MEMORIAL 31 DE MARÇO DE 1964

MEMORIAL 31 DE MARÇO DE 1964
Avião que passou no dia 31 de março de 2014 pela orla carioca, com a seguinte mensagem: "PARABÉNS MILITARES: 31/MARÇO/64. GRAÇAS A VOCÊS, O BRASIL NÃO É CUBA." Clique na imagem para abrir MEMORIAL 31 DE MARÇO DE 1964.

terça-feira, 2 de junho de 2020

Presidente Collor fecha buraco na Serra do Cachimbo, PA, em 1990, que serviria para testes nucleares


FAB construiu um buraco para testes nucleares no meio da Amazônia
Local ficaria escondido dentro de uma base militar
Francisco Leali e Roberto Maltchik
23/03/2014 - 07:00 / Atualizado em 26/03/2014 - 16:01

BRASÍLIA e RIO - No meio da selva amazônica, estrategicamente escondido dentro de uma base militar, a Força Aérea Brasileira (FAB) construiu, no início da década de 80, um buraco para testes nucleares. Mas até hoje a FAB e oficiais que atuaram no programa nuclear em nome da Aeronáutica resistem em admitir que ali seriam feitas explosões atômicas, com potencial bélico, apesar de evidências no sentido contrário.
Com base na lei de acesso, O GLOBO solicitou todos os registros sobre a empreitada na base de Cachimbo. A FAB confirmou a existência do projeto oficialmente batizado de Pedra do Índio para construção de buraco na sua base militar no Pará. Mas não fez referência a sua destinação.
Apenas dois documentos produzidos na época, hoje desclassificados, foram liberados: um que trata da construção do buraco em 1987 e outro sobre a implosão do poço em novembro de 1990, depois que o presidente Collor determinou o fim das pesquisas nessa área.
O brigadeiro Reginaldo Santos, engenheiro ótico do projeto de enriquecimento de urânio pelo método a laser, atuava no Centro Técnico Aeroespacial (CTA) enquanto a Aeronáutica abria o buraco do Cachimbo. Ele argumenta que a obra tinha por objetivo selar rejeitos de origem nuclear, por meio do processo de vitrificação sob a rocha.
— A Comissão de Energia Nuclear (Cenem) tinha preocupação com os rejeitos nucleares que estavam por ser produzidos. Então surgiu a possibilidade deste material ficar selado na rocha. Havia essa possibilidade de vitrificar os rejeitos e lançá-los no Cachimbo — afirma o militar reformado, hoje diretor-geral da binacional aeroespacial Alcântara Cyclone Space, que completa: -- Ninguém nunca determinou que fizéssemos o desenvolvimento de explosivo nuclear. Isso não chegou até mim. Havia, na época, uma preocupação dos políticos para que o país não passasse essa imagem.
SAIBA MAIS
Confira

Porém, além do próprio almirante Othon, que liderou na Marinha a busca pela tecnologia de enriquecimento de urânio pelo método de ultracentrifugação, o físico e especialista em energia nuclear Luiz Pinguelli Rosa, da Coppe/RJ, que acompanhou de perto os desdobramentos do programa nuclear brasileiro, sustenta que a explicação dada para o uso do Cachimbo não é plausível.
— O buraco não tem dimensão para isso (uso para vitrificação de rejeitos nucleares). O diâmetro é de um pouco mais de um ou dois metros, com uma profundida de 300 metros. Não é razoável acreditar que os militares tivessem planos para colocar lixo radioativo lá. Como vai transportar esse lixo no meio da selva? Para um teste, sim. Não uma bomba — rebate Pinguelli.
Sobre as pesquisas para fabricação da bomba, a FAB sustenta que tudo já fora discutido no âmbito de um CPI aberta pelo Congresso em 1990. E que seu papel foi apenas de tentar desenvolver tecnologias de enriquecimento de urânio.“O Comando da Aeronáutica (COMAER) reconhece a existência do “Programa Autônomo de Energia Nuclear”, como sendo um programa de governo desenvolvido a partir da década de 1970, com a participação do Exército, Marinha e Aeronáutica, além da Comissão de Energia Nuclear (CNEN). A participação do COMAER no programa acima mencionado restringiu-se única e exclusivamente à execução de atividades de pesquisa relacionadas a enriquecimento isotópico de urânio, com o uso de tecnologias de lasers, reatores nucleares rápidos, aceleradores lineares de elétrons e produção de urânio metálico”, diz a FAB.
Não há documentos produzidos entre 1986 e 1990 que estejam disponíveis. Nesse período, o acesso à base era controlado pelo CTA com mão de ferro. Militares que atuaram no local dão um exemplo. Em 1987 pousou na base para abastecimento um avião da própria FAB que levava um grupo de oficiais. Enquanto aguardavam, o brigadeiro que chefiava o grupo pediu para fazer uma inspeção no local do buraco. O sargento que controlava a pista teve que dizer não ao visitante e seus demais colegas, mesmo sendo hierarquicamente inferior a todos ali. Na verdade, estava sob as ordens de um brigadeiro de mais alta patente, o então chefe do CTA Humberto Zignago Fiúza, que também estava na base. Mas a determinação expressa era que pessoal civil ou militar não autorizado não podia ir ao local. Naquele dia, os oficiais partiram sem conhecer o buraco de Cachimbo.
Além dos dois ofícios liberados pela FAB via lei de acesso, a Força entregou uma tabela com resultado da análise geológica feita antes da obra em Cachimbo, em que os técnicos descrevem a composição do solo até a profundidade de 350 metros. Há ainda um croqui simples, feito à mão, indicando as dimensões do fosso que na abertura teria pouco mais de um metro. No fundo do buraco haveria uma galeria de 27 metros cúbicos.
No dia 5 de novembro de 1990, documento relata como foi a operação para destruir o fosso. Foram 8 quilos de explosivos colocados a 45 metros de profundidade. Comandada por militares do CTA, a explosão teria danificado a chapa de aço na boca do buraco e também destruindo parte do concreto provocando a abertura de uma caverna subterrânea também a 45 metros de profundidade. E antes que alguém quisesse se aventurar para conferir o resultado, o ofício lança um alerta: a caverna provocou uma instabilidade no terreno “não sendo aconselhável sequer o acesso à área devido a probabilidade de desmoronamentos”.
Fonte: https://oglobo.globo.com/brasil/fab-construiu-um-buraco-para-testes-nucleares-no-meio-da-amazonia-11959036

Nenhum comentário:

Postar um comentário