HISTÓRIA ORAL DO EXÉRCITO -
31 DE MARÇO DE 1964
PARTE III
GUERRILHA
DO VALE DO RIBEIRA – CARLOS LAMARCA
“Quando se plotou o Lamarca,
o BC [2º. Batalhão de Caçadores, São Vicente, SP], unidade operacional de
Infantaria, foi para o local, mas nós éramos do grupamento de incorporação A e,
por problemas de licenciamento da tropa, as unidades do grupamento de
incorporação B, entre elas uma de Artilharia, é que foram nos substituir lá no
Vale do Ribeira. Quem estava no comando da Artilharia na Baixada Santista era o
Paulo Carneiro Tomás Alves, e quem comandava o Regimento de itu era o Coronel
Leônidas Pires Gonçalves, sendo até numa viatura da unidade dele que o Lamarca
acabou escapando, com um tenente e um sargento, numa viatura de rancho, isso já
é história sedimentada. Então, são fatos, e o pessoal, na ocasião, dizia:
‘Puxa, mas tiraram a tropa de Infantaria, que era preparada para isso, e
colocaram uma tropa de Artilharia’.
O General Paulo Carneiro
Tomás Alves era, portanto, o Comandante da Grande Unidade que o senhor
[entrevistador] comandou recentemente, ele fez questão de transferir o QG de
Santos para o Vale do Ribeira, o Boletim era ‘rodado’ lá no campo, tudo saiu do
Quartel-General e foi para lá, para pegar o Lamarca, mas acabou dando no que
deu – o Lamarca escapou e ele deixou de ser promovido, mas isso é uma outra
história” (Coronel Carlos Alberto Guedes, Tomo 9, pg. 269).
“Já no período
revolucionário, fui para a Amazônia ajudar a criar o Centro de Instrução de
Guerra na Selva. Nós estávamos lá, quando o Capitão Lamarca roubou o armamento
no 4º. RI e foi para a cidade de Registro-SP criar um foco de guerrilha. O
General Rodrigo Octávio, Comandante Militar da Amazônia, chama o Coronel
Teixeira, Comandante do Centro de Instrução de Guerra na Selva – CIGS – e diz
que deveríamos preparar a nossa tropa para fazer um deslocamento rápido à
região de São Paulo para combater a guerrilha do Lamarca. E, assim, fizemos.
Toda a tropa do CIGS, julgada a mais adestrada em guerra na selva, era uma
equipe de uns quarenta homens. Reunimos todos os instrutores e alunos de Guerra
na Selva para uma operação contra a guerrilha do Lamarca.
Todavia, o General Rodrigo
Octávio foi transferido para Brasília e a colaboração da tropa de Manaus deixou
de ser aceita. O nosso Comandante, Jorge Teixeira de Oliveira, o ‘Teixeirão’,
excelente oficial, ficou muito aborrecido. Ele disse: ‘Meu Deus, nós criamos o
CIGS, estamos adestrados, o curso funcionando, o Exército tem uma equipe
excepcional e não a empregamos’. Naquele momento, o curso de Comandos, da
Brigada Paraquedista, que estava conosco em Manaus, foi mandado para Registro.
Nós não fomos. Eles foram, mas, com dez ou doze dias, saíram. Também não os
aceitaram, por quê? Não entendi! Utilizaram tropa recém-incorporada – soldado
que tinha três meses ou menos ainda de quartel. Deu no que deu. Quer dizer, não
foi uma vitória do Lamarca, foi o emprego de tropa inexperiente. Fizeram um
relatório e depois, mandaram para nós, em Manaus.
Estávamos em treinamento de
guerra na selva, estudávamos a doutrina de guerra na selva, no Centro
considerado hoje o melhor do mundo. Por ser instrutor daquele Centro em Manaus,
é que fui mandado, à revelia, para o Panamá. Fui instrutor de operações na
selva, de patrulha na selva, dos ‘Tigres’ – o Ranger – no Panamá. Por quê?
Porque eu tinha sido Chefe da Divisão de Ensino e Oficial de Operações do CIGS.
Foi só por isso. Qualquer oficial que tivesse passado pelo CIGS, naquela época,
teria condições de cumprir a mesma missão.
No relatório, que eu disse
que recebemos em Manaus, a respeito de Registro, depois da operação contra o Lamarca, o General
Airosa, que era, em São Paulo, o Chefe do Estado-Maior do II Exército, escreveu
assim: ‘Chegamos à conclusão de que o facão de mato é muito importante no
combate na selva’. Quando nós pegamos aquele relatório, em Manaus, e o lemos, o
Coronel Teixeira falou-nos: ‘Meu Deus do céu!’ E amassou o relatório e jogou
fora. ‘Meu Deus do céu” Estou aqui há três anos, criamos o CIGS, ensinamos a
doutrina de selva e o conhecimento sobre os equipamentos do combatente de selva,
mostramos a experiência da Birmânia, na Segunda Guerra Mundial, e somente
agora, numa operação que fracassou, voltada praticamente para prender o
Lamarca, que acabou escapando, chega-se tardiamente à conclusão de que o facão
de mato é um equipamento muito importante para o combatente de selva!’ Caso
tivesse empregado a tropa do CIGS, especializada em operações na selva, no
enfrentamento com o Lamarca em Registro, no lugar da tropa bisonha e
despreparada para este tipo de missão que não sabia nem para que servia o facão
de mato, claro que o resultado teria sido outro” (General-de-Brigada Durval
Antunes Machado Pereira de Andrade Nery, Tomo 10, pg. 176-177).
Obs.
No
link abaixo, depoimento sobre a Campanha do Exército no Vale do Ribeira, em
1970, feito por meu amigo, então recruta, Guido Schneider, natural como eu de
Luzerna, SC -
https://felixmaier1950.blogspot.com/2020/04/campanha-do-exercito-brasileiro-no-vale.html
Em
agosto daquele ano, eu fiz o Curso Básico de Comandos, na região da estação
“Véu de Noiva”, da estrada-de-ferro Curitiba-Paranaguá, a cargo do 20º. RI,
atual 20º. BIB.
F.
Maier
O
AI-5 E A GRANDE MENTIRA DA ESQUERDA: DE QUE PEGOU EM ARMAS EM DEFESA DA
DEMOCRACIA
“Na hora de dar chocolate,
não se dá tiro; na hora de dar tiro, não se dá chocolate”
(dito popular, citado pelo general Leonidas Pires Gonçalves).
“As mulheres engajadas na
luta armada eram as piores que existiam, as mais perversas, pegavam os jovens
pelo sexo” (Coronel Godofredo de Araújo Neves, Tomo 7,
pg. 173).
A esquerda repete, ad nauseam, que lutou contra o Governo
Militar, contra a ditadura, para a volta da democracia. Essa é uma deslavada
mentira que não se sustenta, pois a ideologia que todos eles professavam era a
ideologia comunista, que nada tem de democrático, e buscavam apoio em países
totalitários, como União Soviética, Tchecoslováquia, Cuba, China, Albânia.
Outra mentira cantada em
prosa e verso pela esquerda é afirmar que as ações dos grupos terroristas de
esquerda foi uma reação à edição do AI-5, em 13 de dezembro de 1968. Basta
tomar conhecimento das dezenas de ações terroristas desencadeadas durante todo
o ano de 1968 para ver que isso é mentira. Além da reverberação do movimento
estudantil, principalmente em maio de 1968, tanto em Paris, nos EUA, como no
Brasil, o aumento substancial do número de grupos terroristas se deveu ao
objetivo da OLAS, ocorrido em Cuba em 1967, de criar vários “Vietnãs” em toda a
América Latina. Com a morte de Che Guevara, na Bolívia, em 1967, muitos
estudantes também queriam ser um novo Guevara.
Esses grupos terroristas
tinham sido formados na China, na URSS, em Cuba, na Albânia e outros países
comunistas da Europa Oriental. No entanto, satanizam a Operação Condor, que foi
apenas uma resposta à agressão comunista, como lembra o general Leonidas:
“Nos
dias de hoje ficam aí falando da célebre ‘Operação Condor’. Sempre digo, é uma
lei antiga, de física, que ‘a toda ação corresponde uma reação igual em sentido
contrário’ e, dessa forma, respondo a essa pergunta. Se a orientação e o apoio
dessas operações vinham de fora – vinham da Rússia e da China, via Cuba ou
Uruguai – enfim, era um movimento internacional integrado, o que há de estranho
no fato de o Cone Sul se reunir para colocar um ‘basta’ a isso, com troca de
informações, já que todos eram atingidos? Então, isso é um verdadeiro absurdo,
é um desses outros clichês que a mídia cria para nos ofender, até hoje, sem
nenhuma razão” (Tomo 1, pg. 92).
O
“MILAGRE BRASILEIRO” E O AI-5
“Lembro-me muito bem do
Delfim dizer, com a ideia do: ‘agora ponho a economia do País para crescer’,
porque baixou os Atos que antes não poderia baixar, dependia de lei. Então,
utilizando o Decreto-Lei, começamos a viver o ‘milagre brasileiro’ ” (Coronel
Sérgio Mário Pasquali, Tomo 5, pg. 199).
“E
o interessante, General, é que vi outro dia na televisão, aliás na TV Globo, na
Globo News, um depoimento sobre o AI-5 de um dos participantes, no qual aparece
o Delfim Neto dizendo que votou a favor do AI-5 porque ele queria meios de ter
liberdade para promover as reformas econômicas necessárias. Deus até a
justificativa, assim promover a reforma no campo econômico e financeiro. [entrevistador]
Inclusive eram punidos os
crimes contra a Segurança Nacional, contra a ordem econômico-social e a
economia popular, isto é texto claro no Ato Institucional. Isso beneficiou
muito a área da economia e deu a possibilidade de construção do ‘milagre
econômico’ que permitiu o País crescer à razão de 11%, durante vários anos”
(General-de-Brigada Danilo Venturini, Tomo 15, pg. 212).
“Quanto à hipótese de que o
limite dos governos revolucionários fosse balizado pelo sucesso do ‘milagre
econômico’, deve ser considerado que boa parte do ‘milagre econômico’ dependeu
das disposições do Ato Institucional no. 5. A equipe econômica do Governo
Presidente Costa e Silva inseriu no corpo do AI-5 uma série de medidas, algumas
até draconianas, no sentido de assegurar o desenvolvimento da economia do País,
sem maiores obstáculos. Isto posto, um instrumento de exceção foi útil à parte
econômica. Tomamos conhecimento de uma pesquisa na qual realizaram uma consulta
a trabalhadores, na área urbana. Chegaram à conclusão de que, entre um governo
eleito, sem realizações, e um governo não eleito pelo povo, mas que assegurasse
o seu bem-estar e progresso, prefeririam o governo não eleito. Eu até disse que
lastimava essa constatação, mas é uma verdade que não podemos deixar de
registrar. E a outra é a seguinte: o fim do Governo Médici foi o período mais
desfavorável, sob o ponto de vista político, pois a luta armada estava no auge.
Não seria conveniente romper o processo sem a garantia de um período de
tranquilidade, pois interrompido, abruptamente, após a luta armada, aqueles que
nos sucedessem, dificilmente deixariam de aproveitar a oportunidade para
vinditas” (General-de-Brigada Danilo Venturini, Tomo 15, pg. 218).
(...) O Governo Castello Branco,
por exemplo, por mais que tenha plantado para o futuro do Brasil, deixou de ser
reconhecido em termos de desenvolvimento, porque, no triênio 1964/1966, a taxa
de crescimento do produto real ficou em 3,8% anuais, o que não deixa de ser uma
injustiça para uma gestão tão profícua. O Governo Costa e Silva foi recolocado
no quadro dos beneméritos do desenvolvimento pelos aumentos do produto real em
mais de 9%, ocorridos tanto em 1968 como em 1969” (General-de-Divisão Luiz
Augusto Cavalcante Moniz de Aragão, Tomo 12, pg. 100).
Choque
do petróleo pôs fim ao “milagre brasileiro”
“No dia 6 de outubro de
1973, os egípcios e sírios iniciaram a chamada Guerra do Kippur-Ramadam. O
Iraque, em seguida, decretava a nacionalização de parte dos interesses
norte-americanos nas suas jazidas petrolíferas.
Prevendo a impossibilidade
de um retorno à situação anterior, quando exerciam um domínio absoluto desde a
produção até à comercialização, as companhias internacionais passaram, também,
a incentivar a alta dos preços do petróleo, o que lhes proporcionou os maiores
lucros na história da indústria petrolífera.
O preço médio do barril de
petróleo bruto que, em janeiro de 1973 era de três dólares, em março de 1974
alcançou o valor de US$ 13,31 e, portanto, um aumento de 343% em pouco mais de
um ano.
A importação brasileira de
petróleo passou de 712 milhões de dólares em 1973 para 2,8 bilhões em 1974 e
3,2 bilhões em 1976.
A alta dos preços do
petróleo, somada às pressões de realimentação da inflação já existentes, quase
duplicou, em 1974, o ritmo inflacionário dos países desenvolvidos. A média
anual saltou de 7,2% para 12,1%, chegando em alguns países, como o Japão, a
quase 25%. Além disso, desorganizou seriamente os seus balanços de pagamentos e
o seu sistema produtivo.
Isto se repetiu no Brasil,
só que de forma mais grave, pois tão importante quanto o choque do petróleo,
foi o choque das matérias-primas, em 1974. As importações de matérias-primas
(trigo e insumos industriais básicos) em 1974 tiveram o seu valor mais do que
dobrado em relação a 1973 como resultado do aumento dos preços pelos países
vencedores.
(...)
O Brasil, ao contrário dos
países industrializados, deliberadamente, evitou partir para a estratégia da
recessão econômica.
A ideia foi realizar uma
desaceleração progressiva, seja porque o País
sendo pobre iria pagar um preço altíssimo pela recessão em termos
econômicos e sociais, seja porque precisava ganhar tempo, para que a solução
objetiva, de sair da crise do petróleo pelo aumento das exportações e pela
busca de uma autossuficiência em insumos básicos, pudesse apresentar
resultados.
Nesse sentido, o maior êxito
obtido foi o crescimento do PIB de 9,7% em 1974, portanto no ano seguinte à
crise do petróleo, quando a maioria dos países industrializados já começava a entrar
em recessão e a obtenção de um crescimento anual médio do PIB, entre 1974 e
1980, de 7% (Revista Conjuntura Econômica)”
(General-de-Divisão Luiz Augusto Cavalcante Moniz de Aragão, Tomo 12, pg.
106-107).
O
segundo choque do petróleo foi mais nocivo ao Brasil que o primeiro
“O Segundo Choque do
Petróleo (1979) foi extremamente danoso à economia brasileira.
Enquanto o petróleo era
bastante no mercado internacional, a exploração desse produto em nosso
território era considerada inviável economicamente e, por isto, o esforço não
era prioritário. Além do mais, o então insuficiente desenvolvimento tecnológico
da Petrobras para as pesquisas em águas profundas e a escassez de recursos para
esses investimentos concorriam para um quadro de pouco empenho por aquela
empresa. Havia, também, uma expectativa, desde 1973, de que os EUA e aliados
europeus importadores do petróleo (Inglaterra, Alemanha e França) viessem a
fazer uma intervenção no Oriente Médio para alterar as condições comerciais
daquele produto. Isto acabou adiando, aqui em nosso País, decisões de
restrições mais fortes em seu consumo.
(...)
Em junho de 1979, aconteceu
o pior. A OPEP eleva o preço do barril de petróleo para uma faixa de 18 a 23,50
dólares (nos anos seguintes, chegaria a 43 dólares).
Desta vez, ao contrário do
que ocorrera durante a crise de 1973, o Brasil decidiu acompanhar a estratégia
dos demais países importadores.
Por seus reflexos no balanço
de pagamentos, na inflação e na atividade econômica, o Presidente Figueiredo
entendeu que a questão energética deveria assumir prioridade máxima em seu
Governo. Anunciada, ainda, a criação da Comissão Nacional de Energia (CNE).
Em julho de 1979, após ouvir
o Conselho de Desenvolvimento Econômico (CDE) e a recém-criada CNE, o
Presidente decide congelar em 960 mil barris/dia a importação de petróleo,
apesar de saber que o consumo previsto para o segundo semestre daquele ano era
de 1.025 mil barris diários.
A CNE resolve, ainda,
estabelecer como instrumento para atender ao crescimento da demanda o aumento
da produção nacional de petróleo e o uso de fontes alternativas. Entre estas,
são incluídas a opção de elevar o consumo de álcool, do carvão mineral e
vegetal, da biomassa e da energia solar direta” (General-de-Divisão Luiz
Augusto Cavalcante Moniz de Aragão, Tomo 12, pg. 108-109).
O
AI-5 foi necessário?
“Como
o senhor viu a ação dos terroristas antes da decretação do AI-5?
[entrevistador]
As bombas estavam
explodindo. Foram 25 bombas, 17 só em 1968. Mas as bombas, não se sabe, até hoje,
quem é que estava jogando.
Houve,
entretanto, dois atentados ao próprio Quartel-General do II Exército: um na
Conselheiro Crispiniano, outro no Ibirapuera. [entrevistador]
Isso foi outro erro grave
deles. Aquele atentado contra o soldado Mário Kozel Filho – promovido a
sargento. Aquilo foi uma ignorância. Obteve repúdio nacional. Mataram um jovem
recruta que estava cumprindo o seu dever, prestando o serviço militar, de uma
forma covarde. O assassinato do capitão, aquele americano, Charles Rodney Chandler,
em 12 de outubro de 1965, que estava fazendo um curso, na presença da esposa e
do filho de 8 anos. Aquilo, também, foi outra ignorância que só obteve protesto
e repugnância. Foram erros graves que eles cometeram. Eles, hoje, querem ser
vistos como ‘bonzinhos’, mas não prestavam, eram frios, covardes...”
(General-de-Brigada Celso dos Santos Meyer, Tomo 10, pg. 144).
“O
AI-5, então, foi necessário? [entrevistador]
Ah! Não há dúvida nenhuma.
Foi necessária a criação dos instrumentos adequados para poder coibir a ação
armada, mas agindo de maneira legal. O AI-5, embora venha ser considerado
ditatorial, foi um instrumento instituído legalmente. O ilegal é quando a ação
é realizada através da iniciativa própria, por meio do livre arbítrio de
determinada pessoa. Então, o AI-5 estabeleceu normas, regras, em face de uma
situação caótica criada pelos comunistas.
82
bombas foram lançadas naquele período [entrevistador]
Então, houve necessidade de
tomarmos medidas...
Ningúem
cita isso, só falam do AI-5, mas não dizem por que é que ele veio
[entrevistador]
Realmente. O AI-5 foi
exatamente o instrumento legal para fazer face àquele caos que o País fora
obrigado a enfrentar a partir de 1968, embora o primeiro atentado tenha
ocorrido em 1966 no Aeroporto de Guararapes, no Recife, como já citei” (Coronel
Amaury Friese Cardoso, Tomo 10, pg. 354).
“O
Ato Institucional No. 5 (AI-5) foi necessário? Qual a sua opinião?
[entrevistador]
Sim, o AI-5 foi necessário,
pois veio depois de numerosos atentados e mortes criminosas. Vários foram os
atentados a bomba, inclusive sobre o jornal O
Estado de São Paulo e a Bolsa de Valores de São Paulo. Repulsivos foram os
atentados aos jovens soldados quando sentinelas, Antonio Carlos Jerrey, Eduardo
Custódio de Souza e Mário Kozel Filho, entre muitos outros. Atentados a bomba,
explosivos em edifícios públicos e vias de transporte foram uma constante, a
partir do início de 1968. Foram em número de 25 os atentados que precederam ao
AI-5, o qual deu ao Governo os meios necessários para combater o terrorismo.
Além disso, o Congresso Nacional negou-se a processar o Deputado Márcio Moreira
Alves, que, de forma insolente, manifestou-se contra a Revolução, protegido
pela imunidade parlamentar, o que fortaleceu a opção pelo AI-5, para a defesa
da Revolução ameaçada” (Desembargador Nelson Pecegueiro do Amaral, Tomo 14, pg.
110).
“O
AI-5 era necessário? Qual a sua opinião? [entrevistador]
Absolutamente necessário.
Para entendermos o porquê, passamos aos fatos (fonte General Raymundo Negrão
Torres, Ombro a Ombro, de novembro de
2001): ‘Explosão de uma bomba no cinema Bruni, no Rio de Janeiro, com um
inocente morto (12 de novembro de 1964); atentado à bomba contra o jornal O Estado de São Paulo (22 de abril de
1965); atentado à bomba no Aeroporto dos Guararapes, contra o General Costa e
Silva e no qual morreram o Almirante Nelson Gomes Fernandes e o jornalista
Edson Regis de Carvalho e sofreu mutilações o Tenente-Coronel Sylvio Ferreira
da Silva, um dos muitos feridos no atentado. Segundo Jacob Gorender, em seu
livro ‘Combate nas Trevas’, esse atentado foi obra da Ação Popular (25 de junho
de 1966); explosão de uma bomba no cinema Itajubá, em Santos (1º. de agosto de
1966); explosão de uma bomba no Teatro Guaíra, em Curitiba (26 de agosto de
1966); explosão de uma bomba na sede do
Corpo da Paz, entidade americana no Rio de Janeiro, com um ferido (2 de agosto
de 1967); primeira ação terrorista seletiva da ALN, em Presidente Epitácio –
assassinato do fazendeiro Zé Dico, na invasão de sua fazenda (24 de setembro de
1967); é assassinado o bancário Osíris Marcondes, do Banco Mercantil de São
Paulo, durante assalto de terroristas à agência da qual era o gerente (15 de
dezembro de 1967); atentado à bomba contra o Consulado americano em São Paulo,
com dois feridos (15 de março de 1968). Um deles, o estudante Orlando Lovecchio
Filho, de 22 anos, perdeu uma perna e até hoje não conseguiu receber a
indenização que pleiteia; explosão a dinamite do QG da Polícia Militar de São
Paulo (10 de abril de 1968); lançamento de uma bomba contra o antigo QG do II
Exército/SP, na Rua Conselheiro Crispiniano, com dois feridos (15 de abril de
1968); novo atentado à bomba contra o jornal O Estado de São Paulo (20 de abril de 1968); atentado à bomba
contra a Bolsa de Valores de São Paulo (15 de maio de 1968); atentado à bomba
contra o Consulado da França em São Paulo (18 de maio de 1968); ocorreram
várias explosões em edifícios públicos e em vias de transporte, em diversos
pontos do País (junho de 1968); atentado à bomba contra o QG do II Exército, no
Ibirapuera, pela Vanguarda Popular Revolucionária (VPR), no qual morreu o
soldado sentinela Mário Kozel Filho e ficaram gravemente feridos vários
soldados da guarda (26 de junho de 1968); é morto a tiros no Rio de Janeiro,
por engano, o Major do Exército alemão Edward Ernest Tito Von Westernhagen, que
cursava a Escola de Comando e Estado-Maior do Exército (ECEME), confundido com
o Capitão boliviano Gary Prado, suposto matador de Che Guevara, crime do
Comando de Libertação Nacional (COLINA), em 1º. de julho de 1968, autoria
confirmada por Jacob Gorender, no livro ‘Combate nas Trevas’; explosão
simultânea de bombas em frente ao DOPS e a dois edifícios da Justiça Estadual
de São Paulo (19 de agosto de 1968); é abatido a tiros o soldado da PM/SP Antonio
Carlos Jerrery, quando de sentinela (20 de agosto de 1968); assassinado a tiros
o soldado Eduardo Custódio de Souza, da PM/SP, por terroristas, quando de
sentinela no DEOPS/SP (7 de setembro de 1968); fuzilado pela VPR, à frente de
sua mulher e filhos, o Capitão do Exército americano Charles Rodney Chandler,
de 30 anos, estudante de uma Universidade de São Paulo e veterano da Guerra do
Vietnam, sob a falsa justificativa de ser agente da Cia, tudo isso para
assinalar um ano de morte de Che Guevara na Bolívia (12 de outubro de 1968).
Assim, depois de 25
atentados, sendo 18 no ano de 1968, com dezenas de mortos e feridos, veio o Ato
Institucional no. 5.
Esses atentados, a meu ver,
corresponderam às razões maiores para a edição, em 13 de dezembro de 1968, do
Ato Institucional no. 5, com a finalidade de fornecer ao Governo os
instrumentos necessários para combater o terrorismo e a guerrilha.
Há, ainda, um outro motivo
político a ser considerado que adveio da negativa do Congresso para processar o
imaturo e insolente Deputado Márcio Moreira Alves, que, na época, resolveu
contestar a Revolução protegido pelas suas imunidades parlamentares”
(General-de-Brigada Geraldo Luiz Nery da Silva, Tomo 10, pg. 232-233).
Obs.:
Sobre
Jango, veja o que disse Márcio Moreira Alves:
Até mesmo Márcio Moreira Alves, parlamentar de
oposição ao novo Governo, foi a favor dos atos do Governo Castello Branco, como
afirma em seu livro 'O Despertar da Revolução Brasileira': “O protesto que
escrevi era uma crítica por dentro. De um modo geral era eu simpático ao
governo militar” (pg. 50). Para “Marcito”, foi um alívio ver a saída de Jango,
pois 'Achava-o oportunista, instável, politicamente desonesto... Aparecia
bêbado em público, deixava-se manobrar por cupinchas corruptos... e tinha uma
grande tendência gaúcha para putas e farras' (op.cit., pg. 51 e 52).
F. Maier
Em
1968, o militar não podia andar fardado na rua
“Naquela época, o estafeta
não saía mais do quartel fardado; saía à paisana, porque podia ser atacado
pelos terroristas na rua. Os sargentos e oficiais também tinham ordem de sair à
paisana. Ninguém podia mais ter o orgulho de andar fardado.
Agora
isso está acontecendo com os policiais, que os bandidos do crime organizado
estão matando. [entrevistador]
Exatamente!” (Coronel João
Franco Pontes Filho, Tomo 11, pg. 138).
Obs.:
Sobre
os atentados terroristas de 1968, leia, de minha autoria, “2008: 40 anos do
AI-5” - https://felixmaier1950.blogspot.com/2020/04/2008-40-anos-do-ai-5.html
F.
Maier
CARLOS
LAMARCA, TRAIDOR DO EXÉRCITO BRASILEIRO
“Os militares partidários do
Governo criaram um canal paralelo – pouca gente sabe disso – de informações.
Foi inventado através do, então Quadro Auxiliar de Oficiais. Esses oficiais
tinham acesso ao Gabinete do Ministro. Tinham força para derrubar comandantes.
Lembro-me de um sargento que por razões óbvias eu o puni várias vezes, que foi
promovido ao Quadro de Oficiais Auxiliares – e, quando promovido, pegou a farda
de sargento, arrancou as divisas e, nela, colocou as estrelas de tenente. Ao
encontrar-me, falou, com um ar de superioridade: ‘Tenente, agora estou no
Gabinete do Ministro. Qualquer coisa, me procure.’ Falou isso comigo: ‘Qualquer
coisa me procure.’
Havia, naquela época, o
famoso Batalhão Suez, Para nele ingressar, tinha que ser ligado a um desses
caras e foi inclusive o caso o Lamarca. Ele integrou o Batalhão Suez, pela
ligação que tinha com oficiais que influíam na composição daquele Batalhão. E
quando ele voltou, aconteceu um fato, também, que pouca gente fala. Cobraram
dele: ‘Você foi para Suez, graças a nossa interferência. Agora, você vai fazer
alguma coisa para nós.’ E deram a missão de roubar as armas do 4º. RI.
Havia, portanto, esse canal
de inteligência. O Comandante que punisse um sargento, que fosse mais rigoroso
com os sargentos, podia perder o Comando. Ele era destituído” (Tenente-Coronel
Pedro Cândido Ferreira Filho, Tomo 3, pg. 354).
Carlos
Lamarca facilita a fuga do Capitão-Aviador Daudt
“Era um sábado e eu estava
de serviço de oficial-de-dia [6ª. Cia PE]. À noite, uma escolta trouxe preso um
tal Capitão Daudt, da Aeronáutica. Outros oficiais já haviam sido presos na 6ª.
Cia PE. Naquele tempo ninguém prendia oficial no xadrez, normalmente eles
ficavam detidos em uma repartição do quartel. Recordo que uns três oficiais
superiores do Exército foram presos na enfermaria; lembro só de alguns
graduados que ficaram presos no xadrez. Esse Capitão Daudt chegou mais ou menos
às 10h30min da noite. A ordem era mantê-lo preso no quartel. Coloquei-o em uma
sala que ficava junto à secretaria da Subunidade.
A porta do xadrez
improvisado não tinha qualquer abertura – tipo portinhola – por onde se pudesse
observar seu interior, foi trancada com cadeado e um guarda ficou a vigiá-la.
No dia seguinte, o Comandante foi cientificado que havia um oficial preso, foi
visita-lo e resolveu mantê-lo naquele local. Sete dias depois, o Capitão Daudt,
pela madrugada, fugiu de maneira inusitada do nosso quartel.
O quarto, com um pé direito
baixo – mais ou menos uns dois metros – forro de madeira meio velho, o prédio
era antigo, tinha uma cama, quase um catre, com lastro de ferro e dois
colchões. Do estrado foi retirada uma haste, e com ela e mais uma serra o Daudt
cortou os colchões, cobertores e lençóis, quebrou o forro e saiu pelo lado da
Rua Duque de Caxias. Mais ou menos às 6h30min da manhã de domingo, uma semana
após a sua prisão, o oficial-de-dia, que era o Lamarca, recebeu o telefonema de
uma senhora avisando:
- Olha, tem uma corda
pendurada no telhado do quartel.
A parede do lado da Avenida
João Pessoa era muito alta: a da Duque de Caxias era mais baixa, devia ter
aproximadamente uns 6m. Por ali o Capitão fugiu e a sua evasão desencadeou um
certo clima de desconfiança dentro da Unidade. Foi aberto um inquérito, tendo
como encarregado o Coronel Mário Fernandes, um artilheiro febiano. Terminado o
inquérito, nada foi apurada. Hoje, depois que se revelou o perfil subversivo do
Lamarca – ninguém é criança – todos sabem que o Capitão Daudt foi auxiliado na
sua fuga pelo próprio oficial-de-dia” (General-de-Brigada Carlos Augusto
Fernandes dos Santos, Tomo 8, pg. 275-276).
“Eu servia na Companhia de
PE, de lá fui transferido para o 18º. E depois para o Colégio Militar. Na
época, o Carlos Lamarca era oficial da Companhia de PE, para onde foi levado
preso aquele major-aviador Daudt. Eu ainda alertei:
- Se não atentarem para o
lugar onde ele está recolhido, quando o Lamarca estiver de Oficial-de-Dia,
facilitará uma fuga.
Não deu outra! Ele ficou
preso em uma sala do Pelotão de Comunicações, situada no último piso. Havia uma
porta de madeira com uma janelinha de vidro e um janelão gradeado voltado para
o alojamento. Não havia por onde fugir, a não ser pela porta. Quando abriram, o
major havia fugido. Subira pelo forro para o telhado da Companhia e, como a
altura até a calçada era pequena, não teve dificuldade nenhuma, foi embora
tranquilamente. O Oficial-de-Dia era o Lamarca. Fora disso, muita conversa
fiada” (General-de-Brigada Arlênio Souza da Costa, Tomo 13, pg. 169-170).
“Traidor, primeiro, de sua
própria família. Uma família pobre, seu pai era um sapateiro, que vivia no
morro de São Carlos, aqui no Rio de Janeiro, e que, com sacrifício, o colocou
na Escola Preparatória de São Paulo, onde ele cursou, para depois ira para a
AMAN. Premiado pelo Exército, pois foi designado para integrar o Batalhão Suez,
que era uma missão relevante, no exterior, e que trazia, também, recursos
pecuniários, para que as pessoas melhorassem suas condições de vida aqui. Coisa
que muito militar, muito oficial, quis para si e não conseguiu, porque nem
todos podiam ser designados como ele foi. No entanto, Lamarca pagou com
deserção e traição esse prêmio do Exército, e tudo que a Força Terrestre fez
por ele.
E
hoje sabemos de uma coisa que nunca apareceu antes, que ele, durante todo o
tempo de Academia, foi apoiado pelo próprio Exército, através daquela
instituição que havia para ajudar os cadetes pobres, fornecendo roupa civil
para que ele andasse bem arrumado, e sob inteiro sigilo.
[entrevistador]
Obra do Estudante Pobre –
OEP.
Exatamente, Obra do
Estudante Pobre – a OEP. Os cadetes não tinham informação sobre os que estavam
sendo apoiados pela OEP. Era, justamente, a forma de nivelá-los; discretamente,
evitando disparidade visível na aparência, quando saíam em traje civil. Esse
fato só me foi contado agora, em 1995, pelo Coronel Boscardin que, na AMAN,
cuidou desse trabalho sigiloso de cunho social, no período em que o Lamarca
cursou a Academia (1958-1960) [entrevistador]
Era isso mesmo, a OEP cumpriu
um importante papel beneficente” (General-de-Brigada Nilton de Albuquerque
Cerqueira, Tomo 9, pg. 122).
A
morte de Carlos Lamarca
“Quando cheguei em Salvador
como Oficial de Operações do 19º. BC, estava empenhado na captura do Lamarca
que andava por lá já meio acuado. Depois que o Destacamento de Operações de
Informações/Centro de Operações de Defesa Interna (DOI/CODI), o Centro de
Informações do Exército (CIE), o Centro de Informações da Marinha (CENIMAR) e o
Centro de Informações e Segurança da Aeronáutica (CISA) foram embora, ficou lá
o então Major Nilton Cerqueira, que era o Oficial de Operações da 6ª. Região
Militar, cujo Chefe do Estado-Maior era o Coronel Rebuá, e o Comandante do
Pelopes (Pelotão de Operações Especiais), que era um tenente paraquedista,
Hallier, com a sua tropa. Nós até dizíamos que eles eram ‘secretas
portugueses’, pois estavam em uniformes de cangaceiros, mas com armamento
nosso. Eles fizeram o rastreamento do Lamarca e o encontraram.
Sei exatamente como é que
foi, como aconteceu, como se chegou ao Lamarca; assisti até o próprio Nilton
Cerqueira ser agraciado com a Medalha do Pacificador com Palma, com os
sargentos que participaram da operação que acabou com o Lamarca, lá no sertão
da Bahia.
Quer dizer que, na verdade,
quem acabou com o Lamarca foi próprio Exército que ele traiu e do qual desertou
levando suas armas [entrevistador]
Foi o próprio Exército, foi
o Pelopes do 19º. BC, comandado pelo Grande Comando da 6ª.Região Militar,
através do seu Oficial de Operações, que era o então Major Nilton Cerqueira,
com o grupo de apoio dele lá da 3ª. Seção.
Isso se deu depois que todo
mundo foi embora, já tinham desistido de encontrá-lo, porque ele se escondia
bem. Adotou-se, então, a mesma tática do Lamarca, ou seja, usou-se o pessoal
baiano, preparado para operação na caatinga. Tanto que depois apareceu mochila,
apareceu uniforme de caatinga etc., como lá em Minas, existe o de montanha.
Então, o Nilton, com essa
tropa, foi indo, foi indo, e acabou pegando o Lamarca em um momento já de aniquilamento
total do pessoal que o acompanhava.
O Nilton Cerqueira e eu
fomos contemporâneos no Colégio Militar, eu era o 1º. ano e ele do 4º.
ginasial. Quando eu cheguei ao 4º. ano ginasial, ele estava no 3º. científico,
e fomos direto.’res da Sociedade Literária do Colégio Militar, onde tivemos
muito contato. Posteriormente, nos encontramos na Academia (AMAN), ele
terceiranista, eu primeiranista; depois, só voltamos a nos cruzar, lá em
Salvador.
Exatamente como e de que
jeito o Lamarca morreu, me foi dito pelo próprio Cerqueira e pelo Hallier. Quem
encontrou o Lamarca encostado na árvore,
com o fuzil do lado, foi o Nilton Cerqueira. Ele apenas perguntou: ‘Você é o
Lamarca?’ O Lamarca fez menção de pegar o armamento e o Nilton não deixou,
parou ali, acabou ali. O valente alagoano Major Nilton Cerqueira disse-me:
‘Encerramos, naquele momento, uma sequência de crimes hediondos que vinham
sendo cometidos por ele. Vivo, vai sequestrar mais embaixadores, vai assassinar
mais inocentes, vai enlutar outros lares brasileiros’. Este é o jeitão dele, a
maneira de ele agir; ele decidiu naquele momento.
‘Quer dizer, era ele ou eu,
porque, se eu hesitasse, daria tempo para ele pegar e atirar contra mim; então,
não teve conversa, ali mesmo liquidou-se o problema.’ Isso ele me contou assim
que retornou” (Coronel Carlos Alberto Guedes, Tomo 9, pg. 269-270).
Obs.:
O
General Nilton Cerqueira comandou a Operação Pajussara, que resultou na morte
de Carlos Lamarca e outros terroristas.
Conheça
as ações terroristas de Lamarca e da VPR em https://felixmaier1950.blogspot.com/2020/04/o-fim-de-carlos-lamarca-e-da-vpr.html.
F.
Maier
REVOLTA DOS ESTUDANTES DENTRO DA
UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA (UnB)
Honestino Guimarães teria sido morto na Argentina?
“Quando houve o episódio
da revolta dos estudantes dentro da Universidade de Brasília, no início de
1968, o Comando Militar do Planalto (CMP), com o emprego da Polícia Militar do
DF, invadiu e prendeu os supostos responsáveis e foi instaurado um IPM. Muitos
dos detidos foram levados para a minha Unidade [atual 32º. GAC]. A maioria
ficou apenas poucos dias, mas aproximadamente uns quinze deles permaneceram
presos à disposição do encarregado do Inquérito cerca de 50 dias e só foram
soltos mediante alvarás de soltura concedidos pelo Superior Tribunal Militar
(STM).
Não sei exatamente por
que, mesmo antes da conclusão do IPM e sem saber se o preso seria indiciado,
ele recebia um alvará de soltura. Isso aconteceu com vários detidos, alguns
deles tornaram-se conhecidos, como o Honestino Guimarães, líder estudantil na
Faculdade de Geologia da Universidade de Brasília (UNB). Quando ele foi solto,
mediante alvará, conduzi-o pessoalmente até o portão da Unidade, para me
despedir ostensivamente dele. Hoje, dizem que está
desaparecido e se supõe que tenha sido morto na Argentina. Naquela época, a contaminação ideológica dele e da maioria dos demais
era quase superficial.
Para minha surpresa,
Honestino e vários outros, principalmente os mais jovens com quem dialoguei,
não conheciam ‘nada de nada’. Alguns nem mesmo eram capazes de enumerar os
Estados do Brasil e suas Capitais, e assim foi fácil demonstrar-lhes que
estavam idiotamente bancando uns dons quixotes. Rigorosamente, nada conheciam
dos problemas brasileiros e pretendiam participar de um movimento para depor os
militares do Governo e substituí-los por ‘socialistas’, cuja ideologia –
diga-se a bem da verdade – não conheciam com suficiente profundidade,
limitando-se a repetir slogans e
palavras-de-ordem que lhes haviam sido ensinados e que não sabiam explicar,
muito menos justificar. A rigor, não tinham uma ideia clara dos propósitos
secretos desses seus ‘líderes’ ” (Coronel Roberto Monteiro de Oliveira, Tomo
13, pg. 200-201).
Obs.:
Hoje, Honestino Guimarães dá seu nome ao Museu Nacional de Brasília,
assim como Leonel de Moura Brizola dá seu nome à Biblioteca Nacional de
Brasília.
A Ponte Costa e Silva, sobre o Lago Paranoá, em Brasília, tinha mudado
de nome para Honestino Guimarães, mas o nome voltou ao antigo dono, só Deus
sabe até quando. Cfr. https://www.metropoles.com/distrito-federal/ponte-honestino-guimaraes-volta-a-se-chamar-costa-e-silva. Deus sabe quando: um grupo de feministas “rebatizou” a Ponte com o nome
de Marielle Franco, ainda que de mentirinha - cfr. https://g1.globo.com/df/distrito-federal/noticia/2021/03/08/grupo-volta-a-mudar-nome-da-ponte-costa-e-silva-em-brasilia-para-marielle-franco.ghtml.
F. Maier
O
radical Walter Tesch perdeu a mão ao colocar bomba na Thomas Jefferson
“[Os presos] foram muito bem
tratados [no 32º. GAC]; todos os dias eu ia visitá-los, convidava um ou outro
para tomar café comigo no cassino dos oficiais e lá conversava com eles. Levava
revistas para eles, e até pedia aos tenentes e sargentos que também o fizessem,
mesmo sendo velhas, para ocupar as suas cabeças e assim impedir que acabassem
sendo levados a qualquer indisciplina pelo ócio. Todos aceitavam, prazerosos,
essas revistas já usadas.
Houve um exemplo de preso
ideologizado e radical, o Walter Tesch. Ao recebê-las, examinava página por
página, tentando encontrar propaganda a favor do capitalismo internacional, e
redigia na própria revista uma contrapropaganda, alardeando as benesses do
socialismo e apontando as incoerências do ‘capitalismo’. Lembro-me bem, porque
ele não tinha a mão direita. Inclusive, recebi a recomendação de mantê-lo
separado dos demais. Uma ocasião perguntei:
- Como é que você perdeu a
mão direita?
A resposta foi direta:
- Fui colocar uma bomba na
Thomas Jefferson e...
A Thomas Jefferson era um
curso similar ao Instituto Brasil-Estados Unidos, que funcionava em Brasília.
Resolveram colocar uma bomba lá como um protesto contra a influência dos
americanos no Brasil. A bomba explodiu antes e ele perdeu a mão direita.
- Quem mandou você colocar
essa bomba?
- O partido! – mais uma vez
a resposta foi imediata.
- Esses elementos do partido
são uns irresponsáveis. Você teve alguma instrução sobre explosivos? E teve
algum ressarcimento? – perguntei.
- Não, e também não recebi
nada a título de seguro – respondeu.
- Mas você perdeu uma das
mãos por irresponsabilidade deles.
A conclusão dele foi
patética:
- Ainda tenho a outra mão para dar para o partido!
Nunca mais conversamos.
Diante de uma lavagem cerebral desse porte não se tem diálogo possível. Anos
depois, lendo um jornal, soube que ele estava integrando as Forças Armadas
Revolucionárias da Colômbia (FARC), naquele país” (Coronel Roberto Monteiro de Oliveira, Tomo 13, pg. 202).
A
ordem era dizer que foi torturado na prisão
“Quando as coisas
esquentavam em São Paulo, no Rio de Janeiro ou no Rio Grande do Sul, os
subversivos se refugiavam no Paraná e em Santa Catarina. E os contatos eram
muito poucos, alguns já conhecidos, mas não havia consistência para promover a
responsabilidade criminal de nenhum deles, pelo menos dos personagens que
conhecíamos.
Para não dizer que não houve
nada na área da subversão [na 5ª. Região Militar], prendemos, por ordem do
Centro de Informações do Exército (CIE) uma ex-freira de nome Cristina, casada
com um ex-seminarista de nome Simeão. Foi um escândalo terrível porque,
simplesmente, o ex-seminarista era sobrinho-neto do General Mário Carneiro
Portes, na ocasião Secretário de Segurança, circunstância que só descobrimos
depois que ele foi preso.
Veio uma equipe do CIE e os
levou para São Paulo, onde estavam indiciados em um IPM sobre a criação do
Partido Comunista Brasileiro Rural. Esta facção ou dissidência subversiva foi
uma iniciativa que não teve vida longa; não conseguiu sobreviver em função
desse inquérito que estava ocorrendo lá. A ex-freira e o marido dela (o
ex-seminarista) ficaram em São Paulo um dia e retornaram. O encarregado do
inquérito era o famoso delegado Fleury (Sérgio Fernando Paranhos Fleury). O
Simeão e a Cristina saíram daqui em uma madrugada, no carro do CIE; na mesma
manhã, cedinho, liguei para São Paulo:
- Delegado Fleury, aqui é o
Tenente-Coronel Roberto Monteiro de Oliveira etc. e tal. Os presos referidos
seguiram viagem, passaram na minha mão tantas horas, estão incólumes e ela
disse que está grávida. Peço ao senhor que tome cuidado com alguma coisa que
possa ocorrer.
Ele falou assim:
- Coronel, isso que falam de
mim é onda. Não faço nada com ninguém.
No final da tarde, ele me
ligou:
- Coronel, já confessaram
tudo, vou mandar uma cópia para o senhor. De fato, eles tiveram ligações com o
PCBR etc. etc...
E deu as linhas gerais da
confissão que eles assinaram lá, no mesmo dia. No dia seguinte, estavam aqui,
sob a tutela da prelazia, dando entrevistas sobre os maus tratos que haviam
recebido e dizendo que tinham sido torturados. Em consequência, Dom Albano
Cavalim, Bispo Auxiliar, foi falar com o General Tourinho, Comandante da
Região. Como o General tinha uma grande confiança em mim, recomendou ao Bispo:
- O Sr. suba ao 4º. andar,
fale com o Roberto e verá que nada disso é verdadeiro.
Conversei com Dom Albano
Cavalim e lhe mostrei que tudo era a mais deslavada mentira. Primeiro passaram
presos aqui algumas horas e em São Paulo outras poucas também, onde
confessaram” (Coronel Roberto Monteiro de Oliveira, Tomo 13, pg. 207-208).
MORTE DE CASTELLO BRANCO: ACIDENTE OU
ATENTADO?
“Em
novembro de 1964, quero frisar bem, oito meses depois da Revolução já
implantada e articulada, os comunistas encolhidos, surge um movimento
subversivo chamado PORT – Partido Operário Revolucionário Trotskista.
O
General Lyra Tavares esclareceu:
-
Temos aqui uma semente já lançada, podemos colher frutos e você vai apurar.
O
problema era o seguinte. A Polícia havia descoberto um ‘aparelho’ desse Partido
Trotskista, em Recife. Estavam envolvidos jovens, universitários, tanto moças
como rapazes e alguns jornalistas, também. Nesse meio, apareceu um ex-sargento
da Aeronáutica chamado Jair Borin, o único militar nesse grupo. Mas a própria
Polícia que estava fazendo o inquérito suspeitava de que estivessem envolvidos
outros militares, do Exército e da Marinha. Coube-me a responsabilidade de apurar
se algum militar do Exército estava envolvido nisso.
(...)
Ninguém
melhor do que o comandante da Base para nos dar informação; o ex-sargento
esteve fazendo propaganda subversiva lá dentro, em pleno Governo de João
Goulart e, antes da Revolução, havia sido expulso, tanto que estava fazendo um
curso de Jornalismo.
(...)
Fui
com o Bismarck [Capitão Bismarck Amâncio Ramalho, escrivão do Inquérito] às
casas dos sargentos, na Vila Militar, demos uma batida e encontramos vários
documentos que comprometiam a maior parte deles; eram sargentos antigos, alguns
até poliglotas.
Encontrei
um papelzinho, onde havia um desenho grosseiro de dois aviões se chocando e, em
um deles, escrito assim: Presidente.
O
detalhe que quero ressaltar: isso aconteceu em novembro de 1964, no desenho o
avião do Presidente se chocando com o outro que era da FAB.
Era
um n muito grosseiro: dois aviões em voo se chocando, mas um tinha uma
inscrição ao lado: avião do Presidente! O outro era da FAB.
Voltei
para ouvir o Jair Borin, que continuava preso na Companhia de Guardas. O
general mandou deixá-lo lá. Ele estava preso à disposição da Polícia. E o Borin
disse:
- De
fato, essa turma há muito tempo está fazendo vários planos de simular um choque
aéreo de aviões, inclusive com autoridades que sobrevoam o aeroporto...
E, a
certa altura, declarou:
-
Esse Presidente aí é o Castello Branco! É o voo do Presidente, chegando aqui e
se chocando com outro avião!
Fui
logo ao General Lyra Tavares:
-
Aqui aparece uma coisa muito importante. De todas as diligências que estamos
fazendo, há quase trinta dias, surge esta revelação: o desenho pode ser uma
brincadeira, mas pode ser uma coisa séria também!
Logo
em seguida, o Marechal Castello Branco veio em visita ao Recife, quando estava
circulando aquele noticiário de torturas aos presos políticos, espancamentos...
O
Marechal Castello Branco veio acompanhado do General Ernesto Geisel para, in loco, certificar-se da existência
desse fato. Todos os encarregados de inquéritos foram reunidos pelo Comandante
do IV Exército na Escola Aprendizes de Marinheiros, no salão nobre; eu estava
lá, fui logo convocado.
Havia
coronéis, tenente-coronéis para se apresentarem ao Presidente, mas o General
Lyra Tavares disse:
-
Presidente, aqui estão todos os encarregados de inquérito. Vou chamar logo o
Major Dynalmo, porque o senhor vai ter uma surpresa desagradável, é uma notícia
um pouco ruim.
Era
justamente o nome dele como sendo vítima, possivelmente uma vítima.
Eu
me apresentei, disse qual o inquérito que estava fazendo, que já estava no
final, mas não havia envolvimento de militar do Exército, felizmente para nós;
mas havia, infelizmente, sargentos da Aeronáutica, até homens de confiança do
Comandante da Base, trabalhando na sessão de controle de voo e aquele desenho
deixara-me apreensivo.
Mostrei
para o Presidente; ele virou-se para o Geisel e disse:
-
Isso deve ser uma brincadeirqa!
A
seguir, voltando-se para mim:
-
Não é, Senhor Dynalmo?
-
Presidente, pode ser uma brincadeira, mas brincadeira de mau gosto, porque há
depoimentos de outros; um está preso, um ex-sargento expulso por subversão, que
confirmou existir um plano antigo provocando um acidente com um Presidente e no
momento... é o senhor!
(...)
Que
é que aconteceu depois?
Todos
sabem qual foi o motivo da morte do Marechal Castello Branco: um acidente
aéreo!
Foi
um impacto entre o avião da FAB e um avião civil, se não me engano um
‘teco-teco’ que vinha do Ceará. Na época do acidente (ano de 1967), realizou-se
um inquérito para saber se o acidente não teria sido – sem citar o que eu havia
apurado – uma coisa preparada, programada, planejada ainda por alguns
criminosos brasileiros, traidores da Pátria, que nunca se dão por vencidos.
Para
mim foi mera coincidência ou algo sem ligação anterior (porque houve
inquérito).
Acharam
que foi um avião a jato que passou muito rápido e abalroou o outro avião; mas
foi um fato que chamou a atenção e está aí nos arquivos do IV Exército, hoje
Comando Militar do Nordeste.
É um
assunto sigiloso, não se deu muita notícia nos jornais” (Coronel Dynalmo
Domingos de Souza, Tomo 6, pg. 53-58).
Lema de Castello Branco: “Servidão e
grandeza militares”
“Na
França, onde cursou a Escola Superior de Guerra, leu Alfred de Vigny – ‘Servidão
e Grandeza Militares’ – no qual se inspirou. O que era Servidão, para ele? Era
o Exército servir à Nação; e a Grandeza Militar era o Exército não se
‘apaixonar’ pelo Poder. Enfatizo esse aspecto: era o apanágio dele. Ele sempre
me falava a respeito disso. As Forças Armadas devem estar permanentemente a
serviço do engrandecimento do País e jamais usufruir o Poder” (Coronel Anysio
Alves Negrão, Tomo 15, pg. 336).
AFINAL,
FOI UM GOVERNO MILITAR OU UM GOVERNO CUJOS PRESIDENTES ERAM MILITARES?
“Quem foi militar nos
governos da Revolução, além do Presidente? Os ministros militares, é claro. Nos
vinte anos de Revolução, podemos apontar o Coronel da reserva Jarbas
Passarinho, o Capitão-de-Mar-e-Guerra da reserva Euclides Quandt de Oliveira, o
General da reserva Rubens Ludwig, especialista em Educação e ex-comandante da
AMAN, o General Dirceu, engenheiro de construção, que foi chamado a prestar
serviços como Ministro dos Transportes, o Coronel engenheiro Corsetti, que
modificou radicalmente a situação das comunicações no País, e o brilhantíssimo
Ministro Andreazza.
Os demais eram civis, como
os Ministros Octávio Gouveia de Bulhões, Roberto Campos, Mário Henrique
Simonsen, Delfim Netto, Hélio Beltrão, Gama e Silva, Langoni – homens de
reconhecida competência e de largos conhecimentos profissionais” (Coronel
Henrique Carlos Guedes, Tomo 3, pg. 266).
A
ESQUERDA FALA MUITO SOBRE A “OPERAÇÃO CONDOR”, MAS NADA SOBRE O MOVIMENTO
COMUNISTA INTERNACIONAL E O “OURO DE MOSCOU”
“Quando me encontrava na
Escola de Comando e Estado-Maior, na fase pós-revolucionária, começamos a agir
em vários setores. Tive a sorte de flagrar um comunista chamado Marco
Jacobovist que dava ordens por telefone para diferentes elementos, instalados
no Nordeste, no Sul e em outras regiões. Localizado o ‘aparelho’, mandávamos
uma turma lá, mas o apartamento foi encontrado vazio, só com o telefone.
Pensava: tenho que pegar esse camarada, acredito que Deus ajuda quem trabalha e
atrapalha o vagabundo. Por isso, pedia a Deus que me ajudasse, se estivesse
fazendo uma guerra justa, e Ele me auxiliou. Num dos telefonemas, o sujeito
disse o seguinte:
- É a última vez que eu falo
com vocês – e desligou.
Isso foi gravado pelo nosso
pessoal. Logo imaginei que ele estivesse para fugir, mas não sabíamos o seu
nome, porque, para cada lugar, era usado um codinome diferente. Então, comecei
a acionar a Aeronáutica. Precisava saber os horários dos vôos. Não sei explicar
o porquê, mas achei que iria para o Uruguai. Dito e feito. Um Coronado da Varig
havia sido fretado para uma viagem particular para o Uruguai. Acionei a FAB e
pedi que mandassem uma patrulha e prendessem quem estivesse no avião. Um
tenente da FAB chegou lá e encontrou o sujeito, acompanhado de um advogado, já embarcado.
O advogado abriu a pasta e mostrou o habeas corpus. O tenente me telefonou
perguntando o que fazer. Respondi:
- Rasgue o habeas corpus e traga o advogado também
para o quartel.
Pegaram os dois. Então, é
revolução ou não é? Pois bem, descobrimos que ele morava em Ipanema e, se não
me engano, quem chefiou a busca no apartamento foi o Attila Viana, de
Cavalaria, depois General. Atuou muito bem; trouxe do apartamento, sem exagero,
um pacote de depósitos bancários referentes a remessas de dólares do
estrangeiro para o Brasil, em nome dele. O dinheiro vinha da Bulgária,
Iugoslávia, Checoslováquia, ou seja, de países da Cortina de Ferro, para
fomentar a revolução no Brasil. O volume de dinheiro era impressionante; eram
depósitos de 60 mil, 80 mil dólares” (Coronel Mário Dias, Tomo 2, pg. 304-305).
“Depois do advento da
chamada ‘Nova República’, as Forças Armadas têm sido criticadas
sistematicamente pelo que fizeram ou deixaram de fazer durante o período do
regime autoritário. Sei que é difícil polemizar com a mídia, mas acho que
devíamos contestar as mentiras e meias verdades veiculadas contra nós. Sempre
que replicamos as inverdades sem fundamento, eles se calam. Um exemplo: quando
houve aquela onda na imprensa sobre a Operação Condor, fizeram uma série de
acusações contra nosso colega Ponzi (Carlos Alberto Ponzi). Ele contestou as
calúnias revelando o que realmente ocorrera na época em que era chefe da
Agência do SNI em Porto Alegre. Não se falou mais no assunto” (Coronel Hélio
Lourenço Ceratti, Tomo 13, pg. 194).
Obs.:
A
Operação Condor foi uma reação de governos militares da América do Sul ao
Movimento Comunista Internacional (MCI).
Cfr.
texto sobre o assunto, um meu e outro do General Rocha Paiva, e o Tribunal
italiano que processa militares brasileiros por envolvimento na Operação Condor
- https://felixmaier1950.blogspot.com/2020/06/operacao-condor-reacao-ao-movimento.html.
A
famigerada Comissão Nacional da Verdade também trata do assunto – cfr. http://cnv.memoriasreveladas.gov.br/images/documentos/Capitulo6/Capitulo%206.pdf.
Aparelho
- Esconderijo de terroristas durante a luta armada no Brasil, onde se encontravam
também o armamento e o mimeógrafo para impressão de panfletos subversivos. O
aparelho podia ser “aberto” (conhecido por outros militantes, além de seus
moradores ou responsáveis), “fechado” (conhecido somente por seus moradores ou
responsáveis), “de base” (utilizado para reuniões, devia possuir “fachada
legal”; normalmente, conhecido apenas por dois militantes, os demais eram
levados ao local de carro e “fechados”), “de aliado” (eventualmente, usado em
emergência para abrigar um militante que não podia identificar o local e era
levado a este completamente “fechado”), “de imprensa” (local onde eram
confeccionados os documentos de agitação e propaganda. O aparelho era dotado de
máquinas copiadoras - antigamente, os mimeógrafos (a tinta e a álcool, a famosa
“cachacinha”) - e aparelhos para impressão. Havia, ainda, o aparelho “de
informações”, destinado à coleta, análise e difusão de informações; continham
fichários, códigos, normas de segurança e outros documentos de informações.
F.
Maier
CONTROLE
DEMOGRÁFICO
Alguns generais
entrevistados consideram um erro, o Governo Militar não ter se empenhado
diretamente num programa de controle de natalidade. Diz o General Leonidas
Pires Gonçalves:
“Enquanto nós não tivermos,
em nosso País, uma política demográfica estabelecida – mas diga-se de passagem,
nada compulsório, nada obrigatório, mas sim de caráter educacional – ficaremos
numa situação difícil para resolver problemas sociais. Haja vista um dado que
gosto de repetir: a cada ano, nasce no Brasil uma população igual à do Uruguai”
(Tomo 1, pg. 89).
HOUVE
INFLUÊNCIA DIRETA DOS EUA NO MOVIMENTO DE 1964?
Os terroristas, que foram
derrotados pelo Movimento de 1964, falam que os revolucionários (militares e
civis) obtiveram apoio direto dos EUA. Mesmo que isso fosse verdade, qual o
problema, se eles faziam cursos de guerrilha no exterior e recebiam vultosas somas
de dinheiro (“ouro de Moscou”) para comunizar o Brasil desde a Intentona
Comunista, em 1935, desencadeada por Moscou com a ajuda de mercenários alemães
e Luis Carlos Prestes?
“As esquerdas tiveram
auxílio externo de toda ordem – auxílio financeiro, formação de ativistas e
outros – de países comunistas, principalmente de Cuba. Essa é uma verdade que
está, intencionalmente, esquecida. Havia setores de esquerda que até possuíam
listas de líderes e de administradores cubanos que viriam para o Brasil, logo que
a subversão fosse vitoriosa, para aqui assumirem postos na administração
pública. Vi tais listas em mãos de ativistas de esquerda” (Coronel Helio Mendes, Tomo 1, pg. 261).
“Sabe-se que os detratores
da Revolução gostam de explorar essa tese, dizendo que houve ajuda dos Estados
Unidos e apresentam, como comprovação, uma ordem recebida pela esquadra
americana para aproximar-se do Brasil. Isso é de uma ignorância muito grande.
Uma país, cuja estratégia é mundial, como os Estados Unidos, normalmente
desloca uma de suas esquadras para os lugares de crise.
É comum lermos que tal
Esquadra deslocou-se para o Mediterrâneo, próximo do Oriente Médio, outra
Esquadra deslocou-se para o Mar Vermelho ou para as proximidades de Formosa.
Toda vez que há uma crise, por medida de precaução, uma Esquadra é deslocada
para as proximidades do local. É um procedimento de rotina. As pessoas que lêem
os jornais diariamente sabem que isso acontece toda vez que se esboça uma
crise, seja em que região for. Agora, o deslocamento de uma esquadra americana
para a costa brasileira, na época do Movimento de 31 de março, tem sido
considerado comprometimento dos revolucionários com o governo de Washington, o
que nunca houve. Embora, sem dúvida nenhuma, os americanos tenham acompanhado
tudo.
Fala-se muito no General
Wernon Walters, adido militar americano na época. Ele sabia de tudo o que
estava acontecendo, porque conhecia a todos, pois esteve conosco na FEB.
Tornou-se amigo do General Mascarenhas de Moraes, do General Castello Branco e
de todos os oficiais da FEB. Qualquer um que acompanhasse os jornais com
atenção observaria, de maneira clara e objetiva, o que estava acontecendo.
De modo que, rejeito
completamente essa hipótese, essa acusação de que a conspiração foi feita em
entendimento com os militares ou governo norte-americanos. Deslocar a Esquadra
para áreas de conflito é rotina estratégica dos Estados Unidos” (General-de-Exército
Carlos de Meira Mattos, Tomo 1, pg. 229-230).
“Esse episódio começa porque
vem à baila o General Vernon Walters, que fora intérprete junto à Força
Expedicionária Brasileira na Itália, e se tornou amigo íntimo do Presidente
Castello Branco. Quando o Sr. John Kennedy percebeu que as crises tomavam rumo
perigoso, convocou o Vernon Walters, que estava, nessa época, servindo na
Itália, e o deslocou para Adido junto à Embaixada Americana no Brasil, dirigida
pelo Sr. Lincoln Gordon. Thomas Skidmore, baseado no levantamento que fez nos
Estados Unidos, afirma que não houve, quer do ponto de vista financeiro, quer
do ponto de vista político, nenhuma ingerência dos Estados Unidos na Revolução
de 1964. Foi um movimento genuinamente nacional” (General-de-Brigada Danilo
Venturini, Tomo 15, pg. 164-165).
“Existe um número da revista
Reader’s Digest, dessa época, que
publica um artigo muito bonito, intitulado: ‘A Nação que se salvou a si mesma’,
onde estão estampadas fotos do espetáculo proporcionado pela Marcha da Família
com Deus pela Liberdade.
Há um outro documento, que
possuo, este publicado pela Editora Civita, de São Paulo, não sei se hoje ainda
existe, estudo muito bonito, com o título: ‘Do comunismo de Karl Marx ao Muro
de Berlim.’ No final, aborda os antecedentes do Movimento de 1964 e a assunção
da Presidência da República do Marechal Castello Branco” (General-de-Brigada
Ruy Leal Campello, Tomo III, pg. 62).
“Tivemos conhecimento de que
o ex-embaixador soviético no Rio de Janeiro, em conversa com o nosso embaixador
em Moscou, lhe confidenciara ter recebido uma visita de Luís Carlos Prestes,
depois de muita insistência. Prestes afirmara que a revolução no Brasil já
estava ‘madura’ e que bastava mais ajuda financeira e material da União
Soviética para que eles dominassem o País, porque já estariam no governo. Esse
ex-embaixador soviético contara também ao nosso embaixador – o falecido Celso
Souza e Silva – que, na oportunidade, dissera a Prestes o seguinte:
- Não, que o Prestes ficasse
onde estava, agitasse, mas não pretendesse tomar o Governo, porque Cuba já
custava para a União Soviética alguns milhões de dólares, diariamente; que o
Brasil, em relação ao tamanho de Cuba, evidentemente, para ser mantido como um
país comunista, ia estourar o tesouro soviético; que esquecesse essa ideia” (Coronal
Luiz Paulo Macedo Carvalho, Tomo 1, pg. 288).
“Comenta-se muito a esse
respeito, mas não tenho conhecimento de algum apoio externo, embora no plano
inicial do Estado-Maior revolucionário, que já comentei anteriormente,
admitíssimos a possibilidade de enfrentar muitas dificuldades, inclusive não
conseguir descer das Alterosas, constasse, além da defesa de Minas, a conquista
do Porto de Vitória, com o objetivo claro de receber apoio estrangeiro.
No caso de uma guerra
interna, não há dúvida de que os Estados Unidos iriam apoiar os anticomunistas.
Daí a nossa previsão de dominar um porto para poder receber o necessário
reforço em armamento, munição etc.
Aliás, como imprevidência
dos integrantes do Governo Goulart, mesmo depois de iniciada a Revolução, os
caminhões transportadores de combustível continuaram trafegando normalmente, do
Rio para Juiz de Fora, quando a primeira providência sensata, em termos de
operações militares, seria cortar de Minas esse suprimento vital” (General-de-Bvrigada
José Antônio Barbosa de Moraes, Tomo 2, pg. 204-2015).
“É evidente que as
embaixadas e os adidos militares, sobretudo dos Estados Unidos, estavam
acompanhando aquele desacerto crescente, de crise sobre crise, aguardando um
desfecho, como efetivamente ocorreu. Eles não poderiam deixar de acompanhar a
evolução daquela conjuntura. O que se pode discutir, dessa questão, é se eles
estariam interferindo. Até onde sei, também havia preocupação de outras
representações diplomáticas, como as da União Soviética e da China.
Eu mesmo posso dar um
testemunho. Quando o avião, que me conduzia de Uruguaiana ao Rio de Janeiro,
fez escala em Porto Alegre, em 25 de abril de 1964, ao descer no Aeroporto
Salgado Filho, com minha família, encontrei o Adido Militar dos Estados Unidos,
Coronel Vernon Walters. Conheci-o da FEB, quando ele ainda era capitão e
intérprete junto ao V Exército. Aproximou-se de mim e falou, demonstrando
surpresa:
- Puxa! Você está aqui?
- O que você está fazendo
aqui? – perguntei-lhe do mesmo modo, também surpreso, por encontrá-lo em Porto
Alegre.
- Estou indo para a 3ª. DC,
em Bagé. Ouvi dizer que houve problemas naquela região e quero observar os
acontecimentos.
- Você está bem-informado! –
eu gostava de brincar e, também, dizer o que queria.
- Olha, já sei de tudo o que
aconteceu, em Uruguaiana, com a 2ª. DC – completou o, então, Coronel Walters.
Vejo isso de uma maneira
quase natural, porque eles deviam estar acompanhando a evolução do movimento”
(Coronel Amerino Raposo Filho, Tomo 2, pg. 280).
“A bipolaridade existente no
mundo de então, entre a Rússia e os Estados Unidos, fez com que surgissem movimentos,
em todos os países, com o objetivo de sustentar a democracia, pois aqueles que
não a mantiveram, como Cuba, cederam ao comunismo.
Quanto à influência externa,
gostaria de fazer um relato. Vernon Walters, general americano que foi Adido
Militar dos Estados Unidos no Brasil, em seu livro Missões Silenciosas, diz que
não houve movimentação alguma por parte dos americanos. Ele diz que, com base
em informações que vinham do Brasil, havia uma ‘contingência’. Esse é o termo
usado por ele. Segundo Walters, os Estados Unidos tomaram uma posição de
resguardo, preparação e planejamento. Mas não sabia da existência de movimento
de tropas para isso. No entanto, em 1965, levei provas do exame de habilitação
à Escola de Comando e Estado-Maior, para Juiz de Fora. Lá, o General D’Ávila
Mello, que comandava a 4ª. RM, convidou-me para almoçar. Nesse almoço,
apareceu, de repente, o General Vernon Walters. Foi uma surpresa agradável,
porque ele era querido por nós dois. Começamos a conversar e ele disse que
havia uma força-tarefa ao longo da costa brasileira pronta para atuar em defesa
da Revolução. Se ele me desmentir, está desmentido” (Coronel Mário Dias, Tomo
2, pg. 300).
“Não houve qualquer ação
externa, nem mesmo americana. O Embaixador Lincoln Gordon manteve o seu governo
informado de tudo acerca da Revolução, como era de sua obrigação, mas, ao
eclodir o Movimento, foi tão surpreendido como o foram os comunistas.
O Embaixador Lincoln Gordon
pediu, através do General Vernon Walters, adido militar, que era coronel à época,
muito amigo de todos nós – tinha sido oficial de ligação da FEB com o V
Exército americano, na Itália, durante a Segunda Guerra Mundial – uma audiência
com o Ministro Costa e Silva, que era o Comandante Supremo da Revolução.
Marcada a data, o Embaixador, que falava português, chegou e disse o seguinte:
- Vim aqui pedir para os
senhores assegurarem a liberdade de imprensa e os direitos humanos, e saber o
motivo da invasão da Associated Press.
- Olha, Embaixador – falou o
Ministro Costa e Silva, surpreso, olhando para ele – pensei que o senhor não
tivesse dúvidas sobre isso. Claro que vamos cumprir a lei. Quanto à Associated Press, não é uma empresa do
governo americano, nem ligado à sua embaixada. É uma empresa particular.
E prosseguiu:
- Pensei que o senhor viesse
aqui cumprimentar-nos pelo êxito da Revolução, que evitou a comunização do
Brasil, o que acarretaria real prejuízo para os Estados Unidos.
Essa foi a resposta do
General Costa e Silva. O Sr. Lincoln ficou meio ‘sem graça’ e saiu.
Além disso, convenhamos, o
General Mourão surpreendeu a todo mundo, inclusive o próprio General Castello
Branco, Chefe do Estado-Maior do Exército, que só soube do movimento de Minas
Gerais depois que ele já estava na rua, que dirá o Sr. Lincoln Gordon” (Coronel
José Tancredo Ramos Jubé, Tomo II, pg. 333-334).
“A única coisa que ocorreu e
isso está no livro do meu pai [Carlos Luis Guedes] – cujo exemplar, que tenho
aqui, é do meu irmão – foi uma conversa sigilosa de meu pai com o Vice-Cônsul
dos Estados Unidos, o Sr. Lawrence Laser, que o procurou, oferecendo apoio em
pessoa. Meu pai recusou, dizendo que, se fosse o caso, pediria ajuda material –
blindados, armamento leve e pesado, munição, combustível e material de
comunicações. Foi-lhe imposta a condição de que não seria desembarcado em solo
brasileiro nenhum só homem, para que não fosse desvirtuado o caráter da
Revolução. Também, nada lhe foi oferecido em troca, bastando-lhe a consideração
dos riscos para a segurança norte-americana que um Brasil comunista representaria.
Em seu livro, diz meu pai:
‘Meu interlocutor (Lawrence Laser), por sua vez, mostrava-se impressionado com
a receptividade do Movimento revolucionário no dia 31 de março e o entusiasmo
da população em Belo Horizonte. As filas extensas nos postos de apresentação de
reservistas e voluntários; a mobilização incalculável dos meios de transportes
– caminhões de todos os tipos, jamantas, carros de passeio; a ordem, a
organização, tudo concorrendo para que, no seu espírito, se firmasse a ideia da
sanidade e do vulto do Movimento, finalmente desencadeado por uma nação que não
queria perecer’.
Entretanto, a incrível
derrocada do famoso e ameaçador dispositivo militar de Jango e de sua pretensa
popularidade, que, afinal, se revelara um mito, tornou desnecessária qualquer
ajuda material’.
(...)
No dia 31 de março, pela
manhã, um avião leou o Dr. Oswaldo Pieruccetti para Vitória como emissário do
Governo de Minas. Naquela capital, ajustaram-se todos os pontos de vista,
integrando-se, no Movimento, todo o Estado do Espírito Santo – Governo, força
policial, bem como a guarnição federal, por seu comandante Coronel Newton
Fontoura de Oliveira Reis. Assim, ficou assegurado o porto para entrada de
suprimentos a serem transportados pela E. F. Vale do Rio Doce, cujo tráfego
seria garantido pelo 6º. Batalhão de Infantaria de Governador Valadares. O
auxílio material americano deveria entrar pelo Porto Vitória, o que, também,
foi dito pelo meu pai ao Sr. Laser. Mas, felizmente, como disse, as tratativas
não precisaram prosseguir, com a queda do Governo, sem luta, o que foi, para o
País, a melhor solução” (Coronel Henrique Carlos Guedes, Tomo 3, pg. 260).
“Consegui recentemente um
documento, publicado na coluna do Elio Gaspari – saiu no Estado de Minas, bem como no O Globo, em 19 de setembro de 1999.
Neste artigo ele fala sobre Lincoln Gordon, mas o importante não é o artigo em si,
que é irrelevante; e sim esse cabograma – naquele tempo, o meio de comunicação,
sem Internet, era através de cabograma – que aparece aqui.
Esse cabograma é do dia 30
de março, de uma informação gerada nos Estados Unidos no dia 30 de março de
1964, para o então Presidente, alertando de que o Movimento no Brasil – não
fala em Minas Gerais, fala no Brasil – já estava em andamento para a
destituição do Presidente da República. Só que não tinham a menor ideia de como
tudo iria se processar, que a destituição seria muito mais rápida do que se
imaginava, do que eles pensavam.
Outro fato inventado, o que
chega a ser ridículo, é que o Movimento foi insuflado pela CIA (Central de
Inteligência norte-americana), foi orientado pela CIA, quando absolutamente não
houve nada disso. Mais uma insensatez dos revanchistas!
O Movimento deu certo, até
porque foi feito, como dizemos mineiramente, com aquela velha história de que
mineiro trabalha em silêncio, foi sendo germinado lá em Minas, sem que houvesse
interferência de potência nenhuma.
Voltando ao cabograma, por
que aquele texto veio em um cabograma do dia 30? É porque, no dia 30, de manhã,
meu pai se reuniu com o Vice-Cônsul dos Estados Unidos, em Belo Horizonte, num
apartamento de um primo meu, Adalberto, já falecido, e deu ciência de que nós
estávamos começando um movimento revolucionário, para deposição do Presidente
João Goulart.
Esse enfoque, essa
comunicação ao Vice-Cônsul, cujo nome era Laser, gerou essa informação, através
da embaixada, para os Estados Unidos. E ainda cito mais o seguinte: nessa
conversa, o meu pai disse-lhe que, dependendo do desenrolar da situação, talvez
se precisasse de um apoio dos Estados Unidos, sobretudo de natureza logística,
porque, com certeza, como já vinha acontecendo, as forças de esquerda teriam o
apoio daqueles que queriam transformar o Brasil numa grande Cuba. Essa é que é
a realidade
(...)
Ainda tem uma coisa que meu
pai disse para esse Laser: ‘A única coisa que não aceitamos, em hipótese
alguma, era algum desembarque de tropa em nosso País; frisou, portanto, que não
se admitiria nenhuma tropa americana desembarcando em qualquer parte do
território nacional, em apoio ao Movimento de ‘964’.
Esse apoio poderia vir
através de armas, de verbas, de mídia, em propaganda mundial a favor do Movimento
em si, mas sem desembarque de tropa. Essa comunicação foi feita no dia 30;
qualquer coisa que se fale de CIA, de envolvimento norte-americano, é um
despropósito, não corresponde à realidade, em nosso Movimento que foi preparado
em Minas, que é onde tudo começou.
Dentro das preocupações,
houve um outro detalhe quando se resolver fazer o Movimento revolucionário,
Minas, por ser um Estado continental, sem saída para o mar, ficaria dependente
de ligações aéreas e, em determinadas ocasiões, marítimas, que se fariam muitas
vezes, em apoio ao desembarque de armamento, de equipamento etc.
Para isso, o Governador do
Espírito Santo, que estava solidário ao Movimento contra a comunização do País,
colocou o seu Estado à disposição de Minas, cedendo os portos para qualquer
operação que se fizesse necessária.
Nessa parte, cito a grande
colaboração que deu ao Movimento o Marechal Denys. Ele estava em Juiz de Fora,
e acompanhou as tropas; quando houve a primeira parada, ele foi quem fez o
primeiro contato com a tropa que vinha do Rio.
Quem comandava o
Destacamento vindo do Rio – composto pelo 1º. RI – Regimento Sampaio e por um
Grupo do Regimento Floriano, era o Coronel Raimundo, Comandante do Sampaio,
muito ligado ao Marechal Denys, e este, quando o Destacamento chegou a Três
Rios, fez um contato com o Coronel Raimundo, destacando as razões do Movimento
e solicitando a adesão do seu amigo e antigo subordinado. O Coronel
comunicou-se imediatamente com quem o mandara contra a tropa de Minas,
informando-lhe que as suas tropas estariam, a partir daquele momento, ao lado
das tropas mineiras” (Coronel Carlos Alberto Guedes, Tomo 9, pg. 254-255).
Afinal,
qual foi a posição dos EUA?
Achei estranho que nenhum dos entrevistados tenha falado sobre a
famigerada “Operação Thomas Mann”. Então, vamos a ela.
É mentirosa a versão da participação dos norte-americanos na
Contrarrevolução brasileira de 1964. Os documentos da inexistente
"Operação Thomas Mann" foram forjados pela espionagem tcheca que, em
1964, atuava no Brasil via KGB. Essa mentira foi montada por Ladislav Bittman,
que chefiava o serviço de desinformação da Tchecoslováquia. Em seu livro The KGB And Soviet Disinformation,
publicado em Washington, Bittman declara: "Queríamos
criar a impressão que os Estados Unidos estavam forçando a Organização dos
Estados Americanos (OEA) a tomar uma posição mais anticomunista, enquanto a CIA
planejava golpes contra os regimes do Chile, Uruguai, Brasil, México e Cuba
(...) A Operação foi projetada para criar no público latino-americano uma
prevenção contra a política linha dura americana, incitar demonstrações mais
intensas de sentimentos antiamericanos e rotular a CIA como notória
perpetradora de intrigas antidemocráticas" (site Ternuma). O livro 1964: O Papel dos Estados Unidos no Golpe de Estado de 31 de Março (Civilização Brasileira, Rio, 1977), da historiadora
norte-americana Phyllis R. Parker, com tradução de Carlos Nayfeld, diz
textualmente, nas "Conclusões", à pg. 128: "Não há provas de que os Estados Unidos instigaram, planejaram,
dirigiram ou participaram da execução do golpe de 1964. Cada uma dessas funções
parece ter competido a Castelo Branco e seus companheiros de farda. Ao mesmo
tempo, há sugestivas evidências de que os Estados Unidos aprovaram e apoiaram a
deposição militar de Goulart quase que desde o princípio. Os Estados Unidos
reforçaram o seu apoio ao elaborar planos militares preventivos, que poderiam
ter sido úteis para os conspiradores, se houvesse surgido a necessidade".
Obs.
Leia, de minha autoria, Operação
Brother Sam, uma operação fantasma, disponível na Internet - https://felixmaier1950.blogspot.com/2020/05/operacao-brother-sam-uma-operacao.html.
Abraham
Lincoln Gordon foi o embaixador dos Estados Unidos no Brasil, entre 1961 e
1967.
O
Marechal Odílio Denys havia sido Ministro da Guerra, no posto de
General-de-Exército. O Coronel Raimundo havia sido assistente-secretário do
Marechal Denys durante muito tempo.
Naquela
época, um quatro estrelas, quando era transferido para a reserva, era promovido
automaticamente a Marechal, como o foram também Castello Branco e Costa e Silva,
dentre outros.
Castello
Branco acabou com essa promoção automática, em todos os postos e graduações, quando
assumiu a Presidência da República. Também limitou em 12 anos o tempo de
permanência dos generais na Ativa.
F.
Maier
A
única ingerência dos EUA não obteve sucesso
“O General Médici, que era
então o Chefe do Serviço Nacional de Informações (SNI), veio almoçar comigo e
conversamos muito. Eu lhe disse: ‘General, gosto muito do Brasil, acompanhei
brasileiros quando estavam morrendo pela liberdade na guerra [na Itália]; estou
preocupado de estar falando da cassação do Presidente Juscelino, mas se ela for
consumada, vai dar rolo no mundo inteiro’. Ele me disse: ‘Infelizmente, já está
assinada’. Foi a única ingerência que eu confesso e não obtive êxito.
Além do mais, nós, nos
Estados Unidos, temos uma lei da liberdade de informação que, depois de 12
anos, não há mais segredos. Todos que pensam que tive alguma participação
nisso, podem pedir ao Pentágono os telegramas que mandei durante aquela época.
Eu era bem-informado, mas entre informado e participante há um mundo de
distância.
O senhor conhece os
militares brasileiros e, por isso, sabe como teria sido a reação deles com
relação a um estrangeiro que dissesse: ‘Vocês devem fazer isso ou não devem
fazer aquilo’. Por isso, fui muito cuidadoso falando com o General Médici sobre
a cassação do Juscelino.
(...)
Acho que quem pensa que a Revolução foi
um golpe fascista dos militares precisa ver as fotografias que foram tiradas,
diante deste edifício, do Comício – se não me engano, no dia 13 de março – das
bandeiras vermelhas, das palavras de ordem, dos cartazes expostos, tudo
publicado também nos jornais e nas revistas da época. Só isso bastaria para
saber se havia perigo dos comunistas tomarem o Poder. O povo sentiu isso, foi
para as ruas, estimulou os militares, que viam os acontecimentos com
preocupação, impacientes...
Mas me lembro, uma vez, em que eu estava
no pátio aqui assistindo ao 7 de Setembro ao lado do embaixador soviético e ele
disse: ‘Vocês, americanos, não têm dom para línguas estrangeiras; vocês sempre
exigem que a gente fale inglês com vocês’. Embora pudesse haver um pouco de
verdade nisso, eu lhe disse: ‘Embaixador, estranho muito – falei em russo –
estranho muito que um homem como o senhor, que tem vivido tanto tempo fora da
União Soviética, ainda acredita nesses contos de fada da propaganda comunista’.
Aí, ele me disse: ‘Walters, você pode ser um bom soldado, mas diplomata você
não o é’.
A verdade é que qualquer bom ou mau
diplomata percebe claramente que não há o menor nexo achar possível que
brasileiros estivessem dispostos a ouvir estrangeiros, americanos, a dar
palpite aqui dentro sobre revolução. Acresce que os americanos não têm nada a
opinar e muito menos a ensinar para brasileiros em termos de revolução! Há, aí,
uma ignorância enorme a respeito do Brasil para pensar que estrangeiros
pudessem fazer isso, mesmo que nada entendessem de diplomacia!”
(Tenente-General Vernon Anthony Walters, dos EUA, Tomo 9, pg. 76-77).
Obs.
O
General Walters “foi ajudante-de-ordens do General Mark Clark, quando
Comandante do V Exército norte-americano, ao qual a Força Expedicionária
Brasileira (FEB) ficou subordinada no Teatro de Operações da Itália, durante a
Segunda Guerra Mundial. Foi designado, em agosto de 1944, Oficial-de-Ligação do
V Exército junto à FEB. De 1964 a 1967, desempenhou as funções de Adido Militar
junto à Embaixada americana no Brasil, período em que foi promovido a General”
(Tomo 9, pg. 67).
F.
Maier
Auxílio americano ao Brasil: ao IBAD,
distribuição de viaturas e compartilhamento de informações sobre movimentação
de comunistas brasileiros (além da Aliança Para o Progresso e The
Cooperative League of the USA - CLUSA)
“Nos
dez anos em que passei mergulhado no processo revolucionário, só ouvi falar de
assuntos que envolviam americanos, duas vezes. Uma sobre um tal de IBAD – que
receberia recursos através da Agência Central de Informações (CIA), para
financiar a eleição de parlamentares anticomunistas. Também fiquei sabendo que
havia um negócio de viaturas, que compravam e distribuíam etc. Nada mais, nunca
mais ouvi nada. Tempos depois, já em Brasília, na D2 [embrião do CIE] do
Gabinete do Ministro Costa e Silva, recebíamos a colaboração que acreditávamos,
na época, ser proveniente de agentes da CIA. Entretanto, tinha origem na
Embaixada, cujo pessoal atuava no controle da movimentação de comunistas para a
China, URSS, Tchecoslováquia, Cuba etc. Eles nos forneciam os nomes, as datas e
locais onde fossem plotados, até mesmo seus destinos.
Brasileiros? [entrevistador]
Os
brasileiros. Lembro que um dos pontos de controle ficava em Karachi, no
Paquistão. Recebíamos a informação e vigiávamos o regresso, bem como os
itinerários. Regressavam pela Guiana, por Mato Grosso, e outros pela Argentina
mesmo.
Estas
foram as participações americanas de que tomei conhecimento; devo esclarecer
que era ligado, cerradamente, a escalões que deveriam saber de alguma coisa.
Ouvi falar sobre uma força-tarefa, mas sem comprovação, que os americanos
imaginaram mandar para cá para atuar, em caso de insucesso da Revolução”
(Coronel José Campedelli, Tomo 15, pg. 288-289).
MEMÓRIA POLÍTICA - Jarbas Passarinho
“O
ex-governador do Pará, ex-ministro e senador Jarbas Passarinho conta passo a
passo a história da conspiração que resultou no Golpe de 64. Justifica o papel
dos militares e culpa os radicais da esquerda pela guerra suja da repressão
política. Num longo depoimento ao Programa Memória Política, Jarbas Passarinho
comenta, sob a ótica de quem viveu e conviveu com o poder durante toda a vida,
sobre os principais fatos de nossa história política.”
https://www.camara.leg.br/tv/144751-jarbas-passarinho/
ÍNDIOS
MASSACRAM PESSOAL DA FUNAI DURANTE A CONSTRUÇÃO DA RODOVIA BR-174 (MANAUS-BOA
VISTA)
“Comandei o 2º. Grupamento
de Engenharia de Construção, na Amazônia, durante quatro anos. Uma das missões
dos Batalhões do Grupamento era a construção da Rodovia Manaus-Boa Vista –
fronteira com a Venezuela. Era a BR-174.
Quando assumi aquele
Comando, em junho de 1974, essa estrada possuía duas frentes de serviço. Por se
desenvolver no sentido norte-sul e cortar a Linha do Equador, o regime de
chuvas era diferente em cada extremidade da rodovia. Em vista disso, conforme a
estação chuvosa, trocávamos os elementos do sul para o norte e vice-versa.
Encontrei o Batalhão com sua frente de serviço no Rio Abonari, que era a divisa
de uma reserva indígena de duas tribos muito agressivas.
Na base localizada junto ao
rio, ao lado sul, fora da reserva, havia o acampamento da companhia de
engenharia que implantava aquele trecho da estrada. Ao norte do rio, dentro da
reserva indígena, localizava-se o acampamento da Fundação Nacional do Índio
(Funai), que fazia as ligações com os índios – porque o Exército, quando fez o
convênio com o Ministério dos Transportes, para a construção dessa rodovia,
exigiu que todo o contato com os índios fosse feito pela Funai.
Antes desse convênio, houve
uma missão da Funai, organizada com a finalidade de fazer contatos preliminares
com os índios, para explicar-lhes que iria ser construída aquela estrada. A
essa missão foi incorporado um padre, que se chamava João Calleri. Pois bem, os
índios pegaram essa expedição composta de 11 pessoas e mataram 10, inclusive o
Padre Calleri, tendo escapado um mineiro funcionário da Fundação. Foi o
primeiro ataque. Quando fizemos a ponte sobre o Rio Abonari, denominei-a Ponte
Padre Calleri.
Havia duas tribos naquela
reserva: a tribo dos atroari e a dos waimiri. O delegado da Funai, na Amazônia,
considerava que os atroari eram agressivos e os waimiri, não. Estes eram seus
amigos, frequentavam sua casa em Manaus, onde o cacique Maruaga se hospedava,
quando ia tratar-se na Cidade. O delegado ficava na maloca dos índios, também.
Como afirmei, assumi o Comando do Grupamento em junho de 1974.
No mês de outubro, os índios
chegaram ao acampamento da Funai e combinaram que no dia seguinte um grupo
sairia para caçar e outro iria para a roça – a Funai tinha uma roça para
ensinar os índios a plantar. Quando amanheceu o dia, o grupo que ficou para
plantar atacou e matou todos os que estavam no acampamento, menos um que
escapou, e os que foram caçar atacaram os funcionários da Fundação que o
acompanhavam e mataram todos. Foi o segundo ataque.
No mês seguinte, reuni o
pessoal e fiz várias determinações, entre as quais que ninguém poderia
trabalhar em grupo com menos de 15 homens. Mas tinha um empreiteiro – era até
um cearense – que trabalhava abrindo picadas na mata e bem à frente do serviço.
Disse-me que os índios eram seus amigos, que tratava deles fornecendo-lhes
remédios e comida, que tinha toda confiança neles. Ainda lembrei ao André – era
esse o nome do empreiteiro – que havia proibido grupos com menos de 15 homens. Ele
saiu dali e mandou uma turma de quatro homens a 20 km adiante do nosso
acampamento. O grupo foi atacado pelos índios. Três morreram e um escapou com
uma flecha atravessada no peito. Foi o terceiro ataque.
No quarto ataque, os índios
mataram todos os homens da Funai, no acampamento, inclusive o delegado da
Fundação na Amazônia, o Gilberto Pinto – muito amigo nosso – do qual tenho
ainda uma fotografia com uma flecha atravessada no tronco. Mataram todos,
escapou somente um. Por coincidência, em todos os quatro ataques, sempre
escapou um. O povo dizia que era para contar a história, mas acho que não, pois
esse camarada só escapou porque se atirou no rio e saiu mergulhando.
Em todos esses episódios,
foram atacados, exclusivamente, o pessoal da Funai e esse empreiteiro. Nunca
houve atrito de militares, ou mesmo civis do Grupamento, com os índios. Nos
ataques, nenhum índio foi morto ou ferido; todos os mortos foram abatidos pelos
índios. Essa é a história real.
Pasquim
manauara acusa Exército de “exterminador de índios”
Pois bem, passei o Comando
do Grupamento em 1978 e, cinco ou mais anos depois, já tendo me retirado da
Ativa do Exército, recebi uma carta de um amigo, que estava servindo em Manaus,
mandando-me um recorte de jornal daquela cidade, uma espécie de ‘Pasquim’,
imprensa marrom que só faz chantagem. O dono do jornal, o Sr. Lucena, por conta
disso, foi eleito vereador, deputado e senador, e como senador, em Brasília, acabou
dando um tiro na cabeça, justiça com as próprias mãos.
A reportagem do jornal me
acusava – a ao Exército – de ‘exterminadores de índios’, e dava conta da morte
de milhares de índios. Ora, não havia morrido nenhum índio! Redigi uma carta
detalhada a esse colega e o autorizei a falar com o Comandante do Comando
Militar da Amazônia (CMA), dizendo que estava à disposição para ser interrogado
e prestar todos os esclarecimentos necessários, se ele quisesse fazer qualquer
investigação. Eles acharam melhor arquivar aquilo, não houve providências.
Fiquei tranquilo.
A
farsa do repórter Francisco José, do Fantástico
Posteriormente, me aparece
aqui em Fortaleza, no meu apartamento, uma equipe de reportagem da Rede Globo,
do Fantástico. O repórter Francisco
José subiu ao apartamento, com sua equipe. Conversamos mais de meia hora.
Expliquei tudo, contei toda a história, que não se matou nenhum índio. O
repórter, afirmando que só queria a minha palavra, armou toda aquela
parafernália na sala do meu apartamento, leu aquele trecho da reportagem, onde
constavam as acusações contra mim e contra o Exército e pediu que eu dissesse
se aquilo era verdade ou não. Disse que era mentira, que jamais um índio fora
ferido. E relatei tudo de novo. Pois bem, quando a matéria saiu no Fantástico,
a única fala minha era essa: ‘É mentira!’ Mais nada. O repórter só queria
mostrar que eu tinha sido ouvido. Não deu direito ao público de conhecer toda a
história que lhe foi revelada, porque ele gravou mas não publicou. Ficou nisso.
A
revista Terra “mata” 200 soldados!...
Uns anos depois, recebo em
casa um número da revista Terra, que
eu assinava, trazendo uma reportagem sobre a ligação Manaus-Caribe, aquela
estrada em que trabalhei e onde aconteceu toda a história. A reportagem era
muito bonita, muito bem-feita, mas copiava tudo o que a mídia já tinha dito e
ainda acrescentava que tinham morrido 200 soldados. Escrevi uma carta para a
revista, contestando aquilo tudo, contando a história verdadeira. Ora, dizer
que tinham morrido duzentos soldados! Isso era todo o efetivo da Companhia que
trabalhava lá! Então a revista publicou uns pequenos trechos da minha carta,
sem comentário, sem nenhum destaque. A verdade continou sendo negada ao
público.
Narrando esses fatos, desejo
mostrar o quanto é difícil modificar algo na mídia, principalmente quando
interessa aos repórteres atacar as Forças Armadas. Nesses três episódios, como
se vê, nada foi modificado, e lá continuamos nós, eu e o Exército, como
‘exterminadores de índios’ ” (General-de-Brigada Gentil Nogueira Paes, Tomo 12,
pg. 142-145).
Obs.:
Leia
o texto do General Hamilton Bonat sobre a BR-174:
https://felixmaier1950.blogspot.com/2020/07/verdades-x-mentiras-o-exercito-na.html
A
respeito do assunto, leia a fake history
propalada pela imprensa:
https://felixmaier1950.blogspot.com/2020/06/indios-assassinos-reclamam-de-genocidio.html
F.
Maier
BASE
DE GUERRILHA NA SERRA DO CEDRO ALTO, PRÓXIMO A CRICIÚMA, SC
“Consegui fazer um
organograma detalhado das organizações de base de Porto Alegre, todas
catalogadas por capítulo: um capítulo de generalidades; o grande suspeito Jomil
Domingos Oltramare; o Partido Comunista do Brasil e suas linhas políticas;
Organizações dirigentes regionais; Organismos dirigentes em âmbito municipal;
Organizações de Base de classes; Organização de Base de empresas; e por aí
afora.
Fiz um levantamento do
Partido, das atividades comunistas que já se apresentavam, como terrorismo e
sabotagens; organizações de publicidade, como o suplemento Novos Rumos. Acabei me estendendo a Santa Catarina porque surgiu
uma organização – uma base de guerrilha na Serra do Cedro Alto – próximo a Criciúma.
O meu Comandante de Divisão
– 6ª. DI – era o General Aragão (Augusto Cezar de Castro Muniz de Aragão).
Antes de deslocar-me, fui ao QG e o General perguntou se eu queria tropa para
apoio. Eu já escolhera um cabo para ser o meu motorista, um sargento
datilógrafo e o escrivão do inquérito, um grande oficial, Major Canrobert
(Canrobert Lopes Costa), que me auxiliaria a montar as perguntas e gerenciar a
parte administrativa. Respondi-lhe, então, que esses três auxiliares
resolveriam os problemas básicos. Lá, se houvesse necessidade e precisasse de
gente, ligaria-me às autoridades locais e pediria apoio.
Mesmo porque não queria
fazer escândalo com a minha presença; queria chegar em sigilo. Apresentei-me no
Batalhão de Tubarão; era mais antigo do que o Comandante, mas me apresentei
para pedir apoio. Fui até à base da guerrilha, infelizmente os guerrilheiros
não estavam mais lá. Foram presos posteriormente por uma patrulha do Batalhão
de Tubarão com o auxílio do subdelegado de Cedro Alto, ocasião em que foi
descoberto um bocado de armamento.
Requisitei tudo isso em
Florianópolis, porque a Secretaria de Segurança de Santa Catarina não queria
entregar ao Exército. O Secretário, um Coronel companheiro de turma, Danilo
(Danilo Klaes), autêntico revolucionário, não queria me entregar o armamento.
Então disse a ele:
- Tu não tens que querer,
quem está fazendo o inquérito do Partido Comunista sou eu, quem foi mandado
para Santa Catarina desbaratar essa guerrilha, fui eu. O armamento era dessa
guerrilha e é a única prova de que disponho. Outra coisa, esses guerrilheiros
já estão presos comigo – embora a ação não tenha sido minha.
Só então ele me entregou,
sob protesto; tive até que assinar um documento de recebimento de armas. Trouxe
um aviãozinho carregado de armamento.
Como
é o nome do lugar em que estava a guerrilha? [entrevistador]
Serra do Cedro Alto é o
divisor entre as rodovias BR-116 e BR-101. Um local muito propício para
guerrilha, porque podiam atuar tanto em um como no outro compartimento.
(...)
Ação
Popular age em Porto Alegre, por obra de Bispo Vermelho
A Portaria Reservada do III
Exército que determinou a instauração do IPM tinha como único subsídio para
início das diligências os documentos do A2 da Aeronáutica. Uma outra coisa
interessante: a existência da Ação Popular (AP) aqui em Porto Alegre foi
revelada por mim. Quando ouvi a primeira citação da AP no inquérito, nem os
comunistas sabiam o que era, porque eles mantêm os órgãos de base alheios uns
aos outros, são todos estanques.
Uma
característica dos subversivos; informações todas compartimentadas.
[entrevistador]
Era e é a segurança deles.
Mesmo quando se descobria uma célula, nenhum dos integrantes sabia nada do
outro nem de outras células. Então, quando deslindei a AP, comentei com o
General:
- Estou preocupado, porque
alguém me informou que o bispo auxiliar de Porto Alegre, Dom Edmundo Kuns, está
envolvido com a AP.
E eu acreditava nele, até ia
à igreja para ouvi-lo. No 7 de Setembro, ele falou com um espírito de
nacionalidade que me comoveu. Diziam que ele era um dos ativadores da AP. Foi a
primeira vez que eu vi a Igreja envolvida. O General só me disse o seguinte:
- Marsillac, tu já tens um
abacaxi na mão, não te envolvas nisso. Se no decorrer do inquérito outros depoimentos
conduzirem para essa frente, traga as informações para mim, que tomarei as
providências” (General-de-Brigada José Mattos de Marsillac Motta, Tomo 13, pg
126-127).
LEI
DA ANISTIA
“Para mim, foi um desastre,
porque só veio para beneficiar bandidos, terroristas, assassinos, que hoje
estão aí, donos do Brasil.
O inimigo se apropriou da
anistia que, em vez de representar esquecimento, aproximação entre contendores,
vem servindo como lei de vingança dos bandidos derrotados, contra nós que
lutamos para salvar a Nação.
Fidel Castro está até hoje
no Poder, porque matou cerca de 17 mil cubanos que se opuseram a ele. Comunista
não dá anistia! Stálin se manteve no Poder até morrer, porque matou todo mundo
que lhe era contrário. Mao Tsé-Tung, muito querido dos estudantes brasileiros
comunistas, se manteve no Poder o tempo todo, porque matou mais de trinta
milhões de chineses. Agora, a nossa Revolução, que não matou ninguém, a não ser
alguns poucos guerrilheiros durante o longo período de vinte anos, é chamada de
‘ditadura’ e referenciada a ‘anos de chumbo’.
Aí fica a pergunta: Não
seria melhor de tivéssemos agido como Fidel Castro, Stálin ou Mao Tsé-Tung, tão
amados pela esquerda brasileira?” (Coronel Henrique Carlos Guedes, Tomo 3, pg.
275-276).
“Os políticos brasileiros
não gostam de cumprir a lei, muito menos os comuno-marxistas, que querem apenas
usufruir os benefícios da Lei da Anistia. Não aceitam que os mesmos benefícios
favoreçam outros brasileiros, igualmente nela enquadrados. Eles não conhecem o
sentido da imparcialidade. A Lei da Anistia só saiu porque o Presidente João
Figueiredo teve o próprio pai perseguido por Getúlio, e não admitia que
houvesse discriminação. Os ‘democratas’ não queriam a volta de Miguel Arraes,
nem de Brizola. Queriam uma lei de anistia restritiva, só para eles, porque
tinham medo de que, quando aqueles voltassem, assumissem o Poder. Eles, os
comunistas, estavam querendo a anistia e o Poder para eles, mas o General
Figueiredo bateu o pé e disse: ‘Não, vai ser para todo mundo’ ” (General-de-Divisão
Francisco Batista Torres de Melo, Tomo 4, pg. 69).
“A Lei da Anistia,
esquecimento dos crimes cometidos por todos os envolvidos na ‘Lula Armada’,
permitiu o retorno e o convívio harmônico das diversas tendências. Mas nunca
foi respeitada pelos esquerdistas. Enquanto assaltantes de trens pagadores e
terroristas de ontem encastelam-se em ministérios do Governo atual, os que
cumpriram com o dever são perseguidos tenazmente. Inclusive quem não participou
de nenhuma ação, como o filho do Presidente Médici. Apesar de ser um excelente
engenheiro, até hoje não conseguiu emprego, por trazer o nome Médici. Portanto,
a Lei da Anistia, em termos de produção de efeitos – apesar da universalidade
do seu espírito – só tem beneficiado os apátridas” (General-de-Brigada Manoel
Theóphilo Gaspar de Oliveira Neto, Tomo 4, pg. 93).
“Quando a Lei da Anistia
tramitava no Congresso, alguns políticos da oposição, um deles – eu não queria
citar, já morreu – foi o Ulysses Guimarães, optaram por vetar a volta de vários
políticos exilados; por exemplo, Miguel Arraes não voltaria, Leonel Brizola não
voltaria, numa clara tentativa de eliminar concorrentes para as eleições que se
aproximavam, porque esses elementos que regressava tinham peso nas urnas, eram
bons de urna, como se diz.
Próprios militantes de
esquerda, que estavam no Brasil, tentaram fazer com que a Lei da Anistia fosse
restrita.
O que aconteceu? A grande
esquerda reagiu e disse: ‘Queremos a anistia ampla, geral e irrestrita’. Era o
que se ouvia dizer e até hoje soa nos ouvidos: anistia ampla, geral e
irrestrita.
Exatamente isso era o que os
governos militares queriam. Só que os políticos não imaginavam que a anistia
ampla, geral e irrestrita também servia para os militares que participaram de
todos os movimentos, de todos os ‘entreveros’. Quando descobriram que ela
anistiava, também, os militares, ficaram decepcionados e viram que haviam caído
numa armadilha criada por eles mesmos” (Coronel Petrônio Araújo Gonçalves
Ferreira, Tomo 6, pg. 188-189).
“Quando o Presidente
[Figueiredo] falou, em 1981, na anistia, o Deputado Ulysses Guimarães elaborou
um projeto de anistia que permitia a volta à vida pública de todos os que
estavam punidos pela Revolução, mas não podiam ser candidatos na próxima
eleição na qual ele era candidato. Então o senhor Leonel Brizola não poderia
ser candidato, o senhor Fernando Henrique Cardoso, o senhor Mário Covas; O
Ulysses queria fazer uma anistia para favorecer a ele e foi aí que o Presidente
Figueiredo se insurgiu e disse aquela frase que na época foi muito difundida:
- A anistia é total ou não é
anistia e lugar de brasileiro é no Brasil.
E fez a anistia ampla, geral
e irrestrita” (Coronel Luiz Carlos de Avellar Coutinho, Tomo 7, pg. 185-186).
“Ouso dizer que houve um
certo açodamento, uma certa precipitação, em fazer voltar a Presidência da
República, muito antes do tempo, aos civis. Outro aspecto, os militares não
auferiram benefícios, não aumentaram vantagens próprias, enquanto no Poder. Ao
contário, ‘abriram a porta’ e possibilitaram o ‘revanchismo’.
O fenômeno se repete no
Chile e na Argentina. Aprovada a Lei da Anistia, por exemplo, procuram
desenterrar os mortos como se só existissem de um lado. Esquecem que existiram
mortos e sacrificados dos dois lados. Procuram inundar as mentalidades,
sobretudo dos mais jovens, de verdades deturpadas ou meias verdades.
O grande escritor brasileiro
Machado de Assis, talvez, um dos maiores romancistas que tivemos, disse assim:
‘Diga-se a verdade, mas diga-se completa, porque a verdade pela metade equivale
a uma mentira completa’. Vemos nesses livros didáticos que compulso, porque
tenho três filhos, deturpações e meias verdades ganhar foros de verdade
completa. Seus conteúdos são deturpados, propositalmente amesquinhados,
torcidos e retorcidos, tudo no intuito de omitir os benefícios trazidos pela
Revolução de 1964 e de se alardear alguns erros que aconteceram. Esses,
evidentemente ninguém é perfeito, ganharam lente de aumento e passaram a ser um
princípio geral. Nos livros didáticos, os erros tornaram-se normas do governo,
como se fossem normas estratificadas, quando eram apenas casos
particularizados, um exagero, uma minúcia, um detalhe. Visa-se solapar,
desacreditar, criar um antimilitarismo” (Doutor Emílio Antonio Mallet de Souza
Aguiar Nina Ribeiro, Tomo 10, pg. 265).
“A Lei da Anistia foi um dos
erros, entre os muitos, que os dois últimos governos militares cometeram. Como
permitir que quem pretendia estabelecer um regime totalitário de esquerda no
País se estabelecesse no poder novamente? Não posso admitir que todo aquele
pessoal comunista que foi banido e cassado voltasse cheio de benesses, cheio de
regalias, que o povo brasileiro ordeiro e progressista não desfruta” (Coronel
Tomás de Aquino de Carvalho Lima Sampaio, Tomo 10, pg. 401).
“A Lei de Anistia foi
regulamentada pelo Decreto no. 84.143, de 31 de outubro de 1979. Foi mais
abrangente do que a própria oposição reivindicava, reivindicava, realmente
ampla, geral e irrestrita. Foi possível solucionar os casos de readmissão e
aposentadoria de servidores públicos. A amplitude daquelas disposições teve
como resultado, também, a inexistência de presos políticos no País. Foram
inteiramente liberados. Manteve-se a tradição brasileira de evitar o
prolongamento de processos traumatizantes para a sociedade, ao mesmo tempo que
protegeu os seus interesses. Excluiu do benefício os condenados pela Justiça
Militar, em razão de atos de terrorismo, assalto, sequestro e atentado pessoal.
Esse último dispositivo, por uma ampliação da Lei de Anistia votada no tempo do
Governo do Presidente José Sarney, foi excluído” (General-de-Brigada Danilo
Venturini, Tomo 15, pg. 171).
“A anistia tem que unir a
Nação. Fizeram algo parecido com a chamada ‘Lei da Praia’, de época passada [II
Guerra Mundial], que beneficiou com o título de ex-combatente elementos que não
deram um só tiro. O nome da lei é, até, sugestivo” (Tenente-Coronel Nivaldo
Mello de Oliveira Dias, Tomo 6, pg. 261).
Obs.
Eram
militares das Forças Armadas que estavam de prontidão no Rio de Janeiro, para
entrar em combate na Europa, o que acabou não ocorrendo, mas que tiveram o
benefício de duas promoções. Daí a jocosa “Lei da Praia”.
F.
Maier
MÉTODO
PAULO FREIRE
“Pretendia-se coletar
informações e saber qual era a profundidade da infiltração, porque constava que
o Ministério da Educação seria um dos focos da esquerda. (...) No Ministério
começamos a examinar o que havia. O Ministério estava vazio e precisávamos de
assessoramento de alguém que indicasse os donos das mesas, para que
verificássemos o que existia, mas diante deles. Não se abriu nada, não se mexeu
em nada sem a presença do responsável. Verificar as publicações, os livros, os
planos, tudo isso.
Fui destinado ao setor de
alfabetização, eis por que tomei contato com o célebre método Paulo Freire, uma
coisa simples, mas, na realidade, uma ferramenta que estava sendo usada com o
propósito de subverter. Constatamos isso por intermédio de slides e planos. O encarregado era o professor Darcy Ribeiro; um
outro professor, Oliveira Lima, escrevia observações com linguagem de esquerda,
incitamento à luta armada, material bastante esclarecedor. Identificamos,
ainda, militares, normalmente QAO, Subtenentes e Sargentos que estavam
relacionados para aplicação desse plano de alfabetização. Muitos deles nem sabiam
do que se tratava, isso depois de confirmado. O objetivo era ganhar um
dinheirinho extra. Raros eram aqueles que tinham noção da ideologia implantada
dentro daquele sistema de alfabetização. Para isso, dispunham de muitos meios:
grande quantidade de caminhonetes Rural Willys, além de projetores, tudo bem
acondicionado em caixas, para atingir os mais remotos locais.
O método Paulo Freire
selecionava as palavras, palavras simples, do vocabulário próprio do universo
da pessoa. Então, se o sujeito vivia de pesca, é natural que as palavras se
referissem àquela atividade; se ele morava na favela, referiam-se a esse
ambiente; se era do porto, referiam-se ao cenário do porto. Era uma
alfabetização, mas uma alfabetização tendenciosa e a gente via, até pelos slides,
que mostravam o trabalhador tendo que lutar contra o patrão, porque o patrão
era um miserável. Na realidade, uma doutrinação subliminar bastante eficaz,
principalmente no planejamento voltado para as crianças.
Naquela busca foram
retirados muitos dados valiosos. Em algumas mesas abertas os donos se
encabulavam porque havia lá dentro papel de jogo do bicho, essas coisas bem do
brasileiro. Alguns tinham baralho, noutras gavetas revistas de mulheres sem
muita roupa, alguns objetos familiares e até dinheiro guardado. Estes que
possuíam dinheiro, receberam com alívio as convocações.
Bem, terminado o episódio do
Ministério da Educação, uns 15 ou 20 dias depois do desencadeamento da
Revolução de 1964, foram retomadas as aulas na ECEME. Alguns colegas estavam
faltando, foram desligados da Escola, porque muitos eram ligados ao Ministro Jair.
O fato é que retomamos as aulas e terminado o curso, fui classificado em Juiz
de Fora” (General-de-Divisão Orlando Morgado, Tomo 5, pg. 76-77).
Obs.
“O avanço do processo
revolucionário comunista antes de Março de 1964, na área da educação, foi em
grande parte creditado ao uso do Método Paulo Freire, que tem potencial para
materializar, com inegável eficiência, aquela afirmativa de Fred Schwarz: ‘O
primeiro passo na formação de um comunista é a sua desilusão com o
capitalismo’. Hoje, o método e seu autor vêm sendo reabilitados em vários
pontos do país, aparentemente com a mesma função revolucionária de antes. A
alfabetização que propicia, baseada nas condições reais em que vive o aluno,
explora largamente as contradições internas da sociedade para desmoralizar o
capitalismo, e através dele a democracia, deixando a porta aberta para a opção
socialista”
(COUTO, 1984: 38-9). “O professor
brasileiro Paulo Freire, ... descobriu que qualquer adulto pode aprender a ler
em quarenta horas suas primeiras palavras que conseguir decifrar se estiverem
carregadas de significação política; ... apenas a mobilização de toda a
população pode conduzir à cultura popular. As escolas são contraprodutivas... O
melhor caminho a seguir é um rompimento com a educação institucional rumo à
educação popular. O método se baseia no uso de palavras e expressões empregadas
conscientemente de forma dúbia e duvidosa, de acordo com o conceito que seu
autor tem de ‘educação libertadora’ e que pode ser assim resumido no conhecido
jargão esquerdista: ‘... há uma incompatibilidade estrutural entre os
interesses da classe dominante e a verdade...; a verdade está do lado dos
oprimidos e não pode ser conquistada senão na luta contra a classe
dominante...; a verdade é revolucionária, não deve ser buscada e sim feita’”
(Paul Johnson, in Inimigos da Sociedade
- cit. COUTO, 1984: 39).
Comunista
é, antes de tudo, um larápio pronto para meter a mão nas coisas alheias. O
Método Paulo Freire é uma cópia piorada – porque marxista – do Método Laubach
de Albafetização – Cfr. em https://felixmaier1950.blogspot.com/2020/05/metodo-paulo-freire-ou-metodo-laubach.html.
F.
Maier
REVANCHISMO
“A cúpula federal está
constituída da fina flor do esquerdismo nacional: Fayads, Barreiros, Ustras,
Alves e Avólios estão aí para testemunhar.
Ano passado, no Sete de
Setembro, participei como comandante dos expedicionários do Batalhão Suez,
portando a mesma farda indiana que usei no Oriente Médio enquanto tenente das
forças de emergência das Nações Unidas. Estava junto com meus companheiros:
soldados, cabos, sargentos, tenentes, todos com mais de cinquenta anos. O filho
de um soldado fez uma farda indiana e desfilou na frente da tropa, conduzindo
uma pomba, simbolizando que éramos uma tropa ‘de paz’.
Quando chegou à frente do
palanque, aquele jovem que estava conduzindo a pomba a lançou para o ar e a
pombinha não voou, ficou no chão. Os jornais de Recife noticiaram: ‘O menino
que conduzia a pombinha a lançou e ela caiu, sendo quase pisoteada pelos
soldados.’
Os jornalistas que
escreveram com relação àquele fato não tiveram sensibilidade alguma para
interpretar a mensagem que a tropa lançou, porque em nenhum momento falou-se na
palavra ‘paz’ ” (Coronel Manoel da Penha Alves, Tomo 6, pg. 223).
MAIS
PODER AOS ESTADOS
“Agora, quando estamos
enxugando o Estado, devemos lembrar que o Brasil é um continente e a Federação
precisa ser fortalecida. Como, de Brasília, poderemos resolver os problemas do
Amazonas, conhecer os problemas intermunicipais do Rio Grande do Sul, ou do
Piauí, ou lá do Maranhão? Não é possível. Temos que fortalecer a Federação, dar
mais força aos Estados para resolver seus problemas. Os governadores são
fracos, financeira e administrativamente, porque não têm condições de realizar
a sua obra. Tudo é centralizado em Brasília. É preciso descentralizar o Estado
brasileiro, para combater a burocracia que o domina, mas ao mesmo tempo temos
que fortalecer os Estado, dentro de uma ótica administrativa e política”
Deputado Federal Bonifácio de Andrada, Tomo 15, pg. 116).
ACERTOS
DA REVOLUÇÃO
“Se
reduzirmos ou eliminarmos a miséria, a ignorância, a corrupção, a exploração
política e os desníveis sociais, o comunismo morre de inanição”
(Tenente-Coronel Idalécio Nogueira Diógenes, Tomo 4, pg. 188).
O
Brasil era formado por “ilhas”; virou Continente
“Quem conheceu o País, como
conhecemos, antes de 1964, sabe que para viajar de Fortaleza para Teresina,
levava-se 24h, com pernoite em Serra Grande. O Brasil transformou-se, o Brasil
mudou, com as hidrelétricas, com os portos, com as estradas, com a indústria
naval, com a indústria de ponta de fibra ótica, com os aeroportos. O Brasil era
considerado como um conjunto de ilhas populacionais isoladas. Tudo mudou neste
País: as universidades foram ampliadas, o Brasil cresceu e se transformou na
oitava economia do mundo. O brasileiro passou a confiar mais em si mesmo e a
fortalecer a vontade nacional. O novo Brasil, o Brasil do Maracanã, com o povo,
de pé, aplaudindo o Presidente Médici. O que se fez por este País não tem
preço. Agora, o pior de tudo isso é que aqueles que foram derrotados e, hoje,
encontram-se no Poder, nada fizeram. Até a Petrobras vê-se ameaçada de perder
seus avanços e conquistas tecnológicas e a sua própria nacionalidade. Se não
fosse 1964, o que seríamos hoje?” (General-de-Divisão Francisco Batista Torres
de Melo, Tomo 4, pg. 65).
As
Forças Armadas impediram a criação das “FARB”
“Se perdêssemos, talvez
estivéssemos hoje enfrentando, como a Colômbia, quem sabe, as FARB – irmãs das
FARC – ou seja, as Forças Armadas Revolucionárias do Brasil. Aí, os
esquerdistas estariam exultantes!... E os verdadeiros brasileiros – aqueles que
realmente amam este País – atormentados e desprestigiados como acontece hoje,
com os nossos vizinhos colombianos” (Coronel Irtonio Pereira Rippel, Tomo 10,
pg. 374).
Obs.
Em
6 décadas, as FARC deixaram saldo de 260.000 mortos, tendo a Colômbia mais de
50 milhões de habitantes (dados de 2020) - – cfr. https://felixmaier1950.blogspot.com/2020/05/farc-deixaram-mais-de-260000-mortos-na.html.
No
Brasil, com população 4 vezes maior (mais de 209 milhões em 2020), quantos
mortos haveria se a Guerrilha do Araguaia fosse vitoriosa, consolidando-se uma
suposta “FARB” durante 5 décadas? Mais de 1.000.000 de mortos?
F.
Maier
Pleno
emprego
“Não havia desemprego, ao
contrário, o nível de emprego crescia de forma a absorver perfeitamente os
jovens que demandavam o mercado de trabalho. No eixo Rio-São Paulo, executivos ganhavam mais
do que seus similares americanos ou europeus.
Kombis das empresas de construção civil recrutavam mão-de-obra no ABC
paulista com alto-falantes oferecendo bons salários e confortos nos
alojamentos. Um
metalúrgico parcimonioso ganhava o bastante para comprar um fusca novo.
Criou-se a Portobras, que
começou a se preocupar não só com os portos marítimos, mas com hidrovias
interiores, como a Tietê-Paraná.
A partir de 1964, reduziu-se
substancialmente a inflação, que no desgoverno Goulart era de 96%, para 12% ao
ano, o que se verfificou no primeiro decênio da Revolução, período em que as
nossas exportações decuplicaram de 1,2 bilhão de dólares para 12 bilhões,
chegando mais tarde a 22 bilhões de dólares.
Uma pesquisa do IBOPE,
realizada em junho de 1971, em pleno Governo Médici, atribuíra-lhe 82% de
aprovação. Em 1972, a economia crescia a 11,9%, a maior taxa de todos os
tempos. Era o quinto ano consecutivo de crescimento superior a 9%. A renda per
capita dos brasileiros aumentara 50%.
(...)
No campo psicossocial,
através da criação do Banco Nacional da Habitação, conseguiu a Revolução de
1964 dar casas para uma parcela significativa da população. O meu primeiro
apartamento foi adquirido com o empréstimo do BNH, o que ocorreu com inúmeros
brasileiros. Ao mesmo tempo, reduziu o analfabetismo, com a criação do Mobral;
criou o Projeto Rondon, que levou ao interior do Brasil, particularmente à
Amazônia e à fronteira Oeste, profissionais de saúde e professores que
modificaram o perfil da saúde e da educação naquelas longínquas regiões. Ainda
no campo da Educação, assegurou a presença de mais de dez milhões de estudantes
nos bancos escolares, realizando uma revolução no setor do ensino
universitário, com um substancial incremento do número de vagas no nível
superior. O Funrural – o maior programa de distribuição de renda do mundo – teve
um alcance invejável, beneficiando cerca de quarenta milhões de trabalhadores
rurais, sustentando a economia de mais de oitenta por cento dos nossos
municípios” (General-de-Brigada Geraldo Luiz Nery da Silva, Tomo 10, pg.
228-229).
Telecomunicações:
entre as mais avançadas do mundo
“Lembro-me de uma profissão
que havia naquela época aqui no Rio de Janeiro. Era o garoto contratado para
ficar tentando conseguir linha [telefônica]. Era um garoto de 13, 14 anos,
contratado para ficar numa sala com um telefone para conseguir a bendita linha”
(Coronel Romeu Antonio Ferreira, Tomo 9, pg. 368).
“Na área de infraestrutura,
foram remodelados, para atenderem a exigências futuras, todos os portos
fluviais e marítimos, e os aeroportos; foram construídas a Ponte Rio-Niterói, a
Estrada do Aço, rodovias e ferrovias. Itaipu, que é a maior hidrelétrica do
mundo, interligada a outras usinas energéticas, como Boa Esperança e Tucuruí,
deus as condições de desenvolvimento que nos permitiram dizer, com orgulho, que
temos o maior parque industrial da América Latina. Isto se deveu a Itaipu e às
que foram citadas, construídas nos governos militares.
No campo das
telecomunicações, criou-se tudo o que ainda existe hoje. De fato, em 1964,
praticamente nada tínhamos neste setor, mas em 1974, dez anos depois, em menos
de um minuto ligávamos, por telefone da melhor qualidade, com qualquer ponto do
território nacional. Ainda no Governo do Presidente Médici, foi inaugurada a
televisão a cores, que não deixava nada a desejar em relação às melhores do
mundo. Os sistemas de telecomunicações do Brasil, implantado durante os
governos militares, foi considerado empreendimento tecnológico de país
desenvolvido, que se deveu à alta qualidade dos técnicos formados pelo nosso
Instituto Militar de Engenharia (IME), entre os quais os Ministros das
Comunicações, o Coronel Higino Corsetti e o Comandante Euclides Quandt de
Oliveira. Assim, o IME tornou-se uma entidade de primeira grandeza na
preparação de excelentes profissionais técnicos, como estes que atuaram na área
das comunicações.
(...) Na educação, foram
adotadas as seguintes medidas, entre várias outras: aumentar a escolarização,
da faixa dos sete aos 14 anos, que passou, entre 1970 e 1980, de 67% para
83,7%; incrementar a matrícula nas universidades, que subiu, entre 1964 e 1981,
de 100 mil para 1,3 milhão; estímulo substancial ao ensino dos 1º. e 2º. graus;
reestruturação da educação básica (1º. grau), que passou de quatro para oito
anos; estímulo e subsídios ao ensino do 3º. grau (superior), através do
Conselho Nacional de Pesquisas (CNPq); do Fundo de Financiamento para Estudos e
Projetos (FINEP) e da Coordenação de aperfeiçoamento de Pessoal de Nível
Superior (CAPES), de modo que, no início dos anos de 1980, já havia enorme rede
de mestrado e doutorado e a institucionalização da pesquisa.
Nos meios urbano e rural,
para atender às populações mais carentes, foram criados os Programas Nacionais
de Ações Sócio-Educativas e Culturais (PRODASEC, meio urbano; e PRONASEC, meio
rural; Programa de Expansão e Melhoria da Educação Básica do Meio Rural
(EDURAL) e Programa de Apoio às Populações Carentes da Zona Canavieira do
Nordeste (PROCANOR).
Quanto à saúde, tem-se que
atentar para a complexidade crônica do problema. Sempre houve duas estruturas:
a de saúde pública, que cuidava da medicina preventiva, e a previdenciária (dos
Institutos de Aposentadoria e Pensões), à qual cabia a medicina curativa. Já se
pode visualizar que a grande maioria do povo era excluída das condições de
tratamento de saúde. Os governos revolucionários tentaram de várias formas
unificar essas estruturas, pouco conseguindo. Criaram-se várias entidades de
saúde, com vistas a essa unificação: o Sistema nacional de Saúde, o Programa de
Interiorização das Ações de Saúde (PIASS), o Prev-Saúde, o Conselho Consultivo
de Administração Previdenciária (CONASP) e as Ações Integradas de Saúde (AIS).
Estas últimas conseguiram transferir mais recursos federais para Estados e
Municípios, aumentando os níveis de equidade e universalização dos atendimentos
e estimulando a produtividade dos órgãos de saúde em todos os níveis, criando
programações conjuntas, evitando a duplicidade de esforços.
Com relação à Assistência
Social, várias foram as iniciativas tomadas: a criação do Banco Nacional de
Habitação (BNH); o Fundo de Assistência ao Trabalhador Rural (FUNRURAL); o
Estatuto da Terra; implantação da Lei Orgânica da Previdência Social (aprovada
desde 1960), unificando-se a Previdência com a criação do Instituto Nacional de
Previdência Social (INPS), que passou a atender a outras classes de
trabalhadores – empregados domésticos, jogadores de futebol, garimpeiros,
estudantes, ministros religiosos e outros; o Fundo de Garantia por Tempo de
Serviço (FGTS), ligado à política habitacional; o Programa de Integração Social
(PIS), financiado pelas empresas privadas. O Programa de Formação do Patrimônio
do Servidor Público (PASEP), financiado pelos órgãos governamentais.
Para se ter uma noção mais
ampla de todas as realizações da Revolução de 1964, sugiro a leitura do livro
do Coronel Ivany Henrique da Silva – Heróis a Lutar – em particular o seu
Capítulo 12, que apresenta um relato completo dessas realizações (Blue Chip
Gráfica e Comunicação Ltda – Rua Cardoso Marinho, no. 18ª – 20220-370 – Santo
Cristo – Rio de Janeiro – RJ)” (Coronel Luciano Moreira de Souza, Tomo 4, pg.
125-127).
“A telefonia teve um
extraordinário desenvolvimento. Em 1964, eu passava doze horas num posto
telefônico, na Avenida Rio Branco, para conseguir ligação para a Cidade de
Fortaleza. Nove anos depois, em 1973, estive em Nova York e pude verificar que
já estávamos chegando ao nível da telefonia americana. Isto se deve a dois
ministros, engenheiros militares, um da Marinha e outro do Exército,
respetivamente, o Comandante Euclides Quandt de Oliveira e o Coronel Higino
Caetano Cosetti. Os dois eram fabulosos técnicos de comunicações. Corsetti,
foi, inclusive, nosso instrutor na AMAN” (Engenheiro João Paulo Simões Accioly
de Carvalho, Tomo 12, pg. 292-293).
Dados
estatísticos da Revolução
“Dentre os renomados civis
que defenderam a Revolução por seus feitos, destacamos a douta conferência do
Engenheiro Glycon de Paiva, diversas vezes divulgada, em nível nacional,
inclusive na Carta Mensal de setembro de 1984, publicação de alto nível
intelectual do Conselho Técnico da Confederação Nacional do Comércio.
Falei na Carta Mensal de
setembro de 1984, porque, como o senhor destacou, a partir de 1985, o
‘revanchismo’ impediu qualquer referência positiva na Imprensa sobre o período
da Revolução. É proibido divulgar!...
Justo e correto seria
lembrar e avaliar o progresso do Brasil na vintena revolucionária de dezembro
de 1963 a dezembro de 1983, mas os acéticos escondem os números que dão ao
período extraordinária expressão. E aí, Glycon de Paiva dá uma série de
exemplos como a capacidade instalada de energia elétrica que passou de 4.480
megawatts para 35.000 megawatts, um crescimento superior a nove vezes.
No intervalo considerado, o
maior aumento de potencial elétrico de todo mundo foi o do Brasil. O nosso País
passou para o terceiro potencial do mundo em setembro de 1984, quando a
Revolução se preparava para deixar o Governo.
A produção do aço cresceu de
2,8 milhões de toneladas/ano para 18 milhões, um crescimento de 600%. A
produção de automóveis passou de 174.000 unidades ano para 880.000, aumento
superior a cinco vezes, e, logo, alcançou a casa de um milhão por ano.
A produção de petróleo subiu
de 98 mil barris/dia para 340 mil, aumento superior a três vezes. A exportação
anual do Brasil subiu de 1,4 bilhão de dólares em dezembro de 1963 para
aproximadamente 22 bilhões de dólares em dezembro de 1983, 15 vezes maior.
Em 1964, o País tinha 75
milhões de habitantes e a nossa renda per capita era de 400 dólares, sendo o
PIB (Produto Interno Bruto) de 25 bilhões de dólares. No vinteno, a renda per
capita atingiu 2 mil dólares, mesmo com a população crescendo para 125 milhões
de habitantes. O PNB cresceu 1.450%, chegando a 295 bilhões de dólares.
Dois dados do campo social
merecem ser ressaltados. No ensino superior, demos um salto de 120 mil
universitários para 1,3 milhão, um crescimento de 1.000%. O outro número
importante refere-se à quantidade de habitações construídas com base nos
financiamentos do Banco Nacional da Habitação (BNH), que cresceu de 100 mil
unidades para 4 milhões e duzentos mil, o que corresponde a um aumento de 42
vezes.
(...)
Concluindo, parece-me
importante repetir que, para alcançar esses resultados, nos apoiamos, em boa
parte, na poupança alheia, cerca de 60 bilhões de dólares, em termos reais,
sobretudo a partir do Governo Geisel, uma vez que ao final do Governo Médici a
nossa dívida não chegava a US$ 8 bilhões. Adquirimos no exterior equipamentos
pesados para ampliação de quatro usinas siderúrgicas e para a instalação de
mais três, assim como para o estabelecimento de dois pólos petroquímicos e para
a metalurgia do cobre, do zinco e do níquel.
Para
a realização das conhecidas obras ciclópicas monumentais, colossais, acrescentamos
o pedido de novos empréstimos para rodovias, telecomunicações, saneamento
básico e habitação. A consequência foi o natural endividamento nacional,
especialmente no Governo Geisel que passou ao seu sucessor uma dívida de US$ 40
bilhões, cerca de cinco vezes maior do que recebera do Presidente Médici,
apesar de que os gastos redundaram num aumento substancial da nossa
infraestrutura capaz de permitir um grande crescimento.
Os
governos posteriores civis, Sarney e Collor, Itamar e Fernando Henrique –
aumentaram enormemente essa dívida. Com eles, a dívida se ampliou
assustadoramente, sem um retorno de investimentos que justificasse tal
endividamento. Esse é um dos maiores problemas a serem resolvidos, que tornam
extremamente vulnerável a economia do País como um todo. Aí, está, também, uma
diferença fundamental entre o período revolucionário, onde a dívida tinha uma
contrapartida de crescimento real, e o período posterior, onde a dívida cresceu
absurdamente sem ninguém constatar nenhum crescimento razoável da economia
brasileira” (Coronal Hernani D’Aguiar, Tomo 9, pg. 193-194).
Obs.
Em 9/4/2020, o Professor de Economia
Ricardo Bergamini publicou a evolução da dívida total brasileira, de 2002 até
fevereiro de 2020. Bergamini dá destaque à dívida interna em poder do Banco
Central, que não é lembrada na mídia – uma verdadeira “pedalada fiscal”.
No início do Governo Lula da Silva, a
dívida estava em cerca de R$ 1,104 trilhão. Em fevereiro de 2020, chegou a
6,182 trilhões. Confira tabela abaixo.
F. Maier
Dívida Líquida
Total da União (Interna e Externa)
Fonte ME - Base R$ bilhões.
Itens |
2002 |
% PIB |
2010 |
% PIB |
2018 |
% PIB |
Fev/20 |
% PIB |
Dívida Interna Em Poder do Mercado |
558,9 |
37,54 |
1.603,9 |
41,28 |
3.728,9 |
54,13 |
4.099,9 |
55,94 |
Dívida Interna Em Poder do Banco Central |
282,1 |
18,95 |
694,0 |
17,86 |
1.794,3 |
26,04 |
1.901,6 |
25,94 |
Dívida Externa Líquida |
262,9 |
17,66 |
90,1 |
2,32 |
148,2 |
2,15 |
181,1 |
2,47 |
Dívida Total Líquida |
1.103,9 |
74,15 |
2.388,0 |
61,46 |
5.671,4 |
82,32 |
6.182,6 |
84,35 |
PIB 2002 – (R$ 1.488,8 bilhões); PIB
2010 – (R$ 3.885,8 bilhões);
PIB 2018 – (R$ 6.889,2 bilhões).
Previsão do PIB 2020 – (R$ 7.329,4 bilhões).
Hoje é dia de divulgação da dívida da
União com base em fevereiro de 2020 e, como sempre, a imprensa omite o estoque
da dívida em poder do Banco Central no montante de R$ 1.901,6bilhões (25,94% do
PIB), sendo essa a parte mais importante da dívida, visto que nada mais é do
que uma “pedalada oficial” (aumento disfarçado de base monetária, ou emissão de
dinheiro falso). Vejam que essa orgia saiu de 17,86% do PIB em 2010, para
25,94% do PIB em fevereiro de 2020. Crescimento real em relação ao PIB de
45,24%. É nessa lama que o Brasil joga os seus criminosos e imorais déficits
fiscais primários.
Em 2010 o estoque da dívida líquida
da União (interna mais líquida externa) era de R$ 2.388,0 bilhões (61,46% do
PIB). Em dezembro de 2018 era de R$ 5.671,4 bilhões (82,32% do PIB).
Crescimento real em relação ao PIB de 33,94%. Em fevereiro de 2020 migra para
R$ 6.182,6 bilhões (84,35% do PIB). Aumento real em relação ao PIB de 2,47%,
comparativamente ao ano de 2018.
Ricardo Bergamini
(48) 99636-7322
(48) 99976-6974
ricardobergamini@ricardobergamini.com.br
Primeiro lugar em “vontade nacional” –
orgulho de ser brasileiro!
“Foram
tempos em que alguns lutaram para dar a todos os brasileiros: paz social, ordem
e absoluta segurança, bem como prosperidade à nossa Nação. Apesar da ação
permanente dos revanchistas, há muitas pessoas de bem que sentem saudade
daquela época, em que o Brasil era verdadeiramente respeitado.
O professor Ray Cline, que foi assessor permanente do Presidente dos Estados Unidos
desde a época de Franklin Delano Roosevelt e que dirigiu o Centro de Estudos
Estratégicos e Internacionais da Universidade de Georgetown, em Washington, ao
estudar o Poder Nacional em termos quantitativos e qualitativos dos 78 maiores
países do planeta, chegou à conclusão, em estudo publicado em 1975, de que o Brasil do primeiro lustro da década em
1970 era o sexto país, em Poder Nacional, na frente, por exemplo, do Canadá, da
Itália e Austrália, e o primeiro, junto com a França, em determinação ou
vontade nacional.
Considerando
a reconhecida competência do Professor Ray Cline, sem dúvida um dos maiores
estrategistas não só norte-americano, mas de todo o mundo, verifica-se o valor
incomensurável do Brasil, como nação, na primeira metade da década de 1970
(Governo do Presidente Médici, querido pelos brasileiros, exceto pelos
terroristas sanguinários e seus defensores extremistas, que hoje usam a mídia
para criticá-lo injustamente.
Já
em 1971, falando aos estagiários da Escola Superior de Guerra, o então
embaixador do Brasil em Washington, Araújo Castro, asseverava: ‘Nenhum país
escapa ao seu destino e, feliz ou infelizmente, o Brasil está condenado à
grandeza. A ela condenado por vários motivos, por sua extensão territorial, por
sua massa demográfica, por sua composição étnica, pelo seu ordenamento sócio-econômico
e, sobretudo, por sua incontida vontade de progresso e desenvolvimento’, aquela
forte vontade nacional do primeiro lustro da década de 1970, mensurada com
tanto acerto por Ray Cline.
Os
vinte anos do regime político implantado em 1964 transformaram completamente o
Brasil, que se modernizou e se desenvolveu de modo realmente revolucionário.
É
uma pena que no País que já teve a maior vontade nacional do mundo, como vimos,
hoje prevaleça a vontade internacional, como se verificou, por exemplo, na
criação da reserva Ianomâmi, um crime perpetrado contra a soberania nacional
por Collor de Mello e seu Ministro da Justiça, Jarbas Passarinho, para atender
às exigências norte-americanas feitas por escrito – carta assinada por oito
senadores dos EUA, em 14 de junho de 1991, encaminhada a Collor por George
Bush” (General-de-Brigada Geraldo Luiz Nery da Silva, Tomo 10, pg. 235-236).
Mar territorial das 200 milhas
“Expandimos
o nosso território através do mar das 200 milhas, com uma reação enorme de todo
mundo em cima do Presidente Médici, porque aquela medida incorporava ao
território brasileiro enorme área passível de exploração econômica, as 200
milhas em todo o nosso litoral.
Cerca
de 4 milhões de km2 de superfície que passaram a ser somados a nossa área de
8,5 milhões de km2 [entrevistador]” (General-de-Exército Luiz Gonzaga Schroeder
Lessa, Tomo 10, pg. 68).
“O que aconteceu nos últimos
vinte anos, vamos dizer entre 1964 e 1984 e o que aconteceu entre 1985 e 2005
que é o mesmo período? Então, vai ser um desastre. Não fizeram nenhum porto, a
Revolução fez vinte. Não construíram nenhuma estrada, a Revolução 56 mil
quilômetros. Ergueram 2 milhões de casas, a Revolução 4 milhões. Como podem
competir? Quais são as siderúrgicas que os atuais governos instalaram? Nenhuma,
todas que existem herdaram dos governos revolucionários. Onde há um projeto
igual ao Carajás? Ah! Desenvolveram o cerrado? Negativo! O cerrado é obra
realmente do Governo autoritário. Foi ele que investiu em pesquisa para usar o
cerrado; foi ele que fez um programa com os japoneses para construir estrada
para chegar ao porto e nós estamos hoje tirando proveito disso.
(...)
A única mensagem que vou
deixar é esta: entendo ser preciso que esse período seja estudado com relativa
isenção. Diria que serão identificados alguns defeitos, alguns pecados, como
também, muitas virtudes importantes, quer na forma de administrar, de comportar-se
diante do patrimônio público, quer no processo ético completamente diferente: a
idéia de que terminou o meu mandato, tenho que ir embora. É uma diferença
fundamental, porque o civil acha isso abominável, só um idiota que, podendo
continuar no Poder, vai embora. Esse processo ético é totalmente diferente.
Então, penso que o fundamental é darmos instrumentos e estimular essa gente que
está chegando agora, que já tem apreciável distância dessa época, a qual ele
tem acesso somente pela literatura – do que aconteceu – mas que tem disposição
para aprofundar estudos e pesquisas. Então acho que teremos uma avaliação mais
positiva desse Movimento. Embora, como disse, vamos carregar alguns dos pecados
cometidos, eternamente” (Deputado Federal Antônio Delfim Neto, Tomo 5, pg.
166-167).
“Quanto ao Médici, não me
julgo elemento indicado para qualquer avalição, pois fiz parte da sua equipe.
Era um homem simples, desapegado do Poder, bem-intencionado e popular. Em razão
dos seus êxitos, passou a ser sistematicamente contestado pela mídia
esquerdista. A declaração dele: ‘O governo vai bem, mas o povo vai mal’, mostra
claramente as suas preocupações com os problemas sociais e a sua coragem de
dizer que não concordava com alguns aspectos da sua administração.
Vale ressaltar que as ações
do seu governo obstaram a expansão do comunismo internacional, que se esvaziou
na América do Sul. E nada foi feito simplesmente para agradar aos americanos,
como muitos dizem. Até pelo contrário, os enfrentamos em várias áreas de interesse,
como, por exemplo, a fixação dos limites do mar territorial em duzentas milhas.
O Embaixador Menezes Côrtes, quando esteve em Porto Alegre, contou-nos a
pressão que o Brasil sofreu por parte dos americanos devido à nossa decisão. Ameaçaram bloquear
a nossa rádio-base na Ilha das Cobras. Através de uma espécie de
‘guerra eletrônica’ iriam desmontar o frágil sistema de vigilância do nosso mar
territorial, que fazia o rastreamento dos navios e submarinos no Atlântico Sul”
(Coronel Hélio Lourenço Ceratti, Tomo 13, pg. 193).
Obs.
Com
o mar territorial de 200 milhas, o território brasileiro teve um acréscimo de
5,7 milhões de km2 de área oceânica ao longo da costa brasileira, a chamada
“Amazônia Azul”.
Em
2005, o Ministério da Educação e a Marinha do Brasil lançaram o livro “O Mar no
Espaço Geográfico Brasileiro” – disponível em https://www.academia.edu/13122999/O_Mar_no_Espa%C3%A7o_Geogr%C3%A1fico_Brasileiro.
F.
Maier
A
terceira bandeira
“Nos anos da Revolução, até
Médici, o Brasil estourou todas as metas e previsões e ombreou-se com as
grandes nações; tornou-se um País em pleno desenvolvimento. A infraestrutura de
comunicações, transportes e energia subiu de patamar, resultado de uma
administração eficaz e proba, que aplicou os recursos com correção e de maneira
competente. O Brasil mudou de feição.
Vou citar só um fato:
fretes, a terceira bandeira.
Mário Andreazza, Ministro
dos Transportes, foi oportuno com a denúncia que fez sobre o Acordo dos Fretes,
pois exportávamos no navio dos outros.
Pagávamos a totalidade dos
fretes e seguros gerados por nosso comércio exterior a armadores estrangeiros.
Era uma vergonha! O Ministro deu um murro na mesa, denunciou o Acordo,
provocando, para tratar do assunto, corrida ao Brasil – foi no início da década
de 1970 – da Rainha da Inglaterra, de representantes noruegueses e outros.
Acabou a terceira bandeira,
para nós, e deslanchou a indústria naval, que não existia no País” (Coronel
Francisco Valdir Gomes, Tomo 6, pg. 138).
“No período da Revolução,
ninguém tinha medo de bandido. Andava-se pelas ruas, a pé, filhos, esposas,
para fazer visitas a qualquer hora do dia ou da noite. Não tinham carro.
Havia o quê? Algum milagre?
Não, é que naquela época havia autoridade e hoje não existe autoridade. Hoje o
bandido faz o que quer porque sabe que é impune. Ninguém o pune porque não tem
moral para punir.
E por que não tem moral?
Porque as autoridades de hoje foram os bandidos de ontem. Como punir? Que moral
elas têm? Nenhuma! (Coronel Stanley Fortes Baptista, Tomo 6, pg. 101).
Criação
do Funrural, o maior programa de distribuição de renda da América Latina
“Durante o Governo do
Presidente Médici (30.10.69-15.03.74), o País assistiu à implantação do Fundo
de Assistência ao Trabalhador Rural (Funrural), o maior programa de
distribuição de renda da América Latina, atendendo a milhões de trabalhadores
rurais, até então abandonadas à própria sorte, pois que sem dinheiro à
aposentadoria. Esta foi uma medida de transcendental importância para o campo,
onde morava a maioria da população brasileira e a mais pobre. No interior não
existia uma política creditícia ou de financiamento para a agricultura, de
apoio aos pequenos produtores. A pobreza, ali, era muito grande, muito
acentuada, e não se manifestava em toda sua grandeza e necessidades, porque o
homem campestre era pacato, e expressava muito a figura do Jeca Tatu, era o
homem conformado por falta de cultura. No entanto, a contribuição do pequeno
agricultor, em termos de produção de alimentos, era tão significativa que a
criação do Funrural e a extensão dos seus benefícios à grande família do campo
passaram a se constituir numa questão de justiça social” (Engenheiro Agrônomo
Francisco Valter Vieira, Tomo 12, pg. 264-265).
O
“milagre brasileiro”
“Se observarmos os números
da execução financeira do /tesouro no período 1963-1973, vamos verificar que o
déficit – diferença entre receita e despesa, em 1963, foi de 48%, caindo para
34% em 1964, e evoluindo para um saldo positivo em 1973, primeira vez que as
receitas do Tesouro superaram as despesas. Vale registrar que os déficits, a
partir de 1969, foram inexpressivos, caracterizando um equilíbrio entre receita
e despesa. Este desempenho foi um dos principais responsáveis pela queda
gradual da inflação nesse período. Tal comportamento de ajuste de receita e
despesa na execução financeira do Tesouro, introduzido e perseguido pela
Revolução de 1964, é o que, a partir do ano 2000, passou a chamar-se de Responsabilidade
Fiscal.
(...)
Portanto, segundo a Revista Conjuntura Econômica (FGV), de maio de
1974, o PIN mais que triplicou, de 1963 a 1973, passando de 20 para 63,5
bilhões de dólares. Nesse mesmo número da Revista, verifica-se que, em 1963, as
exportações brasileiras foram de 1,4 bilhão de dólares e, em 1973, de 6,8
bilhões de dólares, quintuplicando praticamente aquele valor. A produção de
veículos automotores cresceu de 171 mil, em 1963, para 730 mil, em 1973, e a de
tratores de rodas de 11 mil para 42 mil. Com relação à produção de cimento (em
1.000t) e de aço em laminados (em 1.000t), o crescimento deu-se de 5.000 para
15.000 e de 2.000 para 6.000, respectivamente, ou seja, triplicaram.
Estes e outros números
caracterizaram o extraordinário crescimento do Produto Interno Bruto,
evidenciando uma nova dimensão da economia brasileira no período
revolucionário, especialmente entre 1968 e 1973, com a taxa anual média de 10%.
Este fato, como sabemos, passou a chamar-se Milagre Econômico. Isto nos faz,
hoje, lembrar, com saudade e orgulho daquele período de prosperidade inédita.
Pela relevância dessa
evolução, é justo que recordemos com os brasileiros esta época memorável
através do quadro que peço seja focalizado:
VARIAÇÃO ANUAL DO
PIB (%) |
||
1963
– 1,5 1964
– 2,9 1965
– 2,9 1966
– 5,1 |
1967
– 4,8 1968
– 9,3 1969
– 9,0 1970
– 9,8 |
1971
– 12,0 1972
– 11,1 1973
– 13,6 |
Diante
destes dados, fica evidente que o País chegou em 1973 com a inflação
declinante, o crescimento elevado e saldo positivo na balança comercial.
Atualmente
(2002-2004), a mensagem que é passada pelos nossos Ministros da Fazenda
expressa que isto é impossível, ou seja, que só a estabilidade da economia
viabiliza o crescimento do País e que o combate ao desemprego terá que esperar
por isto. Diante das atuais e elevadas taxas de desemprego, 20% na área metropolitana
de São Paulo, fica evidente o quanto eram injustas, para não dizer terríveis,
as críticas dos opositores da Revolução: ‘O povo não come obras de
infraestrutura’ ” (General-de-Divisão Luiz Augusto Cavalcante Moniz de Aragão,
Tomo 12, pg. 104-105).
“Será
que era culpa de meu pai que o Brasil de seu governo estivesse batendo recordes
de crescimento? Que vivêssemos a pleno emprego? Que a Nação chegasse a crescer
até 13% ao ano? Que tivesse conseguido colocar a inflação a níveis do primeiro
mundo? Será que os adversários querem até que se esconda os dados de todos
esses sucessos? É proibido declarar que estávamos batendo o Japão em termos de
crescimento? Será que escamotear tudo isso não é pedir demais?
A
expressão ‘milagre brasileiro’ não foi coisa de sua assessoria. A expressão
surgiu por meio de alguns comentaristas ao constatarem que, em termos de
desenvolvimento, havíamos passado o Japão, cujo êxito era visto pelo mundo como
‘milagre japonês’.
Quanto
ao ‘Brasil Grande’, será que foi mais divulgado do que ‘os 50 anos em 5’ do
Juscelino?” (Engenheiro Roberto Nogueira Médici, Tomo 14, pg. 193).
Província mineral de Carajás
“Merecem
destaque os investimentos na província mineral de Carajás, descoberta em 1967 e
que já se revelara muito promissora. Seu dimensionamento progressivo avaliou
uma reserva de 18 bilhões de toneladas de ferro de alto teor (66%), mas também
uma grande quantidade de cobre, manganês, bauxita e ocorrências significativas
de ouro, níquel, cromo e estanho. A necessidade de investimentos, no entanto,
era grande e a produção em larga escala só poderia começar a acontecer em 1986.
Em 1977, os investimentos estimulados para o Projeto Ferro-Carajás eram tão
elevados que a empresa americana United States Steel, até então associada à
Companhia Vale do Rio Coce (CVRD) na iniciativa, desvinculou-se do projeto.
Além das dimensões dos custos, a sua análise em relação às perspectivas do
mercado internacional era pessimista.
Isto,
naturalmente, significou mais ônus para o Brasil. Portanto, um grande projeto,
voltado principalmente para a exportação, exigindo também um grande
investimento de longo prazo, ajudando a compor a estratégia de melhora da
balança comercial, em um período de crise internacional, tornou-se extremamente
crítico para o País. Uma estratégia própria de grandes estadistas, planejadores
e empreendedores, competentes e confiantes, mas, certamente, sonhadores e
atrevidos. Planejadores que romperam com as teorias conservadoras e jogaram
pesado. Souberam arriscar” (General-de-Divisão Luiz Augusto Cavalcante Moniz de
Aragão, Tomo 12, pg. 108).
Construção de hidroelétricas
“Quais as hidroelétricas de maior destaque
construídas no período revolucionário? [entrevistador]
Itaipu,
Tucuruí, Urubupungá, o Complexo de Ilha Solteira, Emborcação, Sobradinho, Paulo
Afonso (I, II, III e IV), Itaparica, Itumbiara, Porto Primavera, Pedra do
Cavalo, Rosana, Taquaruçu, São Simão, Três Irmãos, Foz do Areia, Salto Osório,
Marimbondo, Samuel, Funil, Boa Esperança e tantas outras.
O que pode ser dito sobre a
Hidroelétrica de Itaipu? [entrevistador]
Trata-se
da maior hidroelétrica do mundo.
Foi
inaugurada em outubro de 1984, com duas de suas 18 turbinas previstas
funcionando. Cada turbina gera 700 MW e o conjunto tem uma capacidade de 12.600
MW. Naquela data, foi também entregue um ‘linhão’ para transmissão da energia,
com 1.200 km, indo de Foz de Iguaçu a São Roque (SP).
O
custo deste empreendimento foi de US$ 15 bilhões, sendo que só o ‘linhão’
custou cerca de 1 bilhão e 200 milhões de dólares.
O
esforço para salvar a fauna e a flora da região ganhou destaque na imprensa
internacional como uma das maiores e mais sérias iniciativas desse tipo, até
então realizadas. Inevitavelmente, a formação do lago submergiu o conjunto do
Salto de Sete Quedas, um dos mais belos monumentos naturais do Brasil.
Recentemente,
assistia na TV ao comentário de que o aço gasto em Itaipu correspondeu a 380 Torres Eiffel”
(General-de-Divisão Luiz Augusto Cavalcante Moniz de Aragão, Tomo 12, pg. 112).
Construção de rodovias
“Quais as principais realizações no setor
rodoviário? [entrevistador]
A
evolução da Rede Rodoviária Nacional foi extraordinária ao longo dos governos
militares. Vejamos alguns dados que eu trouxe anotado para me facilitar. Em
1964, havia, no País, entre todos os tipos de estradas, 545 mil quilômetros,
dos quais apenas 34 mil quilômetros asfaltados; por elas passavam cerca de 450
mil caminhões por ano; todas as estradas eram em pista simples.
Em
1984, havia no País 1,4 milhão quilômetros de estradas, portanto, foram construídos
45 mil quilômetros de rodovias por ano; desse total, 100 mil
quilômetros eram pavimentados; e por elas passavem cerca de 2 milhões de
caminhões por ano, apesar da segunda crise do petróleo, ocorrida em 1979. Como
decorrência, o aumento de circulação de passageiros e mercadorias foi
gigantesco, levando riqueza para todo o território nacional.
A
estes números, podem ser acrescidos cerca de 1.000 quilômetros por ano em
trechos de conservação de estradas, inclusive com repasse de recursos para os
governos estaduais.
Que
obras rodoviárias merecem destaque ao longo dos governos revolucionários?
[entrevistador]
-
duplicação da Rio-São Paulo, isto é, passou a ter duas pistas independentes
(auto-estrada), inclusive com a nova pista de subida da Serra de Araras;
-
concretização das ligações, ainda incompletas ou inexistentes: Rio-Salvador,
Curitiba-Porto Alegre, Campo Grande-Cuiabá e Cuiabá-Goiânia;
-
novo traçado da BR-040, no trecho Petrópolis-Juiz de Fora, com duas pistas. A
BR-040 liga o Rio de Janeiro a Belo Horizonte e Brasília;
-
construção da Ponte Rio-Niterói, com 14 km, inaugurada em 1974;
-
construção das rodovias: Rio-Santos, Santos-São Paulo (Imigrantes), São
Paulo-Campinas (Bandeirantes);
-
prosseguimento, com pavimentação, da Rodovia Anhanguera até à BR-040,
melhorando a ligação São Paulo-Brasília;
-
melhoramento do traçado e reconstrução com asfaltamento (antes era em terra) da
Belém-Brasília;
-
construção da Cuiabá-Santarém (BR-163), com 1.750 km, pelos 8º. E 9º. Batalhões
de Engenharia de Construção. Esta obra permitiu o desenvolvimento do Projeto
SINOP a 500 km ao norte de Cuiabá, além de levar o progresso para a área por
ela servida;
-
construção da Tansamazônica, aproveitando, em grande parte, mão-de-obra
desempregada do Nordeste como consequência de uma terrível seca naquela região;
-
construção e asfaltamento da Rodovia Cuiabá-Porto Velho (Rodovia Marechal Rondon):
1.442 km, eliminando o estrangulamento do Noroeste em relação ao Centro do
País. Antes, o tempo de viagem era de trinta dias; com a sua entrega, passou a
ser de 24 horas;
-
construção e pavimentação da Rodovia Brasília-Barreiras-Salvador, inclusive
execução de ponte sobre o Rio São Francisco. A rodovia foi construída pelo 4º.
Batalhão de Engenharia de Construção (Barreiras);
-
construção e pavimentação da rede do Nordeste, possibilitando encurtamento
superior a 600 km nas viagens entre Brasília e São Luís, Brasília e Fortaleza,
e Brasília e Recife;
- o
acréscimo total à rede do Nordeste, entre estradas pavimentadas e não
pavimentadas, ligações e acessos foi de 5 mil quilômetros;
-
asfaltamento da maioria das estradas do Rio Grande do Sul” (General-de-Divisão
Luiz Augusto Cavalcante Moniz de Aragão, Tomo 12, pg. 118-119).
O transporte ferroviário foi relegado a
segundo plano, mas não esquecido
“Também
não foi esquecido o setor ferroviário. Para não esquecer os feitos mais
importantes, trouxe também uma relação das ferrovias construídas ao longo dos
governos da Revolução:
- da
Soja, no Paraná e Santa Catarina;
- de
Carajás (Pará-Maranhão) – com 890 km, ligando a província mineral da Serra do
Carajás ao porta da Madeira, próximo a São Luís;
- do
Aço (Minas Gerais-Rio de Janeiro-São Paulo), o seu trajeto revelou-se muito
caro, pelo número elevado de viadutos e túneis, além de suas características
técnicas muito rigorosas. Sua construção, ora foi interrompida, ora ganhou
metas desaceleradas, mas não foi concluída. É usada parcialmente;
- do
Trigo (Roca Sales-Passo Fundo), iniciada e interrompida na década de 1950, a
retomada de sua construção tornou-se viável após a primeira crise do petróleo
(1973) e pelo fato de ter sido confiada ao 1º. Batalhão Ferroviário). Concluída
em 1980;
-
Minas-Distrito Federal, partindo de Pires do Rio (Minas Gerais), foi concluída
pelo 2º. Batalhão Ferroviário; o seu destaque é a ponte sobre o Rio Araguari,
construída por administração direta por aquela organização militar.
Foram
modernizados muitos trechos ferroviários, especialmente com substituição de
toda a superestrutura, isto é, trilhos, dormentes e lastros (brita). Como por
exemplo, o pátio de Canoas, e trechos diversos da malha do Rio Grande do Sul.
Por
outro lado, foram desativados vários ramais ferroviários considerados
antieconômicos.
Uma
atenção especial foi dada ao transporte coletivo das grandes cidades, com a
construção dos trechos iniciais do metrô do Rio de Janeiro, São Paulo, Porto
Alegre e Recife.
- as
linhas de trens urbanos e suburbanos também foram melhoradas e receberam muitas
composições novas, como por exemplo, as da antiga Central do Brasil, além de
obras de infraestrutura, com sensível melhoria da eficiência em geral”
(General-de-Divisão Luiz Augusto Cavalcante Moniz de Aragão, Tomo 12, pg. 120).
Construção de portos
“Nos
vinte anos de governos da Revolução, foi dada uma atenção importante ao sistema
portuário no País.
Foram
construídos inúmeros portos e os maiores, já existentes, foram ampliados e modernizados,
inclusive com largo investimento em aquisição de equipamentos de grande porte.
Vejamos
os novos portos construídos:
-
Porto de Sepetiba – Os estudos para a localização do Porto na Baía de Sepetiba
tiveram início em 1973, pelo Governo do então Estado da Guanabara. A partir de
1974, foram assumidos pelo antigo Departamento Nacional de Portos e Vias
Navegáveis, sucedido pela Portobras. A primeira etapa da obra, o terminal de
carvão, na Ilha da Madeira, entrou em operação em 1982. Foram ainda previstos o
terminal para minérios de ferro e o de carga geral.
-
Porto de Praia Mole – O complexo portuário de Praia Mole, em Vitória, foi
inaugurado oficialmente em novembro de 1984. Possibilitou a movimentação de 3
milhões de t/ano de produtos siderúrgicos e 8 milhões de t/ano de carvão. É um
porto artificial em mar aberto e sua localização na Ponta do Tubarão é
favorecida pelo acesso ao terminal da Companhia Vale do Rio Doce.
-
Porto da Ponta da Madeira – Situado a 9 km de São Luís, é parte do Projeto
Carajás. Possui instalações de descarregamento de vagões, estocagem de
minérios, sistema de embarque por uma linha de transportadores, repeneiramento
e rebritagem.
-
Porto de Estrela – Situado no Rio Taquari (Rio Grande do Sul), foi inaugurado
em 1977, tornando-se o primeiro entroncamento intermodal, conectando hidrovia,
ferrovia e rodovia.
-
Porto de Trombetas – Situado à margem direita do Rio Trombetas, afluente do
Amazonas, escoou em 1984 cerca de quatro milhões de toneladas de bauxita.
Iniciado
em 1967, quando foram descobertas as primeiras jazidas de bauxita, a 80 km da
Cidade de Oriximiná (Pará). O primeiro embarque para o mercado internacional
deu-se em agosto de 1979. A bauxita é levada da mina por ferrovia, num percurso
de 30 km.
A
Companhia Vale do Rio Doce era a maior acionista (46%) do projeto.
A
preocupação com a ecologia também está presente em todo o Projeto Trombetas.
Dentro dessa filosofia, foi criada a Comissão Interna de Meio Ambiente (CIMA),
que busca possibilitar um melhor controle e preservação das condições
ambientais da área.
Pode-se
citar, ainda, entre outras obras, a construção do terminal açucareiro de Recife
e o salineiro de Areia Branca” (General-de-Divisão Luiz Augusto Cavalcante
Moniz de Aragão, Tomo 12, pg. 120-121).
Construção de aeroportos
“Foram
construídos os seguintes aeroportos:
-
Internacional do Rio de Janeiro;
-
Internacional de Guarulhos (São Paulo);
-
Internacional de Confins, a 47 km do Centro de Belo Horizonte. Atualmente,
denominado Tancredo Neves.
Outros
aeroportos foram ampliados e modernizados. O gerenciamento das obras e do
financiamento destas instalações foi muito bem conduzido pela Infraero.
Para
coroar as realizações na infraestrutura aeronáutica, foi implantado o Sistema
Integrado de Defesa Aérea e Controle do Tráfego Aéreo (SINDACTA), com a
utilização de radares tridimensionais, que executam o acompanhamento do tráfego
aéreo, integrados ao processamento de dados em computadores para informação dos
voos” (General-de-Divisão Luiz Augusto Cavalcante Moniz de Aragão, Tomo 12, pg.
121-122).
Acertos
no campo social: BNH, FGTS, Estatuto da Terra, Mobral
“O BNH [Banco Nacional da
Habitação] foi importante, foi extremamente importante; o Fundo de Garantia por
Tempo de Serviço (FGTS) foi importantíssimo. O Estatuto da Terra editado pelo
Presidente Castello Branco; o Mobral, também, foi muito bom. Eu fiz o IPM do
Mobral comunista, que era o PNA (Programa Nacional de Alfabetização), associado
ao Movimento de Cultura Popular, que eles usavam para doutrinação dos
favelados. O coordenador nacional desse PNA era o Betinho – Herbert José de
Souza. Primeiro, da AP (Ação Popular) do meio estudantil, depois comunista
quando adquiriu mais asas. Aí, ele, então, se revelou totalmente. Ele foi o
Coordenador do Programa Nacional de Alfabetização, que era um programa de
alfabetização, mas de linha comunista. Inicialmente, quando quiseram anular
esse PNA, fizeram o Mobral. Nas mãos do Simonsen [Mário Henrique Simonsen], os
resultados foram muito bons” (General-de-Brigada Celso dos Santos Meyer, Tomo
10, pg. 142).
Planos
estratégicos, projeto de Nação
“O que houve de
extraordinário para o Brasil foi que cresceram nossas responsabilidades no
plano de possibilidades estratégicas, de projeto de Nação – estudamos e
pensamos o Brasil por toda a vida – convivemos com a gente brasileira ao longo
de todas as regiões do nosso País. As Forças Armadas são uma universidade
natural do povo, a presença do oficial, do sargento, dos quadros profissionais,
enfim, lá nos ermos da Amazônia, no interior do Nordeste, de Minas, do Rio
Grande do Sul, nas grandes capitais. Essa interação com as populações civis nos
oferece essa lição de Brasil que se projetava dentro dos programas de
desenvolvimento amplo da Revolução, do qual destaco o Segundo Plano Nacional de
Desenvolvimento (II PND), que é um marco no Governo Geisel, e abrange todas
essas grandes linhas do desenvolvimento nacional.
Ali, notamos a sensibilidade
para a priorização da área tecnológica, para onde teremos que ir – o salto é
por aí – e vieram as verbas, não só para a área militar, para os projetos da
Marinha na área tecnológica, projetos nucleares importantes, para os projetos
do Exército, na área bélica, quando o mundo se assustou com os nossos
blindados, fruto de pesquisas tecnológicas inteiramente conduzidas por
brasileiros: o Urutu, o Cascavel, o Sucuri, o Osório, além da Embraer, mísseis,
satélites, foguetes etc.
A priorização foi em ambos
os sentidos, não só na parte militar, mas na civil, como o Centro de Pesquisas
de Telecomunicações, da Embratel, em Campinas, que é o maior do mundo, e onde
nasceu a fibra ótica; a Eletrometal, que é a primeira indústria mundial a
beneficiar o nióbio, fazendo a mistura daqueles aços especiais necessários à
corrida espacial e outras aplicações dessa notável tecnologia de ponta.
Sempre houve uma tentativa
de equilíbrio, não priorizando projetos desenvolvimentistas ou demandas só do
Exército. Os projetos desencadeados de avançadas e ousadas conquistas nas áreas
espacial, de telecomunicações, energética; na agricultura, como a Embrapa, com
tecnologias pioneiras e extraordinários experimentos científicos etc., tudo
isso foi um projeto global e não podemos jamais ser acusados de tratamento
especial, no que diz respeito a interesse estratégico militar” (Coronel
Francimá de Luna Máximo, Tomo 11, pg. 238-239).
Obs.
Sobre
a Embrapa, veja o trabalho inovador que o ministro Alysson Paolinelli fez na
estatal - https://felixmaier1950.blogspot.com/2020/05/alysson-paolinelli-o-motor-da-embrapa.html.
O
plano que reinventou o campo - Alysson Paolinelli - https://www.youtube.com/watch?v=6GkTMPuJ5nA.
F.
Maier
Programa
Nuclear Brasileiro
“O programa nuclear
brasileiro foi justificado, também, a partir de uma previsão de esgotamento do
potencial hidrelétrico na região centro-sul. Não havia também a certeza da
viabilidade técnico-econômica da transmissão elétrica a distâncias superiores a
2.000 km. Por outro lado, havia a plena consciência de que o quilowatt oriundo
de uma usina termonuclear era bem superior ao da hidroeletricidade e, desde a
década de 1950, com a experiência do Almirante Álvaro Alberto, sabia-se que os
países detentores da tecnologia nuclear dificilmente concordariam em
transferi-la, mas apenas estariam dispostos a vender ‘caixas-pretas’.
Em 1967 e 1968, dois grupos
técnicos recomendaram a instalação de uma usina nuclear com capacidade da ordem
de 500 MW.
Em 1971, após concorrência
internacional, foi assinado contrato com o consórcio Westinghouse e Empresa
Brasileira de Engenharia, para o fornecimento e montagem de uma Central Nuclear
de 625 MW, utilizando Reator a Água Leve Pressurizada (PWR), utilizando-se como
combustível o urânio enriquecido e no esquema ‘caixa-preta’.
A seguir, começaram as
articulações para a instalação de mais seis ou oito centrais nucleares. Foi
quando surgiu a alternativa do acordo com a República Federal da Alemanha
(1975), dentro da premissa de que o Brasil não devia nem podia limitar-se a
adquirir no exterior, em operações isoladas, centrais nucleares, sem cogitar de
um programa de cooperação tecnológica e industrial, tanto no que se refere a
centrais quanto ao ciclo do combustível, que proporcionasse uma autonomia
progressiva.
A base da cooperação foi uma
programação da instalação de oito centrais nucleares até 1990, de 1.300 MW de
potência cada uma, com a participação progressiva da indústria nacional no
fornecimento dos componentes. O valor global do programa – centrais mais ciclo
do combustível – foi estimado, na época, em cerca de US$ 20 bilhões.
O protocolo previa a
constituição de 11 empresas mistas entre a Nuclebras e cerca de vinte grandes
empresas e bancos alemães ou suas subsidiárias. Apenas cinco dessas empresas
foram constituídas, dentre elas estão: Nuclep, fábrica de componentes pesados
de reatores; Nuclen, empresa de engenharia nuclear; Nuclam, empresa de mineração
e prospecção de urânio; Nuclei, serviços de enriquecimento, e Nusteg, pesquisas
para aperfeiçoamento jet-nozzle de
enriquecimento.
Como se sabe, os preços dos
fornecedores alemães começaram a subir, em especial após o segundo choque do
petróleo, e a economia brasileira também viu-se bastante fragilizada. Foi
necessário, portanto, uma expressiva redução do programa como um todo, embora
não tenha sido paralisado.
Assim, da Central Nuclear
Almirante Álvaro Alberto, cujo nome homenageia um dos maiores incentivadores do
programa nuclear brasileiro, foram construídas apenas a Angra-1, já citada, e a
Angra-2, com potência de 1.300 KW, embora a maior parte dos equipamentos de
Angra-3 já estejam comprados.
O
que coube às Forças Armadas no Programa Nuclear Brasileiro?
[entrevistador]
A partir de 1982, o Exército
Brasileiro participou do esforço pelo domínio da energia nuclear com o Projeto
Atlântico, que contemplou o estudo da viabilidade técnica da construção de um
reator de potência moderada a grafite, refrigerado a ar, e da produção, no
Brasil, de frafite nuclearmente pura. Neste contexto, foi criado o Instituto de
Projetos Especiais, em Guaratiba, no Rio de Janeiro, que objetivava a
construção de um reator crítico de potência entre 10 e 20 MW e a instalação de
uma usina para a produção de grafite naquelas condições. Com a Nova República,
o projeto foi esvaziado, sobretudo, a partir do desastroso Governo Collor de
Mello, o mesmo acontecendo nos oito anos de FHC até ser finalmente extinto,
juntamente com o IPE, em 2003, no atual Governo, que não disse ainda a que
veio.
A Marinha do Brasil vem
realizando, desde o 2º. semestre de 1979, um grande esforço de pesquisa e
desenvolvimento que tem como objetivo final a obtenção de um submarino nacional
de propulsão nuclear. A missão coube ao Centro Tecnológico da Marinha em São
Paulo (CTMSP), que criou no município de Iperó, São Paulo, o seu centro experimental
Aramar. Tendo conseguido, continuamente, recursos bem expressivos, o projeto da
Marinha vem obtendo seguidos êxitos apesar de todas as restrições encontradas
em fornecedores internacionais, o que vem lhe obrigando a executar um profundo
e eficiente trabalho de pesquisa e desenvolvimento, cujo destaque maior foi o
desenvolvimento das ultracentrífugas que já operam em cascatas, em
escala-piloto, em Aramar” (General-de-Divisão Luiz Augusto Cavalcante Moniz de
Aragão, Tomo 12, pg. 114-116).
Acordo
Nuclear secreto com a China
“O Presidente Figueiredo, em
janeiro de 1981, por intermédio do Embaixador Paulo Nogueira Batista,
Presidente da Nuclebras, encaminhou uma carta pessoal ao Presidente Reagan, às
vésperas da posse deste último, mostrando que o Governo brasileiro se reservava
o direito de questionar a validade da Lei de Não-Proliferação aprovada em 1978,
já que nós tínhamos acordos firmados com os Estados Unidos e o acordo, uma vez
chancelado, deve ser cumprido.
O Embaixador foi recebido
pelo Vice-Presidente da República eleito, o Sr. George Bush, pai do atual
Presidente dos Estados Unidos, e quatro dias depois informou ao Embaixador
Paulo Nogueira Batista o seguinte: o Presidente Reagan compreende a posição do
Presidente Figueiredo e verbalmente transmite ao Presidente Figueiredo a sua
posição. Ele não tomará nenhuma iniciativa que possa criar problemas se o
Brasil buscar o seu desenvolvimento na área nuclear, em outras áreas, fora da
forma como foi acertado no acordo com os Estados Unidos.
De forma que entendo o
seguinte: independentemente de partido, Democrata ou Republicano, a sociedade
americana, uma vez ajustado o procedimento, se esquece dos parceiros e passa a
raciocinar só com aquilo que é considerado válido para ela.
(...)
Só
para retornar, essa Comissão, a CPI atuou em 1990?
[entrevistador]
Em 1990. A Comissão mista do
Congresso era dirigida pela Deputada Ana Maria Rattes, e o relator, o Senador
Severo Gomes. Então passemos, agora, à parte de debates.
Questionaram que não havia
informações claras sobre o Projeto Solimões, um projeto desenvolvido pelo
Centro Tecnológica da Aeronáutica, em São José dos Campos, e que buscava o
enriquecimento do urânio com base no raio laser.
Outro ponto muito comentado
pelos parlamentares foi o embarque de urânio para o Iraque, que teria sido
feito no Governo Figueiredo, e que explicitei ter resultado de um acordo-quadro
aprovado pelo Congresso Nacional e promulgado pelo Vice-Presidente da República
Antônio Aureliano Chaves, no exercício da Presidência da República.
No debate, deixei patente
que estava sendo apreciado o que eles chamavam de projeto paralelo autônomo de
produção da energia nuclear. Havia mistério sobre como isso começou, como foi
obtido urânio enriquecido para o reator da Marinha e do IPEN. Duas ou três
vezes, o Deputado Luiz Salomão enfatizou que o problema não nasceu no Brasil.
Nasceu em algum lugar.
Eu expliquei a eles o
seguinte: cuidarei do aspecto institucional, ou seja, as negociações de governo
para governo e deixarei, como ajustado anteriormente, que os aspectos técnicos
sejam explicitados pelo Doutor Rex Nazareth Alves. Acontece que no ano a que
Vossa Excelência, Deputado Luiz Salomão, se refere, o que encontrou nas
instalações de Aramar, no Estado de São Paulo, foi negociado pelo País com a
China. Como parte do acordo feito com aquele país, foram exigidas aquelas duas
premissas: primeiro a do sigilo, que o nome da China não fosse revelado; o
segundo compromisso explícito é que seria usado para fins pacíficos.
E aí invoquei o regimento do
Senado Federal, Artigo 117; eu não posso omitir de Vossa Excelência os dados,
mas tenho inclusive obrigações das quais, para cumprir o ajuste feito com o
país que nos forneceu o urânio enriquecido, não posso declinar. Quanto ao
Iraque, não há dificuldade nenhuma, lembro-me do texto claro. Solicito a Vossa
Excelência que, para o primeiro caso, o do urânio enriquecido, só estejam em
plenário os parlamentares. A reunião naquele momento tornou-se secreta.
É porque no ajuste que
fizemos com a China não tínhamos autorização para revelar que nos forneciam a
quantidade de urânio desejada para enriquecermos o nosso urânio.
Isso
foi quando, General? [entrevistador]
Isso foi no dia 24 de
outubro de 1990.
Mas
quanto à China fornecer urânio para enriquecer o nosso...
[entrevistador]
Em 1982.
Então
o nosso Governo revolucionário fez um acordo com a China e isso a oposição não
cita? [entrevistador]
Não lhes convém.
O
Tratado com a China, de país para país, sobre um problema tão sensível. A nossa
imprensa, na época, não tratava disso, talvez por ser sigiloso, nunca foi
citado esse acordo. [entrevistador]
(...)
A senhora Ana Maria Rattes,
Presidente da CPI, fez uma indagação: seria regimental, dentro da casa, a
criação de um mecanismo que fiscalizasse e controlasse o programa autônomo de
energia nuclear? E nos perguntou, a mim e ao doutor Rex, se acharíamos mais
fácil a Comissão conduzir o processo de fiscalização e controle.
Pedi um prazo para ouvir os
meus colaboradores. Depois de consultá-los, considerei válida a proposição,
inclusive coloquei o doutor Rex Nazareth à disposição, para dar um arcabouço
àquele controle.
Mas desejava, também, tratar
da parte da desinformação e até mesmo da má fé. Apresentaram-me os termos de
uma declaração do Professor José Goldemberg, Secretário de Ciência e Tecnologia
do Governo Collor, que se referiu, em Nova York, a uma publicação do Estado de São Paulo, no dia 10 de
outubro: ‘o Presidente Fernando Collor pôs fim a um programa militar secreto
para construção da bomba atômica brasileira. Os militares estavam há um ou dois
anos construindo uma bomba semelhante à que destruiu Hiroshima’. Palavras do
Secretário de Ciência e Tecnologia, querendo mostrar a dificuldade da decisão
do Presidente da República, e a importância de possuir instrumentos que
permitam a sociedade informada, de existir um nível decisório sobre o que deve
ser feito, e como fiscalizar. Essa é a questão. Assim, examinei a proposta da
Deputada Ana Maria Rattes.
Depois que ouviram e
receberam informações sob juramento, de pessoas qualificadas que efetivamente
conheceram o programa nuclear, e depois de visitar os centros de pesquisa das
três Forças Armadas, o Senador Severo Gomes concluiu seu relatório. Primeiro, o
programa nuclear paralelo e autônomo conseguiu, através do esforço das Forças
Armadas e da Comissão Nacional de Energia Nuclear, avanços significativos na
área nuclear. A Marinha, no Centro Experimental de Aramar, em Iperó, São Paulo,
já enriqueceu urânio; a Aeronáutica, em São José dos Campos, também em São Paulo,
trabalha com seu projeto de enriquecimento por raio laser, e o Exército, em
Guaratiba, Rio de Janeiro, está se preparando para construir um reator de
urânio natural, movido a grafite e refrigerado a gás.
Esses resultados são
significativos para a pesquisa nacional, uma vez que foram atingidos com base
nos esforços exclusivamente brasileiros. Com investimento, técnicos,
equipamentos totalmente brasileiros, as empresas utilizadas no programa já
estão perto da escala industrial. Isso significa que o Brasil conseguiu
tornar-se independente e autossuficiente nesse setor. O resultado indica,
também, que a tecnologia nuclear brasileira deve ser protegida e que a pesquisa
e os estudos do setor precisam ser incentivados” (General-de-Brigada Danilo
Venturini, Tomo 15, pg. 182-185).
Obs.:
Sobre
o Programa Nuclear Brasileiro, veja os textos disponíveis em https://felixmaier1950.blogspot.com/2020/06/programa-nuclear-brasileiro.html.
Em
1990, o Presidente Collor fechou o buraco na Serra do Cachimbo, Pará, que
serviria para testes nucleares.
https://felixmaier1950.blogspot.com/2020/06/presidente-collor-fecha-buraco-na-serra.html
F.
Maier
Uma
síntese das principais realizações dos governos da Revolução
“Devem ser destacados,
especialmente:
- o chamado milagre
econômico, no período de 1968-1974, caracterizado pela taxa média de
crescimento do PIB de 10%;
- a profunda mudança no
perfil energético do País, acelerada a partir de 1979, para fazer frente ao
segundo choque do petróleo (1979);
- as grandes obras de
infraestrutura em estradas, portos e aeroportos;
- os grandes sistemas da
Eletrobras (distribuição de energia) e Telebras;
- na área social, a criação
do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS), o Sistema Financeiro e de
Poupança e o Sistema de Habitação, centrado no Banco Nacional de Habitação
(BNH) e o Funrural, beneficiando milhões de brasileiros que trabalham no campo.
Como consequência do
desenvolvimento econômico, o crescimento do número de empregos e da renda
nacional, com seus efeitos inseparáveis na renda individual.
- na área educacional, o
destaque maior parece-me que foi a eliminação da figura vergonhosa e
desalentadora dos milhares de ‘excedentes’ anuais. Aqueles estudantes aprovados
em concursos para as universidades, porém não matriculados por falta de vagas,
e o Projeto Rondon, que o Governo FHC manteve com outro nome;
- programa de construção de
hidroelétricas, com destaque para Itaipu, Tucuruí e Sobradinho;
- programa de aceleração da
busca de autossuficiência de petróleo, a partir de 1979, com destaque para a
exploração da Bacia de Campos;
- programa de
desenvolvimento da energia nuclear, que permitiu ao País incorporar essa
tecnologia estratégica;
- programa de substituição
de importações de insumos básicos e bens de capital, com destaque para a
criação e expansão de siderúrgicas e fábricas de cimento e a implantação de
polos petroquímicos;
- Programa Nacional do
Álcool, com destaque para a criação de empregos no campo, acompanhada de
melhoria salarial nessa área, e para a ampla fabricação de carros a álcool;
- o amplo programa de
mineração, com destaque para o Projeto Carajás;
- o amplo programa de
construção rodoviária, com destaque para a efetivação das interligações de
todas as capitais do Sul, Sudeste, Nordeste, Centro-Oeste e Norte-Ocidental,
além das ligações com Brasília;
- a Ponte Rio-Niterói;
- a implantação de
corredores de exportação;
- o grande programa de
construção de aeroportos internacionais e do Sistema Integrado de Defesa Aérea
e Controle de Tráfego Aéreo (SINDACTA);
- os desenvolvimentos
regionais com os Programa Indicativo Nacional (PIN), Programa de Redistribuição
de Terras (Proterra), Progres;
- o extraordinário êxito da
Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco (CODEVASF) em pleno
Nordeste brasileiro na produção agrícola;
- a expansão da agricultura
e pecuária, apoiada pelas empresas de pesquisas agropecuárias, que integraram
grandes áreas, antes consideradas inservíveis para o plantio. Essa expansão
passou a gerar receitas crescentes de exportação;
- investimentos e apoio à
área de pesquisa e desenvolvimento, com a criação ou reaparelhamento de
inúmeros centros de pesquisa e apoio a projeto;
- investimentos elevados em
educação e saúde;
- a criação da Fundação
MOBRASL – Movimento Brasileiro de Alfabetização -, com o objetivo de cuidar da
alfabetização e da educação contínua de adolescentes e adultos;
- programas e ações
políticas do Governo, que garantiram a participação do nosso País em pesquisas
na Antártica” (General-de-Divisão Luiz Augusto Cavalcante Moniz de Aragão, Tomo
12, pg 122-123).
Projeto
Radam-Brasil
“Quando o Presidente
Figueiredo assumiu o Governo, já encontrou o projeto de grande alcance
conhecido por Projeto Radm-Brasil. O Presidente Ernesto Geisel, em sua mensagem
ao Congresso, em 1975, considerou que, pela sua capacidade e pelo número de
questões envolvidas, o Projeto RADAM deveria transformar-se num projeto
nacional. Daí o nome Projeto Radam-Brasil. Com um programa de trabalho
estreitamente ligado ao processo de desenvolvimento econômico das áreas mais
pobres, sobretudo no Nordeste e Centro Oeste.
Até
para conhecer melhor o Brasil, não? [entrevistador]
É, e promover a integração
dessas áreas menos favorecidas com o Centro-Sul. Esses programas foram
organizados em cooperação com a Fundação Getúlio Vargas e centros de estudos,
nacionais e de desenvolvimento regional e local. Entre as principais atividades
do Projeto Radam-Brasil – agora passo para a administração do Presidente
Figueiredo, de 1979 a 1984 – foi descoberto um corpo carbonário no Morro de
Seis Lagoas, na margem esquerda do Rio Negro, Amazonas. Ele revelou reservas de
2,4 bilhões de toneladas de minério de nióbio, os quais representam 70% das
reservas mundiais do metal.
Identificação, no Estado do
Paraná e no norte de Santa Catarina, de associações rochosas passíveis de serem
mineralizadas em ouro, cromo, níquel e cobre. Identificação e delimitação de
mais de 8 milhões de hectares de terras com excelente potencial para irrigação,
no Nordeste brasileiro, dos quais 60% situam-se no Vale do Rio São Francisco”
(General-de-Brigada Danilo Venturini, Tomo 15, pg. 201-202)
Pró-Álcool:
80% dos carros a álcool
“Outra importante realização
foi o Pró-Álcool, posteriormente desprezado e até extinto, fruto da pressão
exercida pelo cartel do petróleo, infelizmente. Sob o ponto de vista econômico,
teria sido uma grande saída para o Brasil. Além de substituir o petróleo, essa
energia alternativa gerava uma grande massa de empregos na agricultura. O
Pró-Álcool era tão importante que, durante alguns anos, a produção de carros a
álcool chegou a 80%, contra 20% de carros movidos a gasolina e a óleo diesel, o
que dá uma ideia da magnitude do programa, que deveria ter sido intensificado,
e não extinto” (Economista Paulo Roberto Coelho Pinto, Tomo 12, pg. 256).
“Ainda sobre os recursos
renováveis, há que se destacar o Programa do Álcool, ou Pró-Álcool, um desafio
de grande repercussão internacional, uma resposta clara do Brasil à crise
energética. Este nosso País é surpreendente, a sua criatividade não pode deixar
de ser desenvolvida. Atualmente, lamenta-se o desestímulo que os seus
administradores vêm inoculando na sociedade, fruto da falta de visão. E naquela
época houve – é preciso que se diga – o boicote permanente, a reação surda, a
oposição disfarçada ao Pró-Álcool, desafios enfrentados corajosamente pelo Presidente
João Figueiredo.
(...)
Em termos práticos, em 15 de
março de 1979 – data que assinala a posse de Figueiredo na Presidência da
República – o Brasil possuía zero carro à álcool. Seis anos depois, ao deixar a
Presidência, entregara ao País uma frota de 1,2 milhão de veículos movidos a
álcool, conquista que se deve à competência dos técnicos do Centro Tecnológico
de Aeronáutica (CTA), sediado em São José dos Campos, São Paulo. O próprio
Presidente passou boa parte do seu governo utilizando um carro a álcool”
(Engenheiro César Cals de Oliveira Neto, Tomo 12, pg. 276).
O
Brasil ajudou a evitar a Operação Suriname, que seria uma invasão dos EUA naquele
país
“Em 1982, o Presidente
Reagan mandou uma delegação ao nosso País, com fotografias ampliadas, várias
fotografias. Propuseram a realização de uma reunião, que aconteceu na Granja do
Torto e à qual compareceram, para assessorar o Presidente, além de mim,
Ministro Chefe do SNI, o General Venturini, Secretário do CSN e o General
Ludwig, Ministro Chefe da Casa Militar. A reunião realizou-se na Granja do
Torto e pelos EUA participaram o Embaixador Antony Motley, o General Clark
(Assessor do Presidente Reagan), um oficial da CIE, de nome Claridge, e um
outro Assessor da Casa Branca.
Os americanos contaram que
estavam prestes a fazer uma manobra naval no Caribe, quando iriam aproveitar
para desembarcar e ocupar o território do Suriname. Um momento de suspense. O
pivô da história: Cuba. A embaixada cubana, sem alarmar, pretendia internar no
Suriname pessoal deles e o Reagan não aceitava isso.
Aquelas fotografias, falei
nelas mas não expliquei, eram principalmente de desembarque de navios e aviões
russos, na Nicarágua e nas ilhas do Caribe. Depois que descreveram tudo sobre o
perigo que imaginavam existir, pelo crescimento da influência cubana no
Suriname, viraram-se para o João e disseram: ‘Precisamos que o senhor ponha um
Batalhão de paraquedistas no aeroporto do Suriname.’ O João quase morreu,
coitado. Depois, ele comentou: ‘Puxa, nunca esperei por essa.’
(...) Nesse momento, disse:
‘João, pede licença para nos retirarmos. Vamos fazer uma pequena conferência em
separado.’ Saímos e fomos ao gabinete dele, de onde os americanos nada poderiam
ouvir. Fui o primeiro a falar: ‘João, não negue, porque se você disser não e bater
o pé, haverá consequências no nosso relacionamento com os Estados Unidos, e
alguns óbices, principalmente na área econômica.’ O Presidente, então,
perguntou: ‘O que você sugere?’ Respondi: ‘Peça a eles um tempo, informando que
vamos mandar uma comitiva com a missão de conversar com o Presidente daquele país.’
O Presidente do Suriname era um tipo despreparado. A ideia era inverter o
papel. Argumentar sobre o absurdo de Cuba querer apossar-se do Suriname;
ressaltar que a América Latina não tinha a ver com o comunismo.
Oferecíamos diversos tipos
de assistência e apoio, como matrículas de surinameses em cursos, no Brasil,
envio de técnicos experimentados para trabalhar na construção de linhas
telefônicas, comunicações rádio e outros benefícios. O João comentou: ‘Você é
‘de morte’, Medeiros. Perguntei: ‘Mas você vai fazer isso?’ Ele respondeu:
‘Vou.’ Conversamos mais um pouco naquele local e voltamos para a sala onde os
americanos aguardavam. O João, ele mesmo, fez a exposição de nossos propósitos,
que foram prontamente acatados. Gostaram, porque saíram de mais uma encrenca:
invadir um outro país. Estava suspensa a Operação Suriname.
E
o emprego de nosso Batalhão seria contraproducente, em virtude de nossos
princípios de não intervenção... [entrevistador]
Não tinha ‘nem pé nem
cabeça’. Partiram satisfeitos e, dias depois, após o contato com o Presidente
Bouterse, o Venturini viajou para o Suriname. Seguiu com dois coronéis;
estávamos na Semana Santa. Havia 8 elementos de segurança do SNI embarcados no
avião. Não apareceram nenhuma vez. Passaram um dia inteiro, lá, como se fossem
segurança pessoal e ninguém desconfiou. O Venturini foi muito bem recebido,
voltou feliz da vida, todos aplaudimos o sucesso de sua missão e,
imediatamente, começamos a cumprir o que tínhamos prometido.
A participação brasileira no
Suriname foi muito apreciada pelo Governo americano. Ela evitou, certamente, a
perda de vidas de militares americanos e de muitos surinameses, além de um
enorme desperdício para os Estados Unidos. O Presidente Regan ficou muito
impressionado e agradecido pela pronta e eficaz ação do Governo brasileiro.
A esse propósito, quando o
Presidente Reagan veio ao Brasil visitar o Presidente Figueiredo, me convidou a
visitá-lo na Casa Branca. Viajei aos EUA, visitei a sede da CIA, em Langley,
Virgínia, e depois encontrei-me na Casa Branca com o Presidente Reagan,
presentes o Embaixador Motley e o General Clark, oportunidade em que o
Presidente americano renovou os seus agradecimento pela ação brasileira,
mostrando-se imensamente feliz pelo êxito da mesma” (General-de-Exército
Octávio Aguiar de Medeiros, Tomo 15, pg. 45-46).
O
Brasil ajudou a abrandar o confronto Peru-Equador, em 1981
“O
General Adhemar da Costa Machado me contou uma história que serve para mostrar
um pouco do temperamento do Presidente Figueiredo. Não sei se o senhor foi
testemunha. Existia um litígio entre o Peru e o Equador, até acabou havendo
perigo de enfrentamento militar entre eles, ao longo da Rodovia Pan-americana.
A tropa do Peru de um lado e a do Equador, do outro.
O
Presidente Figueiredo quis mandar alguém lá, a fim de tentar resolver a
situação. Escolheu o General Adhemar da Costa Machado, que servia no
Estado-Maior do Exército, como 2º. Subchefe. Seguiu com 2 Coronéis, um deles
chamava-se Ilson Nunes da Silva. O General Adhemar contou-me que foi ao
Itamaraty, para saber dos detalhes, e lhe disseram: ‘Olha, a parte diplomática
já acabou, não existe como, diplomaticamente, resolver isso. O Presidente quer
que, pelo menos, vá um militar para tentar evitar o confronto bélico.’
Resolveu, então, ir ao Presidente, para pedir orientação e procurou o General
Venturini, Chefe do Gabinete Militar. Segundo o General Adhemar, vou ser fiel
aqui, porque os dois faleceram, o General Venturini voltou, com o seguinte
recado: ‘Olha, o General Figueiredo mandou você ir à ‘m....’, pois se tivesse
orientação já a teria dado, há muito tempo. O fato é que não há orientação a
ser dada; vai lá e vê o que você consegue.’ [entrevistador]
Isso é bem do João
Figueiredo.
O
General Adhemar foi e conseguiu abrandar a situação, tanto que naquele período
nada mais ocorreu. O problema foi surgir, novamente, em 1994.
[entrevistador]” (General-de-Exército Octávio Aguiar de Medeiros, Tomo 15, pg.
48).
Obs.:
Sobre
os vários conflitos de fronteira entre o Peru e o Equador, acesse https://felixmaier1950.blogspot.com/2020/06/conflitos-fronteiricos-entre-peru-e.html.
F.
Maier
Sem
a Revolução, o que seríamos?
“Caso não tivesse ocorrido a
Revolução de 1964, na melhor das hipóteses, teríamos nos transformado, na
década de 1980, em um País de padrão médio africano, pela total falta de
condições de enfrentar as duas crises do petróleo e pelo excesso de tolerância
com o MCI. Na pior das hipóteses, teríamos nos tornado em um teatro de
operações, com algumas características do TO da Guerra do Vietnam. Ocupado por
guerrilhas urbanas e rurais e invadido por tropas da Organização do Tratado do
Atlântico Norte (OTAN) ou da Organização das Nações Unidas (ONU). Hoje, o que
seríamos?” (General-de-Divisão Luiz Augusto Cavalcante Moniz de Aragão, Tomo
12, pg 124).
Método
Cooper é popularizado no Brasil pelo Capitão Cláudio Coutinho
“Os acertos foram muitos,
mas gostaria de citar um fato, na minha área, na minha especialidade, que é
Educação Física e esporte. Vi um amigo, um companheiro – Capitão Cláudio
Coutinho, infelizmente já falecido, prematuramente, foi meu companheiro na área
de Educação Física, fomos Instrutores na Escola de Educação Física do Exército
– que teve oportunidade de fazer um curso com o professor Cooper, Kenneth
Cooper, nos Estados Unidos e, quando ele voltou, com esses conhecimentos que
ele auferiu, foi chamado pela então Confederação Brasileira de Desportos (CBD)
para integrar a comissão técnica da Seleção Brasileira que ia disputar a Copa
de 1970, no México. E, conforme todos sabemos, aquela Copa teve um êxito
extraordinário, principalmente na preparação física, que nos levou a enfrentar
muito bem a altitude do México, que, até então, era um mito. E nós tivemos a
melhor preparação física da Copa.
Isso teve muito a ver com o
trabalho do Coutinho, junto com o Chirol, com o Parreira, que são também
pessoas de muito valor. Mas com o êxito da Copa do Mundo, o que aconteceu? O
método Cooper começou a se popularizar, livros foram editados, porque até então
era difícil ver, nas ruas das cidades brasileiras, alguém correndo; quando se
via alguém correndo, era militar.
E hoje, o que é que se vê?
Por exemplo, vejo aqui na Avenida Atlântica: há dias que você não consegue
andar, tal é a quantidade de pessoas que passaram a se preocupar com o seu
físico. E isso começou com certeza nesse trabalho oriundo do êxito na Copa do
Mundo, em que o meu amigo Cláudio Coutinho – uma inteligência viva a serviço do
esporte nacional – teve uma parcela considerável” (Tenente-Coronel Reginaldo
Pontes Bielinski, Tomo 11, pg. 325).
Obs.:
Cláudio
Coutinho faleceu em 1981, aos 42 anos de idade, quando praticava pesca submarina
nas Ilhas Cagarras, próximo a Ipanema. Foi treinador do Flamengo e da Seleção
Brasileira. Na Copa da Argentina, em 1978, logrou o terceiro lugar, invicto. O
torneio foi marcado por polêmica que existe até hoje, devido ao jogo em que o
Peru teria “se vendido” aos argentinos, em derrota de 6 x 0.
F.
Maier
ERROS
DA REVOLUÇÃO
O
AI-5 deveria ser o primeiro Ato, segundo o jornalista Themístocles de Castro e
Silva e o engenheiro Accioly de Carvalho
“Um movimento como este,
quando explode e se torna vitorioso, gera as suas próprias leis. Se foi
vitorioso e respaldado pelo povo, foi porque a ordem jurídica anterior estava
fendida e não teve forças para detê-lo, claro. Então, o Movimento de 31 de
Março tinha que gerar as suas próprias leis e seguir em frente. Mas não:
primeiro, dividiu logo a vitória com o outro lado, admitindo para
Vice-Presidente da República o Sr. José Maria Alkmin, representante da situação
deposta, Juscelino e Jango. Depois, com o Presidente Costa e Silva, a Revolução
cometeu o mesmo equívoco, indicando para vice-presidente um cidadão muito
ilustre, um cultor do Direito, o Dr. Pedro Aleixo, politicamente, entretanto,
contrário ao Movimento vitorioso. Tanto assim que se recusou a assinar o AI-5, que deveria ter
sido editado no começo da Revolução.
Exatamente porque a
Revolução não quis, ela própria, gerar as suas leis, surgiram as crises
posteriores, impondo corretivos graduais através dos primeiros Atos
Institucionais. Primeira crise, ato 1. Segunda crise, ato 2. Terceira crise,
ato 3. Na primeira eleição que se fez, deu-se a vitória do outro lado, para os
governadores do Rio de Janeiro, da Guanabara e de Minas Gerais” (Jornalista
Themístocles de Castro e Silva, Tomo 4, pg. 280).
“No que diz respeito ao Ato
Institucional no. 5 (AI-5), eu diria que ao comando revolucionário, logo no
início – depois transferido ao Presidente Castello, quando eleito – deveria ter
sido concedido os poderes contidos naquela Ato, editado anos mais tarde. Defendo
a tese de que o AI-5 deveria ter entrado em vigor no dia da Revolução,
encerrando-se com um mandado de seis anos para o Presidente Castello Branco. Ao
fim deste período, o Presidente Castello estaria em condições de convocar as
eleições, depois de ter feito a limpeza política. Assim, a decretação do AI-5
demorou muito” (Engenheiro João Paulo Simões Accioly de Carvalho, Tomo 12, pg.
292).
Jarbas
Passarinho fala sobre ter assinado o AI-5
“Pago até hoje por ter
assinado o AI-5. Quando me perguntam: ‘O senhor assinaria?’ Respondo: ‘Nas
mesmas circunstâncias, assinaria.’ Sabe, era ainda um coronel, por isso mesmo,
quando o Médici indicou meu nome para ser candidato, conta-se que, no Alto
Comando, o General Orlando Geisel disse: ‘Gosto muito do Passarinho, mas não
faço continências para coronel.’ Então a minha possível candidatura morreu ali.
(...)
Então, naquele momento em
plena reunião, assisto o quê? O Ministro do Exército, General Lira Tavares,
depois que Pedro Aleixo sugerira, apenas, o estado de sítio, toma a palavra e
diz: ‘Não é possível, o Exército não tem condições de manter a ordem no país
diante das guerrilhas que estão aí, das violências que são praticadas.’ E
exemplificava: ‘Marighela, um comunista notório, tradicional a vida inteira,
foi preso num determinado momento, antes do AI-5. Em seguida – os bacharéis em
Direito sabem melhor do que eu – entrou o habeas
corpus. Foi preso, mas três dias depois estava fora. Não havia como manter
as liberdades fundamentais para lutar contra um grupo que queria acabar com
nossa liberdade, se chegasse ao Poder.’ Por isso o AI-5 foi uma medida correta:
primeiro, porque foi uma resposta, ao contrário do que propalam – lê-se neste
mesmo livro ‘A Esquerda Armada...’ – eles adotam uma cronologia onde mostram
que isso começou em 1965, ainda no Governo Castello, com o Coronel Cardim, nome
parnasiano, Jefferson Cardim de Alencar Osório. Repetem sempre que a guerrilha
foi uma resposta ao AI-5. Não, a resposta é que foi o AI-5. (...) Quando chegou
a minha vez de falar, fui o primeiro, exceto o Vice-Presidente, a usar a
expressão ‘para não chegarmos à ditadura.’ Inicialmente, fiz o elogio da
posição do Vice-Presidente, Pedro Aleixo, tentando fazê-lo caminhar conosco,
porque ele não estava numa luta contra nós, mostrava apenas que podia haver um
estágio intermediário. E, a minha frase está lá, reproduzida, agora, pelos
jornais: ‘A mim me repugna, senhor Presidente, como a Vossa Excelência,
enveredar pelo caminho da ditadura, mas se eu não tenho alternativas, às favas
os meus escrúpulos de consciência.’ Pago por isso, repito, até hoje” (Senador
Jarbas Gonçalves Passarinho, Tomo 5, pg. 63).
“Revolução é quando se tem
um líder e se pretende fazer uma mudança radical. Porque nós pretendíamos fazer
uma mudança radical. Essa mudança não foi feita, infelizmente, não foi feita.
Que mudança seria essa? A Revolução de 1964, no meu entender, deveria ter
fechado tudo, passa a borracha e vamos comçar de novo. Significa o seguinte:
não tem que aceitar aquele ‘congressinho’ para manter a fisionomia da frente.
Fecha, todo mundo na rua. Fecha a Justiça – todo mundo para a rua. Vamos fazer
de novo, vamos botar gente nova. Colocar interventores nos Estados, acabar com
a Câmara de Vereadores, acabar mesmo! Vamos fazer uma faxina, vamos empregar a
linguagem que, hoje em dia, se usa tanto – vamos passar o Brasil a limpo.
Aquela ocasião era a hora de passar o Brasil a limpo. Passar a borracha.
Começar de novo.
Depois, sim, eleições livres
em todos os níveis com normas e regras bem definidas, de maneira que não se
permitissem situações abusivas como se vê hoje – essa justiça morosa, realmente
lenta e, a todo momento, apresentando, como no Congresso, casos de corrupção. É
uma vergonha!
Era isso que deveria ter
sido feito pela Revolução, como se pretendia! Vamos ao Chile. Pinochet passou a
borracha. Veja o Chile como está hoje. Ele não teve nenhum remorso em fechar o
Congresso, fechar a Câmara dos Deputados. Fechou tudo, inclusive a Justiça.
Estabeleceu uma junta e governou com ‘punho-de-ferro’.
Em qualquer revolução, em
qualquer ação de força, a injustiça faz parte do sistema. Não podemos querer
fazer uma revolução ‘boazinha’. Ah!, não. Paga o justo pelo pecador? Paga. Mas
o preço que se paga ou que ser teria pago seria muito menor do que o preço que
estamos pagando hoje com uma violência urbana fora de controle, com a corrupção
instaurada no País e com o descrédito das instituições. Se nós tivéssemos feito
isso, hoje, com certeza, teríamos um outro Brasil’” (Coronel Tomás de Aquino de
Carvalho Lima Sampaio, Tomo 10, pg. 391-392).
Primeiro
erro: Castello Branco é obrigado a submeter-se à eleição do Congresso Nacional
“O que observei, lá do
Nordeste, acerca da atitude do Congresso, ao ser deflagrada a Revolução, foi o
propósito de, imediatamente, apossar-se do Governo, como acontecera, anteriormente,
com a saída do Jânio e em outras ocasiões. Não conseguindo, seguiu-se a linha
da omissão. Por ocasião da eleição do General Castello Branco à Presidência da
República, tentaram até ausentar-se, obrigando-nos, no IV Exército, a buscar
cada um dos deputados e senadores e indicar-lhes local e hora para o embarque.
Eles não queriam nem votar.
E,
depois de terem votado, começaram a abraçar o Castello
[Entrevistador].
Para o desempenho do General
Castello, foi altamente negativo sua eleição ter sido realizada pelo voto dos
senadores e deputados. Eles não mereciam ter esse privilégio. Foi o primeiro e,
talvez, o maior erro da Revolução que se iniciava” (General-de-Brigada Hélio
Ibiapina Lima, Tomo 2, pg. 180-181).
“No dia 15 de abril de 1964,
o General Castello Branco assume a Presidência da República. A meu ver, por ser
um militar muito competente, mas extremamente legalista, talvez não fosse o
mais indicado para ser o primeiro presidente revolucionário. O General Castello
Branco, por seu temperamento, e fiel à legalidade, procurou dar à Revolução o
aspecto mais democrático possível, limitando-se a corrigir os fatos mais
graves, preocupado em fazer tudo de um modo pacífico, conciliando com o
Judiciário, com o Congresso” (Coronel José Antônio Bayma Kerth, Tomo 4, pg.
107).
“O Castello era um
democrata. Foi meu comandante na Escola de Estado-Maior e mantinha pressão
permanente, afirmando: ‘O Exército não pode, ao mesmo tempo, servir a dois
senhores. Ou se é militar, ou se é político, porque até juramentos podem
conflitar numa hora dessas. O Exército,
se fizer política, não é mais força armada, é milícia” (Senador Jarbas
Gonçalves Passarinho, Tomo 5, pg. 56).
Atritos
entre castellistas e costistas
“Nós, militares,
compreendemos que, nos primeiros tempos da Revolução, que duraram um ano e meio
a dois anos, houve uma divisão, um pouquinho forçada por alguns, entre o que se
chamaria os ‘castellistas’ e os ‘costistas’ – Castello Branco e Costa e Silva.
Eu digo que a divisão foi forçada porque 90% dos militares, inclusive dos
revolucionários, e eu me incluo nesse grupo, 90% não estávamos preocupados em
saber se vai ser fulano ou beltrano. Estávamos preocupados era em ter um chefe
à altura e que logo assumisse a chefia, para não ficarmos acéfalos depois de
ter vencido” (General-de-Exército Jonas de Morais Correia Neto, Tomo 9, pg.
48).
“Na Secretaria Geral do
Conselho [de Segurança Nacional], assisti ao delinear de um conflito virulento
e de consequências lamentáveis para a Revolução e para o Exército. Foi a guerra
de atrito entre o ‘grupo Costa e Silva’ e o ‘grupo Castello Branco’. Sem
economizar palavras, seus líderes odiavam-se. Portella não tolerava os Geisel,
e não tolerava o que ele chamava 'o pessoal da Sorbonne’, que era o pessoal dos
Geisel, Golbery à frente. Desse último tinha ódio; em certa medida
correspondido” (Coronel Luís de Alencar Araripe, Tomo 2, pg. 228).
“Fizemos com que entre nós a
cizânia crescesse. A mesma que vai aparecer mais tarde, na luta entre os
chamados radicais, que vão se opor, inclusive, ao fim do chamado regime
militar, permitindo aquelas coisas que nos levaram até a uma participação em
terrorismo, como as bombas atiradas em certos lugares – a questão do Riocentro.
Aqueles fatos ocorreram, porque um grupo ainda não tinha se disposto a aceitar
a passagem do governo para a área civil” (Senador Jarbas Gonçalves Passarinho,
Tomo 5, pg. 59).
“O que o povo esperava da
Contrarrevolução que passou a se chamar de Revolução?
Esperava desenvolvimento,
honestidade, austeridade, ordem e segurança: isto de fato aconteceu. O Governo
de Castello, porém, não ouvia ‘o grupo revolucionário’, que havia desencadeado
a Revolução. Ligava-se pouco ou quase nada, devido às sequelas por ocasião da
renúncia do Jânio. Falavam-se pouco e não se cumprimentavam.
Uma
desunião. [entrevistador]
Exato. Tanto que ao ocupar a
Presidência da República, Castello Branco enfrentou problemas com este grupo. O
Ato Institucional No. 2 (AI-2) só saiu porque os paraquedistas pressionaram.
Quartéis pressionaram, comandados pelo Plínio Pitaluga, ainda vivo, o Confúcio,
o Sebastião Chaves, que comandava o Regimento Floriano. Resolveram depor o
Castello e colocaram as tropas na rua. A Marinha, chefiada pelo Almirante Heck,
dispunha-se, também, a bloquear a barra do Rio, para exigir a saída do Catello.
O General Costa e Silva, Ministro da Guerra, foi à Avenida Brasil num
carro-comando, reunir-se com os coronéis para um acordo. Antes, ao sentir a
crise, Costa e Silva foi até o Castello, cuja filha, Antonieta – Nieta -,
pediu-lhe:
- Salve o papai!
Era
um carro-comando PC, ou seja, Posto de Comando instalado na viatura.
[entrevistador]
Exatamente. Nesse
carro-comando, Costa e Silva fez um acordo com os coronéis. Estes oficiais
tinham o apoio da Força Aérea, inclusive, pelo Haroldo Veloso. Em suas bases,
encontravam-se prontos para a ação. Nesse dia, na Av. Brasil, surgiu a
candidatura do Costa e Silva e saiu o AI-2. Costa e Silva assumira o
compromisso de arrancar tudo o que os coronéis queriam do Castello” (Doutor
Carlos Eduardo Guimarães Lousada, Tomo 7, pg. 348-349).
A
doença de Costa e Silva, sonegada aos brasileiros
“Sabemos de fonte segura que
na ocasião em que foi escolhido, o General Costa e Silva estava gravemente
enfermo. A equipe dele, seus assessores e elementos mais chegados já sabiam
disso e sonegaram essa informação por interesse do mandato. Pouco depois o Presidente
teve problemas, ficou incapacitado e precisou ser substituído. Já a escolha do
novo Presidente deu-se através de uma eleição de forma militarizada. Tudo
porque a situação era de inquietação, estávamos vivendo aquela fase de
contestação que apresentava sinal de rápida deterioração” (General-de-Divisão
Rymundo Maximiano Negrão Torres, Tomo 8, pg. 99).
Costa
e Silva pensava em devolver o poder a um civil
“O Costa e Silva, quando
assumiu, pensou em acabar, devolver para o civil. Isto eu sei devido às
reuniões dele com o General Lyra Tavares, cujo gabinete em Brasília, eu chefiei
até a crise devido ao problema de saúde do Costa. O General Lyra conversava
muito comigo, era falante, uma cultura privilegiada. Ele chegou a me
confidenciar, uma vez, a conversa do Costa e Silva com ele, sobre a sucessão.
Ele achava que estava na hora de devolver o bastão ao mundo civil, porque a
Revolução, com o passar do tempo, estava se desgastando. Ao paisano em geral,
não interessava ter poder de tirar, de botar, de prender. Ele gosta da bagunça,
em poder fazer negociatas, de comprar A, comprar B, de realizar um bom negócio.
Ele não está muito interessado em coisas certas” (General-de-Brigada Celso dos
Santos Meyer, Tomo 10, pg. 143).
Desenvolvimento
& Segurança
“As Forças Armadas estão
inseridas naquele binômio que tanto se fala na Escola Superior de Guerra:
Segurança e Desenvolvimento, binômio que foi se desequilibrando ao longo da
Revolução cada vez mais e só ficou no campo do Desenvolvimento e nada para o da
Segurança. Então, perdemos uma oportunidade com os presidentes militares, por
pruridos, acho pruridos justificáveis, de modernizar as nossas Forças, de ter
uma Força mais ágil, modernizada, tecnologicamente falando. Não precisávamos
ter grandes efetivos, precisamos ter uma força moderna e adestrada. Esse
aspecto perdemos e considero isso uma das falhas da Revolução”
(General-de-Exército Luiz Gonzaga Schroeder Lessa, Tomo 10, pg. 70-71).
Uma
síntese dos principais erros
“Já
se falou aqui dos vários acertos, mas, e os erros da Revolução. Quais foram?
[entrevistador]
Não ter feito a reforma
agrária que o Presidente Castello Branco planejou. Não ter distribuído mais a
renda. Não ter feito a reforma do Judiciário. Ter deixado a mídia e a educação
nas mãos da esquerda. Esses me parecem ser os erros mais graves”
(General-de-Brigada Durval Antunes Machado Pereira de Andrade Nery, Tomo 10,
pg. 187).
Prolongamento
dos governos militares
Os entrevistadores são quase
unânimes em afirmar que a Revolução durou mais do que o necessário, provocando
um grande desgaste nas Forças Armadas, principalmente no Exército. Afirmam que
o Governo Federal deveria ter sido devolvido aos civis ao final do Governo
Médici, ocasião em que os grupos terroristas estavam todos derrotados. Alguns
afirmam que isso não foi feito devido à Guerrilha do Araguaia, que ainda não
estava derrotada.
O general Leonidas afirma
que “O General Castello Branco sempre teve como objetivo transformar o Brasil,
o quanto antes, numa democracia. Acontece que, fustigado pelos antagonistas,
essa transformação demorou mais do que devia. (...) Acho que nós cometemos dois
erros, no que tange à permanência da Revolução:
- O primeiro, limitar o governo
de Castello Branco. A Revolução estava legitimada por si mesma, não tinha que
‘concluir outro mandato’ – nós devíamos ter começado ‘o mandato de Castello
Branco’, de seis anos, por hipótese, findos os quais nós voltaríamos à
democracia. Foi um erro que, na época, eu, um jovem Tenente-Coronel, já dizia e
comentávamos. Não se trata de um erro que eu analiso agora – mas, repito, não
nos deixaram outro caminho. O General Castello Branco tinha verdadeira obsessão
de ser considerado um ditador, não gostava dessa situação.
- O segundo erro foi o de
prolongarmos demais a Revolução, o que nos trouxe uma carga negativa muito
grande, que é essa que nos persegue até hoje, que nos desgastou, inclusive, na
opinião pública, trabalhada pela mídia quase toda esquerdista, que hoje nos
antagoniza. Insistem em dizer que somos torturadores, matadores etc.
Esqueceram-se de que nós salvamos o Brasil” (Tomo 1, pg. 91-92).
“A intenção do Presidente
Castello Branco era de que os Atos Institucionais terminassem no seu governo. Queria
que seu sucessor saísse de eleições normais e passasse o governo para um civil.
Inclusive, já tinha alguns nomes. Mas, na época da transferência do governo de
Castello Branco, as guerrilhas começaram, gerando um clima difícil para a
liberalização. Foram as guerrilhas, as agressões, que, do meu ponto de vista,
provocaram o prolongamento dos governos revolucionários” (General-de-Exército
Carlos de Meira Mattos, Tomo 1, pg. 234).
“Até o final do Governo
Médici, o panorama político foi francamente favorável aos Governos da Revolução
de 1964, tanto no que diz respeito ao Congresso Nacional, como à opinião
pública.
Tal era a maioria política
no Congresso, obtida nas eleições anteriores pela ARENA, partido governista,
que muitos políticos previam, ao início do Governo Geisel, a iminência de
virmos a ficar com um partido político único nas eleições daquele ano, à
semelhança da situação do PRI no México. Adotando tais previsões, o Governo
Geisel resolveu, para as eleições do primeiro ano de seu mandato, incentivar e
ajudar politicamente o MDB, para que este partido melhorasse numericamente sua
representação no Congresso. O resultado dessas eleições constituiu enorme
surpresa para todos, pois o MDB conseguiu maioria no Congresso. Este grave erro
de apreciação política prejudicou e condicionou a ação do Governo Geisel até o
final do seu mandato” (Coronel Helio Mendes, Tomo 1, pg. 266).
“O senhor julga que o Poder foi entregue aos civis no momento justo?
[entrevistador]
Não, com certeza não.
Deveria ter sido entregue ao término do terceiro período, ao final do Governo
Médici. Antes não havia possibilidade por causa das ocorrências de 1968.
Demorou-se um pouco para fazer a entrega total do Poder aos civis e sofremos
por isso um desgaste natural. Todo o governante sofre esse desgaste. Embora
houvesse alternância no Poder, os políticos e os analistas achavam que sendo um
general o presidente, o governo era militar, era uma ditadura.
Como aluno da Escola de
Estado-maior, aprendi que o Poder não admite vácuo e ao mesmo tempo encanta. Ninguém daquelas
corriolas queria se desengajar. Penso que demoramos um pouco além do
devido para entregar o Governo” (General-de-Brigada Carlos Augusto Fernandes
dos Santos, Tomo 8, pg. 288).
“Julga
o senhor que a Revolução se demorou muito no governo?
[entrevistador]
Acho que sim. Geisel, com o
início da distensão lenta, gradual e segura, levou quatro anos: de 1975 a 1978.
Em 1979, entrou o Figueiredo. Ficou de 1979 até janeiro de 1985. Então, demorou
além do necessário; acredito que, no final da década de 1970, Geisel poderia
ter concluído a abertura porque já não havia mais a luta armada. Entendo que
Geisel poderia ter convocado eleições diretas e entregue o Poder aos civis, já
que ele iniciou, ele deveria ter concluído. Essa é a minha opinião. Não havia
razão de haver mais um governo dito revolucionário depois da extinção do AI-5,
feita pelo próprio Geisel” (Coronel Romeu Antonio Ferreira, Tomo 9, pg. 372).
“Talvez o tempo de duração
da Revolução de vinte anos tenha sido um desses principais enganos. Por outro
lado, esse tempo mais longo pode ser atribuído às forças que surgiram para
contestar a Revolução, com armas nas mãos. Por exemplo, as guerrilhas; falsas
guerrilhas, porque os homens que as fizeram não conheciam, apesar de terem se
preparado no estrangeiro, a sua técnica. Escolheram mal a região de atuação,
distante das reais [?] de contato com o exterior. Revolução, da maneira que
pretenderam, não se faz sem o apoio de fora. A área escolhida [Xambioá] ficava
tão distante de Belém que seria muito difícil de lá advir o apoio que se fazia
necessário. Foi baseada somente na audácia e no espírito de aventura, sob uma
visão restrita, de idealistas impregnados pela ideologia comunista, que não
conheciam nada sobre guerrilha, mesmo com participantes orientados no exterior”
(General-de-Brigada Plinio Pitaluga, Tomo 11, pg. 80).
“Em entrevista recentemente
concedida à Rede Cultura de Televisão, indagado por que a Revolução tanto se
demorou no Poder, Jarbas Passarinho – que esteve muito próximo dos governos
militares, já que foi, em duas ocasiões diferentes, Ministro do Trabalho e da
Educação – respondeu: ‘Debito à esquerda a duração do período revolucionário’,
querendo referir-se, sem dúvida, à exacerbação da violência e à prática de atos
terroristas por parte da esquerda de Carlos Marighella. Estas, sim, foram as
verdadeiras causas do prolongamento dos governos revolucionários”
(General-de-Divisão Théo Espindola Basto, Tomo 12, pg. 132).
Legislação
político-eleitoral ficou quase intocável
“Um aspecto que conheço bem
de perto e, lamentavelmente, ficou quase que intocável foi a legislação
político-eleitoral. Os prejuízos ao País foram incríveis. Vemos que a vida
política traduz-se de forma grosseira e desonesta, com a invasão de muitos
tipos inescrupulosos que conseguem triunfar. O problema é simples de entender;
basta comparar os ganhos de um deputado federal com os gastos nababescos de uma
campanha política. A diferença é chocante e o sistema eleitoral brasileiro
conduz, lamentavelmente, à desonestidade.
(...)
Por força dessa situação,
está ocorrendo uma queda cultural e de seriedade dos elementos que representam
a sociedade. O Congresso Nacional, hoje, reflete o interesse de grupos
confessáveis e inconfessáveis e não os ideais do Bem Comum, o interesse da
coletividade como um todo, como queria São Tomás de Aquino, por exemplo, na
Suma Teológica. São pessoas jurídicas ou igrejas ou outros grupos que têm
condições econômicas de eleger os seus representantes: deputados de empresas,
de igrejas, de traficantes, dos contrabandistas, enfim, pessoas jurídicas, em
última análise. Uma pessoa física, a não ser muito rico, não tem condições
econômicas de bancar uma campanha política nos moldes em que ela se realiza no
Brasil” (Doutor Emílio Antonio Mallet de Souza Aguiar Nina Ribeiro, Tomo 10,
pg. 259).
Obs.
Nina
Ribeiro cita o exemplo do voto distrital puro para a eleição dos representantes
do Congresso Nacional como um modelo mais democrático, por estar o político
mais perto do povo no subúrbio onde mora.
F.
Maier
Ditadura
ou ditabranda?
“Gostaria, agora, embora
sucintamente, de tecer um comentário sobre a relação entre o Movimento de 1964
e o Poder Judiciário. A Revolução preservou muito a Justiça, praticamente não
tocou na Justiça. Ainda hoje eu digo: na época da Revolução de 64 – nesse
período eu já era juiz – nunca um militar se dirigiu a mim dizendo que eu
julgasse desse ou daquele jeito ou dizendo a alguém que não cumprisse um
mandado de um juiz” (Desembargador Edgar Carlos de Amorim, Tomo 4, pg. 259).
“Quero, agora, ressaltar a liberdade que
gozamos no Brasil e que poucos povos do mundo desfrutam. É uma ilusão dizer que
há liberdade em determinados países. Durante o Governo Médici, colega holandês
da faculdade, casado com uma brasileira, vivia se lamentando das dificuldades
em levar os filhos para visitar seus avós, na Holanda. Havia uma taxa, um tipo
de empréstimo compulsório, obrigando-o a pagar o dobro da passagem. Brinquei
com ele:
- Está vendo! Você sai da
Holanda, país democrático, e vem para o Brasil, que acusam de ditatorial... Por
que você saiu da Holanda?
- Ah! Aqui temos liberdade.
Na Holanda sou vigiado pelo meu vizinho, sou vigiado pela polícia e sou vigiado
pelo governo” (General-de-Brigada Oacyr Pizzotti Minervino, Tomo 7, pg. 131).
“Era uma ditadura que tinha
o Pasquim circulando, jornais circulando, justiça funcionando sem restrição,
tinha o Congresso, eleição de governadores, prefeitos, senadores, deputados e
vereadores. Que ditadura é essa?!” (Coronel Carlos Alberto Guedes, Tomo 9, pg.
274).
“Episódio também digno de
ser lembrado foi o convite a mim feito por Carlos Caldeira, um dos
proprietários da Folha, para um
almoço na sede do jornal.
Qual minha surpresa! Fora
convidado, também, o Cardeal Dom Paulo Arns. Participaram desse almoço eu, o
Cardeal, Caldeira e Otávio Frias, pai e filho. Justificou o meu velho amigo
Carlos Caldeira o desejo de proporcionar um diálogo sugerido pelo Cardeal. Fato
notório eram nossas divergências políticas irreversíveis.
Durante o almoço, o Cardeal
nos solicitou uma melhor solução para os ditos ‘presos políticos’ condenados
pela Justiça Militar e que estavam cumprindo penas em vários presídios,
inclusive no Hipódromo e na Casa de Detenção. Alegara o Cardeal as condições
subumanas desses presos, merecendo respeito seus ‘direitos humanos’. Aleguei de
pronto que o problema não era de nossa alçada e sim da Justiça Militar, bem
como não reconhecia ‘direitos’ a ‘terroristas e assassinos’ condenados. Por
insistência dos participantes a favor de Dom Paulo, prometi estudar o assunto.
Depois de algumas tratativas
propus uma solução dentro das possibilidades da Secretaria de Segurança, que
deveria ter o aval do Poder Judiciário. Esse aval foi conseguido e minha
proposta aceita. Com verbas próprias do Gabinete do Secretário, em tempo
recorde foi construído na área do Barro Branco da Polícia Militar um autêntico
presídio ‘3 estrelas’, para todos os condenados da Justiça Militar.
Pareceu-nos que concentrada
a fina flor da subversão e terrorismo, além de tê-los sob nossa guarda direta,
o que proporcionou o acompanhamento de todas as suas ligações com o exterior e
que vinha realmente a nos servir coo ‘informações’, também, deixavam de fazer
proselitismo junto a outros tantos apenados.
Fui aquinhoado com a Ordem
do Mérito Judiciário Militar, por contribuir para solucionar o problema de um
presídio da Justiça Federal” (Coronel Antonio Erasmo Dias, Tomo 7, pg. 151).
“Em 1983, fui demitido
sumariamente da CESP, simplesmente por ser um oficial do Exército. Eu e mais
uns três ou quatro oficiais que trabalhavam lá, o Governador mandou nos
demitir.
Quem era o Governador?
André Franco Montoro mandou
nos demitir por sermos oficiais do Exército e por isso faço questão de dizer o
seguinte: Isso aconteceu durante o Governo militar, que eles chamam de
‘ditadura’ e muito mais; mas não era ditadura, porque fomos mandados embora por
um civil, por sermos militares, e ficou tudo por isso mesmo. Se fosse uma
ditadura jamais teria ocorrido” (Tenente-Coronel Roberto de Andrade Ninô, tomo
7, pg. 280).
“Em 1964, a Guarnição de
Santa Maria foi capaz de, em uma condição de risco e de perigo, como no
imediato período pós-Revolução, respeitar a sacralidade dos lares! As patrulhas
cercavam a casa do indivíduo, viam que ele estava queimando documentos, mas só
o prendiam ao clarear do dia, o que nos causou enorme dificuldade, porque
tínhamos que ir em busca de prova testemunhal, uma vez que a prova documental
tinha sido queimada, com a permissão de um Exército cristão que, no seu todo,
respeitou os direitos individuais dos suspeitos. Isso está escrito! Nós agimos
com elegância total e dignidade completa. Pelo menos foi o que vi aqui, nesta
cidade. E, com certeza, deve ter-se repetido Brasil afora. Foi exemplar! Então,
não posso aceitar ‘revanchismo’. Isso sim é indigno, é antifraterno, é um
verdadeiro lesa-pátria” (Tenente-Coronel Alexandre Máximo Chaves Amêndola, Tomo
8, pg. 399).
“Qual
foi a atitude do Congresso Nacional quando da eclosão da Revolução?
[entrevistador]
Na ocasião, o Senador Auro
de Moura Andrade declarou vago o cargo de presidente, empossando Ranieri
Mazzili, e nomeou Costa e Silva, Ministro da Guerra; o Almirante Augusto
Rademaker, Ministro da Marinha; e o Brigadeiro Corrêa de Melo, Ministro da
Aeronáutica. Na mesma noite, foi tudo resolvido, sem correr sangue, sem morrer
ninguém. Caíram de podre, o termo é esse” (Tenente-Coronel Carlos Claudio
Miguez Suarez, Tomo 9, pg. 385).
Ausência
de renovação da elite política
“O primeiro [erro] foi
considerar todos os opositores como inimigos, adversários. Se a Revolução
tivesse aproveitado melhor a nossa elite política, a influência exercida pela
Revolução sobre a juventude teria sido muito melhor. Para mim, foi o grande
erro do Movimento. Havia muita gente boa que, embora pensasse diferente de nós,
poderia ter sido chamada a colaborar, o que engrandeceria os quadros à
disposição dos grandes ideais que nortearam o nosso Movimento.
Por outro lado, não se
tratou, com o rigor devido, os inimigos, exploradores do povo brasileiro,
traidores do Brasil. Esses indivíduos, que haviam sido enxotados pela opinião
pública nacional, voltaram ao Poder a partir de 1985, fato que vem se agravando
de 1990 aos dias atuais. Tudo isso deu azo ao ‘revanchismo’ desenfreado dos
últimos 15 anos, que desembocou na tragédia nacional do momento presente”
(General-de-Divisão Tasso Villar de Aquino, Tomo 9, pg. 85).
“O primeiro erro foi que ela
permaneceu por tempo excessivo. Tenho a impressão de que, se a Revolução
tivesse terminado ao fim do Governo Médici, teria sido consagrada por toda a
História.
Um outro erro muito sério
foi que, a pretexto de manter a juventude afastada da fermentação política, não
permitiu a criação de lideranças jovens comprometidas com o espírito da
Revolução. A juventude é o futuro de todo o país; portanto, os jovens tinham
que participar. Já os partidos comunistas, de todos os matizes, foram às
universidades, identificaram as lideranças, principalmente aquelas
descontentes, e as recrutaram. Esse foi o segundo erro.
O terceiro foi a perda da
guerra pela mídia, que, depois de um certo período, foi empalmada pelos comunistas
e seus aliados. Estes infiltraram os seus seguidores nas faculdades de formação
de ciências humanas e aí está a origem de todo o ‘revanchismo’ e da mentira que
hoje é difundida.
A Revolução permitiu, ainda,
que os verdadeiros revolucionários, mais adiante, fossem substituídos pelos
oportunistas. Foi quando tivemos o império da tecnoburocracia, que tantos
malefícios trouxe à imagem da Revolução. Também foi grave a ausência de solução
para alguns problemas sociais, com aquela mentalidade de primeiro deixar
crescer o bolo para depois dividir. Nós nos deveríamos ter engajado
violentamente na solução dos problemas sociais brasileiros. Por fim, como
oficial da Marinha, noto que foi dada muita ênfase à malha rodoviária em
detrimento da ferrovia e da hidrovia. Isso foi um erro estratégico notório,
responsável em boa parte, na atualidade, pelo elevado ‘custo Brasil’, que
retira competitividade dos nossos produtos no mercado internacional” (Vice-Almirante
Sérgio Tasso Vásquez de Aquino, Tomo 9, pg. 103-104).
“Existem críticas à
Revolução de 1964. É claro que em todo movimento, ainda mais num movimento de
força, ocorrem acertos e erros. Felizmente, houve mais acertos. Entre os erros,
eu salientaria que o Movimento não permitiu ou dificultou o surgimento de novas
e autênticas lideranças política, no seio das forças democráticas. Quando os militares
deixaram o Poder, as lideranças políticas eram as mesmas causadoras da
Revolução” (General-de-Brigada Adalberto Bueno da Cruz, Tomo 12, pg.
155).
A
corrupção não foi combatida como deveria ter sido
“Trabalhei numa empresa, que
eu não vou citar, muito boa empresa. O trabalho dela era de primeira linha, uma
empreiteira. Eles nunca me pediram nada que atingisse a minha formação, sempre
me respeitaram e a rigor nunca me solicitaram nada. Eu era uma espécie de
garantia para eles. Todos, naquela época da Revolução, queriam ter um militar a
seu lado. E muitos militares se beneficiaram. Eu, de certa forma, também. A
empresa me empregou durante 11 anos, depois uma outra o mesmo tempo. Achei que
estava na hora de parar e me afastei. O dono da empresa dizia, depois que
ficamos mais íntimos: ‘Eu dou o meu preço, preço certo, correto, proposta
técnica, proposta comercial. Agora, em cima disso, entra o preço político’.
Chamavam de preço político – era o preço que queriam pagar, sempre muito
superior e estamos conversados. Um exemplo disso é a ferrovia Belém-Brasília,
naquele trecho que construíram trezentos quilômetros. Três empresas ganharam.
‘Deram para mim, porque dei o preço político que queriam. Dei o meu preço
comercial e técnico, agora pagaram o preço político, não para mim, preste
atenção, três vezes mais – método tri, isto é, pagaram três vezes mais o preço
que era cobrado, embora para a empresa venha só o preço certo, o preço
comercial, o restante não sei bem para onde vai’.
A Revolução não conseguiu
impedir essas práticas, mas dificultava. Há uma passagem com o General Frota,
com quem eu servi. Quando ele estava no Comando do antigo I Exército, um dia eu
chego e ele estava numa reunião com os seus oficiais – eu nem era de lá, eu era
da Escola Superior de Guerra. Ele estava reunido com o General Bento, Chefe do
Estado-Maior, Coronel Ourique, Subchefe, e o Fiúza, que era do DOI/CODI. Eu, da
ESG, passei por lá. E ele disse: ‘Agora, acabou a corrupção, não há mais
corrupção com o AI-5’. Eu lhe disse: “O senhor está enganado. Vai ficar mais
difícil, porque se tornará mais perigoso, mas vai aumentar o preço e aumentando
o preço vai haver quem acha que compensa arriscar. Diria para o senhor que
ficará mais caro’. E foi o que aconteceu. A licitação da ferrovia Belém-Brasília, para aqueles
trezentos quilômetros, pagaram três vezes mais o metro do trilho do que o
normal, do que a Vale desembolsava para fazer as suas ferrovias.
Esse é um fato que assusta a nós militares, mas que não causa espanto àqueles
cuja formação é bem diferente da nossa...” (General-de-Brigada Celso dos Santos
Meyer, Tomo 10, pg. 143-144).
“Outro erro foi que não se
deu muita importância ao combate à corrupção; não que ela não tivesse sido
combatida, o foi, mas não com a profundidade que desejávamos.
Lembro-me de que houve
alguns casos em que era o Serviço Nacional de Informações (SNI) que ‘pegava’;
era o SNI atrás da corrupção, aqui e acolá. Mas lembro-me também de que o
Governo deixava o combate à corrupção principalmente para as polícias, o que
não foi bom. O Governo estava preocupado mesmo com a luta armada e a subversão”
(Coronel Romeu Antonio Ferreira, Tomo 9, pg. 369).
“Uma das coisas pelas quais
nos procuravam muito se relacionava à mineração. Incluía-se aí o cristal de
rocha. Naquela época, o único cristal de rocha com propriedade piezo-elétrica,
que servia para válvulas osciladoras, era o cristal brasileiro. E esse cristal
era exportado para o mundo inteiro como lasca de cristal de cinquenta centavos
de dólar o quilo, quando na verdade, saíam blocos de cristal, cujo valor era
10, 15 dólares o quilo. Fizemos levantamento disso, devido a vários informantes
que nos procuravam, fazendo denúncias.
Diamantes, nós vimos no
mercado de Amsterdã, Londres, Nova Iorque. Eram gemas brasileiras que chegavam
lá com valores extraordinários, sem que aqui houvesse qualquer registro. Havia
também esmeraldas e outras coisas desse tipo. E existia a célebre draga Xica da
Silva, no Rio Jequitinhonha, que consumia a ‘brincadeira’ de seis mil litros de
óleo diesel diariamente, com toda aquela estrutura. E nada produzia! Só que nos
rejeitos da draga, um grupo de garimpeiros colhia diamantes industriais, esses
pequeninos. E não havia produção! Fizemos levantamento junto com o pessoal da
Aeronáutica, tendo descoberto algo inacreditável. Não sabíamos bem e até
tivemos um pouco de cuidado. O valor que saía sem qualquer registro, mesmo dividido por
dois, ainda dava mais do que o orçamento da União.
E não havia qualquer sanção.
Conheciam-se as ligações do Costa Cavalcanti, Ministro das Minas e Energia, com
o mundo empresarial de mineração, com os grupos todos. Sabíamos desses fatos,
mas nada frutificava, não se chegava a um resultado, o que causava muita
frustração. Mas, de qualquer maneira, essas coisas foram levantadas” (Coronel
José Campedelli, Tomo 15, pg. 295-296).
Obs.
Sobre
a corrupção havida durante o governo militar, há um texto de Marcelo Freire, do
UOL São Paulo – cfr. https://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-noticias/2015/04/01/conheca-dez-historias-de-corrupcao-durante-a-ditadura-militar.htm.
Delfim
Netto, quando foi embaixador em Paris, era conhecido como “Monsieur Dix Pour
Cent” (Senhor 10%) – Cfr. https://epge.fgv.br/files/default/13-03.pdf.
F.
Maier
A
batalha da comunicação social foi perdida, assim como a Educação
“Nós não só perdemos a
‘guerra da comunicação social’, como também a da educação. Não soubemos, após
ocuparmos o governo por vinte e um anos, orientar o Sistema Educacional
Brasileiro e perdemos completamente a guerra da comunicação. Se você analisar,
em quase todos os institutos de estudos superiores do Brasil, universidades,
faculdades, as facções que dominam são as da esquerda, mesmo, em pequeno
número. Esses elementos dominantes continuam praticando o ‘revanchismo’, não
dando chances para quem não for do grupo deles, de esquerda”
(General-de-Exército Carlos de Meira Mattos, Tomo 1, pg. 236).
“Entendo que não perdemos a
‘batalha da comunicação social’, simplesmente porque nunca nos engajamos nela.
Tive um colega – não citarei o nome – que disse assim: ‘A galinha põe o ovo e
canta’, mas não aprendemos isso na Escola Militar. Nós realizamos, porque temos
que realizar, porque é parte do nosso trabalho, porque é parte da nossa
profissão, porque é o nosso idela, nosso amor ao Exército, porque faz parte do
nosso amor à Pátria.
Nós não estamos habituados a
trabalhar em troca de recompensas. Acredito que a gente pense o seguinte: ‘O
meu trabalho, os outros hão de reconhecer.’ Assim pensava o Presidente Castello
Branco” (General-de-Divisão Geraldo de Araújo Ferreira Braga, Tomo 2, pg. 111).
“A batalha da comunicação
social, perdida pela Revolução, começou logo nos primeiros dias do Movimento.
Castello tinha profunda aversão a qualquer idéia de DIP, o Departamento de
Imprensa e Propaganda, da ditadura de Getúlio Vargas, ícone de muitos
libertários anti-Revolução. Os outros governos da Revolução participavam dessa
idéia, embora, com certo acanhamento, tenham divulgado suas realizações. Mas,
não cuidaram da conquista da opinião pública. No Governo Médici, a Assessoria
de Relações Públicas da Presidência da República, sob a orientação
extraordinariamente capaz do então Coronel Octávio Costa, realizou um trabalho
que lembra, mas não é igual, aos dos marqueteiros dos nossos dias. Trabalho
facilitado pelo alto desempenho da economia e pela imagem de Médici. Os outros
presidentes, por excesso de escrúpulo, não atuaram sobre a opinião pública,
deixando livre o espaço para as esquerdas, extremamente ativas, dentro e fora
do Brasil. Foi um erro fatal para a imagem da Revolução” (Coronel Luís de Alencar Araripe, Tomo 2, pg. 246).
“O Presidente Geisel iniciou
a abertura política, uma das metas do seu Governo, mesmo lutando contra algumas
resistências, e o fez muito bem. Creio que houve um erro de estratégia, porque
a abertura política começou pela imprensa, a primeira coisa foi a distensão da
imprensa, realmente o setor mais controlado. (...) Mas a liberação da imprensa,
talvez tenha sido um erro estratégico, porque todos os esquerdistas que estavam
sem poder atuar, tolhidos pela ação enérgica de repressão, correram para lá, e
lá estão até hoje. Assim, a grande mídia atual, que sempre contou com pessoal
competente, absorveu muitos desses elementos de esquerda, que continuam a fazer
jorrar sangue daquela época. Sofremos, ainda, as consequências disso”
(General-de-Exército Domingos Miguel Antonio Gazzineo, Tomo 4, pg. 39).
“Não podemos deixar de
reconhecer que houve algumas falhas. Erro mesmo só reconheço um: perdemos a
‘guerra da comunicação social’. Os adversários da Revolução foram muito
inteligentes: infiltraram-se na Igreja, nos cursos de comunicação social e na
mídia” (General-de-Divisão Francisco Batista Torres de Melo, Tomo 4, pg.
65-66).
“Brazil: love it or leave it!”
“Eu vi particularmente o que
foi feito no Governo Médici pela Assessoria Especial de Relações Públicas
(AERP), sob a direção do Coronel Octávio Costa (Octávio Pereira da Costa),
oficial conhecido pela sua criatividade e inteligência. A AERP foi um excelente
exemplo para o Brasil de como um setor de comunicação social deve atuar.
Lembram do ‘Sugismundo’, aquela campanha contra a sujeira? E do ‘Ame-o ou Deixe-o’,
hoje tão execrado? Foram mensagens criadas pela Assessoria Especial de Relações
Públicas e que, antes do patrulhamento esquerdista, a sociedade absorvia com
naturalidade” (General-de-Brigada Léo Guedes Etchegoyen, Tomo 8, pg. 186-187).
“Se houve algum erro a
lamentar, foi o da despreocupação da Revolução com a penetração e o domínio dos
comunistas na área da Educação, o que, também, adveio da prioridade dada pela
Revolução ao combate aos extremistas voltados para a luta armada, deixando, em
consequência, livre de controle os comunistas que atuavam nas mentes, no ensino
superior, principalmente na formação dos jornalistas, ou seja, do pessoal de
comunicação social como um todo, bem como dos que, mais tarde, estariam na
cátedra universitária, em especial, à frente das cadeiras de história e
geografia” (Coronel Hamilton Otero Sanches, Tomo 9, pg. 345).
“Mas o grande erro da
Revolução foi que os governos militares subestimaram o poder da mídia, o poder
do domínio da cultura. Parece que eles pensavam assim: ‘Não vamos gastar
dinheiro público com propaganda ou com o que estamos fazendo, pois o que
estamos fazendo são fatos e os fatos vão predominar’. Quando sabemos que isso
não acontece: fatos nada significam, o que importa é o significado dado a esses
fatos. Ainda hoje, existe muito que não faz nada, mas é considerado lá em
cima, apenas porque conta com o poder da mídia. E a Revolução nunca deu valor a
isso. Nós ganhamos a batalha contra a guerrilha rural e urbana, mas perdemos a
batalha da comunicação social. Essa é a minha opinião” (Coronel Romeu Antonio
Ferreira, Tomo 9, pg. 369).
“Perdemos a guerra da
informação. A anistia ‘ampla, geral e irrestrita’ só vale para um lado; a
‘constituição cidadã’ vive sendo modificada; o chamado ‘entulho autoritário’ é
objeto de escárnio; o ‘revanchismo’ grassa à solta, oriundo do próprio Governo;
a mídia, primordialmente ‘revanchista’, reflete a história recontada e não a
história verdadeira. É essa história recontada que os estudantes aprendem até
mesmo, pasmem, na AMAN, cujos professores do QCO e os contratados tiveram
formação universitária com essa distorção. É preciso atentarmos para isso.
Perdemos e continuamos perdendo a guerra da informação. Até quando?
(General-de-Exército Carlos Tinoco Ribeiro Gomes, Tomo 10, pg. 39).
Atos
desnecessários de censura
“No campo de minhas
atividades específicas de Relações Públicas, Comunicação Social, eu mesmo
consegui arrolar erros e falhas que, embora aparentemente pequenos, poderiam
ter sido evitados.
Como exemplo, cito a censura
em alguns verbetes da Pequena Enciclopédia de Moral e Civismo, do Padre
Fernando Bastos de Ávila, publicado pelo Ministério da Educação e Cultura
(MEC). Não havia razão para isso: o trabalho era e é magnífico; verdadeira
preciosidade pedagógica, útil para estudantes e professores de nível médio e
superior, como, aliás, para todos os cidadãos, além de imparcial e apolítico.
Eu, por exemplo, tenho esse
livro e comprei um livro para cada um de meus filhos. Um livro desses é um
repositório de informações e definições: O que é governo? O que é Parlamento? É
um livro apolítico e de grande importância vindo de um padre inteligentíssimo.
No último trimestre de 1969,
a proibição de noticiar os progressos lentos, porém inegáveis, da recuperação
do derrame sofrido pelo Presidente Costa e Silva em fins de agosto, reputo uma
decisão errada. Ele sofreu o derrame, mas não morreu de derrame; e sim, de
enfarto ocorrido depois.
(...)
A ausência total de notícias
sob o desenrolar de episódios da guerra revolucionária da Serra do Caparaó foi
outro erro. A gente não ouvia falar no Vale da Ribeira, mais tarde em Xambioá,
como se eles não existissem. A gente ouvia sussurrar, a gente ouvia boatos, não
a verdade, que não saía em lugar nenhum, oficialmente nada” (Coronel Hernani
D’Aguiar, Tomo 9, pg. 190).
O
Coronel Portocarrero enumera vários erros cometidos pelos militares
“O maior e talvez o mais
grave erro cometido foi a sua perpetuação por cerca de duas décadas. Os dois
últimos governos do período revolucionário acarretaram um desgaste bastante
apreciável à Revolução e ao Poder Militar diante da população brasileira em
geral, cujos reflexos são sentidos até os nossos dias. Podemos ainda enumerar
alguns equívocos, a nosso ver cometidos:
- priorizar o campo econômico
em detrimento do psicossocial, despreocupando-se da preparação de lideranças
políticas para dar continuidade à Revolução;
- não ter conseguido
neutralizar a elite política que criou o caos e foi afastada do governo pela
Revolução de 31 de Março de 1964, permitindo que voltassem ao Poder,
sabotando-o e buscando a desforra em todas as oportunidades;
- haver perdido a ‘batalha
da comunicação social’, por omissão, por falta de aplicação de recursos na
atividade ou exagerada confiança, permitindo que uma minoria atuante e
ensandecida de brasileiros comunistas, aproveitadores e políticos
inescrupulosos montasse uma estrutura que passou a dilacerar a verdade a ponto
de transformar terroristas assassinos em heróis nacionais, como estão fazendo
com Carlos Marighella, Carlos Lamarca, Luís Carlos Prestes e outros que hoje
ocupam o primeiro escalão dos governos federais, estaduais e municipais;
- permitir que a esquerda e
os revanchistas derrotados em 1964 e de 1968 a 1973 dominassem a mídia, a ponto
de criar uma nova estória do Brasil, inculcando nas mentes dos mais desavisados
que o que vem dos governos revolucionários é violência. Toda prisão foi sem
motivo, todo preso foi torturado e todo morto assassinado. A Revolução se
tornou impopular a partir de 1975 – porque ela não o era, principalmente no
Governo Médici – porque não soube se comunicar. O muito que fez, o tanto que
reformou, o muito que modernizou, o enorme crescimento que imprimiu ao País,
tudo isso a mídia faz questão de ignorar; a lei do silêncio deve imperar sobre
tudo de positivo que foi realizado. Atualmente, o inimigo tem feito o máximo
esforço para o esvaziamento, o enfraquecimento e o sucateamento das Forças
Armadas e, se possível, sua destruição, com o beneplácito do atual Governo
[FHC]” (Coronel Luiz Mario Portocarrero de Castro Sá Freire, Tomo 11, pg.
173-174).
Atos
contra antigos revolucionários
“Já a partir do Governo
Geisel, houve uma mudança nas ações do governo revolucionário. Ao mesmo tempo
em que o governo praticava atos de força contra o Congresso – senadores
biônicos, cassações para modificar as ‘maiorias’ no legislativo -, houve também
ações dirigidas nitidamente para afastar oficiais ‘afinados ainda’ com os
princípios da Revolução de 31 de Março. Não esquecer que, nesse Governo, o
Chefe da Casa Civil era o velho conhecido General Golbery, cujo secretário era
Heitor de Aquino.
Ambos
aliados dos maiores inimigos do Movimento de 1964, como o comunista-revanchista
Elio Gaspari. Veja com quem essa dupla foi se meter! Não precisa acrescentar
mais nada! [entrevistador]
Em São Paulo, para agradar
setores que não eram revolucionários ou que, então, já estavam trabalhando
mesmo contra a Revolução, refiro-me ao Governador de São Paulo Egídio Martins e
ao Cardeal Paulo Evaristo Arns, o General Geisel cometeu aquela barbaridade que
foi o afastamento do Comando do II Exército, do General Ednardo D’Ávila Melo,
um dos melhores homens que já conheci em toda minha vida.
Outra liderança foi afastada
com a demissão do Ministro Sylvio Frota, para facilitar a ‘eleição’ do General
Figueiredo à Presidência. O livro do General Hugo Abreu mostra perfeitamente
essa manobra da dupla Geisel-Golbery.
A partir daí, já não mais se
falava em Revolução de 31 de Março.
Então foi fácil – a mídia,
totalmente infiltrada, dominou os meios de comunicação e ganhou a batalha da
comunicação social (que não houve)” (Brigadeiro-do-Ar Carlos Affonso Dellamora,
Tomo 10, pg. 121).
Envolvimento
das Forças Armadas na repressão
“Comete-se
grandes erros ao condenar o Movimento de 1964. A posteriori, é muito fácil.
Errou o Movimento de 1964 ao entregar a repressão aos militares. Vargas não fez
isso. Entregou a repressão total à polícia, polícia civil e aos ‘cabeças
vermelhas’ ali do Morro de Santo Antônio, a famosa Polícia Especial. Fizeram
barbaridades, fizeram horrores, mas o Exército de então foi preservado.
Cometemos esse erro, envolvendo o Exército na repressão. Criamos os CODI e os
DOI. Entregamos a centralização das ações ‘na mão’ do comando unificado,
construímos essa unidade de comando. É possível que tivesse de ser feito, mas
foi uma lástima que tivesse acontecido. Pagamos até hoje por isso” (General-de-Divisão
Octávio Pereira da Costa, Tomo 2, pg. 89-90).
“Durante o período de
implantação dos DOI, era reduzido o número dos militares qualificados para
trabalhar nesse tipo de organização. E o que aconteceu? Tivemos que pedir a
contribuição da Polícia Civil, da Polícia Federal e da Polícia Militar, e isso
foi o calcanhar-de-aquiles, porque o pessoal que vinha trabalhar conosco trouxe
o mau hábito policial, isto é, bater para conseguir informação. Cabia ao
condutor do trabalho não deixar que isso acontecesse, mas nem todos estavam
presentes na hora do interrogatório de um preso. Não porque não quisessem e sim
porque estavam em outra operação, e aí, nesse caso, ocorria excesso e quando o
responsável chegava de volta, o erro já tinha sido cometido. Por isso repito,
não posso afirmar que não tenha ocorrido. Deve ter existido. Mas foi episódico,
esporádico, talvez até por força da quantidade de pessoas que atuavam dentro de
um organismo dessa natureza, para fazer interrogatórios” (Coronel Hahenderson
Vieira, Tomo 5, pg. 282).
“Fala-se muito na Operação
Bandeirantes (OBAN). Lá havia uma grande quantidade de policiais civis que
pertenciam ao Departamento de Ordem Política e Social (DOPS) paulista. As
turmas de operações, de análise, de busca, de carceragem, revezavam-se por
vinte e quatro horas. Saía uma turma que estava interrogando, da Marinha, por
exemplo, e entrava uma do DOPS; sabe-se que a polícia está calejada, tem a pele
curtida pelo trato com a bandidagem. Então, se um delegado daquele se excedia,
a OBAN se excedeu!
Havia excessos, mas não das
instituições. A partir do momento em que você vai torturar, iguala-se a eles.
No fim, não se sabe quem é o bandido e quem é o mocinho” (Tenente-Coronel Hiran
Gomes Cavalcanti, Tomo 6, pg. 268).
“Uma guerra suja, sem
dúvida, utiliza processos sujos e isso deve servir como ensinamento também. O
Getúlio tomou uma decisão histórica nesse campo: ele criou uma polícia e não
envolveu diretamente o Exército na repressão interna. O oficial do Exército é
formado para uma guerra ética. Para isso ele exercita diariamente os valores do
cidadão, do cumprimento do dever, da honra, da dignidade, que são, podemos
dizer, o contraponto dessa guerra suja. Então considero que o grande erro dos
governos que enfrentaram a subversão foi não terem criado uma polícia especial,
desvinculada das Forças Armadas, para conduzir aquela guerra”
(General-de-Brigada Carlos Augusto Fernandes dos Santos, Tomo 8, pg. 286).
“O Exército, para não
envolver a Força nessas operações, criou esses órgãos específicos [DOI/CODI]
para atendê-las. Esses órgãos, sem uma vivência nesse setor, buscaram uma
aproximação muito grande com a Polícia. Todas aquelas distorções e
arbitrariedades usadas pela Polícia foram absorvidas, porque a Polícia, no dia
a dia, vive num ambiente antagônico de violência e logicamente qualquer ser humano
se embrutece em face dessa realidade. No entanto, vale lembrar que os
criminosos que enfrentamos, no período da luta armada, não tinham nenhum
comedimento, porque os terroristas são, por si só, elementos desumanos”
(Coronel Amaury Friese Cardoso, Tomo 10, pg. 355).
Prisão
de mulheres em local inadequado
“Em 1965, no
Regimento-Escola de Infantaria estava comandando a Companhia de Carros de
Combate Médios. Toda vez que a minha Companhia entrava de guarnição, tinha por
norma percorrer todos os postos em que meus soldados estavam dando serviço
dentro do Regimento.
Quando chego no xadrez,
encontra uma postura inadequada da tropa, risinhos etc. O que havia? Havia
cinco mulheres presas que foram encontradas num aparelho, sendo, então,
recolhidas lá. E as instalações sanitárias, com aquelas privadas turcas, sem
portas, eram evidentemente inadequadas.
A guarda ficava toda ativa,
porque de vem em quando aquelas mulheres iam procurar a instalação sanitária
para fazer as suas necessidades. Ao presenciar esse fato, fui direto ao
comandante do Regimento e disse: ‘Não é possível continuar essa promiscuidade.
Os elementos que imputo responsabilidade estão perdendo a seriedade no
serviço’. O resultado foi a remoção das tais mulheres para o Batalhão de
Comunicações, em Deodoro, onde havia condições de maior privacidade” (Coronel
Amaury Friese Cardoso, Tomo 10, pg. 355).
A
carne é fraca...
“Nos locais onde servi não
me lembro de mulher presa, mas existia na Fortaleza de São João, no Rio, onde
fiz bastante contato, pela necessidade de deslocamentos para lá. Não sei o
número.
E esse era um outro problema
que se criava, seriíssimo. Companheiros, tenentes como eu, comentavam: as
presas se despiam na frente dos oficiais, como provocação. O camarada tinha de
fazer uma revista, em determinada hora, e quando chegava lá ela estava
totalmente nua, justamente para provocar.
Na Fortaleza de São João era
proibido um oficial ir sozinho visitar o local onde estavam as mulheres, tinha
que ser em dupla, ou três, porque a carne é fraca e ficava a mulher se atirando
para cima dele, podia acontecer algo...” (Coronel Antônio Oswaldo de Mello
Carneiro Lacerda, Tomo 6, pg. 209).
Obs.
Em
1970, quando servi na 4ª. Companhia de Infantaria (atual 30º. BIMtz), em Apucarana,
PR, durante certo tempo havia estudantes universitários de Maringá presos no
quartel, inclusive algumas mulheres. As instalações, improvisadas, eram
adequadas aos presos, separados por sexo. Havia proibição terminante aos
soldados de guarda, de falar com os presos.
F.
Maier
Desprestígio
de alguns chefes militares revolucionários autênticos
“Depois da Revolução
consumada, no meu ponto de vista, cometeu-se um engano, ao prestigiar os
oficiais considerados mais prudentes, mais moderados, em detrimento dos
revolucionários autênticos. Vou citar dois exemplos recaídos sobre oficiais
cearenses: na Brigada Paraquedista, o Comandante de um Grupo de Artilharia, o
Coronel Boaventura, oficial muito competente – foi até secretário na ONU -,
militar de grande valor intelectual e revolucionário atuante; no Regimento
Santos Dumont, o Coronel José Aragão Cavalcante, também de grande valor
profissional, revolucionário autêntico, desde os idos de 1954. Pois bem, esses
oficiais, que teriam mais tarde, papel destacado na Revolução, ainda antes do
31 de março, haviam recebido ordem para sequestrar o Sr. Carlos Lacerda, Governador
do Rio de Janeiro [na realidade, do Estado da Guanabara]. Ambos se recusaram a
cumpri-la. Se o Lacerda tivesse sido sequestrado, será que a Revolução ganharia
a força que ganhou? Lacerda foi o maior líder civil da Revolução, o único que
tinha um discurso, uma capacidade oratória muito convincente. Por sua brilhante
inteligência, foi um político terrível, um aliado poderosíssimo da Revolução.
Aqueles dois oficiais com participação decisiva na Revolução, logo em seguida,
foram promovidos ao posto de Coronel, por merecimento. Quando entraram no
quadro de acesso para General, entretanto, começaram a ser ultrapassados, sem
qualquer justificativa mais plausível” (Coronel José Antônio Bayma Kerth, Tomo
4, pg. 108-109).
“Infelizmente, o Ato
Institucional no. 5 (AI-5) me afastou definitivamente do processo
revolucionário. Entendo que ele alijou as lideranças inteligentes do País. Eu
estava muito envolvido com os Governadores Carlos Lacerda e Magalhães Pinto, e
buscávamos insistentemente uma saída civil, para sucessor do General Costa e
Silva, alguém que tivesse uma experiência marcante como dirigente de um Estado.
Por isso, a meu juízo, o AI-5 foi a grande quartelada do Poder Militar do
Movimento de 1964. Além de Carlos Lacerda, esvaziou-se um grupo muito ativo, ‘o
grupo dos coronéis’, integrado, entre outros, pelo Coronel Francisco Boaventura
Cavalcante, que frequentemente reunia seus integrantes com o objetivo de
oferecer, procurar, propiciar um novo rumo, uma mudança política para o nosso
País” (Tentente-Coronel Artur de Freitas Torres de Melo, Tomo 12, pg. 211).
“O General Mourão pouco ou
nada tinha a perder. Ao descer das ‘Alterosas’, foi reunindo todas as iras,
desconfianças, antipatias e ressentimentos contra o Jango, represados desde
1961. Tratava-se da hora da revanche que foi catalisada na operação Mourão. E
um detalhe importante: quando ele colocou o pé dentro do Gabinete do Costa e
Silva, já havia sido destituído da prerrogativa de líder da Revolução a que
fora alçado pela sua audácia; o haviam congelado, e ele sofreu muito a partir
dali. Ele, que tinha feito a guerra, sentiu que a tinha perdido, antes de
chegar ao Gabinete do Costa e Silva, onde conheceu os novos donos da situação”
(Coronel Celso Chagas da Costa, Tomo 13, pg. 300).
“Cofre
das Vaidades” e a “Política da Chaleira”, a política de Golbery, o Bruxinho que
Era Bom...
“Mas terá sido, certamente,
a ligação íntima com o ‘Turco’ [colunista social Ibrahim Sued] que terá dado a
Élio Gaspari a ferramenta com que aprendeu a abrir o ‘cofre das vaidades’ de
certas figuras da ‘ditadura’ – como Ernesto Geisel, Golbery do Couto e Silva e
Heitor de Aquino Ferreira – de onde saíram os papéis de arquivos oficiais –
transformados leviana e criminosamente em arquivos pessoais – e os ‘diários’ e
as fitas, secretamente gravadas, com que montou sua mais recente e longeva
obra, cujos primeiros volumes, logo que lançados, com impressionante
publicidade, já despontavam na lista dos mais vendidos, mostrando que Sirkis
tinha razão, mesmo que o apontado fascínio seja o resultado de longas e
trabalhosas compilações – via computador – do que muitos outros já escreveram,
com uma conveniente e capciosa seletividade de fatos e fontes, ao bel-prazer do
autor, de declarações com o velho ‘cheiro do Galeão’ e de um texto bem escrito,
mas recheado de equívocos, erros grosseiros, meias-verdades e mentiras
completas, próprias ou encampadas. Falhas que começam a ser apontadas
publicamente, porque ainda estão vivas muitas das testemunhas dos fatos e que
agora se dispõem a corrigi-lo e a contar o que sabem” (General-de-Divisão
Raymundo Maximiano Negrão Torres, Tomo 14, pg. 51-52).
“Não concordo com isso, a
tal ‘política da chaleira’. Então se tem água quente numa chaleira é bom que
tenha uma pontinha aberta para escoar, senão explode. Mas não foi bem isso,
porque a luta armada, conduzida pelos extremistas de esquerda, começou antes da
Revolução de 1964. O ‘grupo dos onze’ do Brizola falava em matar os
prisioneiros. Nas ‘Ligas Camponesas’, defendiam abertamente a luta armada.
Antes da Revolução, vários militantes do então Partido Comunista do Brasil (PC
do B) foram fazer curso na China para implantar a guerrilha.
Tivemos dezenas e dezenas de
bombas jogadas pelos comunistas antes do AI-5. Mas eles dizem que a luta armada
foi desencadeada depois do AI-5, após dezembro de 1968. Mentira! Porque a bomba
de Guararapes foi em julho de 1966. Uma série de mortes, que lembramos bem até
hoje, ocorreram antes. Mais uma mentira que eles tentam transformar em verdade
pela repetição. Ninguém de bom senso, que viveu na época, concorda com isso. É
mais uma empulhação desses críticos embusteiros” (Coronel Romeu Antonio
Ferreira, Tomo 9, pg. 371).
Obs.
Para
conhecer a ligação estreita do quarteto fantástico
Geisel-Golbery-Aquino-Gaspari, leia meu texto “Elio Gaspari e Golbery - o
Bruxinho Que Era Bom”, uma analogia do clássico de Maria Clara Machado: https://felixmaier1950.blogspot.com/2020/04/elio-gaspari-e-golbery-o-bruxinho-que.html
F.
Maier
O
Pacote de Abril, do Presidente Geisel, que deu poder exorbitante aos
parlamentares das regiões Norte e Nordeste
“Jamais deveríamos ter
aceitado o tardio ‘pacote’ do Geisel. O Nordeste tinha que ser tratado,
politicamente, como o restante do País, pois todos os prejuízos que viessem,
teriam sido menores do que esta fórmula esdrúxula de conduzir a política
nacional, que até hoje nos prejudica. Há mais de quinze anos falei que as
bancadas não poderiam ser constituídas como o são. Se vocês procurarem nos
anais eternos da Assembleia Legislativa, lá está o meu pronunciamento veemente
contrário ao ‘pacote de abril’ de 1977.
Descuido ou
intencionalmente, a bancada de um Estado como Sergipe – eu o cito por ser o
menor da Federação – se antepõe à do Rio Grande do Sul. Os Estados do Norte e
do Nordeste, menos populosos, garantiram boa representação no Congresso. E até
hoje somos governados de uma maneira completamente errada. Não podemos
continuar com esse Congresso artificial. As bancadas têm que ser proporcionais
à população. Ninguém tem coragem de mexer. Basta contar o número de deputados
de cada região. E onde está o maior PIB? E onde ferve a política? Aqui! E lá? É
aquela política de sempre, capitaneada por líderes como o Antonio Carlos
Magalhães e Jáder Barbalho, que estão brigando entre si” (Coronel Pedro Américo
Leal, Tomo 13, pg. 249-250).
Obs.
Hoje,
principalmente o Nordeste, é governado por caciques do PT e do PC do B, que
fazem ferrenha oposição ao Governo Bolsonaro, tendo como curral eleitoral os
milhões de dependentes do Bolsa Família.
F.
Maier
A
ênfase deveria ter sido a Educação da criança, o Ensino Fundamental
“Não nos engajamos na
comunicação social e também não o fizemos, como devíamos, na Educação. A
Educação é tudo. Eu era menino e o meu pai já dizia: ‘O problema número um do
Brasil é a Educação.’ Inclusive, nesse período dos presidentes militares, fomos
cuidar do Mobral, o adulto não tem paciência e fomos cuidar do adulto deixando
as crianças, que têm curiosidade e aprendem. A minha empregada frequentou o
Mobral quatro anos, gostava da escola, mas não aprendeu nada, e os que
aprenderam, depois desaprenderam, porque não podiam comprar livros ou jornais e
se tornaram analfabetos novamente. Penso que a ênfase deveria ter sido a
criança, o ensino fundamental, o qual, enquanto não for levado a sério, não deslancharemos.
No sentido lato da palavra, não é só ensinar a ler e a escrever não, é a
educação integral. Quando a criança com dois anos bate o pezinho no chão, já
deve ganhar uma palmada, a educação é fundamental, porque quem tem Educação
cuida também da saúde, cuida de todas as outras coisas, a Educação é tudo.
Outra coisa, deixamos os
comunistas assumirem as universidades. A juventude está sendo preparada por
professores, na sua grande maioria, esquerdistas, comunistas, todos
internacionalistas, o que é um desastre” (General-de-Brigada Augusto Cid de
Camargo Osório, Tomo 14, pg. 128).
Faltou a Revolução de 31 de Março
reformar o Judiciário
“E temos algo impressionante
no sistema de governo, o Brasil é uma República presidencialista com um Judiciário
‘monárquico’. E o Poder Judiciário contraria o Artigo 1º. da Constituição, que
diz que ‘todo poder emana do povo e em seu nome é exercido’. Agora, não existe
no panorama político nenhum momento em que o Poder Judiciário emanou do povo. O
Poder Judiciário assumiu o poder do imperador com a Proclamação da República e
não largou mais.
As revoluções que tivemos
foram contra o Executivo, não foram revoluções contra o Judiciário. Então, eles
usurparam, diria isso, o poder do imperador e o mantiveram, pois não sofreram
revoluções. Dessa forma, temos o poder monárquico do Judiciário, o poder
presidencialista republicano do Executivo e do Legislativo em busca de seus
próprios interesses. Isso não nos leva a lugar algum porque são forças
totalmente heterogêneas e não harmônicas“ (Doutor Antônio José Ribas Paiva,
Tomo 7, pg. 334).
“Não reformaram a Justiça,
não fizeram uma limpeza mais profunda, como deveria ter sido feita. Lembro-me,
certa ocasião, de um dos meus companheiros de turma que possuía um calhamaço de
provas sobre elementos que deveriam ser cassados, afirmava ele, com tudo
comprovado e que não o foram, porque decidiram não prosseguir.
Se a decisão foi sábia ou
não, temos que analisar, porque realmente deixou-se de fazer ‘uma limpa’ em
certos locais. Num desses locais em que estive, um dos chefes da agência do
Serviço Nacional de Informações (SNI) estava fazendo um apanhado sobre um
determinado indivíduo e me mostrou: ‘estou reunindo estas informações e é um
negócio que assusta’, porque, naquela época, o cidadão já estava metido com
drogas, lenocínio, terras, tudo que podia, ações próprias do crime organizado.
Qual não foi minha surpresa, quando ao voltar, uns poucos anos depois, uns dois
ou três anos, o tal indivíduo era o Governador do Estado. E foi indicado para a
função. Aí você vê como as coisas não conjugam, porque sempre ocorre o problema
da perseguição política. Torna-se difícil, realmente, porque o adversário
político utiliza todas as armas” (General-de-Divisão Orlando Morgado, Tomo 5,
pg. 88).
“A Revolução considerou o
Judiciário intocável – sem dúvida, um outro erro. Nunca quis entrar, por
exemplo, numa reforma judicial cartorária. Temos esses feudos nos cartórios,
essa justiça lenta que a Revolução não quis modificar” (Coronel Romeu Antonio
Ferreira, Tomo 9. Pg. 369).
“O Poder Judiciário
permaneceu ileso: ninguém tocou na Justiça, que, a meu ver, deveria ter passado
por uma reforma radical. Por isso, insisto, não fizemos uma Revolução, pois não
mudamos os costumes políticos, não mudamos a Justiça, Poder que estava e
continuou arcaico, sem servir à Nação” (Tenente-Coronel Artur de Freitas Torres
de Melo, Tomo 12, pg. 209).
Dependência
do petróleo externo
“O único problema que
tivemos foi que não atacamos a questão do petróleo, como devíamos, e sem
petróleo não há país que viva. Ficamos dependendo do petróleo barato e quando o
preço foi lá em cima, passamos a pagar uma conta altíssima. Foi a forma que
encontraram no exterior para impedir a nossa evolução. Lembro de uma notícia de
jornal dizendo que nós pagávamos 900 milhões de dólares por ano com a
importação do petróleo e, dois anos depois, passamos a pagar 12 bilhões. Não há
economia que resista” (Coronel João Franco Pontes Filho, Tomo 11, pg. 136).
Atraso
do Pró-Álcool; Reserva de Mercado de Informática
“O desenvolvimento foi
extraordinário, e talvez não tenha sido melhor, porque o próprio General
Geisel, com aquele espírito dele, não digo nacionalista, mas corporativista,
atrasou muito algumas coisas; estou numa área, hoje ligada ao álcool como
combustível, que atrasou demais, porque não se quis mexer como se devia, para
não se mexer com a estrutura da Petrobras, à qual ele era ligado por uma série
de motivos.
Então, são problemas... Essa
reserva que se fez da informática, por exemplo, atrasou muito o nosso
desenvolvimento” (Coronel Carlos Alberto Guedes, Tomo 9, pg. 267).
Obs.
A
Reserva de Mercado de Informática foi praticamente esquecida pelos
entrevistadores. Atrasou em pelo menos 20 anos o desenvolvimento tecnológico
brasileiro.
Os
produtos oferecidos, na época, especialmente da Itautec, eram caixotes
embutidos por peças pirateadas dos “tigres asiáticos”, inclusive seu sistema
operacional, com preços exorbitantes e que chegavam nas prateleiras já
defasados tecnologicamente em relação aos produtos externos.
No
texto “Nacionalismo e Esquerdismo nas Forças Armadas”, de minha autoria – link https://felixmaier1950.blogspot.com/2020/04/nacionalismo-e-esquerdismo-nas-forcas.html, consta:
“Em 1978, o Governo Geisel criou a Secretaria
Especial de Informática (SEI), que instituiu a política de reserva de informática
no País, que tinha por objetivo inventar a roda, ou seja, o computador, que
seria genuinamente nacional. Propostas de instalações de fábricas da IBM e da
Hewlett Packard no Brasil foram rejeitadas; não foi sequer permitida a produção
desses equipamentos no Brasil, que seriam destinados exclusivamente para a
exportação. Agradecem, até hoje, o Japão, a Coréia do Sul e a China, que estão
pelo menos a duas décadas na nossa frente - os três países, em termos de
produção de hardware e software; os dois primeiros, em termos de inclusão
digital de sua população. [Hoje, a China supera os outros dois,
exponencialmente.]
A xenofobia informática não era exclusiva dos
militares retrógrados: ‘personalidades e associações profissionais e culturais
de todo o país formavam um grande bloco com os cidadãos fardados, imitando a
campanha do petróleo dos anos 50’ (PAIM, 2002: 81).
Os talibãs da SEI ‘declararam que o 'Sisne 3.000',
da brasileira Scopus, era funcionalmente equivalente ao DOS, da Microsoft. E o
programa dito brasileiro era mera cópia do DOS, cópia autorizada e legalizada
pela SEI’ (PAIM, 2002: 86). O industrial Ricardo Semler ‘descrevia a indústria
de informática como sendo um CCP - misto de cartório, contrabando e pirataria
(PAIM, 2002: 86).”
F.
Maier
Tortura,
a palavra mágica
“Quando o Presidente
Castello tomou conhecimento de denúncias, de que estaria havendo tortura no
Nordeste, mandou o General Geisel, imediatamente, ir até o local. De lá, foi a
Fernando de Noronha. Hoje, tenho o testemunho de uma pessoa que foi presa na
ocasião, um líder sindical petroleiro que mais tarde elegeu-se Deputado
Federal, o Mário Lima, da Bahia. Era engenheiro da Petrobras, quando eu ocupava
o cargo de superintendente da Empresa e me contou como o General Geisel foi de absoluta
correção. Encontrava-se preso lá o Arraes. Penso que posso dizer isso, Mário
Lima não vai me desmentir aqui: o Arraes chorava. Deu testemunho em relação a
um Costa e Silva, coronel, que era o comandante de Fernando de Noronha, e que
os tratou com absoluta correção e dignidade. Mário, por ter dado esse
depoimento, foi criticado pelos comunistas, porque não deveria tê-lo feito. O
ator Mário Lago, certa vez escreveu assim: ‘o comunista nunca diz que foi bem
tratado, diz que foi torturado’, para criar de pronto um problema” (Senador
Jarbas Gonçalves Passarinho, Tomo 5, pg. 67-68).
“A tortura veio aparecer mais tarde. Veja que
o Frota era um general de posição definida, um home de direita; o pensamento
dele era nitidamente de direita. Dizia-se sobre o Frota, jocosamente, que, se o
camarada chegasse com uma camisa ou com a gravata vermelha, ele já o colocava
no Partido Comunista, direto, tal sua rigidez; mas não aceitava tortura,
também. Não somente isso. Inclusive dava incertas nas prisões do I Exército. O
que ‘eles’ fizeram? Uma casa em Petrópolis. Nessa casa, em Petrópolis, havia
violências físicas. E um tal de Jarbas Passarinho foi citado numa das sessões
de tortura feitas com uma presa chamada Inês Etiene Romeu, que agora deu
testemunho, inclusive por escrito. Ela ouvia um camarada dizer: ‘Olha, primeiro
vocês todos que pegaram em arma serão mortos; segundo, todos os quadros do
Partido Comunista, porque são comunistas e devem ser mortos; terceiro, esses
liberais que estão infiltrados entre nós, como esse Ministro da Educação, o
Jarbas Passarinho, que é uma melancia, verde por fora mas é vermelho por
dentro.’ Eu seria o próximo. E ainda me perguntam sobre coesão” (Jarbas
Gonçalves Passarinho, Tomo 5, pg. 69-70).
“No DOI de São
Paulo, passaram 2.541 subversivos presos. Todos eles prestaram as suas
declarações preliminares no DOI. Era um interrogatório comum. Quando já estava
pronto para ir embora do DOI, a fim de ser conduzido ao presídio, colocávamos o
preso numa sala, dávamos para ele uma folha de papel almaço, uma caneta e
dizíamos: ‘Bem, agora você vai escrever tudo sobre a sua vida de subversão.
Estão aqui o papel e o lápis’.
Fechávamos a
porta, ele ficava lá, sozinho e, de próprio punho, fazia o depoimento. Onde
estão esses depoimentos originais? Estão todos no Superior Tribunal Militar, no
processo de cada um desses presos. Qualquer pessoa bem-intencionada que leia os
depoimentos, facilmente vai chegar à conclusão de que aqueles
documentos nunca foram redigidos enquanto o autor estivesse sendo
torturado, ou sob pressão. A maneira como a pessoa descreve, como escreve; a
letra, a letra firme, a maneira como aborda as questões. Qualquer um, mesmo que
não seja especialista, tenho certeza, chegará a essa conclusão.
Depois, ele ia
para o inquérito policial, no Departamento de Ordem Política e Social (DOPS), e
confirmava o que havia dito no DOI. Posteriormente, era levado para a Auditoria.
Na Auditoria, negava tudo. Negava e, se lembrado do que declarara antes, no
DOI, alegava que falava sob tortura.
E por que faziam
isso? Bom, primeiro, porque na Auditoria procuravam negar, é claro, para ver se
a pena que iriam receber não seria tão grande. Segundo, tinham que justificar
perante a esquerda, perante seus companheiros porque, no interrogatório do DOI,
haviam entregado a organização, denunciado seus companheiros, confessado a
localização dos seus aparelhos. E, terceiro, porque tinham certeza de que
jamais seriam reconhecidos.
Não conseguimos
nunca testemunhas oculares. Assaltavam bancos, os bancários viam, sabiam quem
eram, mas, quando chamados, não os reconheciam, não sabiam de nada, por quê?
Porque os primeiros bancários que fizeram o reconhecimento foram assassinados;
ameaçados, sabiam que todos aqueles que reconhecessem os assaltantes teriam o
mesmo destino. Nunca mais ninguém neste País quis depor contra os terroristas.
Temos também o
caso da atriz e ex-Deputada Bete Mendes, que falou tudo no DOI, prestou
depoimento na Polícia, também o fez na Auditoria e, 14 anos depois, veio a
público dizer que tinha sido torturada.
(...)
Bom, como
conclusão a respeito da tortura, posso dizer que a mídia explora a tortura com
estardalhado e sensacionalismo. Os ex-terroristas procuram justificar o que
confessaram, dizendo que falavam sob tortura. Hoje o curriculum vitae de uma
pessoa é bastante valorizado quando afirma que foi torturada na época da
ditadura, como dizem. Excessos condenáveis devem ter sido cometidos pela
repressão, mas foram muito poucos, uma exceção” (Coronel
Carlos Alberto Brilhante Ustra, Tomo 5, pg. 228-232).
“Quanto à tortura, irmã gêmea da censura, no
esforço de muitos para denegrir o prestígio das Forças Armadas, por meio de
patrulhamento explícito, eu nunca vi. Fui preso em 1964 pelo Governo João
Goulart, passei quinze dias recolhido à Fortaleza de São João, sem direito a
sair de uma área limitada ao refeitório e a um apartamento. Segundo o
noticiário da esquerda, também eu estaria sendo torturado, porque durante
aquele período não pude receber qualquer tipo de visita familiar. As únicas
visitas permitidas eram de militares fardados” (Tenente-Coronel Artur de
Freitas Torres de Melo, Tomo 12, pg. 212).
A esposa do Major
Ustra passeava no pátio do DOI com as presas. Que tortura era essa?
“Mais tarde vou ter a oportunidade de me
referir a esse tipo de problema: da quebra dos vínculos da pessoa com a
família. Milton Barbosa, o sargento [da Marinha] que caiu na clandestinidade,
utilizou como um dos lugares para exercícios de tiro de arma portátil, a praia
de Itaipuaçu, que naquela época era muito deserta. Houve um tiroteio entre os
seus quadros e o pessoal do DOI de São Paulo, do II Exército, e ele faleceu em
decorrência desse tiroteio e aquela moça, Linda Taiá, que era professora
primária, foi atingida por um disparo na altura do frontal, perdendo uma parte
do osso. Ficou muito tempo presa conosco no DOI em São Paulo, depois se
recuperou.
Inclusive quando foi presa, estava grávida e
teve a criança lá dentro do DOI. Isso veio a desmentir os maus-tratos que
muitos diziam que praticávamos contra as pessoas presas. Até a própria esposa
do nosso comandante, do então Major Carlos Alberto Brilhante Ustra [Joseita
Ustra], ia lá dentro do xadrez, muitas vezes, para conversar com as moças que
estavam presas e passeava com elas no pátio. Então, tinha todo esse tom de
humanidade e que, infelizmente, os meios de divulgação do País jamais
propalaram nada dessa natureza. Tínhamos que ter divulgado toda essa verdade,
inclusive do DOI, que não perdeu o seu lado humano, como estou relatando,
apesar de ter enfrentado os mais perigosos terroristas, que foram os que
atuaram em São Paulo, durante a Operação Bandeirante (OBAN)” (Tenente-Coronel
Orestes Raphael Rocha Cavalcanti, Tomo 11, pg. 289).
“Merecem registro os episódios envolvendo um
oficial da Polícia Militar [Tenente José Ferreira de Almeida], um
jornalista [Vladimir Herzog] e um metalúrgico [Manoel Fiel Filho], detidos no
DOI-CODI para averiguações de envolvimento em atividades atentatórias ao
regime, que foram encontrados mortos naquela dependência. Particularmente a
morte do oficial da Polícia Militar mereceu de nossa parte e do então
Comandante da Polícia Militar, questionamento junto ao Chefe do DOI-CODI pela
maneira como se procedia, detendo elementos da Polícia Militar supostamente
envolvidos em atividades subversivas sem o nosso conhecimento.
Sempre aceitamos e colaboramos com o
DOI-CODI, reconhecendo a difícil tarefa de combater o terrorismo, que impunha o
exercício de certas normas garantidoras da surpresa necessária a esse tipo de
combate. À época citada, entretanto, o terrorismo já fora eliminado. Mantinham
atividades subversivas grupos de menor expressão, como seria o caso da célula
comunista na Polícia Militar” (Coronel Antonio Erasmo Dias, Tomo 7, pg. 142).
“Nas vésperas de eu passar o comando da Cia
Cmdo da 2ª. Região Militar, um oficial, Tenente Rodrigues, meu subcomandante,
foi fazer uma ‘paquera’ na Rua São João.
Quando ele estava paquerando, um carro veio e
deu uma batidinha no carro dele, pela retaguarda, e aí começou uma briga. Ele,
tenente subcomandante, talvez entusiasmado, ligou para o corpo da guarda da
Companhia e acionou uma patrulha para ir lá. Essa patrulha foi, pegou o rapaz
que tinha batido no carro dele e fizeram algumas boçalidades com ele.
Não tinham que ter prendido, não tinham que
ter envolvido a tropa. Ele, para castigar, por causa da batida, cometeu umas
barbaridades, que nem vêm ao caso aqui, e foi embora, e os sargentos e os
soldados acabaram torturando esse rapaz, sem razão.
(...) Então, o que é que se fez? Prendeu-se o
tenente e se fez um inquérito. Para simplificar: os sargentos e os cabos foram
punidos e o tenente foi preso, condenado, e acabou se suicidando, porque a
pressão contra ele foi forte. Todos os seus superiores ficaram indignados com
aquele procedimento” (Coronel Carlos Alberto Guedes, Tomo 9, pg. 275).
Obs.
Hoje,
a Rede Globo oferece o Troféu Mário Lago a personalidades do meio cultural e
artístico.
Mário
Lago, ator, compositor, advogado, comunista, orientava os terroristas e
“militantes de esquerda” para dizer que foram torturados, quando saíssem da
cadeia, mesmo que isso fosse mentira.
Cfr.
depoimento de Miriam Macedo, “A verdade: eu menti” - https://felixmaier1950.blogspot.com/2020/05/a-verdade-eu-menti-por-miriam-macedo.html.
F.
Maier
A desinformação do
livro “Brasil: Nunca Mais”, da Arquidiocese de São Paulo
“Tempos atrás fui a um sebo e curiosamente
estavam lá os livros ‘Governo Castello Branco’ – que comprei – e o ‘Brasil
Nunca Mais’, do Cardeal de São Paulo, Dom Paulo Evaristo Arns, livro que eu não
conhecia. Este contém um depoimento de dois camaradas do MR-8 presos aqui no
Paraná, casos que tratei nos meus livros, em que eles falsificam tudo de uma
maneira vergonhosa. Inclusive um camarada declarou que fora torturado mesmo
ferido. Ora, o terrorista tentou sacar uma arma e foi baleado; salvou-se por
milagre; nós levamos o cidadão para o Hospital Militar e ele ficou baixado na
enfermaria dos presos; depois disse que fora torturado no DOPS. Sei lá; se ele
foi torturado foi em outro lugar, depois que saiu de nossa jurisdição. Mas ser
torturado depois de tanto tempo? Para quê?
O outro era um camarada com mulher e filhos,
que alugou uma casa no centro de Curitiba, na Rua Alferes Poli. O nosso pessoal
os descobriu – era um dos chefes do MR-8 (codinome Fyatt) – montou uma situação
para prendê-lo quando voltasse de uma viagem que fazia. Por medida de
segurança, tiramos a esposa e os filhos da casa, pois poderia haver tiroteio. O
Cardeal Dom Arns diz no livro que prenderam a esposa e os filhos para obrigá-lo
a confessar. É mentira absoluta, deslavada; eu estava aqui, participei, pois
era o E2. No apartamento daquele outro que disse ter sido torturado mesmo
ferido, havia uma portuguesa e não sabíamos o que fazer com ela, porque no
início estávamos inteiramente despreparados, então a colocamos em um quartinho
lá no quarto andar do hospital militar. Ela ficou presa até seguir destino. Fui
visitá-la. Tive vontade de lhe dar um bofete na cara porque ela me xingou:
Assassino! Pois acreditava que tínhamos matado o rapaz, seu amante. Hoje, com
certeza, ela deve contar que foi estuprada. Então, a estratégia era sempre
alegar tortura nos ‘porões’ ” (General-de-Divisão Raymundo Maximiano Negrão
Torres, Tomo 8, pg. 101-102).
Obs.
O livro “Brasil:
Nunca Mais”, lançado pela Arquidiocese de São Paulo em 1985, tem como fonte
principal processos surrupiados do Superior Tribunal Militar (STM), onde consta
o depoimento de réus que dizem ter sido torturados e onde há uma bem-informada
relação de grupos terroristas que aterrorizaram o Brasil nas décadas de 1960 e
1970, assim como as várias dissidências que ocorreram no período. Mas não é
citado um único crime dos terroristas e investigados que foram processados pelo STM, como
assassinatos, “justiçamentos” (assassinato de kamaradas), roubos a bancos, a
casas d’armas, a quartéis, a supermercados e a pedreiras (para obter
explosivos), como se os militares tivessem covardemente matado e torturado
inocentes anjinhos sem crime nenhum nas costas, pelo simples prazer em matar e
torturar.
É um panfleto
escandaloso, desenvolvido sob a ótica comunista, de modo a ferir mortalmente as
Forças de Segurança do período pós-1964. É a aplicação radical da logomaquia,
que criou palavras e expressões como “burguês”, “elites”, “democracia”,
“inimigo do povo”, “tortura” e mais recentemente, “antifascista” (Antifa), “me
too”, “black lives matter”, “manifestações antidemocráticas”, com o intuito de
promover a divisão da sociedade, e ridicularizar e destruir os adversários
políticos.
O panfleto de Arns
afirma, p. ex., que havia 2.181 grupos das Ligas Camponesas, espalhadas no
Brasil por 20 Estados. No entanto, não informa quantos canaviais foram
queimados pelos terroristas, nem quantas usinas de cana-de-açúcar foram
destruídas, nem quantos fazendeiros e posseiros foram mortos.
Como resposta ao
panfleto do “caríssimo amigo de Fidel Castro” - Cardeal Dom Paulo Evaristo
Arns, em 1986 o então 2º. Sargento do Exército, Marco Pollo Giordani, lançou
“Brasil, Sempre!”, disponível em http://www.docvirt.com/docreader.net/DocReader.aspx?bib=bibliotbnm&pagfis=752.
“A
Logomaquia - ‘batalha com tiros de palavras’ - começa nas invectivas.
Espontaneamente o homem procura exprimir a sua raiva por vocábulos que tendem a
diminuir, ridicularizar e tornar ainda mais odioso o inimigo. Note-se que o
insulto é pior se é dirigido a uma coletividade, raça ou família, em vez de a
um indivíduo. (...) Certas expressões logomáquicas foram construídas com muita
felicidade. ‘Inimigo do povo’, por exemplo, durante a Revolução Francesa.
Tratar alguém como ‘inimigo do povo’ era apelar à solidariedade de todo o povo
contra um único homem, era assim transformar este homem no bode expiratório que
todos os outros estavam dispostos a aniquilar. ‘Burguês’ também não está mal,
porque já era uma palavra desprezível no vocabulário aristocrático, e,
consequentemente, ninguém queria ser ‘burguês’, visto de cima ou de baixo.
(...) Jean Ferré gosta de sublinhar o golpe de magia logomáquico realizado com
as palavras ‘aristocrata’ e ‘democrata’, que seriam antônimos rigorosamente
simétricos, um significando ‘partidário do governo das elites’ e o outro
‘partidário do governo do povo’. Quando ‘aristocrata’ passou a significar
‘nobre’, ‘democrata’ ficou sem antônimo, o que é prático para os democratas,
mas desastroso para um pensamento político privado da indispensável dialética
dos contrários. Para opor a democracia só se encontrou o conceito de ditadura,
o que é tão mais lamentável e desconcertante quanto as ditaduras, de César a
Hitler, são quase sempre de origem e mesmo de vocação democrática, isto é,
popular. Portanto uma confusão talvez não tão inocente” (VOLKOFF, 125-6).
F. Maier
Excessiva
estatização
“Nas Forças Armadas sempre
preponderou um espírito nacionalista, no bom sentido da palavra, de grande
apego e amor aos valores nacionais e com o intuito de defendê-lo contra os
valores extrínsecos à Pátria. Mas, infelizmente, parte dos militares
nacionalistas foi influenciada pelas ideias totalitárias do dirigismo econômico
e se tornaram favoráveis a regimes estatizantes. Para esses também mandamos os
livros. Reconhecíamos neles pessoas mal-informadas e não mal-intencionadas como
eram os jornalistas, escritores e políticos da esquerda. Distribuímos com todo
cuidado esses livros favoráveis à livre iniciativa, para um melhor
esclarecimento.
O General Ernesto Geisel foi
o expoente desse tipo de pensamento nacionalista militar, no Brasil. Para se
ter uma ideia, quando seu Governo terminou, mais de 50% da economia brasileira
estava nas mãos do Estado. Lembro-me de um professor de inglês, que esteve aqui
no Brasil, dizer: ‘O estado atual da economia do Brasil é o sonho dos partidos
socialistas da Europa daqui a trinta anos.’ Esse era o tempo necessário que
eles imaginavam para poderem estatizar a economia e chegar à situação do
Governo do General Geisel, que lveou quatro anos para fazê-lo” (Doutor Adolpho
Lindenberg, Tomo 7, pg. 301).
Desengajamento:
hora de “desmontar do tigre”
“Já se dava uma
desmobilização grande, quando aconteceu a primeira ocorrência, em julho de
1966, o atentado no aeroporto de Guararapes, em Recife, tentando vitimar o
candidato Costa e Silva. Morreram um almirante e um jornalista, além da
existência de vários feridos graves, entre eles, o Coronel Sylvio, mais tarde
General, que ficou com o corpo cheio de estilhaços.
Por que eles nunca se
preocuparam com a atentado de Guararapes como fazem em relação ao Riocentro?
Isso não demonstra ‘revanchismo’ [entrevistador]?
Pois sabe o porquê? Não
houve punição. O inquérito conduzido pela Aeronáutica – o atentado ocorreu
dentro do aeroporto – foi muito malfeito. Apesar disso, na prática, soube-se
quem foi o responsável. O terrorista errou ao confiar demais no operário
bombeiro que fez o dispositivo: um cano de duas polegadas, para encher de
explosivo. Visitou-o três vezes. Quando aconteceu a explosão, e os jornais
começaram a noticiar, o bombeiro apresentou-se na Aeronáutica para confessar o
que sabia, e apontou o engenheiro Ricardo Zaratinni.
Hoje, o pessoal de esquerda
tenta inocentar o Zaratinni, mas foi ele” (General-de-Brigada Hélio Ibiapina
Lima, Tomo 2, pg. 182).
“As manchetes dos jornais de
15 de dezembro de 1970 reproduziam frases do discurso do Chefe do Estado-Maior
do Exército, General Alfredo Souto Malan, preconizando o que chamou de ‘o
desengajamento controlado das Forças Armadas de outras atividades que não
fossem as de soldado, e o advento de um Brasil democrático, forte e livre’.
Estávamos no segundo ano do Governo Médici, nos, agora, cognominados, por
importação do francês, ‘anos de chumbo’.
(...)
A idéia do ‘desengajamento
controlado foi mais tarde reproduzida por Golbery, com o nome de ‘distensão,
lenta e segura’. É a mesma coisa. Tratava-se de desmontar do tigre, sem ser por
ele devorado.
Ullysses Guimarães, em 1964,
fora co-autor de um projeto de Ato Institucional que previa cassações por 15,
em lugar de 10 anos. Em 1970, na oposição, líder do MDB, exasperava-se:
‘Enquanto houver cachaça, samba, carnaval, mulata e campeonato de futebol, não
haverá rebelião no Brasil. O Corinthians segura mais o povo do que a Lei de
Segurança Nacional’. Existe mesmo um desabafo do ex-Capitão Lamarca, terrorista
em fuga para a Bahia: ‘Há três anos o Brasil está crescendo a 10%, ao ano, e a
esquerda foi a última a saber’. Tudo isso está registrado em livro do
brasilianista Thomas Skidmore [BRASIL – De Castello a Tancredo, Editora Paz e
Terra, 1988 – Traduzido do original em inglês The Politics of Military Rule in
Brazil – 1964-1985].
Quanto ao cidadão comum,
perguntava ele: ‘Se está dando certo, para que mudar?’; e não se aceitava a
resposta de ser quando tudo está dando certo é que é a hora de mudar. Quando a
situação está ruim, não se pode. Naquele momento, era hora de ‘desmontar do
tigre’. Se deixar o tigre com fome, ele nos devora. Aliás, a demora em
desmontar vai-nos fazer perder bons nacos de carne abocanhados pelas
jaguatiricas revanchistas.
(...)
Médici, em depoimento
prestado a um jornalista, pouco antes de falecer, disse que não teria sido
viável ser sucedido por um civil, porque ainda havia a subversão. Realmente, a
guerrilha de Xambioá não havia sido debelada. Embora em História seja difícil
falar-se em hipóteses, é possível que a luta contra as esquerdas armadas
pudesse ter sido ultimada sob um presidente civil, com forças policiais,
desonerando o Exército desse ônus. Afinal, a subversão nunca conseguiu o apoio
da população, que via, na ordem, a garantia do bom estado da economia.
O Presidente tinha um
prestígio imenso. Sua figura inspirava respeito, parecia um grande patriarca.
Que presidente arrisca-se a ir ao Estádio do Maracanã? Nenhum, só o Médici.
Pediram-lhe um palpite sobre o resultado do jogo contra a Itália, pela decisão
da Copa do Mundo de futebol de 1970, e ele acertou a vitória do Brasil por 4 a
1. Tinha o dom que Napoleão dizia ser indispensável aos generais: sorte.
É preciso restaurar essas
verdades, contrapondo-as ao constante fustigamento à memória do Presidente
Médici. Quanto ao desengajamento, perdeu-se a oportunidade, e nada mais há que
fazer, senão melancolicamente, registrar essa perda” (Coronel Luís de Alencar
Araripe, Tomo 2, pg. 236-237).
“O Presidente Médici durante
todo o seu mandato foi amado pelo povo, o que até adversários da Revolução
reconhecem. Só não foi amado pelos terroristas, guerrilheiros e elementos que
os apoiavam – uma minoria sem nenhuma expressão no contexto nacional. Pelo povo
trabalhador, diligente, que dá duro e ganha pouco na luta pela sobrevivência, o
Presidente Médici era muito querido.
No entanto, depois de tantos
e tão expressivos acertos, não posso deixar de consignar o seu grande e único
erro: deveria ter passado o Governo para um civil, entregaria o Governo com a
casa arruada, com o PIB crescendo a mais de 10% ao ano, com a inflação de 15%
ao ano, inflação que viera dos 400% ao ano, no tempo do incompetente Jango Goulart;
passaria a um civil, um País que se transformou totalmente naqueles dez anos –
1964 a 1974.
Ernesto Geisel recebeu a
casa arrumada, mas, como dizia o meu amigo Ministro Frota, sendo ele um
socialista disfarçado, criou 254 empresas estatais. Além disso, fez-se
acompanhar daquele que fora o ‘anjo mau’ do Castello Branco – Golbery do Couto
e Silva. O retorno do Golbery ao Governo, aquele homem que conheci coronel no
QG da ID 4 – Infantaria Divisionária da 4ª. DI -, ‘exilado’ do Rio de Janeiro e
aceito pelo meu pai em Belo Horizonte. A sua ‘expulsão’ do Rio de Janeiro teve
como causa o episódio do discurso do Coronel Bizarria Mamede, discurso que teve
uma repercussão enorme, no enterro do General Canrobert Pereira da Costa,
Presidente do Clube Militar” (Coronel Henrique Carlos Guedes, Tomo 3, pg. 267).
“Em vez de realizar um
trabalho de peso para que a democracia fosse reforçada nas universidades,
fortalecendo a cátedra democrática, procurando penetrar nos diretórios
estudantis – todos comandados por comunistas -, dificultando, de forma
inteligente, a ação livre do MCI no ensino superior, o ‘intelectual’ fez ao
contrário, tornou a universidade uma ‘área liberada’ de todas as correntes
comunistas – marxistas, trotskistas, maoístas. Médicos, engenheiros,
professores, advogados, jornalistas etc. nas universidades do Governo, foram
formados por professores quase todos marxistas. E, ainda, inventaram a
profissão de sociólogo. O que faz um sociólogo? Tudo é um artifício para
difundir o marxismo, abertamente, e com o aval de serem diplomados” (Coronel
Henrique Carlos Guedes, Tomo 3, pg. 269-270).
“Alguns elementos,
principalmente da mídia, procuram caracterizá-lo [Presidente Médici] como um
ditador impiedoso, carrasco, torturador. Muito ao contrário, era um homem
afável, de boníssimo coração e que prestou inestimável serviço ao País. Sua
popularidade era tão grande que um fato ocorrido com ele jamais aconteceu com
outra autoridade no Brasil. Ao assistir a um jogo de futebol entre o Vasco e o
Flamengo, no Rio de Janeiro, por dificuldades de trânsito, chegou uns dez
minutos depois de iniciado o jogo. Quando entrou no estádio, na Tribuna de
Honra, ao anunciarem o seu nome, todo o estádio se levantou e, de pé, o
aplaudiu entusiasticamente” (General-de-Brigada Luciano Salgado Campos, Tomo 4,
pg. 76).
“Devíamos ter entregue [o
Poder] em 1974. Deram-se mais cinco anos e depois mais seis. Estou convencido
de que a conjuntura internacional, então, já era completamente diferente e,
digamos assim, o regime militar, o regime autoritário, caiu de moda. Caiu de
moda na verdade. Foi um instrumento importante, mas produziu um cansaço. Não
tinha mais condição daquilo funcionar, principalmente depois da crise mundial
de 1982. Essa crise, digo e repito, já disse aqui, foi de tal profundidade que
se permitiu dizer o seguinte: os ‘marqueteiros’, os manipuladores de opinião,
conseguiram convencer o Brasil de que a crise era brasileira, de que a crise
era do Governo brasileiro. Quer dizer, quem levou o mundo ao default foi o Brasil, falso
absolutamente. O Brasil foi arrastado no default,
mas a crise era mundial. Eu digo, os Estados Unidos tiveram uma recessão
poderosíssima porque, veja, a taxa de juros americana era de 21%. Se falar isso
para alguém hoje...
As pessoas pensam que foi o
Gorbatchov que acabou com a União Soviética. Nada. Quem acabou com ela foi a
recessão de 1982. Em 1982 ficou claro: quebrou a Polônia, quebrou a Romênia,
quebrou a Bulgária, quebrou a União Soviética. Quer dizer, depois daquilo, a
URSS era uma máquina faltando engrenagem. O Gorbatchov só veio para completar.
Quem acabou com o mundo chamado comunista foi a recessão capitalista de 1982,
que desintegrou tudo aquilo. Uma das coisas mais fantásticas é você ver a
esquerda – claro que há exceções – na média, é de uma ignorância monumental. O
susto com a esquerda não é o seu programa, é a ignorância com que eles pensam
que vão implementar o programa. Então o que acontecia? As pessoas criticavam o
Brasil: ‘vocês viram? Estão se endividando’.
O caso brasileiro era uma
coisa... Em 1974, o Brasil tinha 12 bilhões de dólares de dívida, tinha reserva
de 6 bilhões e exportava 6 bilhões, ou seja, a dívida era um ano de exportação.
Hoje, a dívida é quatro anos de exportação, cinco anos – já foi até mais. Mas,
os países da União Soviética, que usavam a Rússia como paradigma, estavam se
endividando ainda mais e eles não tinham conhecimento disso. É uma coisa
deliciosa ler, hoje, os documentos que escreveram naqueles anos, porque mostra
que eles não tinham o menor conhecimento do que estava se passando e, na
verdade, foram adquirindo esse conhecimento ao longo desses anos” (Deputado
Federal Antônio Delfim Neto, Tomo 5, pg. 163).
“O desengajamento foi lento
e gradual, conforme queriam os teóricos Jda Revolução. Pena que as
transformações necessárias no campo político não chegaram a realizar-se. As
cassações foram casuísticas e os políticos que apoiavam a Revolução, na sua maioria,
eram fisiológicos e aproveitadores das vantagens de estarem próximos do Poder.
Infelizmente, os governos que se seguiram ao ciclo revolucionário
caracterizaram-se pela incompetência, despreparo e corrupção. Isto era mais ou
menos previsível, mas não se esperava esta desqualificação nos níveis
apresentados. Não concordo com alguns chefes militares entrevistados na
pesquisa realizada pela Fundação Getúlio Vargas, que consideram que a Revolução
deveria ter acabado antes. Nem aceito o continuísmo daqueles radicais que
pretendiam o regime autoritário para sempre” (General-de-Divisão João Carlos
Rotta, Tomo 8, pg. 152).
“Progressivamente, houve o
fechamento do Poder, promovido por aqueles grupos quem não interessava qualquer
mudança que comprometesse seus privilégios.
Reagiram contra a abertura
aqueles que desfrutavam de vantagens, facilitadas pela grande latitude
atribuída ao exercício do Poder, às vezes sem freios, contenções e limites.
Para defender seus interesses se fecharam em torno do Presidente Médici, sem
admitir abertura. Para se ter uma ideia, durante o Governo Figueiredo, já sem a
égide do AI-5, eu, um simples General, conversando com um Secretário de Estado
da Bahia, na Ilha de Itaparica, ouvi da parte dele:
- Vocês não podem abrir, não
podem entregar o Poder. Vocês têm é que fechar, senão perderemos tudo o que foi
conquistado.
Quanto mais se fecha, mais
difícil fica para se promover uma abertura no sentido da institucionalização
democrática. O Presidente Médici não teve a felicidade de fazer o que ele
poderia ter feito e, lamentavelmente, é estigmatizado – há uma distorção da sua
imagem – só porque teve sucesso no combate ao terrorismo” (General-de-Brigada
Egêo Corrêa de Oliveira Freitas, Tomo 8, pg. 227).
O
Alto Comando do Exército queria o afastamento do Presidente Geisel. Mas, foi
afastado o Ministro do Exército, Sylvio Frota.
“Ainda em 1975, ocorreu um
fato de maior gravidade: o discurso ofensivo ao Exército feito pelo Senador
Francisco Leite Chaves, por ocasião da morte do jornalista Vladimir Herzog. Ele
gerou grande crise entre o Alto Comando do Exército e a Presidência da
República. Três ou quatro meses depois, já em 1976, novo desencontro, com as
proporções de uma crise ainda maior, ocorreu com a exoneração do Comandante do
II Exército, General Ednardo D’Ávila Mello. Em ambas as ocasiões, o Ministro
teve uma atitude firme de lealdade ao Presidente, já que o pensamento da
maioria do Alto Comando do Exército, onde predominava a corrente
revolucionária, era de que o Presidente Ernesto Geisel fosse afastado. Mau pai,
como Ministro, não concordou com isto, embora divergisse da posição do
Presidente.
No ano de 1977, surgiu o
episódio do ‘Pacote de Abril’, quando Geisel iludiu seu ministério, inclusive
seu Ministro do Exército. Houve, também, a tentativa de mudança das Diretrizes
de Segurança Interna, procurando-se, dessa forma, neutralizar o sistema de
repressão. Meu pai, novamente, conseguiu que seu pensamento prevalecesse, mas
às custas de outro atrito. Houve também vários problemas relacionados com as
promoções de oficiais-generais, em que era visível a tentativa do Presidente
Geisel de afastar os homens simpáticos à linha revolucionária.
(...)
Esses eventos, ao chegar o
ano de 1977, foram evidenciando o choque entre a corrente revolucionária,
defendida por meu pai e outros companheiros, e a dos homens do Palácio do
Planalto. Alguns desses eventos geraram atritos pessoais e, a partir do
problema da Ordem-do-Dia de 25 de agosto de 1977, meu pai estava convencido de
que a permanência dele no Governo não seria longa. Ele continuava pensando que
o Alto Comando do Exército, assim como os das demais Forças, deveria sempre dar
a palavra final sobre os rumos da Revolução e não que estes fossem determinados
pela vontade de um único homem, que, naquele momento, não estava integrado ao
pensamento revolucionário.
Em
que data o Ministro Sylvio Frota foi demitido? [entrevistador]
Foi demitido em 12 de
outubro de 1977.
(...)
Aliás, a respeito da saída
do Generall Golbery existe um fato interessante. Meu pai, nos idos de 1981,
recebeu em sua residência a visita de um industrial, amigo comum dele e do
Ministro de Estado Armando Falcão, que frequentava constantemente a casa do
ex-Presidente Ernesto Geisel. Esse senhor narrou o que o Ministro Falcão lhe
dissera ter ouvido, quando o ex-Presidente comentou a saída do Ministro Golbery
do Governo, com a seguinte frase: ‘O Frota tinha razão, o Figueiredo não vale
nada!’ Creio que o Presidente Geisel percebeu tarde o erro que havia cometido” (Contra-Almirante
Luiz Pragana da Frota, Tomo 14, pg. 178-182).
Governo
Figueiredo, um desastre no processo sucessório
“Figueiredo foi escolhido
para dar prosseguimento à ‘abertura’. Aparentemente, não foi bem-sucedido. Seu
governo foi marcado pela exacerbação da opinião pública, pela campanha das
‘diretas já’, pela ação de terroristas de direita, pelo descontrole da dívida
externa e pela sua inapetência por governar. Destacou-se, sobretudo, pela
incompetência para conduzir o processo sucessório. Figueiredo, direto e franco
na aparência, não conseguia passar essa imagem para o seu governo. Abatido pela
crise de saúde, mostrava-se oblíquo e dissimulado, não encarava de frente os
reais problemas. Dizia-se que ele perdera a vontade de governar” (Coronel José
Firmino Dias Lopes, Tomo 12, pg. 202).
“O General Figueiredo e seu
grupo mais importante de assessores desejavam o Poder, não só pela satisfação
de vaidades pessoais, mas também para desfrutar de suas benesses. O Governo
Figueiredo foi um completo fracasso, marcado pela corrupção, repleto de
escândalos, inflação alta, dívida externa crescente e avanço da subversão
marxista em todo o País. Seu mandato eu os argumentos aos comunistas para
denegrir a Revolução, tal o seu descalabro, embora o seu Governo nada mais
tivesse a ver com o Movimento. Era apenas um grupo de aproveitadores e
interesseiros que se utilizaram do sistema revolucionário para chegarem ao
Poder e desfrutá-lo” (Contra-Almirante Luiz Pragana da Frota, Tomo 14, pgl
181-182).
Médici,
um exemplo de cidadão e de militar
“Sempre cito um fato, para
comparar o que hoje existe por aí: certa vez, necessitávamos de aumentar o
preço da carne, que estava congelado. (...) Pois bem, havíamos congelado o
preço da carne, devido a uma dificuldade de suprimento, ‘bateu no teto’ e
tivemos que pedir para mexer no preço da carne. O Presidente ficou um pouco
triste, mas disse: ‘vou decidir isso daqui a uns dias, não quero tomar decisão
agora’. Dois dias depois me telefonou o Dr. Leitão e falou: ‘o Presidente
autorizou você a liberar o preço da carne’. Aí, fiquei curioso para saber o que
tinha havido e o Leitão me disse que ele mandara vender os bois que tinha para
não se aproveitar do aumento do preço da carne. Isso devia servir de exemplo”
(Deputado Federal Antônio Delfim Neto, Tomo 5, pg. 158-159).
“Realmente, a crítica mordaz
e injusta dos contrários está sempre presente. Mas eu pergunto: ‘Por que um
presidente que assumiu contra a sua própria vontade, que reduziu em quase dois
anos seu mandato e que não admitia que se falasse em continuísmo, ia precisar
de uma máquina para exaltar sua pessoa? Será que um presidente com essas
características precisaria de um Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP) de
Getúlio Vargas para segurá-lo no poder por 15 anos?’ ” (Engenheiro Roberto
Nogueira Médici, Tomo 14, pg. 193).
“Em
tempos de guerra, não existe imprensa livre”
“No governo de meu pai
[Presidente Médici], havia uma guerra a ser vencida e, em tempos de guerra, não
existe imprensa livre. Não existe nação, por mais democrática que seja, que não
imponha censura à imprensa em tempo de guerra.
A relativa liberdade que os
americanos deram à mídia, durante a guerra do Vietnam, foi, em grande parte,
responsável pela derrota que amargaram. Já na Guerra do Golfo, nada, nenhuma
notícia, fugia do controle militar” (Engenheiro Roberto Nogueira Médici, Tomo
14, pg. 196).
Médici
converteu, pelo menos, um comunista...
“No Governo Emílio
Garrastazu Médici, a presença do Presidente na televisão era como um calmante:
de fala pausada, sincero, honesto, correto. Quero contar um fato, breve. Na
época, como diretor do Departamento de Obras da Universidade Federal do Ceará,
eu estava com um projeto de expansão do campus universitário e viajava sempre a
Brasília. Numa das viagens, a meu lado, no avião, um jovem de aproximadamente
20 anos foi logo puxando conversa, dizendo que era estudante, líder estudantil,
comunista convicto. Mas, ao ver e ouvir o Presidente Médici na televisão,
acreditou nele e mudou radicalmente de convicção política” (Major Geraldo
Nogueira Diógenes, tomo 12, pg. 231).
“O Presidente Médici
tornou-se simpático, também, ao povo, pelo hábito de assistir aos jogos ouvindo
o radinho de pilha. Porém, a guerrilha e a perturbação da ordem levaram-no a
agir com máo-de-ferro, razão por que o pessoal da esquerda chama o seu período
de governo dos ‘anos de chumbo’. Para mim, ‘anos de ouro’, anos do milagre
brasileiro. E se os terroristas sofreram, foram perseguidos, os cidadãos
comuns, todos aqueles que trabalhavam pela grandeza, pelo crescimento do País,
experimentaram um período de prosperidade” (Tenente-Coronel Affonso Taboza
Pereira, Tomo 12, pg. 222).
“Certa vez, quando
acompanhei o Presidente Médici e o General Sardenberg ao Maracanã, em dia de
jogo, pude ver oitenta mil pessoas, de pé, o estádio inteiro, aplaudindo o
Presidente. Hoje, onde se poderia ver algo parecido? Atualmente, se o Presidente da República for
anunciado no Maracanã, certamente será vaiado. É uma prova, quer
queiram quer não, da popularidade do Presidente Médici” (General-de-Brigada
Flávio Oscar Maurer, Tomo 8, pg. 312).
Obs.
Palavras
proféticas: em 2007, o Presidente Lula da Silva foi vaiado durante a abertura
dos Jogos Pan-americanos, no Maracanã – cfr. em https://oglobo.globo.com/esportes/lula-vaiado-quatro-vezes-nao-faz-abertura-do-pan-4171774.
A
Presidente Dilma também foi vaiada, durante a abertura da Copa das
Confederações, no Mané Garrincha, em Brasília, em 2013 – cfr. https://oglobo.globo.com/brasil/dilma-vaiada-na-abertura-da-copa-das-confederacoes-8701173.
F.
Maier
NOVA
ORDEM MUNDIAL
“O Brasil é o único país,
dito democrático, no qual a imprensa é 100% esquerdista, e só fala a linguagem
ditada pelo partido único de todos os países comunistas.
Agora, a ameaça do outro lado
também existe, e não é coisa de agora. Os norte-americanos e seus aliados
ingleses nos vêem como verdadeira colônia, exportadora de bens primários, a
preço de banana, e importadores de tudo o mais.
(...)
Para demonstrar que esta
ameaça não é coisa de agora, volto à década de 1970. Naquela década – pouca
gente sabe disso – o Brasil encomendou, num estaleiro da Inglaterra, uma
plataforma de extração de petróleo em alto-mar. Pagou ‘uma nota’ para
exploração em águas profundas, onde está o grosso do nosso óleo. Vocês sabem em
que dia os ingleses puseram essa plataforma para navegar em direção ao Brasil?
No dia da maior tempestade no Mar do Norte. Aí, a plataforma naufragou e a
Companhia de Seguros indenizou a Petrobras, mas o naufrágio atrasou a nossa
nova prospecção em mais de três anos, com prejuízos incalculáveis para o Brasil
e os brasileiros que dependem de mais óleo diesel, de mais gasolina, de gás
etc.
Um outro fato, ligado,
ainda, aos ingleses: Vamos falar da conferência do Almirante Aquino, responsável
pelo programa do submarino nuclear de nossa Marinha de Guerra, realizada no
auditório do Comando Militar do Sudeste, em São Paulo. Contou o almirante que
uma das turbinas do submarino construídas no Brasil deveria ser testada na
Inglaterra, por falta de condições de fazê-lo no País. A turbina, enviada para
a Inglaterra, ficou lá por mais de um ano e não voltava. Foram feitas todas as
gestões possíveis para tê-la de volta, mas tudo foi em vão, inclusive a
participação, para esse fim, do Ministério das Relações Exteriores. Após quase
dois anos sem que a peça retornasse, concluiu-se que ela deveria ser de muito
boa qualidade, motivo por que os ingleses resolveram retê-la. O referido fato
fez com que a Marinha decidisse investir no processo e no material para testar
a turbina semelhante. Após um ano de trabalho e dias antes daquela palestra, o
teste da turbina, agora realizado por brasileiros, mostrou a excelência do
equipamento, exatamente como se desconfiava, pela retenção, na Inglaterra, de
turbina semelhante” (Coronel Henrique Carlos Guedes, Tomo 3, pg. 277).
“A Amazônia vem-se
constituindo numa enorme preocupação. Acho que o Governo já deveria ter feito
um alerta internacional para enfatizar um basta nas intenções manifestas das
potências mundiais. Sobre essas intenções manifestas, separei algumas
declarações transcritas de um impresso distribuído pelo Clube Militar:
Margareth Thatcher, ex-Primeira-Ministra inglesa: ‘Se os países
subdesenvolvidos não conseguem pagar suas dívidas, que vendam suas riquezas, seus
territórios e suas fábricas’; Al Gore, candidato a Presidente dos EUA, pelo
Partido Democrata: ‘Ao contrário do que pensam os brasileiros, a Amazônia não é
deles, mas de todos nós.’ Parece que a diferença que há entre Al Gore e Bush, é
que Bush admite que a Amazônia seja dada como pagamento da dívida externa, e Al
Gore acha que a Amazônia deve ser internacionalizada. François Mitterrand,
ex-Presidente da Frnça: ‘O Brasil precisa aceitar uma soberania relativa sobre
a Amazônia’. Pode-se, como militar, aceitar essa expressão ‘soberania
relativa’? John Major, Primeiro-Ministro da Inglaterra: ‘As nações
desenvolvidas devem estender o domínio da lei ao que é comum a todo o mundo. As
campanhas ecológicas das ONGs internacionais, sobre a região da Amazônia, estão
deixando a fase propagandista para dar início à fase operacional, que pode,
definitivamente, ensejar intervenções militares diretas sobre a região”
(Coronel Luciano Moreira de Souza, Tomo 4, pg. 129-130).
O
comunismo não desapareceu
“O comunismo não desapareceu,
nem com o fim da bipolaridade ideológica, nem com a queda do Muro de Berlim.
Apenas vestiu novas roupagens, em particular nos países do chamado Terceiro
Mundo, o Brasil entre eles. Prova disso são as novas siglas que defendem as
mesmas ideias e pululam na América Latina, inclusive no Brasil. Aí estão o MST
(Movimento dos Sem-Terra) e FSP (Foro de São Paulo) para confirmá-lo, além de
uma série de partidos comunistas, com diferentes siglas” (Coronel Ney Salles,
Tomo 14, pg. 251).
Forças
Armadas em Forças Policiais?
“Esquecem que o Exército é
parte integrante da Nação. Penso que a permanente interferência do segmento
militar no processo político ao longo da história do Brasil, diferentemente dos
Estados Unidos, exacerba os ódios e a incompreensões quanto ao papel das Forças
Armadas. No meu último ano na ativa, participei de uma conferência em
Washington, e foi estarrecedor ouvir uma pregação sobre a inutilidade do
Exército, com uma proposta de modificação das Forças Armadas tornando-as Forças
Policiais. Ora, as instituições militares brasileiras são a coluna vertebral
desse País e a sua história se confunde intensamente com a história do Brasil”
(General-de-Brigada Carlos Augusto Fernandes dos Santos, Tomo 8, pg. 286).
“A chamada guerra fria
decorreu do fato de os EUA e a URSS, potências emergentes da Segunda Guerra
Mundial, aliadas no conflito, mas ideologicamente separadas e já com claras
divergências no final da guerra, terem começado uma verdadeira corrida
armamentista e espacial, baseada em tecnologias cada vez mais avançadas. Isso
forçou a realização de alianças envolvendo, de um lado, os EUA e a Europa
Ocidental, e do outro, a URSS e o Leste da Europa.
Foram criadas a OTAN e o
Pacto de Varsóvia. Com o colapso da URSS e com ele o desaparecimento do MCI,
acabou o conflito Leste-Oeste, de conotação fundamentalmente econômica, onde a
potência hegemônica que restou (EUA) busca impor sua vontade e suas políticas,
onde se inclui o chamado ‘liberalismo’ ” (General-de-Exército Carlos Tinoco Ribeiro
Gomes, Tomo 10, pg. 45).
Obs.
Após
o colapso da URSS, os analistas de Inteligência do Brasil passaram a ver os EUA
como o novo inimigo, principalmente por ter bases militares em países da
América do Sul, formando um “arco de ameaça” em torno do nosso País. A
preocupação brasileira aumentou quando os EUA fizeram a Guerra do Golfo, depois
da invasão iraquiana no Kuwait, demonstrando que os americanos haviam se
tornado a “polícia do mundo”. A mesma preocupação ocorreu quando houve a
invasão do Afeganistão e a destruição completa do Iraque após o ataque às
Torres Gêmeas, em Nova York, em 2001.
Acrescente-se
a essa preocupação dos militares o fato de os governos democratas dos EUA, além
da ONU - tomada por militantes ambientalistas - fazerem pressão sobre o Brasil
no que tange à preservação da Amazônia, como se fosse um patrimônio de toda a
humanidade. Há um documento americano que prevê a invasão de países que tenham
problemas sérios com meio ambiente, tráfico de drogas, assassinato de indígenas,
entre outros motivos. Uma senha para assaltar a Amazônia, via ONU - vale dizer,
os EUA.
Leia,
de minha autoria, “Doutrina Lake: o Big Sick Atualizado”, em http://felixmaier1950.blogspot.com/2020/10/doutrina-lake-o-big-stick-atualizado.html.
F.
Maier
Desapareceu
o comunismo? Não no Brasil.
“Todos pensávamos que, com a
queda do Muro de Berlim e o desaparecimento da União Soviética, o comunismo
estaria fadado a desaparecer. Ledo engano: está mais forte que antes desses
episódios. Aqui, no Brasil, os comunistas estão por toda parte. Estão no
governo, dentro de grande parte dos partidos políticos. Na Igreja há um teólogo
que faz apologia do PT e de Fidel Castro, um tal frei Beto que foi comparsa do
Marighella e agora é colunista de O Globo, assim como o tal frei Leonardo Boff,
da Teologia da Libertação, transformado pela esquerda em jornalista, com coluna
no Jornal do Brasil”(Brigadeiro-do-Ar
Carlos Affonso Dellamora, Tomo 10, pg. 125).
A
globalização começou com Vasco da Gama, com Marco Polo, com Colombo, com
Cabral. No entanto, a ignorância é cada vez maior.
“Agora, no presente,
juntam-se os terroristas de ontem com os neoliberais de hoje, para implantarem,
no Brasil, uma globalização de interesse puramente externo, com a alienação
completa do nosso povo. O que fazer? Todos nós sabemos que a globalização foi
uma imposição das grandes potências aos países mais fracos, em desenvolvimento.
Os governos atuais desses países aceitaram-na, embora jamais tivessem a
simpatia do povo, que nem foi consultado” (Coronel Francisco Sobreira de
Alencar, Tomo 12, pg. 191).
Obs.:
Pelo
visto acima, falta um bom professor de Economia na AMAN.
F.
Maier
AMAZÔNIA
E ECOLOGIA
“Entre os inúmeros problemas
que temos de enfrentar nos dias de joje, e que muito me preocupam, tomemos o
exemplo da Amazônia. Já existem crianças dizendo que não se pode mexer na
floresta, exclusividade dos animais irracionais. Paradoxalmente, a Organização
das Nações Unidas (ONU) declarou o território ianomâmi protetorado, ‘patrimônio
da humanidade’. E a nossa soberania? Ora, lembremo-nos de que, durante o
Segundo Reinado, o Exército Imperial brasileiro chegou a trocar tiros com
ingleses na Amazônia. E não só ingleses, mas também alemães, franceses,
espanhóis.
Precisamos, sim, fortalecer
as Forças Armadas naquela região, dar todas as condições para que ocupem os
espaços vazios e retomem o Projeto Calha Norte. E, ao mesmo tempo, precisamos
trazer os índios à civilização, como Anchieta, Nóbrega e tantos outros fizeram
no passado. Não manter os nossos índios no tempo da pedra lascada, vivendo na
barbárie. Promover o desenvolvimento sustentado da Amazônia e a sua integração
com todo o Brasil. Matizar bem o problema da ecologia, proibindo nivelar o homem
aos animais. Isso, sim, precisa ser encarado e enfrentado” (Advogado
Juvenal Antonio Araújo de Arruda Furtado, Tomo 12, pg. 240-241).
Obs.
Sobre
“trazer os índios para a civilização”, escrevi “Bantustões Brasileiros” - https://felixmaier1950.blogspot.com/2020/06/bantustoes-brasileiros.html.
F.
Maier
BRASÍLIA
VIROU, DE FATO, A CAPITAL DO BRASIL GRAÇAS AOS MILITARES
Em 1964, Brasília já era a
capital do Brasil (desde 1960), porém muitos ministérios permaneciam no Rio de
Janeiro, incluindo o próprio staff do
Governo Goulart.
“Embora
houvesse um escalão avançado, o próprio Jânio Quadros, quando renunciou,
segundo dizem, se sentia muito isolado lá em Brasília. Pressentiu que, de
Brasília, não governava coisa alguma. Brasília era completamente isolada. Quem
levou o Governo para Brasília foi Castello Branco. Assim, em 1964, o principal
objetivo estratégico, ainda, era a Cidade do Rio de Janeiro” (Tenente-Coronel
Moacir Véras, Tomo II, comentando por que a força revolucionária principal
partiu de Minas para o Rio, e não Brasília – assim como São Paulo, que também
se deslocou para o Rio).
“Não
podia ir a Brasília, onde se dizia serem Varig e Vasp os nomes dos bons médicos
da cidade” (Coronel Luís de Alencar Araripe, Tomo 2, pg. 233).
“Uma coisa que a gente não
vê escrito hoje nem se ouve falar é que a consolidação de Brasília foi feita
pela Revolução. Brasília era uma cidade que, em 1964, tinha apenas quatro anos,
estava beirando os seus quatro anos quando aconteceu a Revolução de 31 de Março
e todos esperavam que Brasília acabasse e que a capital voltasse ao Rio de
Janeiro. Aconteceu o inverso – quem realmente consolidou Brasília foi Castello
Branco que, além de ir para lá, fez a mudança de todos os ministérios,
militares e civis, para Brasília, consolidando Brasília como Capital Federal,
consolidação esta que trouxe como grande consequência a incorporação de todo o
Centro-Oeste ao ecúmeno brasileiro.
Hoje, ninguém pode imaginar
que Mato Grosso, Goiás, Tocantins etc. estejam à parte da área mais
desenvolvida brasileira, incorporação que se deu a partir da criação de
Brasília – mérito que ninguém pode tirar de JK, mas que esteve muito perto de
ser perdido e de se tornar uma capitalzinha de província, uma cidadezinha de
interior, se não tivesse havido a ação firme e decidida dos presidentes
militares em mudar toda a cúpula administrativa para Brasília, porque esta
cúpula administrativa não estava lá” (General-de-Exército Luiz Gonzaga
Schroeder Lessa, Tomo 10, pg. 66).
“Logo no começo do Governo,
o Presidente Jânio Quadros apresentou um sistema de administração e de condução
da política do País que não correspondia à esperança que nele se depositara. Em
vez de mergulhar no âmago dos problemas que afligiam a Nação, ocupou-se de
assuntos insignificantes ante a importância do cargo: a proibição do
lança-perfume, do biquíni e das brigas de galo. Decepcionou a todos os que nele
votaram ao condecorar o guerrilheiro Che Guevara com a Ordem do Cruzeiro do
Sul” (Tenente-Coronel Affonso Taboza Pereira, Tomo 12, pg.217).
“Durante a campanha
política, [Jânio Quadros] aparecia empunhando uma vassoura, simbolizando o
combate à corrupção e à fraude. Ao assumir, não se viu nada disso e sim
probleminhas tolos, corriqueiros: proibiu a rinha de galos, o uso do biquíni
nas praias e lançou a moda do uso de uniforme cáqui para os funcionários
públicos. Ele mesmo usava esse traje. Logo no início do mandato, brigou com o
Congresso e não conseguiu praticamente nada. De repente, renunciou à Presidência
da República e comunicou a sua decisão ao Congresso Nacional. A seguir, viajou
para São Paulo, na esperança de voltar nos braços do povo, com maiores poderes.
Felizmente, isto não aconteceu” (Major Geraldo Nogueira Diógenes, Tomo 12, pg.
229).
Obs.
Sobre o assunto,
leia o texto do Coronel Manoel Soriano Neto, historiador militar, “O Exército e
a Mudança da Capital Federal” - http://felixmaier1950.blogspot.com/2020/07/o-exercito-e-mudanca-da-capital-federal.html
F. Maier
GEISEL
TERIA ACEITADO SER CANDIDATO A PRESIDENTE DA REPÚBLICA SE MÉDICI MANTIVESSE O
AI-5 EM VIGOR
“O nome Geisel só foi
confirmado depois de [Médici] certificar-se, pela palavra de seu Chefe da Casa
Militar, General João Figueiredo, do seu afastamento do General Golbery. Sempre
teve desprezo por esse oficial e dos artifícios que usava para estar sempre ao
lado do Poder. Desprezo que evoluiu para asco cívico depois que esse senhor,
após ter criado e dirigido, no Governo Castello Branco, o Serviço Nacional de
Informações, que lhe a oportunidade de conhecer o direito e o avesso de todos
os homens importantes desse País, ter tido o despudor de colocar essas
informações a serviço de uma multinacional. De ter tido a coragem de ser um
mandante remunerado, um abridor de portas da Dow Chemical. Mercadejando um
produto que não lhe pertencia, a dignidade de um oficial do Exército
Brasileiro.
Sabedor da influência que
Golbery exercia sobre Geisel, não queria correr o risco de vê-lo na futura
equipe de governo. Eliminada essa possibilidade, pois para meu pai, que
acreditava em honra militar, era inconcebível que um general Chefe da Casa
Militar pudesse mentir ao seu presidente, comunicou pessoalmente ao Geisel a
intenção de indicá-lo ao Congresso como candidato do Governo à presidência da
República que, sem impor nenhuma condicionante, de pronto aceitou. Comunicou
sua decisão aos chefes militares e a sua liderança política o pedido de que respaldassem.
Geisel a partir de então, até pelo prestígio de quem o indicava (meu pai
terminou o governo com 82% de aprovação), já era o futuro presidente do Brasil.
Quando, a pedido do meu pai, o Dr. Leitão de Abreu, seu Chefe na Casa Civil,
foi ao encontro de Geisel formalizar o convite e oferecer os préstimos do
governo, este, para surpresa e estupefação do enviado, declarou: ‘Só aceito com
o AI-5 em vigor.’ A meu pai só cabia curtir a traição. Já não tinha mais espaço
de manobra para articular outra candidatura.
Quando mais tarde Geisel
anunciou seu ministério e nele viu figurar Golbery e João Figueiredo, soube com
amargura que também tinha sido traído pelo seu Chefe da Casa Militar. Ficou,
então, sabendo que Geisel precisava do AI-5 para remunerar Figueiredo por
serviços prestados. Para impô-lo como seu sucessor. E como foi generoso e
agradecido. Deu-lhe um mandato de 6 anos. Mais uma vez a troika - Geisel,
Golbery e Figueiredo - que havia, por amor desmedido ao Pooder, contribuído
substancialmente para afastar o Governo Castello Branco dos objetivos da
Revolução de 1964, assumia novamente as rédeas do Movimdento e mais uma vez
postergava o retorno do País à democracia. Agora, para enxovalhá-lo e manchar o
prestígio das Forças Armadas que até hoje sofrem as consequências de um
desengajamento que poderia ter sido honrado e vitorioso, mas que foi uma
vergonhosa debandada.
Geisel, com o ‘Pacote de
Abril’, se proclamou em Assembleia Constituinte. Fechou o Congresso Nacional,
criou o ‘senador biônico’, cassou um senador e, para dar maioria no Congresso
ao partido que dava sustentação a seu governo, deu maior peso político aos
Estados do Nordeste e do Norte, subvertendo completamente a representação dos
Estados na composição da Câmara dos Deputados. A sociedade viu que estava à
frente de um presidente arrogante que, jogando fora o esforço de pacificação do
governo anterior, usava a força para humilhar e impor sua vontade. Por outro
lado, a determinação de fazer Figueiredo seu sucessor agitou o quartel. O nome
de Figueiredo não era bem recebido e a violência para impô-lo, como as
demissões do Chefe da Casa Militar, General Hugo de Abreu, e do Ministro do
Exército, General Sylvio Frota, quebrou a unidade da Corporação. Quando
Figueiredo assumiu, a Revolução de 1964 já era repudiada pela sociedade civil e
pleos militares idealistas que não se deixaram amolecer pelos anos de Poder.
Queriam, no mais breve espaço de tempo, desvincular as Forças Armadas de um
governo que estava sujando sua imagem. Só restava a Figueiredo a retirada. Sua
Lei de Anistia não foi um ato de clemência de um vencedor, mas um gesto
obrigatório e encabulado de quem sai pela porta dos fundos. Fou mais uma ata de
rendição. Por isso mesmo, até hoje, só protege os que se opuseram à Revolução”
(Engenheiro Roberto Nogueira Médici, Tomo 14, pg. 199-200).
Obs.
No
livro “Ernesto Geisel”, publicado pela Editora Fundação Getúlio Vargas, 5ª.
Edição, 1998, à pg. 233 Geisel desmente a versão de que teria imposto a
continuação do AI-5 para ser Presidente:
“Há tempos, depois de o
Médici já ter morrido e eu já estar fora da presidência da República, no
governo Sarney, o Jornal do Brasil revolveu ouvir algumas ex-primeiras-damas. E
aí apareceu a senhora do Médici, uma senhora muito distinta, muito retraída,
com a história de que o Médici, no fim do governo, queria acabar com o AI-5,
queria normalizar a situação, e que eu me opus, declarando ao Médici que, nesse
caso, eu não assumiria a presidência da República. Isto tudo é uma grande
inverdade. Houve uma tentativa no governo Médici, feita pelo Leitão de Abreu. O
sr. Huntington, cientista político americano, em visita ao Brasil, conversou
com o Leitão de Abreu sobre as possibilidades de normalização do país, sem que
obtivesse resultado prático. Depois, quando eu já era presidente, ele esteve
uma ou duas vezes com o Golbery também para tratar do mesmo problema. Também
não deu em nada. O que eu posso afirmar é que essa conversa em que o Médici
teria manifestado o desejo de acabar com o AI-5 e que eu me teria oposto não existiu”.
Verdade
ou não, Geisel utilizou o AI-5 com gosto, até 13 de outubro de 1978, quando foi
extinto, quase no final do seu governo, que se estendeu de 15 de março de 1974
a 15 de março de 1979.
F.
Maier
CASO
RIOCENTRO
“Fui ouvido num inquérito
este ano sobre o Riocentro. Quero dar o testemunho, que fique gravado isso
aqui, que foi a verdade. O [Caso] Riocentro ocorreu em 30 de abril, na véspera
do feriado de 1º. de maio. Toda noite de 30 de abril para 1º. de maio havia um
show no Riocentro em que a ideia era colher recursos para o Partido Comunista
Brasileiro, e a nossa gente gostava, desculpe o termo, de ‘sacanear’ o pessoal
do PCB.
Em 1980, eu já era o segundo
homem da estrutura do DOI. Dois anos antes, já não mais prendíamos, apenas
atuávamos colhendo informações, encaminhando-as. Naquela época, recebi uma proposta de algumas
pessoas para jogar uma bomba no Riocentro. Essa bomba era para
estourar na caixa de força, com a finalidade de apagar a luz e o show parar.
Não era para ser jogada nem lá dentro do Riocentro nem era para matar ninguém.
A ideia era acabar com o show do PCB por falta de energia. Discordei daquilo,
não gostei da proposta, por achar que era completamente extemporâneo, não tendo
mais nada a ver com o clima em que vivíamos naquela época. E proibi a ação;
isso foi em abril de 1980 – proibi a ação e ela não foi feita.
Em janeiro de 1981, fui
cursar a ECEME, pois tinha ingresso garantido, porque havia conseguido o
segundo lugar na EsAO. Logicamente, acredito, é uma suposição, uma especulação,
que o que ocorreu lá no Rio Centro tenha sido, talvez, a mesma proposta de
jogar uma bomba na caixa de força para acabar a luz. Aquilo que proibi antes,
alguém autorizou depois e ocorreu aquele triste episódio do Riocentro no qual
morreu um sargento do Exército [Guilherme Pereira do Rosário] e ficou ferido um
capitão [Wilson Luís Chaves Machado].
Prestei este testemunho no
inquérito que foi feito pelo General Sérgio Conforto, da minha turma, meu
amigo. Disse exatamente isso nesse inquérito que estou agora repetindo”
(Coronel Romeu Antonio Ferreira, Tomo 9, pg. 358-359).
“O
episódio do Riocentro afetou o General Figueiredo? Atrapalhou a condução do
Governo, que estava na fase de instalação da ‘abertura’? [entrevistador]
Nem um pouquinho. Em minha posição,
no meu cargo, do lado de dentro do Governo, acompanhava e sentia tudo. Penso
que exageraram um pouco, porque sempre fica no ar um vago receio, uma coisa
indefinida... Mas, absolutamente, o Governo não balançou, nem um pouquinho, até
porque já sabíamos do fato muitos meses antes, um mês e meio antes, mais ou
menos. Tratava-se de um oficial do Destacamento de Operações de Informações
(DOI), vinculado ao Centro de Operações de Defesa Interna (CODI), no Rio de
Janeiro, e de um sargento, auxiliar dele naquela organização. Mais um
personagem, um carpinteiro, filho de Minas Gerais, que fabricava bombas.
Bem, outro oficial, que
morreu, infelizmente, sujeito formidável, contou para o Chefe da Agência
Central que havia isso assim, assim... com o propósito de tumultuar uma reunião
que seria realizada no Riocentro. O General Newton Cruz relatou-me o que ouvira
e disse: ‘Olha, você fique tranquilo, não precisa nem falar com o Presidente,
porque vamos atuar em cima desses dois e impedi-los de agir.’ Poucos dias depois,
o Newton voltou a mim e informou: ‘Olha, aquele problema do Riocentro já está
resolvido e os rapazes prometeram que não vão fazer nada.’ Respondi: ‘Está bem,
vamos esperar. Você acha que a gente pode confiar?’ Newton disse: ‘Penso que
sim, porque o oficial que trabalhou a cabeça deles e falou comigo é de toda
confiança.’ De qualquer maneira, contei para o João Figueiredo. Informei,
ainda, ao Venturini, bem como ao Ministro da Aeronáutica, meu amigo (Briadeiro
Délio Jardim de Matos). Pedi que mantivessem sigilo.
Entretanto, mesmo com as
recomendações, o Capitão resolveu fazer a besteira. O Sargento apanhou a bomba
que o carpinteiro havia preparado, colocou no carro e o grupo dirigiu-se ao
Riocentro. Deixaram o carro no estacionamento principal, depois saíram, foram
explorar o local onde iriam colocar a bomba, mas resolveram voltar para casa.
Sem
fazer nada? [entrevistador]
Sem fazer nada. Mas, nesse
abrir de porta e sentar, o artefato explodiu.
A
ideia deles seria perturbar a ‘abertura’? [ entrevistador]
Tumultuar a festa que se
realizava no Riocentro. Não visava a ‘abertura’.
Agora
o interessante, General, é que uma intenção primária dessas gerou tamanha
repercussão. [entrevistador]
Ah, o Riocentro estava
lotado! No auge da anistia, todos queriam participar da maneira que pudessem:
‘Agora vamos fazer o que queremos e ninguém vai nos prender’.
E o Presidente Figueiredo?
Ficou surpreso? No dia em que o senhor falou sobre a ideia maluca, ele ficou
tranquilo? O Presidente se sentiu traído? [entrevistador]
Sentiu-se; as consequências
foram imediatas: acabou tirando o Newton Cruz da Agência Central, e aprovou o
nome de outro oficial que eu apresentei. No entanto, permaneceu um ambiente
irrespirável, desagradável. Não precisava acontecer. No final, o petardo explodiu
e matou um sargento, à toa” (General-de-Exército Octávio Aguiar de Medeiros,
Tomo 15, pg. 55-56).
Obs.
Estranho
foi a Agência Central não ter feito nada para impedir as ações do Capitão Wilson
Luís Chaves Machado e do Sargento Guilherme Pereira do Rosário, já que sabia
que poderiam colocar uma bomba no Riocentro, na noite de 30 de abril de 1981,
véspera do feriado do Dia do Trabalho. No mínimo, deveria tê-los colocado sob
rigorosa vigilância, ou melhor, tê-los mantido no quartel ou em casa à força.
Antes do Caso Riocentro, nos anos de 1980 e 1981, durante 16 meses,
houve cerca de 40 atentados contra bancas de jornais e órgãos que faziam
oposição ao governo Figueiredo, com muitos feridos e pelo menos uma morte, a da
secretária da OAB-RJ, Lyda Monteiro da Silva, ocorrida em 27 de agosto de 1980.
Nenhum desses atentados foi elucidado. Leia o livro de Dickson Melges Grael sobre
o assunto, “Aventura, Corrupção e Terrorismo – À Sombra da Impunidade” (2ª.
edição), Editora Vozes, Petrópolis, 1985.
O Coronel Dickson Grael é pai dos Grael (Lars, Torben e Axel) e avô de
Martine Grael, todos velejadores náuticos.
Os “duros” do governo Figueiredo não queriam que os militares
“desmontassem do tigre”...
Sobre o Caso Riocentro e os 40 atentados, leia texto de minha autoria em - https://felixmaier1950.blogspot.com/2020/04/o-atentado-do-riocentro.html.
F.
Maier
O
PROJETO “ORVIL” (“LIVRO”, LIDO AO CONTRÁRIO)
“Em 1981 e 1982, cursei a
ECEME, indo, em seguida, para Brasília, onde, após estagiar por três meses na
2ª. Seção do Comando Militar do Planalto, fui para o CIE, onde desempenhei as
funções de analista de Inteligência, de 1983 a 1985.
(...) Lembro-me de que,
naquela época, redigi um ou dois documentos defendendo a ideia de que já estava
na hora do Exército escrever a história de sua participação na luta armada.
Seria importante que o Exército contasse a sua versão dos fatos, que já estavam
sendo deturpados. Diziam eles – os terroristas – que defendiam a democracia e
nós não, quando, na verdade, fizemos todo aquele nosso trabalho pela democracia
contra o comunismo, contra os extremistas de esquerda que queriam a tomada do
Poder para implantação de um regime totalitário. Hoje dizem, cinicamente, que
lutavam pela redemocratização.
Recordo-me bem que fim um
documento a esse respeito. O meu chefe da S1/01, Seção de Análise e
Informações, era um grande Coronel, depois General, Agnaldo Del Nero Augusto,
incentivador da ideia de que devíamos escrever a respeito. E a gente pode até
fazer uma brincadeira aqui: ele era de Cavalaria, mas muito inteligente! A
gente brinca com o pessoal de Cavalaria, mas tem admiração por eles. Ele era um
oficial leal que lutava permanentemente por ideais nobres.
Vamos esperar a sua
publicação. Este livro deve estar relacionado ao que eu vou dizer agora aqui.
No final de 1985, o Coronel Del Nero determinou que, na nossa Seção, os
analistas começassem a escrever a história do Partido Comunista Brasileiro
Revolucionário (PCBR), a história da Vanguarda Popular Revolucionária (VPR),
VAR-Palmares etc. Mas não deu certo e explico o motivo.
Lembro-me de que, uma vez,
ele solicitou que eu fizesse uma análise de um trabalho elaborado por um
companheiro sobre 1968. Vi que esse trabalho tinha até mortos que estavam assaltando
bancos. Então, não poderia ser assim.
Não poderia um analista continuar desempenhando o seu papel de analista, com
todos os documentos que ele tinha que produzir, e, ao mesmo tempo, escrever a
História da Lula Armada. Era impossível! Então, o que fez o Coronel Del Nero?
Ele designou a mim, para que deixasse o trabalho de análise e determinou que eu
ocupasse uma sala grande, como esta, que era a antiga sala de estar dos
oficiais do CIE, para começar a pesquisar e escrever. E comecei a fazer isso em
janeiro de 1986.
Mas começamos a ver que o
trabalho era uma loucura e decidimos também fazer um trabalho ano a ano. O que
havia ocorrido em 1967? Quais as organizações que existiam? Fazer um histórico
da VPR, da VAR-Palmares, da ALN, ano a ano. E começamos inclusive antes da
Revolução, nos pródromos da Revolução de 1964.
E não existia nada pronto. O
que tínhamos era uma grande quantidade de dossiês de pessoas e organizações.
Então, eu pedia, por exemplo, o dossiê da VPR e recebia quatro ou cinco pastas
enormes com milhares e milhares de documentos.
O trabalho se tornava muito
grande, levando-me a dizer para ele: ‘Sozinho, deverei demorar uns dois ou três
anos para concluir a tarefa que o senhor me atribuiu. Não vai dar!’ Sugeri
então um amigo meu, de Cavalaria, oficial do mais elevado gabarito, e esse
oficial passou a trabalhar comigo em maio/junho de 1986. Todo esse ano de 1986,
inicialmente sozinho, depois, eu e esse coronel ficamos mais ou menos até
janeiro de 1987 escrevendo esse livro, pesquisando e escrevendo. Era um
trabalho insano. Começávamos às 8h da manhã e íamos direto até 20h30min, às
vezes 21h. Inclusive, passamos a trabalhar aos sábados e domingos, pesquisando
e escrevendo. Foi um ano de um trabalho intenso. Mas foi o que ficou.
Em janeiro de 1987, quando
saí do CIE e voltei ao Rio, para comandar o Forte Copacabana, o livro já estava
praticamente terminado, faltando apenas algumas introduções de uns poucos
capítulos, alguns encerramentos de outros, o trabalho de coordenação das
páginas etc. Mas o ‘grosso’ já estava terminado.
Em junho ou julho de 1987,
recebi um radiograma do Coronel Del Nero dizendo que o livro já estava
encerrado, que continha cerca de 1.200 páginas, que havia sido entregue para o
Ministro do Exército e que me cumprimentava pelo trabalho. O Coronel Del Nero
foi o coordenador de tudo. Os dois escribas principalmente fomos eu e esse
coronel de Cavalaria. Esse livro nunca foi publicado e não entendi o porquê,
talvez o próprio General Leônidas e outros ministros tenham suas razões”
(Coronel Romeu Antonio Ferreira, Tomo 9, pg. 359-361).
Obs.
Inicialmente, o “ORVIL”, classificado como “RESERVADO”, apareceu digitalizado no site A Verdade Sufocada, da esposa do Coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, Joselita Ustra - https://www.academia.edu/42756504/Orvil_completo.
O
livro do General Del Nero, “A Grande Mentira”, está baseado no conteúdo do
“ORVIL”.
Em
2008, o Tenente-Coronel reformado Lício Augusto Maciel e o Tenente reformado
José Conegundes Nascimento lançaram a obra em livro, “ORVIL – Tentativas de
Tomada do Poder”, pela Editora Schoba - https://felixmaier1950.blogspot.com/2020/04/orvil-tentativa-de-tomada-do-poder-no.html.
F.
Maier
CONTINUAÇÃO:
Parte I
http://felixmaier1950.blogspot.com/2020/09/historia-oral-do-exercito-31-de-marco.html
PARTE II
http://felixmaier1950.blogspot.com/2020/09/historia-oral-do-exercito-31-de-marco_3.html
PARTE III
http://felixmaier1950.blogspot.com/2020/09/historia-oral-do-exercito-31-de-marco_72.html
PARTE IV
http://felixmaier1950.blogspot.com/2020/09/historia-oral-do-exerctio-31-de-marco.html
***
HISTÓRIA ORAL DO EXÉRCITO - 31 DE MARÇO DE 1964
Em
15 Tomos
Biblioteca
do Exército Editora, Rio de Janeiro, 2003
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BIBLIOGRAFIA:
MOTTA, Aricildes de Moraes (Coordenador
Geral). História Oral do Exército - 1964
- 31 de Março - O Movimento Revolucionário e sua História. Tomos
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