MEMORIAL 31 DE MARÇO DE 1964

MEMORIAL 31 DE MARÇO DE 1964
Avião que passou no dia 31 de março de 2014 pela orla carioca, com a seguinte mensagem: "PARABÉNS MILITARES: 31/MARÇO/64. GRAÇAS A VOCÊS, O BRASIL NÃO É CUBA." Clique na imagem para abrir MEMORIAL 31 DE MARÇO DE 1964.

terça-feira, 28 de julho de 2020

"O Chefe" - resenha de Carlos I. S. Azambuja




“O Chefe” - 1a. Parte
por Carlos I. S. Azambuja (*) em 22 de setembro de 2006

Resumo: Uma resenha do livro que conta a história dos 403 dias do escândalo do mensalão, o maior esquema de corrupção de todos os tempos no Brasil. Os acontecimentos que abalaram o país e paralisaram o governo do PT.

© 2006 MidiaSemMascara.org


Nota Carlos Azambuja: 'O Chefe' é um livro escrito pelo jornalista Ivo Patarra. Conta a história dos 403 dias do escândalo do mensalão, o maior esquema de corrupção de todos os tempos no Brasil. Os acontecimentos que abalaram o país e paralisaram o governo do PT, sob o comando de Lula e dos homens do presidente. Ivo Patarra não encontrou nenhuma editora que aceitasse editar o livro e, por isso, o disponibilizou na Internet (http://www.escandalodomensalao.com.br/).




O atual momento histórico, com a proximidade das eleições, quando aparentemente Lula ganhará mais 4 anos apesar de toda a lama desse seu primeiro mandato, torna imperioso que façamos um resumo das principais passagens desse livro. É o que faremos.

***

Em 21 de junho de 2005, em Luziânia (GO), durante uma solenidade, Lula classificou de “bobagens” e de “denúncias vazias” as acusações de corrupção em seu governo, dizendo: “Ninguém, neste país, mais do que eu, tem autoridade moral e ética para fazer as mudanças nas instituições e no comportamento social”.

Em 16 de julho de 2005, a revista Veja não deixou por menos. A reportagem de capa, “Mensalão – quando e como Lula foi alertado”, descreve cinco situações nas quais informações sobre o esquema de pagamento de propina chegaram aos ouvidos do presidente. A primeira vez, em 25 de fevereiro de 2004, por meio do deputado Miro Teixeira (PT-RJ). O episódio ocorreu duas semanas após a queda de Wadomiro Diniz. Escreve o repórter Otávio Cabral: “Waldomiro Diniz, na condição de braço-direito de José Dirceu, era quem cuidava da relação do governo com o Congresso e, com sua demissão, os credores do mensalão entraram em polvorosa. Miro Teixeira, que havia apenas três semanas assumira a liderança do governo na Câmara, começou a ser procurado pela tropa interessada em saber como seria paga a mesada dali em diante. O deputado ficou estupefato. Não sabia o que era mensalão. Entre os dias 17 e 19 de fevereiro, Miro Teixeira recebeu várias sondagens. Numa delas, na manhã do dia 17, a pressão veio em comitiva. Eram três deputados juntos, querendo saber do futuro financeiro: Valdemar Costa Neto, presidente do PL, Sandro Mabel, líder do PL, e Pedro Henry do PP”.

Miro Teixeira conversou reservadamente com o presidente. Disse que deixaria o cargo por causa do mensalão. Veja relata: “Lula demonstrou surpresa, disse que nunca ouvira falar naquilo e prometeu conversar com o então ministro José Dirceu para apurar a denúncia – mas não voltou a tocar no assunto. No dia 31 de março, Miro voltou ao Palácio do Planalto e, diante do fato de que nada fora feito a respeito do mensalão, pediu para deixar a liderança. Saiu no dia 6 de abril, sendo substituído pelo Professor Luizinho”.

O segundo aviso ao presidente, em 5 de maio de 2004. Quem deu foi o governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB). O Planalto, em comunicado, deu a seguinte explicação à revista: “Lula não se recorda de ter ouvido nenhum comentário de Perillo sobre o assunto”.

O terceiro episódio. O próprio Lula aborda o assunto, durante viagem oficial à China. Aconteceu em 25 de maio de 2004. Durante um jantar, Lula perguntou ao deputado Paulo Rocha (PT-PA) se ele já ouvira falar sobre o pagamento de mesadas a deputados. Rocha nega ter havido a pergunta, mas dez deputados estavam na mesa do jantar. Três deles confirmaram a veracidade da conversa.

Nos outros dois casos, o aviso foi dado pelo deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ). No primeiro deles, em 5 de janeiro de 2005, o ministro Walfrido Mares Guia (PTB-MG) testemunhou a conversa. No segundo, em 23 de março de 2005, parte da alta cúpula do governo estava presente, no gabinete de Lula no Palácio do Planalto: José Dirceu (PT-SP), ministro da Casa Civil; Aldo Rebelo (PC do B-SP), ministro das Relações Institucionais; Walfrido Mares Guia, do Turismo; Gilberto Carvalho, chefe de gabinete do presidente; Arlindo Chinaglia (PT-SP), líder do governo na Câmara; e o deputado José Múcio (PTB-PE). A revista conclui:

“Se soube do assunto e não tomou providências, Lula pode ser acusado de crime de responsabilidade, previsto nos artigos 84 e 85 da Constituição e, também, na Lei nº 1079, editada em 1950, conhecida como Lei do Impeachment. Pela lei, o presidente, se soube do mensalão, tinha de ter mandado apurar. ‘Se o presidente teve ciência disso, caracteriza-se uma omissão, que é um caso típico de crime de responsabilidade’, afirma o jurista Miguel Reale Júnior, que redigiu a petição que resultou no impeachment de Fernando Collor, em 1992”.

Em 17 de julho de 2005, o jornal O Estado de S. Paulo comentou as declarações do presidente no editorial “Lula endossa a farsa”. Para o jornal, o presidente está associado a uma “armação”. Concedeu uma entrevista na qual “tinha absoluto controle” das perguntas, para se dirigir aos brasileiros. Conclusão do editorial: “A hipótese mais plausível é a de que ele aceitou ser ‘poupado dos detalhes’. Se um governante precisa se esforçar para saber o que os seus colaboradores não querem que saiba, que dirá então quando dá a impressão de que não quer saber? No caso de Lula, a única dúvida é se agiu assim para se proteger ou por autêntico desinteresse em conhecer como funcionam as coisas no seu governo”.

Em 22 de julho de 2005, em viagem ao Rio, Lula ridicularizou as investigações sobre o escândalo do mensalão: – “O que o povo quer mesmo é resultado. É saber se, no frigir dos ovos, a sua vida vai estar melhor do que quando nós entramos no governo”. Em outras palavras, Lula defende o “rouba, mas faz”.

Após almoçar com trabalhadores na refinaria da Petrobrás em Duque de Caxias (RJ), o presidente, exaltado, diz que ninguém lhe dá lição de ética: – “Eu conquistei o direito de andar de cabeça erguida neste país. E não vai ser a elite brasileira que vai me fazer abaixar a cabeça”.

Em 27 de julho de 2005, o governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), enviou ofício ao Conselho de Ética da Câmara. Confirmou que alertou Lula sobre o esquema de pagamentos a parlamentares, em 5 de maio de 2004. Diz o documento: “Relatei ao senhor presidente que ouvira rumores sobre a existência de mesada a parlamentares em conversas informais em Brasília, porém sem provas concretas. Repeti o inteiro teor das informações que havia recebido. O senhor presidente disse que não tinha conhecimento e que ia tomar as providências que o assunto requeria. Não sei quais foram as providências tomadas”. Perillo aponta duas testemunhas da conversa, que estavam dentro do carro. O motorista e o chefe da segurança do presidente. Nunca foram chamados pela CPI dos Correios, jamais depuseram.

Em 01de agosto de 2005, Cláudio, filho do presidente, usou avião oficial da FAB com 14 amigos. Foi durante as férias de 2004. O deputado Eduardo Paes (PSDB-RJ) fez sete tentativas até conseguir confirmar a mordomia, junto ao gabinete institucional da presidência da República. Antes, mandou sucessivos requerimentos à Secretaria-Geral da Presidência, Ministério da Casa Civil e Ministério da Defesa.

Em 12 de agosto de 2005, Lula aproveitou uma reunião ministerial para ler discurso ensaiado e preparado por sua assessoria. Faz um auto-elogio a realizações do seu governo e exime-se de responsabilidades sobre o escândalo do mensalão. Visivelmente abalado, quase não olha para as câmeras que transmitem o discurso. No final, de improviso, diz: – “Eu não tenho nenhuma vergonha de dizer ao povo brasileiro que nós temos que pedir desculpas. O PT tem que pedir desculpas. O governo, onde errou, tem que pedir desculpas”.

As afirmações são vagas. Lula não diz com precisão a que se refere. Não aponta nenhum culpado. O discurso, cheio de frases soltas. Fica nítida a intenção de proteger os responsáveis pela crise: - “Quero dizer a vocês, com toda a franqueza, eu me sinto traído. Traído por práticas inaceitáveis das quais nunca tive conhecimento. Estou indignado pelas revelações que aparecem a cada dia, e que chocam o país”.

Lula afirma estar “consciente da gravidade da crise política” mas não explica por que Delúbio Soares era freqüentador assíduo do Palácio do Planalto. Tampouco refuta, com a ênfase esperada, que fora alertado por Roberto Jefferson (PTB-RJ) para a existência de um esquema de distribuição de mensalões à base aliada. Diz Lula: – “Se estivesse ao meu alcance, já teria identificado e punido exemplarmente os responsáveis por esta situação”.

A verdade, porém, é a do presidente que se movimentou, de todas as formas, desde o início, para impedir a instalação das CPIs. De um homem que tratou de manter, o quanto pôde, José Dirceu no Ministério da Casa Civil. Justo Dirceu, tido como o grande operador do mensalão.

Em 09 de agosto de 2005, surgiu Paulo Okamotto, o presidente do Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas). Foi nomeado para o cargo por Lula. Apresenta-se como o autor do pagamento da dívida de Lula de R$ 29.436,26 junto ao PT. Okamotto foi tesoureiro da campanha de Lula em 1989, na primeira vez em que ele disputou a presidência da República. A CPI dos Correios investiga se o pagamento da dívida foi feito com dinheiro de caixa 2. No Sebrae, Okamotto administra um orçamento anual de R$ 900 milhões. Ele diz que pagou a dívida em quatro parcelas, mas não contou nada ao presidente: “Tirei recursos da minha conta pessoal”.

Okamotto não tem provas de que pagou. Não tem recibos, nada. A história não tem lógica. Ele diz que sacou dinheiro vivo em caixas eletrônicos em Brasília e enviou os valores em espécie para São Paulo. Na capital paulista, aconteceram os depósitos em conta bancária do PT, a partir de quatro agências diferentes do Banco do Brasil. Uma confusão.

Em 20 de agosto de 2005, a revista Isto É Dinheiro conta a história de uma auditoria do TCU (Tribunal de Contas da União), sobre o uso de cartões de crédito para retiradas de dinheiro por parte de funcionários da presidência da República. Em oito meses de 2004, sacaram R$ 5,5 milhões. Justificaram: foi para pagar despesas do gabinete de Lula, da Granja do Torto, a residência oficial, e de ministros de Estado.

De acordo com a revista, em nome de Clever Pereira Fialho, lotado no gabinete de Lula, houve uma fatura de mais de R$ 1 milhão, sendo R$ 226,9 mil em retiradas de dinheiro vivo. O ex-diretor da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), Mauro Marcelo Lima e Silva, sacou R$ 1,3 milhão. E Maria Emília Évora, responsável por despesas da primeira-dama Marisa Letícia, gastou R$ 441 mil, de janeiro a agosto de 2004. Do total, Maria Emília retirou R$ 198 mil em dinheiro vivo, média de R$ 24,8 mil por mês. Quase um mensalão.

Em 11 de setembro de 2005, o jornal O Estado de S. Paulo noticiou que o PT usou dinheiro do fundo partidário, originário de recursos públicos, para pagar irregularmente passagens aéreas para filhos, noras, genro e neta do presidente Lula, e para a mulher e a filha do ministro da Fazenda, Antonio Palocci (PT-SP). Quase todas as viagens, no final de 2002, foram no eixo São Paulo-Brasília. Beneficiados: Marcos Cláudio, filho de Lula, e a nora do presidente, Carla Adriane. Luiz Cláudio, filho de Lula, e a namorada, Talita. Sandro, filho de Lula, e a namorada, Marlene Araújo. E Lurian Cordeiro, filha de Lula, que viajou desde Florianópolis, acompanhada do marido, Marcelo Sato, e da filha, Maria Beatriz, neta de Lula. Já Palocci usou a mordomia para as passagens áreas da mulher, Margareth, e da filha, Carolina, e ainda se serviu da grana para pagar o hotel no qual Carolina se hospedou.

Reação do corregedor-geral da Justiça, ministro Humberto Gomes de Barros: – “A coisa é tão insólita... É uma apropriação indébita, desvio de dinheiro público. É uma coisa muito séria” (comentário meu: e daí?).

Com o caso nos jornais, Palocci mandou a assessoria emitir nota para negar conhecimento “pleno” dos pagamentos. Só parcial, portanto. E diz que “considera” restituir “eventuais pagamentos”, “que possam ter qualquer dúvida de correção”.

O PT também usou o fundo partidário para pagar R$ 22,8 mil de passagens aéreas para a China, em benefício de Rioco Kayano, mulher do então presidente do partido, José Genoino (PT-SP). Passagens a Paris de primeira classe foram pagas a Luis Favre, marido de Marta Suplicy (PT-SP), no valor de R$ 17.700,00. Quem também embarcou para a capital francesa foi o prefeito de Guarulhos (SP), Elói Pietá (PT), que ainda foi a Barcelona.

Marta Suplicy, por sua vez, gastou R$ 27 mil com o aluguel de um jatinho para deslocamentos entre São Paulo, Florianópolis e Brasília. Quem viajou com dinheiro do fundo partidário, ainda, foi José Adalberto Vieira da Silva, o assessor do deputado José Nobre Guimarães (PT-CE) e um dos ícones do escândalo do mensalão, preso com R$ 200 mil numa maleta e US$ 100 mil na cueca.

Em 14 de setembro de 2005, a Câmara dos Deputados cassou Roberto Jefferson (PTB-RJ). A interrupção do mandato do deputado autor da denúncia do mensalão foi endossada por 313 parlamentares. Outros 156 votaram contra. Houve ainda 13 abstenções, cinco votos em branco e dois nulos. O petebista fica inelegível até 2015. Em discurso de 42 minutos, Jefferson acusou Lula de relapso. “Se ele não praticou o crime por ação, pelo menos por omissão”. Jefferson não aceita a acusação de que não tomou providências, assim que soube do esquema de pagamento da propina a deputados: – “Fiz uma peregrinação. Ao José Dirceu, como ministro-chefe da Casa Civil, falei isso umas dez vezes. Falei ao Ciro. Depois nós descobrimos que o Márcio, secretário-executivo do Ministério, tinha recebido do Marcos Valério R$ 500 mil para saldar contas de campanha. Mas falei ao Ciro, com lealdade. Ele disse: ‘Eu não acredito nisso’. Falei ao ministro Miro Teixeira. Falei com o presidente”.

Com a língua afiada, sua melhor característica, Jefferson atacou: – “Tirei a roupa do rei, mostrei ao Brasil quem são esses fariseus, mostrei ao Brasil o que é o governo Lula. – Rufiões da pátria, proxenetas do parlamento. Este é o governo mais corrupto que testemunhei nos meus 23 anos de mandato, o mais escandaloso processo de aluguel de parlamentar. – Meu conceito do presidente é que ele é malandro, preguiçoso. O negócio dele é passear de avião. Governar que é bom, ele não gosta. – O PT não tem projeto de governo. Eu quero dizer o PT, esse Campo Majoritário e essa cúpula que assaltou o Brasil. Rato magro, hem? Quem nunca comeu mel quando come se lambuza. Rato magro. PC Farias é aprendiz de feiticeiro ante essa gente que assaltou o Brasil. Rato magro. Mas eu nunca bati no peito para dizer que eu sou o paladino da ética e o campeão olímpico da moralidade. Todo fariseu e farsante emprega culpa ao adversário como se fosse um biombo para esconder os seus defeitos. – O presidente escolheu o ministro José Dirceu como uma espécie de Jeany Mary Corner, o rufião do Planalto, para alugar prostitutas, algo que ele entendia poder fazer na Câmara dos Deputados. Tratou esta Casa como se fôssemos um prostíbulo”.

Em 07 de outubro de 2005, algumas semanas depois de se dizer traído e pedir desculpas em pronunciamento de televisão pelos erros cometidos pelo PT, Lula reuniu 67 dos 83 deputados do PT no Palácio do Planalto. Alguns acusados de envolvimento no escândalo do mensalão estavam presentes. Lula prestou solidariedade: – “Vocês não são corruptos. Vocês cometeram erros, mas não de corrupção. Todos vocês são construtores do PT”.

E, referindo-se diretamente aos parlamentares acusados: – “Vocês são companheiros que não têm nenhuma doença contagiosa, nada que impeça a nossa convivência”.

Em 15 de outubro de 2005 , a revista Veja voltou a publicar uma reportagem sobre as atividades de lobista do irmão do presidente Lula, Genival Inácio da Silva, o Vavá. César Alvarez, assessor do presidente da República, recebeu, com intermediação de Vavá, o empresário português Emídio Mendes, um dos controladores do Riviera Group, que atua no setor imobiliário, turístico e energético. O irmão do presidente participou da audiência, no Palácio do Planalto. Oito dias depois, o empresário, mais uma vez acompanhado de Vavá, estava de volta ao Palácio do Planalto. Desta vez para ser recebido pelo chefe de gabinete de Lula, Gilberto Carvalho. Por fim, e em decorrência dos encontros patrocinados anteriormente por Vavá, o empresário fez uma visita à sede da Petrobrás, empresa com a qual vinha tentando fechar negócios, no Rio de Janeiro. Acompanhou-o, mais uma vez, Vavá.

A reportagem de Marcelo Carneiro e Camila Pereira questiona o papel de Gilberto Carvalho, amigo e freqüentador dos churrascos patrocinados por Lula na Granja do Torto. Trecho do texto de Veja: “A pergunta óbvia é: Carvalho não comunicou ao presidente que seu irmão levava empresários para fazer negócios no Palácio do Planalto? E, se comunicou, por que o escritório de Vavá funcionou a pleno vapor até sua existência e finalidade terem sido reveladas por Veja? Solicitada a responder a essas perguntas na última sexta-feira, a assessoria da presidência limitou-se a dizer que tanto Carvalho quanto o presidente estavam ‘incomunicáveis’. Para quem, ao longo dos últimos escândalos, sempre se mostrou o último a saber, o termo não deixa de ser apropriado”.

Em 16 de outubro de 2005, Delúbio Soares comemorou o aniversário na fazenda Catonha, em Buriti Alegre (GO). O proprietário é o pai dele, Antônio Soares. Delúbio divertiu-se refrescando os amigos com água de um caminhão-pipa da Prefeitura. O prefeito, João Alfredo de Mello (PT), foi eleito com apoio do ex-tesoureiro. Apesar de formalmente afastado do comando do PT, Delúbio mantém a pose e os privilégios de dirigente do partido. Chegou a Buriti Alegre num automóvel Omega blindado, recém-adquirido, pelo qual pagou R$ 67 mil, à vista. Em depoimento à Polícia Federal, o ex-tesoureiro informou ter patrimônio de R$ 168 mil.

Na fazenda em nome do pai, Delúbio faz a festa protegido o tempo todo por dois seguranças. O ex-tesoureiro concedeu entrevista ao repórter Expedito Filho, de O Estado de S. Paulo. Minimizou a importância do escândalo do mensalão: – “Nós seremos vitoriosos, não só na Justiça, mas no processo político. É só ter calma. Em três ou quatro anos, tudo será esclarecido e esquecido, e acabará virando piada de salão”.

Em 25 de outubro de 2005, depoimento à CPI dos Bingos. É de João Carlos da Rocha Mattos, juiz federal afastado e preso há dois anos sob a acusação de venda de sentenças. Ele prestou informações sobre o conteúdo de 42 fitas cassete que trazem escutas telefônicas gravadas supostamente de forma ilegal pela Polícia Federal, entre janeiro e março de 2002. As fitas reproduzem conversas entre integrantes do PT sobre as investigações do assassinato do prefeito de Santo André (SP), Celso Daniel (PT). Segundo Rocha Mattos, as gravações revelam o desencadeamento de uma “operação abafa” para inviabilizar as apurações a respeito do esquema de corrupção em Santo André. A coordenação teria sido feita por Gilberto Carvalho, o chefe de gabinete do presidente Lula. Quando Daniel foi assassinado, Carvalho era o secretário de Governo da Prefeitura de Santo André. A acusação mais grave feita pelo juiz afastado é a de que “pessoas da favela Pantanal”, onde o prefeito teria sido mantido em cativeiro antes de ser morto, telefonaram a Carvalho e ao ex-vereador Klinger Luiz de Oliveira (PT), também secretário de Daniel na época, o que envolveria ambos no seqüestro e no assassinato. Diz Rocha Mattos: – “Nas conversas havia a clara impressão de que Celso Daniel era um morto muito pouco querido. Não havia lamentos pela morte, apenas a preocupação em proteger os dirigentes do PT. E fica clara, nas conversas, a preocupação de todos com o que os irmãos do prefeito poderiam declarar”.

O juiz afastado menciona Sérgio Gomes da Silva, o “Sombra”, que chegou a ser preso sob a acusação de mandar matar Daniel: – “Dá a impressão de que era Gilberto Carvalho que coordenava o esquema de arrecadação. Quando a situação começa a se complicar, o Sombra aparece nas gravações gritando: ‘Chama o Gilberto aí’”. Rocha Mattos menciona o chefe de segurança das campanhas eleitorais de Lula, o delegado de polícia Francisco Baltazar, que depois ocupou o cargo de superintendente da Polícia Federal em São Paulo. Para Rocha Matos, Baltazar era contra a desgravação das fitas: – “Está claro que havia uma preocupação de abafar as investigações a respeito do assassinato, porque fatalmente os casos de corrupção, de esquema no lixo e nos ônibus, seriam descobertos”.

Agora, o juiz preso menciona Ivone Santana, namorada de Daniel, e o deputado Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP): – “A Ivone era pressionada pelo Gilberto, pelo Klinger e pelo Greenhalgh, a se portar como uma viúva triste. Eles a cumprimentaram pelo desempenho que teve no programa da Hebe Camargo. Gilberto diz claramente: ‘Você fez o papel de viuvinha. Muito bom’. A preocupação do Greenhalgh era não deixar a investigação ir muito longe, porque era um problema para eles”.

Em 29 de outubro de 2005, a revista Veja denunciou um novo escândalo: o PT recebeu grande quantia em dólares, proveniente de Cuba. O dinheiro norte-americano chegou acondicionado em caixas de bebida. De acordo com o repórter Policarpo Junior, o comitê eleitoral de Lula recebeu, entre agosto e setembro de 2002, US$ 3 milhões. O dinheiro foi entregue pelo cubano Sérgio Cervantes, conselheiro político da embaixada de Cuba no Brasil, e depois levado para Campinas (SP) num avião Seneca em duas caixas de uísque e uma de rum cubano. Buscou o dinheiro Vladimir Poleto, ex-assessor do ministro Antonio Palocci (PT-SP) em Ribeirão Preto (SP). Em Campinas, o dinheiro foi apanhado no aeroporto de Viracopos por Ralf Barquete, outro auxiliar de Palocci da época da Prefeitura de Ribeirão. De lá, foi levado num automóvel Omega blindado, conduzido pelo motorista Éder Eustáquio Macedo, para o comitê de Lula no bairro de Vila Mariana, em São Paulo. Aos cuidados de Delúbio Soares. Veja obteve detalhes da história com o advogado Rogério Buratti, ex-secretário de Governo de Palocci em Ribeirão. O relato da revista: “Buratti não queria falar sobre o assunto, mas não se furtou a confirmar o que sabia. ‘Fui consultado por Ralf Barquete, a pedido do Palocci, sobre como fazer para trazer US$ 3 milhões de Cuba’, disse Buratti”. Barquete morreu em 2004, vítima de câncer.

A revista também entrevistou o economista Vladimir Poleto: “A conversa estendeu-se das 10 da noite até as 3 da madrugada. Poleto, apesar da longa duração do contato, ficou assustado a maior parte do tempo. ‘Essa história pode derrubar o governo’, disse ele mais de uma vez, sempre passando as mãos pela cabeça, em sinal de nervosismo e preocupação. No decorrer da entrevista, no entanto, Poleto confessou que ele mesmo transportou o dinheiro de Brasília a Campinas, voando como passageiro em um aparelho Seneca em que estavam apenas o piloto e ele. Fez questão de ressalvar que, na ocasião, não sabia que levava dinheiro. Achava que era bebida. ‘Eu peguei um avião de Brasília com destino a São Paulo com três caixas de bebida’, disse. ‘Depois do acontecimento, fiquei sabendo que tinha dinheiro dentro de uma das caixas’, completou, acrescentando: ‘Quem me disse isso foi o Ralf Barquete. O valor era US$ 1,4 milhão’”. Poleto contou que recebeu a orientação de embarcar no aeroporto de Congonhas, em São Paulo, no avião emprestado por José Roberto Colnaghi, empresário amigo de Palocci. Em Brasília, foi levado numa van até o apartamento em que recebeu do cubano as três caixas de bebida, lacradas com fitas adesivas. A reportagem conta que ele deveria voar de volta para Congonhas, mas o mau tempo obrigou o piloto a descer em Viracopos.

Barquete chegou em Viracopos no Omega blindado dirigido por Éder Eustáquio Macedo, hoje funcionário do Ministério da Fazenda no Rio de Janeiro. O motorista pôs as caixas no porta-malas e levou-as a Delúbio. Ele confirmou à Veja ter feito o serviço, mas recusou-se a falar novamente com a revista. O Omega blindado pertencia à locadora de Roberto Carlos Kurzweil, empresário de Ribeirão. O comitê eleitoral do PT o alugara. O motorista Macedo era funcionário de Kurzweil e fora cedido ao PT. O repórter Policarpo Junior informa que o cubano Sérgio Cervantes, ligado diretamente a Fidel Castro, é um velho conhecido de Lula e do ex-ministro José Dirceu (PT-SP).

Dois dias depois, em 31 de outubro de 2005, deixou o Brasil o diplomata cubano Sérgio Cervantes, apontado como responsável pela entrega de dólares de Cuba para a campanha eleitoral de Lula, em 2002. Viajou sem dar quaisquer esclarecimentos sobre o caso.

O senador Álvaro Dias (PSDB-PR) anunciou que vai apurar denúncias segundo as quais o grupo guerrilheiro FARC (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) doou US$ 5 milhões para a campanha do PT em 2002. A revista Veja revelou uma investigação da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) em março de 2005, mas não se encontraram provas do repasse. Para Dias, o caso configura “atentado à soberania nacional” e não está encerrado: – “O governo fez uma operação abafa do caso. Fui procurado por pessoas da área militar que falam dessa conexão internacional”.

Em 07 de novembro de 2005, em entrevista ao programa Roda Viva, da TV Cultura, Lula negou que houve o pagamento de mensalões no Congresso. “Tenho certeza que não teve essa barbaridade”, afirma ele. Por outro lado, explica assim o pronunciamento em que se disse traído por aqueles que usaram caixa 2 nas eleições, o que chamou de “loucura” e “práticas equivocadas”: – “O dinheiro fácil nunca fez bem para ninguém na história da humanidade. Você tem meios legais para fazer finanças de campanha. Não posso admitir que companheiros, em nome da facilidade, da presunção, começassem a terceirizar campanha financeira de um partido. Por isso que eu acho que fui traído por todos os que fizeram essa prática condenada pelo PT e pela sociedade brasileira”.


(*) Carlos I. S. Azambuja é historiador.






“O Chefe” - Final

por Carlos I. S. Azambuja (*) em 23 de setembro de 2006

Resumo: Ao povo brasileiro, nas urnas, cabe o direito e o dever de se manifestar e decidir se Lula será reconduzido, ou não, para mais um mandato de quatro anos no Palácio do Planalto, como o mais alto mandatário da nação, depois de todo o mar de lama em que se transformou o governo petista.

© 2006 MidiaSemMascara.org


Lula, mais uma vez, não deu nomes. O presidente refutou que tenha trabalhado para impedir a criação das CPIs que investigam seu governo e o PT. Diz Lula: – “O que é importante para mim e que me deixa muito de cabeça erguida é o seguinte: nós estamos com três CPIs funcionando, não há nenhuma ingerência do governo para criar nenhum problema para a CPI. Acho que o povo brasileiro deve aproveitar que eu estou na presidência da República e, se alguém tiver denúncias, tem que fazer as denúncias porque elas serão apuradas”.

Em outro trecho da entrevista, Lula defendeu o deputado José Dirceu (PT-SP), apontado como o grande operador do esquema de pagamento a parlamentares. – “Feliz o país que tem um político da magnitude do Zé Dirceu”. Lula diz que seria advogado de defesa de Dirceu: – “Qual é a acusação que existe contra o Zé Dirceu?”

O publicitário Duda Mendonça, marqueteiro da campanha política que elegeu Lula presidente em 2002, admitiu ter recebido recursos de caixa 2 no exterior. Lula rechaçou o evidente crime eleitoral. Para ele, a prática foi reconhecida apenas pelo “nosso Delúbio”, e nas eleições municipais de 2004. O presidente também defendeu o filho, Fábio Luiz Lula da Silva, cuja empresa recebeu aporte de R$ 5 milhões da Telemar, uma concessionária de serviços públicos: – “Todos os contratos são regulares, todos. Nenhum é irregular”. Lula não aceitou que Celso Daniel foi vítima de crime político: – “Não acredito no envolvimento do PT no caso Celso Daniel”.

O jornal O Estado de S. Paulo publicou o editorial “Um espanto de entrevista”: “A tal ponto chegou a enrolação que um dos entrevistadores não se conteve e afirmou: ‘A discussão não é se houve ou não caixa 2. É quanto foi’. Lula não se deu por achado, como não se daria, em outro bloco, quando um jornalista desmentiu, com fatos, a sua risível versão de que o governo jamais tentou impedir a criação da CPI dos Correios. Uma escapatória que o presidente buscou a todo momento foi a de declarar, magistral, que não se pode condenar quem quer que seja sem provas – como se já não houvesse uma pilha de provas, inclusive flagrantes – contra os seus companheiros. Para ele, tudo reduzindo a ‘denuncismo vazio’”

Em 11 de novembro de 2005, fracassou a operação mata-CPI. Lula chefiou pessoalmente negociações para deputados retirarem assinaturas do requerimento de prorrogação da CPI dos Correios. Mas os trabalhos da comissão foram estendidos até abril. Lula queria que as investigações terminassem em dezembro e não “contaminassem” o ano eleitoral. O jurista Miguel Reale Júnior defendeu o pedido de impeachment de Lula. Para ele, a operação posta em prática para tentar impedir a prorrogação dos trabalhos da CPI dos Correios é motivo suficiente. Diz Reale Júnior: – “Ficou configurada a compra de deputados para conseguir barrar uma CPI que investiga o governo. O presidente não pode mais comandar a nação”. De acordo com o jurista, Lula mentiu no programa Roda Viva ao dizer que não interferiria nas investigações. Agora, deve ser responsabilizado com a perda do mandato: – “O presidente deixou suas digitais e assumiu o crime. Os deputados que retiraram as assinaturas não foram compelidos por alguma ideologia ou raciocínio específico, mas pelo simples suborno patrocinado pelo governo”.

Em 18 de novembro de 2005, em entrevista coletiva a emissoras de rádio, Lula apoiou o ministro Antonio Palocci (PT-SP), alvo de denúncias: – “O meu companheiro ministro Palocci continua tendo de mim toda a consideração que eu tinha antes, tenho agora e vou ter depois. E, se vocês querem que eu diga, eu vou repetir aqui: Palocci é e vai continuar sendo o meu ministro da Fazenda”.

Em 23 de novembro de 2005, declaração de Lula ao inaugurar uma plataforma de petróleo em Niterói (RJ): – “O Palocci é uma figura imprescindível ao Brasil. Todos sabem o que o Palocci significa para a economia brasileira”.

Em 24 de novembro de 2005, em entrevista concedida no Palácio do Planalto a quatro emissoras de rádio de São Paulo e do Rio, Lula mostrou-se alheio às graves denúncias contra o PT e integrantes de seu governo. As pérolas do presidente: “No dia em que o Brasil todo acordar pensando de forma positiva, a força que essa energia vai passar será tão grande que este país poderá, definitivamente, se transformar em grande potência”. “Uma coisa que nós aprendemos a fazer é que a vida humana é tão bonita e tão curta, que não há tempo para a gente ser pessimista”. “Não há razão para um casal brigar, porque não tem nada pior na vida do que você sair para trabalhar brigado com a esposa, ou a esposa brigada com o marido. É um dia infernal”.

Além das lições de vida, o presidente pareceu inspirado ao fazer comentários sobre a crise política: “Sabe, mexer no Palocci é a mesma coisa que pedir para o Barcelona tirar o Ronaldinho. Deixa ele jogando, ele está bem. De vez em quando o Ronaldinho perde um gol, de vez em quando o Palocci pode dizer alguma coisa que alguém não goste, mas isso faz parte da vida”.

Sobre o mensalão: “Só tem três possibilidades de um presidente saber: se ele participou da reunião, se alguém que participou contou para ele, ou se a imprensa denunciar”. Lula nega: “Estamos vivendo um momento excepcional, do ponto de vista da intranqüilidade na política, porque se colocou na cabeça do povo, ao longo de vários meses, que tinha mensalão. Isso virou refrão de música de carnaval, está no inconsciente da sociedade e agora a CPI terminou o trabalho sem provar se houve mensalão. A própria pessoa que acusou foi cassada porque não provou”.

A morte de Celso Daniel, um “acidente de percurso”: “Não acredito em crime político. Eu acho que o assaltaram, seqüestraram, aí perceberam, como se diz, o tamanho do peixe, e resolveram matar de forma irresponsável e por medo”. “Uma parte do Ministério Público de São Paulo, toda vez que vai chegando a eleição, levanta esse caso”. Lula parece Paulo Maluf.

Em 07 de dezembro de 2005, em entrevista a emissoras de rádio, Lula afirmou: “Eu levaria o José Dirceu para o palanque, até porque ele foi cassado e não foi provado nada contra ele. Até agora não vi nenhuma acusação que possa dizer “Dirceu cometeu um delito”.

Em outro trecho, o presidente diz que o uso de caixa 2 foi um “erro abominável”: “Não pense que fiquei inibido de ser petista. Pelo contrário, agora estou mais orgulhoso. Acho o seguinte: nós também não somos infalíveis, cometemos erros e quando cometemos erros, temos de pagar e pagar forte”.

Em 09 de dezembro de 2005, a revista Carta Capital publicou uma entrevista com Lula. O presidente defendeu o PT ao ironizar o esquema montado por Delúbio Soares e Marcos Valério, que contraiu supostos empréstimos no BMG e no Banco Rural: “Trata-se do ato de corrupção mais inusitado da história da humanidade, ou seja, alguém pratica corrupção com dinheiro emprestado e pagando juros, eu não consigo entender. Tem alguma coisa errada aí”. Ao referir-se à crise política, Lula acusou setores oposicionistas de estarem “tentando fazer golpismo” contra ele.

Em 16 de dezembro de 2995: Em quase três anos, o governo Lula empregou mais de 40 mil pessoas em caráter temporário. Cerca de 4 mil, para cargos de assessoria e comando. Os contratos por tempo determinado dispensam concursos públicos. Dados do boletim estatístico de pessoal do Ministério do Planejamento registram que 5.413 nomeações efetivadas contemplaram indicações sem qualquer vínculo com o serviço público. São nomeações políticas. Mesmo entre os 19.757 cargos comissionados preenchidos supostamente por servidores, sabe-se que parte considerável acaba ocupada por indicações políticas.

Enquanto o governo nomeia, Lula capricha no discurso de vítima. Em visita a Garanhuns (PE), trata do escândalo do mensalão: “Todas essas infâmias e acusações que vocês vêem na televisão, vocês sabem como é o jogo político brasileiro. Como acho que Deus escreve certo por linhas tortas, haverá o dia em que o povo vai saber o que é o jogo político e o que é a verdade”.

Em 17 de janeiro de 2006, em depoimento à CPI dos Bingos, o economista Paulo de Tarso Venceslau, expulso do PT em 1998, afirmou que dirigentes do PT sabiam de esquema para a arrecadação de recursos por meio de caixa 2, desde 1995. Naquele ano, Venceslau enviou carta registrada em cartório ao presidente do partido, Luiz Inácio Lula da Silva. Denunciou que a empresa Cpem (Consultoria para Empresas e Municípios), ligada a Roberto Teixeira, compadre de Lula, agia de forma irregular em prefeituras administradas pelo PT. Era contratada sem licitação para fazer um trabalho baseado “em notas falsas e rasuradas”, visando aumentar a arrecadação dos municípios com ICMS. Cobrava comissão de 20% pelos serviços. Na década de 80, Lula morou de graça em imóvel de propriedade de Teixeira, em São Bernardo do Campo (SP).

Em 13 de fevereiro de 2006: Jantar em comemoração do 26º aniversário do PT. Durante a festa em Brasília, Lula minimizou a importância do escândalo do mensalão mas não faz citações diretas: “As pessoas que erraram, a gente não tem que execrá-las. Errar é humano”.

Na festa, os mensaleiros João Paulo Cunha (PT-SP), José Mentor (PT-SP), Paulo Rocha (PT-PA) e Professor Luizinho (PT-SP). Coube a Luizinho puxar o coro pela reeleição do presidente: “Um, dois, três, Lula outra vez!”

O presidente do partido, Ricardo Berzoini (PT-SP), tratou de minimizar a crise política: “Sofremos o maior cerco político da história recente do país. Com erros que têm raízes em companheiros do PT, mas que foram instrumentalizados pela oposição”.

Comentário do jornalista Clóvis Rossi, na Folha de S. Paulo: “O PT não foi vítima de uma conspiração, ao contrário do que dizem seus intelectuais orgânicos. Vendeu-se”.

Em 23 de fevereiro de 2006, o TCU (Tribunal de Contas da União) aprovou auditoria e pediu explicações ao Palácio do Planalto sobre o uso dos chamados cartões da presidência, na compra de R$ 608 mil em bebidas alcoólicas e alimentos refinados. Os produtos foram adquiridos para a Granja do Torto e o Palácio do Alvorada, as residências oficiais de Lula. Os auditores do TCU também manifestaram preocupação com o uso dos cartões para saques em dinheiro. Os gastos são protegidos por sigilo, o que inclui os nomes dos fornecedores e o detalhamento das despesas. O motivo é a suposta necessidade de garantir a segurança do presidente e de sua família. Desde a posse de Lula, mais de R$ 20 milhões foram gastos com os cartões, boa parte por meio de saques em dinheiro vivo. Entre janeiro de 2004 e março de 2005, valores pagos em locação de veículos teriam sido suficientes para comprar automóvel similar ao alugado. Apesar de locados por vários dias, as despesas costumavam ser quitadas como se os aluguéis dos carros fossem diários, o que encarecia sobremaneira os preços.

Em 10 de março de 2006, nota publicada na coluna da jornalista Mônica Bergamo, da Folha de S. Paulo, informou que o Palácio do Planalto decidiu renovar o enxoval, por R$ 175 mil. Diz o texto: “Para os quartos serão compradas quatro colchas de casal de piquê 300 fios e acabamento com bordado ponto Paris, por R$ 990,00 cada uma. Para copa e cozinha, serão gastos R$ 62.760,00. Cada jogo de toalha de mesa (cambraia 100% linho, com bordado Richelieu e dois forros) deve custar R$ 1.965,00. E quase R$ 15 mil serão gastos em toalhas: 210 de banho e 20 de piscina, entre outras. Todas com tecido felpudo, fibra longa e algodão especial. Cores a definir”.

Em 22 de março de 2006, a ministra Dilma Rousseff, da Casa Civil, determinou a suspensão da análise dos comprovantes de despesas ligadas ao presidente Lula. O trabalho vinha sendo feito pelo Senado. Os pagamentos foram efetuados com dinheiro retirado de contas acessadas por cartões coorporativos. Um técnico do TCU (Tribunal de Contas da União) chegou a verificar os arquivos da presidência da República durante 20 dias. Foi proibido de prosseguir com a apuração. A oposição suspeita de irregularidades. A Casa Civil justificou a medida, com a alegação de riscos para a segurança de Lula e de seus familiares.

Em 23 de março de 2006, o governo Lula decidiu envidar esforços para salvar Antonio Palocci (PT-SP). Em vez de investigar as acusações de Francenildo Costa contra o ministro, a Polícia Federal tratou de anunciar a quebra dos sigilos bancário, fiscal e telefônico do caseiro. Ele foi o escolhido para ser investigado pelos federais, sob comando do ministro Márcio Thomaz Bastos. O Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras, ligado ao Ministério da Fazenda) também abriu uma investigação contra o rapaz. Os estrategistas do PT tentaram desesperadamente descobrir motivação política para encobrir o que Francenildo viu na “casa dos prazeres”. Em vão.

Em 24 de março de 2006, o jornalista Clóvis Rossi, da Folha de S. Paulo, comentou a investigação contra o caseiro Francenildo por suspeita de lavagem de dinheiro. Lamentou a falta de empenho para apurar denúncias contra os mensaleiros: “Na republiqueta lulo-petista, ‘coisa de bandido’, como o caixa 2, vira apenas ‘erro dos companheiros’. Mentira, em depoimento à CPI, vira, na novilíngua da republiqueta, ‘imprecisão terminológica’. Crime de violação do sigilo bancário vira ‘divulgação indevida’.”

Em 26 de março de 2006, a Folha de S. Paulo publicou o editorial de primeira página “Abuso de poder”. O jornal afirma: “A desfaçatez, o uso sistemático da mentira, o empenho em desqualificar qualquer denúncia, nada disso constitui novidade no comportamento do governo Lula. Chegou-se nos últimos dias, entretanto, a níveis inéditos de degradação ética, de violência institucional e de afronta às normas da convivência democrática. Na tentativa inútil de salvar a credibilidade em farrapos de um ministro, viola-se o sigilo bancário de um cidadão comum - o caseiro Francenildo Costa –, enquanto toda sorte de malabarismos jurídicos e parlamentares protege as contas de Paulo Okamotto, celebrizado pelos nebulosos favores que prestou ao presidente. Fato ainda mais grave, o caseiro se torna alvo de investigação por parte da Polícia Federal, num ato indisfarçável de ameaça e abuso de poder. A iniciativa – tomada em tempo recorde – não tem paralelo na história recente do país, infelizmente pródiga em situações nas quais representantes do poder público se viram às voltas com denúncias sérias de corrupção”.

Em 27 de março de 2006, caíram Antonio Palocci (PT-SP) e o presidente da Caixa Econômica Federal, Jorge Mattoso. Lula aceitou o pedido de demissão do ministro da Fazenda, embora a orientação a assessores do Palácio do Planalto fosse a de divulgar que Lula exonerara Palocci. O destino do superministro foi selado durante depoimento de Mattoso à Polícia Federal. O presidente da Caixa confessou que entregou pessoalmente a Palocci os extratos bancários de Francenildo. Mattoso é indiciado por violação ilegal de sigilo.

Comentário do caseiro Francenildo: “Está ficando provado que o lado mais fraco não é o do simples caseiro. É o da mentira”.

Em 28 de março de 2006, Lula fez discurso em cerimônia de despedida de Antonio Palocci (PT-SP), durante a solenidade de posse do novo ministro da Fazenda, Guido Mantega. Disse Lula: “E eu posso te dizer, Palocci, que se é verdade que nem todo irmão é um grande companheiro, é verdade que um bom companheiro é um grande irmão. É por isso que posso te dizer, Palocci, independentemente deste momento que estamos vivendo agora, eu posso lhe dizer: a nossa relação é de companheiro, possivelmente mais do que a relação de irmão”.

Trecho do editorial “Uma crise de governo”, publicado pelo jornal O Estado de S. Paulo: “Eis a essência da crise até aqui: o mais importante e respeitado ministro do governo Lula e o presidente do segundo maior banco comercial público do país tentaram enxovalhar o humilde trabalhador que teve o desplante de afirmar, com pencas de detalhes, que o ministro mentiu ao Congresso quando negou ter ido ao casarão onde a patota de Ribeirão Preto fazia das suas. Não só fracassaram, como deixaram claro o quanto são capazes de descer – não fossem eles fiéis cumpridores do código de ética petista”.

Em 04 de abril de 2006, o ex-ministro Antonio Palocci (PT-SP) prestou depoimento à Polícia Federal e foi indiciado por crime de quebra de sigilo bancário e por violação de sigilo funcional.

Em 09 de abril de 2006, o instituto Datafolha fez pesquisa que ganhou as páginas do jornal Folha de S. Paulo. Para 83% dos entrevistados, Lula tem responsabilidade pela corrupção no governo federal. A coluna do jornalista Elio Gaspari publica nota: “São muitas as coisas que Lula não sabe, mas ‘nosso guia’ sabe que, se o sigilo bancário de Paulo Okamotto for aberto, sua candidatura à reeleição será um capítulo encerrado”.

Em 11 de abril de 2006: Bomba! O procurador-geral da República, Antonio Fernando Barros e Silva de Souza, divulgou o resultado do inquérito conduzido por ele sobre o escândalo do mensalão. (aquele que, segundo Lula nunca existiu!). São denunciadas 40 pessoas ao STF (Supremo Tribunal Federal), em decorrência das investigações. O documento endossa as acusações da CPI dos Correios mas proporciona impacto maior. Afinal, o seu autor não é um político ou alguém que possa ser questionado por interesses menores ou objetivos eleitorais. O seu autor é o Procurador-Geral.

Logo na introdução da denúncia, os acusados. Entre os nomes, 20 estrelas. São elas: José Dirceu, Luiz Gushiken, José Genoino, Delúbio Soares, Silvio Pereira, Marcos Valério, João Paulo Cunha, Pedro Corrêa, José Janene, Valdemar Costa Neto, Professor Luizinho, João Magno, Anderson Adauto, Duda Mendonça, José Borba, Carlos Rodrigues, Zilmar Fernandes Silveira, Simone Vasconcelos, Henrique Pizzolato e Roberto Jefferson.

Antonio Fernando de Souza ressalva que “todas as imputações feitas pelo ex-deputado Roberto Jefferson ficaram comprovadas”. As investigações “evidenciaram o loteamento político dos cargos públicos em troca de apoio às propostas do governo, prática que representa um dos principais fatores do desvio e má aplicação de recursos públicos, com o objetivo de financiar campanhas milionárias nas eleições, além de proporcionar o enriquecimento ilícito de agentes públicos e políticos, empresários e lobistas que atuam nessa perniciosa engrenagem”. E mais: “Os denunciados operacionalizaram desvio de recursos públicos, concessões de benefícios indevidos a particulares em troca de dinheiro e compra de apoio político, condutas que caracterizam os crimes de quadrilha, peculato, lavagem de dinheiro, gestão fraudulenta, corrupção e evasão de divisas”.

Ao abordar a movimentação financeira dos investigados, o procurador-geral aponta: os denunciados “mantinham um intenso mecanismo de lavagem de dinheiro com a omissão dos órgãos de controle, uma vez que possuíam o apoio político, administrativo e operacional de José Dirceu, que integrava o governo e a cúpula do Partido dos Trabalhadores”.

Sobre Dirceu: “É certo que José Dirceu, então ocupante da importante chefia da Casa Civil, em razão da força política e administrativa de que era detentor, competindo-lhe a decisão final sobre a indicação de cargos e funções estratégicas na administração pública federal, foi o principal articulador dessa engrenagem, garantindo-lhe a habitualidade e o sucesso”.

O relatório tem um sugestivo capítulo com o nome de “Quadrilha”. Refere-se à “existência de uma sofisticada organização criminosa, dividida em setores de atuação, que se estruturou profissionalmente para a prática de crimes como peculato, lavagem de dinheiro, corrupção ativa, gestão fraudulenta, além das mais diversas formas de fraude”.

A denúncia: “Pelo que já foi apurado até o momento, o núcleo principal da quadrilha era composto pelo ex-ministro José Dirceu, o ex-tesoureiro do Partido dos Trabalhadores, Delúbio Soares, o ex-secretário-geral do Partido dos Trabalhadores, Silvio Pereira, e o ex-presidente do Partido dos Trabalhadores, José Genoino” (...) “Como dirigentes máximos, tanto do ponto de vista formal quanto material, do Partido dos Trabalhadores, os denunciados, em conluio com outros integrantes do partido, estabeleceram um engenhoso esquema de desvio de recursos de órgãos públicos e de empresas estatais e também de concessões de benefícios diretos ou indiretos a particulares em troca de ajuda financeira. O objetivo desse núcleo principal era negociar apoio político, pagar dívidas pretéritas do partido e também custear gastos de campanha e outras despesas do PT e dos seus aliados.”

Em 13 de abril de 2006, em O Estado de S. Paulo, o editorial “Um libelo arrasador” comentou a denúncia elaborada pelo procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza. Para o jornal, Lula é o “beneficiário por excelência da corrupção em escala inédita promovida pelo PT”. O editorial responsabiliza o presidente, por ser “impossível imaginar que não tivesse conhecimento. O que torna absolutamente críveis as conclusões do trabalho, além da manifesta isenção do seu autor, é a consistência da análise da engrenagem por trás dos crimes perpetrados, com o entrelaçamento dos ramos político-partidário, publicitário e financeiro da quadrilha. Mas a denúncia convence acima de tudo por sua irrepreensível objetividade. É o que a distingue do relatório final da CPI dos Correios. Este, embora também tenha comprovado a prática do mensalão, foi uma conta de chegar, como costumam ser os resultados das investigações parlamentares, produto ao mesmo tempo de fatos apurados e pressões, ou negociações, políticas. Nada remotamente parecido com isso influenciou o inquérito dirigido pelo procurador-geral. A independência e a seriedade com que agiu transparecem na simplicidade do seu texto, desprovido dos contorcionismos verbais ou do estilo barroco presentes no documento da CPI. Com sujeitos, verbos e predicados em ordem direta, Antonio Fernando Souza dispensou eufemismos e chamou as coisas pelos nomes – a começar do mais arrasador deles, ‘quadrilha’. Está lá: ‘compra (pelo PT) de suporte político de outros partidos’ e ‘financiamento irregular de campanhas’”.

Em 15 de abril de 2006, a revista Veja debateu a denúncia do procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza: “Ali estão escritos em detalhes e com precisão jurídica os mecanismos de funcionamento do que talvez seja – com exceção da nomenklatura soviética – a maior quadrilha jamais montada com o objetivo de garantir a continuidade no poder de um mesmo grupo político, o PT de Lula. A hierarquia da quadrilha descrita pelo promotor tem como chefe José Dirceu, deputado cassado por corrupção que foi ministro-chefe da Casa Civil de Lula. Abaixo dele estão quase todos os ‘companheiros de luta’ de Lula, gente com quem ele conviveu intimamente por quase três décadas. O procurador-geral deixou vago no organograma da quadrilha o posto logo acima de José Dirceu. Mas o quebra-cabeça não é de difícil solução. Basta montar as peças e aparece o mais provável ocupante daquele posto. É isso que aponta o bom senso. Basta tentar montar com as peças do quebra-cabeça uma outra imagem que não a de Lula. Não encaixa”.

Para Veja, é evidente que o presidente era o beneficiário do esquema que tinha como objetivo sustentar o projeto de poder do PT: “O novo quadro desmonta a principal defesa de Lula, que sempre disse desconhecer todas as ações ilegais e clandestinas em torno do mensalão”. A revista afirma: “Afinal, se estava alheio a tudo, pode-se inferir sem exagero que Lula desconhecia como se construía o apoio a seu governo e ignorava o que faziam seus principais auxiliares. Um presidente pode ser enganado por autores da corrupção que ocorre num ministério de importância média comandado por um aliado recém-chegado – mas é inverossímil que não seja informado sobre o que se faz no coração de seu governo, uma instituição como a Casa Civil, comandada por um homem como José Dirceu, a quem ele mesmo chamou de ‘capitão do time’. Por não atender aos mínimos requisitos lógicos, o dilema de saber ou não saber tornou-se uma questão ultrapassada. O que se precisa investigar agora é como Lula se articulava com o bando dos 40. Que relações financeiras tinha com o ‘chefe da quadrilha’, o deputado cassado José Dirceu?”

Em 16 de abril de 2006, na Folha de S. Paulo, o editorial “Lula com a palavra” comentou a denúncia do procurador-geral Antonio Fernando de Souza. Para o jornal, o presidente deve explicações à sociedade. “Desde o início da crise, refugia-se num silêncio calculado, de vez em quando interrompido por esparsas evasivas, contradições flagrantes e vagos desabafos sentimentais: Formação de quadrilha. Corrupção ativa e passiva. Lavagem de dinheiro e peculato. No âmago do governo Lula, formou-se uma organização criminosa com vistas a manter-se no poder. Não são frases de algum oposicionista enraivecido, e sim do relatório elaborado pelo procurador-geral da República, formalizando denúncia contra os responsáveis pelo mensalão. Entre eles, o então ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, o das Comunicações, Luiz Gushiken, os três principais dirigentes do Partido dos Trabalhadores, o então presidente da Câmara dos Deputados e um ex-diretor do Banco do Brasil”.

“Só uma quadrilha? Ou mais de uma? Também o ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci e o grupo capitaneado por ele enredam-se numa outra coleção de acusações policiais”. O editorial centra em Lula: “Fui traído, disse ele mais de uma vez. Mas por quem? Lula foi prudente em não citar nome nenhum: muitos ainda não eram do conhecimento público quando a frase foi pronunciada pela primeira vez; a lista, até hoje em aberto, poderia sem dúvida oferecer diversos novos candidatos ao indiciamento criminal. O presidente não sabia de nada? ‘O importante’, afirmou numa famosa entrevista em julho de 2005, ‘não é se você sabia ou não, porque, seu eu tivesse condição de saber, não teria acontecido’. (...) Naquela ocasião, Lula recorria apenas ao truque vocabular de referir-se a hipotéticos ‘erros’ cometidos por seu partido: ‘o PT, se cometeu erros, tem que explicar para a sociedade brasileira que erros cometeu’. Mais do que erros, entretanto, é o que Lula tem de explicar agora. ‘Já faz tempo que eu deixei de ser presidente do PT’, prosseguia ele naquela entrevista, sintomaticamente gravada nos jardins de um certo ‘Museu do Ar’, em Paris. ‘Depois que eu virei presidente da República, eu não pude mais participar da reunião do diretório do PT’. Mas participou, ao que tudo consta, de reuniões com ministros perto dos quais as figuras de um Delúbio Soares e de um Silvio Pereira assumem o papel de aprendizes, de coadjuvantes, de bodes expiatórios numa farsa monumental. Farsa de um governo eleito com a bandeira da ‘ética na política’ e que tem, como principal recurso para provar sua inocência, o argumento de que todo o episódio do mensalão se resumiu a um caso de caixa 2 – ‘o que é feito no Brasil sistematicamente’, disse Lula, para corrigir-se meses depois. Trata-se ‘de prática condenada pela sociedade brasileira’, afirmou finalmente, com tardia convicção. É a mesma convicção com que garantiu, em dezembro passado, que ‘a CPI vai terminar e eles não vão provar o mensalão’.”

“Foram essas as certezas, foram essas as considerações do presidente da República ao longo da crise – extraídas a custo dos raros momentos em que se alçou ao dever civil de prestar contas pelo descalabro de seu governo. Nada mais se ouviu do presidente. Exceto o espetáculo da auto-congratulação balofa, da banalidade conceitual e da defesa da própria ignorância – que não se resume ao tema de sua falta de instrução formal, mas àquele, muito mais grave, que diz respeito às façanhas de delinqüência organizadas em seu círculo mais próximo”.

Em 20 de junho de 2006, o relatório da CPI dos Bingos marcou o fim do escândalo do mensalão, apesar dos inquéritos em andamento, das investigações em curso, das novas descobertas que certamente virão e dos futuros desdobramentos do maior esquema de corrupção de todos os tempos no Brasil. Quatro dias depois, o PT faz festa para oficializar Lula, o “pai dos pobres”, como candidato à reeleição. Em discurso, o presidente ataca os que tentaram, injustamente, destruí-lo. Disse Lula: “Nunca enfrentamos uma crise como a que se abateu sobre nós. A oposição aproveitou-se de algumas condutas equivocadas para generalizar culpas e tentar destruir o partido mais autenticamente popular do Brasil”.


Conclusão do autor deste artigo: ao povo brasileiro, democraticamente, nas urnas, cabe o direito e o dever de se manifestar e decidir se Lula será reconduzido, ou não, para mais um mandato de quatro anos no Palácio do Planalto, como o mais alto mandatário da nação, depois de todo esse mar de lama!


Leia também 'O Chefe' - 1a. Parte


(*) Carlos I. S. Azambuja é historiador.



Fonte: https://www.usinadeletras.com.br/exibelotexto.php?cod=64751&cat=Ensaios&vinda=S


Obs.:

O livro "O Chefe", de Ivo Patarra, pode ser baixado em https://blogdopaulinho.com.br/wp-content/uploads/2009/02/ochefe.pdf.



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