Amigos,
Desde a semana passada vem ocorrendo em todo o mundo manifestações em comemoração aos 40 anos da morte de Guevara. A Veja desta semana traz a cara dele na capa e uma longa matéria, desnudando o 'mito', e várias outras publicações trazem matérias alusivas ao falso 'bom revolucionário'.
Recebi hoje, de um velho amigo, um artigo que escrevi em 2004 (que nem lembrava mais!) sobre esta 'máquina de matar' e resolvi repassá-la, como minha contribuição às tais comemorações, só que com sinal trocado, óbvio!
Espero que lhes seja de algum proveito.
Abs, MG
Obs.: MG significa 'Miss Grace', ou seja, Graça Salgueiro (F.M.).
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“Seremos como o Che!”
por Graça Salgueiro (*) em 11 de dezembro de 2004
http://www.midiasemmascara.org/artigo.php?sid=3071
Resumo: Revista transforma a foto de comunista responsável por centenas de mortes em estampa de roupas para crianças e bebês.
© 2004 MidiaSemMascara.org
Toda criança nascida em Cuba, após a “Revolução de Todo o Povo”, criou-se ouvindo e repetindo nas escolas como um mantra, ad nauseam, esta frase que dá título ao artigo.
Fidel Castro transformou Guevara no “bom revolucionário”, como para expiar um indisfarçável sentimento de culpa, numa espécie “arcanjo da revolução” e tem ganhado muito dinheiro explorando os incautos turistas que vão à Cuba atrás de “ver” o monumento criado em homenagem a um mega-assassino, um guerrilheiro fracassado que só se deu mal em todas as investidas que fez pelo mundo afora.
Orlando Castro Hidalgo, um espião cubano desertor, assim se refere em seu livro “O Espião de Fidel Castro”: Contaram-me que a Bolívia não era o único objetivo de Guevara. Ele planejara usá-la meramente como um trampolim. Da Bolívia, o movimento de guerrilha penetraria em outros países, criando o que Guevara esperava começar “dois, três, ou vários Vietnames” no hemisfério ocidental”.
E mais adiante revela: “O Ernesto Guevara desses últimos dias desesperados não era a brilhante figura de fama legendária. Estava “gasto fisicamente, totalmente destruído”, de acordo com os sobreviventes. Ao perceber que a derrota era iminente, “tudo o irritava, o exasperava – ele estava com um gênio dos diabos”. Guevara não sofreu somente a derrota militar; o que é pior, sua esperança evaporou-se e seus sonhos o abandonaram. A longa e árdua estrada que ele havia escolhido para seguir terminara num fracasso completo”. (O Espião de Fidel Castro – Orlando Castro Hidalgo, Ed. Artenova, págs. 78 e 79).
Apesar disso, desde a década de 60 esta figura nefasta e fracassada é venerada como santo, herói e modelo de virtude (ver “Santo Ernesto de la Higuera: rogai por nós!), através da mais famosa foto de seu rosto feita pelo fotógrafo cubano Alberto Korda, que se vê estampada em camisas, posteres, bonés, quinquilharias de toda espécie.
Deste falso “bom revolucionário” sabe-se que ordenou o fuzilamento em Cuba de 500 a 1700 prisioneiros e pessoalmente foi responsável pelo assassinato de 179 pessoas, cujos dados foram obtidos pelo Dr. Armando Lago, confirmados com nomes e datas, através de duas ou mais fontes de informação idôneas, livros e jornais.
Deste falso “bom revolucionário” sempre é lembrada a frase que praticamente virou símbolo da militância esquerdista mundial: “Hay que endurecerse pero sin perder la ternura jamás” porém, nunca lembram de citar, também, uma outra que se contrapõe e desnuda o verdadeiro monstro que habita o pseudo mito: “O ódio implacável para com o inimigo nos transporta e nos leva para além das limitações naturais do homem, e nos transforma em máquinas de matar eficazes, violentas, seletivas e frias. Nossos soldados devem ser assim. Uma pessoa sem ódio não pode triunfar sobre um inimigo brutal”. (Discurso na Tricontinetal, em 1961).
O mito não morreu, ao contrário, quanto mais passam-se os anos, mais aura de santo, veneração e apelos à imitação são feitos nos mais recônditos lugares do mundo; que o digam o Fórum Social Mundial e a própria “lojinha do PT” (www.pt.org.br), além de acampamentos, ruas e escolas do MST que levam “orgulhosamente” seu nome.
A meu ver, endeusar-se um assassino contumaz e sugerir que os jovens devam imitá-lo é um ato criminoso, perverso, diabólico. Agora, quando esta sugestão ultrapassa as fronteiras da Ilha-cárcere e alcança bebês de colo, a coisa já aponta para o mais alto indício da degradação humana, de perversidade patológica.
A revista Time & Life Magazine lançou em sua edição de 29 de novembro, um anúncio de camisas infantis com a tal foto famosa do “Che” em seu Guia de Compras da Internet. É preciso doutrinar a militância desde o berço!
Fotos: Time -Life
No anúncio, há fotos de bebês usando a tal camisa com as seguintes legendas: “Publicado na Internet no guia de compras do magazine Time, ‘Viva a Revolução’. Agora os ainda pequenos rebeldes podem expressar-se, eles mesmos, nestes [modelos] únicos para bebês. Este clássico ícone do Che Guevara também está disponível em camisetas de mangas compridas para vários tamanhos de crianças”. E mais abaixo: “Que viva por muito tempo o rebelde em todos nós... não existe outro ícone melhor que a imagem do Che! Disponível em laranja e castanho. Todos os produtos da Appaman são suaves e pré-encolhidos, 100% algodão e projetados, tingidos e impressos na cidade de Nova York. SKU. Disponibilidade imediata. Preço $ 25.00”.
No mês em que se comemora o nascimento do Salvador do mundo, Aquele que se imolou por Amor a toda a Humanidade, esta revista imola todas as crianças do mundo pedindo-lhes que “sejam com o Che”, aquele que fez de sua razão de viver o ódio mais brutal e inumano contra os próprios irmãos.
A comunidade de cubanos exilados nos Estados Unidos, que conheceu de perto e que muitas das famílias tiveram parentes vítimas da sanha criminosa deste monstro não se rendeu, nem está permitindo que uma afronta deste tipo vá adiante. Várias cartas já foram encaminhadas à revista em sinal de protesto, e manifestações de rua mostram seu descontentamento através de cartazes, que podem ser conferidos através deste site, organizado pela dissidente e exilada cubana, Miriam Mata: http://members.aol.com/Guanabacoa/burlington.html.
Os cubanos não permitem que um crime desse porte seja cometido impunemente. E aqui no Brasil, quantas pessoas organizam movimentos para denunciar abuso semelhante, praticado pela milícia pró-terrorismo do MST ou da “lojinha” do PT? Que nos fique o exemplo da brava dissidência cubana e que não permitamos que nossos bebês sofram semelhante crime.
Manifestantes protestando contra o uso da imagem de Guevara em roupas infantis
(*) Graça Salgueiro é jornalista independente, estudiosa do Foro de São Paulo e do regime castro-comunista e de seus avanços na América Latina, especialmente em Cuba, Venezuela, Argentina e Brasil. É articulista do Mídia Sem Máscara, onde também colabora como tradutora e revisora, correspondente brasileira do site La Historia Paralela da Argentina, articulista do jornal 'Inconfidência' de Belo Horizonte e proprietária do blog Notalatina.
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Revista Veja - Edição 2028 - 3 de outubro de 2007
Especial
Che
Há quarenta anos morria o homem e nascia a farsa
'Não disparem. Sou Che. Valho mais vivo do que morto.' Há quarenta anos, no dia 8 de outubro de 1967, essa frase foi gritada por um guerrilheiro maltrapilho e sujo metido em uma grota nos confins da Bolívia. Nunca mais foi lembrada. Seu esquecimento deve-se ao fato de que o pedido de misericórdia, o apelo desesperado pela própria vida e o reconhecimento sem disfarce da derrota não combinam com a aura mitológica criada em torno de tudo o que se refere à vida e à morte de Ernesto Guevara Lynch de la Serna, argentino de Rosário, o Che, que antes, para os companheiros, era apenas 'el chancho', o porco, porque não gostava de banho e 'tinha cheiro de rim fervido'.
Diogo Schelp e Duda Teixeira
Foto Antonio Nunez Jimenez/AFP
ÀS VÉSPERAS DO GOLPE
Che em Caballete de Casas, em Cuba, em 1958: exceto na revolução cubana, sua vida foi uma seqüência de fracassos. Como guerrilheiro, foi derrotado no Congo e na Bolívia
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Essa é a realidade esquecida. No mito, sempre lembrado, ecoam as palavras ditas ao tenente boliviano Mário Terán, encarregado de sua execução, e que parecia hesitar em apertar o gatilho: 'Você vai matar um homem'. Essas, sim, servem de corolário perfeito a um guerreiro disposto ao sacrifício em nome de ideais que valem mais que a própria vida. Ambas as frases foram relatadas por várias testemunhas e meticulosamente anotadas pelo capitão Gary Prado Salmón, do Exército boliviano, responsável pela captura de Che. Provenientes das mesmas fontes, merecem, portanto, idêntica credibilidade. O esquecimento de uma frase e a perpetuação da outra resumem o sucesso da máquina de propaganda marxista na elaboração de seu maior e até então intocado mito. Che tem um apelo que beira a lenda entre os jovens dos cinco continentes. Como homem de carne e osso, com suas fraquezas, sua maníaca necessidade de matar pessoas, sua crença inabalável na violência política e a busca incessante da morte gloriosa, foi um ser desprezível. 'Ele era adepto do totalitarismo até o último pêlo do corpo', escreveu sobre ele o jornalista francês Régis Debray, que por alguns meses conviveu com Che na Bolívia.
Por suas convicções ideológicas, Che tem seu lugar assegurado na mesma lata de lixo onde a história já arremessou há tempos outros teóricos e práticos do comunismo, como Lenin, Stalin, Trotsky, Mao e Fidel Castro. Entre a captura e a execução de Che na Bolívia, passaram-se 24 horas. Nesse período, o governo boliviano e os americanos da CIA que ajudaram na operação decidiram entre si o destino de Guevara. Execução sumária? Não para os padrões de Che. Centenas de homens que ele fuzilou em Cuba tiveram sua sorte selada em ritos sumários cujas deliberações muitas vezes não passavam de dez minutos.
VEJA conversou com historiadores, biógrafos, antigos companheiros de Che na guerrilha e no governo cubano na tentativa de entender como o rosto de um apologista da violência, voluntarioso e autoritário, foi parar no biquíni de Gisele Bündchen, no braço de Maradona, na barriga de Mike Tyson, em pôsteres e camisetas. Seu retrato clássico – feito pelo fotógrafo cubano Alberto Korda em 1960 – é a fotografia mais reproduzida de todos os tempos. O mito é particularmente enganoso por se sustentar no avesso do que o homem foi, pensou e realizou durante sua existência. Incapaz de compreender a vida em uma sociedade aberta e sempre disposto a eliminar a tiros os adversários – mesmo os que vestiam a mesma farda que ele –, Che é, paradoxalmente, visto como um símbolo da luta pela liberdade. Guevara é responsável direto pela morte de 49 jovens inexperientes recrutas que faziam o serviço militar obrigatório na Bolívia. Eles foram mobilizados para defender a soberania de sua pátria e expulsar os invasores cubanos, sob cujo fogo pereceram. Tendo ajudado a estabelecer um sistema de penúria em Cuba, Che agora é apresentado como um símbolo de justiça social. Politicamente dogmático, aferrado com unhas e dentes à rigidez do marxismo-leninismo em sua vertente mais totalitária, passa por livre-pensador.
O regime policialesco de Fidel Castro não permite que aqueles que conviveram com Che e permanecem em Cuba possam ir além da cinzenta ladainha oficial. Por isso, apesar do rancor que pode apimentar suas lembranças, os exilados cubanos são vozes de maior credibilidade. O movimento que derrubou o ditador Fulgencio Batista, em 1959, não foi uma ação de comunistas, como pretende Fidel Castro. Boa parte da liderança revolucionária e dos comandantes guerrilheiros tinha por objetivo a instauração da democracia em Cuba. Mas foi surpreendida por um golpe comunista dentro da revolução. Acabaram presos, fuzilados ou deportados. Desde o início, Che representou a linha dura pró-soviética, ao lado do irmão de Fidel, Raul Castro. Na versão mitológica, Che era dono de um talento militar excepcional. Seus ex-companheiros, no entanto, lembram-se dele como um comandante imprudente, irascível, rápido em ordenar execuções e mais rápido ainda em liderar seus camaradas para a morte, em guerras sem futuro no Congo e na Bolívia.
The New York Times
A 'MALDIÇÃO DE SATURNO'
Com Fidel em Havana, em 1959: 'Que esta revolução não devore seus próprios filhos', dizia Fidel. Ele fez o contrário. As últimas transmissões de rádio de Che na Bolívia foram ignoradas em Havana
Huber Matos, que lutou sob as ordens do argentino em Cuba, falou a VEJA sobre o fracasso de Che como comandante: 'A luta foi difícil na primavera de 1958. A frente de comportamento mais desastroso foi a de Che. Mas isso não o afetou, porque era o favorito de Fidel, que nos impedia de discutir abertamente o trabalho pífio de seu protegido como guerrilheiro'. Pouco depois do triunfo da guerrilha, ao perceber os primeiros sinais de tirania, Huber renunciou a seu posto no governo revolucionário e informou que voltaria a ser professor. Preso dois dias depois, passou vinte anos na cadeia. Vive hoje em Miami. À moda soviética, sua imagem foi removida das fotos feitas durante a entrada solene em Havana, em que aparecia ao lado de Fidel e Camilo Cienfuegos, outro comandante não comunista desaparecido em circunstâncias misteriosas nos primórdios da revolução.
Nomeado comandante da fortaleza La Cabaña, para onde eram levados presos políticos, Che Guevara a converteu em campo de extermínio. Nos seis meses sob seu comando, duas centenas de desafetos foram fuzilados, sendo que apenas uma minoria era formada por torturadores e outros agentes violentos do regime de Batista. A maioria era apenas gente incômoda.
Napoleon Vilaboa, membro do Movimento 26 de Julho e assessor de Che em La Cabaña, conta agora ter levado ao gabinete do chefe um detido chamado José Castaño, oficial de inteligência do Exército de Batista. Sobre Castaño não pesava nenhuma acusação que pudesse produzir uma sentença de morte. Fidel chegou a ligar para Che para depor a favor de Castaño. Tarde demais. Enquanto dava voltas em torno de sua mesa e da cadeira onde estava o militar, Che sacou a pistola 45 e o matou ali mesmo com balaços na cabeça. Em outra ocasião, Che foi procurado por uma mãe desesperada, que implorou pela soltura do filho, um menino de 15 anos preso por pichar muros com inscrições contra Fidel. Um soldado informou a Che que o jovem seria fuzilado dali a alguns dias. O comandante, então, ordenou que fosse executado imediatamente, 'para que a senhora não passasse pela angústia de uma espera mais longa'.
Em seu diário da campanha em Sierra Maestra, Che antecipa o seu comportamento em La Cabaña. Ele descreve com naturalidade como executou Eutímio Guerra, um rebelde acusado de colaborar com os soldados de Batista: 'Acabei com o problema dando-lhe um tiro com uma pistola calibre 32 no lado direito do crânio, com o orifício de saída no lobo temporal direito. Ele arquejou um pouco e estava morto. Seus bens agora me pertenciam'. Em outro momento, Che decidiu executar dois guerrilheiros acusados de ser informantes de Batista. Ele disse: 'Essa gente, como é colaboradora da ditadura, tem de ser castigada com a morte'. Como não havia provas contra a dupla, os outros rebeldes presentes se opuseram à decisão de Che. Sem lhes dar ouvidos, ele executou os dois com a própria pistola. Essa frieza e a crueldade sumiram atrás da moldura romântica que lhe emprestaram, construída pelos mesmos ideólogos que atribuíram a ele a frase famosa – 'Hay que endurecerse, pero sin perder la ternura jamás'. Frase criada pela propaganda esquerdista.
Como o jovem aventureiro que excursionou de motocicleta pelas Américas se tornou um assassino cruel e maníaco? O jornalista americano Jon Lee Anderson, autor da mais completa biografia de Che, escreveu que ele era um fatalista – e esse fatalismo aguçou-se depois que se juntou aos guerrilheiros cubanos. 'Para ele, a realidade era apenas uma questão de preto e branco. Despertava toda manhã com a perspectiva de matar ou morrer pela causa', afirma Anderson.
Ernesto Guevara Lynch de la Serna nasceu em 14 de maio de 1928, em uma família de esquerdistas ricos na Argentina. Sofreu de asma a vida inteira. Antes de se formar em medicina, profissão que nunca exerceu de fato, viajou pela América do Sul durante oito meses. Depois de terminada a faculdade, saiu da Argentina para nunca mais voltar. Encontrou-se com Fidel Castro no México, em 1955, onde aprendeu técnicas de guerrilha. No ano seguinte, participou do desembarque em Cuba do pequeno contingente de revolucionários. Depois de dois anos de combates na Sierra Maestra, Fidel tomou o poder em Havana. Che ocupou-se primeiro dos fuzilamentos e, depois, da economia, assunto do qual nada entendia. José Illan, que foi vice-ministro de Finanças antes de fugir de Cuba, contou a VEJA que o argentino 'desprezava os técnicos e tratava a nós, os jovens cubanos, com prepotência'. No comando do Banco Central e depois do Ministério da Indústria, Che começou a nacionalizar a indústria e foi o principal defensor do controle estatal das fábricas. 'Che era um utópico que acreditava que as coisas podiam ser feitas usando-se apenas a força de vontade', diz o historiador Pedro Corzo, do Instituto da Memória Histórica Cubana, em Miami. Como resultado de sua 'força de vontade', a produção agrícola caiu pela metade e a indústria açucareira, o principal produto de exportação de Cuba, entrou em colapso. Em 1963, em estado de penúria, a ilha passou a viver da mesada enviada pela então União Soviética.
AFP
CASADO COM SI PRÓPRIO
Che com sua segunda mulher, Aleida March, no dia de seu casamento, em Havana, em 1959. Elas não podiam competir com o 'chamado da aventura'
Não havia mais o que Che pudesse fazer em Cuba. Era ministro da Indústria, mas divergia de Fidel em questões relativas ao desenvolvimento econômico. De maneira simplista, ele acreditava que incentivos morais tinham maiores probabilidades de estimular o trabalho. Che também se tornou crítico feroz da União Soviética, da qual o regime cubano dependia para sobreviver. Não por discordar do Kremlin, mas porque julgava os soviéticos tímidos na promoção da revolução armada no Terceiro Mundo. Para se livrar dele, Fidel o mandou como delegado à Assembléia-Geral das Nações Unidas em 1964. No ano seguinte, Che foi secretamente combater no Congo, à frente de soldados cubanos. Ali, paralisado por incompreensíveis rivalidades tribais, derrotado no campo de batalha e abatido pela diarréia, Che propôs a seus comandados lutar até a morte. Mas foi demovido do propósito pela soldadesca, que não aceitou o sacrifício numa guerra sem sentido.
Daí em diante o argentino tornou-se uma figura patética. Em Havana, Fidel divulgara a carta em que ele renunciava à cidadania cubana e anunciava sua disposição de levar a guerra revolucionária a outras plagas. Pego de surpresa pela leitura prematura do documento, Che ficou no limbo, sem ter para onde voltar. 'Sua vida foi uma seqüência de fracassos', disse a VEJA o historiador cubano Jaime Suchlicki, da Universidade de Miami. 'Como médico, nunca exerceu a profissão. Como ministro e embaixador, não conseguiu o que queria. Como guerrilheiro, foi eficiente apenas em matar por causas sem futuro.' Na falta de opções, Che escolheu a Bolívia para sua nova aventura guerrilheira. Ele lutaria em território montanhoso e inóspito, imerso na selva, sem falar o dialeto indígena dos camponeses bolivianos. O plano original era adentrar, pela fronteira, a província argentina de Salta. Mas um contigente exploratório foi aniquilado rapidamente pelo exército daquele país. A missão boliviana era, de todos os pontos de vista, suicida. Ainda assim, Fidel a apoiou, a ponto de designar alguns soldados de seu exército para o destacamento guerrilheiro. O ditador cubano também equipou e financiou a expedição, com a qual manteve contato até que seu fracasso se tornou evidente.
Além da falta de apoio do povo boliviano, que tratou os cubanos chefiados por Che como um bando de salteadores, a expedição fracassou também pela traição do Partido Comunista Boliviano. VEJA perguntou a um de seus mais altos dirigentes dos anos 60, Juan Coronel Quiroga: 'O PCB traiu Che Guevara?'. Resposta de Quiroga: 'Sim'. A explicação? 'Nosso partido era afinado com Moscou, onde a estratégia de abrir focos de guerrilha como a de Che estava há muito desacreditada.' Quiroga era amigo pessoal do então ministro da Defesa da Bolívia e conseguiu que as mãos do cadáver de Che Guevara fossem decepadas, mantidas em formol e entregues a ele. 'Por anos guardei as mãos de Che debaixo da minha cama em um grande pote de vidro. Um dia meu filho deparou com aquilo e quase entrou em pânico', conta Quiroga. Anos mais tarde, coube a Quiroga a missão de entregar o lúgubre pote com as mãos de Guevara à Embaixada de Cuba em Moscou.
A morte de Che foi central para a estabilização do regime cubano nos anos 60, de acordo com o polonês naturalizado americano Tad Szulc, na sua celebrada biografia de Fidel. O fim do guerrilheiro argentino ajudou o ditador a pacificar suas relações com Moscou e ainda lhe forneceu um ícone de aceitação mais ampla que a própria revolução. O esforço de construção do mito foi facilitado por vários fatores. Quando morreu, Che era uma celebridade internacional. Boa-pinta, saía ótimo nas fotografias. A foto do pôster que enfeita quartos de milhões de jovens foi tirada num funeral em Havana, ao qual compareceram o filósofo francês Jean-Paul Sartre – que exaltou Che como 'o mais completo ser humano de nossa era' – e sua mulher, a escritora Simone de Beauvoir. A foto de 1960 só ganhou divulgação mundial sete anos depois, nas páginas da revista Paris Match. Dois meses mais tarde, Che foi morto na selva boliviana e Fidel fez um comício à frente de uma enorme reprodução da imagem, que preenchia toda a fachada de um prédio público cubano. Nascia o pôster.
Três fatos ajudaram a consolidar o mito. O primeiro foi a morte prematura de Che, que eternizou sua imagem jovem. Aos 39 anos, ele estava longe de ser um adolescente quando foi abatido, mas a pinta de galã lhe garantia um aspecto juvenil. O fim precoce também o salvou de ser associado à agonia do comunismo. A decadência física e política de Fidel Castro, desmoralizado pela responsabilidade no isolamento e no atraso econômico que afligem o povo cubano, dá uma idéia do que poderia ter acontecido com Che, que era apenas dois anos mais jovem que o ditador.
Reuters
PARA IMPRESSIONAR 'IKE'
Guevara e Fidel em jogo-treino de golfe para disputar uma partida, que nunca houve, com Eisenhower em Washington: 'Fidel ganhou, mas Che o deixou ganhar'
O segundo fato foi a ajuda involuntária de seus algozes. Preocupados em reunir provas convincentes de que o guerrilheiro célebre estava morto, os militares bolivianos mandaram lavar o corpo e aparar e pentear sua barba e seu cabelo. Também resolveram trocar sua roupa imunda. Tudo isso para poder tirar fotos em que ele fosse facilmente identificado. O resultado é um retrato com espantosa semelhança com as pinturas barrocas do Cristo morto de expressão beatificada. A terceira contribuição recebida pelos esquerdistas na construção do mito veio do contexto histórico. Che morreu às vésperas dos grandes protestos em defesa dos direitos civis, da agitação dos movimentos estudantis e da revolução de costumes da contracultura – turbulências que marcaram o ano de 1968. Era um personagem perfeito para ser símbolo da juventude de então, que se definia pela 'determinação exacerbada e narcisista de conseguir tudo aqui e agora', como escreveu o mexicano Jorge Castañeda, em sua biografia de Che. A história, no entanto, mostra que o homem era muito diferente do mito. Mas quem resiste? Neste mês, nos Estados Unidos, o cubano Gustavo Villoldo, chefe da equipe da CIA que participou da captura do guerrilheiro, vai leiloar uma mecha de cabelo de Che.
Se houve um ganhador da Guerra Fria, foi Che Guevara. Ele morreu e foi santificado antes que seu narcisismo suicida e os crimes que decorreram dele pudessem ser julgados com distanciamento, sob uma luz mais civilizada, que faria aflorar sua brutalidade com nitidez. Pobre Fidel Castro. Enquanto Che foi cristalizado na foto hipnótica de Alberto Korda, ele próprio, o supremo comandante, aparece cada dia mais roto, macilento, caduco, enquanto se desmancha lentamente dentro de um ridículo agasalho esportivo diante das lentes das câmeras da televisão estatal cubana. O método de luta política que Guevara adotou já era errado em seu tempo. No rastro de suas concepções de revolução pela revolução, a América Latina foi lançada em um banho de sangue e uma onda de destruição ainda não inteiramente avaliada e, pior, não totalmente assentada. O mito em torno de Che constitui-se numa muralha que impediu até agora a correta observação de alguns dos mais desastrosos eventos da história contemporânea das Américas. Está passando da hora de essa muralha cair.
A FRASE MAIS FAMOSA ATRIBUÍDA A GUEVARA É...
'Há que endurecer-se, mas sem jamais perder a ternura.'
...OUTRAS MENOS CONHECIDAS REVELAM SUA REAL PERSONALIDADE:
'Estou na selva cubana, vivo e sedento de sangue.'
Carta à esposa, Hilda Gadea, em janeiro de 1957
Keystone/Getty Images
'Fuzilamos e seguiremos fuzilando enquanto for necessário. Nossa luta é uma luta até a morte.'
Discurso na Assembléia-Geral da ONU, em 11 de dezembro de 1964
'O ódio intransigente ao inimigo (...) converte (o combatente) em uma efetiva, seletiva e fria máquina de matar. Nossos soldados têm de ser assim.'
Revista cubana Tricontinental, em maio de 1967
O mundo tomou outro rumo
CUBA
Apesar de tentar exportar sua revolução, a ilha tornou-se a vitrine de seu fracasso. Sem liberdade política nem econômica, o país é um museu de prédios, carros e dirigentes decrépitos, onde comida, combustíveis e energia são racionados.
BOLÍVIA
O foco guerrilheiro de Guevara foi derrotado pela população pobre da Bolívia, que negou ajuda e ainda delatou o grupo.
CONGO
Guevara e um contingente de cubanos lutaram ao lado do chefe tribal Laurent Kabila contra o coronel Mobutu. Em 1997 Kabila finalmente derrubou Mobuto, mas foi assassinado em 2001. Em seu curto governo, 3 milhões de pessoas foram mortas em guerras tribais.
CHINA
A ideologia de Mao Tsé-tung, que Guevara citava como modelo de comunismo, foi sepultada pelos chineses.
COMUNISMO
Depois da queda do Muro de Berlim, a ideologia será lembrada sobretudo como a responsável pela morte de 100 milhões de pessoas.
VIETNÃ
Na frase famosa, Guevara propôs criar 'dois, três, muitos Vietnãs'. Acertou. A globalização da economia está criando Vietnãs pelo mundo – países adeptos da economia de mercado, com rápido crescimento econômico e aliados dos Estados Unidos.
'A ordem de execução veio pelo rádio'
Fotos divulgação
O ÚLTIMO DIA DO GUERRILHEIRO
Maltrapilho e sujo, Guevara posa com os soldados que o capturaram na vila de La Higuera, onde seria morto. A seu lado, assinalado, está o agente da CIA Felix Rodríguez. À direita, Felix hoje, em Miami
Felix Rodríguez foi uma das últimas pessoas a conversar com Che Guevara. Mais do que isso, foi ele quem recebeu e transmitiu a ordem para que o guerrilheiro fosse executado. Cubano exilado nos Estados Unidos, ele era o operador de rádio enviado à Bolívia pela CIA para auxiliar na caçada e, também, para ajudar a identificar Guevara. Veterano da fracassada invasão da Baía dos Porcos, em 1961, Rodríguez vive hoje em Miami, aos 66 anos. Ele falou ao repórter Duda Teixeira.
COMO CHEGOU A ORDEM PARA MATAR CHE?
As instruções que recebi nos Estados Unidos eram para poupar sua vida. A CIA sabia da divergência de idéias entre Che e Fidel e acreditava que, a longo prazo, ele poderia cooperar com a agência. A ordem para sua execução veio por rádio, de uma alta autoridade boliviana. Era uma mensagem em código: '500, 600'. O primeiro número, 500, significava Guevara. O segundo, que ele deveria ser morto. Tentei em vão convencer os militares bolivianos a permitir que ele fosse levado para ser interrogado no Panamá. Eles negaram meu pedido e me deram um prazo. Eu deveria entregar o corpo de Guevara até as 2 horas da tarde. Perto das 11h30, uma senhora aproximou-se de mim e perguntou quando iríamos matá-lo, pois ouvira no rádio que Che havia morrido em combate. Naquele momento compreendi que a decisão de executá-lo era irrevogável.
COMO FOI SUA ÚLTIMA CONVERSA COM ELE?
Fui até o local de seu cativeiro e disse a ele que lamentava, mas eram ordens superiores. Che ficou branco como um papel. 'É melhor assim. Eu nunca deveria ter sido capturado vivo', falou. Tirou o cachimbo da boca e me pediu para que o desse a um dos soldados. Ofereci-me para transmitir mensagens à sua família. 'Diga a Fidel que esse fracasso não significa o fim da revolução, que logo ela triunfará em alguma parte da América Latina', ele falou em tom sarcástico. Aí lembrou da esposa. 'Diga a minha senhora que se case outra vez e trate de ser feliz.' Foram suas últimas palavras. Apertou a minha mão e me deu um abraço, como se pensasse que eu seria o carrasco. Saí dali e avisei a um tenente armado com uma carabina M2, automática, que a ordem já tinha sido dada. Recomendei a ele que atirasse da barba para baixo, porque se supunha que Che havia morrido em combate. Eram 13h10 quando escutei o barulho de tiros. Che Guevara tinha sido morto.
COMO FOI O SEU PRIMEIRO CONTATO COM CHE GUEVARA?
Cheguei a La Higuera de helicóptero em 9 de outubro, um dia depois da captura de Che Guevara. Eu o encontrei com os pés e as mãos amarrados, ao lado dos corpos de dois cubanos. Sangrava de uma ferida na perna. Era um homem totalmente arrasado. Parecia um mendigo.
COMO FORAM SUAS CONVERSAS COM CHE?
Nós nos tratamos com respeito. Eu o chamava de comandante. Falamos de Cuba e de outras coisas, mas ele permanecia calado quando as perguntas eram de interesse estratégico. Houve momentos em que não consegui prestar atenção ao que ele dizia. Ao olhar aquele homem derrotado, vinha-me à mente sua imagem no passado, sempre altiva e arrogante.
COMO FORAM AS RELAÇÕES DE CHE COM A POPULAÇÃO NA BOLÍVIA?
Para sobreviver, é essencial que uma força guerrilheira conte com o apoio da população local. A aventura de Che na Bolívia foi um caso único em que uma guerrilha não conseguiu recrutar um único morador da área onde atuou. Só um agricultor ganhou a confiança dos guerrilheiros, e mesmo esse acabou por passar informações que permitiram ao Exército armar uma emboscada. Os poucos bolivianos que participaram da guerrilha eram dissidentes do Partido Comunista. Nenhum camponês.
POR QUE O SENHOR FOI ENVIADO À BOLÍVIA?
O Exército boliviano estava totalmente despreparado para enfrentar uma guerrilha. A maior parte dos soldados trabalhava na construção de estradas e provavelmente jamais dera um tiro de fuzil. Nos primeiros embates, os guerrilheiros aprisionavam os soldados, tiravam suas roupas e os soltavam. Foi então que o governo boliviano pediu ajuda aos Estados Unidos.
Limparam Che para a foto
No dia de sua morte, amarrado ao esqui de um helicóptero militar, Che Guevara foi levado do local da execução para um vilarejo chamado Vallegrande. A brasileira Helle Alves, repórter, e o fotógrafo Antonio Moura, então trabalhando para o Diário da Noite, de São Paulo, viram a chegada do corpo, que foi levado para a lavanderia do hospital local (acima). Ali, Moura foi o único jornalista a fotografar o corpo de Guevara ainda sujo, vestido de trapos e calçado com o que sobrou de uma botina artesanal de couro (abaixo). Moura conseguiu fotografar o corpo antes da limpeza e da arrumação. 'Che usava um calço em um dos calcanhares, provavelmente para corrigir uma diferença de tamanho entre uma perna e outra', lembra Helle. Ela contou pelo menos dez marcas de tiro no corpo do argentino. 'Os moradores tinham raiva dele e invadiram a lavanderia, mas, quando viram o corpo, passaram a dizer que ele parecia Jesus Cristo.' Começara o mito.
Fotos Antonio Moura
Ele está em toda parte
Fotos Mauricio Lima/Jonathan Utz-AFP e Alfredo Tedeschi-File-Reuters
O retrato de Che feito por Alberto Korda em 1960 é agora uma imagem de múltiplos significados: é pop no biquíni da Cia. Marítima vestido por Gisele Bündchen e uma manifestação de truculência e mau humor nas tatuagens de Maradona e Mike Tyson
Obs.: Para ver as fotos do texto da revista Veja e ouvir os vídeos, acesse http://veja.abril.uol.com.br/031007/p_082.shtml.
Fonte: https://www.usinadeletras.com.br/exibelotexto.php?cod=65537&cat=Ensaios
Che Guevara - ‘el chancho’
Hiram Reis e Silva, Porto Alegre, RS, 01 de setembro de 2008.
'El odio como factor de lucha; el odio intransigente al enemigo, que impulsa más allá de las limitaciones naturales del ser humano y lo convierte en una efectiva, violenta, selectiva y fría máquina de matar. Nuestros soldados tienen que ser así; un pueblo sin odio no puede triunfar sobre un enemigo brutal. Hay que llevar la guerra hasta donde el enemigo la lleve: a su casa, a sus lugares de diversión; hacerla total.”
(Ernesto Guevara de la Serna)
- Che Guevara
Ernesto Guevara Lynch de la Serna, filho de Ernesto Guevara Lynch e Célia de la Serna, conhecido por Che Guevara ou El Che, nasceu em Rosário, Argentina, no dia 14 de maio de 1928, embora em sua certidão esteja registrado como 14 de junho.
Em 1955, juntou-se aos revolucionários liderados por Fidel Castro, no México, onde foi adestrado nas técnicas de guerrilha. No ano seguinte, participou do contingente de revolucionários que desembarcou em Cuba. El Che chegou a Havana em 1959 já como um mito. Fidel, imediatamente, o designou para chefiar ‘La Cabaña’.
- El carnicero de La Cabaña
Jamais se saberá, exatamente, o número de execuções levadas a cabo durante o período revolucionário. María Werlau, Diretora Executiva do Arquivo Cubano, afirmou: ‘No lo sé, cien mil... doscientos mil ...’. Como procurador-geral, El Che comandou a ‘Prisão Fortaleza de San Carlos de La Cabaña’, onde, somente nos primeiros meses da revolução, ocorreram 120 fuzilamentos. Che considerava que: ‘As execuções são uma necessidade para o Povo de Cuba, e um dever imposto por esse mesmo Povo’.
‘El Che nunca trató de ocultar su crueldad, por el contrario, entre más se le pedía compasión más él se mostraba cruel. El estaba completamente dedicado a su utopía. La revolución le exigía que hubiera muertos, él mataba; ella le pedía que mintiera, él mentía. En La Cabaña, cuando las familias iban a visitar a sus parientes, Guevara, en el colmo del sadismo, llegaba a exigirles que pasaran delante del paredón manchado de sangre fresca.’
(Padre Javier Arzuaga, Ex-Capelão da Cabaña)
El Che comandava os fuzilamentos no ‘paredão’, sendo conhecido, por isso, pelo codinome de ‘el carnicero de la cabaña’. Dirigiu pessoalmente os processos contra os representantes do regime deposto, condenando à morte mais de 4.000 pessoas. Na ‘Cabaña’, havia inimigos políticos e inocentes, mas Che mandava executar a todos. Seu lema era: ‘Ante la duda, mata’, lema que chegou a aplicar, inclusive, a antigos companheiros de armas.
- Guanahacabibes: campo de trabalhos forçados
Che foi o idealizador do primeiro acampamento de trabalhos forçados, em Guanahacabibes, Cuba ocidental, em 1960. Che dizia: “à Guanahacabibes são mandadas as pessoas que não devem ir para a prisão. As pessoas que tenham cometido faltas à moral revolucionária. É um trabalho duro, não um trabalho bestial'.
Guanahacabibes foi o precursor do confinamento sistemático, a partir de 1965 na província de Camagüey, de dissidentes, homossexuais, católicos, testemunhas de Jeová e outras ‘escórias’, como eram considerados pelos revolucionários. Os ‘desadaptados’ eram transportados para os campos de concentração que tinham como modelo Guanahacabibes onde, via de regra, eram mortos, violentados ou mutilados.
- As faces de CHE
Alberto Korda imortalizou em 5 de março de 1960, na sua foto mais famosa, o rosto de Che. Sua aparência, de 1956 a 1964, mudou tanto quanto seu nome. Foi conhecido como Ernestito, Teté, Pelao, Chancho, Fuser, Furibundo, Serna, Martín Fierro, Franco-atirador e outros tantos que adotou antes de chegar à Guatemala, onde o cubano Antonio Ñico López o batizou de ‘Che’.
Fidel Castro enviou Luis García Gutiérrez `Fisín` a Praga, onde Che se encontrava, e o dentista alterou o rosto de Che fazendo uso de próteses dentárias. As mudanças fisionômicas foram tais que nem mesmo os homens que tinham lutado com Guevara em Cuba e seus filhos, então muito pequenos, o reconheceram. Che usava lentes, ligeiramente obeso, cabeça raspada, uma figura diversa do Guevara que conheciam. Os registros de seu diário de 12 de novembro de 1966 afirmam: ‘Meu cabelo está crescendo, apesar de muito ralo, e as mechas que se tornaram loiras, começam a desaparecer; me nasce a barba. Dentro de poucos meses, voltarei a ser eu’.
- ‘Con su muerte, murió el hombre y nació la farsa’
‘Se evoca siempre su trágico final, asesinado cuando ya se había rendido, después de fracasar en un intento guerrillero que lo llevó hasta las selvas bolivianas al frente de un puñado de hombres’.
Sob o comando de Guevara, 49 jovens inexperientes recrutas, que haviam sido mobilizados para expulsar os invasores cubanos, foram emboscados e mortos.
‘Não disparem. Sou Che. Valho mais vivo do que morto’, gritou um guerrilheiro maltrapilho e imundo nos confins da Bolívia no dia 8 de outubro de 1967. Frase que seus admiradores e biógrafos fazem questão de esquecer, pois o covarde pedido de misericórdia não combina com a imagem por eles forjada. Che foi executado pelos militares bolivianos em La Higuera em 9 de Outubro de 1967. A partir de sua morte, sua imagem foi lapidada apresentando-o como um mártir, idealista, cheio de virtudes, defensor dos fracos e oprimidos.
Seus companheiros o chamavam de ‘el chancho’, o porco, porque não gostava de banho e ‘tinha cheiro de rim fervido’.
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Solicito publicação
Coronel de Engenharia Hiram Reis e Silva, professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA)
Membro da Academia de História Militar Terrestre do Brasil (AHIMTB)
Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS)
Rua Dona Eugênia, 1227
Petrópolis - Porto Alegre - RS
90630 150
Telefone:- (51) 3331 6265
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Fonte: https://www.usinadeletras.com.br/exibelotexto.php?cod=66111&cat=Ensaios
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