que havia passado um ano na prisão de Lubianka (3), em Moscou, e quatro anos num campo de trabalhos forçados na Sibéria, do qual foi libertado (como Soljenítsin) pela anistia geral após a morte de Stálin. Em 1956, Pasternak concluiu Doutor Jivago, que foi rejeitado por várias editoras soviéticas, controladas pelos “herdeiros de Stálin”.

Pasternak enviou uma cópia do romance a Giangiacomo Feltrinelli, editor italiano e membro do PCI. O livro foi publicado na Itália no dia 15 de novembro de 1957, embora Pasternak tivesse pedido a Feltrinelli para não fazê-lo, pois vinha sofrendo ameaças do regime de Moscou. No dia 23 de outubro de 1958, a Academia Sueca outorga o Prêmio Nobel de Literatura a Pasternak. Começa a perseguição contra o escritor e no dia 28 de outubro de 1958 ele é expulso da União dos Escritores Soviéticos, por “atitudes incompatíveis com a vocação de um escritor soviético e por contrariar as tradições da literatura russa, o povo, a paz e o Socialismo”. A pressão do PC sobre Pasternak foi tanta que no dia 29 de novembro de 1958 ele enviou um telegrama à Academia Sueca, renunciando ao Prêmio Nobel. Pasternak morreu no dia 30 de maio de 1960, escapando de outra condenação, porém, sete semanas depois, a KGB prendia sua amante, Olga Ivinskaya (que havia denunciado Pasternak àquele serviço secreto), e sua filha, acusando-as de manipulações financeiras que envolviam royalties entregues a Pasternak. Ambas foram condenadas, no dia 7 de dezembro de 1960, respectivamente, a 8 e 5 anos de prisão, em colônias penais da Sibéria.

O escritor Sholkhov, em 1965, teve permissão de Brezhnew e Kosygin para receber seu Prêmio Nobel de Literatura em Estocolmo. O historiador ucraniano Valentyn Moroz foi condenado em 1966 a cinco anos de internamento num campo de concentração, dos quais um ano teria que ser passado numa solitária na Prisão de Vladimir. O principal “crime” de Moroz foi sua oposição à “russificação” da Ucrânia. No campo de concentração, Moroz escreveu Relatório da Reserva de Béria, em que ataca a sociedade soviética e os privilégios dos “herdeiros de Stálin”. Em 1970, Moroz foi novamente condenado a nove anos, seis numa prisão e três num campo de trabalhos forçados. O historiador Andrei Amalrik, autor do livro A União Soviética Sobreviverá até 1984? (seria uma alusão ao livro 1984, de George Orwell?), foi condenado em dezembro de 1970 a três anos num campo de concentração. Outra obra sua foi Viagem Involuntária à Sibéria, baseada em suas próprias experiências no kolkhoz (4) siberiano de Tomsk, onde havia passado o exílio, de maio de 1965 a agosto de 1966.

“Por volta do fim de 1968, a reabilitação de Stalin ou a reestalinização tinha-se processado rapidamente. A crítica de crimes de Stalin, de prisões em massa, deportações, assassinatos, expurgos e campos de concentração tinha desaparecido da imprensa e das conversações privadas” (Abraham Rothberg, in Os Herdeiros de Stalin, pg. 264).

O Kremlin considerava graves as ameaças da liberalização, do revisionismo e da reforma. A liberalização tcheca tinha sido desencadeada por intelectuais e escritores, o que ocasionou a invasão da Tchecoslováquia, no dia 21 de agosto de 1968, com a destituição de Dubcek - “equivalente internacional de Soljenítsin”.

Uma carta do dissidente Pyotr Yakir, em 6 de março de 1969, à revista do Partido, Kommunist, condenava Stalin em 17 pontos, documentados em fontes soviéticas, relacionando os crimes com o código penal soviético. Atribuía a Stalin a responsabilidade por suicídios e execuções de líderes de cúpula soviéticos no Partido, no Governo, nas Forças Armadas, nos serviços de Inteligência e na Polícia. Comunistas estrangeiros refugiados na União Soviética tinham sido assassinados por ordens de Stalin, incluindo comunistas proeminentes, como os alemães Hermann Schubert e Heinz Neumann, os húngaros Bela Kun e Gabor Farkas, os poloneses Tomasz Dombal e Yulian Lesczynski (um dos fundadores do PC polonês) e até o suíço Fritz Platten, que protegera Lenin com seu próprio corpo por ocasião do primeiro atentado contra a vida de Lenin. Yakir condenava Stalin, ainda, pela repressão e deportação em massa de povos não russos (“política do liqüidificador”) durante e depois da II Guerra Mundial, entre eles os tártaros da Criméia, os bálcares, os chechenos-ingushes e os calmiques. Yakir condenava Stalin pelos expurgos que liquidaram 80% do corpo de oficiais superiores – aqueles que lutaram na Guerra Civil Espanhola, técnicos e intelectuais – com o resultado de milhões de baixas nas primeiras fases da II Guerra Mundial, especialmente no cerco nazista a Leningrado.

O dissidente mais famoso foi o escritor Alexandre Soljenítsin, autor de Arquipélago Gulag, livro que sugeria que toda a Rússia sob Stálin era semelhante a um imenso mar pontilhado de ilhas de campos de concentração – na grandiosa licença literária criada por Soljenítsin -, realidade que o autor conhecia profundamente, por ter sido enviado e um desses campos. O autor sustenta que as atrocidades e perseguições do Estado soviético haviam começado em 1918, não sendo, portanto, uma criação arbitrária de Stálin, mas de Lênin.

A publicação do Arquipélago Gulag, em Paris, no ano de 1973, no original russo, comoveu a opinião pública mundial – exceto a opinião dos comunistas, de além e aquém-mar, obviamente. O livro de Soljenítsin foi documentado com 227 relatos, que cobrem o período de 1918 a 1956, e trata da imensa rede de campos de trabalhos forçados soviéticos, por onde passaram cerca de 66 milhões de pessoas, segundo cálculos do próprio autor.

Essa obra, cujo teor começou a circular na União Soviética em março de 1969, irritou as autoridades soviéticas e em novembro do mesmo ano Soljenítsin foi expulso da União dos Escritores. Para os “herdeiros de Stálin”, Soljenítsin renegava o próprio país, dando munição aos inimigos ocidentais, e era reincidente neste tipo de “crime”, pois já havia publicado Um Dia na Vida de Ivan Denisovich (seu primeiro romance), em que retratava o Estado soviético como um Estado policial e a União Soviética como uma prisão ou campo de concentração. Dos 6.790 membros da União dos Escritores, somente 7 solicitaram a reconsideração da expulsão de Soljenítsin. Houve protestos do mundo inteiro contra sua expulsão, incluindo nomes como Arthur Miller, Günter Grass, John Updike, Bertrand Russell, Hannah Arendt, Graham Greene, Julian Huxley, Jean-Paul Sartre.

Soljenítsin, capitão de Artilharia do Exército russo em combate na linha de frente contra os nazistas, na II Guerra Mundial, foi detido no front de Koenigsberg em janeiro de 1945 e condenado, sem julgamento, a oito anos de prisão e mais três anos de exílio no desterro do Gulag, tendo passado pelo menos um ano em hospital para tratamento de câncer. A acusação baseou-se em carta enviada a um amigo, em que criticava os privilégios no Exército e a conduta de Stálin em relação à guerra. Foi expulso do Sindicato dos Escritores, viveu 6 anos como escritor clandestino e em 1970 recebeu o Prêmio Nobel de Literatura. Após a publicação do Arquipélago Gulag, em 1973, Soljenítsin foi levado de avião, sob protesto, para a Alemanha Ocidental, e em 1974 escolheu a Suíça para morar. Além do Arquipélago Gulag, outros livros do escritor foram publicados no Ocidente, a exemplo de O primeiro círculo, Pavilhão dos cancerosos (durante um ano, Soljenítsin ficou internado num hospital para tratamento de câncer) e Agosto de 1914, que circularam na URSS em edições clandestinas, ou samizdat (5). Logo após sua prisão, o regime stalinista queimou os rascunhos do que poderia se tornar mais uma obra de Soljenítsin: “Até que, no quarto mês, todos os cadernos do meu Diário de guerra foram lançados na boca infernal do fogão da Lubianka, espalhando a casca vermelha de mais um romance morto na Rússia e deixando as borboletas negras da fuligem voar pela mais alta das chaminés” (Arquipélago Gulag, pg. 141).

Gulag é a abreviatura de Glávnoie Upravliênie Láguerei (Administração Geral dos Campos). O livro Arquipélago Gulag discorre sobre os campos de trabalhos forçados soviéticos (campos de concentração), por onde passaram cerca de 66 milhões de prisioneiros, e sobre a fome endêmica que se seguiu a vários planos econômicos fracassados, levando pais a comerem seus próprios filhos - donde se originou, provavelmente, a expressão “comunista come criancinha”:

“No fim da guerra civil, e como sua conseqüência natural, abateu-se sobre a região do Volga um ano de fome como nunca se tinha conhecido. Como isso não adorna muito a coroa de glória dos vencedores desta guerra, falam sobre ele entre os dentes e sem ir além de duas linhas. E no entanto essa fome chegou até ao canibalismo, até aos pais comerem os seus próprios filhos. Nunca uma fome assim tinha sido conhecida na Rússia, nem sequer no ‘Tempo dos Tumultos’ (então, como testemunham os historiadores, os cereais mantinham-se debaixo da neve durante vários anos, sem serem colhidos). Um só filme sobre essa fome poderia projetar uma luz nova sobre tudo o que vimos e tudo o que sabemos acerca da Revolução e da guerra civil. Mas não há nem filmes, nem romances, nem estudos estatísticos – é algo que se procura esquecer, que não embeleza. Além disso, a causa de qualquer fome, é costume fazê-la recair sobre os kulaks (6)” (Arquipélago Gulag, pg. 331-332).

“O Gulag abrangia o complexo de prisões, centros de triagem e campos de trabalhos forçados a que eram condenados opositores do regime, suspeitos de atividades ‘anti-soviéticas’, criminosos comuns e hordas de pessoas que nunca souberam exatamente por que haviam sido encarceradas. (...) As palavras que descreveram esse sorvedouro de vidas em escala industrial agora podem ser acompanhadas por raras e chocantes imagens: mais de 200 desenhos feitos pelo coronel da reserva Danzig Baldaiev, integrante da polícia soviética de 1947 até o início dos anos 80. (...) Particularmente chocantes, e raríssimos, são os retratos das prisões femininas. Uma das cenas mostra mulheres estupradas em massa por presos comuns, durante um trajeto de barco, sob o olhar indiferente dos guardas. As enfermeiras estavam sempre lotadas de prisioneiras ensangüentadas, que haviam sofrido deslocamento do útero por causa do trabalho massacrante. Na chegada, as mulheres eram enfileiradas nuas diante dos administradores do campo. Eles escolhiam as preferidas e lhes ofereciam a opção de serem poupadas do serviço pesado caso aceitassem tornar-se suas escravas sexuais” (“Recordações da casa dos mortos”, revista Veja, 7/7/1999, pg. 60 a 62).

No Gulag de Vorkuta, milhões de zeks (presos políticos) e outros prisioneiros proporcionaram mão-de-obra barata para a derrubada, o corte e o transporte de madeira para a mineração. Segundo afirma o economista soviético Vasily Selyunin, “a princípio, os campos eram usados para sufocar a oposição política à revolução de 1917; depois, tornaram-se um meio de resolver tarefas puramente econômicas.” Os desenhos chocantes do coronel Baldaiev resultaram em um documentário feito pelo repórter Angus Macqueen, da BBC inglesa.

“A diretriz de escrever Deus com letras minúsculas é a mais desprezível espécie de mesquinhez ateísta. (...) Para não dizer que nos lábios das pessoas de 1914, a palavra “deus” em letras minúsculas fere os ouvidos e é historicamente falsa” (Soljenítsin, no epílogo de seu livro Agosto de 1914).

Muitos dissidentes foram internados em hospitais psiquiátricos (7), alguns condenados in absentia: a universitária Olga Ioffe, presa devido a poesias confiscadas em sua casa, escritas por ela e por seu pai, Y. Ioffe, foi internada num manicômio, em 1970, como “esquizofrênica crônica”; Valeria Novodvorskaya, detida por distribuir panfletos com uma poesia em que criticava o PC, foi diagnosticada pelo Instituto Serbsky e internada numa clínica psiquiátrica da prisão de Kazan como “esquizofrênica paranóica”, em 1970. A poetisa Natalia Gorbanevskaya foi presa e internada no hospital psiquiátrico de Kaschenko, onde os pacientes eram “acalmados” com uma dose do tranqüilizante estelazine. Em 1970, Zhores A. Medvedev, especialista em gerontologia, foi confinado em uma clínica psiquiátrica de Kaluga. A publicação clandestina Crônica noticiava esses tipos de julgamentos criminosos que ocorriam em Moscou, Gorki, Kharkov, Riga, Kiev e mais 2 cidades da República do Uzbeque.

No Brasil, a esquerda não perde tempo em falar sobre os “militares torturadores”. Depois de ler a obra de Soljenítsin, sabe-se por que a esquerda mundial se acha no direito de ficar com o monopólio da tortura:

“Se aos intelectuais das peças de Tchekhov, sempre fazendo conjeturas sobre o que seria a vida dentro de vinte, trinta ou quarenta anos, tivessem respondido que na Rússia se torturariam os acusados durante a instrução do processo, que se lhes apertaria o crânio com um anel de ferro, que se submergiria uma pessoa num banho de ácidos, que se ataria um homem nu para o expor às formigas e aos percevejos, que se lhe introduziria uma baioneta em brasa pelo orifício anal (‘a marca secreta’) (8), que se lhe comprimiriam lentamente com uma bota os órgãos sexuais e que, como tratamento mais suave, se torturaria alguém durante uma semana, sem o deixar dormir, nem lhe dar de beber, espancando-o até deixar-lhe o corpo em carne viva – nem uma só dessas peças teria chegado até o fim e todos os seus heróis teriam ido parar no manicômio.
(...)
Mas não será mais terrível ainda que, trinta anos depois, nos venham dizer: não se deve falar disso! Recordar o sofrimento de milhões de pessoas é deformar a perspectiva histórica! Tratar de descobrir a essência dos nossos costumes é obscurecer o progresso material! Que se fale antes dos altos-fornos que foram acesos, ou dos trens de laminação, ou dos canais que foram abertos... Não, dos canais também não é conveniente falar... Antes do ouro de Kolimá... Não, também isso é conveniente. Enfim, pode-se falar de tudo, mas desde que se saiba faze-lo, glorificando-o...
Será então incompreensível que amaldiçoemos a Inquisição? Acaso, além das fogueiras, não havia ao mesmo tempo serviços religiosos solenes? Veja-se, não se proibiam os camponeses de trabalhar todos os dias... Eles podiam celebrar o Natal com canções, pela Trindade as moças teciam coroas...” (Arquipélago Gulag, pg. 102-103).

Vale lembrar, também, as atrocidades perpetradas pelos comunistas canibais chineses. Durante a Revolução Cultural, muitos condenados à morte tinham seus corpos retalhados, assados e comidos. “Num massacre famoso, na escola de Mushan em 1968, na qual 150 pessoas morreram, vários fígados foram extirpados na hora e preparados com vinagre de arroz e alho” (“Canibais de Mao”, revista Veja, 22 de janeiro de 1997, pg. 48-49). Essa prática de canibalismo se tornou corriqueira, no período de 1968 e 1970, quando centenas de “inimigos do povo” foram devorados em Guangxi, conforme pesquisas de Zheng Yi. O trabalho desse dissidente exilado nos EUA desde 1992, resultou no livro Scarlet Memorial – Tales of Cannibalism in Modern China (Memorial Escarlate – Histórias de Canibalismo na China Moderna). Na mesma época, havia um tipo de tortura sui generis: alguns presos, ainda vivos, tinham seus órgãos sexuais (pênis e testículos) arrancados, assados e comidos, como consta no mesmo artigo de Veja: “Wang Wenliu, maoísta promovida a vice-presidente do comitê revolucionário de Wuxuan durante a Revolução Cultural, especializou-se em devorar genitais masculinos assados”. Criancinhas comidas na Rússia, “churrasquinhos” degustados na China: uma autêntica churrascaria do Inferno!

Há centenas de filmes que relatam a história de Hitler e de seu criminoso regime nazista. Temos filmes comoventes a respeito do tema, como A Vida é Bela, de Roberto Benigni (que desbancou Central do Brasil, de Walter Moreira Salles, e levou o Oscar de melhor filme estrangeiro, em 1999), e A lista de Schindler, de Steven Spielberg. Infelizmente, não temos nenhum filme que trata dos Gulags, dos horrores comunistas na antiga União Soviética, nem dos crimes cometidos por Mao Tse-Tung e Pol Pot. O que estão esperando Spielberg, Benigni e demais cineastas de Hollywood, da Europa ou do Brasil, para enfim dar início a um filme épico, como seria um que tivesse o título O Arquipélago Gulag ou A Revolução Cultural? Quem se cala a respeito dos crimes hediondos cometidos na URSS, na China e nos demais regimes marxistas, compactua com os criminosos comunistas. Infelizmente, o nazismo sempre foi e sempre será o melhor álibi dos comunistas (http://felixmaier.blogspot.com/2013/02/niemeyergigante-da-arquitetura-anao.html?m=0), e dificilmente teremos um julgamento à Nuremberg para condenar os criminosos de guerra vermelhos.



Até o momento, a única lembrança que temos em 2007 da cruenta Peste Vermelha soviética vem através da figura grotesca do coronel russo Boris Tutchenko, interpretado pelo ator Álvaro Thuller, que neste ano faz o comercial “o mundo é dos nets”. Pregando medalhas em mulheres peitudas, dançando em cima de mesas, dando bronca nos empregados, o bordão proferido pelo bufão fardado faz sucesso, embora ninguém entenda o que significa: skawurzska!

Qual seria a tradução dessa palavra, que alguns afirmam que não existe em russo? Existiria, por acaso, alguma mensagem subliminar na propaganda da Net que não conseguimos pescar? Um certo Emerson se qualificou para tirar nossa dúvida:

SKAVURZKA - A palavra vem do russo. É composta do prefixo ’ska’, que significa “céu” mais o termo ‘vurz’ que significa “ir em direção” mais o sufixo de negação ‘ka’. Assim, literalmente, poderíamos efetuar a tradução como “você não vai para o céu”, o que significa, então: Vá para o inferno!” (http://novo-mundo.org/log/2007/05/09/net-virtua-skavurzka-seus-usuarios/).



Skawurzska!, então, para todos os patifes comunistas que ainda proliferam ao redor do mundo, especialmente os do Brasil, os quais, apesar do hediondo genocídio cometido pela Peste Vermelha durante o século XX, ainda têm o desplante de enaltecer tal ideologia assassina em nossas escolas, nas universidades, no meio cultural, enfim, até no outrora reservado e sério Parlamento brasileiro. Que vão todos para o inferno! Skawurzska!


Notas:

(1) SOLJENÍTSIN, Alexandre. Arquipélago Gulag. Difel/Difusão Editorial S. A., São Paulo e Rio de Janeiro, 1976.

(2) ROTHBERG, Abraham. Os Herdeiros de Stálin – a dissidência e o regime soviético 1953-1970. Edições O Cruzeiro, Rio de Janeiro, 1975 (Tradução de Edilson Alkmim Cunha).

(3) Lubianka - Em russo significa “amorzinho”. Era o nome de rua e praça de Moscou, sede das polícias políticas soviéticas (Tcheká, GPU, NKVD etc.) e da prisão famosa.

(4) Kolkhoz foi o sistema de coletivização marxista da agricultura na URSS, a partir de 1922, cujo processo de privatização teve início em 1992, após o fim da União Soviética. Qualquer semelhança dos antigos kolkhozes russos com os atuais assentamentos do MST não é mera coincidência.

(5) Samizdat - Sistema de contrabando de manuscritos de intelectuais soviéticos para o Ocidente. Às vezes, a própria KGB estava por trás desses contrabandos, recebendo elevadas somas de dinheiro por obras proibidas na União Soviética que eram publicadas no exterior. Nesses casos, os manuscritos eram confiscados das residências dos dissidentes e remetidos ao Ocidente à revelia do autor. Em 1967, 3 livros sobre expurgos e campos de concentração tinham sido contrabandeados para o Ocidente: Tempestade de Areia, de Galina Serbryakova, A Casa Abandonada, de Lydia Chikovskaya, e Uma Jornada ao Furacão, de Evgenia Ginzburg.

(6) Kulak - Classe média camponesa, surgida na Rússia após a Nova Política Econômica (NEP), a partir de 1921 e até 1928. A partir de 1928, essa classe foi massacrada por Stalin, junto com os Nepmen (classe de comerciantes e industriais surgida na mesma época), dando origem aos Sovkhozes, fazendas estatais coletivas (Gosplan). O erudito marxista Leszek Kolakowski considerou esse massacre como “provavelmente a mais maciça operação militar jamais conduzida por um Estado contra seus próprios cidadãos”. Somente no período da coletivização e eliminação de classes (1929-36), 10 milhões de homens, mulheres e crianças tiveram morte antinatural (estudo demográfico de Iosif Dyadkin, “Avaliação de mortes antinaturais da população da URSS em 1927-58”, que circulou sob a forma de samizdat). Com o fim dos kulaks, para conseguir moeda estrangeira, Stalin passou a vender secretamente, para o Ocidente, obras de arte do Museu Hermitage, Leningrado, uma coleção que levou mais de 100 anos para juntar. “Os quadros foram adquiridos por milionários do mundo inteiro. O maior foi Andrew Mellon que, em 1930-31, obteve, por US$ 6,654,053.00, 21 quadros, incluindo 5 Rembrandt, 1 Van Eyck, 2 Franz Hals, 1 Rubens, 4 Van Dyck, 2 Rafael, 1 Velásquez, 1 Boticelli, 1 Veronese, 1 Chardin, 1 Ticiano e 1 Perugino – provavelmente o tesouro da melhor qualidade jamais transferido numa única tacada e tão barato. Todas essas obras foram para a Washington National Gallery, criada virtualmente por Mellon” (Paul Johnson, in Tempos Modernos, pg. 226). O embaixador americano em Moscou, Joseph E. Davies, que disse sobre Stalin que ‘uma criança gostaria de sentar-se no seu colo e um cachorro caminharia a seu lado’, era subornado pelo Governo soviético para emitir falsas informações a seu país, e que por isso lhe permitia “comprar ícones e cálices para a sua coleção particular a preços abaixo do mercado” (Ib., pg. 232). “Além daqueles camponeses executados pela OGPU ou mortos em batalha, um número entre dez e onze milhões foi transportado para o norte da Rússia européia, para a Sibéria e para a Ásia Central; desses, um terço foi para campos de concentração, um terço para o exílio interno e outro terço foi executado ou morreu em trânsito” (Paul Johnson, op. cit., pg. 228). Sob Lenin, foi utilizado um pequeno número de “escravos políticos”, mas, sob Stalin esse número expandiu-se e “uma vez iniciada a coletivização forçada, em 1930-33, a população dos campos de concentração subiu para 10 milhões e, depois do começo de 1933, ela nunca caiu abaixo desse número, até bastante tempo depois da morte de Stalin” (Paul Johnson, in Tempos Modernos, pg. 230).

(7) Hospitais psiquiátricos - Utilizados na antiga União Soviética para internar intelectuais que criticavam o regime comunista, a exemplo do Instituto Serbsky. Em muitos julgamentos, o regime de Moscou declarava os réus de “irresponsáveis”, negando-lhes a permissão de estar presentes em seu próprio julgamento, para facilitar o envio dos dissidentes a clínicas psiquiátricas. “O castigo psiquiátrico era dado principalmente a transgressores do capcioso artigo 58 do código criminal, que lidava com atos ‘anti-soviéticos’: entre os internos companheiros de Yarkov estavam incluídos cristãos, trotskystas sobreviventes, opositores a Lissenko (9), escritores heterodoxos, pintores e músicos, letões, poloneses e outros nacionalistas. (...) Em 1959, o Pravda publicou a seguinte citação de Kruschev: ‘Um crime é um desvio dos padrões de comportamento geralmente reconhecidos, com freqüência causado por distúrbios mentais. (...) Aqueles que começam a exigir a oposição ao Comunismo... é claro que o estado mental de tais pessoas não é normal. (...) A primeira vez em que o Ocidente ficou inteirado da psiquiatria penal soviética foi em 1965, com a publicação de ‘Ward 7’, de Valery Tarsis” (Paul Johnson, in Tempos Modernos, pg. 573-4) (10). Centenas de pessoas perfeitamente sadias foram libertadas de clínicas psiquiátricas depois das denúncias de Kruschev, em 1956. Os responsáveis, porém, não foram punidos, permaneceram nos cargos para mais tarde, com a reabilitação de Stálin, voltar a agir contra os dissidentes.

(8) Empalação - “Suplício antigo, que consistia em espetar o condenado em uma estaca, pelo ânus, deixando-o assim até morrer.” (Dicionário Aurélio). Olavo de Carvalho, em seu artigo O espírito da clandestinidade, afirma: “O requinte soviético foi que os candidatos a empalamento não foram escolhidos entre empaladores em potencial, mas entre padres e monges, para escandalizar os fiéis e fazê-los perder a confiança na religião, segundo a meta leninista de `extirpar o cristianismo da face da terra`; esfolar prisioneiros, fechá-los numa tumba junto com cadáveres em decomposição, colocá-los na ponta de uma prancha e escorregá-los lentamente para dentro de uma fornalha, encostar na sua barriga uma gaiola sem fundo, com um rato dentro, e em seguida aquecer com a chama de uma vela o traseiro do rato para que, sem saída, ele roesse o caminho no corpo da vítima - eis alguns dos processos então documentados por uma comissão de investigação dos países aliados. (...) O canal dos exilados cubanos, TV Martí, exibe semanalmente uma procissão infindável de dedos cortados, orelhas arrancadas e olhos vazados que atestam a continuidade do leninismo nas prisões políticas de Havana.”

(9) Lissenkoísmo - Política oficial soviética do estudo da genética, que classificava as ciências como “burguesas”, de um lado, e como “socialistas” ou “proletárias”, de outro lado. As teorias mendelianas de hereditariedade, adotadas pelo principal geneticista da União Soviética, Nikolai Vavilov, eram consideradas um anátema para os dirigentes soviéticos. Como os genes, àquela época, não podiam ser “vistos”, os lissenkoístas podiam acusar os mendelianos de os haver “inventado”. O Lissenkoísmo confiava mais na criação do que na natureza, estava mais empenhado em moldar o “novo homem socialista” do que aceitar a realidade dos caracteres humanos geneticamente transmitidos e suas mutações ocasionais. A teoria genética desenvolvida por Gregor Mendel, Thomas Morgan, Hugo de Vries, August Weismann, recebeu oposição na União Soviética dos geneticistas liderados por I. V. Michurin e T. D. Lissenko, que seguiam o lamarckianismo – a crença na hereditariedade dos caracteres adquiridos – e métodos de tentar mudar os caracteres por meio de mudança do ambiente, uma concepção que se encaixava melhor nas idéias marxistas-leninistas. “A biologia soviética caiu nas mãos do extravagante e fanático T. D. Lissenko, que pregava uma teoria de caracteres adquiridos por herança, à qual chamou de ‘vernalização’: a transformação de trigo em centeio, pinheiros em abetos e assim por diante – essencialmente tolices medievais. (...) A genética foi atacada ferozmente como ‘uma pseudociência burguesa’, ‘antimarxista’, que levava à ‘sabotagem’ da economia soviética. (...) Na medicina, uma mulher chamada O. B. Lepeshinskaya, pregava que a velhice poderia ser adiada graças a lavagens intestinais de bicarbonato de sódio” (Paul Johnson, op. cit., pg. 381).

(10) JOHNSON, Paul. Tempos Modernos - O mundo dos anos 20 aos 80. Biblioteca do Exército Editora e Instituto Liberal, Rio de Janeiro, 1994 (Tradução de Gilda de Brito Mac-Dowell e Sérgio Maranhão da Matta).


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Mensagem recebida de Julio Severo:

From: julio...
To: ttacitus@hotmail.com
Subject: Re: Memorial das Vítimas do Comunismo
Date: Mon, 22 Oct 2007 20:13:45 -0300


Muito legal seu texto, Félix! Só tenho uma observação: Soljenítsin conta, sem nenhum remorso, compaixão ou piedade, como os soldados soviéticos estupravam meninas alemães até matá-las quando invadiram a Alemanha durante a 2 Guerra Mundial. Ele não menciona se participava, e em nenhum momento ele condena os estupros horríveis. Embora ele tenha feito um relato importante sobre as prisões russas, não vejo nele uma pessoa íntegra. Eu nunca poderia deixar de relatar esse episódio. A crueldade estava estranhada nele e em seus compatriotas russos.

No mais, seu texto está excelente.

Julio Severo






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