Como o Hamas Planeja Destruir o Líbano
Durante a visita de Haniyeh a Ain al-Hilweh, ele salientou que o Hamas, apoiado pelo Irã na Faixa de Gaza, "dispõe de mísseis que podem atingir Tel Aviv e mais além".
Analistas políticos árabes... também acreditam que o Irã está se preparando para o uso de proxies, no caso Hamas e Hisbolá, para alvejar os países árabes que estabelecerem relações com Israel, como os Emirados Árabes Unidos e o Bahrein.
"Quem é este Ismail Haniyeh, que vem ao Líbano fazer uma demostração de força nos campos de refugiados, cercado por homens armados... Ninguém do nosso governo perguntou o que ele está fazendo aqui e quem o deixou entrar em nosso país." — Rita Mokbel, uma mulher libanesa, Twitter, 7 de setembro de 2020.
"O Líbano é um estado independente e não um teatro do Irã e dos palestinos." — General libanês Asraf Rifi, Twitter, 7 de setembro de 2020.
"A Síria pagou os olhos da cara por defender o Hamas e os movimentos de resistência e eles retribuíram conspirando contra a Síria e tomando parte em sua destruição. É isso que a escola da Irmandade Muçulmana e do presidente turco Erdogan ensinam. — Wiam Wahhab, ex-ministro libanês do meio ambiente, Twitter, 7 de setembro de 2020."
A visita de Ismail Haniyeh, líder do Hamas ao Líbano, provocou indignação no país. Haniyeh manteve uma série de encontros com autoridades libanesas e palestinas. Ele também se reuniu com Hassan Nasrallah, líder do grupo terrorista Hisbolá apoiado pelo Irã. Foto: Haniyeh (de camisa azul), cercado por milicianos armados, desfilando pelo campo de refugiados Ain al-Hilweh no Líbano em 6 de setembro de 2020. (Foto: Mahmoud Zayyat/AFP via Getty Images) |
A visita de Ismail Haniyeh, líder do Hamas ao Líbano, provocou indignação no país. Muitos cidadãos e autoridades libanesas expressaram o temor de que a sua presença no país poderia precipitar outra guerra com Israel. O medo não parece ser injustificado. Os libaneses estão cientes dos desastres que o Hamas causou ao seu povo na Faixa de Gaza ao disparar foguetes contra Israel. Os libaneses estão dizendo ao Hamas: "se vocês desejam lançar ataques terroristas contra Israel, por favor, não usem nosso país para isso. Não estamos preparados para pagar o preço."
Os libaneses também se opuseram à volta ao Líbano de grupos armados palestinos. Ao que tudo indica, os libaneses estão temerosos que o Hamas esteja operando sob instruções do Irã para transformar o Líbano em uma plataforma de lançamento de mísseis contra Israel. Os libaneses lembram dos dias nos anos de 1970 e 1980, quando a OLP e outras facções armadas palestinas controlavam o Líbano e usavam seu território para desfechar ataques terroristas contra Israel, seu vizinho do sul.
Haniyeh, atualmente sediado no Catar, chegou ao Líbano no início de setembro para uma série de encontros com autoridades libanesas e palestinas. Ele também se reuniu com Hassan Nasrallah, secretário-geral do grupo terrorista Hisbolá apoiado pelo Irã e visitou o campo de refugiados palestinos de Ain al-Hilweh, cercado por dezenas de milicianos armados.
Haniyeh também participou de uma reunião por videoconferência de líderes de facções palestinas. Ele discursou na conferência nas dependências da embaixada da Autoridade Nacional Palestina (ANP) em Beirute. O presidente da ANP, Mahmoud Abbas, fez um discurso na conferência de seu escritório em Ramala, capital de fato dos palestinos na Cisjordânia.
Durante a visita de Haniyeh a Ain al-Hilweh, ele salientou que o Hamas, apoiado pelo Irã na Faixa de Gaza, "dispõe de mísseis que podem atingir Tel Aviv e mais além".
Na visita a Beirute, Haniyeh se encontrou com Nasrallah. Depois da reunião, o Hamas e o Hisbolá emitiram um comunicado no qual afirmam que a "estabilidade e solidez do eixo de resistência e a força da relação entre o Hisbolá e o Hamas, se baseiam em fundamentos de fé, fraternidade e jihad (guerra santa)". Os grupos terroristas também se comprometeram em "desenvolver mecanismos de coordenação entre as duas partes".
A visita do líder do Hamas ao Líbano ocorreu quando o país enfrentava uma das piores crises da história do país. O governo libanês renunciou em meio à crescente fúria popular na esteira da explosão devastadora no porto de Beirute em 4 de agosto. A explosão, que ceifou a vida de pelo menos 200 pessoas e feriu cerca de outras 5 mil, ocorreu ao mesmo tempo em que o Líbano estava tentando dar conta, e ainda está, da propagação do coronavírus e também de uma calamitosa crise econômica.
Muitos libaneses estão furiosos com o governo por permitir que Haniyeh entrasse no país. Rita Mokbel, uma libanesa que mora nos Emirados Árabes Unidos escreveu no Twitter:
"quem é este Ismail Haniyeh, que vem ao Líbano fazer uma demonstração de força nos campos de refugiados, cercado por homens armados e dizer que quer libertar a Palestina de Ain al-Hilweh? Ninguém do nosso governo perguntou o que ele está fazendo aqui e quem o deixou entrar em nosso país."
Wiam Wahhab, ex-ministro libanês do meio ambiente, escreveu que Haniyeh "não era bem-vindo" no Líbano.
"A Síria pagou os olhos da cara por defender o Hamas e os movimentos de resistência e eles retribuíram conspirando contra a Síria e tomando parte em sua destruição. É isso que a escola da Irmandade Muçulmana e do presidente turco Erdogan ensinam. O momento da visita é inoportuno e o hóspede não é bem-vindo."
O jornalista libanês Mohamad Nimer comentou que "Ismail Haniyeh deixou a Palestina e veio a Beirute para anunciar o avanço no poder de fogo dos mísseis do Hamas?" Nimer destacou que o Hisbolá já possui mísseis que, segundo ele, serão usados contra Israel. Dirigindo-se ao Hamas e ao Hisbolá, ele ressaltou: "tenham misericórdia do Líbano e desistam destas suas sandices."
O ex-parlamentar libanês Fares Souaid, comentando sobre a visita de Haniyeh e as ameaças contra Israel, alertou quanto à volta da presença militar palestina no Líbano:
"a ameaça de Ismail Haniyeh proferida em Beirute contra Israel é perigosa porque traz de volta a ação militar palestina contra Israel a partir do Líbano, que terminou em 1982. Ela também ameaça a segurança de bairros residenciais e permitirá que o Hamas opere com a cobertura do Hisbolá."
Richard Kouyoumjian, outro ex-ministro libanês, disse não entender quem permitiu que Haniyeh usasse o Líbano como plataforma para ameaçar Israel. "quem deu a ele a permissão e o direito de atuar dessa maneira?" perguntou Kouyoumjian , salientando que "se Haniyeh quiser ser herói, que seja a partir da Faixa de Gaza e não do Líbano."
O general libanês Ashraf Rifi escreveu no Twitter que as ameaças de Haniyeh contra Israel não servem aos interesses palestinos. Além disso, alertou ele que as armas do Irã levariam à destruição do Líbano.
"O Irã transformou a questão palestina em moeda de troca e aprofundou a cisão entre os palestinos", salientou Rifi.
"Fortalecer o Irã com a ficha palestina é um grave erro. O erro maior ainda é entregar o cheque em branco dos campos de refugiados palestinos do Líbano ao Irã. O Líbano é um estado independente e não um teatro do Irã e dos palestinos."
Os líderes de partidos políticos libaneses realizaram uma reunião para discutir as repercussões da visita de Haniyeh e as ameaças contra Israel.
Os políticos alertaram contra a ameaça " das facções palestinas voltarem a desfrutar de qualquer função militar ou de segurança no Líbano."
Eles disseram que a reunião dos líderes das facções palestinas em Beirute os lembraram dos dias em que o Líbano era efetivamente controlado pelos palestinos: "a reunião das facções palestinas no Líbano trouxe de volta à memória a era da 'Terra da Fatah', dias em que o Líbano era apenas um ponto de encontro para a OLP." (Fatah é a maior facção palestina da OLP.)
A agência de notícias MENA Media Monitor, especializada em assuntos do Oriente Médio e do Norte da África alertou que a ameaça que Haniyeh fez a Israel e a aliança do Hamas com o Hisbolá irão "massacrar o Líbano". Ele salientou ainda que o Hamas, que já arruinou a Faixa de Gaza por conta de seus ataques terroristas contra Israel, está agora querendo destruir o Líbano.
"Além de seu profissionalismo em violência, lavagem de dinheiro, tráfico de drogas e comandos assassinos, o Hisbolá passou a proceder mais profissionalmente no intuito de fechar as portas para qualquer solução que impeça o colapso do Líbano". de acordo com a MENA.
"A visita de Haniyeh ao Líbano e o seu anúncio em solo libanês de que ele e seu aliado, Hisbolá, estão trabalhando na fabricação de mísseis inteligentes em território libanês, é um arauto para massacrar o Líbano, que hoje não precisa de nada menos do que a solidariedade internacional com o país e com os seus desastres. Ismail Haniyeh e o Hisbolá levarão o Líbano ao inferno da guerra que destruirá o que ainda resta do país."
O comentarista político e jornalista libanês Walid Choucair escreveu que o Hamas e o Hisbolá, a mando do Irã, podem estar planejando usar o Líbano como pódio para gorar os acordos de normalização entre Israel e os países árabes.
Ao que tudo indica, os analistas políticos árabes estão convencidos de que o Irã despachou Haniyeh para o Líbano num esforço para expandir seu controle sobre o país no sentido de englobar os campos de refugiados palestinos. Analistas políticos árabes também acreditam que o Irã está se preparando para o uso de proxies, no caso Hamas e Hisbolá, para alvejar os países árabes que estabelecerem relações com Israel, como os Emirados Árabes Unidos e Bahrein.
Os analistas advertiram que libaneses e palestinos pagarão muito caro se os campos caírem nas mãos do Irã. Os libaneses e outros árabes estão mandando uma clara mensagem: "estamos fartos do Hisbolá e do Irã. Permitir que o Hamas entre no Líbano só vai piorar, e muito, a situação do país que precisa desesperadamente ser salvo"
Khaled Abu Toameh é um jornalista premiado radicado em Jerusalém, também é Shillman Journalism Fellow no Gatestone Institute.
Fonte: https://pt.gatestoneinstitute.org/16571/hamas-planeja-destruir-libano
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