MEMORIAL 31 DE MARÇO DE 1964

MEMORIAL 31 DE MARÇO DE 1964
Avião que passou no dia 31 de março de 2014 pela orla carioca, com a seguinte mensagem: "PARABÉNS MILITARES: 31/MARÇO/64. GRAÇAS A VOCÊS, O BRASIL NÃO É CUBA." Clique na imagem para abrir MEMORIAL 31 DE MARÇO DE 1964.

quarta-feira, 29 de julho de 2020

Jerusalém, ó Jerusalém! - por Félix Maier


Jerusalém, ó Jerusalém!

por Félix Maier

11/10/2000


Acompanhando com tristeza o novo 'round' de violência entre israelenses e palestinos, a respeito da cidade eterna de Jerusalém, não posso deixar de me lembrar de uma viagem que fizemos a Israel, minha mulher, os dois filhos e eu, no ano de 1991.

Do Monte Scopus e do Monte das Oliveiras se tem a melhor vista da cidade velha de Jerusalém, toda cercada por muralhas, como nas cidades medievais. O Monte das Oliveiras já não faz mais juz ao nome. Poucas oliveiras são vistas no local. Aquela área faz parte da Jerusalém oriental, tomada dos árabes em 1967. Os camelôs do lugar fazem questão de só falar árabe, sentem-se ofendidos se alguém falar em hebraico e garantem que aquele território é palestino.

Do alto do Monte das Oliveiras vê-se o Vale do Cedron, onde na época de Cristo era um lugar imundo, com muito lixo e para onde eram mandados os leprosos. Vê-se uma das portas que dá acesso a Jerusalém, a Porta Dourada, que atualmente está lacrada. Segundo a tradição judia, o Messias irá entrar por aquela porta. Para impedir que isso aconteça, os árabes a fecharam...

Aos pés do Monte das Oliveiras fica um cemitério judeu. Os judeus pagam uma fortuna para serem enterrados naquele local, pois acreditam que quando o Messias chegar, no Juízo Final, serão os primeiros a ressuscitar.

Do Monte das Oliveiras vê-se em destaque, dentro da cidade velha de Jerusalém, a Mesquita de Omar, também conhecida como 'Domo da Rocha', com sua enorme cúpula dourada. O nome 'Mesquita de Omar' é incorreto. Na realidade, Omar Ibn Al-Khattab, o segundo califa, ao conquistar Jerusalém em 637, apenas identificou o local onde Maomé teria subido aos céus, segundo a tradição islâmica. Foi o califa Abdel Malik Ibn Marwan, em 691, quem realmente construiu a mesquita. Para isso, durante 7 anos ele mandou buscar tesouros egípcios para pagar o ouro da cúpula dourada. A Mesquita de Omar continua sendo uma das edificações mais belas em todo o mundo.

Tanto em Jerusalém, quanto no Sinai, vimos muitas viaturas brancas com a inscrição UN (United Nations), usadas pelas Nações Unidas em missão de peacekeeping (manutenção da paz).


Jerusalém, cidade sagrada de 3 religiões

'Se eu te esquecer, ó Jerusalém,
Que a minha mão fique seca!
Que a minha língua se prenda ao meu palato.
Se eu perder a tua lembrança,
Se eu não elevar Jerusalém
Ao cume de minha alegria'.
(Canto dos Filhos Exilados de Israel, Salmo 137)

'Ó Jerusalém, tu que matas os profetas
E lapidas aqueles que te são enviados,
Quantas vezes eu quis juntar os teus filhos
Como uma galinha junta
Os pintos debaixo das suas asas'.
(Jesus contemplando Jerusalém do Monte das Oliveiras - Mateus, 23,37)

'Ó Jerusalém, terra eleita de Alá e pátria
Dos seus servidores, foi dos teus muros
Que o mundo se tornou mundo.
Ó Jerusalém, o orvalho que cai sobre ti
Cura todos os males, pois vem
Dos jardins do Paraíso'.
(O Hadith, palavras do profeta Maomé)


Finalmente conhecemos de perto Yeurushalaym, em hebreu antigo a 'Cidade da Paz', a nossa Jerusalém e Jerusalém de todos os povos da terra, a cidade santificada pelas três religiões monoteístas - judia, cristã e islâmica -, reivindicada por dois povos e habitada por quinze comunidades. A história da Cidade Santa data de aproximadamente 3.000 anos atrás, quando o Rei Davi fez dela a sua Capital.

Entramos na Jerusalém antiga, cercada por muralhas, por sua porta principal, a Porta de Damasco. Tem este nome porque está voltada para a capital da Síria. Há, ao todo, 8 portas. Destacam-se, ainda, a Porta Nova e a Porta de Jafa, esta última voltada para o antigo porto de mesmo nome, hoje um subúrbio de Tel Aviv. A cidade velha é pequena, não passando de 4 km² de área dentro das muralhas.

Era uma sexta-feira, dia santificado para os muçulmanos, e pudemos ver uma enorme multidão de árabes que se comprimiam nas estreitas vielas da cidade antiga. Anunciando seus produtos aos gritos, com mil e uma quinquilharias, vendendo de tudo, de pão a cobra, é fascinante aquele genuíno mercado persa.

As ruelas são praticamente intransitáveis no quarteirão árabe. Avançamos com muita dificuldade por entre a multidão, filmando e fotografando tudo. Além do quarteirão árabe, a cidade é ainda dividida em quarteirões cristão, judeu e armênio. Compramos algumas lembranças em metal e em madeira - como uma escultura da Sagrada Família, em oliveira talhada -, além de algumas camisetas estampadas na hora. Percorremos as vielas da Via Crucis, o longo caminho de sofrimento de Cristo, até a Basílica do Santo Sepulcro, construída pelo imperador Constantino. No Santo Sepulcro pudemos ver onde Ele foi sepultado e uma rocha fendida nos lembra a ocorrência de um terremoto por ocasião da morte de Jesus. A Basílica é ricamente decorada em estilo ortodoxo grego e é grande o número de fiéis que lá acorrem. Aproveitamos para rezar e meditar sobre os mistérios de Deus ter-se tornado homem para morrer pela nossa salvação.

Fora do templo, os 'vendilhões' nos fizeram comprar um kipá, aquele chapeuzinho sem abas que os judeus colocam na cabeça para as orações, ou mesmo quando andam normalmente pelas ruas da cidade, como vimos muitas vezes.

Em vários pontos da cidade antiga podem ser vistas escavações arqueológicas, que comprovam as diferentes épocas da cidade milenar. Basta dizer que a antiga cidade de Jerusalém já foi destruída 17 vezes e reconstruída 18.

Passando pelos vários quarteirões, pudemos ver a diferença entre os mesmos, em matéria de higiene. No setor árabe, a multidão é compacta e existe muita sujeira. Em compensação, os árabes são joviais, querem nos vender qualquer coisa, provocam o jogo da pechincha - uma marca bem árabe. No setor judeu a limpeza é absoluta, mas o movimento de pessoas é reduzido. Carrancudos, os judeus não se importam se você vai comprar algum objeto com eles. Dizem os preços das coisas com uma total indiferença, como se fosse um grande sacrifício falar com o turista. Até parece que não precisam daquilo para viver.

O Muro das Lamentações foi um dos lugares que mais nos impressionaram em Jerusalém. Os rabinos, todos vestidos de negro, com aquelas tranças de cabelo enormes, orando em tom de lamento, balançando suas cabeças para a frente, para um lado e para outro, chorando a destruição do Templo Sagrado, provocam um sentimento de muito respeito. Com chapéus de abas largas ou com enormes gorros de pele, era fácil identificar a nacionalidade de muitos dos rabinos presentes no largo pátio e em frente ao Muro.

Após a destruição do Templo de Salomão por Nabucodonosor, um outro templo foi erguido por Herodes, o Grande. Esse Segundo Templo veio a ser destruído por Tito, em 70 de nossa era. O que sobrou desse Templo é a parede ocidental, conhecida como 'Muro das Lamentações'. Os judeus ortodoxos querem construir o Terceiro Templo no lugar do Primeiro, mas não podem porque os árabes construíram no local o que hoje se conhece como a Haram Ash-Sharif (Esplanada das Mesquitas), terceiro local mais sagrado do islamismo, onde se destacam as mesquitas de Al-Aksa e a de Omar. A cúpula da Mesquita de Omar ficou ainda mais brilhante em 1994, quando o Rei Hussein, da Jordânia, gastou 8 milhões de dólares para cobri-la com 85 kilos de ouro misturado com cobre e níquel. Como se sabe, mesmo após a Guerra de 1967, quando Israel tomou o restante de Jerusalém dos árabes, a wafd (custódia) da Haram Ash-Sharif continuou sendo da Jordânia. Além da Arábia Saudita, os palestinos de Yasser Arafat também querem ser os guardiães daquele sítio sagrado, assim como os mullahs (religiosos) iranianos. Os judeus ultra-ortodoxos querem destruir as mesquitas, jogando bombas e enormes blocos de pedra, do alto, a partir de helicópteros, para conseguir o espaço necessário para a construção do novo Templo.

O Muro das Lamentações tem o lado esquerdo reservado só para os homens, que devem cobrir suas cabeças, usando chapéus negros ou um kipá, que é emprestado na entrada. No outro lado, separado por uma cerca, só as mulheres têm acesso. As mulheres também devem cobrir suas cabeças com um lenço para ter acesso ao Muro. É comum se deixar um bilhete com algum pedido secreto nas frestas do Muro. Dizem que o pedido será atendido.

Jerusalém, que deveria ser a Cidade da Paz, apresenta um conflito insolúvel. Os judeus a fizeram sua capital, embora todos os países se façam representar por suas embaixadas em Tel Aviv. O Conselho Nacional Palestino - uma espécie de parlamento no exílio -, por sua vez, decretou, em 1988, Jerusalém como 'Al-Qods', em árabe 'A Santa', e capital de um Estado palestino, que compreenderia a Cisjordânia e a Faixa de Gaza. Os árabes têm em Jerusalém a Esplanada das Mesquitas, junto ao Muro das Lamentações e temem que os judeus destruam aquele que é o terceiro lugar mais santo do islã, para reconstruir um novo templo. Além disso, há o mundo cristão, que tem em Jerusalém alguns dos seus locais mais sagrados, como o Santo Sepulcro, a Capela da Ascensão, o Monte e o Horto das Oliveiras e a Via Crucis. A internacionalização de Jerusalém foi prevista pela ONU quando em 1947 fez a partilha da Palestina, dividindo o país em território judeu e palestino. Os judeus aceitaram a resolução da ONU, apesar das hostilidades do movimento sionista, porém os países árabes a recusaram totalmente, declarando guerra aos judeus.

Além disso, os judeus proclamam que a Terra Prometida lhes foi doada por Deus. Que isto está registrado nas Sagradas Escrituras. Os árabes, por sua vez, dizem que por causa da rebelião dos israelitas contra Moisés, durante a saída do Egito, tiveram como castigo o sofrimento de 40 anos no deserto do Sinai e, por isso, não têm mais o direito sobre a Palestina. O Corão é claro quando diz que 'um dia toda a Palestina será dos muçulmanos' (21: 106-113). Convém lembrar o lema dos grupos fundamentalistas islâmicos Hizbullah (Partido de Deus), no sul do Líbano, e Hamás (Entusiasmo), nos territórios ocupados por Israel: 'A guerra continuará até que Israel deixe de existir e até que o último judeu no mundo seja eliminado'.

Para que fosse efetivamente implantada a paz entre israelenses e palestinos, ambos os lados deveriam ceder um pouco. A ONU já tentou aplicar a máxima do Rei Salomão, o qual sugeriu partir uma criança ao meio, para solucionar a contenda entre duas mulheres que reclamavam o direito de ser a verdadeira mãe. Israel acha que é a mãe verdadeira, que Jerusalém lhe pertence. Que, por isso, deve ficar 'indivisível'. Os islâmicos reclamam a 'criança' pelos mesmos motivos. E a solução final parece estar cada vez mais distante, com nova rodada de sangue manchando o solo da Terra Santa.


A intolerância islâmica


'Com certeza, a religião verdadeira na estima de Alá é o Islamismo, isto é, completa submissão a Ele, e aqueles a quem foi dado o 'Livro' (judeus e cristãos) somente discordam em inveja mútua, após o conhecimento ter chegado a eles' (Corão 3: 20).

'Vós que credes, não tenhais os judeus e os cristãos como vossos amigos, pois eles são amigos uns dos outros. Se algum de vós os tiver como amigos, vireis a ser um deles' (Corão 5: 52).

Lendo os versículos corânicos acima, pode-se constatar a intolerância que há no islamismo, em relação às outras religiões. Por isso, talvez, o motivo de fundamentalistas islâmicos não aceitarem a convivência pacífica com outros credos religiosos. Porém, há uma brecha para o ecumenismo, se traduzirmos 'Alá' por 'Deus', como se segue:

'Seguramente, sobre os crentes (muçulmanos), os judeus, os cristãos e os sabeus (de Sabá, atual Iêmen), aqueles que verdadeiramente crêem em Deus e no Último Dia (Juízo Final) e agem retamente, terão a recompensa de seu Senhor e nenhum medo se apossará deles ou lhes afligirá' (Corão 2: 63).

Este último texto corânico, como afirma Mohamad Ahmad Abou Fares em seu livro 'Jesus Cristo na Visão de um Muçulmano', 'deixa patenteado que, qualquer que seja a seita, desde que se crê em Deus e no Juízo Final, e se pratiquem boas ações, as pessoas estarão a salvo: nada deverão temer, e nem ficarem apreensivos quanto à salvação'.

Como se pode constatar, depende do enfoque que um muçulmano faça ao ler seu livro sagrado para ele se posicionar frente às pessoas de outros credos. Poderá ser de uma intolerância absoluta ou de uma convivência amigável. Muitos fatos, ao longo dos tempos, mostram que a intolerância islâmica tem-se manifestado freqüentemente, como podemos comprovar nos episódios a seguir expostos.

Uma prova típica de intolerância é o observado na localização da Esplanada das Mesquitas, dentro dos muros da velha Jerusalém. Aquelas mesquitas impedem que, hoje, os judeus construam seu Terceiro Templo. Por que os muçulmanos foram construir as mesquitas justamente naquele lugar mais sagrado dos judeus, onde antigamente havia sido erigido o Templo de Salomão? Não seria o mesmo que, se a Arábia Saudita algum dia viesse a ser tomada por inimigos, e estes fizessem erguer seus templos justamente na praça onde fica a Caaba?

As muralhas da antiga Jerusalém tinham 8 portas que permitiam o ingresso das pessoas para o interior da cidade. Hoje, só 7 portas permitem o ingresso, pois uma foi lacrada, a Porta Dourada. Segundo a tradição judaica, um dia chegará o Messias, que irá entrar por aquela Porta. Para impedir que isso aconteça, os árabes lacraram a Porta Dourada com pedras...

Em Betânia, agora dentro da Grande Jerusalém, fica o túmulo de Lázaro. Para impedir que os peregrinos cristãos chegassem até aquele local, os árabes fecharam a entrada do túmulo, construindo uma mesquita em seu lugar. Posteriormente, um frade franciscano construiu um outro caminho, dentro da rocha, até as profundezas do túmulo, por onde os peregrinos hoje conseguem ter acesso até o seu interior.

O local onde - segundo a tradição cristã - Jesus subiu aos céus hoje comporta a Capela da Ascensão, que é na realidade uma pequena mesquita. Para a comemoração da Festa da Ascensão do Senhor, os cristãos recebem permissão para a celebração da missa e de outras cerimônias religiosas na Capela. Porém, enquanto os cristãos participam da festa, alto-falantes de outra mesquita, nas imediações, são colocados a volume máximo, tirando a concentração dos fiéis.

O leitor deve se lembrar do grave incidente que ocorreu depois que uma mesquita em Ayodhia, na Índia, foi incendiada por hindus, em 1992. Houve tumultos e depredações de templos hindus em todas as partes do mundo. Na realidade, os hindus estavam apenas querendo retomar o local onde antigamente havia um templo hindu, que marcava o local de nascimento do deus Rama, e que foi destruído para dar lugar à construção de uma mesquita.

Há poucos anos atrás, os muçulmanos construíram uma mesquita bastante próxima da Basílica de São Pedro, no Vaticano. O símbolo do hilal (lua-crescente) se fez representar, quase que lado a lado, junto a um dos maiores símbolos do cristianismo: a Igreja de Roma. Porém, será que os muçulmanos permitiriam que se construísse uma Igreja Católica ou algum templo protestante em Meca? Com certeza, isso eles jamais permitirão, pois os não-muçulmanos sequer têm autorização para ingressar naquela cidade. Mas eles se julgam no direito de construir templos onde bem desejarem, mesmo que seja em sítios sagrados de outras religiões - caso do Templo de Salomão em Jerusalém e do templo hindu na Índia. Como dizem alguns teólogos islâmicos, a parte do mundo governada por não-muçulmanos é um 'território de guerra'. Ou seja, território a ser conquistado.

Tomamos conhecimento das dificuldades dos aliados em convencer os sauditas a permitir a presença das forças ocidentais em seu território para combater Saddam Hussein, na Operação Tempestade no Deserto, para a retomada do Kuwait, em 1991. Muitas 'costuras' políticas foram feitas, muitas restrições superadas antes de permitirem o desembarque das tropas do general Schwarzkopf naquele território árabe. Certamente, eles só permitiram a presença dos 'infiéis' em seu país pela iminência de uma invasão iraquiana, o que Saddam poderia ter feito sem muita dificuldade, pois a Arábia Saudita não tinha força militar suficiente para impedir que isso viesse a ocorrer.

Um episódio narrado por John Laffin é contundente: 'Na Guerra Civil do Iêmen (1962-65), na qual tropas egípcias estavam envolvidas, dois egípcios, um copta e um muçulmano, ambos membros bem conhecidos de famílias de classe alta e amigos de longa data, ficaram feridos num mesmo combate. A guarnição do caminhão tinha ordens de recolher os muçulmanos antes dos cristãos. Assim, o muçulmano foi salvo e o cristão morreu no campo, provavelmente trucidado por tribos iemenitas' (in 'The Arab Mind').

Além dessa intolerância de muçulmanos contra não-muçulmanos, podemos acrescentar aquela violência de muçulmanos contra eles próprios, principalmente escritores e artistas que não se moldam nos ditames do islamismo ou que escrevem palavras julgadas ofensivas ao Corão.

Dentre as pessoas atingidas por essa intolerância podemos citar Salman Rushdie, um indiano naturalizado inglês, que escreveu o livro 'Versos Satânicos' e ocasionou a ira do Ayatollah Khomeiny. Rushdie foi condenado pela fatwa (decreto religioso) islâmica e sua cabeça posta a prêmio: 3 milhões de dólares para o muçulmano que tirar sua vida ou 1 milhão de dólares se o autor do crime for um não-muçulmano. Se estivéssemos na época da Inquisição, e se o Papa João Paulo II se valesse do mesmo rigor, o escritor Gore Vidal seria condenado à fogueira por ter escrito palavras blasfemas contra Cristo em seu livro 'Ao Vivo do Calvário'.

Outra pessoa perseguida é a escritora de Bangladesh, Taslima Nasrin, que fugiu de seu país e se refugiou na Suécia para escapar da perseguição de fundamentalistas islâmicos. Ela é acusada de distorcer o sentido do Alcorão ao propor direitos iguais entre homens e mulheres e de escrever temas relacionados a sexo, um tabu para as mulheres islâmicas.

Em junho de 1992, o escritor egípcio Farag Fouda foi morto por dois extremistas no Cairo e um porta-voz da Sociedade Islâmica, grupo fundamentalista do Irã, assim se pronunciou: 'Quem quer que advogue as idéias de Fouda merece ser morto de acordo com a norma do Islã'. E em 14 de outubro de 1994, o escritor egípcio Nobel de Literatura, Naguib Mahfouz - considerado a consciência do mundo árabe -, foi esfaqueado na garganta, após sofrer várias ameaças de morte por parte de fundamentalistas islâmicos. Seu romance 'Children of Gebelawi', pelo qual foi condenado à morte pelos zelotes islâmicos, passou a ser vendido 'como tortas quentes' - segundo afirmou o jornal Al-Ahram de 29 Dez 94 - 4 Jan 95.

Se levantarmos as guerras que hoje ocorrem no mundo, veremos que 50% ou mais delas são devido à intolerância islâmica. Seja em Israel, no Egito, na Argélia, no Sudão, no Kosovo, na Bósnia-Herzegovina, no Senegal, na Geórgia (ex-URSS), na Chechênia, na Inguchétia, na Nigéria, em Bangladesh, na Cachemira (Índia), na China, na Birmânia, na Indonésia ou nas Filipinas, há muita intolerância islâmica, seja para implantar um modelo de governo fundamentalista, seja para difundir focos guerrilheiros para criação de novos estados com orientação do Corão. A atrocidade observada contra o Timor Leste, de maioria católica, após o plebiscito de sua população optar pela autonomia do país, em 1999, foi tão cruel porque a Indonésia tem a maior população islâmica do planeta e, obviamente, não iria deixar barato a ousadia demonstrada pelos cristãos.

No Sudão, atualmente, o islã promove sistemática atrocidade contra cristãos e animistas, concentrados no sul do país, que são tratados e vendidos como escravos. A ONG Christian Solidarity International (CSI), com sede em Zurique, Suíça, que ajuda cristãos perseguidos no mundo todo, somente no período de 9 a 19 de março de 2000 libertou 4.968 pessoas, pagando ao Sudão em média 35 dólares por cabeça. De 1995 a 2000, a CSI libertou mais de 30.000 escravos, que eram submetidos a trabalho forçado, abuso sexual – incluindo extração das genitálias -, islamização forçada, além de maus tratos, pouca comida e insultos racistas. No início de 2000, mais de 100.000 cristãos e animistas continuavam escravizados no Sudão.


(Publicado em Nave da Palavra, site www.navedapalavra.com.br)
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Obs.: O autor viveu 2 anos no Egito e escreveu o livro Egito – uma viagem ao berço de nossa civilização, editado em 1995 pela Thesaurus (Brasília), onde há capítulos que tratam do islamismo e do conflito árabe-israelense.






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