MEMORIAL 31 DE MARÇO DE 1964

MEMORIAL 31 DE MARÇO DE 1964
Avião que passou no dia 31 de março de 2014 pela orla carioca, com a seguinte mensagem: "PARABÉNS MILITARES: 31/MARÇO/64. GRAÇAS A VOCÊS, O BRASIL NÃO É CUBA." Clique na imagem para abrir MEMORIAL 31 DE MARÇO DE 1964.

quarta-feira, 10 de junho de 2020

Forças Armadas de Libertação Nacional: A Guerrilha de Três Passos

Pacto de Montevidéu: Frente Popular de Libertação - Em janeiro de 1965, foi realizada a unificação de diversos grupos de esquerda, para formar uma “frente revolucionária”, que seria desencadeada no Brasil pelos “Grupos dos 5” (Comitês instalados nas empresas e comitês rurais). O pacto foi assinado por Leonel Brizola, Max da Costa Santos, José Guimarães Neiva Moreira, Darcy Ribeiro e Paulo Schilling, além de representantes do PC do B, da AP (Aldo Arantes), do PCB (Hércules Correia dos Reis) e do PORT (Cláudio Antônio Vasconcelos Cavalcante). Denominada de Frente Popular de Libertação (FPL), os “atos de guerra” deveriam incluir sabotagem urbana e guerrilha no campo. A maioria dos integrantes da FPL era formada por ex-militares cassados das Forças Armadas e da Brigada Militar do Rio Grande do Sul. A única sabotagem, malsucedida, foi em um bueiro da antiga BR-2, próximo a Jaguarão, RS, com o apoio de um ex-soldado do 13º Regimento de Cavalaria, de nome Ponciano, que trabalhava com explosivos em uma firma de Jaguarão.

FALN - Forças Armadas de Libertação Nacional: depois da Frente Popular de Libertação (FPL), foi outro plano quixotesco de Leonel Brizola para levar a revolução ao Brasil, para derrubar os militares. O plano previa um movimento (coluna) que sairia do Rio Grande do Sul, sob comando do ex-coronel do Exército, Jefferson Cardim Osório, para juntar-se no Mato Grosso com outra coluna que viria da Bolívia, sob comando do ex-coronel da Aeronáutica, Emanuel Nicoll. Os comandados do Cel Jefferson assaltaram alguns postos policiais da Brigada Militar, levando um automóvel, fardamentos e munição, além de um assalto ao Banco do Brasil; atravessaram Santa Catarina e penetraram no Paraná; no município de Leônidas Marques, no dia 27/3/1965, os rebeldes prepararam uma emboscada a uma viatura do Exército, porém foram repelidos pelos militares, fugindo para o mato e depois capturados; na operação, morreu o 3º sargento Carlos Argemiro Camargo. O ex-sargento da Brigada Militar, Albery Vieira dos Santos, um dos integrantes das FALN, declarou em 1978 que o dinheiro para financiar a operação - 1 milhão de dólares - havia sido conseguido em Cuba e levado a Brizola por Darcy Ribeiro e Paulo Schilling; em fevereiro de 1979, Albery foi misteriosamente assassinado. O Cel Jefferson só veio a falecer em 1995, embora o livro A Esquerda Armada no Brasil (título original de Los Subversivos, editado pela Casa de las Americas, de Havana) afirme que o Cel Jefferson foi torturado até a morte, em 1971. 

Fonte: "A Língua de Pau - Uma história da intolerância e da desinformação", versão digital, de Félix Maier. 

Lei "Os Incríveis Exércitos de Brizoleone", de F. Dumont








EXERCITO PRENDE CHEFE E 17 DOS GUERRILHEIROS
Publicado na Folha de S.Paulo, segunda-feira, 29 de março de 1965

Neste texto foi mantida a grafia original
FOZ DO IGUAÇU, 28 (FOLHA) - Foram detidos pelo Exercito o ex-coronel Jeferson Cardim de Alencar Osorio e mais 17 guerrilheiros sob seu comando.
Interrogado durante três horas no quartel do I Batalhão da Fronteira, em Foz do Iguaçu, confessou que o movimento era de origem brizolista, tramado no Uruguai pelo ex-deputado Leonel Brizola, e que deveria ter inicio nos fins deste mês, quando do primeiro aniversario da revolução. Informou-se que o sarg. Alberi, expulso da Brigada Militar, participou de todo o planejamento, que foi posto em pratica pelo ex-coronel, que se adiantou em vista da inauguração da Ponte Internacional. Segundo os planos, os movimentos iniciais seriam nas cidades de Porto Alegre, Bagé e Santa Maria.
No unico choque armando havido, o ex-coronel matou com dois tiros na perna e um no peito, com uma pistola 45, o sarg. Carlos Argemiro Camargo, em Marmelandia.
A area de Capanema continua sendo ocupada pelas tropas do Exercito, que procuram os guerrilheiros remanescentes. Segundo o ex-coronel, estes seriam em numero de 20. As estradas estão sendo vigiadas e todos os carros revistados.
Ministerio da Guerra anuncia prisão do chefe de guerrilheiros

BRASILIA, 27 (FOLHA) - O gabinete do ministro da Guerra confirmou esta tarde a prisão do ex-coronel Jefferson Cardim, entre Capanema e Cascavel, no Paraná que, ao ser interrogado, "confessou que cumpria missão plenamente entrosada com o ex-deputado Leonel Brizola, e que o assalto a Três Passos seria a senha para um movimento de ambito geral".
Enquanto nota oficial daquele Ministerio "lamenta o falecimento do 3.o sargento Carlos Argemiro Camargo", morto durante a captura do ex-coronel, corriam boatos em Brasilia, segundo os quais esperava-se em Goiás e Pernambuco a eclosão de movimentos de guerrilhas.
Alem do ex-coronel Jefferson Cardim, foram presos mais 5 componentes e seu grupo, e os demais 15 "abandonaram o armamento e a munição e, em trajes civis roubados de colonos daquela região, procuram fugir".
A nota oficial

Eis a integra da nota oficial distribuida hoje, nesta capital, pelo gabinete do ministro da Guerra:
"O grupo que assaltou os fracos contingentes da Brigada Militar do Rio Grande do Sul nas localidades de Três Passos e Tenente Portela e que se apossou do armamento e da munição ali existentes era chefiado pelo ex-cel. Jeferson Cardim de Alencar Osorio, comunista reconhecido e por isso mesmo afastado das fileiras do Exercito pelo Ato Institucional.
"Após a pilhagem, os assaltantes se apossaram de um caminhão "Mercedes" e seguiram segundo o eixo rodoviario Três Passos-Tenente Portela-Frederico Westephalen (no Rio Grande do Sul). Entraram no Estado de Santa Catarina e na direção de Barracão, no Estado do Paraná, prosseguiram para Capanema-Cascavel no referido Estado. A 50 quilometros ao sul desta ultima localidade, foram cercados.
"O ex-coronel Jefferson foi preso e, ao ser interrogado, confessou que cumpria missão plenamente entrosada com o ex-deputado Leonel Brizola e que o assalto a Três Passos seria a senha para um movimento de ambito geral. Foram presos cinco integrantes do bando, sendo que os demais componentes, em numero de 15, abandonaram o armamento e a munição e, em trajes civis roubados dos colonos, procuram fugir.
"A operação para a captura dos fugitivos prossegue, sendo de assinalar que a população civil colabora de forma extraordinária para a identificação e localização dos bandoleiros.
"O Exercito tem a lastimar o falecimento do 3.o sargento Carlos Argemiro Camargo, da 1.a Companhia do 13.o Regimento de Infantaria que, no cumprimento do dever, morreu em ação, contra maus brasileiros que tentam subverter a ordem".
V Região distribui comunicado oficial

CURITIBA, 28 (FOLHA) - O Quartel General da V Região Militar, com sede nesta capital, distribuiu na tarde de hoje a seguinte nota oficial:
"O comandante da V Região Militar e V Divisão de Infantaria informa que a situação no Este paranaense está praticamente normalizada.
"Nas operações do dia 27 foram feitos 5 prisioneiros, inclusive o ex-coronel Jeferson Cardim de Alencar Osorio, tendo os demais abandonado o armamento e assaltado casas de colonos, roubando trajes civis. O ex-coronel Jeferson, ouvido pelas autoridades, declarou cumprir missão dada por Leonel Brizola.
"Prossegue a operação de limpeza a fim de capturar os remanescentes, contando as forças do Exercito, na area, com a ajuda total da população civil. Em todas as operações as forças do Exercito receberam a colaboração eficiente das Policias Militares do Paraná e de Santa Catarina.
Assinado, general de Divisão Alvaro Tavares Carmo, Comandante da V Região Militar e V Divisão de Infantaria."
Combate

Às ultimas horas da noite de ontem, aproximadamente 24 horas, o Quartel General da V Região Militar divulgou nota oficial informando que na tarde de ontem "travou-se combate na região de Leonidas Marques, sendo aprisionado o caminhão e feitos 5 prisioneiros, que estão sendo transportados para Foz do Iguaçu". O comandante da V Região Militar informou tambem a morte do 3.o sargento Carlos Argemiro de Camargo, pertencente à 1.a Cia, do 13.o Regimento de Infantaria, que participava da caçada ao grupo de guerrilheiros.
Surpresa ajudou

Segundo pessoas que testemunharam os fatos ocorridos em Três Passos, os guerrilheiros comandados pelo ex-cel. Jeferson de Alencar Osorio tiveram sua ação facilitada nessa cidade pelo reduzido policiamento existente e pelo adiantado da hora, já que o assalto ao quartel da Brigada Militar ocorreu durante a madrugada.
Surpresa

A Brigada Militar foi facilmente subjugada. Ali se encontravam apenas um cabo e três soldados que, atacados de surpresa, não puderam reagir. Dominantes, os guerrilheiros apossaram-se, no deposito de armas, de 30 mosquetões e 4 fuzis-metralhadoras, alem de 600 balas.
À uma hora da madrugada, foram avistados defronte ao predio do Banco do Brasil, pelo inspetor Altino Estanislau de Sousa, que os interpelou. Atacado e ameaçado por revolveres e metralhadoras, foi levado a um posto de gasolina. Ali, os assaltantes obrigaram o vigia do posto a entregar as chaves de um caminhão, propriedade da firma "Moinho Três Passos". Precisavam do veiculo porque o de que se serviam, um Chevrolet 1939, havia enguiçado logo na entrada do municipio.
Enquanto a cidade dormia e os habitantes nem sequer suspeitavam de uma ação militar extraordinaria, os guerrilheiros encaminharam-se para a Central Telefonica e danificaram completamente as mesas, deixando a população com as comunicações interrompidas.
Manifesto

O grupo dirigiu-se em seguida às instalações da Radio Difusora. Apertando a campainha, foram atendidos pelo proprietario, sr. Beno Adelar Braitenbach, que mora nos fundos da emissora. Depois de conduzido para a frente do predio, o cel. Jeferson entregou-lhe um cartão de visitas com os seguintes dizeres: "Cel. Jeferson Cardim de Alencar Osorio, comte. das Forças Armadas da Libertação Nacional" e intimou o sr. Braitenbach a colocar a radio no ar. Após tentarem utilizar, inutilmente, um gravador de som, leram um manifesto ao vivo.
Depois, aumentados em numero e fardando uniformes do Exercito ou da Brigada Militar, os guerrilheiros puseram-se em marcha para Tenente Portela, onde repetiram a operação. Despojados das armas, os membros da Brigada tiveram de munir-se com revolveres em estabelecimentos comerciais.
Mourão: não há condições no Sul para manter guerrilhas

RIO, 28 (FOLHA) - O general Mourão Filho, ex-comandante da 4.a Região Militar, classificou o grupo de guerrilheiros que assaltou cidades no Rio Grande do Sul de «uns palhaços à cata de cartaz no noticiario sensacionalista dos jornais».
Para o general Mourão Filho não existem condições na maior parte do territorio gaucho para a pratica deste tipo de ação militar.
- «Eles não tem nem condições politicas nem militares, e sem armas especialmente preparadas para esse tipo de guerra, sem qualquer motivação politica, contentam-se em assaltar postos militares insignificantes e apreender armas obsoletas como o pesado fuzil de 1908» - acrescentou o general.
Ao concluir, o general Mourão esclareceu que para o irrompimento de uma guerra de guerrilha, alem do mais, «há necessidade de uma imensa rede de suprimento, a qual não é possivel obter sem o apoio da população. Há, ainda, necessidade de um armamento especial e de munição igualmente diferente da convencional, pois o guerrilheiro deve sempre andar com coisa leve».
KRIEGER: «TROPELIAS»

O senador Daniel Krieger afirmou, ontem, ao seguir para o Rio Grande do Sul, onde vai participar de uma convenção udenista, que as «tropelias de militares expurgados, no interior do Sul do país, atacando cidades despoliciadas, onde há apenas de seis oito homens da Brigada, não é um fenomeno de importancia».
O senador esclareceu que pelo conhecimento que tem da região "esta tropelia não terá duração".
Amaral Peixoto condena

O presidente do PSD, sr. Amaral Peixoto, condenou a tentativa de sublevação no Sul, realizada por um grupo reduzido, lembrando que ela vai provocar reações que alcançarão setores sem qualquer culpa.
Por outro lado, é indispensavel não perturbar a harmonia no país para que a campanha eleitoral possa começar o mais cedo possivel, pois já se iniciará com atraso.
Drama da mãe de Jeferson

A mãe do coronel Jeferson Cardim de Alencar Osorio, residente no Rio, em Copacabana, disse à imprensa, hoje, que vive um drama pessoal, pois enquanto seu filho abre luta armada contra a Revolução, outros parentes seus, militares, fazem parte, inclusive da "linha dura".
- "Eu era favoravel à Revolução de 31 de março, mas mudei de opinião depois que o novo governo reformou meus dois filhos, o coronel atualmente em ação no Sul e outro capitão de fragata" - acrescentou da. Corina Cardim de Alencar Osorio.
A mãe do coronel é vizinha de uma filha, mãe do menino preso em agosto do ano passado sob a acusação de servir de pombo-correio para correspondencia entre o ex-deputado Leonel Brizola e elementos ligados ao antigo governo Goulart no Rio.

Fonte: 
http://almanaque.folha.uol.com.br/brasil_29mar1965.htm

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