MEMORIAL 31 DE MARÇO DE 1964

MEMORIAL 31 DE MARÇO DE 1964
Avião que passou no dia 31 de março de 2014 pela orla carioca, com a seguinte mensagem: "PARABÉNS MILITARES: 31/MARÇO/64. GRAÇAS A VOCÊS, O BRASIL NÃO É CUBA." Clique na imagem para abrir MEMORIAL 31 DE MARÇO DE 1964.

quarta-feira, 30 de março de 2022

MOVIMENTOS DE GRUPOS CIVIS E MILITARES SÃO CRIADOS EM TODO O BRASIL, PARA COMBATER O DESGOVERNO DE JOÃO GOULART E A AMEAÇA COMUNISTA



MOVIMENTOS DE GRUPOS CIVIS E MILITARES SÃO CRIADOS EM TODO O BRASIL, PARA COMBATER O DESGOVERNO DE JOÃO GOULART E A AMEAÇA COMUNISTA


Fichamento da "História Oral do Exército - 31 Março 1964"

por Félix Maier


Devido à baderna Jango-Brizola nos campos econômico e social, e seu aparato militar a serviço da indisciplina e insubordinação de militares nas Forças Armadas, desde 1961 houve criação de inúmeros órgãos de combate às pretensões de Jango se tornar um novo Getúlio – na verdade um novo Kerensky, pois estava alimentando o dragão vermelho, vale dizer o Comunismo -, como o IPES, o IBAD, a CAMDE, a Arca de Noé, o MED etc., além de grupos de conspiração formada por militares. Empresários, militares, escritores e artistas se empenharam em realizar palestras, lançar livros e filmes, para alertar a sociedade sobre o perigo comunista que cada dia era mais forte e evidente. Causou-me surpresa saber que poucos oficiais-generais, entre os entrevistados, fizeram menção a essas organizações civis anti-Jango.

Félix Maier


CAMDE: Campanha da Mulher pela Democracia

 

INSTITUTO DE PESQUISAS E ESTUDOS SOCIAIS (IPES)

 

“Gostaria também de relatar sobre uma atividade que participei com três dirigentes do Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (IPES). O IPES foi um Instituto civil que atuou muito com o fito de difundir os princípios da livre iniciativa, da propriedade privada e, também, condenando as reformas de base do Governo de João Goulart.

Junto com três diretores membros do IPES, o Paulo Ayres Filho, o João Baptista Leopoldo Figueiredo e o Paulo Reis de Magalhães, formamos uma caixa única com o objetivo de traduzir quatro livros favoráveis à livre iniciativa. Um deles chama-se ‘O Caminho da Servidão’, principal livro de Hayek, fundador da Escola Neoliberal.

Traduzimos e publicamos esse livro; fizemos uma edição de cinco mil exemplares. Procedemos, ainda, a tradução e a publicação de mais três livros, tudo à nossa custa, e distribuímos gratuitamente os quatro livros por todos os quartéis brasileiros, por todas as universidades brasileiras, por todos os seminários brasileiros e para todos os jornalistas que tratavam de assuntos políticos. Quer dizer, eles podiam ser contra, mas não podiam dizer que eram ignorantes. Esses quatro livros já mostravam o que seria a economia de mercado, que veio triunfar nos dias de hoje” (Doutor Adolpho Lindenberg,  História Oral do Exército – 1964, Tomo 7, pg. 300).

“Atribuo o início das atividades de defesa da democracia à fundação do IPES (Instituto de Pesquisa e Estudo Social) e IBAD (Instituto Brasileiro de Ação Democrática) duas instituições que foram criadas por civis com a participação de militares. Não tive a oportunidade de tomar parte, mas alguns militares foram convocados e participaram, tentando vender a ideia de que alguma coisa tinha que ser feita. O ritmo dos acontecimentos estavam se desenvolvendo, principalmente, a partir da posse de João Goulart, com a renúncia do Jânio, começou a estabelecer uma enorme preocupação. Havia mesmo civis que estavam pensando em se retirar do País, achando que não havia mais solução. Um companheiro nosso, contemporâneo, que chegou aos mais altos postos do Exército, chegou a considerar que estava tudo perdido, tirou um ano de licença sem vencimentos e foi trabalhar numa empresa civil. Acreditava que já estava tudo perdido!

Outros militares, que eram mais politizados, começaram a fazer oposição ao Governo Goulart que tinha assumido e foram afastados, mandados para as chamadas Circunscrições de Recrutamento (CR), que passaram a ser, depois, as Circunscrições do Serviço Militar, as CSM. Por que os mandaram para as CSM? Porque eram administrativas relativas a Serviço Militar e Mobilização, contando com um efetivo muito reduzido. Eram oficiais muito politizados, como os irmãos Serpa. Para Bauru, foi o Golbery, se não me engano, e o Couto e Silva. O Serpa ‘louro’ foi para Sorocaba, o Serpa ‘preto’, que era o irmão mais velho, foi para o Piauí, o Serpinha – Luiz Gonzaga de Andrada Serpa -, o mais moço e o mais politizado, foi para Manaus. Esses oficiais merecem todo o meu respeito e minha admiração. Eles tiveram a antevisão, que eu mesmo admito que não tinha. Estava voltado para a minhas atividades castrenses, como já disse, para o meu esporte... Às vezes, achava que eles exageravam, que eles estavam vendo, como se diz normalmente, ‘chifre em cabeça de cavalo’ ” (General-de-Brigada Celso dos Santos Meyer, Tomo 10, pg. 128-129).

“Telefona-me do Rio de Janeiro um senhor chamado Gilberto Huber Filho, responsável pela impressão das listas telefônicas amarelas, naquela época. Numa reunião social no Rio de Janeiro ele fazia parte de um grupo que conversava sobre as ameaças de esquerdização do Brasil: socialização, comunização, a possibilidade de se chegar a choques, conflitos violentos, guerra civil; era um negócio muito aterrorizante, na época. Nesse grupo carioca estava o Trajano Pupo Neto, outro grande amigo meu, que disse a eles: ‘Olhem, não façam nada sem conversar com um grande amigo lá em São Paulo que é um ‘tarado’ em matéria de liberdade econômica.’

(...)

E esse Senhor Huber, como disse, tornou-se um ‘amigão’, chegou no meu escritório mais ou menos umas 16h e só saiu da minha casa depois da meia-noite. Então, nesse primeiro encontro, creio que o Huber concorda comigo, nasceu o que veio a se chamar Instituto de Pesquisa e Estudos Sociais (IPES), porque resolvemos que faríamos alguma coisa nesse sentido: ele com o grupo do Rio e eu com os amigos de São Paulo.

(...)

Assim, outras entidades surgiram, também, mas Rio e São Paulo criaram o IPES e o seu presidente foi o João Baptista [João Baptista Leopoldo Figueiredo]. Em São Paulo, além do próprio João, contávamos, também, com gente como Paulo Reis de Magalhães, que foi um grande companheiro, Roberto Pinto e Sousa, enfim, são tantos que vou fazer a injustiça de nem tentar relacioná-los. No Rio de Janeiro, junto com o Huber tinha muitos outros companheiros como Harold Polland, presidente do grupo carioca, Augusto Trajano de Azevedo Antunes, enfim, muitas pessoas sérias, de nível alto e, sobretudo, de um patriotismo estupendo.

O IPES deu início, então, ao seu trabalho e hoje estou tendo o prazer de entregar aqui, ao Exército, os arquivos do IPES. O do Rio de Janeiro foi doado para a Biblioteca Municipal, o que achei um erro grave. Aqui não, eles vão ficar guardados no Exército e vão ser consultados por quem, sem ideia preconcebida, queira estudar o que foto aquele movimento.

(...)

Por que o IPES parou? Porque assim que houve a Revolução de 1964, das 440 empresas que contribuíam para ele – para defendermos as próprias empresas, defendermos o País, defendermos o interesse brasileiro – foram deixando de fazê-lo. Era uma tragédia: em cada reunião, dez, vinte, trinta paravam.

Em 1965 e 1966 já se pensava em fechar o IPES. Em São Paulo, em 1967, passou a hibernar, e, finalmente, fechou em 1968. O do Rio de Janeiro durou um pouco mais, mas também desviou as atividades. Hão havia, por parte dos empresários, seja brasileiros ou, muito menos, estrangeiros, interesse em apoiá-lo para que continuasse realizando aquele trabalho de tão bons resultados.

(...)

Institutos Liberais

Anos atrás estava voltando a ser panfletário e, por isso, me procuraram para formar um Instituto Liberal. Não pude aceitar, naquela ocasião. Paralelamente, surgiu um outro no Rio, liderado por um empresário que se dedicou realmente 100% àquilo, mas morreu há pouco tempo. Era um sujeito extraordinário; reuniu o pessoal do IPES e outras pessoas que queriam trabalhar e conseguiu fazer um Instituto Liberal dedicado exclusivamente à doutrinação e à cultura econômica. Obteve muito sucesso.

Em São Paulo, foi formado outro Instituto Liberal. Tive o privilégio de ser convidado para me aliar a eles e acabei presidente do seu Conselho Consultivo. Doei ao Instituto a minha biblioteca de economia, tudo sobre mercado. Existem hoje, pelo que sei, oito institutos liberais no Brasil inteiro. Porém, aí vem a dolorosa informação: todos, sobretudo o de São Paulo, estão passando pelo mesmo problema que o IPES viveu – queda de arrecadação e elevação dos custos. Começa-se a perguntar: para ou não para?” (Doutor Paulo Ayres de Almeida Freitas Filho, Tomo 7, pg. 381-389).

Obs.

O IPES, o Instituto Brasileiro de Ação Democrática (IBAD), a Campanha da Mulher pela Democracia (CAMDE) e as Forças Armadas formaram a base quadrangular decisiva para o desencadeamento da Contrarrevolução de 31 de março de 1964, contra Jango, em sua política de implantar a "República Sindicalista" no Brasil.

Em 2002, fui convidado pelo secretário executivo do Instituto Liberal de Brasília, professor emérito da Universidade de Brasília, Nelson Lehmann da Silva – autor do livro A Religião Civil do Estado Moderno –, para participar das reuniões do Instituto, às quintas-feiras, à noite. O presidente era o embaixador, professor, pensador e escritor José Osvaldo de Meira Penna, autor de mais de duas dezenas de livros – cfr. em https://www.amazon.com.br/Livros-Jos%C3%A9-Osvaldo-de-Meira-Penna/s?rh=n%3A6740748011%2Cp_27%3AJos%C3%A9+Osvaldo+de+Meira+Penna.

O IL de Brasília fechou em 2004, assim como muitos outros no País inteiro, por falta de patrocínio. Herdei cerca de 20 livros do IL, versando principalmente sobre Economia e Liberdade, como O Caminho da Servidão, de Friedrich F. Hayek.

Nelson Lehmann faleceu em 2011.

Meira Penna faleceu em 29 de julho de 2017, aos 100 anos de idade.

F. Maier

 

ADENDO:

(não consta da “História Oral do Exército – 31 Março 1964”)

Para tirar o PT do governo, tiveram importante papel nessas manifestações grupos diversos, como Movimento Brasil Livre (MBL), Patriotas, #NasRuas etc., que convocavam as pessoas por meio das redes sociais.

Desde 1961, por ocasião da renúncia de Jânio Quadros, até o Movimento Cívico-Militar de 31 de Março de 1964, houve também movimentos diversos que se uniam para combater a subversão político-social instalada no Brasil pela dupla baderneira Jango-Brizola, como IPES, IBADE, CAMDE, Cruzada Democrática, Arca de Noé, entre outros, que ajudaram a derrubar o governo de João Goulart – como visto acima, no presente fichamento.

Sobre o IPES, IBAD e CAMDE, leia os verbetes de meu trabalho “Arquivos I – Uma História da Intolerância”, disponível em http://felixmaier1950.blogspot.com/2020/06/arquivos-i-uma-historia-da-intolerancia_78.html

 

IPES - Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais: fundado em 1961 no Rio de Janeiro pelo coronel Golbery do Couto e Silva e um grupo de empresários anticomunistas, dispostos a readequar e a reformular o Estado brasileiro. Tinha por objetivo criar barreiras intelectuais contra a propagação das ideias marxistas durante o governo João Goulart. Promovia Estudos de Problemas Brasileiros para os governos militares pós-1964. “No setor privado, destaca-se o Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (Ipes), fundado em 1961. O Ipes é geralmente associado à conspiração para depor o presidente João Goulart, mas a sua contribuição foi relevante para as reformas. Na verdade, o Ipes apoiou uma série de estudos sobre problemas estruturais da economia de que participaram muitos especialistas, entre os quais Roberto Campos, Mário Henrique Simonsen e Delfim Netto” (Maílson da Nóbrega, in “Há esperança”, Veja no. 2459, 6/1/2016). O IPES, o IBAD, a CAMDE e as Forças Armadas formaram a base quadrangular decisiva para o desencadeamento da Contrarrevolução de 31 de março de 1964, contra Jango e sua política de implantar a “República Sindicalista” no Brasil. O IPES passou a existir oficialmente no dia 29/11/1961 (Jânio Quadros havia renunciado em agosto do mesmo ano). O lançamento do IPES foi recebido favoravelmente por diversos órgãos da imprensa, como o Jornal do Brasil, O Globo, O Correio da Manhã e Última Hora. Contou com a aprovação do Arcebispo do Rio de Janeiro, Dom Jayme de Barros Câmara. Além do Rio e de São Paulo, o IPES rapidamente se expandiu até Porto Alegre, Santos, Belo Horizonte, Curitiba, Manaus e outros centos menores. O IPES foi formado pelo trabalho do empresário de origem americana, Gilbert Huber Jr., do empresário multinacional Antônio Gallotti, dos empresários Glycon de Paiva, José Garrido Torres, Augusto Trajano Azevedo Antunes, além de serviços especiais de oficiais da reserva, como o general Golbery do Couto e Silva. Sandra Cavalcanti era uma das mais famosas conferencistas do IPES. As sementes do IPES (assim como do IBAD e do CONCLAP) foram lançadas no final do governo JK, cujos excessos inflacionários geraram descontentamento entre os membros das classes produtoras do país, e durante a Presidência de Jânio Quadros, em cujo zelo moralista eles depositaram grandes esperanças. O IPES produziu em torno de oito filmes, para alertar os desmandos do Governo Goulart, como a ameaça comunista; os cineastas eram Jean Mazon e Carlos Niemeyer. Escritores de peso do IPES foram Nélida Piñon, Rachel de Queiroz e José Rubem Fonseca, autor de Feliz Ano Novo; segundo Fonseca, o “IPES buscava mobilizar a opinião pública no sentido do fortalecimento dos valores democráticos” (AUGUSTO, op. cit.). “Somente nas ações contra o regime, despendeu o equivalente a 100 milhões de dólares, fortuna bancada com doações de centenas de grandes e megaempresários brasileiros e estrangeiros. O número de corporações americanas que apoiaram financeiramente a entidade chegou a 297” (FIGUEIREDO, 2005: 107-8). Futuros ministros dos governos militares também foram membros do IPES: Antonio Delfim Netto, Roberto Campos, Mário Henrique Simonsen, Otávio Gouveia de Bulhões, Hélio Beltrão. O IPES teve o apoio também de Paulo Malta (Diário de Pernambuco), Pedro Dantas (pseudônimo de Prudente de Morais Neto), embaixador José Sette Câmara, embaixador e poeta Augusto Frederico Schmidt. Com apoio do IPEA foi lançado o livro UNE - instrumento de subversão, em que “a estudante Sônia Seganfredo expunha a infiltração comunista no meio universitário” (ORVIL, pg. 158). O IPES participou também de operações internacionais, que ajudaram a derrubada de Salvador Allende, no Chile, e do general Juan Torres, na Bolívia (em agosto de 1971, o general Hugo Banzer tomou o poder). Entidades congêneres do “Complexo IPES/IBAD”: 1) México: Centro de Estudios Monetarios Latinoamericanos - CEMLA; Centro Nacional de Estudios Sociales - CNES; Instituto de Investigaciones Sociales y Económicas - IISE; 2) Guatemala: Centro de Estudios Económico-Sociales - CEES; 3) Colômbia: Centro de Estudios y Acción Social - CEAS; 4) Equador: Centro de Estudios y Reformas Económico-Sociales - CERES; 5) Chile: Instituto Privado de Investigaciones Económico-Sociales - IPIES; 6) Brasil: Sociedade de Estudos Interamericanos - SEI; Fundação Aliança para o Progresso; 7) Argentina: Foro de la Libre Empresa; Acción Coordinadora de las Instituciones Empresariales Libres. “Em 64, quando Castelo Branco organizou o Governo, a maioria dos cargos foi entregue a quem tinha ensinado ou feito cursinho no IPES. A começar por Golbery e Roberto Campos” (Sebastião Nery, in “Os filhos de 64”, Jornal Popular, Belém, PA, 6/10/1995).

IBAD - Instituto Brasileiro de Ação Democrática, o IBAD era uma organização anticomunista fundada em maio de 1959 por Ivan Hasslocher. Ao lado dele, jovens empresários fariam parte desta organização e da sua entidade-irmã, o Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (IPES), dois anos e meio depois. Entre eles, Gilbert Huber Jr. (Grupo Gilberto Huber - Páginas Amarelas), de ascendência norte-americana, Glycon de Paiva e Paulo Ayres Filho. O financiamento para a criação do Instituto se deu a partir de contribuições de empresários brasileiros e norte-americanos. A finalidade inicial era combater o estilo populista de JK e possíveis vestígios da influência do comunismo no Brasil. A ação do IBAD era baseada na manipulação dos rumos do debate econômico, político e social do país através da ação publicitária e política. Para dar apoio publicitário ao IBAD, foi criada por Hasslocher a agência de propaganda Incrementadora de Vendas Promotion. Esta era subsidiária daquele Instituto, financiada por capital norte-americano, para a criação de modismos favoráveis para a implantação do american way of life. Os métodos utilizados pela agência foram herdados do Office of the Coordinator of Inter-American Affairs (OCIAA). O IBAD criou e incentivou a Ação Democrática Popular, ADEP, cuja função era direcionar capital e financiar os candidatos contrários a Goulart que concorreriam às eleições legislativas e para o governo de 11 estados. O IBAD e o IPES financiaram, produziram e difundiram uma grande quantidade de programas radiofônicos, de televisão e matérias nos jornais com conteúdo anticomunista. As duas entidades contribuíram decisivamente no doutrinamento ideológico que acentuou a oposição ao governo João Goulart e seu programa de reformas, fator crucial para o êxito do contragolpe militar de 1964. Muitas das radionovelas, filmes de cinema e programas de televisão da época tinham mensagens explícitas e implícitas a favor da absorção pelos brasileiros das modas, usos, costumes e consumo de produtos norte-americanos. Foi nessa época que surgiu entre a classe média brasileira a expressão “anos dourados”. Em Minas, articularem-se com o IBAD o Pe. jesuíta João Cândido de Castro e o deputado Bonifácio de Andrada, líder do governo Magalhães Pinto na Assembleia Legislativa, onde organizou a ADEP. O IBAD foi alvo de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investigava a participação de capital estrangeiro na entidade, fato considerado ilegal. O deputado Rubens Paiva (PTB) era um dos integrantes dessa CPI e teve seu mandato cassado no dia 10/4/1964. Membros do IBAD queimaram alguns documentos comprometedores visando dificultar as investigações, porém foram comprovados investimentos estrangeiros na entidade. No dia 20/12/1963, o IBAD foi dissolvido pelo Poder Judiciário. No dia 20/1/1971, Rubens Paiva foi sequestrado em sua residência do Rio e, desde então, foi dado como desaparecido. Documentos em posse do antigo comandante do DOI-CODI/Rio, coronel Júlio Miguel Molinas Dias, executado no dia 4/11/2012 com 15 tiros em Porto Alegre em situação não esclarecida pela polícia, comprovam que Rubens Paiva ficou preso no DOI-CODI. A documentação, que inclui uma relação de itens particulares do preso, foi entregue por Tarso Genro, governador do RS, à Comissão Nacional da Verdade em 27/11/2012.

CAMDE - Campanha da Mulher pela Democracia: criada pouco antes das eleições de 1962, sob orientação de Leovigildo Balestieri (vigário franciscano de Ipanema, Rio de Janeiro), Glycon de Paiva e o general Golbery do Couto e Silva. “Eles convincentemente argumentavam que o Exército fora minado pelo ‘vício do legalismo’, que só mudaria se ‘legitimado’ por alguma força civil, e que as mulheres da classe média e alta representavam o mais facilmente mobilizado e interessado grupo de civis” (P. Schmitter, in Interest, Conflict and Political Change in Brazil, Stanford, California University Press, 1971, pg. 447). A CAMDE era uma organização feminina anticomunista, promoveu a “Marcha da Família com Deus pela Liberdade”, no dia 19/3/1964, em São Paulo (19 de março, Dia de São José, Padroeiro da Família), reunindo 500.000 pessoas, protesto que exigia o fim da balbúrdia e da carestia durante o Governo Goulart, e que antecedeu à revolução de 31/3/1964. No dia 2 de abril, a CAMDE reuniu 1 milhão de manifestantes no Rio de Janeiro para agradecer a interferência dos militares nos destinos do país, ocasião em que Aurélia Molina Bastos encerrou seu discurso dizendo: “Nós louvamos, nós bendizemos, nós glorificamos a Deus e o soldado do Brasil”. As mulheres do CAMDE de Minas Gerais ofereceram a Castello Branco, ainda antes de sua eleição, uma nova faixa presidencial, para que não usasse a tradicional, “já conspurcada pelos maus presidentes que o precederam” (O Estado de S. Paulo, 12/4/1964). Outras organizações femininas e grupos católicos atuantes em 1964, além da CAMDE: Liga de Mulheres Democráticas (LIMDE), (MG); União Cívica Feminina (UCF), organizada em 1962 (SP); Campanha para Educação Cívica (CEC); Movimento de Arregimentação Feminina (MAF), teve início em 1954, foi liderado por Antonieta Pellegrini, irmã de Júlio de Mesquita Filho, proprietário de “O Estado de S. Paulo”; Liga Independente para a Liberdade, dirigida por Maria Pacheco Chaves; Movimento Familiar Cristão (MFC); Confederação das Famílias Cristãs (CFC); Liga Cristã contra o Comunismo; Cruzada do Rosário em Família (CRF); Legião de Defesa Social; Cruzada Democrática Feminina do Recife (CDFR); Ação Democrática Feminina (ADF), Porto Alegre, RS.

F. Maier

 

 

MOVIMENTO ESTUDANTIL DEMOCRÁTICO (MED)

 

“Nos idos de 1963, época em que cursava o 2º. Ano do Curso Colegial, no Colégio Dante Alighieri, aqui em São Paulo, foi organizado por um pugilo de colegas, um movimento chamado Movimento Estudantil Democrático (MED). Os colegas, de quem me recordo, Rafael Boschesi, filho de um antigo presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, e Moacir Porfírio, orientados por nosso saudoso mestre de Português, à época, Professor Francisco Sodero, organizaram o movimento. Possuía dois campos de ação, um de ordem cultural e outro de ordem eminentemente política.

 

Qual o sentido desse movimento? Por que foi organizado?

 

Porque o Brasil caminhava, tudo levava a crer, para um momento de forte confronto, naqueles tempos de enorme agitação em nosso País: agitação cultural, agitação política, agitação econômica e, é bom recordar, também, agitação militar – em 1963, o Presidente João Goulart compareceu a uma solenidade da Marinha e, praticamente, incitou a tropa contra seus respectivos comandantes. O confronto viria entre os grupos que, praticamente, detinham o Poder, homens da extrema esquerda, e os que queriam evitar que o País caísse totalmente nessa linha política.

 

Daí a razão desses cursos e conferências, digamos, preparatórios, para os estudantes que estavam em fase de conclusão de seus respectivos cursos colegiais e entrando nas faculdades, que, de uma maneira geral, eram verdadeiros ninhos de subversão sob orientação da União Nacional dos Estudantes (UNE) e da União Estadual de Estudantes (UEE).

 

Tentava-se algum exercício democrático, um preparo de ideias democráticas para podermos enfrentar os colegas esquerdistas, estes sim, que já vinham tremendamente preparados pelo pessoal da extrema esquerda. Em outras palavras, esforçávamo-nos para que os demais estudantes não caíssem presas fáceis nas mãos das hostes comunistas. Naquela época, se usava muito essa expressão ‘comunista’, ‘esquerdista’. Aparentemente, hoje, esses termos estão fora de moda, mas talvez não estejam tão fora de moda assim; muda-se a forma, mas não se altera o conteúdo.

 

O MED, movimento de reação democrática, parecia muito promissor e eram convidadas para falar pessoas ilustres do nosso meio jurídico. Recordo-me, por exemplo, do Dr. José Carlos Graça Wagner, advogado de grande renome, excelente conferencista, do Dr. Ives Gandra Martins, outro advogado de muita respeitabilidade, e que, também, fazia suas conferências, suas palestras, e do Dr. Francisco Albuquerque, então integrantes do Partido Liberal, dentre outros.

 

Lamentavelmente, este movimento encerrou suas atividades. Assim, chegamos ao 3º. Ano do Curso Colegial, às portas de entrarmos na faculdade, sem essa preparação.

 

Nessa ocasião, eu e mais um punhado de outros colegas, integrantes do antigo movimento, fundamos um novo, nas mesmas bases, que se chamou Associação Democrática Estudantil de São Paulo (ADESP)” (Doutor Antônio Carlos Adler, Tomo 7, pg. 318-319).

 

 

ASSOCIAÇÃO DOS HOMENS LIVRES

 

“A AD/6 estava sem General Comandante e o Coronel Paula Couto a comandava interinamente. Por sua posição anticomunista claramente definida, estava preocupado com o crescimento dos movimentos de esquerda. A principal ameaça provinha dos ‘grupos dos onze’ do Brizola que se organizavam em todo o Estado [RS]. Para contrabater os tais grupos, ele criou a Associação dos Homens Livres. Parecia até que, no início de 1963, Cruz Alta tornara-se um reduto de oficiais ligados a uma conspiração contra o governo. Essas precauções e a atuação democrática junto à população civil tiveram depois, em março de 1964, efeito muito positivo. Esse era o quadro da Guarnição” (General-de-Exército Décio Barbosa Machado, Tomo 13, pg. 91).

 

 

LIGA DE DEFESA NACIONAL

 

“No meio civil, destaco algumas pessoas que colaboraram conosco. O Dr. Apodyr Almeida de Oliveira, representante da Liga de Defesa Nacional na cidade. Foi um homem com quem me liguei permanentemente desde que cheguei em Pelotas. Nunca duvidei do seu sentimento patriótico. Advogado, não exercia cargo público, coisa rara. Era dedicado à Liga de Defesa Nacional, onde eu o auxiliava. Também o Dr. Edmar Fetter, Prefeito municipal, nos deu apoio antes, durante e depois da eclosão do movimento, e ainda um radioamador que servia de ligação entre a minha pessoa e o Etchegoyen (Léo Guedes Etchegoyen) – perdi o nome, é uma das minhas mágoas. Tínhamos uma rede-rádio de radioamadores que, mediante palavras-código, aparentemente sem importância, estávamos ligados: ‘Como vai o futebol? E o teu time? Já tens novos reservas?’ Parecia só brincadeira, mas sabíamos do que estávamos falando. Cito também o repórter Mário Emílio de Menezes, que hoje mora em Porto Alegre. Trabalhou muito na Liga de Defesa Nacional e tem muito para contar.

 

(...)

 

Entre os militares da Guarnição destacavam-se: o Major Scarone (Cid Scarone Vieira), meu braço direito na Revolução; o Major Prates (Paulo Sylvio Prates); o Tenente ou Aspirante Suppa (Mário Ângelo Suppa Thomaz Pereira), foi um grande auxiliar que tive. Como Aspirante ele até corria risco, proque eu, se me mandassem embora, iria promovido com todas as vantagens, mas o pobre do Aspirante.

 

Destaco, ainda, o Major Lúcio (Lúcio Madeira Guimarães), que era Assistente na ID/3, trabalhava ligado ao Coronell Joaquim. A ID não tinha oficial de Estado-Maior. Eram só o Comandante, o Assistente e dois oficiais do Quadro Auxiliar de Oficiais, por sinal, excelentes; um deles – o Cavalcanti (Humberto Pessoa Cavalcanti) – faleceu há pouco tempo.

 

Convém deixar aqui registrado que houve unanimidade por parte dos demais oficiais e praças da Unidade em apoiar o Movimento. Não tivemos defecção. A partir do momento que o Regimento disse que estava a favor da Revolução, nenhuma voz discordante se apresentou” (General-de-Brigada José Mattos de Marsillac Motta, Tomo 13, pg. 109-110).

 

 

 

EDUCANDO PARA A DEMOCRACIA

 

“Uma organização que nos ajudou muito foi a ‘Educando para a Democracia’, cuja história retrato no artigo ‘O acordar dos militares’. Cortamos todo o Rio Grande pregando Democracia para os estudantes do 3º. Grau. Era uma linha intelectual que reunia homens como: o Galeano Lacerda, desembargador, hoje está aposentado; o Hugo di Primio Paz, professor da UFRGS; o Clóvis Stenzel, psicólogo e advogado, foi líder da Arena no Congresso; a Ecilda Haenzel, advogada, cujo marido, o médico José Mariano Haenzel, já morto, foi quem me possibilitou não embarcar para Ipameri e ficar resistindo aqui. Um colaborador de peso foi o José Otão, reitor da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC/RS), que nos possibilitou organizar a ‘Educando para a Democracia’, que nasceu dentro da PUC” (Coronel Pedro Américo Leal, Tomo 13, pg. 246).

 

“Os ‘janguistas’ me anularam, mas me vigiavam. Sabiam que eu tinha proteção da Junta [Médica], através do seu presidente e do Mariano Haenzel, que emitiu um atestado para meu filho – na verdade, ele sempre foi profundamente asmático. Tudo isso era uma articulação e logo depois que iniciei a Licença para Tratamento de Saúde de Pessoa da Família (LTSPF), senti que fui esvaziado.

 

Eu, o Léo Etchegoyen, o Lauro Rieth, o Sommer de Azambuja e o Comandante do 2º. Regimento de Reconhecimento Mecanizado, o Admar Borges Fortes da Silva; nós cinco fomos transferidos. O Sommer de Azambuja e o Lauro Rieth solicitaram transferência para a reserva; não sei se o Etchegoyen chegou a ir para Santo Ângelo; eu não fui e o Coronel de Cavalaria, irmão de um jornalista do Correio do Povo, não sei o que se passou com ele. Fiquei uns dois ou três meses completamente isolado, porque quem falasse comigo era identificado e ficava marcado” (Coronel Pedro Américo Leal, Tomo 13, pg. 248).

 

 

GRUPO DE AÇÃO PATRIÓTICA (GAP)

 

“Fiz a Revolução com 19 anos, liderando um movimento de jovens do Grupo de Ação Patriótica – GAP – que se opunha à representação da União Nacional dos Estudantes (UNE), dominada por comunistas. Nossa atuação está registrada em muitos autores e os jornais da época destacam a presença do GAP em atos públicos de defesa da ordem e dos valores mais expressivos e conservadores da sociedade brasileira.

O nosso Grupo, que atuava principalmente no Rio de Janeiro, em Minas Gerais e em São Paulo, era composto, basicamente, por jovens estudantes, tendo por programa de ação o combate às reformas comunizantes de Brizola e Goulart; ao sistema de representatividade da classe estudantil, adotado na União Nacional dos Estudantes e na União dos Estudantes do Ensino Secundário (UEES); à encampação de refinarias; à ocupação de postos-chave da administração na Petrobras, no Departamento de Correios e Telégrafos, na Rede Ferroviária, nos Portos etc. por elementos comunistas; à influência desmedida dos dirigentes sindicais nos destinos do País; à censura à palavra de políticos da oposição, como Amaral Neto, Carlos Lacerda, Raimundo Padilha e muitos outros, no rádio e na televisão; à omissão governamental diante das greves e das agitações permanentes, de caráter político e subversivo.

 

Os jovens tinham como referência maior o trabalho desenvolvido pelo Almirante Sílvio Heck, Ministro da Marinha no Governo Jânio Quadros, para fugirem a uma identidade partidária, de vez que eram muitas as lideranças políticas que se opunham a Goulart, como os governadores de Minas, Magalhães Pinto, de São Paulo, Adhemar de Barros, e da Guanabara, Carlos Lacerda, todos candidatos em 1965, e o grupo de JK, do PSD, onde muita gente se contrapunha ao Presidente.

 

O GAP se integrou a entidades formadas por empresários, mulheres, militantes católicos, militares da reserva, ex-líderes estudantis, para se opor à pregação revolucionária das esquerdas, que encontravam acolhida no Governo Goulart, bem como ao grevismo político que fazia parte do cotidiano do País.

 

(...)

 

O Brasil é quase todo o continente, e para onde se inclina, a América Latina tende a seguir, como bem disse o Presidente Nixon. Os EUA não tolerariam uma Cuba do tamanho do Brasil. Nem do Chile, salvo por uma das mais impressionantes e completas personalidades históricas de nosso tempo, o General Augusto Pinochet, um grande amigo do Brasil, que nos visitou várias vezes como Presidente e, depois, como mero turista. Este forma com o General Franco, de Espanha, a dupla de grandes benfeitores do Ocidente, tratados com tanta ingratidão e maior desonestidade no que tem sido publicado. Foram eles que infringiram as maiores derrotas ao comunismo no século XX.

 

A bibliografia é rica em confirmar o empenho da União Soviética em agitar a situação política e social no Brasil, na América Latina, insistindo na violência no campo, na dominação da mídia e do meio intelectual. A Igreja e as Forças Armadas eram prioridades do comunismo desde a década de 1940. Afinal, as grandes derrotas do comunismo se deram no final da década de 1930 com a Guerra Civil da Espanha, em meados da década de 1960 com o Brasil e de 1970 com o Chile. Em todos os três casos, a mão comunista – com base na Rússia principalmente – era visível e os bons resultados da reação no campo social e do desenvolvimento econômico foram duros golpes. As bases do progresso da Espanha, do Chile e do Brasil são devidas a Franco, Pinochet e aos nossos generais-presidentes, especialmente Castello, Costa e Silva, Médici, e João Figueiredo. A única vitória do comunismo importante foi a Revolução dos Cravos, em Portugal, que acabou por permitir uma independência sangrenta em Angola e Moçambique, territórios que estavam marchando para uma solução de alto nível, com base na lusitanidade, em algo que se parecesse com a do Brasil que foi proporcionada por um rei de Portugal, na ocasião príncipe-herdeiro. Mas a cobiça comunista das riquezas de Angola, principalmente, falou mais alto, não contando apenas com a reação de uma parte não comunista, a União Nacional para Independência Total de Angola (UNITA), que sustentou uma guerra violenta por mais de 25 anos, com grande número de mutilados. Uma tragédia, em que o Brasil agiu de forma omissa no governo Geisel e, daí, em diante.

 

(...)

 

A partir daí, a prioridade dos soviéticos foi a infiltração entre militares e religiosos. No Brasil, não poderia ser diferente. Os militares sofreram de tal maneira a infiltração, que tivemos, pouco antes da Guerra da Espanha, a Intentona de 1935 e, em 1964, a nossa Revolução precisou retirar, de forma autoritária de suas fileiras, mais de quatro mil militares sob suspeição de tolerância com o comunismo, número muito maior do que o de afastamento no funcionalismo civil, por exemplo. A Igreja, por sua vez, foi muito usada pelos radicais da luta armada e pela influência que os temas políticos passaram a ter na Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). O saldo desta militância de esquerda de parte do clero abriu as portas do Brasil para seitas ditas cristãs, que acabaram se tornando verdadeiros negócios e comitês eleitorais, a chamada ‘bancada evangélica’.

 

(...)

 

Ao ser fundado em junho de 1962, o GAP firmou convênio com a Aliança Democrática Brasileira e o Centro José Bonifácio, organizações democráticas de São Paulo, presididas pelos estudantes Waldo Domingos Claro e Fânio Sandoval, e formou um núcleo em Juiz de Fora, dirigido pelo universitário Marcos Ventura de Barros.

 

(...)

 

Não tendo vinculação com qualquer partido, o GAP aceitava, de bom grado, a colaboração e a adesão de todos os verdadeiros patriotas, independente de onde viessem ou estivessem.

 

De nossa Carta de Princípios, constava a defesa intransigente do regime democrático, da família, da Igreja, da propriedade e da iniciativa privada.

 

(...)

 

Hélio Silva recorda os Comícios pela Democracia, realizados pelo Deputado Amaral Neto, com a presença de parlamentares de todo o País, membros da Ação Democrática Parlamentar, nos quais pregávamos, em praça pública, a reação ao Governo. Nesses comícios, realizados semanalmente em várias cidades, coube-me sempre falar em nome dos estudantes democratas como presidente nacional do GAP.

 

Lembra o escritor que me cabia, através da Rede da Democracia – cadeia de emissoras de rádio que se opunha à cadeia da legalidade, de Leonel Brizola – falar, semanalmente, na qualidade de Presidente do GAP, recomendando, inclusive, a mobilização armada contra os camponeses de Francisco Julião e os elementos dos Grupos dos Onze, de Brizola.

 

A participação da rapaziada do GAP, relembra o escritor, estava intimamente ligada ao grupo conspirador liderado pelo Almirante Sílvio Heck. Por algumas vezes, realizamos transporte de armas de São Paulo para o Rio de Janeiro. Chegamos, inclusive, a trazer metralhadoras em malas e em ônibus da viação Cometa. Este transporte e movimentação de armamento foi uma vez estourado pela Polícia do Exército, mas eu e mais dois companheiros conseguimos escapar na própria estação rodoviária.

 

Em consequência desta ação, a sede da entidade Ação Vigilante do Brasil, na Rua 1º. de Março, no Rio de Janeiro, foi invadida e interditada, assim como um sítio em Jacarepaguá, onde o Governo apreendeu as armas. Por sorte, o Inquérito Policial Militar (IPM) que o Ministro da Guerra instaurou foi confiado ao General Idálio Sardemberg. Como a imprensa janguista insistia em citar Heck, além de citar-me juntamente com o GAP, tomei a iniciativa de procurar pessoalmente o General Sardemberg, em sua casa, na Rua Souza Lima. Na conversa que mantive com ele, aleguei que o movimento distribuía livros, combatia a UNE etc. e que o noticiário dos jornais era maldoso. O General Sardemberg me ouviu e por fim disse-me: ‘Sei que as coisas não são bem como você diz, mas elogio o seu civismo e peço levar ao Almirante Heck minhas palavras de tranquilidade. Vocês não serão incomodados’.

 

(...)

 

Lembro-me de que, no final de 1962, logo após o Almirante Sílvio Heck deixar o Quartel Central do Corpo de Fuzileiros Navais, onde se encontrava preso, formamos um grande cortejo de automóveis integrado por delegações de diversas entidades, entre as quais a nossa – o Grupo de Ação Patriótica – e muitas outras, como a Frente da Juventude Democrática, a Ação Vigilante do Brasil, a União Operária Camponesa do Brasil, o Movimento Estudantil Católico, o Movimento Estudantil Marítimo, a Aliança Democrática Popular etc.

 

(...)

 

A primeira operação conjunta foi a distribuição de livros e folhetos em fábricas e colégios da Guanabara, São Paulo de Minas Gerais. Distribuímos, inicialmente, três livretos: ‘Depoimento sobre a Rússia’, mais de seis mil exemplares, de Nascimento Brito, Diretor do Jornal do Brasil; ‘Estopim da Fraude’, de Waldo Domingos Claro, presidente da Aliança Democrática Brasileira; e ‘UNE, Instrumento da Subversão’.

Numa ação continuada, conseguimos, ainda, distribuir mais de vinte mil livros de esclarecimento popular, alcançando maior destaque ‘Um Engenheiro Brasileiro na Rússia’, de John Cotrim; ‘Estudantes Brasileiros na Tcheco-Eslováquia’, de Ronaldo Pereira Rodrigues, que fora Secretário da UNE; e ‘Condição Humana da China Comunista’, de Suzanne Labin.

 

(...)

 

A Cadeia Radiofônica da Democracia iniciou suas atividades no final de outubro de 1963, liderada pelas Rádios Tupi, Globo e Jornal do Brasil, com a participação no primeiro programa de João Calmon, Roberto Marinho e Nascimento Brito, diretores das emissoras que encabeçavam a Cadeia” (Jornalista Aristóteles Drummond, Tomo 9, pg. 144-158).

 

Obs.:

 

As grandes derrotas dos comunistas ocorreram na Espanha, no Brasil e no Chile. Nem por nada que o General Francisco Franco, o General Emílio Garrastazu Médici e o General Augusto Pinochet são demonizados por toda a esquerda mundial, que tenta apagar a história desses heróis nacionais, removendo estátuas, retirando nomes de logradouros públicos e até exumando o cadáver de Franco, para retirar seus restos mortais do Valle de los Caídos.

Sobre a Guerra Civil Espanhola, leia textos em https://felixmaier1950.blogspot.com/2020/09/guerra-civil-espanhola-75-anos-depois.html.

 

F. Maier

 

 

AÇÃO DEMOCRÁTICA PARLAMENTAR (ADEP)

 

“Dia a dia, eu e meu pai sentíamo-nos na obrigação de tomar posição favorável ao movimento contra João Goulart. Meu pai, Deputado José Bonifácio Lafayette de Andrada me chamou para vir a Brasília e disse que o Deputado João Mendes tinha organizado uma frente parlamentar poderosa, a Ação Democrática Parlamentar (ADEP), para defender a democracia contra qualquer manobra que surgisse. A ADEP realmente reuniu deputados da UDN, quase todos do PSD, também do PTB e de outros partidos da Câmara dos Deputados. Conversei com o João Mendes e ele disse: ‘Bonifácio, você podia organizar a ADEP em Minas. Temos o apoio do IBAD (Instituto Brasileiro de Ação Democrática), instituição não ligada a nós diretamente, mas que está muito preocupada com o avanço da esquerda no Brasil. É um grupo poderoso de industriais brasileiros dispostos a apoiar financeiramente o combate ao comunismo’.

 

Essa foi a informação que recebi sobre o IBAD. Ele disse mais: ‘Você lá em Minas, além da direção da ADEP na Assembleia, como também vou me comunicar com os dirigentes do IBAD, poderá fazer contato com eles.’ O professor Ivan Hassolocher, segundo me disse, era o presidente do IBAD. Respondi: “Deputado João Mendes, esse negócio de dinheiro do IBAD é algo com que não gosto de lidar. Nesse caso, lá em Minas, há uma figura muito interessante, Padre jesuíta José Cândido de Castro, que está também muito atemorizado com os movimentos de esquerda no País e poderá gerenciar esta área, com garantia de correção.’ Nesse episódio, preferi que tudo se articulasse com ele, porque todos ficariam seguros de que não haveria nenhuma hipótese de desvio de dinheiro. Realmente, não cuidei desse setor. O Padre Castro articulou-se com o IBAD e passou a ser o responsável por essa área, em Minas. E mantinha contato comigo. Organizei a ADEP na Assembleia Legislativa, que logo recebeu o apoio de quase todos os deputados mineiros. Lançamos um manifesto nesse sentido” (Deputado Federal Bonifácio de Andrada, Tomo 15, pg. 67).

 

 

CRUZADA TIRADENTES

 

“A determinação era muito grande. Acho que uma pesquisa, antes que desapareçam os dados, precisa ser mais bem-feita sobre aquela fase e sobre o ambiente psicossocial de Minas Gerais. Recordo-me bem da Cruzada Tiradentes, de um Padre interiorano. Não me lembro direito da figura dele. Esse Movimento andava pelo interior de Minas, em grupos enormes, organizados para apoiar o Cristianismo contra o Comunismo. Era um movimento altamente significativo. Estive também com grupos sindicalistas desejosos de participar. Os meios empresariais, da mesma forma. O movimento feminino era poderoso, desfilando nas ruas por Deus e pela Pátria. Quer dizer, é preciso caracterizar bem que esse 31 de Março de 1964, em Minas Gerais, fou uma reação vigorosa do seu povo para depor o pró-comunista João Goulart. No dia 31 de março, a vitória das forças mineiras, da maioria do povo de Minas, inegável e decisivamente contribuíram, até além das Alterosas, para que as Forças Armadas ocupassem o Poder e iniciassem a institucionalização do movimento revolucionário” (Deputado Federal Bonifácio de Andrada, Tomo 15, pgl 76-77).

 

 

MANIFESTO DOS PROFESSORES UNIVERSITÁRIOS, COM SOBRAL PINTO

 

“O ambiente nacional exigia providências emergenciais. No campo, havia uma violência muito grande. Os brasileiros não mais se sentiam seguros. E ainda se apresentava a anarquia institucional: os deputados a fazerem leis apenas compatíveis com a ideologia que cada um adotava. Em 1963, falava-se abertamente de uma república sindicalista.

 

No primeiro trimestre de 1964, quatrocentos ou mais professores universitários, tendo à frente a figura grandiosa de Sobral Pinto, divulgaram um manifesto, criticando a complacência do Governo e pedindo soluções. O cardeal do Rio de Janeiro fez um alerta sobre a eclosão possível de uma revolução popular. À época, eu era juíza de Barbalha e, ouvindo a Rádio Mayrink Veiga, mesmo como juíza, era difícil entender se o Governo estava dentro da legalidade ou se o povo estava com a ilegalidade. Com o manifesto dos professores universitários, pude, então, compreender que o Governo se posicionava do lado das esquerdas” (Desembargadora Águeda Passos Rodrigues Martins, Tomo 12, pg. 244).

 

 

CRUZADA DEMOCRÁTICA

“Em 1950, os comunistas conseguiram infiltrar-se no Clube Militar, utilizando a revista para fazer proselitismo da sua doutrina. Nasceu, então, a reação dos verdadeiros patriotas e democratas para retomar a direção do Clube, através de um movimento que se denominou Cruzada Democrática.

Não podendo utilizar as dependências do Clube, as reuniões da Cruzada foram realizadas, inicialmente, na Federação de Escoteiros do Brasil e, posteriormente, na sede do Clube dos Oficiais Reformados e da Reserva das Forças Armadas, na Praça da República, 197, no Rio de Janeiro: a Casa de Deodoro.

(...)

Em meados de 1962, nos reuníamos rotineiramente às quartas-feiras à noite, na Casa de Deodoro, participando das reuniões da Cruzada Democrática, as quais compareciam muitos oficiais da reserva e da ativa (General Bina Machado, Coronel Sebastião Chaves, Tenente-Coronel João Baptista de Oliveira Figueiredo etc.).

(...)

Fazíamos reuniões com outros companheiros, no porão do edifício residencial da Praia Vermelha e na Vila Militar, em Marechal Hermes, numa academia de judô.

Conseguimos, enfim, realizar a tão esperada assembleia no Clube Militar, em 3 de julho de 1963, na presença de quase dois mil sócios. Os comunistas, cerca de sessenta pessoas, em sua maioria oficiais, audaciosamente, tentaram tumultuar a reunião inscrevendo-se para falar e abordando assuntos contrários aos nossos objetivos. Foi preciso que um companheiro, o Tenente-Coronel Aviador Coqueiro, mais tarde Brigadeiro, tomasse o microfone das mãos de um esquerdista para que toda a assembleia, aos gritos, os expulsassem do recinto.

Nessa assembleia, os irmãos Torres de Melo (Artur de Freitas Torres de Melo e José Ramos Torres de Melo Filho) falaram de forma incisiva em defesa dos postulados democráticos e da dignidade da classe militar. No dia seguinte, esses companheiros foram presos: Artur, no Forte de São João, e o José, no Forte Rio Branco” (Coronel Edgar Maranhão Ferreira, Tomo 6, pg. 107-108).

“Inicialmente muito tímido, o Clube Militar, com o tempo, foi-se encorajando, graças, em grande parte, à presença de oficiais-alunos da EsAO, do IME e da ECEME e, juntamente com o Clube Naval e o Clube da Aeronáutica, teve um papel de grande relevância na preparação do Movimento de 1964. Havia uma ala conhecida como ‘Cruzada Democrática’, que reunia muitos oficiais que pensavam igualmente sobre aquele momento nacional. Entre esses oficiais, incluíamo-nos eu e meu irmão Artur Torres de Melo, então major, e outros bem conhecidos, como os então coronéis Arnizaut de Matos, Sebastião Chaves e João Baptista Figueiredo. Aí confabulávamos sobre a situação do País, sobre o que deveria ser feito e como. Motivado pela ‘Cruzada Democrática’, no dia 3 de julho de 1963, o Clube Militar promoveu uma grande reunião, com mais de três mil oficiais, presidida pelo General Magessi da Cunha Pereira, seu presidente. Capitão e aluno do 3º. ano do IME, compareci a essa reunião juntamente com o Artur, e fizemos, cada qual, um pronunciamento contra o estado de coisas reinante, imputando as responsabilidades ao Ministro da Guerra e ao Presidente da República. Os dois discursos, por sua veemência, valeram-nos trinta dias de prisão para cada um, dados pelo Ministro da Guerra, General Jair Dantas Ribeiro. Mas nós, os oficiais mais jovens, não arrefecemos e continuamos nessa batalha, sem sabermos qual o pensamento dos nossos chefes” (Major José Ramos Torres de Melo Filho, Tomo 4, pg. 236-237).

 

ARCA DE NOÉ

“Idealizada pelo então capitão dos Portos [do Ceará], o Comandante Fernando Cavalcante, que aos sábados reunia-se com pessoas de todas as classes sociais, na Capitania. A ‘Arca de Noé’ tinha como objetivo a união de todas as categorias, exatamente o contrário do movimento comunista, que preconizava a luta de classes para a tomada do poder. Tínhamos representantes de todas as classes sociais: estivadores, militares, advogados, juízes, industriais, todos em harmonia, inclusive os representantes de sindicatos patronais e de empregados. As reuniões da ‘Arca de Noé’ tiveram início em 1961. Em 1963, a ‘Arca de Noé’ passou à condição de pessoa jurídica. Seu objetivo era o de promover a união entre todas as classes sociais e o combate ao comunismo internacional” (Tenente-Coronel Silvio de Magalhães Sampaio - Tomo 4, pg. 226).

“Por intermédio da Associação ‘Arca de Noé’, colaboramos com importante trabalho de conscientização anticomunista em instituições locais.

No mês de fevereiro de 1964, fui preso pelo Cmt da 10ª. RM (amigo do Presidente João Goulart) por vinte dias, no quartel do 23º. BC, e transferido, a bem da disciplina, por ter determinado a distribuição de folheto, divulgando informações de trabalho anticomunista em algumas instituições. O fato teve grande repercussão na cidade e em várias guarnições do Exército. Antes de seguir destino, recebi várias homenagens de militares e civis, voltando mais tarde para receber os títulos de cidadão cearense e fortalezenense, qua guardo até hoje” (General-de-Brigada Helio Duarte Pereira de Lemos, Tomo 1, pg. 240). Como Chefe de Gabinete do SNI, o general Lemos participou da apuração dos fatos realizados pela PF contra o governador de Goiás, Mauro Borges, que foi deposto depois de o STF dar habeas corpus ao político, por unanimidade.

“No Ceará, participamos de algo muito interessante: um grupo, constituído por Antônio Guimarães, que já morreu – quase todos já morreram – Hélio Lemos, o Comandante do 23º. BC, o Coronel Diegues, eu e outros, fundou um clube, chamado ‘Arca de Noé’. Todos os sábados nos reuníamos com o pessoal dos sindicatos e a gente conversava, tomava uns aperitivos e almoçava. Dessa forma, fomos nos preparando e trocando idéias. O resultado é que, em 1964, quando eclodiu a Revolução, o único Estado brasileiro em que não houve greve foi o Ceará. Os sindicalistas compreenderam que o Brasil não podia continuar com a anarquia existente, consequência daquela ação psicológica desenvolvida com o objetivo de conscientizar a opinião pública” (General-de-Divisão Francisco Batista Torres de Melo, Tomo 4, pg. 57).

“Destaco, também, a Arca de Noé, cujo significado pré-revolucionário pouca gente conhece. Não era a Arca de Noé bíblica, que reuniu todos os bichos da Terra, mas uma Arca de Noé que acolhia, harmonicamente, os sindicalistas, os patrões e os empregados, pessoas de diversas procedências, mas com um só pensamento: a defesa da Pátria! A ela se deve, por exemplo, a imunização dos portuários cearenses às idéias anarquistas vindas de fora. Estas, portanto, são reminiscências de um período vivido, pouco antes da eclosão do Movimento Revolucionário de 1964” (General-de-Brigada Manoel Theóphilo Gaspar de Oliveira Neto, Tomo 4, pg. 90).

“Quando o Sr. João Goulart assumiu a Presidência da República, os oficiais que aqui serviam, por não concordarem com o procedimento adotado pelo Poder Executivo, de seguir fielmente o movimento comunista, chegaram a lançar um Manifesto, que lhes custou prisão e transferência. No 10º. Grupo de Obuses 105 mm (10º. GO 105), a totalidade dos seus componentes não se intimidou diante das ameaças. Eu estava servindo lá, nessa época. O Grupo, sob o comando do Coronel Hélio Lemos, antecipou-se aos acontecimentos, junto com a sociedade, preparando-se materialmente e com pessoal para combater o governo central. Foi criada, nessa época, uma entidade civil chamada ‘Arca de Noé’, idealizada pelo então Capitão dos Portos, o Comandante Fernando Cavalcante, que, aos sábados, reunia-se com pessoas de todas as classes sociais, na Capitania. A ‘Arca de Noé’ tinha como objetivo a união de todas as categorias, exatamente o contrário do movimento comunista, que preconizava a luta de classes para a tomada do poder. Tínhamos representantes de todas as classes sociais: estivadores, militares, advogados, juízes, industriais, todos em harmonia, inclusive os representantes de sindicatos patronais e de empregados. As reuniões da ‘Arca de Noé’ tiveram início em 1961. Em 1963, a ‘Arca de Noé’ passou à condição de pessoa jurídica. Seu objetivo era o de promover a união entre todas as classes sociais e o combate ao comunismo internacional” (Tenente-Coronel Silvio de Magalhães Sampaio, Tomo 4, pg. 226).

 

GRUPO ÁGUIA BRANCA E “OPERAÇÃO MARIMBONDO”

“Muito pouco contato tive com o General Mourão; convivi mais com o Bragança – o Coronel Bragança – que teve um irmão assassinado em 1935. Esse não era anticomunista, ele era mais do que anticomunista; a coisa era pessoal, era uma declaração integral contra o comunismo, porque perdera...

Perdera o irmão em 1935? Era tenente o irmão dele? [entrevistador]

Era tenente, assassinado pelos comunistas. O Bragança nunca esqueceu esse fato. Ele foi, realmente, um elemento de ação – foi contra o populismo do Getúlio, foi contra o Juscelino, foi contra o João Goulart – um anticomunista sistemático. O Bragança, na década de 1960, uniu-se a uma rapaziada, formada de estudantes de Belo Horizonte, o grupo dos ‘Águia Branca’, participando de uma série de episódios para calar os comunistas na base da pancadaria.

O Brizola e seu pessoal queriam realizar um comício em Belo Horizonte, mas o Governador Magalhães Pinto, a polícia, não autorizavam comícios. Fizeram, então, uma reunião, uma famosa assembleia, no auditório da Secretaria de Administração, alguma coisa assim, lá em Belo Horizonte. Era um auditório muito grande para a época, e o certo é que o Bragança e seu grupo entraram lá e bateram no Brizola, bateram na mulher do Brizola, foi um inferno, acabaram com a tal a Assembleia ‘a tapa’.

Depois disso, marcou-se um comício com presença do Jango – interessante, aqui no Rio, o Comício da Central do Brasil. Lá, em Belo Horizonte, antes, realizaram um comício na Praça da Estação. O Jango chegou de trem para o tal comício. E a turma Águia Branca fez a Operação Marimbondo, que consistiu em levar, em sacos plásticos, marimbondos que foram soltos na hora do comício, dispersado a turba que viera para participar do comício. Isso é coisa que entra para o folclore político, mas que aconteceu realmente.

O Mourão, promovido a general, foi outro que, em todos os lugares por onde passou, fez uma campanha sistemática anticomunista. Ele falava diretamente aos seus oficiais, aos seus subordinados, em todos os lugares onde comandou” (Coronel Luiz Carlos Carneiro de Paula, Tomo 9, pg. 300).

 

CLUBES DE MÃES

“D. Iedda: (...)

Naquela época, visitei favelas, todo o ABCD; fui a vários lugares. Tínhamos total consciência da existência de um terreno fértil para aquelas ideias enganosas do comunismo; conhecíamos perfeitamente a semente e o terreno onde seria semeada. Não tomamos nenhuma atitude movida por impulso, mas por grande conscientização.

Estávamos muito bem acompanhadas de pessoas como Carlos Lacerta, que tinha sido comunista e que havia se desencantado com essa ideologia e punha a público o que eles faziam e os maus intentos deles; Padre Calazans, Senador, e o Padre Godinho, Deputado Federal, sempre nos elucidando e ensinando. Insisto que não foi um impulso de ‘patriotada’. Foi um movimento consciente, com maturidade, de dever cívico e dever de mãe.

D. Maria Lucia: Foi bom você lembrar que nós trabalhávamos na periferia.

D. Iedda: Você se lembra o que se fundou em decorrência da camanha política?

D. Maria Lucia: Os Clubes de Mães e chegamos a ter 15 Clubes de Mães, cada um com trinta mulheres.

Ensinando inclusive a cuidar do bebê. [entrevistador]

D. Maria Lucia: Não só a cuidar do bebê, mas também de toda a família.

D. Iedda: Foi algo que deu resultado. Esses Clubes de Mães começaram em 1965 e existem até hoje. Várias das atuais professoras foram nossas alunas e ficamos amigas; fazíamos chás em nossas casas, havia uma comunicação de culturas. O resultado foi excelente não só para elas, assim como para nós. Recebemos, também, muitíssimo. Aprendi muito com aquelas senhoras de outra cultura, de comunidades extremamente carentes, e fico gratificada de pensar que estávamos mais devolvendo do que entregando.

Mas, penso que a Marcha da Família simboliza a nossa atuação, na Revolução (Doutora Iedda Borges Falzoni e Doutora Maria Lucia Whitaker Vidigal, Tomo 7, pg. 359).

Obs.:

Em 2003, a Doutora Maria Lucia Whitaker Vidigal era a presidente da Liga das Senhoras Católicas, onde prestava assistência a mais de 4.500 pessoas. Trabalhou na TV Cultura como produtora e apresentadora, durante vinte anos.

F. Maier

 

RADIOAMADORES: O WHATSAPP DA ÉPOCA

“D. Iedda: Meu filho tinha entre 13 e 14 anos; morávamos em frente ao Palácio do Governo e quando saí disse:

- Henrique, você fica tomando conta da casa e o revólver está aqui; defenda a sua casa.

O meu marido era radioamador e o Exército perdera a confiança em alguns graduados, naquele momento. Então foram convocados os radioamadores para que fossem feitos os contatos; é bom lembrar que não havia esse boom de comunicação, como hoje. Os radioamadores, como qualquer empresa de radiofonia, receberam uma licença para operar. Eles não foram convidados, mas convocados para ajudar. Muitos, porém, se omitiram, alegando que seu equipamento não estava bom.

Lembro-me de meu marido até de madrugada transmitindo mensagens sigilosas, que ele não me deixava ouvir. Foi uma atuação muito grande. A Revolução levou só dois dias para vencer, mas devo dizer que foram dois dias de intensa vivência. Definiram um momento histórico que deve ser lembrado, constantemente” (Doutora Iedda Borges Falzoni, Tomo 7, pg. 358).

“Tivemos, também, o apoio dos radioamadores. Durante o deslocamento, o Coronel Faceda montou um PDR de radioamadores em Juiz de Fora e durante todo o deslocamento uma rede montada atuou como informante. Tínhamos informações de todo o movimento do Destacamento Cunha de Melo através dessa rede. Uma série de providências administrativas foram tomadas através da rede, por exemplo, alguns fogões de campanha não estavam funcionando a gasolina e sim com botijão de gás e, naquela época, variava conforme a empresa. E se fez o levantamento do tipo de botijão de gás etc., através dos radioamadores da rede e, daí, se pedia a subsistência: um caminhão com tantos botijões de gás de tal tipo para atender ao suprimento de tais Companhias. É interessante assinalar que isso em combate seria um caos. Se a linha de suprimento de fogões funcionava a gasolina e o subtenente macetoso botou o botijão de gás, que realmente era muito mais confortável, mas, em situação de campanha, qual era o gás? Como é que seria suprido? Isso é um ensinamento que tem que ser levado sempre em consideração” (Coronel Amaury Friese Cardoso, Tomo 10, pg. 359).

 

Obs.

Me ocorre o trabalho feito por jornais editados por militares aposentados, nas últimas décadas, como Letras em Marcha, Ombro a Ombro, Inconfidência – além de grupos similares como o Grupo Guararapes, Grupo Estácio de Sá, Grupo Anhanguera, Quero-Quero, Associação dos Militares da Reserva e Reformados (ASMIR) etc., que iniciaram um trabalho de conscientização da população nos tempos revanchistas dos governos FHC, Lula e Dilma, culminando na obra de Olavo de Carvalho, os quais tiveram o mérito de enfrentar o “pensamento único” das esquerdas nas universidades, nos meios artísticos, na mídia cada vez mais militante de esquerda – uma luta ainda longe para se chegar a um mero empate.

A trilogia de Olavo de Carvalho “A Nova Era e a Revolução Cultural: Fritjof Capra & Antonio Gramsci” (1994), “O Jardim das Aflições: de Epicuro à Ressurreição de César” (1995) e “O Imbecil Coletivo: Atualidades Inculturais Brasileiras” (1996),  junto com “O Mínimo Que Você Precisa Saber Para Não Ser Um Idiota” (2013) - 193 artigos de Olavo escritos entre os anos de 1997 e 2013, e organizados pelo jornalista Felipe Moura Brasil - é fundamental para se entender os últimos 50 anos do Brasil, em termos culturais, de pregação marxista em todos os setores da sociedade brasileira.

F. Maier


Bibliografia: 

MOTTA, Aricildes de Moraes ((coordenador geral). História Oral do Exército - 31 Março 1964. O Movimento Revolucionário e sua História. Em 15 Tomos. Biblioteca do Exército Editora, Rio de Janeiro, 2003.


Marcha da Família com Deus pela Liberdade


HISTÓRIA ORAL DO EXÉRCITO - 31 DE MARÇO DE 1964

Em 15 Tomos

Biblioteca do Exército Editora, Rio de Janeiro, 2003

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https://bdex.eb.mil.br/jspui/bitstream/123456789/7347/1/31_Marco_1964-Tomo-11.pdf 

Tomo 12

https://bdex.eb.mil.br/jspui/bitstream/123456789/7348/1/31_Marco_1964-Tomo-12.pdf 

Tomo 13

https://bdex.eb.mil.br/jspui/bitstream/123456789/7349/1/31_Marco_1964-Tomo-13.pdf 

Tomo 14

https://bdex.eb.mil.br/jspui/bitstream/123456789/7350/1/31_Marco_1964-Tomo-14.pdf 

Tomo 15

https://bdex.eb.mil.br/jspui/bitstream/123456789/7351/1/31_Marco_1964-Tomo-15.pdf