Entrevista com o Coronel Ustra - 1a. Parte
por Félix Maier em 07 de junho de 2006
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Esta entrevista seria apenas para tratar do lançamento do mais novo livro do coronel reformado do Exército, Carlos Alberto Brilhante Ustra, "A Verdade Sufocada - A história que a esquerda não quer que o Brasil conheça". Porém, devido aos últimos acontecimentos, o enfoque realizado foi mais amplo. Na ante-véspera da abertura do "I Encontro Nacional por um Brasil Verde e Amarelo", realizado em Brasília nos dias 31 de março e 1º de abril de 2006, o coronel Ustra recebeu do Tribunal de Justiça de São Paulo uma intimação para se defender das acusações movidas pela Srª Maria Amélia Teles, do Movimento Tortura Nunca Mais, de que teria sido torturada perante os filhos em 1972. Nesta entrevista ao Mídia Sem Máscara, além de abordar tópicos do novo livro, o Coronel Ustra tem a oportunidade de se defender desta recente acusação.
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MSM - Coronel Ustra, qual é exatamente a acusação que a Srª Maria Amélia move contra o Sr.?
Coronel Ustra - Ela, o marido Cesar Teles e os dois filhos (AUTORES) movem contra mim (RÉU) uma “ação meramente declaratória de ocorrência de danos morais” para o fim de “declarar que o RÉU, por agir com dolo e cometer ato ilícito passível de reparação, causou danos morais e danos materiais à integridade física dos AUTORES".
Penso que o objetivo deles é conseguir uma indenização aos dois filhos do casal. Essas indenizações levaram muitos subversivos e terroristas a se declararem torturados. Não são necessárias provas, apenas declarações de companheiros para que a comissão dê ganho de causa aos requerentes. Sendo de esquerda, simpatizante, subversivo ou terrorista, é sempre causa ganha, mesmo que não existam as provas do que alegam.
No caso deles, além dos quatro citados, a irmã, Criméia, também entrou na ação. Uma família unida, cada um confirmando a versão do outro.
Já do outro lado, a situação é bem diferente. Vejam o caso do Orlando Lovecchio: falta-lhe parte de uma perna. Está ali a prova viva da agressão sofrida pela explosão de uma bomba no Consulado Americano, jogada pelos terroristas - inclusive um destes, que vive no exterior, foi indenizado com um milhão de reais. Lovechio, que além da perda da perna, perdeu seus sonhos e a carreira de piloto, até hoje pleiteia uma indenização.
MSM - A petista Bete Mendes levou 15 anos para acusá-lo de "torturador", na época em que o Sr. era Adido Militar no Uruguai. Por que será que só agora a Srª Maria Amélia faz essa denúncia, 34 anos depois de ela ter sido presa pelo DOI/CODI, em São Paulo?
Coronel Ustra - Por vários motivos: primeiro, pelo que já expus acima. Segundo, porque eles jamais vão nos perdoar de ter impedido a sonhada tomada do poder, na década de 60 e 70. Além disso, agora é a hora, eles estão no poder, estão dando as cartas. É preciso tirar o máximo de proveito possível.
Maria Amélia e o marido foram presos em um “aparelho de imprensa” do PCdoB, em dezembro de 1972. Na ocasião, estavam com eles os dois filhos do casal, uma menina de 5 anos e um menino de 4. Pais e filhos foram conduzidos para o DOI, já que as crianças não poderiam ficar sozinhas. Quando falei com os pais, senti que estavam preocupados quanto ao destino dos seus filhos. Perguntei se tinham algum parente em São Paulo que pudesse tomar conta deles. Responderam que as crianças tinham tios, creio que em Minas Gerais ou no Rio de Janeiro, não me recordo exatamente onde. Pedi o telefone desses parentes para avisá-los do que acontecia e perguntar se poderiam vir a São Paulo e apanhar os dois filhos do casal. O contato foi feito e esses familiares pediram alguns dias de prazo até poderem se deslocar à capital paulista. Decidi que enquanto aguardávamos a vinda dos tios, as crianças permaneceriam sob o cuidado do Juizado de Menores. Nesse momento, tanto Maria Amélia quanto César Augusto, imploraram que seus filhos não fossem para o Juizado. Uma policial militar que assistia o nosso diálogo se ofereceu para ficar com Janaina e Edson Luis, filhos de Maria Amélia e César Augusto, desde que estes concordassem com o oferecimento, o que foi aceito na hora pelo casal. Movido mais pelo coração do que pela razão, achei que essa era a melhor solução. As crianças foram levadas para a casa da agente e, para que não sentissem a falta dos pais, diariamente eram trazidas para ficar algum tempo com eles. Isso se repetiu até a chegada dos parentes. Nesse dia Janaina e Edson Luis foram entregues aos seus tios, na presença de seus pais.
Hoje, acusam-me de ter mantido as crianças presas e de tê-las submetido a torturas psicológicas e outra acusações impublicáveis. Por isso o pedido de indenização.
No meu primeiro livro, sem revanchismo narro o caso, sem citar nomes. No segundo, A verdade Sufocada, não escrevi sobre isso, pois acabara de publicar no Ternuma um artigo sobre o pedido de indenizações dos filhos de presos.
MSM - Não terá sido uma mera "coincidência" essa acusação aparecer exatamente na ante-véspera da abertura do "I Encontro", promovido pelo Ternuma Regional Brasília, grupo do qual o Sr. participa?
Coronel Ustra - Foi coincidência. A irmã de Maria Amélia, Criméia, mulher do filho do chefão da Guerrilha do Araguaia, Mauricio Grabois, estava na área de guerrilha no Araguaia quando ficou grávida. Ao contrário das outras guerrilheiras, que eram obrigadas a abortar, protegida pelo comandante da área foi mandada para São Paulo para ter o filho.
Presa em São Paulo, foi encaminhada para Brasília, onde teve seu filho, com todo apoio e assistência, no Hospital Militar. Teve, inclusive, a assistência da esposa do General Bandeira que na ocasião levou-lhe um pequeno enxoval.
No ano passado, no segundo semestre, esse filho de Criméia conseguiu uma indenização por ter estado “preso” em dependências militares. Apoiada na decisão da Comissão de Anistia, Maria Amélia, o marido, seus dois filhos e Criméia, resolveram entrar com essa ação declaratória contra mim, alegando tortura, prisão dos filhos, pois assim terão direito também a mais essa indenização.
Não contentes ainda, me acusam da morte de Carlos Danielli. Ele foi preso num “ponto”, entregue por Maria Amélia. Levada ao “ponto” Maria Amélia encontrou-se com Danielli que foi preso naquele momento. Depois de preso, ele “abriu” um “ponto de polícia”, onde tentou fugir e foi morto.
MSM - Será que essa acusação revanchista teve como objetivo contrapor-se ao lançamento de seu mais novo livro, "A Verdade Sufocada", realizado no Iate Clube de Brasília no dia 11 de abril de 2006, cuja obra já havia sido comentada pelo jornalista Elio Gaspari?
Coronel Ustra -Não creio. A ação começou em novembro e eu lancei o livro em março. Nada tem a ver com o livro e sim com a oportunidade do sucesso conseguido na ação do filho de Criméia. Dinheiro sempre é bom.
MSM - Além de tentar mantê-lo na defensiva e prejudicá-lo financeiramente com despesas de advogados, qual terá sido o real motivo de a Srª Maria Amélia só agora fazer tal denúncia?
Coronel Ustra - Por que agora? Porque a hora é essa.
MSM - Os "perseguidos políticos" sempre tiveram advogados de renome para defendê-los, como Luiz Eduardo Greenhalgh e Márcio Thomaz Bastos, para citar apenas dois nomes. Qual o apoio que o Sr. tem para se defender? Há algum advogado que se apresentou para abraçar sua defesa?
Coronel Ustra - Graças a Deus, consegui, através de amigos, um dos melhores advogados criminalistas de São Paulo.
MSM - O revanchismo socialista, iniciado por FHC e exacerbado pela atual "República dos Bandidos", já prejudicou a carreira de inúmeras pessoas, como o ministro Costa Leite, ao qual foi vetado candidatar-se a vice-presidente nas últimas eleições, por ter trabalhado para o SNI; o coronel Armando Avólio Filho, exonerado da Aditância militar em Londres, acusado de "torturador"; o general médico Ricardo Fayad Agnese, que foi exonerado por FHC do cargo de Sub-diretor de Saúde do Exército, pela mesma acusação sofrida por Avólio; o delegado da Polícia Federal João Batista Campelo, que não pôde ser empossado no cargo de diretor da PF, devido à mesma acusação. Afinal, para que serviu a Lei da Anistia?
Coronel Ustra - A Lei da Anistia serviu para eles não cumprirem as penas ou serem julgados pelos crimes que cometeram. Para nós existe a "Lei do Revanchismo", baseada em mentiras. Veja o caso do Coronel Avólio, para não citar outros. Ele jamais trabalhou no DOI, servia no PIC. Jamais interrogou um preso, no entanto, teve uma carreira brilhante interrompida por acusações mentirosas e por falta de apoio das autoridades da época.
MSM - O Sr. acredita que é o "primeiro da lista", que outros militares poderão ser processados e, quem sabe, até condenados, como ocorreu na Argentina e no Chile?
Coronel Ustra - É o que eles querem.
Entrevista com o Coronel Ustra - Final
Entrevista com o Coronel Ustra - Final
MSM - Devido ao excelente currículo militar, o Sr. foi agraciado com a nomeação para a Aditância Militar no Uruguai. O destino final normal de um adido é o generalato. O Sr. acha que foi prejudicado na promoção a general devido à acusação mentirosa de Bete Mendes?
Coronel Ustra - Não, não é bem assim. O generalato é uma conseqüência de vários fatores que são avaliados pelo Alto Comando. Não há como saber se eu seria promovido se não houvesse o escândalo Bete Mendes.
MSM - Qual o objetivo do seu mais novo livro, "A Verdade Sufocada", que o Sr. tempos atrás chamou de "Rompendo o Silêncio II", durante a fase da elaboração da obra?
Coronel Ustra - A minha real intenção foi mostrar aos que não viveram essa época e que estão com a "cabeça feita" por setores da mídia que endeusam os "heróis de hoje", a verdadeira história que aconteceu no Brasil.
MSM - Há algum trabalho de distribuição do seu novo livro? Como as livrarias estão se portando frente a "A Verdade Sufocada"? E a mídia, como recebeu a obra?
Coronel Ustra - A mídia, inicialmente ignorou o livro. Nem para falar mal... De início tive muita dificuldade. Mas, graças a Internet, a amigos, a jornalistas democratas, a venda do livro está sendo um sucesso. Em menos de 45 dias já vendi mais de 4.000 exemplares. No lançamento em Brasília foram 484 e no lançamento, em São Paulo, outros 1.225 livros. E, em conseqüência deste lançamento, no dia seguinte vendi mais 300. Agora, algumas livrarias já estão vendendo A Verdade Sufocada: a Livraria Nobel de São Paulo; a livraria Cultura em São Paulo, Porto Alegre, Brasília e Recife e a Livraria Saraiva que possui 33 livrarias no Brasil. E nós, continuamos vendendo pela internet, para o interior, onde as livrarias não têm filiais.
MSM - O que foi o "Projeto Orvil"?
Coronel Ustra -O "Projeto Orvil" foi um trabalho desenvolvido por oficiais do então Centro de Inteligência do Exército. Tinha por principal objetivo mostrar ao público a verdadeira história do combate à subversão. Seria a palavra oficial do Exército. Foi um trabalho profundo junto a delegacias, a arquivos do STM. Foram pesquisados milhares de documentos entre eles, declarações do próprio punho de presos, com confissões de crimes e delações de companheiros. Tenho cópias de parte desse material espalhadas com companheiros, até no exterior. Existe material para outro livro.
MSM - O Sr. considera que seu livro "A Verdade Sufocada", junto com "A Grande Mentira", de autoria do general Agnaldo Del Nero Augusto, é o "Orvil" atualizado e finalmente impresso?
Coronel Ustra – Não. Alguns dados do meu livro foram baseados no Orvil. Outros, na minha vivência como comandante do DOI. O general Del Nero foi o coordenador do Projeto Orvil.
MSM - O conceito de "indenização" foi se tornando cada vez mais elástico nos últimos anos, de sorte que o sertão da Bahia virou dependência policial (caso Lamarca), assim como as ruas de São Paulo (caso Marighela). Até o "perseguido político" Carlos Heitor Cony recebeu uma indenização milionária, de R$ 1,5 milhão, além de uma aposentadoria mensal equivalente ao salário de um ministro do STF. O Sr. tem idéia de quantos "desaparecidos", "perseguidos", "aparecidos" e familiares já receberam indenização do Estado brasileiro? E qual o valor dessas indenizações?
Coronel Ustra -Foram criadas tantas leis para beneficiar esse pessoal, que é difícil descrevê-las. Há leis que beneficiam os familiares dos mortos; há leis que beneficiam os que estiveram presos e que se dizem torturados; outras que beneficiam os que fugiram para o exterior, enfim leis para todos os gostos. Provavelmente as indenizações retroativas chegarão a mais de 4 bilhões de reais, fora as pensões mensais, algumas em torno de R$ 20 000,00. Ainda existem 28.000 pedidos a serem julgados. O próprio Fernando Henrique criticou a farra das indenizações, iniciada em seu governo e ampliada no governo Lula.
MSM - No "I Encontro", foi notada a presença do general Sylvio Ferreira da Silva, andando com dificuldade, apoiado em uma bengala, em conseqüência dos graves ferimentos que sofreu no atentado terrorista realizado no Aeroporto de Guararapes, em Recife, no dia 25 de julho de 1966, ocasião em que, além de mais de uma dezena de feridos, morreram o almirante Nelson Fernandes e o jornalista Edson Régis. Aquele ato marcou o início do terrorismo no Brasil. Essas vítimas ou suas famílias receberam algum tipo de indenização do Estado?
Coronel Ustra -Nenhum dos nossos feridos, cerca de 330 feridos gravemente, receberam indenização. Dos 120 mortos, em conseqüência dos atos terroristas, somente aos familiares de Mario Kozel Filho foi concedida uma pensão irrisória. Enquanto isso o Ministro da Justiça queria promover Apolônio de Carvalho a General e a Comissão deu à família de Lamarca uma pensão de coronel, pois ele se não tivesse desertado, poderia chegar ao posto de coronel. Já o Tenente Mendes, assassinado a mando de Lamarca, recebe a pensão de tenente. Não interessa que se ele não tivesse sido assassinado, poderia chegar ao posto de coronel. Dois pesos e duas medidas.
MSM - Há inúmeros "memoriais" construídos no País para lembrar a vida e a obra de terroristas e traidores da Pátria, como o "soviético" Luis Carlos Prestes e Carlos Marighela, o ideólogo do terror. Há algum projeto de construção de museu ou memorial para lembrar os crimes cometidos pelos terroristas no Brasil?
Coronel Ustra - Nesse governo, onde tivemos e ainda temos vários ex-subversivos, ex-terroristas em postos-chaves?
MSM - O objetivo principal traçado no "I Encontro" é trabalhar dia e noite para que Lula não seja reeleito, enfim, para que o "sapo barbudo" volte para o brejo de onde nunca deveria ter saído. Existe, porém, algum candidato palatável, já que todos os presidenciáveis se apresentam como sendo "de esquerda"?
Coronel Ustra -No Brasil ninguém se intitula de direita, como se isso fosse um erro imperdoável. Não temos portanto nenhum candidato que assuma essa lacuna. Temos que evitar que essa esquerda retrógrada continue no poder e que leve o país ao atraso e ao populismo.
MSM - Apesar das denúncias cada vez mais graves e numerosas contra o governo Lula, este consegue a proeza de subir ainda mais nas pesquisas eleitorais. Como o Sr. explica tal paradoxo? O brasileiro comum também se tornou mafioso, a exemplo do governo atual?
Coronel Ustra - Não, o brasileiro esclarecido não compactua com esse mar de lama. O problema é uma parcela do povo que não tem acesso a informações e que está sendo enganado com cestas básicas, vale-gás e outras migalhas que o governo oferece. O que o povo precisa é de educação, saúde e emprego. O que o povo precisa é desenvolvimento para gerar empregos e o cidadão se sentir valorizado pelo seu próprio trabalho. O povo não precisa de esmolas.
MSM - Fernando Collor caiu devido à falta de explicações para a compra de uma perua Fiat Elba. O governo petista, em seu objetivo "rumo ao socialismo", já desviou mais de R$ 1,2 bilhão, como o Sr. afirma em seu novo livro, à pg. 533, baseado em dados obtidos pelas CPIs. O filho de Lula recebeu uma bolada de R$ 15 milhões da Telemar, equivalente a mais ou menos 500 Fiat Elba. Por que a OAB e a ABI, que iniciaram processo de impeachment contra Collor, ainda não iniciaram processo semelhante contra o verdadeiro e único chefe do mensalão?
Coronel Ustra - Diferença crucial no atual momento brasileiro: Collor representava a "elite burguesa", como eles dizem e o Lula se passa por um representante dos pobres. Um era de direita e o outro se diz de esquerda.
MSM - Pode-se considerar Lula mais poderoso que Getúlio Vargas e Emílio Garrastazu Médici: não tendo contra si o desgaste de presidir uma "ditadura", tem o amplo e irrestrito apoio de "falanges" como a CUT, a UNE e o MST (considerado o "braço armado do PT"), além do apoio do próprio partido e dos partidos aliados, que realizam "passeatas a favor" do presidente, quando deveria ser o contrário. Por que essa situação surrealista ocorre no Brasil?
Coronel Ustra -Getúlio era populista e Lula também é, por isso o índice grande de popularidade dos dois.
Agora, Médici, apesar da "ditadura", do que dizem da repressão no seu governo, chegou a um índice de popularidade de 67%. Se fosse candidato a presidente seria reeleito, com grande margem de vantagem sobre qualquer candidato e sem o apoio de nenhum sindicato.
MSM - Quais foram os acertos e os erros da Contra-Revolução de 1964, que o Sr. defendeu honradamente, com risco da própria vida, recebendo, com justiça, a Medalha do Pacificador com Palma?
Coronel Ustra -Eu acho que o grande erro da Contra-Revolução de 1964 foi não ter feito uma eleição direta ainda no governo Médici. Outro erro, e esse a meu ver o mais grave, foi a falta de uma política de esclarecimento ao povo do porquê da Contra-Revolução de 1964. A falta de comunicação e o silêncio das autoridades fizeram com que gerações fossem tendo uma noção totalmente distorcida do que se passou no Brasil nesse período.
MSM - O que o Sr. diria aos mais jovens a respeito da história recente do Brasil, tão deturpada pelas esquerdas, que enaltecem Fidel Castro e Che Guevara nas escolas e satanizam as Forças Armadas que as combateram? Jovens esses tão ou mais desinformados que aquele general brasileiro que disse que o papel das Forças Armadas durante a Contra-Revolução iniciada em 1964, foi apenas uma "ação paralela", sem nenhuma importância?
Coronel Ustra - Eu diria aos jovens que se dêem a oportunidade de conhecer o outro lado da história. Que leiam, com isenção, o que dizem os dois lados.
E aos que conhecem a história verdadeira, que escrevam, contem suas vivências. Não podemos deixar que as mentes de nossos jovens sejam contaminadas por versões mentirosas, nem que eles se passem por defensores da democracia. O que eles queriam era nos impor pela força, um regime comunista nos moldes do que Fidel Castro impõe aos cubanos até os dias de hoje.
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BETE MENDES E AS SEQÜELAS DO SEU VENENO
Brasília, 27 de maio de 2002.
Senhores,
Todos os senhores sabem, com maior ou menor profundidade, que em 1985, as injúrias e o ódio destilados por Bete Mendes que resolveu dar vazão aos seus sentimentos de vingança, utilizando-se do meu nome para atingir o Exército Brasileiro, causaram danosa repercussão, que o Brasil todo testemunhou, em um momento político em que se buscava a consolidação da democracia.
Agora, ainda na crença de que o mal por si estaria destruído, fui surpreendido, por meio da Internet, com o nome Bete Mendes ligado a um documentário encomendado pelo Exército Brasileiro e narrado por essa senhora. Perplexo e na busca de esclarecer uma situação que se nos parecia inacreditável, expedi alguns "e-mails", para um grupo restrito de amigos pessoais, solicitando maiores esclarecimentos de quem, porventura, os detivesse. Ao receber as inúmeras respostas agradeci a todos a solidariedade.
O veneno das calúnias de Bete Mendes, porém, ainda se revelou potente e capaz de provocar seqüelas, tantos anos depois de inoculado. Com o mesmo espanto, recebi correspondência do Chefe do Centro de Comunicação Social do Exército, em que, se sentindo atingido por eu ter feito circular na Internet considerações julgadas inadequadas ao CComSEx e em última análise, ao Exército, pede-me que divulgue sua carta.
Atendendo a solicitação do Exmo Sr Gen Div Luiz Cesário da Silveira Filho, Chefe do CcomSEx, divulgo a carta recebida e a seguir minha resposta ao Exmo Sr General.
CARLOS ALBERTO BRILHANTE USTRA.
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MINISTÉRIO DA DEFESA
EXÉRCITO BRASILEIRO
GABINETE DO COMANDANTE
CENTRO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL DO EXÉRCITO
Brasília-DF, 24 de maio de 2002.
Prezado Coronel
Com profundo desagrado, tomei conhecimento do conteúdo do e-mail, retransmitido por V Sa, assinado por pessoa que se identifica como "Sostenes", a qual, a pretexto de criticar matéria divulgada no portal oficial do Exército Brasileiro na Internet, conclui o arrazoado com a seguinte exortação aos seus destinatários: "Vamos protestar junto ao General Chefe do CCOMSEX, ou engolimos mais essa traição?"
O signatário da afronta, certamente pessoa de seu círculo de amizades, não obstante a impertinência da afirmação, faz uso da técnica condenável, tão utilizada pelos comunistas, de veicular meias-verdades para desinformar, induzindo que o Exército Brasileiro, por intermédio de seu principal órgão de divulgação institucional, estaria fazendo apologia de pessoa que, no passado, combateu a Instituição e os valores que todos nós defendemos.
A atriz, cuja simples menção ao nome tanto "frisson" causou no emissor da mensagem, foi contratada pelos produtores para narrar o documentário "A Cobra Fumou", divulgado em sessão especial no Quartel-General do Exército para público seleto, que incluiu o Sr Comandante do Exército. A obra procura resgatar a heróica e pouco conhecida saga de nossos pracinhas da Força Expedicionária Brasileira durante a Segunda Guerra Mundial. Essa tentativa de resgate preenche uma lacuna que também a nossa Força está procurando suprir com a criação do projeto "História Oral", de concepção do Centro de Comunicação Social do Exército (CCOMSEX) e de responsabilidade da Diretoria de Assuntos Culturais do Exército.
A julgar pelo conteúdo exagerado do e-mail, quero crer que V. Sa. e as pessoas que o retransmitiram condenam a associação do Exército Brasileiro à divulgação de tão importante documentário - produzido com recursos extra-Instituição - apenas por causa da pessoa selecionada para narrá-lo! A escolha da narradora foi de inteira responsabilidade dos produtores da obra. A citação de seu nome na nota de divulgação do filme disponível no portal eletrônico do Exército na Internet, embora também não nos agrade, é impositiva pela obediência a normas de propriedade intelectual. Não há, por exemplo, como negar a Karl Marx a autoria de O Capital, nem a Carlos Marighella a de seu Minimanual do Guerrilheiro Urbano, obras que tanto renegamos, por contrárias à nossa índole e aos nossos valores.
Por oportuno, cabe relembrar a V. Sa. e a seus amigos que o atual Comando do Exército – ao qual o CCOMSEX tem a honra de assessorar -, vem, com veemência cívica, desassombradamente, a cada 31 de março, divulgando, pelo Noticiário do Exército e pela Internet, menções ao inesquecível Movimento Cívico-Militar de 1964 como "A história que não se apaga nem se reescreve", com repercussões favoráveis no Brasil e no exterior, cujas cópias estou remetendo a V. Sa.
A democracia de que hoje desfrutamos é filha dileta do vitorioso Movimento de 1964 que, uma vez consolidado, permite hoje o convívio dos contrários. Aquela quadra conturbada da vida nacional também está sendo registrada pelo projeto "História Oral" acima referido, em benefício do qual V Sa, como importante agente da nossa vitória, já legou, para a posteridade, seu imprescindível testemunho.
Tenha V. Sa. a convicção de que não serão manifestações desautorizadas e prenhes de desconhecimento que nos intimidarão, fazendo-nos esmorecer na perseguição diuturna, honesta e criteriosa, de nosso objetivo de tornar o Exército mais conhecido. Os resultados que o CCOMSEX vem obtendo são alentadores; seja projetando uma imagem favorável da Instituição no seio da sociedade brasileira - o que vem sendo conseguido, haja vista os elevados índices de credibilidade obtidos em pesquisas realizadas por institutos abalizados - seja defendendo, com firmeza, nossas posições do passado e do presente, como atestam os muitos documentos emitidos por este Centro, entre os quais remeto os que tratam da Guerrilha do Araguaia e da invasão de uma instalação de Inteligência em Marabá (PA).
Cabe ainda salientar, em meu caso pessoal, que, na condição de cadete do 3o ano da Academia Militar das Agulhas Negras, tive a honra de participar da Revolução Democrática de 1964. Arriscava, dessa forma, o sonho da carreira de oficial do Exército Brasileiro, ainda não conquistado, caso o Movimento não tivesse sido vitorioso. Mas o fiz com firmeza baseada nas convicções de honradez e brasilidade que têm pautado minha carreira até os dias atuais.
Assim, repudio, com veemência, o uso da expressão "mais essa traição" pelo signatário da mensagem referindo-se ao CCOMSEX - que tenho a honra de chefiar - e à minha pessoa, o que configura, além de flagrante injustiça, total desconhecimento do trabalho que vem sendo feito por este Centro em prol da preservação e do engrandecimento do patrimônio afetivo de nosso Exército, e que ainda tenta atingir, no meu caso, mais de quarenta anos de serviço inteiramente dedicados ao Exército e à Pátria.
Esperando que V Sa, com a dignidade que, tenho certeza, orna o seu caráter e já tendo sido vítima de injusta campanha difamatória, divulgue esse desagravo com o mesmo furor da supracitada mensagem eletrônica, subscrevo-me,
Atenciosamente,
Gen Div Luiz Cesário da Silveira Filho
Chefe do Centro de Comunicação Social do Exército
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RESPOSTA DO CORONEL CARLOS ALBERTO BRILHANTE USTRA AO
Exmo Sr. GENERAL LUIZ CESÁRIO DA SILVEIRA FILHO – CHEFE DO CComSEx
Brasília-DF, 27 de maio de 2002.
Prezado General
Também foi com profundo pesar, confesso, que tomei conhecimento, por meio de muitos e-mails - alguns inclusive com cópias que foram enviadas a esse Centro de Comunicação Social -, que o Portal Oficial do Exército noticiava a apresentação de documentário sobre a gloriosa campanha dos nossos soldados da FEB, tendo como narradora Bete Mendes, a "Rosa", da organização terrorista Var-Palmares.
Vários e-mails foram recebidos. De militares do Exército, da Marinha, da Aeronáutica e de muitos civis. Alguns desses internautas, nem os conheço. Outros são amigos. Todos resolveram se comunicar comigo, via Internet, porque essa tal senhora, em 1985 e em outras ocasiões, tentou, usando-me como instrumento, caluniar o Exército Brasileiro. Entendo, como tentativa de atingir o Exército o fato de que todas as mentiras por ela relatadas em cartas aos jornais, entrevistas na TV e depoimentos no Congresso se referiam a "feitos" que, segundo sua farsa caluniosa, ao gosto dos derrotados na guerra interna, teriam ocorrido em uma dependência da Instituição (DOI/CODI/II EXÉRCITO).
Os ofendidos - eu e o Exército -, entretanto, continuamos com nossa relação de mútuo apreço e de estreita comunhão. Apesar de "responsável" por todos os fatos assacados por "Rosa", continuei a merecer do Exército o mesmo prestígio e consideração de toda uma carreira, como são testemunhas as minhas destacadas promoções, as várias condecorações que recebi e as honrosas comissões a mim confiadas.
Malgrado as pressões de uma esquerda revanchista, para a minha exoneração das funções de Adido do Exército, junto à Embaixada do Brasil em Montevidéu, Uruguai, o Ministro do Exército na época, General Leônidas Pires Gonçalves, prestigiou-me no cargo até o último dia previsto para o término da minha missão.
Quanto à impertinência da afirmação, creio que, embora não tenhamos, eu e os autores dos e-mails, procuração para defender o Exército, nos sentimos indignados com a tácita aceitação dessa criatura, que, até então, informalmente recebia tratamento pouco lisonjeiro pelo Exército. Quando muito, ao nosso ver, a referida senhora mereceria ter o seu nome citado nos noticiários da nossa Instituição como a "Rosa" da Var-Palmares.
Senhor General, não usamos técnicas comunistas, tentando veicular meias verdades. Usamos os meios modernos de comunicação para noticiar o fato de o Exército ter aceitado, como participante do documentário, uma detratora da nossa Instituição.
O "frisson" que causou a simples menção do nome de Bete Mendes deve-se aos fatos acima narrados e expressa justa e sentida repulsa de homens que têm, imorredouramente, o verde-oliva nos seus corações. Antes de ensejar apressada desatenção, deve merecer respeito por advir de irmãos de armas e de ideais, todos calejados pelos embates de uma vida de devotamento.
Será que a aludida profissional de narração não foi contratada pelos produtores, como V. Exa diz, com a intenção premeditada de demonstrar que o Exército nada tem contra Bete Mendes? Com isso, os fatos que ela inventou não alcançariam maior credibilidade? A sua aceitação como narradora do documentário não poderia parecer como cabal acatamento pelo Exército da sua versão caluniosa, apesar de ela ter sido desmentida e desmoralizada no livro Rompendo o Silêncio que escrevi?
Estas sim, Senhor General, são técnicas comunistas.
E se os produtores tivessem contratado como narrador o ex-terrorista Carlos Eugênio Sarmento Coelho da Paz (Clemente), da ALN, que confessou em torno de dez assassinatos, inclusive o de um capitão do Exército? Ou Hélio da Silva (Nadinho) da Var-Palmares (Organização terrorista de Bete Mendes), que assassinou David A. Cutheberg, 19 anos, marinheiro de uma Flotilha Inglesa que visitava o Rio de Janeiro, morto somente porque representava um "país imperialista"? O Exército os teria aceitado como narradores? E Bete Mendes, denegridora da imagem do Exército, que integrou o Setor de Inteligência do Comando Regional da Var-Palmares, em São Paulo, não foi no mínimo conivente com as ações terroristas realizadas por sua organização?
Em nenhum momento, Senhor General, os nossos e-mails condenam a associação do Exército Brasileiro aos produtores da obra para a divulgação de tão importante documentário. Os nossos pracinhas há muito tempo mereciam essa homenagem. No entanto, os próprios ex-combatentes, que tanto fizeram pelo Brasil e pelo Exército, certamente teriam, se consultados, escolhido outro profissional para narrar os seus feitos heróicos e pronunciar os seu nomes.
Temos acompanhado o trabalho do CComSEx e já tínhamos lido as notas que VExa nos enviou. A nota sobre a Guerrilha do Araguaia, a nosso ver, foi magnífica.
Realmente, Senhor General, a democracia que desfrutamos é filha dileta, usando suas palavras, do Movimento de 1964, que, uma vez consolidado, em grande parte por nossa luta contra o terrorismo, deveria recomendar o convívio dos contrários. O que acontece, no entanto, é que, cada vez mais, nós "engulimos" os contrários. São ex-terroristas que chegam a ministro, assassinos que moldam as mentes de nossos filhos e netos em faculdades, ex-assaltantes de bancos que são secretários de estado, e subversivos que, cada vez mais, são chamados a exercer cargos públicos, enquanto que os nossos...
Para nós, militares das Forças Armadas, integrantes da Polícia Federal e das polícias civil e militar dos Estados, que defendemos o Brasil, que lutamos contra a subversão e o terrorismo, tem sobrado apenas a calúnia e a difamação nos jornais, até sermos demitidos dos cargos que ocupamos.
Para eles, polpudas indenizações, porque mataram, assaltaram, seqüestraram. Os familiares dos seus mortos, todos indenizados!...
Veja os nossos mortos, Senhor General! Estão esquecidos!
Terá, hoje, o Exército Brasileiro uma relação atualizada, completa, e, de quando em quando lembrada pelo menos em cerimônias oficiais, dos militares das Forças Armadas e dos policiais civis e militares que, cumprindo ordens dos Comandantes Militares de Área, deram a sua vida em confronto com os terroristas?
E os feridos, civis e militares, receberam alguma indenização ou apreço?
E as famílias de nossos mortos, civis e militares, também não teriam que ser indenizadas? Eles não morreram defendendo o Estado Democrático?
E a Democracia, que hoje vivenciamos, não foi conseguida com o sangue que eles derramaram? Não evitaram eles, com o sacrifício de suas vidas, que o Brasil tivesse se tornado uma imensa Cuba?
Que convívio de contrários é este, Senhor General? É unilateral? Só nós temos que ceder? Exatamente por ser um agente do glorioso movimento de 1964 sei que a paz que o País teve até agora deve-se à dedicação de homens que arriscaram as suas vidas e a tranqüilidade de suas famílias, para que hoje o Brasil não fosse um país igual à Colômbia.
Infelizmente, no momento, temos de novo a nossa "FARC" se agrupando... Se preparando...
Não estamos prenhes de desconhecimentos, nem desejamos ser os depositários da verdade absoluta, nem somos radicais do politicamente incorreto. Sabemos que, muito menos, recebemos procuração para defender o Exército. Nem de longe, também, temos a intenção e poder para intimidar quem quer que seja.
Torcemos para que VExa não esmoreça na perseguição diuturna e criteriosa de tornar o Exército Brasileiro cada vez mais conhecido e respeitado. Nós queremos continuar a nos orgulhar dele!
Alegro-me que o senhor, ainda como cadete, tenha participado da Revolução de 1964 baseado nas suas convicções de honradez e brasilidade, sem perniciosa preocupação com carreirismos ou com as conseqüências de uma eventual derrota daquele sagrado movimento. Como no seu caso, sempre me pautei pelos mesmos sacrossantos princípios, razão por que recebo as suas considerações não como ensinamentos ou paradigmas, porém, como lembranças de objetivos e caminhos comuns a nós dois. Entendo o seu repúdio ao uso da expressão "mais essa traição". Deve ter sido escrita, por tudo o que foi exposto, num momento de frustração, de desilusão, ao ver a "Rosa" prestigiada, dentro de nossa ótica, narrando tão gloriosa campanha. Senhor General, não se sinta atingido nos seus mais de quarenta anos de brilhantes serviços. Em nenhum momento tivemos a intenção de atingir a sua pessoa. Acreditamos mais que o mediador dessa obra tenha sido envolvido em uma das técnicas comunistas.
Quanto ao furor a que V. Exa se refere pela divulgação que fiz das mensagens, trata-se, apenas, do impulso emocionado de um homem caluniado e difamado, para agradecer às muitas pessoas conhecidas e desconhecidas pela solidariedade amiga, nem sempre recebida.
Finalmente, uso da mesma emoção, talvez mais intensa, para, atendendo à solicitação de VExa, publicar o seu desagravo, juntamente com o de todos aqueles que se sentiram desiludidos com a deferência dada a "Rosa", da VAR-PALMARES.
Respeitosamente,
Carlos Alberto Brilhante Ustra
Obs.: Carlos Alberto Brilhante Ustra é coronel reformado do Exército. Autor dos livros "Rompendo o Silêncio" (1987) e "A Verdade Sufocada - A história que a esquerda não quer que o Brasil conheça" (2006), o coronel é membro da ONG Terrorismo Nunca Mais (Ternuma) - www.ternuma.com.br.
Brasília, 27 de maio de 2002.
Senhores,
Todos os senhores sabem, com maior ou menor profundidade, que em 1985, as injúrias e o ódio destilados por Bete Mendes que resolveu dar vazão aos seus sentimentos de vingança, utilizando-se do meu nome para atingir o Exército Brasileiro, causaram danosa repercussão, que o Brasil todo testemunhou, em um momento político em que se buscava a consolidação da democracia.
Agora, ainda na crença de que o mal por si estaria destruído, fui surpreendido, por meio da Internet, com o nome Bete Mendes ligado a um documentário encomendado pelo Exército Brasileiro e narrado por essa senhora. Perplexo e na busca de esclarecer uma situação que se nos parecia inacreditável, expedi alguns "e-mails", para um grupo restrito de amigos pessoais, solicitando maiores esclarecimentos de quem, porventura, os detivesse. Ao receber as inúmeras respostas agradeci a todos a solidariedade.
O veneno das calúnias de Bete Mendes, porém, ainda se revelou potente e capaz de provocar seqüelas, tantos anos depois de inoculado. Com o mesmo espanto, recebi correspondência do Chefe do Centro de Comunicação Social do Exército, em que, se sentindo atingido por eu ter feito circular na Internet considerações julgadas inadequadas ao CComSEx e em última análise, ao Exército, pede-me que divulgue sua carta.
Atendendo a solicitação do Exmo Sr Gen Div Luiz Cesário da Silveira Filho, Chefe do CcomSEx, divulgo a carta recebida e a seguir minha resposta ao Exmo Sr General.
CARLOS ALBERTO BRILHANTE USTRA.
***
MINISTÉRIO DA DEFESA
EXÉRCITO BRASILEIRO
GABINETE DO COMANDANTE
CENTRO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL DO EXÉRCITO
Brasília-DF, 24 de maio de 2002.
Prezado Coronel
Com profundo desagrado, tomei conhecimento do conteúdo do e-mail, retransmitido por V Sa, assinado por pessoa que se identifica como "Sostenes", a qual, a pretexto de criticar matéria divulgada no portal oficial do Exército Brasileiro na Internet, conclui o arrazoado com a seguinte exortação aos seus destinatários: "Vamos protestar junto ao General Chefe do CCOMSEX, ou engolimos mais essa traição?"
O signatário da afronta, certamente pessoa de seu círculo de amizades, não obstante a impertinência da afirmação, faz uso da técnica condenável, tão utilizada pelos comunistas, de veicular meias-verdades para desinformar, induzindo que o Exército Brasileiro, por intermédio de seu principal órgão de divulgação institucional, estaria fazendo apologia de pessoa que, no passado, combateu a Instituição e os valores que todos nós defendemos.
A atriz, cuja simples menção ao nome tanto "frisson" causou no emissor da mensagem, foi contratada pelos produtores para narrar o documentário "A Cobra Fumou", divulgado em sessão especial no Quartel-General do Exército para público seleto, que incluiu o Sr Comandante do Exército. A obra procura resgatar a heróica e pouco conhecida saga de nossos pracinhas da Força Expedicionária Brasileira durante a Segunda Guerra Mundial. Essa tentativa de resgate preenche uma lacuna que também a nossa Força está procurando suprir com a criação do projeto "História Oral", de concepção do Centro de Comunicação Social do Exército (CCOMSEX) e de responsabilidade da Diretoria de Assuntos Culturais do Exército.
A julgar pelo conteúdo exagerado do e-mail, quero crer que V. Sa. e as pessoas que o retransmitiram condenam a associação do Exército Brasileiro à divulgação de tão importante documentário - produzido com recursos extra-Instituição - apenas por causa da pessoa selecionada para narrá-lo! A escolha da narradora foi de inteira responsabilidade dos produtores da obra. A citação de seu nome na nota de divulgação do filme disponível no portal eletrônico do Exército na Internet, embora também não nos agrade, é impositiva pela obediência a normas de propriedade intelectual. Não há, por exemplo, como negar a Karl Marx a autoria de O Capital, nem a Carlos Marighella a de seu Minimanual do Guerrilheiro Urbano, obras que tanto renegamos, por contrárias à nossa índole e aos nossos valores.
Por oportuno, cabe relembrar a V. Sa. e a seus amigos que o atual Comando do Exército – ao qual o CCOMSEX tem a honra de assessorar -, vem, com veemência cívica, desassombradamente, a cada 31 de março, divulgando, pelo Noticiário do Exército e pela Internet, menções ao inesquecível Movimento Cívico-Militar de 1964 como "A história que não se apaga nem se reescreve", com repercussões favoráveis no Brasil e no exterior, cujas cópias estou remetendo a V. Sa.
A democracia de que hoje desfrutamos é filha dileta do vitorioso Movimento de 1964 que, uma vez consolidado, permite hoje o convívio dos contrários. Aquela quadra conturbada da vida nacional também está sendo registrada pelo projeto "História Oral" acima referido, em benefício do qual V Sa, como importante agente da nossa vitória, já legou, para a posteridade, seu imprescindível testemunho.
Tenha V. Sa. a convicção de que não serão manifestações desautorizadas e prenhes de desconhecimento que nos intimidarão, fazendo-nos esmorecer na perseguição diuturna, honesta e criteriosa, de nosso objetivo de tornar o Exército mais conhecido. Os resultados que o CCOMSEX vem obtendo são alentadores; seja projetando uma imagem favorável da Instituição no seio da sociedade brasileira - o que vem sendo conseguido, haja vista os elevados índices de credibilidade obtidos em pesquisas realizadas por institutos abalizados - seja defendendo, com firmeza, nossas posições do passado e do presente, como atestam os muitos documentos emitidos por este Centro, entre os quais remeto os que tratam da Guerrilha do Araguaia e da invasão de uma instalação de Inteligência em Marabá (PA).
Cabe ainda salientar, em meu caso pessoal, que, na condição de cadete do 3o ano da Academia Militar das Agulhas Negras, tive a honra de participar da Revolução Democrática de 1964. Arriscava, dessa forma, o sonho da carreira de oficial do Exército Brasileiro, ainda não conquistado, caso o Movimento não tivesse sido vitorioso. Mas o fiz com firmeza baseada nas convicções de honradez e brasilidade que têm pautado minha carreira até os dias atuais.
Assim, repudio, com veemência, o uso da expressão "mais essa traição" pelo signatário da mensagem referindo-se ao CCOMSEX - que tenho a honra de chefiar - e à minha pessoa, o que configura, além de flagrante injustiça, total desconhecimento do trabalho que vem sendo feito por este Centro em prol da preservação e do engrandecimento do patrimônio afetivo de nosso Exército, e que ainda tenta atingir, no meu caso, mais de quarenta anos de serviço inteiramente dedicados ao Exército e à Pátria.
Esperando que V Sa, com a dignidade que, tenho certeza, orna o seu caráter e já tendo sido vítima de injusta campanha difamatória, divulgue esse desagravo com o mesmo furor da supracitada mensagem eletrônica, subscrevo-me,
Atenciosamente,
Gen Div Luiz Cesário da Silveira Filho
Chefe do Centro de Comunicação Social do Exército
***
RESPOSTA DO CORONEL CARLOS ALBERTO BRILHANTE USTRA AO
Exmo Sr. GENERAL LUIZ CESÁRIO DA SILVEIRA FILHO – CHEFE DO CComSEx
Brasília-DF, 27 de maio de 2002.
Prezado General
Também foi com profundo pesar, confesso, que tomei conhecimento, por meio de muitos e-mails - alguns inclusive com cópias que foram enviadas a esse Centro de Comunicação Social -, que o Portal Oficial do Exército noticiava a apresentação de documentário sobre a gloriosa campanha dos nossos soldados da FEB, tendo como narradora Bete Mendes, a "Rosa", da organização terrorista Var-Palmares.
Vários e-mails foram recebidos. De militares do Exército, da Marinha, da Aeronáutica e de muitos civis. Alguns desses internautas, nem os conheço. Outros são amigos. Todos resolveram se comunicar comigo, via Internet, porque essa tal senhora, em 1985 e em outras ocasiões, tentou, usando-me como instrumento, caluniar o Exército Brasileiro. Entendo, como tentativa de atingir o Exército o fato de que todas as mentiras por ela relatadas em cartas aos jornais, entrevistas na TV e depoimentos no Congresso se referiam a "feitos" que, segundo sua farsa caluniosa, ao gosto dos derrotados na guerra interna, teriam ocorrido em uma dependência da Instituição (DOI/CODI/II EXÉRCITO).
Os ofendidos - eu e o Exército -, entretanto, continuamos com nossa relação de mútuo apreço e de estreita comunhão. Apesar de "responsável" por todos os fatos assacados por "Rosa", continuei a merecer do Exército o mesmo prestígio e consideração de toda uma carreira, como são testemunhas as minhas destacadas promoções, as várias condecorações que recebi e as honrosas comissões a mim confiadas.
Malgrado as pressões de uma esquerda revanchista, para a minha exoneração das funções de Adido do Exército, junto à Embaixada do Brasil em Montevidéu, Uruguai, o Ministro do Exército na época, General Leônidas Pires Gonçalves, prestigiou-me no cargo até o último dia previsto para o término da minha missão.
Quanto à impertinência da afirmação, creio que, embora não tenhamos, eu e os autores dos e-mails, procuração para defender o Exército, nos sentimos indignados com a tácita aceitação dessa criatura, que, até então, informalmente recebia tratamento pouco lisonjeiro pelo Exército. Quando muito, ao nosso ver, a referida senhora mereceria ter o seu nome citado nos noticiários da nossa Instituição como a "Rosa" da Var-Palmares.
Senhor General, não usamos técnicas comunistas, tentando veicular meias verdades. Usamos os meios modernos de comunicação para noticiar o fato de o Exército ter aceitado, como participante do documentário, uma detratora da nossa Instituição.
O "frisson" que causou a simples menção do nome de Bete Mendes deve-se aos fatos acima narrados e expressa justa e sentida repulsa de homens que têm, imorredouramente, o verde-oliva nos seus corações. Antes de ensejar apressada desatenção, deve merecer respeito por advir de irmãos de armas e de ideais, todos calejados pelos embates de uma vida de devotamento.
Será que a aludida profissional de narração não foi contratada pelos produtores, como V. Exa diz, com a intenção premeditada de demonstrar que o Exército nada tem contra Bete Mendes? Com isso, os fatos que ela inventou não alcançariam maior credibilidade? A sua aceitação como narradora do documentário não poderia parecer como cabal acatamento pelo Exército da sua versão caluniosa, apesar de ela ter sido desmentida e desmoralizada no livro Rompendo o Silêncio que escrevi?
Estas sim, Senhor General, são técnicas comunistas.
E se os produtores tivessem contratado como narrador o ex-terrorista Carlos Eugênio Sarmento Coelho da Paz (Clemente), da ALN, que confessou em torno de dez assassinatos, inclusive o de um capitão do Exército? Ou Hélio da Silva (Nadinho) da Var-Palmares (Organização terrorista de Bete Mendes), que assassinou David A. Cutheberg, 19 anos, marinheiro de uma Flotilha Inglesa que visitava o Rio de Janeiro, morto somente porque representava um "país imperialista"? O Exército os teria aceitado como narradores? E Bete Mendes, denegridora da imagem do Exército, que integrou o Setor de Inteligência do Comando Regional da Var-Palmares, em São Paulo, não foi no mínimo conivente com as ações terroristas realizadas por sua organização?
Em nenhum momento, Senhor General, os nossos e-mails condenam a associação do Exército Brasileiro aos produtores da obra para a divulgação de tão importante documentário. Os nossos pracinhas há muito tempo mereciam essa homenagem. No entanto, os próprios ex-combatentes, que tanto fizeram pelo Brasil e pelo Exército, certamente teriam, se consultados, escolhido outro profissional para narrar os seus feitos heróicos e pronunciar os seu nomes.
Temos acompanhado o trabalho do CComSEx e já tínhamos lido as notas que VExa nos enviou. A nota sobre a Guerrilha do Araguaia, a nosso ver, foi magnífica.
Realmente, Senhor General, a democracia que desfrutamos é filha dileta, usando suas palavras, do Movimento de 1964, que, uma vez consolidado, em grande parte por nossa luta contra o terrorismo, deveria recomendar o convívio dos contrários. O que acontece, no entanto, é que, cada vez mais, nós "engulimos" os contrários. São ex-terroristas que chegam a ministro, assassinos que moldam as mentes de nossos filhos e netos em faculdades, ex-assaltantes de bancos que são secretários de estado, e subversivos que, cada vez mais, são chamados a exercer cargos públicos, enquanto que os nossos...
Para nós, militares das Forças Armadas, integrantes da Polícia Federal e das polícias civil e militar dos Estados, que defendemos o Brasil, que lutamos contra a subversão e o terrorismo, tem sobrado apenas a calúnia e a difamação nos jornais, até sermos demitidos dos cargos que ocupamos.
Para eles, polpudas indenizações, porque mataram, assaltaram, seqüestraram. Os familiares dos seus mortos, todos indenizados!...
Veja os nossos mortos, Senhor General! Estão esquecidos!
Terá, hoje, o Exército Brasileiro uma relação atualizada, completa, e, de quando em quando lembrada pelo menos em cerimônias oficiais, dos militares das Forças Armadas e dos policiais civis e militares que, cumprindo ordens dos Comandantes Militares de Área, deram a sua vida em confronto com os terroristas?
E os feridos, civis e militares, receberam alguma indenização ou apreço?
E as famílias de nossos mortos, civis e militares, também não teriam que ser indenizadas? Eles não morreram defendendo o Estado Democrático?
E a Democracia, que hoje vivenciamos, não foi conseguida com o sangue que eles derramaram? Não evitaram eles, com o sacrifício de suas vidas, que o Brasil tivesse se tornado uma imensa Cuba?
Que convívio de contrários é este, Senhor General? É unilateral? Só nós temos que ceder? Exatamente por ser um agente do glorioso movimento de 1964 sei que a paz que o País teve até agora deve-se à dedicação de homens que arriscaram as suas vidas e a tranqüilidade de suas famílias, para que hoje o Brasil não fosse um país igual à Colômbia.
Infelizmente, no momento, temos de novo a nossa "FARC" se agrupando... Se preparando...
Não estamos prenhes de desconhecimentos, nem desejamos ser os depositários da verdade absoluta, nem somos radicais do politicamente incorreto. Sabemos que, muito menos, recebemos procuração para defender o Exército. Nem de longe, também, temos a intenção e poder para intimidar quem quer que seja.
Torcemos para que VExa não esmoreça na perseguição diuturna e criteriosa de tornar o Exército Brasileiro cada vez mais conhecido e respeitado. Nós queremos continuar a nos orgulhar dele!
Alegro-me que o senhor, ainda como cadete, tenha participado da Revolução de 1964 baseado nas suas convicções de honradez e brasilidade, sem perniciosa preocupação com carreirismos ou com as conseqüências de uma eventual derrota daquele sagrado movimento. Como no seu caso, sempre me pautei pelos mesmos sacrossantos princípios, razão por que recebo as suas considerações não como ensinamentos ou paradigmas, porém, como lembranças de objetivos e caminhos comuns a nós dois. Entendo o seu repúdio ao uso da expressão "mais essa traição". Deve ter sido escrita, por tudo o que foi exposto, num momento de frustração, de desilusão, ao ver a "Rosa" prestigiada, dentro de nossa ótica, narrando tão gloriosa campanha. Senhor General, não se sinta atingido nos seus mais de quarenta anos de brilhantes serviços. Em nenhum momento tivemos a intenção de atingir a sua pessoa. Acreditamos mais que o mediador dessa obra tenha sido envolvido em uma das técnicas comunistas.
Quanto ao furor a que V. Exa se refere pela divulgação que fiz das mensagens, trata-se, apenas, do impulso emocionado de um homem caluniado e difamado, para agradecer às muitas pessoas conhecidas e desconhecidas pela solidariedade amiga, nem sempre recebida.
Finalmente, uso da mesma emoção, talvez mais intensa, para, atendendo à solicitação de VExa, publicar o seu desagravo, juntamente com o de todos aqueles que se sentiram desiludidos com a deferência dada a "Rosa", da VAR-PALMARES.
Respeitosamente,
Carlos Alberto Brilhante Ustra
Obs.: Carlos Alberto Brilhante Ustra é coronel reformado do Exército. Autor dos livros "Rompendo o Silêncio" (1987) e "A Verdade Sufocada - A história que a esquerda não quer que o Brasil conheça" (2006), o coronel é membro da ONG Terrorismo Nunca Mais (Ternuma) - www.ternuma.com.br.
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MEMORIAL 31 DE MARÇO DE 1964
http://felixmaier1950.blogspot.com/2020/09/memorial-31-de-marco-de-1964-textos.html
HISTÓRIA ORAL DO EXÉRCITO
https://felixmaier1950.blogspot.com/2020/09/historia-oral-do-exercito-31-de-marco.html
A LÍNGUA DE PAU – Uma história da
intolerância e da desinformação
http://felixmaier1950.blogspot.com/2021/05/a-lingua-de-pau-uma-historia-da_10.html
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