DE 1964
Extraído da "História Oral do Exército - 31 Março 1964"
MOTTA, Aricildes de Moraes (Coordenador Geral). História Oral do Exército - 1964 - 31 de Março - O Movimento Revolucionário e sua História. Tomos
PARA OS ENTREVISTADOS, OS ANTECEDENTES MEDIATOS E
IMEDIATOS DO MOVIMENTO DE 1964 FORAM:
I. ANTECEDENTES
MEDIATOS OU INDIRETOS
Intentona Comunista de 1935
“A
maioria dos que se dedicam ao assunto crê, no entanto, que o Movimento de 1964
vem do repúdio ao comunismo no meio militar, nascido em 1935, pelos crimes
perpetrados pelos marxistas-leninistas, na Intentona Comunista, levante armado
que irrompeu em Natal, Recife e no Rio de Janeiro, financiado e determinado
pelo Komintern – a Internacional
Comunista -, fundada em 1919 por Lênin, para propagar o comunismo, e
aproveitada por Stálin para promover os interesses da política exterior da
União Soviética.
A
Intentona, conduzida por Luís Carlos Prestes, que entrou no País com passaporte
falso para chefiá-la, contou com 23 estrangeiros para a sua preparação e
execução, dos quais apenas nove foram presos no Brasil após o fracasso do
movimento. Ficou, no seio do Exército e das Forças Armadas, a revolta contra
aquela infame Intentona, na qual os comunistas mataram covardemente seus
companheiros de farda, enquanto dormiam” “General-de-Brigada Geraldo Luiz Nery
da Silva, Tomo 10, pg. 196).
RENÚNCIA
DE JÂNIO QUADROS:
“OPERAÇÃO
MOSQUITO”, UMA OPERAÇÃO QUE NUNCA EXISTIU
Crise surgida após a renúncia
de Jânio Quadros, em 1961:
“É oportuno que se relate,
neste momento, a fim de deixar claro, o sub-reptício e ardiloso comportamento
dos políticos, em Brasília: o episódio ocorrido, pessoalmente, conosco, fruto
de manobras e falsas versões articuladas pelos partidários ideológicos do
senhor João Goulart.
Na condição de Oficial de
Gabinete do Ministro da Aeronáutica, Brigadeiro Grüm
Moss, e mais antigo presente em Brasília, recebemos ordem expressa do Ministro
de interditar os aeroportos de acesso à Capital da Repúbica, a fim de
impossibilitar o pouso de qualquer aeronave, civil ou militar, que conduzisse o
Vice-Presidente, João Goulart. Cumprimos estritamente as ordens recebidas, através
das providências normais, de bloqueios das pistas de pouso, interditando-as com
obstáculos.
Logo, os políticos,
senadores e deputados, aliados do senhor João Goulart, reagiram à ordem e às
medidas tomadas, através de declarações amplamente divulgadas pela imprensa do
País, denunciando a existência de um plano que passaram a chamar de ‘Operação
Mosquito’, operação militar com o objetivo de atacar e derrubar qualquer
aeronave, civil ou militar, que conduzindo o Vice-Presidente, tentasse pousar
na Capital da República.
A verdade é que a ‘Operação
Mosquito’ nunca existiu, nem foi cogitada. A interdição dos aeroportos foi,
porém, executada, com rigor, sobre a nossa orientação, e em obediência às
ordens superiores” (Brigadeiro-do-Ar Marcio Cesar Leal Coqueiro, Tomo 10, pg.
92).
“A
renúncia de Jânio Quadros foi a causa remota da Revolução de 31 de março de
1964. O governo foi cair, então, nas mãos de um homem cuja história pessoal não
o colocava como amante da democracia representativa. Ao contrário, vinha cevado
dos valores de Julio de Castilhos, Borges de Medeiros e Getúlio Vargas,
positivistas que, por muitos anos, governaram com mão de ferro o Rio Grande do
Sul, pouco preocupados com ‘democracia e liberdade’. Assim que assumiu como
presidente de um regime parlamentarista, João Goulart começou a lutar pelo
restabelecimento do presidencialismo. Tão logo conseguiu plenos poderes através
de um plebiscito, iniciou a campanha pelas suas ‘reformas de base’ que faziam
do Brasil um república sindicalista chefiada por um caudilho. Como a isso se
opunha o Congresso Nacional, essa república só poderia ser implantada por golpe
de estado” (Engenheiro Roberto Nogueira Médici, Tomo 14, pg. 186).
Obs.:
O engenheiro Roberto Médici é filho do
General-de-Exército Emílio Garrastazu Médici, Presidente do Brasil de outubro
de 1969 a março de 1974.
F. Maier
A partir de 1961, já havia a infiltração
de cubanos comunistas no Brasil, para aquisição de campos de treinamento de
guerrilheiros, em PE, BA, GO, AC.
As
Ligas Camponesas de Francisco Julião, o qual havia feito curso de guerrilha em
Cuba, promoviam o terror no meio rural, especialmente em Pernambuco, colocando
fogo nos canaviais e destruindo equipamentos industriais em usinas de
cana-de-açúcar (um MST avant la letre);
ao mesmo tempo, havia cartilhas comunistas sendo distribuídas pelo MEC,
contrapondo o “odioso” usineiro ao “miserável” trabalhador rural – trabalho de
massa que os comunistas sabem fazer como ninguém, especialmente o “mestre”
Paulo Freire.
A título
de informação, há um livro ilustrativo do fato histórico, escrito por Denise
Rollemberg, O Apoio de Cuba à Luta Armada
no Brasil – o treinamento guerrilheiro.
Obs.:
A revista Veja", de 24/01/2001, sob o título "Qué pasa compañero?",
faz uma análise centrada na tese de doutorado da pesquisadora Denise
Rollemberg, da UFRJ, a qual afirma que "o
primeiro auxílio de Fidel foi no Governo João Goulart, por intermédio do apoio
às Ligas Camponesas, lendário movimento rural chefiado por Francisco Julião.
(...) O apoio cubano concretizou-se no fornecimento de armas e dinheiro, além
da compra de fazendas em Goiás, Acre, Bahia e Pernambuco, para funcionar como
campos de treinamento”. Em sua língua de pau, Rollemberg se refere a
incêndios a canaviais, verdadeiros atos terroristas, como um “lendário
movimento rural”. Após a Contrarrevolução de 1964, as Ligas Camponesas foram
dissolvidas e Julião obteve asilo no México.
Sobre o assunto, leia “Guerrilha Comunista no Brasil", de minha autoria, em http://www.aman75-83.com.br/terror_comunanobr.htm.
F. Maier
“No
Brasil, a UNE, a CGT, a SUPRA [Superintendência da Reforma Agrária], a Frente
Parlamentar Nacionalista, o Grupo dos Onze, as Ligas Camponesas, alguns
Ministros de Estado, os Governadores do Rio Grande do Sul, Pernambuco, Goiás e
Sergipe e alguns Chefes Militares pressionaram o então Presidente, exigindo
reformas de cunho comunista.
Nas
Forças Armadas, a disciplina, base e alicerce primordial das Instituições
Militares, foi solapada, numa tentativa de jogarem praças contra oficiais”
(Coronel do Exército Márcio Matos Viana Pereira, in “O Direito de Opinar”, Editerra Editorial, Brasília, DF, 1987,
pg. 18).
É
importante citar a célebre frase do chefe comunista Luis Carlos Prestes, em
janeiro de 1964: “Nós, os comunistas, estamos no Governo, só nos falta o Poder.” Em viagem a Moscou, Prestes deu ciência a Kruschev
sobre a subversão comunista no Brasil e recebeu o sinal verde para implantar o
golpe.
Campanha psicológica de Brizola no RS
“O
ano de 1961 mexeu com os brios do Rio Grande do Sul: ‘Com a difusão de que o
Rio Grande do Sul seria invadido, que as nossas famílias seriam presas e
violentadas pelas tropas que vinham do Norte’. Isso contribuiu para que
houvesse um chamamento grande em todo o Rio Grande do Su. Não digo somente na
minha Unidade, porque o Brizola fez a campanha psicológica que foi a única que
vi no meu Exército ao longo dos meus quase cinquenta anos de vida militar e sei
que não verei outra campanha que venha a envolver tão intensamente todo um
poro, porque o Brizola colocou nos porões do seu palácio os transmissores da
Rádio Guaíba e, através dela, arregimentou todo o povo gaúcho, organizando-o em
forças militares.
Eram
batalhões de operários metalúrgicos, eram batalhões de operários têxteis, eram
batalhões de operários da indústria civil, era a cavalaria através dos Centros
de Tradição Gaúcha (CTGs). Enfim, todo o Rio Grande do Sul foi motivado e
distribuiu as armas que tinha. Com isso, a decisão do III Exército foi tardia,
muito tardia. O nosso Comandante do III Exército na época custou a tomar a sua
decisão de aderir às forças, aderir ao Governo Brizola, mas o fez para impedir
também lá dentro quase que um massacre, pois o Exército ficaria sozinho face ao
seu povo” (Generao-de-Exército Luiz Gonzaga Schroeder Lessa, Tomo 10, pg. 50).
A infiltração política dos comunistas
dentro dos quartéis, especialmente na Marinha e na Aeronáutica, pregando a
separação de praças e oficiais
Várias
vezes, Brizola conclamou os sargentos a prender e matar os oficiais, e se
apoderar dos quartéis
“A partir de 1960, as forças
de esquerda persistiram nas tentativas de infiltração no meio militar,
voltando-se para os quadros subalternos, buscando dividir e corroer o organismo
militar, através da cisão entre oficiais e praças.
Na Aeronáutica, o Brigadeiro
Francisco Teixeira, então Cmt da Zona Aérea, dirigia essa infiltração. A
eleição do Clube de Oficiais, vencida pelas esquerdas, graças a certas
facilidades, foi uma luta de caráter ideológico. O Chefe do EM da Aeronáutica,
Brigadeiro Correia de Melo, por ter dado difusão a uma publicação
anticomunista, foi punido.
Na Marinha, mantinha-se o
mesmo clima de agitação e o Clube de Suboficiais era um verdadeiro foco de
propaganda comunista.
No Exército, o Gen Osvino,
Cmt do I Exército, cercado de elementos ditos progressistas e nacionalistas,
deixava a subversão alastrar-se nos quartéis.
Por todo o Brasil, nas
organizações militares, criou-se um clima de desconfiança entre oficiais e sargentos.
Os comunistas conseguiram êxito nessa primeira fase, e foi esse clima que
ensejou a rebelião de sargentos, de 12 a 13 de setembro de 1963, em Brasília,
sufocada, principalmente, por tropas do Exército” (General-de-Exército
Sebastião José Ramos de Castro, Tomo 1, pg. 121).
“Importa também registrar
que, ainda no Comando de Oswaldo de Mello Loureiro [2º. RO 105, Itu-SP], todos
os subtenentes e sargentos foram chamados a São Paulo para conversar, pessoalmente,
com o Presidente João Goulart a respeito de aquisição de casa própria.
Recordo-me de que estava toda a Linha de Fogo em plena instrução visando ao
tiro do Grupo, quando a sessão foi interrompida para que todos os sargentos se
apresentassem imediatamente para viajar a São Paulo, onde o Presidente da
República os receberia. A instrução prosseguiu comigo, com os cabos e soldados,
sem os chefes de peça. Veja que absurdo!... Os próprios sargentos foram
apanhados de surpresa e tiveram dificuldade, em termos de uniforme de passeio,
para cumprir, de pronto, aquela ordem que veio diretamente da Casa Militar da
Presidência, o que soubemos posteriormente.
Esse fato mostrou claramente
como o Presidente da República buscava a aproximação com os graduados, sonhando
valer-se dos mesmos mais tarde para neutralizar os oficiais, quando do
desencadeamento da revolução comunista, para a qual passou a trabalhar, com o
máximo empenho, após ter conseguido o retorno do País ao regime
presidencialista” (General-de-Brigada Geraldo Luiz Nery da Silva, Tomo 10, pg.
202).
“O outro fato, único
episódio negativo durante toda a participação do Grupo [2º. GO 105], deu-se
pouco antes da Revista do Recolher (21h) do dia 31 de março. O Subtenente
Rubens, da 1ª Bia O, surpreendeu a todos, quando, ao se ver sozinho com os
cabos e soldados da Bateria, fez um rápido discurso a favor das reformas de
base de João Goulart e do seu sindicalismo. Disse-lhes que o Regimento não
podia colocar-se contra o movimento dos trabalhadores porque, no futuro, eles,
cabos e soldados, seriam os trabalhadores.
O Capitão Luís Gonzaga
Camargo, S/2 do Regimento, ao ser informado do fato, efetuou, pessoalmente, a
sua prisão. Esse subtenente era, desde o tempo do Coronel Loureiro, o
Presidente do Grêmio de Subtenentes e Sargentos do Regimento, tendo lidado, com
certa frequência, com aquele Coronel, com quem nós, tenentes, o vimos, várias
vezes, conversando nas imediações do Gabinete do Comando. Coube-lhe conduzir os
graduados a São Paulo ao encontro com o Presidente da República, anteriormente
citado” (General-de-Brigada Geraldo Luiz Nery da Silva, Tomo 10, pg. 209-210).
“Cheguei a Brasília, em
janeiro de 1964 e encontrei, no Batalhão da Guarda Presidencial, um ambiente
pior ainda, pois, embora a Revolta tivesse ocorrida em Brasília e,
praticamente, dela não participaram os sargentos do Exército – os praças
graduados e soldados da Marinha e da Aeronáutica foram, realmente, os que
fizeram o Movimento – mesmo assim, persistia uma desconfiança total com relação
aos nossos graduados do Batalhão da Guarda Presidencial, a maior Unidade, na
época, em Brasília. Existiam, também, na guarnição, uma bateria de Artilharia
Antiaérea, comandada pelo Major Stockler, considerado de esquerda; uma
Companhia de PE, embrião do Batalhão da Polícia do Exército de hoje e um
Esquadrão, o 3º. Esquadrão C Mec (Cavalaria Mecanizada), que havia vindo do Rio
de Janeiro, de Campinho, para Brasília, por ocasião da Revolta dos Sargentos.
No ar, o clima de
desconfiança entre oficiais e sargentos. Tínhamos ordem de andar sempre armados
com a pistola engatilhada’ (Coronel Carlos Fernando Freitas Almeida, Tomo 5,
pg. 286-287).
“Paralelamente
a esses fatos [infiltração esquerdista no MEC e nas universidades], ocorreu o
problema da inelegibilidade dos sargentos, levando a agitação para a área militar,
o que, em fevereiro [1963], torna-se manifesto. Cerca de seis mil graduados
realizaram uma passeata em São Paulo, em apoio à posse dos companheiros de
farda eleitos. O Instituto Superior de Estudos Brasileiros (ISEB), dominado por
elementos esquerdistas, procurava atrair os subtenentes e sargentos com
palestras e cursos nos círculos e clubes militares. Em 6 de março, foi
realizada uma nova passeata de militares em São Paulo, desta vez com os
integrantes da Força Pública de São Paulo e da Aeronáutica, comparecendo
fardados. Os aniversários dos ‘generais do povo’ passaram a ser comemorados com
a presença maciça de graduados e com extremados discursos nacionalistas.
(...)
Ante
os fatos sinteticamente narrados, não se constitui em grande surpresa a rebelião
dos sargentos, em Brasília, em 12 de setembro de 1963. Tanto assim é que
providências tomadas impediram a participação dos graduados do Exército. Embora
o movimento fosse controlado em poucas horas, foi grande a sua repercussão no
País e no Exterior” (General-de-Divisão Agnaldo Del Nero Augusto, Tomo 5, pg.
99).
ISEB – doutrinação comunista
“Em
1958, fui transferido para o Rio de Janeiro para fazer o curso de Defesa
Antiaérea. O ambiente que encontrei na Escola era o mesmo de Santa Maria.
Estávamos divididos entre azuis e vermelhos.
Nos
primeiros dias de aula, fui procurado por um colega de curso, um 1º. Tenente,
oficial muito inteligente, segundo de sua turma de formação e que acabou sendo
o primeiro da turma do curso que íamos fazer. Este oficial, que posteriormente
foi cassado pelo Ato Institucional no. 1 (AI-1), certo dia perguntou-me se
pretendia fazer concurso para a Escola de Comando e Estado-Maior do Exército.
Disse-lhe que sim. Ele então me falou sobre um curso muito bom, gratuito, com
aulas sempre aos sábados. Falou-se também da competência dos seus professores.
Fiquei interessado e passei a frequentar as aulas do ISEB (Instituto Superior
de Estudos Brasileiros). Eu e mais alguns colegas assistimos a umas quatro ou
cinco aulas e quase todos nos retiramos quando sentimos que estávamos sendo
doutrinados para apoiar a política de esquerda que vinham pregando” (Coronel
Carlos Alberto Brilhante Ustra, Tomo 5, pg. 218).
O
empastelamento do jornaleco Binômio
“Aqui, em Minas, há um fato,
um episódio muito importante, do qual pouco se fala. Foi a quebra do jornaleco
chamado Binômio. O Binômio era um jornal panfletário que
explorava as pessoas, exigindo dinheiro para não divulgar notícias que lhes
fossem adversas. Esse jornal, certo dia, publicou uma matéria que era
degradante para o Comandante da Infantaria Divisionária da 4ª. Divisão (ID/4) –
na época, General Punaro Bley. Ele teve a coragem de ir à redação do Binômio e tirar satisfação. Foi
acompanhado do motorista. Este ficou na rua, no carro, esperando, e o general
subiu e foi enfrentar a direção do jornal. Destratado e agredido, saiu de lá
ferido, machucado. Voltou para o QG (Quartel-General). Um companheiro, um
oficial que estava de serviço, viu o estado do General e comunicaou aos
comandantes de Unidades que, basicamente, naquela época, eram o 12º. RI, o
Centro de Preparação de Oficiais da Reserva (CPOR) e mais a Base Aérea, que
ficava, exatamente, junto ao aeroporto da Pampulha.
Os comandantes de Unidades
do Exército resolveram ir ao jornal impedir que a próxima edição saísse,
porque, fatalmente, publicaria coisas desagradáveis contra o General, inclusive
fotos. Reuniram oficiais, somente oficiais e sargentos, pegaram um ônibus da
Aeronáutica que ficava sempre no pátio do 12º. RI e foram ao jornal Binômio. Era o final de 1961.
Quando lá chegaram, foram
recebidos de forma muito agressiva. Os militares, então, resolveram o seguinte:
‘Vamos impedir a saída da edição de amanhã e de qualquer outra edição; vamos
empastelar o jornal.’ A ordem era não deixar nada inteiro que tivesse mais do
que 20 cm. Tudo que tivesse mais de 20 cm deveria ser quebrado. E assim foi
feito. Oficiais e sargentos dessa gloriosa guarnição assim agiram e destruíram
o jornaleco Binômio, que nunca mais circulou em Belo Horizonte ou em lugar
nenhum, graças a Deus.
(...)
A única punição que sobrou
foi a transferência dos Comandantes do 12º. e do CPOR para outra guarnição, e,
também, do Comandante da Base Aérea. Ninguém mais foi punido. Mas esse fato gerou
uma coesão muito grande no meio militar de Minas Gerais; somado a uma série de
outros, fez com que as tropas de Minas tivessem fortalecido o espírito
revolucionário, levando-as à eclosão da Revolução de 1964” (Tenente-Coronel Pedro Cândido Ferreira Filho,
Tomo 3, pg 349).
“Esse jornalista do Binômio,
de nome José Maria Rabelo, era um dos homens fortes do Brizola, que nunca
conseguiu se eleger para coisíssima nenhuma, mas acabou premiado com uma
vice-presidência do Banerj, quando o Brizola se elegeu Governador aqui no Rio”
(Coronel Carlos Alberto Guedes, Tomo 9, pg. 261).
“Este oficial-general
[Punaro Bley], quando tenente, fora interventor do Espírito Santo, onde há um
estádio com seu nome, e, com esse passado político da década de 1930, a
imprensa, especificamente um jornal chamado Binômio,
começou a escrever artigos tentando desmoralizá-lo e culminou com, em dezembro
de 1961, quando, além de chamá-lo de ‘gorila’, era o de menos, chamou-o de
desonesto em artigo violentíssimo, que atentava contra a sua honra pessoal;
sentindo-se ofendido moralmente, foi tomar satisfações com o então redator do
jornal.
O Binômio começou, em Minas, fazendo oposição ao Governo Juscelino
Kubitschek em 1955; algumas gozações, algumas brincadeiras e, com o tempo, ele
foi descambando, inclusive veio a se constituir em um dos jornais daqueles que
nós chamamos de imprensa marrom.
Ele passou a viver de
ataques a pessoas honradas, a firmas que não forneciam propaganda para a
manutenção do jornal, assacar contra a honra de empresários, contra filhas de
empresários e lançavam tudo aquilo no tabloide, ao mesmo tempo em que, quando
havia um desmentido, era muito pequeno e muito discreto, mas o mal já estava
feito.
Essa reportagem do jornal Binômio sobre o General Bley fez com que
ele pessoalmente numa manhã, vésperas de vir para o Rio – ele ia entrar de
férias – fosse tomar satisfações com esse jornalista que assacara contra a sua
honra pessoal, independente do achaque ao comandante da guarnição. Ele foi
sozinho, com um capitão que estava de serviço na ID/4, que ficou esperando
embaixo, na Rua Curitiba, onde se localizava o escritório do Binômio, que não era impresso lá, e sim
nas oficinas do Diário de Notícias do
Rio de Janeiro.
Ele subiu e, ao ser recebido
por esse jornalista, Rabelo [José Maria Rabelo] e outros mais, fizeram uma
armação e ele acabou – quando viram que estava sozinho – sendo agredido por
esse jornalista, que o fez até descer sangrando no elevador do prédio em que se
localizava o jornal Binômio.
O capitão ajudante-de-ordens
dele, que passava pelo local, vendo o capitão que estava de serviço lá,
aguardando no carro, procurou saber onde estava o general e foi atrás dele, mas
quando chegou no prédio, o general já estava deixando o elevador, sangrando,
com o uniforme com manchas de sangue que saíam do seu nariz, fruto da agressão
que sofrera.
Isso causou uma revolta
muito grande na guarnição federal de Belo Horizonte, inclusive porque, pela
idade do general, estava já com 63 anos, e o seu aspecto físico, franzino,
contrapôs-se esse jornalista, no vigor dos seus quarenta e poucos anos, que não
titubeou em agredi-lo.
Na ocasião, eu era 1º.
Tenente, servia no 12º. RI, onde exercia a função de Secretário, tendo como
comandante o Coronel Itiberê Gouveia do Amaral.
No nosso quartel, houve uma
reunião, era pouco antes do almoço, em que os oficiais do CPOR (Centro de
Preparação de Oficiais da Reserva), que era a Unidade vizinha ao 12º. RI, foram
se encontrar conosco e, inclusive, o pessoal da Base Aérea; o Coronel Luna, que
comandava a Base, também revoltado com a repercussão do fato e a afronta ao
general, mandou um ônibus para o 12º. RI com alguns oficiais – naquele tempo
nós chamávamos aquele tipo de ônibus de papa-fila.
O Coronel Itiberê foi
chamado ao gabinete do General Punaro Bley, que proibiu qualquer ação contra o
jornalista que provocara o incidente com ele, porque era um problema pessoal, e
que ele iria, depois das férias, resolver da melhor maneira possível, mas não
queria que se fizesse nada.
Quando o Coronel Itiberê
voltou ao 12º. RI, já encontrou a tropa praticamente preparada para sair, à sua
revelia, é verdade, indignada com aquele acontecimento. Digo por mim, que era
1º. Tenente – andava-se fardado nessa época – era até universitário em Belo
Horizonte, além do meu curso na Academia Militar, fazia, na Faculdade de
Ciências Econômicas de Minas Gerais, Administração de Empresas, e frequentava
aquele meio universitário normalmente, como aluno.
Imaginava-me saindo do
quartel, muitas vezes fardado, indo para a aula, sem tempo de trocar a roupa – o curso era noturno – ser recebido
por outros elementos com chacota ou com agressão. Não se agride um general –
era o que passava pela minha cabeça de 1º. Tenente, que estava, ali, estudando,
cumprindo uma outra atividade, vamos dizer assim, extracarreira, sem prejuízo
da mesma.
Então, houve uma revolta
muito grande no meio da tropa, e o Coronel Itiberê, quando chegou ao quartel e
viu o espírito, ele disse apenas o seguinte: ‘Não, se a tropa vai, não quero
soldado metido nisso...’. Apenas os oficiais e sargentos é que tinham se
movimentado, não foi nenhum recruta.
Inclusive, porque já
estávamos num período de desincorporação, o efetivo era pequeno, o que não vem
ao caso, mas não se queria envolvimento de soldado. Ele falou assim: ‘Não, eu
também sou contra, vou descumprir a ordem que recebi do General Punaro Bley,
mas vocês vão me dar licença, que vou ao Quartel-General da ID/4 dizer a ele
que o pessoal vai sair para uma ação efetiva, e eu, por ser o mais antigo, é
quem vai comandar’.
Ele não abriu mão de
comandar e organizar o efetivo, para que não fosse uma tropa desorganizada,
fosse uma tropa com um comando. Veio, também, o Comandante do CPOR, Coronel
Roberto Gonçalves, e o Coronel Luna, que comandava a Base Aérea.
Depois disso, nos deslocamos
e chegamos ao local em que se situava a sede do Binômio – até então muita gente, nem eu sabia, que o jornal não era
impresso em Belo Horizonte – e, para surpresa nossa, havia apenas lá um retrato
muito grande do Che Guevara, atrás da mesa do Diretor do Binômio, que já não estava lá.
Obviamente, ele já tinha saído,
tinha procurado se esconder; depois, fugiu até vestido de padre, essa é que é a
realidade, para se exilar durante algum tempo enquanto os ânimos se acalmavam.
A única coisa que se fez foi o que se chama de ‘empastelamento’, do que havia
pela frente.
Era máquina de escrever,
eram cadeiras, esse retrato, que foi quebrado, e o dono do jornal que, na
ocasião era o Deputado Euro Arantes, apareceu para emprestar solidariedade e
acabou sendo um dos elementos que foram conduzidos à Base Aérea – inicialmente,
todo mundo apanhado lá foi encaminhado à Base Aérea – para que se pudesse ouvir
o que tinham a dizer.
Logo depois, por
interferência do Governador Magalhães Pinto, todos foram liberados e esse fato gerou
um inquérito policial militar, ao qual respondi, assumindo a responsabilidade
pela minha participação. Esse acontecimento, por uma coincidência muito grande,
provocou o retorno de meu pai [General Carlos Luís Guedes] ao Comando da ID/4,
em Belo Horizonte.
(...)
Com relação, ainda, ao
jornal Binômio, o fato ali ocorrido
trouxe até uma satisfação muito grande à população civil de Belo Horizonte,
porque era uma imprensa marrom declarada e os que o patrocinavam, seja por
pressão, seja por qualquer outro motivo, dando dinheiro para o Binômio, ficaram livres dessa obrigação”
(Coronel Carlos Alberto Guedes, Tomo 9, pg. 235-238).
Obs.
O
Coronel Carlos Alberto Guedes, às páginas 251 a 253 do Tomo 9, transcreve o
editorial de O Globo, no Jornal do Brasil, do dia 27 de dezembro
de 1961, “Para preservar a verdade”, relatando os motivos do empastelamento do
pasquim Binômio.
F. Maier
O sargento panfleteiro comunista da
Central do Brasil
“Recebo
o Comando da 4ª. Bateria de Canhões de um 1º. Tenente que já conheci pelo seu
passado e sabia que estava comprometido com o pessoal de esquerda. (...) Formei
a Bateria e fiz a chamada. Faltava um sargento. Procurei saber, então, onde é
que estava esse sargento.
Informaram-me
de que ele faltava ao quartel porque, diariamente, ia para a Central do Brasil
– estação ferroviária de passageiros, no centro do Rio de Janeiro -, onde
estacionava uma Kombi do Partido Comunista, junto do qual ele ficava, com o
microfone na mão, fazendo propaganda para o partido. Verifiquei que isso era
verdade, coloquei-o no pernoite e dei parte de ausência. Quando ele estava para
passar a desertor, apresentou-se. Chegou num estado deplorável, com um uniforme
todo sujo, barbudo, uma bota – nem coturno usava – uma bota ‘natal’, com uma
faca, eu me lembro, no cano da bota; mandei que ele fosse arrumar-se, cortar o
cabelo, fazer a barba... Ele saiu e não o vi mais. Soube que ele tinha baixado
ao hospital, naquele mesmo dia, e que, do nosocômio militar, saía todos os dias
para fazer a propaganda junto à Kombi, em frente à Central do Brasil. Esse
sargento foi cassado pelo AI-1.
Da
mesma forma, e logo em seguida, no primeiro ou no segundo dia, fui fazer uma
inspeção para receber a carga do material bélico da Bateria e constatei que
faltava muito armamento e munição. Procurei saber onde ele se encontrava.
Procura daqui, procura dali...
- O
armamento está nessa sala, aqui na frente.
-
Mas, com quem está a chave? Onde ela está?
A
chave e a sala eram utilizadas pelo sargento que estava na Central, fazendo
propaganda do Partido Comunista. Mandei, então, arrombar a dependência, retirar
o armamento e a munição que lá estavam e retoná-los à sala de material bélico
da Bateria, local adequado à guarda desse material” (Coronel Carlos Alberto
Brilhante Ustra, Tomo 5, pg. 220).
A vil situação salarial dos militares
Nos anos que antecederam o
Movimento de 1964, os militares tinham vencimentos aviltantes. Assim, muitos
aumentavam seus orçamentos domésticos fora do expediente, trabalhando como
professor, escrevendo para jornais, ou fazendo serviços diversos, como
motorista de táxi. O próprio general Castello Branco escrevia artigos com o
pseudônimo de “Mister X” e “Mister Y”.
Devido a essa penúria
financeira, quando eram transferidos para regiões distantes de suas famílias,
muitos militares viajavam sozinhos, deixando a mulher e filhos com algum
familiar, como pai ou sogro, só voltando de tempos em tempos.
“Em 1952, ele [Castello
Branco] foi promovido a General-de-Brigada pelo Getúlio Vargas, em 1958, a
Divisão, pelo Juscelino e, em 1962, a General-de-Exército, pelo João Goulart.
Na promoção a General-de-Divisão, foi nomeado para o Comando da 8ª. Região
Militar, em Belém, castigo imposto por causa de suas críticas, usando os
codinomes Mister X ou Mister Y, ao episódio em que o Marechal Lott (Henrique
Baptista Duffles Teixeira Lott) foi agraciado com uma espada de ouro.
Na chegada à capital
paraense, ainda no aeroporto, esposas das autoridades do Exército, Marinha e
Aeronáutica, ofertaram à D. Argentina uma espada pequena, de ouro, cravejada de
brilhantes. Mais tarde, depois da morte da esposa – faleceu nos braços de
Arminda – o General Castello deu-a de presente à Arminda. Minha esposa nunca a
usou, mantendo-a guardada” (Coronel Anysio Alves Negrão, Tomo 15, pgl 327).
“Naquela ocasião, a bem da
verdade, todos os integrantes do Exército viviam uma quadra bastante
estressante; muitos companheiros tinham dificuldade para sustentar a própria
família, por isso se dedicavam, além dos estudos da Escola [ECEME], ao
exercício do magistério em vários estabelecimentos de ensino. Outros
trabalhavam como redatores em jornal. Fui convidado para empregar-me como
redator auxiliar no Jornal do Brasil;
não aceitei porque, com família muito grande – tinha cinco filhos – o pouco
tempo de que dispunha seria mais bem aproveitado para cuidar da prole” (Coronel
Gabriel Antônio Duarte Ribeiro, Tomo 6, pg. 78).
“A
deterioração da autoridade do Governo começava a refletir-se nas Forças
Armadas, mais precisamente na guarnição do Rio de Janeiro, então o palco de
maior ressonância no País. Houve, ainda, especulação de que os militares teriam
se engajado com maior ímpeto no movimento revolucionário, viabilizando-o, em
função das péssimas condições salariais que viviam na ocasião. É possível.
Para
dar uma noção do quadro salarial que vivíamos na época, exemplifico com o meu
caso. Era Segundo-Tenente e chefiava 120 funcionários civis. Apenas seis deles
ganhavam menos do que eu. Todos os outros 114 ganhavam mais. E eram
funcionários nível motorista, carpinteiro etc. Só ganhavam menos do que eu os
que não tinham qualquer habilitação. Não sei avaliar o peso dessa situação e
como ela influenciou na decisão dos chefes militares que montaram e deflagraram
a Revolução. Mas é fácil imaginar que era impossível ficar insensível aos
diferentes movimentos que espocavam pelo País, pedindo o fim daquela
conjuntura, daquela vergonha” (General-de-Brigada Álvaro Nereu Klaus Calazans,
Tomo 8, pg. 300-301).
“...
A fila do arroz, a fila do feijão, a fila do açúcar, a falta de energia. Uma
greve por semana. Às vezes, duas ou três, eram as greves de solidariedade. O
quadro era de inépcia e de crescente subversão.
Uma
outra coisa: tenho que falar o que eu vivi. Lembro-me, segundo-tenente, tinha o
meu filho com dois anos, o mais velho, que teve um problema no pé, sendo
obrigado a engessá-lo. Fui ao médico, paguei a consulta e tive que empenhar uma
joia. Entrei na Caixa Econômica Federal e empenhei um anel para pôr um gesso e
pagar uma consulta de um médico. E depois? Não tinha mais dinheiro. Fui ao cabo
enfermeiro do quartel e disse para ele: ‘Ensina-me como fazer’. ‘Tenente, o
senhor vai à farmácia e compre atadura gessada – é barato e o senhor não vai
mais precisar gastar’. Passei a engessar o pé do meu filho, porque não tinha
dinheiro para pagar! Essa era a situação de um tenente paraquedista que ganhava
90% a mais do que os outros. A nossa gratificação era de 90% para saltar de
paraquedas e para ter a coluna lesionada como tenho hoje. Atualmente, a
gratificação caiu para 20%, houve uma deterioração” (General-de-Brigada Durval
Antunes Machado Pereira de Andrade Nery, Tomo 10, pg. 182).
“A
coisa vinha em ebulição. Era 1º. Tenente e ganhava menos do que o salário
mínimo da época. Quem tinha dado aquele salário mínimo grande? Tinha sido o
João Goulart. Nós, militares, estávamos sempre sendo amesquinhados. Ticamos
impressionados ao ver a Polícia do Exército tomar conta de um comício contra o
próprio Governo e contra o Exército. Ele, João Goulart, pregando contra ele
mesmo e contra as suas Forças Armadas!” (Coronel João Franco Pontes Filho, Tomo
11, pg. 131).
O medo generalizado dos oficiais, que
desconfiavam dos praças quando tiravam serviço de oficial-de-dia, devido às incitações
de Brizola
O “esquema militar”,
alardeado pelo Chefe da Casa Militar de Jango, general Assis Brasil, de colocar
praças das Forças Armadas contra oficiais, trouxe funestas consequências. A
desconfiança era total. O oficial-de-dia da Unidade não dormia, ficava a noite
toda fazendo ronda, com a arma engatilhada, com medo de ser assassinado
enquanto dormia no seu quarto (Lembrai-vos de 1935!). Os “laranjeiras” também
não tinham sossego. Era um clima de terror, não se sabia em quem confiar.
“ ‘Lisbôa, tome cuidado.
Ainda existem aqui no quartel algumas alamedas sem nome’. Novo na Unidade, procurei
informar-me e fiquei ciente de que as alamedas tinham o nome de militares
mortos em serviço... A partir daí, recordando-me dos ensinamentos de 1935,
tirava serviço a cada três dias, mas não me recolhia durante a noite para o
quarto destinado ao oficial-de-dia, localizado no corpo da guarda. Agindo com
mais cautela, passei a andar pelo quartel atento a tudo e, quando exausto,
entrava na boléia de qualquer viatura para dar uma breve ‘cochilada’.
O ambiente era tenso. Os
tenentes passaram a concorrer a outra escala de serviço, a de Comandante de
Pelotão de Choque, devendo estar preparados para serem empregados,
particularmente nas estações da Estrada de Ferro. Algumas vezes desloquei-me
para Deodoro, ocupei a estação com os meus soldados e, pelo menos em duas
ocasiões, deparei-me com a difícil situação de ter que me confrontar com
badernistas que tentavam quebrar os trens. Na missão, quase sempre indefinida
que recebia de meus superiores, apesar de inquirir a respeito, nunca me foi
dada explicitamente a ordem de ‘quando atirar’. A idéia que tinha era de que
estava ali como uma espécie de ‘bucha de canhão’, com a finalidade de permitir
criar uma situação difícil e incômoda, envolvendo o pessoal militar que, na
realidade, atendesse a outros objetivos não claramente explícitos.
(...)
Certa vez fui à 3ª. Bateria
(os mais perigosos estavam reunidos nas 1ª. E 3ª. Baterias) procurar o Tenente
Amorim. Ele era o Diretor do Curso de Formação de Cabos (CFC) e,
intencionalmente, não coordenava a instrução com os tenentes das Baterias.
Certamente, agia assim na tentativa de desestabilizar a Unidade e estava
conseguindo o seu objetivo, pois a instrução de cabo era um verdadeiro caos...
Encontrei-o na reserva dos sargentos recebendo, de um deles, detalhada
orientação sobre ‘ordens’ que deveriam ser seguidas. Perplexo, observei que o
referido tenente estava sendo enquadrado pelo sargento, em flagrante inversão
de todos os valores hierárquicos que conhecia. Compreendi, naquele momento, que
alguma coisa de grave estava para acontecer...” (Coronel José Carlos Lisbôa da
Cunha, Tomo 3, pg. 340).
“Em
1922, fundou-se o Partido Comunista Brasileiro, cujo chefe maior foi Luís
Carlos Prestes. Daí para frente, os comunistas brasileiros, orientados pela III
Internacional Comunista – Komintern – e apoiados por Moscou, começaram a
articular um movimento para implantar no Brasil o regime comunista. Este
movimento se desencadeou em novembro de 1935, começando em Natal-RN, com a
deposição e prisão de autoridades, com assaltos, sequestros, estupros e todo
tipo de violência. Estendeu-se para o Recife, onde houve confrontos e mortes
entre as forças da ordem e bandos comunistas armados. Tornou-se mais grave no
Rio de Janeiro. Na noite de 27 de novembro de 1935, foram atacados vários
quartéis e mortos 28 militares, enquanto dormiam em seus alojamentos. O mais
brutal desses ataques ocorreu no 3º. RI, na Praia Vermelha. Essa Intentona
Comunista de 1935, por suas características de traição e perversidade,
traumatizou a alma brasileira e vacinou o nosso militar contra essa ideologia
malsã. Foi, portanto, um marco deplorável na vida nacional e o antecedente
preponderante da Revolução de 1964” (General-de-Brigada Manoel Theóphilo Gaspar
de Oliveira Neto, Tomo 4, pg. 94).
“De
um modo geral, nos quartéis, existia sempre uma minoria muito atuante, cooptada
para implantar uma espécie de um processo de insubordinação. Havia um ambiente
de muita insegurança e, pior, de desconfiança, uma coisa que nunca vira
anteriormente. Havia uma desconfiança um do outro. Ninguém sabia quem era quem
ali, ou seja, quem era a quinta-coluna, que ali estava para gerar a
indisciplina. O quadro fazia-nos lembrar a Intentona de 1935, na qual os
comunistas, obcecados pela sua ideologia descabida, mataram seus colegas
dormindo. O postulado que eles obedecem cegamente é aquele que volto a
salientar – os fins justificam os meios” (Coronel Audir Santos Maciel, Tomo 11,
pg. 147).
FAKE NEWS? TAMBÉM TINHA, COM A RÁDIO MAYRINK
VEIGA, PORTA-VOZ DE BRIZOLA
Malas
de dinheiro, já havia naquela época...
“Agora me lembrei de um
pequeno episódio. O Brizola conhecia bem o poder da mídia, ele prestava muita
atenção a esse lado. Veio para o Rio trazendo uma mala de dinheiro, porque ele
não assinava cheque, cuja origem naturalmente não era possível traçar, e
comprou a Rádio Mayrink Veiga.
Essa rádio falava bem do
Jango e mal dos militares. Lá no Sul, ele tinha a Rádio Farroupilha, uma outra
estação, com a mesma finalidade, assim como em vários outros pontos do Brasil
ele tinha estações de radiodifusão. Vivia fazendo propaganda a favor do
comunismo.
O Lacerda, antes de o
Brizola ser o dono, tinha conseguido umas horas na Rádio Mayrink Veiga. Um dia
o Lacerda ia saindo da Rádio, quando foi interceptado por dois ou três capangas
do Mendes de Moraes, que lhe deram uma surra, a primeira surra da vida dele, na
calçada da Mayrink Veiga” (Coronel-Aviador Gustavo Eugenio de Oliveira Borges,
Tomo 10, pg. 301).
“Dia 31 começamos a ouvir,
tarde da noite, notícias sobre a movimentação conduzida pelo Mourão que, como
se sabe, saiu intempestivamente. O próprio Castello ainda tentou fazer com que
ele voltasse – já não dava – quando, então, o Magalhães Pinto decidiu o início do
processo revolucionário. Não tínhamos informação segura, era tudo precário
demais. Comunicação quase nenhuma, ouvir o rádio, uma dificuldade enorme.
Escutava-se a rádio Mayrink Veiga, noticiando que o Castello estava preso e
outras coisas mais, um monte de inverdades. Mas eu tinha uma ligação com São
Paulo com São Paulo, através de radioamador. Eu era radioamador. Tínhamos um
grupo clandestino com o Coronel Sebastião.
Dia 31, à noite, passamos em
prontidão rigorosa [26º. BC, Belém]. Os oficiais – todos os oficiais menos dois
– eram partidários de um movimento, que nós chamávamos de ‘vamos almoça-los,
antes que nos jantem’. Essa era a expressão. Os adversários estavam prontos
para dar um golpe e nós queríamos nos antecipar. Esse era o ambiente que
dominava: somente dois oficiais do Estado-maior faziam restrições, não chegando
a serem contra” (Senador Jarbas Gonçalves Passarinho, Tomo 5, pg. 65-66).
A atuação desestabilizadora das Ligas
Camponesas, de Francisco Julião, principalmente em PE, com apoio de Miguel
Arraes, e dos Grupos dos Onze, de Brizola, principalmente no Sul do Brasil.
“Esse
homem, Francisco Julião, inclusive foi eleito deputado federal, aproveitou a
situação existente e veio a criar, naquela região, as ‘Ligas Camponesas’,
espécie de quistos, perigosos e difíceis de controlar. O Governo do Estado de
então, Miguel Arraes, estava de acordo com isso tudo e, também, o Professor
Paulo Freire, organizador de uma cartilha que ensinava a ler assim: ‘Letra ‘f’
– ‘f’ de fome. O Brasil tem fome” (General-de-Brigada Ruy Leal Campello, Tomo
III, pg. 60).
“As Ligas Camponesas foram
criadas em 1958 por Francisco Julião. Até 1961, a proposta ressaltada por
Julião era decididamente correta, pois recomendava a utilização de instrumentos
legais para reivindicar, organizar e atribuía papel privilegiado aos advogados.
Em 1961, já existiam federações das Ligas em dez Estados e foi fundado o
Conselho Nacional das Ligas Camponesas, com representação em 13 estados. Mas,
nesse ano, Julião visita Cuba e de lá retorna com o pensamento impregnado pelas
ideias locais. Abandona a orientação seguida até então e passa a pregar uma
concepção socialista coletivizante de reforma agrária, passando as Ligas a
representarem os focos de atração do movimento camponês. Julião se manifesta,
nacionalmente, através das Ligas e, em 1963, procura ampliar a ação das mesmas
criando o Movimento Unificado da Revolução Brasileira (MURB), que englobaria,
numa frente única, os setores radicais da subversão. Embora Julião mantivesse
estreitas ligações com o PCB, o seu movimento inspirava-se nas ideias da China
Popular e de Cuba. Já em 1962, no dia 21 de abril, lançava, em Ouro Preto, o
Movimento Revolucionário Tiradentes (MRT) e pregava a reforma agrária, ‘na lei
ou na marra’. Comprou fazendas e nelas instalou campos de treinamento de
guerrilhas. Essa maneira de agir veio enfraquecer o movimento das Ligas. O MURB
contava com o apoio de elementos treinados em Cuba, na União Soviética e na
República Popular da China e poderia ter-se transformado em executor de uma
ação armada de guerrilha rural de vulto, não fora o Movimento de 1964.
Em outubro de 1961, foi
lançada, em Goiânia, a Frente de Libertação Nacional, sob a liderança dos
governadores estaduais Leonel Brizola, Mauro Borges e Miguel Arraes, e de
Francisco Julião; Barbosa Lima Sobrinho, Bento Gonçalves e várias outras
pessoas, escolhidas para mascarar a nítida orientação comunista, estavam
presentes. A Frente era uma tentativa de
formação de uma frente única, de caráter amplo, inspirada no nacionalismo e
fundamentada nos motivos de emancipação econômica do País. Ressurgia, assim,
até com semelhança no nome, a Frente Democrática de Libertação Nacional,
lançada por Prestes em 1950, por intermédio do Manifesto de Agosto, coo é
conhecido. A Frente não era inteiramente ligada ao PCB, porque nela
predominavam as tendências chinesa e cubana” (General-de-Exército Sebastião
José Ramos de Castro, Tomo 1, pg. 120-121).
“Francisco Julião esteve em
Cuba, fez curso de guerrilha rural, e todos nós sabíamos disso. Peguei essa
fase em 1961, 1962, aqui em Pernambuco, quando aconteceu aquela greve geral dos
estudantes secundaristas, em 1961, e o Governo Federal mobilizou tropas do
Exército.
Do Rio de Janeiro veio a
tropa paraquedista, veio tropa da Marinha, e tropa da Paraíba...
A greve geral foi estimulada
por quem? Pelos ativistas comunistas e teve todo o apoio do Governo do Estado,
que não mobilizou a Polícia para reprimi-la. O Exército é que foi para a rua
acabar com a greve” (Coronel Clidenor de Moura Lima, Tomo 6, pg. 116).
“As ligas camponesas, aqui
no Nordeste, particularmente na Paraíba e em Pernambuco, faziam, talvez, pior
do que o MST de hoje, porque ameaçavam diretamente com invasões armadas e
apregoavam o apoio que recebiam de Cuba.
Sabíamos que era real, não era sonho, porque tínhamos informações e conhecíamos
perfeitamente o mecanismo que usavam. Isso nos preocupava profundamente, a tal
ponto de o comandante da Base Aérea – o Coronel Hipólito, que também
participava dessas reuniões – querer derrubar o avião do Jango, aproveitando-se
de uma viagem dele para apoiar as ‘Ligas Camponesas’, na Paraíba. Mais calmos,
o comandante do 23º. BC, eu e o Dr. Armando Falcão convencemo-l0 de que aquilo
era inoportuno, já que o Sr. João Goulart, depois, seria endeusado”
(Tenente-Coronel Idalécio Nogueira Diógenes, Tomo 4, pg. 179).
“Muito superficialmente, as
Ligas Camponesas foram herdeiras naturais das primeiras tentativas feitas no
campo para mostrar força e poder, pressionando os órgãos do Governo que
tratavam do setor de terras. Lembro-me de que começaram no Estado do Rio de
Janeiro. A Fábrica Nacional de Motores (FNM) foi invadida sob o comando do
falso Padre Aníbal. No campo agrário propriamente considerado, foram frequentes
os distúrbios e invasões chefiados pelo Deputado Francisco Julião. Realizaram
marchas sobre engenhos e fazendas, especialmente no Nordeste. O primeiro nome
das Ligas foi Bloco Operário Camponês. Invasões semelhantes foram levadas a
cabo, também, no Rio Grande do Sul.; depois, realizou-se em Goiânia, o
Congresso dos Camponeses Sem Terra para estabelecer os objetivos do Movimento.
Quanto ao ‘grupo dos onze’,
sob liderança de Leonel Brizola, jamais chegou a tornar público os estatutos
desta organização. Todas as sextas-feiras, utilizando o rádio, apresentava
ideias sobre os grupos que chamava de Comandos Nacionalistas ou ‘grupo dos onze’.
Deixava transparecer que a eles caberiam tipos específicos de missão: uma
ofensiva, em qualquer caso de golpe, fosse qual fosse sua origem. Se eles
fossem dar um golpe, poderiam contar com a participação desses grupos, como
também nas medidas preliminares de defesa.
Em 30 de novembro de 1963,
afirmou Brizola: ‘Estes grupos não estão sendo organizados para fazer crochê,
jogar cartas ou tomar chá. Estão sendo organizados para a ação’. Mas era voz
corrente que o mais importante dessas ações seria a neutralização por ou mesmo
a destruição dos chefes militares. O grosso desses grupos era constituído por
comunistas militantes ou por simpatizantes das três Forças Armadas,
principalmente, graduados e soldados” (Coronel Hernani D’Aguiar, Tomo 9, pg.
175-176).
“Tanto as ‘Ligas Camponesas’
de Francisco Julião, que agiam no Nordeste, particularmente em Pernambuco, com
a tolerância do Governador Miguel Arraes, quanto os ‘grupos dos onze’, cuja
formação, em todo o País, era fomentada pelo Governador do Rio Grande do Sul,
Leonel Brizola, para agirem como uma milícia paramilitar, estavam no contexto
da preparação da tomada do Poder e implantação no Brasil de uma República
Popular Sindical.
Além desses, podemos citar:
O Movimento Cultural Popular
(MCP), organizado em Pernambuco por Gregório Bezerra, notório comunista,
egresso de 1935, com o objetivo de conscientizar os estudantes com relação aos
jargões comunistas; o Comando Geral dos Trabalhadores (CGT), braço sindical a
serviço de Jango, como arma para a implantação da tal república sindicalista”
(General-de-Exército Carlos Tinoco Ribeiro Gomes, Tomo 10, pg. 33).
“Posso dizer que as ‘Ligas
Camponesas’ e os ‘grupos dos onze’, na verdade, foram blefes. Eram usados pela
imprensa, faziam estardalhaço, mas sentir a existência... e a ação... Não houve
nenhuma, absolutamente. Apenas no interior de Goiás foram apreendidos uns
caixotes com armas que eram destinadas ao ‘grupo dos onze’, mas o pessoal fugiu
e nunca mais apareceu. Havia um oficial amigo do Jango, Coronel Seixas, responsável
pela repressão, e que, ao invés de mandar aquelas armas para o Exército, enviou
para a Presidência da República. As armas tinham vindo de Cuba” Coronel Renato
Brilhante Ustra, Tomo 5, pg. 256).
“A partir desses quatro ou
cinco dias após o 31 de março, começaram a ocorrer aqui alguns inquéritos.
Prenderam muitas pessoas envolvidas com terrorismo, outras com guerrilhas e
corrupção. Trabalhei num inquérito do Banco do Brasil. Também participei, nesse
período, até o final do ano, da prisão do Francisco Julião. Muito inteligente,
nunca tentou esconder nada, sempre se confessou esquerdista, comunista
convicto, e que não iria mudar a posição dele. Era uma conversa muito
interessante. Durante um serviço que tirei no Batalhão, Como oficial de dia,
solicitou a Bíblia, porque não tivera tido oportunidade, na vida, de ler o
Livro Sagrado” (Coronel Carlos Fernando Freitas Almeida, Tomo 5, pg. 293).
“Existia um médico comunista
em Goiânia que reuniu um pessoal das ‘Ligas Camponesas’ e começou a marcar as
portas e janelas das casas daqueles que concordavam com a Revolução e não eram
a favor do comunismo. Isso aconteceu antes e nos primeiros momentos após o 31
de Março; esse pessoal, dizia-se na cidade de Goiânia, seria fuzilado!”
(Coronel Gabriel Antônio Duarte Ribeiro, Tomo 6, pg. 82).
“Na Paraíba, o Governador
Pedro Gondim não era de confiança dos militares, em virtude de suas atitudes
populistas; os integrantes das Ligas Camponesas faziam passeatas armados de
foices, principalmente nas cidades próximas das usinas (de açúcar); os portuários,
também, em Cabedelo, faziam comícios agressivos, procuravam o apoio das Ligas
do Francisco Julião.
Se um militar chegasse
fardado na região portuária de Cabedelo, eles mostravam seu desapreço, eram
acintosos.
(...)
Antes da Revolução de Março
de 1964, houve casos de invasão de usinas. Em Goiana, PE, redundou na morte de
empregados e policiais, assassinados pelos camponeses revoltados.
A cidade de Cabedelo, PB,
foi invadida por camponeses armados que ocuparam até prédios públicos, como a
prefeitura; o povo se escondeu daquela massa, isso a cerca de 18 km de João
Pessoa” (Coronel Expedito Bandeira de Araújo, Tomo 6, pg. 154-155).
“O senhor tem conhecimento
de alguma atividade que estaria prevista par o dia 1º. de maio de 1964?
Aqui em Recife, um desfile das
célebres ‘Ligas Camponesas’ e de trabalhadores rurais. Já existia até uniforme:
um macacão, faltando apenas um bordado que seria colocado na lapela, estampando
a foice e o martelo. Estive com esse uniforme em minhas mãos.
Como chegou às suas mãos?
Por ser intendente, conhecia
o pessoal que fabricou o macacão. Não me lembro do nome da firma, da confecção
que os fez, mas localizava-se na Rua da Matriz; não sei se apenas ela” (Coronel
Clycio D’Azevedo, Tomo 6, pg. 145).
“Os fatores internos
começaram muito antes de 1964. Já em 1961 o manual de guerrilha do Che Guevara
era distribuído no Brasil pelo Partido Comunista Brasileiro (PCB) e no Nordeste
foram implantadas as ‘Ligas Camponesas’. Tudo uma repercussão ou consequência
interna de um fator externo, a guerra fria grassava no mundo da época. A União
Soviética e todos os seus satélites – Alemanha Oriental, Checoslováquia, Cuba
etc. exportavam revoluções para os países do Terceiro Mundo. Dissidentes apenas
sobre os métodos a serem adotados, também a China e seus aliados buscavam a
tomada do Poder e a implantação do socialismo, em escala mundial, através de
movimentos revolucionários” (General-de-Brigada Daniel Lomando Andrade, Tomo 8,
pg. 235).
“Para se ter uma ideia da
situação antes do Movimento Democrático, as ‘Ligas Camponesas’, chefiadas por
Francisco Julião, invadiam fazendas, desrespeitando o direito de propriedade. O
presidente da Superintendência da Reforma Agrária (SUPRA), João Pinheiro Neto,
pregava as invasões de terras, a violação do direito de propriedade, incêndio
de lavouras, matança de gado, enfim a quebra do setor produtivo agrícola. Numa
dessa pregações, em Curvelo, o povo da cidade o expulsou a tiros para fora de
Minas” (Doutor Carlos Eduardo Guimarães Lousada, Tomo 7, pg. 348).
“As ‘Ligas Camponesas’ nada
mais foram do que uma instrumentalização feita em homens bons, em homens que
estão precisando de ajuda ainda hoje. Sou nordestino, não tenho nada que ser
contemporizador com a mentalidade dominante de certa camada do Nordeste, que
conheço muito bem, que sufoca, que priva da dignidade o ser humano. Mas não é
reduzir isso somente para o usineiro. Não é só o usineiro, somos todos nós.
Então, resumiria assim: esse
absurdo de não ter havido – não chamo a reforma agrária – o desenvolvimento
agrário no Brasil, capaz de solucionar o problema das demandas dessa gente, que
precisa de terra ainda hoje. E isso foi, entre outras bandeiras sociais,
assumidas pelo senhor Francisco Julião, que as transformou através de cartilhas
que foram apreendidas – e eu li algumas delas, em instrumento da subversão
comunista, no campo. Então, ninguém precisa me ensinar essas coisas. Cartilhas
ensinando a violência e armamento foram apreendidos nos aparelhos das ‘Ligas
Camponesas’. Em
Minas Gerais, em 1962, foi apreendido um ônibus da Faculdade de Arquitetura da
Universidade de Minas Gerais que estava se deslocando lá para o Nordeste com um
carregamento de armas.
(...)
No seu discurso de posse,
ele [Castello Branco] foi até o Estatuto da Terra, que ainda hoje é o melhor
documento que existe no Brasil sobre isso. Pois bem, aonde existia a
possibilidade de compatibilizar este objetivo a ser atingido – não digo nem
ideal – com a reforma agrária na marra, na violência, na usurpação, na loucura,
na cegueira, no fanatismo, inspirado no exemplo de Cuba, que muito encantava os
nossos líderes socialistas? Essas ‘Ligas Camponesas’ nada mais eram do que
braços políticos que estavam sendo transformados em braços armados da guerrilha
rural” (Coronel Francimá de Luna Máximo, Tomo 11, pg. 222-223).
“Entendo bastante do ‘grupo
dos onze’ porque fui designado para fazer um IPM (Inquérito Policial Militar)
desses grupos. Sobre as ‘Ligas Camponesas’, sei que elas foram criadas e eram
chefiadas pelo Francisco Julião, mas elas cresceram mais no Nordeste e
pretendiam, sob orientação cubana, fazer a reforma agrária ‘na marra’, como
eles diziam. (...)
Quanto ao ‘grupo dos onze’,
disse que fui designado para fazer o IPM. Era a milícia ‘brizolista’. Com ela,
o Brizola pretendia se opor às Forças Armadas em apoio ao ‘cunhado-presidente’
e depois em benefício próprio, porque ele já teria, naquela época, pretensões
de chegar ao Palácio do Planalto. Eles assumiram a Rádio Mayrink Veiga, que era
uma estação do Rio de Janeiro, de certo renome, e ali instalaram o seu
quartel-general. O seu chefe de estado-maior na
rádio era um cidadão chamado Paulo Shilling, cuja filha, extremista de
esquerda, foi presa e não sei se desapareceu ou não no Uruguai, onde andou
exercendo atividades terroristas. O ‘grupo dos onze’ se propôs a criar uma
milícia à imagem de uma equipe de futebol – onze jogadores – pois achavam que
aquilo tinha um chamamento místico sobre a população: futebol, onze jogadores,
onze integrantes. Na noite da Revolução – noite de 31 de março – eles tentaram
convocar a sua milícia, mas não conseguiram” (General-de-Brigada Celso dos
Santos Meyer, Tomo 10, pg. 133).
“O ‘grupo dos onze’ era uma
espécie de formação de guerrilheiros: eram grupos pequenos, armados, com 11
integrantes, efetivo de um grupo de combate, para proteger o Brizola. Isso era
coisa do Brizola. Dias antes da Revolução, ele publicou num tabloide de Porto
Alegre – e nós tínhamos lá em São Paulo um exemplar – um artigo concitando os sargentos
a matarem os oficiais e a assumirem os comandos.
Esse homem ia para a Rádio Mayrink Veiga com aquela mala de dinheiro na mão – ele não pagava com cheque não, era mal de dinheiro – para pagar as horas em que ficava pregando a subversão” (General-de-Brigada Augusto Cid de Camargo Osório, tomo 14, pg. 124).
“Os
seguintes fatos demonstraram essa realidade: aceleração do processo de
sindicalização do País; tentativas de cisões no seio das Forças Armadas;
criação das ‘Ligas Camponesas’ e dos ‘grupos dos onze’; distribuição velada de
armamento no meio operário.
Em
Juiz de Fora, numa ocasião, foi visto uma viatura passar cheia de metralhadoras
para os operários da época, ali na minha cidade, nas nossas barbas, porque eu
estava em Juiz de Fora.
E
também, manifestações culturais, induzindo à revolta popular. Exemplo foi a encenação
de uma peça teatral chamada ‘Cristo Total’, onde eles mostravam que Cristo
encarnava o povo que estava sendo agredido, morrendo na cruz, com o intuito de
levar o nosso povo a se revoltar, como se o povo do Brasil fosse o Cristo.
Queriam que o povo se rebelasse e adotasse o regime comunista que ia
libertá-lo. Isso é o que eles queriam. Quem não viu isso é porque não quis ver
ou porque não interessava ver!” (Coronel Reynaldo de Biasi Silva Rocha, Tomo 3,
pg. 320).
“...
quando o Jango estava em Porto Alegre fugindo para o Uruguai, ele se encontrou
com o Brizola e com o comandante do III Exército, e o Brizola começou a
preconizar a resistência: ‘Temos que resistir, vou ser o Ministro da Justiça e
‘fulano de tal’ Ministro da Guerra. O General Ladário, que estava lá, era
adepto daquilo. Está tudo aqui no livro...
O
Brizola diz textualmente que eles tinham que reagir e que diante da ponderação
de um dos generais que estava presente, de que a maioria dos oficiais estava
contra Jango e, portanto, querendo aderir à Revolução, ele disse: ‘Não tem problema,
tenho um sargento ao lado de cada oficial e esse sargento está instruído para
matar o oficial e assumir o comando, assumir a posição dele” (Coronel-Aviador Gustavo Eugenio de Oliveira Borges,
Tomo 10, pg. 290).
“Mas,
antes de prosseguir enfocando esse Movimento, que salvou o Brasil e seu povo de
uma verdadeira catástrofe, impõe-se caracterizar a índole perversa da mais
perigosa entidade atuante no meio comuno-janguista, que eram os ‘grupos dos
onze’, criados por Leonel Brizola (naquela época, estimava-se em cerca de 1.300
grupos). Um documento de cinco a seis folhas, apreendido pelo Exército logo
após a Revolução, na célula comunista de Niterói, dedica um capítulo ao papel
dos ‘grupos dos onze’ na guarda e julgamento de prisioneiros. Por oportuno,
dele transcrevo o que se segue:
‘Devemos instruir os grupos
dos onze companheiros para missões especiais de prisão, guarda e julgamento
sumário de prisioneiros de guerra. Os reféns deverão ser sumária e
imediatamente fuzilados, a fim de que não denunciem os seus aprisionadores e
não lutem posteriormente para sua condenação. Os grupos dos onze serão como foi
a guarda vermelha da Revolução Socialista de 1917, na União Soviética, da qual
seguirão o vitorioso exemplo’ ” (Coronel
Luciano Moreira de Souza, Tomo 4, pg. 123).
Adendo: não consta da História Oral do
Exército/1964
Guerrilha de Dianápolis, Goiás
“De
todos os núcleos das Ligas, o mais importante, o mais expressivo e o de maior
efetivo foi o de Sapé, na Paraíba. Esse núcleo congregaria 10.000 membros.
Em
1960 e 1961, as Ligas organizaram comitês regionais em 10 Estados e criaram o
jornal A Liga, porta-voz do
movimento, que circulava entre seus militantes. Também nesse ano tentou criar
um partido político chamado Movimento Revolucionário Tiradentes – MRT
(Movimento que atuou na luta armada, no período pré e pós-revolucionário de
1964).
No
plano nacional, Francisco Julião reuniu, em torno das Ligas, estudantes,
idealistas, visionários e alguns intelectuais, como Clodomir dos Santos Morais,
advogado, deputado, militante comunista e um dos organizadores de um malogrado
movimento de guerrilha em Dianápolis/Goiás em 1962” (“A Verdade Sufocada”, pg. 69).
“Em
04;12;1962, o jornal O Estado de S. Paulo
noticiou a existência de áreas de guerrilha e anunciou a prisão de membros das
Ligas Camponesas, em Dianápolis, no interior de Goiás, hoje Tocantins.
No
local foram apreendidos retratos e textos de Fidel Castro, bandeiras cubanas,
manuais de instrução de combate, planos de sabotagem e armas, além da
contabilidade da ajuda financeira enviada por Cuba e dos planos das Ligas
Camponesas em outros Estados do País. O responsável por esse centro de
treinamento guerrilheiro era Carlos Montarroyo. Vinte e quatro militantes foram
presos. Também foram decretadas as prisões de Clodomir dos Santos Morais,
Tarzan de Castro e Amaro Luiz de Carvalho.
João
Goulart era presidente do País, o que prova que essas guerrilhas foram
iniciadas antes da Contrarrevolução de 1964, portanto a motivação do movimento
guerrilheiro não era a luta contra nenhuma ditadura” (“A Verdade Sufocada”, pg.
138-139).
Brizola,
o carbonário
“O Brizola foi o primeiro
político brasileiro que entrou em ligação com Fidel Castro e mandou gente fazer
curso em Cuba. Inclusive esse Diógenes que andou se complicando há pouco tempo
em uma Comissão Parlamentar de Inquérito. O atual Vice-Governador do Rio Grande, Miguel Rosseto, também
andou por lá e é coronel honorário do exército cubano. Estes dois
são das primeiras turmas encaminhadas a Cuba pelo Brizola. Como Governador e
Deputado, o Brizola colocou as manguinhas de fora e os cubanos circulavam por
aqui. Sabíamos da presença em Porto Alegre de três cubanos. Fui um dos que
saíram para a rua e andavam à cata de agitadores estrangeiros que circulavam
por aqui. Além do mais, o Brizola agitava o País com seus célebres discursos
das sextas-feiras, uma pura ameaça à sociedade organizada. Foram criados os
‘grupos dos onze’, o Brasil estava cheio deles. Estimávamos que existiam cerca
de cinco mil Grupos, um efetivo de quase sessenta mil homens. E quem fazia o
proselitismo e os unia em termos nacionais era a Rádio Mayrink Veiga.
Sintonizávamos aquela emissora à noite e ouvíamos:
- Alô, alô Santo Ângelo,
comando revolucionário número trinta e quatro, alô doutor Fulano...
A mensagem para o
correligionário informava o número do grupo, a sua localização e convocava os
responsáveis para a transmissão de ordens ou transmitia alguma instrução. Isso
era feito o dia inteiro. Belo exemplo de sigilo nas operações...
(...)
Aqui no Estado, onde houve a
maior resistência à Revolução? [entrevistador]
Creio que foi aqui mesmo em
Porto Alegre. O Brizola fez um discurso na Praça da Prefeitura em que instigou
os sargentos a arrancarem os olhos dos oficiais com os dedos. Imaginem a
reação! Isso ninguém me contou, eu fui lá para ver e ouvir. Acho até que o
Gusmão estava comigo. Éramos dois ou três oficiais assistindo ao comício. Ele
falou claramente que os oficiais eram golpistas e que os sargentos não deviam
cumprir as ordens dos gorilas.
-
Ataquem, ataquem esta gente e arranquem os olhos deles
nem que seja com os dedos.
Ele disse isso. A
resistência era coordenada por ele que dispunha de um staff – inclusive já
citei o nome de alguns dos integrantes desse grupo – para lhe municiar das
informações necessárias” (General-de-Brigada Léo Guedes Etchegoyen, Tomo 8, pg.
178-179).
“Sobre aquele discurso [de
Leonel Brizola] não me falaram, eu mesmo o ouvi em uma emissora comercial. A
rede-rádio da 2ª. DC nos ligava com todas as Unidades. A 3ª. Seção sintonizou
nossa rede na emissora que transmitia a agressão verbal do agitador. Através
dessa escuta ouvíamos e transmitíamos o Brizola vociferar:
-
Fuzilem os oficiais! Matem esses gorilas!
Ele estava aqui em Porto
Alegre e bem que tentou conter a Revolução mas não conseguiu. Fugiu de avião,
dizem que travestido de padre!” (General-de-Brigada Léo Guedes Etchegoyen, Tomo
8, pg. 206).
“Ficava, portanto, no rádio,
acompanhando a tal cadeia da legalidade, com o Brizola insuflando: ‘Passa a mão
nesses gorilas, mata, agora vai correr sangue’, aquele jeito dele de falar,
instigando a Nação contra o movimento revolucionário que eclodira. O
Tenente-Coronel Raposo me disse: ‘Coloca isso no alto-falante para todo mundo
do quartel ouvir’. O nosso quartel era do lado do 8º. BC, e, à noite, aquele
silêncio, todo mundo ouviu tanto no Grupo de Artilharia, como no Regimento de
Cavalaria, o Brizola dizendo: ‘Matem os oficiais, passem fogo neles, ainda não correu
sangue’, o que trouxe uma revolta geral dentro dos quartéis diante
daquelas palavras insanas de ordem. O tiro saiu pela culatra. Até o povo nas
ruas ficou indignado com aquele tipo de mensagem voltado para a completa quebra
da hierarquia e da disciplina, uma mensagem diabólica, do líder daqueles que queriam
instalar, em nosso País, uma ‘república sindicalista’, tão falada naquele
Comício da Central do Brasil, no dia 13 de março” (Tenente-Coronel Carlos
Claudio Miguez Suarez, Tomo 9, pg. 384-385).
Obs.:
Um pouco sobre a carreira política do
carbonário Leonel Brizola pode ser visto em “Brizola, o Último dos Maragatos” -
http://felixmaier1950.blogspot.com/2020/07/brizola-o-ultimo-dos-maragatos-por.html
Sobre
os “Grupos dos Onze”, veja “Documentos Revelados”, do ex-guerrilheiro e amigo
de Lamarca, Aluizio Palmar – link http://www.documentosrevelados.com.br/repressao/grupo-dos-onze-companheiros-movimento-liderado-por-brizola-para-barrar-o-golpe-e-avancar-com-as-reformas-parte-3/ .
F. Maier
A
Aliança para o Progresso
“A crise continuava, e
deu-se em 1962 o meu segundo ‘entrevero’ com o ex-Governador Brizola.
O Embaixador Lincoln Gordon,
americano, ia ao Recife e a Natal, a fim de inaugurar umas tantas obras que
tinham sido feitas em cooperação com as autoridades americanas.
Estava eu numa reunião, que
não me lembro qual, com o Governador Aluízio e ele me disse:
- General Muricy, vamos ter
aborrecimento.
- Por quê?
- Porque o Prefeito Djalma
Maranhão disse que não vai tomar conhecimento da vinda do Embaixador americano.
- Mas como? Ele é o dono da casa,
e o Embaixador é o representante de uma potência, de uma nação amiga, como é
que ele não toma conhecimento?
- Não, ele disse nenhuma;
que eu é que me virasse.
- Bem, vamos nos preparar
para os aborrecimentos que vêm – respondi.
Foi quando o Governador
resolveu desmoralizar o Djalma Maranhão e publicou no jornal A Tribuna, de Natal, um retrato dele,
Djalma Maranhão, pedindo dinheiro à ‘Aliança para o Progresso’, que era uma
instituição americana. Natal inteiro riu do Djalma Maranhão: ‘Então esse é o homem
que ataca os americanos e vai lá para pedir dinheiro? Que moral tem ele?’
O Djalma Maranhão ficou sem
sabe o que fazer e pediu socorro aqui no rio para as ligações dele, e quem foi
lá para apoiá-lo foi Leonel Brizola, então Deputado e já agitando o Brasil, na
preparação do ‘grupo dos onze’ e seu movimento revolucionário reformista, que
não era comunista, mas de agitação revolucionária populista; mas cooperava para
criar o ambiente para a guerra revolucionária comunista.
O Deputado foi a Natal no
dia exatamente em que o Embaixador americano fazia a visita protocolar. (...)
(...)
No dia seguinte, depois de
levar o Embaixador ao aeroporto, fui para o Quartel-General, ouvi a gravação do
discurso que o Brizola havia feito na véspera. O discurso era francamente
subversivo. Entre as coisas que ele disse, lembro-me do seguinte: ‘É preciso
deixar estourar esta panela de pressão para que possamos fazer alguma coisa
pelo povo brasileiro. É preciso...’ e por aí afora. Brizola pregou um
‘movimento revolucionário’ naquela noite em plena praça pública. Esta gravação
deve estar ainda lá em Natal, se não jogaram fora.
A seguir, houve a
manifestação de apoio a minha pessoa. Recebi oficiais do Exército, da Marinha e
da Polícia Militar (o Governador me apoiou completamente e, depois, mandou
imprimir a conferência que eu tinha feito sobre a guerra revolucionária). E eu
fiz o meu pronunciamento, aceitando a manifestação de desagravo que teve larga
repercussão.
Por coincidência, estava em
Natal o jornalista do Correio da Manhã,
Fernando Luiz Cascudo, filho do meu velho amigo Câmara Cascudo. E o Fernando
pegou minha documentação, mandou para o Rio e, no mesmo dia, foi publicado em
todos os jornais daqui (lembro-me que O
Globo colocou como manchete a frase: ‘Basta de agitação!’, que era um
trecho do que eu tinha dito). Essa minha resposta a Brizola encontra-se
impressa, por iniciativa do General Antonio Jorge Corrêa numa Coletânea de
escritos sob o título: ‘Palavras de um Soldado’, editado pelo Ministério do
Exército.
(...)
Ainda em Natal, outro
episódio.
Estava um dia no
Quartel-General, quando me avisaram: ‘O Deputado Sargento Garcia vem a Natal.’
São coisas do passado. Quem era o Deputado Sargento Garcia? Era um sargento que
tinha sido eleito deputado federal e que corria o Brasil pregando a subversão
contra os oficiais para, dentro do princípio da guerra revolucionária,
dissolver ou tentar fazer com que as Forças Armadas perdessem substância.
No dia marcado, lá estava
ele, que tinha ido pregar a união dos sargentos. Precisavam ‘se unir’, para
enfrentar a ‘autocracia’ dos oficiais etc. No dia seguinte, estava eu no QG
quando entrou o Dr. Aluízio Alves: ‘General Muricy, ontem foi ao Palácio o
Deputado Sargento Garcia e ele, julgando que eu era de sua corrente de opinião,
abriu-se e disse que estão preparando a subversão e que já há postes escolhidos para pendurar os
Chefes que a ela se opuserem; inclusive o senhor, já tem poste escolhido’.
Isto é para os senhores sentirem o ambiente daquela época”
(Generall-de-Exército Antonio Carlos da Silva Muricy, Tomo 14, pg. 31-34).
Obs.
Além
da Aliança para o Progresso (https://felixmaier1950.blogspot.com/2020/06/em-1961-jfk-cria-alianca-para-o_17.html), os EUA mantinham um apoio às
cooperativas canavieiras do Nordeste, por meio da The Cooperative League of the USA (CLUSA) - Cfr. https://felixmaier1950.blogspot.com/2020/06/the-cooperative-league-of-usa-clusa-e-o.html.
F.
Maier
“Capacete
Verde”, chefe do “Grupo dos Onze” em Xerém, RJ - Companhia paraquedista foi
usada como tropa pretoriana
Ainda em 1961, na Brigada
Paraquedista:
“Meu comandante de Companhia
me chama às 7h da manhã, início de uma jornada, ainda, na Companhia de
Petrechos Pesados, da qual eu era o subcomandante. ‘Nery, nós temos uma missão,
agora, muito importante – prontidão’. Perguntei-lhe: ‘O que é?’ O problema era
com um ‘grupo dos onze’, lembra – grupos com formação guerrilheira. Um ‘grupo
dos onze’ estava atuando em Xerém, aqui no Estado do Rio de Janeiro, invadindo
terras nos moldes das ‘Ligas Camponesas’. Tinha um comandante que era chamado
pelo codinome de ‘Capacete Verde’. Não sei o nome do indivíduo, muito em
evidência na imprensa na época. Em Xerém, aqui! ‘Ele está criando problemas e
nós vamos com a Companhia. A ordem foi do capitão’. Vamos eliminar este ‘grupo
dos onze’. A missão é do General Santa Rosa. ‘Está bem. A gente cumpre – missão
não se discute’. A missão veio do comandante. Partimos. Eu com a companhia.
Primeira surpresa” Ocupamos umas cinco viaturas, todos armados. Eu, ao lado do
motorista, na ‘boleia’ da viatura, e o capitão, no jipe, puxando o comboio pela
Avenida Brasil. Assim, fomos na direção de Xerém. Num dado momento, ele entrou
ao lado do caminhão e fez um sinal para que eu prosseguisse. ‘Cumpra a missão.
Vou aparecer depois – não espere por mim’. Entendi, prontamente – estava
sozinho e, assim, iria cumprir a missão.
Chegamos em Xerém no ponto
exato previsto na carta. Tínhamos feito um estudo de situação, antes de sair do
quartel. Quando percebi que ali era o local que deveríamos desembarcar e
penetrar na selva de Xerém, fomos emboscados pelo grupo a comando do ‘Capacete
Verde’ – ‘grupo dos onze’. Abriram fogo contra nós! Imediatamente, fim um
sinal, a tropa desembarcou pelo lado direito da viatura e ficamos protegidos.
Olhei e vi a seguinte cena: na orla da selva, num mastro estava sendo hasteada
uma bandeira que não deu para identificar. Não era a brasileira. O líder estava
com um capacete, realmente típico daquele caçador inglês dos filmes de caçadas
na África, uma bermuda cáqui e um casaco, também, cáqui e armado. Após a
emboscada, eles imediatamente retraíram para a selva. Entramos, vasculhamos,
fizemos prisioneiros e não foi preciso atirar. Recolhemos farto material.
Bastante material de propaganda marxista-leninista, treinamento de guerrilha,
todos oriundos de Cuba, bem como armamento ‘zero quilômetro’. Peguei aquilo tudo e levei para
o comando da Brigada onde recebi ordem para entregar ao ajudante-de-ordens do
então comandante General Santa Rosa. Assim o fiz. Escrevi o meu relatório e
retornei ao meu quartel. Fui encontrar o capitão, no dia seguinte, que me
perguntou: ‘Como é que foi?’ Como é que foi? Eu lhe disse: ‘Tudo bem, capitão,
foi bem’.
Dois dias depois, descobri o
objetivo da missão – a Companhia tinha sido usada como tropa pretoriana!
Acontece que o local era um loteamento do Automóvel Clube do Brasil e seus
sócios, alguns membros da sua diretoria, tinham comprado terrenos naquela área.
Um dos donos de
terreno era o General Santa Rosa, que havia assumido o cargo de Presidente do
Automóvel Clube do Brasil. Fui usado e a minha tropa também. Fomos
usados para tirar de cima do terreno dele o ‘grupo dos onze’ que fazia aquilo
que ele pregava – ocupava terras dos outros indiscriminadamente, segundo o
modelo empregado pelas ‘Ligas Camponesas’ no Nordeste e no Centro-Oeste. Que
decepção! Uma decepção muito grande. Não foi para isso que fui formado, não foi
para isso que recebemos a nossa instrução, a nossa formação moral. Uma
decepção! E, aí, nos envolvemos com mais determinação ainda de impedir,
primeiro, a ação do soviético dentro do
território brasileiro” (General-de-Brigada Durval Antunes Machado Pereira de
Andrade Nery, Tomo 10, pg. 160-162).
O sistema de promoções de altas patentes
militares era de acordo com o apoio que o militar dava ostensivamente ao
presidente Goulart
Afinal,
era o Presidente João Goulart, e não o Alto Comando, que promovia os coronéis a
generais. Os que não se enquadravam nessa ordem de capachos do regime eram
“queimados” e transferidos para a fronteira ou para Unidade sem tropa, como as
CR (Central de Recrutamento), atuais CSM (Circunscrição do Serviço Militar).
O
próprio general Castello Branco ficou “queimado” como comandante do IV Exército
(Nordeste), e foi transferido para a Chefia do Estado-Maior do Exército, devido
à pressão do governador Miguel Arraes.
Essas
ações de subjugar militares faziam parte do “Esquema Militar” do general Assis
Brasil, chefe da Casa Militar de Jango, além da dominação de amplos setores da
administração pública, sindicatos dominados por esquerdistas e comunistas, a
Confederação Geral dos Trabalhadores (CGT), a União Nacional dos Estudantes
(UNE), a União Brasileira de Estudantes Secundaristas (UBES).
Foi desencadeada a Operação Mata Lacerda
(ver “Carlos Lacerda – um capítulo à parte”) - Nota no final deste trabalho (*)
A tropa
paraquedista teve por missão prender e matar o governador da Guanabara, Carlos
Lacerda. A ordem foi dada pelo próprio presidente João Goulart, num apartamento
do Copacabana Palace, com o aval dos ministros da Guerra e da Justiça. Graças
ao coronel Boaventura, comandante do
Grupo de Obuses Aeroterrestre, a ordem criminosa não foi cumprida, ao
mesmo tempo em que Lacerda foi avisado sobre a tentativa de atentado, antecipando
sua visita ao Hospital Miguel Couto, onde seria morto.
Oficiais e praças alinhados com o
governo Goulart tinham preferência para aquisição da casa própria via Caixa,
assim como a aquisição de automóvel
O
Fusca e o Gordini eram o sonho de consumo na época.
Os
sargentos levavam pessoalmente os contratos para financiamento de compra de
casa ou automóvel ao Presidente Goulart, que assinava no ato.
Imagine, hoje, o presidente Jair
Messias Bolsonaro colocando sua Bic em funcionamento, com longa fila de
sargentos paraquedistas gritando “Mito, Mito, Mito”...
“Vivíamos
numa situação financeira muito complicada. Precisávamos de dinheiro para deixar
com a esposa e para sobrevivermos no Rio, e os vencimentos extremamente baixos.
O Presidente João Goulart fazia alguns acenos para captar a simpatia,
principalmente dos paraquedistas, que recebiam financiamento para comprar
carro, normalmente um Gordini, o carro apropriado do momento, o carro se que se
podia ter, desde que se estivesse do lado do governo. Mas vivíamos numa
verdadeira miséria: sábado e domingo, de manhã, à tarde e à noite, íamos para o
rancho da EsAO porque não tínhamos o recurso necessário para fazer um lanche na
rua. Era, de fato, uma situação revoltante. Na Vila, também mantínhamos contatos
com outros oficiais, todos numa angústia muito séria e determinados a fazer
alguma coisa, mas sempre, contidos pelos chefes. Além disso, a EsAO obrigava-nos
a uma dedicação muito grande, pois o curso nos exigia bastante. Mesmo assim,
dávamos umas escapulidas para o Clube Militar, onde a efervescência era grande:
reuniões, debates e tudo mais” (General-de-Exército Domingos Miguel Antonio
Gazzineo, Tomo 4, pg. 34).
Obs.:
Quando fui promovido a 3º. Sargento do
Exército e classificado, como cinegrafista, no Campo de Provas da Marambaia, em
Guaratiba, RJ, em fevereiro de 1972, a situação financeira dos militares era
bem melhor do que nos tempos em que o General Gazzineo fazia a EsAO. Com meus
vencimentos, eu aluguei um quarto em Campo Grande, RJ, me matriculei numa
faculdade de Economia e comecei a pagar a poupança para a entrega de um
apartamento no Engenho Novo, que foi entregue em 1976, passando a pagar, daí em
diante, prestações bancárias durante 25 anos. Ao mesmo tempo, ainda sobrou
dinheiro para entrar num consórcio de automóvel, para aquisição de um Fusca
zero km.
A situação financeira, para os
militares, começou a se degradar novamente durante o Governo Geisel. Tanto é
que tive que vender um Fusca velho para mobiliar o apartamento.
F. Maier
Greves frequentes na indústria, no
comércio e nos meios de transporte, provocando o caos nas grandes cidades
“Olha,
só vendo o que nós sofremos neste País, onde imperava o caos. Basta lembrar,
aqui, no Rio de Janeiro: a greve do pessoal do gás, obrigando-nos a ter que
comprar ‘fogãozinho’ de querosene para confeccionar as refeições; a greve dos
coveiros do Cemitério São João Batista e lembro, acerca dessa paralisação, um
episódio. Indo ao cemitério, com o General Castello, para o enterro do pai do
General Adhemar Villela dos Santos – o General Castello era amicíssimo dele,
por ligações desde Realengo e do 12º. Regimento de Infantaria, de Belo
Horizonte – vimos os caixões colocados na entrada do cemitério, pois, em
virtude da greve, o sepultamento não era realizado.
Faltavam
feijão, arroz e outros tipos de suprimentos. Não havia transporte para chegar
ao trabalho e sei muito bem disso porque enfrentei esse problema, num período
mais recuado, dentro dos pródromos da Revolução, quando era major, adjuto da
4ª. Seção da Zona Militar Leste (posteriormente I Exército e, atualmente,
Comando Militar do Leste), e tínhamos que atualizar o planejamento para
assegurar o transporte da cidade, no caso da greve dos bondes”
(General-de-Brigada Ruy Leal Campello, Tomo III, pg. 57-58).
“Sabíamos
que era meia dúzia de líderes sindicais que tumultuavam o País. A grande massa
dos trabalhadores não queria saber disso, o que ficou claro com o desencadeamento
do Movimento revolucionário.
Os
agitadores se valiam da massa. Eram sempre as mesmas pessoas que já conhecíamos
bem. Dentre eles, Dante Pelacani, Clodomith Riani, Oswaldo Pacheco (líder da
CGT), Hércules Correia (Deputado Federal), os Ministros Abelardo Jurema e
Amauri Silva e outros mais, figuras extremamente atuantes no processo de
tumultuar, permanentemente, a vida nacional” (Coronel Everton da Paixão Curado
Fleury, Tomo 3, pg. 230).
“Paravam
o transporte no Rio e ninguém conseguia deslocar-se para o trabalho, ou se
interrompiam durante o dia, prejudicavam o regresso para o lar, e isso se
repetia continuamente, toda a semana. Entre outras, greves de hospitais, houve
até greve de coveiros, impedindo que pessoas enterrassem seus mortos, então a situação
era de desordem incontrolada. E falei do Rio de Janeiro como um exemplo
expressivo, mas era assim no Brasil todo, sobretudo nas grandes cidades”
(Coronel Gustavo Petito, Tomo 7, pg. 238).
“Em
agosto desse ano, 1962, o Comando Geral de Greve transformou-se em Comando
Geral dos Trabalhadores, o famoso CGT. Com a eleição do comunista Clodsmidt
Rianni para a presidência do mesmo, o PCB coroava sua hegemonia sobre os
sindicatos, conquistando um poderoso instrumento de pressão, permanentemente
dom ameaças de greve geral.
Em
novembro desse ano, as Forças Armadas desarticularam vários campos de
treinamento de guerrilha. Em 27 de novembro de 1962, a queda de um Boeing da
Varig, no Peru, proporcionou comprometedoras informações sobre o apoio de Cuba
às ‘Ligas Camponesas’. Esses documentos caíram nas mãos do Governador Carlos
Lacerda que, naturalmente, os difundiu à imprensa e criou uma grande celeuma a
respeito desse apoio direto de Cuba às ‘Ligas Camponesas’ ” (General-de-Divisão
Agnaldo Del Nero Augusto, Tomo 5, pg. 98).
“Outra
situação, que visava nos desgastar e antagonizar com a população, pois
sentíamos perfeitamente que era essa a finalidade, consistia nas missões de
segurança das estações da Estrada de Ferro Central do Brasil. Com as constantes
greves, frequentemente recebíamos a missão de ocupar as estações e protege-las
de depredação. No entanto, tal encargo era muito mais um pano de fundo para o
verdadeiro objetivo, que era o desgaste. Determinava-se que apenas dois
soldados permanecessem no local para avisar que não havia trem circulando. As
pessoas ficavam revoltadas” (General-de-Brigada Oacyr Pizzotti Minervino, Tomo
7, pg. 110-111).
“Foi
um período muito tenso. A situação de prontidão era permanente. Parecia haver
um propósito de desgastar não só o militar, mas também a sua família. Parecia
que as próprias autoridades desejavam atingir a nossa base familiar, que ficava
também intranquila; a esposa saía para o trabalho e não sabia se lá chegaria;
nós vínhamos para casa e a esposa não havia retornado, os filhos tinham ficado
presos na escola por conta de fatos os mais diversos, por conta de
greves-relâmpago e outros tipos de distúrbios civis que nós conhecemos”
(Coronal Luiz Carlos Carneiro de Paula, Tomo 9, pg. 287).
“Somente
no Estado de São Paulo, no ano de 1961, realizaram-se 1.700 greves, conforme
registrou Luiz Jover Telles, um dos elementos radicais da Comissão Executiva do
Partido Comunista Brasileiro (PCB), em seu artigo O Movimento Operário em 1961, o que está mencionado no livro ‘A
Grande Mentira’, do General Agnaldo Del Nero Augusto. Eles realmente paravam o
País” (Coronel Nelson Roberto Bianco, Tomo 14, pg. 319).
Infiltração comunista no meio artístico,
no MEC, na Cultura, nos sindicatos, nas escolas, nas universidades – via UNE
“Meu
primeiro desafio, em 1945 ou 1946, ainda adolescente. Em Santos, onde morava,
concluída a apuração das eleições, passou a ser dominada completamente pelos
comunistas, tanto a Câmara Municipal como, também, os organismos sindicais e
estudantis da cidade. O marxismo para mim, a rigor, representa a negação do
Cristianismo, a negação das minhas convicções religiosas.
Convidei
um amigo, de apenas 13 anos, a iniciarmos um trabalho a fim de mudar o quadro
do setor estudantil. Pensamos que seria bom conversar com Dom Idílio José
Soares, Bispo local, pois a natureza do nosso impulso era religiosa. Ele nos
disse que via com bons olhos o fato de os cristãos assumirem suas
responsabilidades na vida do País e que, portanto, ele não se oporia se
procurássemos organizá-los para enfrentar os comunistas, nos centros estudantis
de Santos. Sem entrar em detalhes, conseguimos organizar uma chapa, visitamos
todos os colégios católicos e ganhamos as eleições, para surpresa dos
comunistas. Fizemos um trabalho de inteligência, de disfarce. Os comunistas
controlavam os mecanismos de movimentação dos estudantes, mas conseguimos que
nossos eleitores chegassem a serem percebidos.
Repetimos
a mesma estratégia nas eleições da União Estadual dos Estudantes (UEE), naquele
tempo presidida pelo Almino Alves Afonso, e o derrotamos. Mais tarde, José
Gregório quis ser presidente e também o derrotamos. Posteriormente, fizemos uma
mobilização a nível nacional com os estudantes udenistas e de outros partidos e
conseguimos derrubar a chapa comunista na União Nacional dos Estudantes (UNE).
Nesse tempo, já era presidente do Departamento Estudantil da União Democrática
Nacional (UDN)” (Doutor José Carlos Graça Wagner, Tomo 7, pg. 366).
“Seguindo a orientação
nacional, o Sindicato dos Estivadores paralisou o porto de Manaus e mandou
colocar barricadas por toda a cidade, inclusive na entrada do 27º. BC. O
Governador era Gilberto Mestrinho, um oportunista aliado de Jango, que ficou
indiferente àquele estado de coisas. (...) Em situação semelhante estavam os
pilotos da FAB, que não podiam ter acesso aos aviões. Neste caso, alguns
soldados desimpediam o acesso, jogavam as pedras no rio e os pilotos decolavam
com seus aviões. Diariamente se armava uma confusão em Manaus, provocada por
‘pelegos’ e outros, que só prejudicava a população. Fechavam o mercado e
ninguém podia fazer sua feira” (General-de-Brigada Manoel Theóphilo Gaspar de
Oliveira Neto, Tomo 4, pg. 95)
Comando dos Trabalhadores Intelectuais
“As
causas vêm de longe: desde a década de 1930, o Partido Comunista organizou em
células, sindicatos e agremiações de fachada, os ‘trabalhadores intelectuais’ –
conceito surrealista que reunia sambistas a físicos nucleares, professores
primários a banqueiros em transe poético, sem outro vínculo que não a
uniformidade do discurso ideológico, travestida em representatividade cultural.
As defecções após o relatório Kruschev, a preferência crescente da esquerda
pelas modalidades de adesão informais e discretas, não mudaram em nada a
solidariedade de fundo, que sustenta ainda hoje o espírito do unanimismo.
Essa
unidade postiça manteve-se à força de exclusões inconcebíveis. Em 1964, pelo
menos quatro das maiores figuras da nossa inteligência, Manuel Bandeira,
Gilberto Freyre, Augusto Frederico Schmidt e Miguel Reale, tomaram partido do
novo regime. Sua opinião foi imediatamente excluída do rol das ideias
significativas, para criar a impressão de que a inteligência nacional estava à
esquerda, de que no outro lado só havia a força bruta de sargentões iletrados.
Mentira grossa. Farsa comparável, só o pathos
democrático nos discursos de servidores, não raro profissionais, da ditadura
cubana” (Olavo de Carvalho, “O Imbecil Coletivo”, pg. 404).
“Em
1963, a subversão, até então conduzida mais ou menos na clandestinidade,
aflorou. Como não havia certeza do seu sucesso e até como uma forma de pressão,
começou a colocar-se à luz do dia. Nesse ano, foi criado o Comando dos Trabalhadores Intelectuais. Esse Comando, reunindo
nomes como Dias Gomes, Jorge Amado e Ênio Silveira, constituiu-se num baluarte
da propaganda esquerdista. A infiltração comunista se derramou sobre o ensino
em todos os níveis, com a orientação e apoio do próprio Ministério da Educação
e Cultura. A UNE criou centros populares de cultura que submeteram a população
a uma intensa propaganda esquerdista. A UNE, além de receber vultosos subsídios
do Ministério da Educação e Cultura, recebia subsídios financeiros e propaganda
da União Internacional de Estudantes (UIE), uma entidade de fachada do
Movimento Comunista Internacional onde a UNE tinha um representante: um dos
vice-presidentes dessa UIE era da UNE, um brasileiro.
(...)
Atendendo
uma específica orientação da Internacional Comunista, o PCB realizou, em
Niterói – O Governador da Guanabara [Carlos Lacerda] negou a permissão para a
realização do evento em seu Estado – um encontro de solidariedade a Cuba com a
presença de representantes de mais de oitenta países. Apesar das mensagens de
solidariedade enviadas para esse encontro pela União Soviética e pela China, a
vedete do encontro foi Prestes. Este, entre outras pregações revolucionárias,
profetizou que o Brasil teria o privilégio de ser a segunda nação
Latino-Americana, onde o socialismo seria implantado” (General-de-divisão
Agnaldo Del Nero Augusto, Tomo 5, pg. 98-99).
Obs.:
Assim como Prestes, que desencadeou a
Intentona Comunista em 1935, a UNE também recebeu o “Ouro de Moscou” – cfr. http://felixmaier1950.blogspot.com/2020/07/ouro-de-moscou.html.
F. Maier
Ameaça de enforcamentos na Fábrica
Nacional de Motores
“Um
fato me chamou a atenção, logo depois da vitória do movimento. Eu vi, ninguém
me contou. Foi na antiga Fábrica Nacional de Motores (FNM), que funcionava em
Xerém, arredores do Rio de Janeiro, a única fábrica de veículos brasileiros, os
famosos ‘Fenemê’. De serviço, com uma tropa, o que vi lá foi estarrecedor; nos
postes havia escrito o seguinte: ‘Nesse poste será enforcado o engenheiro tal, nesse poste
será enforcado fulano de tal, nesse poste será fuzilado sicrano de tal.’ Os nomes das pessoas estavam escritos pelos
comunistas que dominavam a fábrica e pensavam, um dia, tomar conta de tudo e
assassinar os desafetos. Na FNM, a mais nítida demonstração de qual era a
situação brasileira; as pessoas já tinham local certo e tipo de morte
escolhida, se era enforcamento ou fuzilamento” (General-de-Brigada Ozcyr
Pizzotti Minervino, Tomo 7, pg. 121-122).
Pelegos ligados ao Governo João Goulart
“Os
pelegos – líderes sindicais ligados ao Governo – faziam comício em lugar
proibido, faziam depredações, ocupações do tipo dos sem teto hoje e invasões de
terras, estas sob o comando das ‘Ligas Camponesas’, que hoje se chamam de
Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), mas fazem a mesma coisa, e
o governo, naquela época, convivia com a desordem por eles promovida,
exatamente como acontece hoje [Governo FHC].
Sabe
o que o CGT e o PUA faziam com os desafetos? Eles agarravam à força as pessoas
e com barras de ferro quebravam as pernas das pessoas, esses sindicalistas,
esses extremistas do PUA e do CGT quebravam as pernas de quem não rezava pela
cartilha deles.
O
PUA inventou uma arma terrível, e o Departamento de Ordem Política e Social
(DOPS) apreendeu várias delas antes e depois da Revolução. Eles pegavam toco de
cabo de aço usado em atracação de navio, amarravam numa ponta, fazendo uma
espécie de uma empunhadura de espada e a outra ponta eles desfiavam para ficar
ouriçado e usavam aquilo como chicote, como rebenque para cortar qualquer
recalcitrante. O sujeito queria romper a greve, então tomava uma rebencada, que
rasgava o sujeito todo e ia parar no pronto-socorro. Era assim que eles agiam,
na ‘democracia’ ” (Coronel-Aviador Gustavo Eugenio de Oliveira Borges, Tomo 10,
pg. 293).
“Os
Ministros, inclusive os militares, temiam o CGT, o Comando Geral dos
Trabalhadores, que mandava mesmo, tendo como secretário-geral Dante Pelacani,
cujas ordens faziam curvar-se o Ministro do Trabalho, Amauri Silva, que não
realizava nenhuma nomeação para cargo de direção sem a aprovação de Pelacani” (General-de-Exército
Mario Orlando Ribeiro Sampaio, Tomo 11, pg. 32-33).
Movimento de Cultura Popular
“Além
disso, o Movimento de Cultura Popular, que foi uma criação do Miguel Arraes, do
Gregório Bezerra, que era o homem que mandava nesse negócio, fazendo cartilhas
preparadas no sentido de ‘fazer a cabeça’ daquela juventude; inclusive, uma das
publicações dessa cartilha se chamava ‘O Tijolo’, e nela constava o seguinte:
‘Como é que é feito o tijolo? É tirado da terra, a terra é do agricultor, que é
pobre. E esse tijolo é feito por quem? É feito pelos operários, pobres. E para
quê? Para fazer a casa dos ricos’. É tudo uma sequência para ‘colocar na
cabeça’ dos pobres que eles estavam sendo explorados pelos ricos; então, o
exemplo era o tijolo, as coisas eram concebidas dessa forma”
(General-de-Exército Mario Orlando Ribeiro Sampaio, Tomo 11, pg. 33).
Ligação criminosa do apátrida Prestes
com Moscou
“Em
março [1964], houve um fato importante. Prestes voltou a Moscou e foi
encontrar-se novamente com Kruschev, com Suslov e, agora, com Brejnev, que
viria a substituir Kruschev e apresentou o que ele tinha feito nesses dois
anos: o trabalho de massa, inclusive a infiltração nas Forças Armadas. Veio de
lá com a aprovação da União Soviética, inclusive com a proposta de
financiamento para a Usina de Itaipu, que já era cogitada, naquela época. Ele
relatou o seu encontro para o Goulart. No dia 13 de março de 1964, realizou-se
o primeiro desses comícios no Rio de Janeiro, na Praça da República, entre o
prédio do Ministério da Guerra e a estação da Central do Brasil. Valendo-se de
transportes oferecidos por órgãos estatais [como a Petrobras] e do natural
afluxo de pessoas no final da trade em direção à estação da Central do Brasil,
o chamado ‘comício da reforma’ reuniu cerca de cem mil pessoas. No comício,
faixas pela organização do Partido Comunista, distribuição de armas ao povo
etc. e tal; e a situação de agitação já criava uma ansiedade, uma instabilidade
na população” (General-de-Divisão Agnaldo Del Nero Augusto, Tomo 5, pg.
100-101).
Jango fazia questão de desprestigiar as
Forças Armadas
“Quando
o Presidente chegou mais ou menos na testa da Academia, as pessoas postadas nas
sacadas e janelas dos edifícios situados no outro lado da Avenida começaram a
aplaudi-lo e a jogar papel picado. Ele passou a AMAN em revista ficando o tempo
todo de costas para nós, respondendo e agradecendo os aplausos e acenos da
população. E aqueles cadetes de todos os cursos que estavam ali em forma – na
maioria do terceiro e último ano – ficaram descontentes com a atitude e o pouco
respeito do nosso Comandante Supremo para com a Academia.
Este
fato nos causou uma indignação muito grande. Talvez até tenha sido algo pequeno
e irrelevante, mas os comentários entre os cadetes se prolongaram ao longo dos
meses, até o final do ano. A revolta por ele ter passado de costas para nós
fundamentou, na grande maioria da turma de 1963, até mesmo naqueles que tinham
uma tendência de esquerda, uma forte aversão ao Jango. Ficamos inconformados
com a atitude dele” (General-de-Brigada Flávio Oscar Maurer, Tomo 8, pg. 307).
Desabastecimento geral de gêneros
alimentícios; o Exército passou a distribuir feijão e arroz no Rio de Janeiro
“Ultrapassado
o período da renúncia de Jânio Quadros, passamos a viver momentos difíceis,
sacrificados mesmo. Por exemplo, o GO 155, e outras Unidades, como o Primeiro
Regimento de Obuses 105 (1º. RO 105, sistematicamente ocupavam as estações de
trem, a fim de manter a ordem; a todo instante irrompiam os ‘quebra-quebras’
que as gente chamava de ‘quebra-quebra feijão’. Chegou a ponto de as Forças
Armadas serem incumbidas de comercializar gêneros alimentícios nas ruas.
Saíamos com uma viatura de cinco toneladas, abarrotada de arroz para vender à
população, por força de determinação do governo. Isso acontecia em São João de
Meriti, em Nova Iguaçu, em Nilópolis, sempre enfrentando sérios problemas. O
povo sofrido queria o produto e nós – um 2º. Tenente, um sargento, um cabo
motorista e um soldado – tínhamos que fazer das ‘tripas coração’ para conseguir
controlar a multidão” (Coronel Hahenderson Vieira, Tomo 5, pg. 276).
“Houve
uma ocasião em que o Governo João Goulart bloqueou a saída de arroz do Sul do
País, impedindo-o de chegar a São Paulo e Rio de Janeiro. O Governo culpava os
plantadores do Rio Grande do Sul e os capitalistas pela falta de arroz, mas, na
verdade, sabíamos do bloqueio que era feito. Numa jogada demagógica, fomos
obrigados, por determinação de Goulart, a utilizar os caminhões militares para
distribuir na rua o pouco arroz que chegava. Formavam-se filas intermináveis.
Alguns sargentos mais jovens, muitas vezes, quando iam entregar o arroz, viam
uma moça bonita e para namorar a jovem acabavam facilitando a entrega. Tal
procedimento, como era de se esperar, provocava tumulto e confusões terríveis,
envolvendo o Exército” (General-de-Brigada Oacyr Pizzotti Minervino, Tomo 7,
pg. 110).
Obs.
Na enchente de 1983, em Santa Catarina,
eu soube que na região de Joaçaba uma moça se tornou amante de um oficial da
PM, e sua família passou a receber produtos não perecíveis que dava até a
próxima enchente.
F. Maier
INÍCIO DA INSTRUÇÃO DE GUERRA REVOLUCIONÁRIA (G REVO)
Célula
comunista na AMAN
O general-de-Exército
Antonio Jorge Corrêa destaca que, quando assumiu as funções de Comandante do
Corpo de Cadetes, na AMAN, deparou-se “com
uma situação que, em síntese, era a clara descaracterização do ambiente e da
sistemática de formação e de ensino de uma Academia Militar. Destaco que o
Regulamento de 58 contemplava o ensino, então chamado universitário, com carga
horária maior que o dobro da que se destinava ao ensino militar, numa
manifestação específica da Academia, pretendendo fazer daquele Centro uma
universidade leiga e indiferente às suas origens e finalidades. Os reflexos destes
dispositivos regulamentares foram desastrosos do ponto de vista da formação dos
oficiais: impediam a disciplina que se espera de uma Academia Militar.(...) Por
outro lado, o aspecto ideológico que se difundia na Academia se tornara
comprometedor a ponto de criar-se uma célula comunista, que operava,
abertamente, sobretudo na Cadeira de Português; destaquem-se aqui as ligações
francas desta célula com a UNE, do Rio de Janeiro. Tão logo se comprovou este
triste e inédito quadro, foram tomadas necessárias providências que abortassem
sua continuação: substituiu-se o Cel Prof Manoel Cavalcante Proença,
identificando-se e afastando os participantes, do que resultou o desmantelamento
do sistema” (Tomo 1, pg. 31-32).
“Em 1960, após inspecionar a
AMAN, o general Castello Branco mandou que se instalasse uma Comissão, para
elaboração de novo Regulamento para a Academia: “Revogado o nefasto Regulamento de 58 e com a aplicação de novas
diretrizes, foi possível, nos decênios de 1961 e 1962, restabelecer-se o
primado da profissão militar, da hierarquia, da disciplina, do culto dos nossos
heróis e do civismo genuíno. Nos meados de 1962, equipes selecionadas de todos
os Estabelecimentos de Ensino do Exército participaram de estágios realizados
na DGE [Diretoria Geral do Ensino],
destinados à preparação e à padronização de procedimentos na execução de planos
e programas de Guerra Revolucionária, previstos na Nota de Instrução baixada
pelo Estado-Maior do Exército” (idem, pg. 32).
A partir de então, passou-se
a ministrar G Revo em todas as Unidades do Exército, com ênfase para as escolas
militares.
“O Chefe do Estado-Maior do
Exército Brasileiro, onde estava presente o General Castello, que não era o
titular nessa ocasião, organizou um curso de Guerra Revolucionária: Ação Educativa
Contra a Guerra Revolucionária, que recebi quando Chefe do Estado-Maior da 8ª.
Região Militar, no Pará. Um trabalho do próprio Estado-Maior do Exército, quase
clandestino e todos eram informados de que deveria ser reservado. No Pará,
recebíamos os fascículos (o Senador Passarinho exibiu um exemplar do
documento), nos quais estavam incluídos todos os ensinamentos sobre a guerra
revolucionária e a forma pela qual progrediam e conquistavam seus objetivos;
inclusive sobre a guerra psicológica preparatória da guerra revolucionária”
(Senador Jarbas Gonçalves Passarinho, Tomo 5, pg. 52).
“Particularmente
interessante, naquela época [1963], o fato de a carga horária da instrução
estar dividida quase meio a meio: uma parte era a regular de Artilharia [I/7º.
RO 105, no Recife], e a outra, por influência da guerra do Vietnam e da
conjuntura internacional, era absorvida pela instrução de guerra revolucionária
– guerrilha, controle de tumultos etc.
A instrução foi muito
intensificada, no início de 1964, coincidentemente com a chegada à Unidade de
um oficial superior que passou a desempenhar as funções de S/3, o Major Hugo
Caetano Coelho de Almeida, especialmente se comparada com a do ano anterior.
(...)
Em um exercício realizado no
Forte de Pau Amarelo, local onde havia muito mato, foi feita a limpeza a fim de
balizar no terreno um arruado para a prática de instrução de controle de
tumulto em área urbana. Um repórter do Diário
de Pernambuco assistiu ao exercício e, no final – quem estava no comando
era o Major João José Cavalcanti de Albuquerque, pois o Coronel Ivan Ruy
Andrade de Oliveira estava de férias – o Major Hugo disse ao repórter:
- Com esse tipo de
treinamento somos capazes de controlar cerca de seis mil pessoa na rua, sem que
seja necessário disparar um único tiro (Coronel Osman Godoy, Tomo 6, pg.
192-193).
“Ainda como subsídio para
nos prepararmos contra a subversão, recebíamos o Mensário de Cultura Militar,
da Escola Superior de Guerra, que publicava periodicamente artigos de coronéis
franceses que lutaram na Argélia e enfrentaram a guerra revolucionária e também
artigos sobre a guerra dos portugueses na África. Alguns brasileiros escreveram
artigos sobre o assunto. Além dos nossos, a Suzanne Lebin publicou o livro Il Est Moin Cinq e ainda o Curzio
Malparte – um autor italiano – publicou La
Tchnique du Coup d’État (A Técnica do Golpe
de Estado” (General-de-Divisão Léo Guedes Etchegoyen, Tomo 8, pg. 178).
Obs.:
Durante
o governo militar, foram criados Programas-Padrão de Instrução, voltados para a
instrução militar de recrutas e alunos das Escolas Militares, que incluíam o
Movimento de 1964 e a Intentona Comunista de 1935.
Quando
fui monitor fotocinegrafista na Escola de Instrução Especializada (EsIE), na
Seção de Meios Auxiliares, projetei no Auditório muitas vezes esses
audiovisuais, compostos por slides e som em fita K-7, após o horário de
expediente, para instrução dos alunos e recrutas da Escola, ainda no período de
internato.
Sobre
as vítimas da Intentona Comunista, acesse https://felixmaier1950.blogspot.com/2020/06/vitimas-da-intentona-comunista-de-1935.html.
F. Maier
Panfletagem
comunista dos capitães Chuay e Suzano
“Nessa época, estava eu como
instrutor da Escola de Artilharia de Costa, sediada em prédio próximo à Escola
Superior de Guerra (ESG), no interior da Fortaleza de São João.
Existia, durante esse tempo,
uma rede de rádio interligando o Quartel-General da Artilharia de Costa da 1ª.
RM (QG ACos/1ª. RM), com sede junto ao Forte Copacabana, com seus dois
Grupamentos e suas OM subordinadas, da qual a EsACos fazia parte como ouvinte.
Atento à manobras daquele
Governo e sabedores de que no QG da A Cos havia alguns oficiais declaradamente
comunistas, como o Capitão Eduardo Chuay e o Capitão Suzano, permanecíamos na
escuta, a fim de surpreender diálogos que viessem a confirmar nossos informes
e, ao mesmo tempo, colher outros indícios que fossem de posterior valia.
O Capitão Chuay, ainda na
Academia Militar, como cadete, já defendia com veemência a doutrina marxista,
exercendo forte influência sobre aqueles companheiros que não possuíam uma
acendrada convicção democrática. Através de ampla bibliografia voltada para
seus interesses, distribuía livros a esses companheiros que se deixavam
entusiasmar por essa literatura espúria. Isto explica o fato de que a sua turma
de formação tenha sido aquela com o maior número de cassados.
Voltemos ao ano de 1963,
quando, fiel aos seus pensamentos de jovem cadete, o Capitão Chuay, já com
livre trânsito junto à Presidência da República, usava de sua influência na
Caixa Econômica Federal para conseguir financiamento para aquisição da casa
própria para seus pares que, desta forma, se deixavam levar por suas ideias,
passando a defender suas convicções” (Coronel Luiz Mario Portocarrero de Castro
Sá Freire, Tomo 11, pg. 164).
“A
América ficou assustada com a vitória da revolução cubana. A família militar
brasileira ainda mais, pela recordação do sacrifício de 1935, a conhecida Intentona
Comunista. O General Castello Branco, quando Diretor Geral de Ensino, tomou a
iniciativa de introduzir nos cursos das escolas a matéria Movimentos
Revolucionários. Que me lembre, foi o primeiro chefe militar brasileiro a
preocupar-se com o estudo desses movimentos que se expandiam pelo mundo.
(...)
(...)
Essa preocupação com a questão do comunismo continuou na chefia do EME.
Ele estava bem consciente?
[entrevistador]
Estava
bem consciente. Quando assumiu o EME, sua preocupação foi intensificar o estudo
do Movimento Comunista Internacional (MCI) nas escolas e comandos militares. Na
ECEME, mais tarde, foi instrutor da Área 1 – Segurança Interna – passamos a
fazer traduções de manuais de guerrilha dos Estados Unidos escritos à época da
Guerra da Coreia (Coronel Anysio Alves Negrão, Tomo 15, pg. 321).
O ensino da Guerra Revolucionária (G
Revo)
O
ensino de Guerra Revolucionária (G Revo) foi previsto em Nota de Instrução
baixada pelo Chefe do EME, general Castello Branco. Um trabalho exemplar sobre
G Revo foi feito na AMAN, cujo comandante era o general Médici.
A
esquerda diz que a G Revo era decorrente da influência americana no Brasil,
principalmente por meio da Escola das Américas, localizada no Panamá. Queria
ela que nossos estudos sobre G Revo fossem influenciados pela Universidade de
Amizade dos Povos Patrice Lumumba, sediada em Moscou?
“A guerra fria influiu poderosamente, e é
preciso ver uma coisa muito importante, que precisa ser caracterizada: as
lições das guerras da Indochina, do Vietnã, de Angola e da Argélia fizeram com
que surgisse toda uma literatura sobre a guerra subversiva, sobre a guerra
insurrecional.
Lembro
de um grande autor francês, Gabriel Bonnet, que escreveu um livro sobre guerras
insurrecionais, interessantíssimas. Também existia um militar português, com
grandes obras, todas desenvolviam essas idéias. Eis que surgiu, então, a
doutrina da guerra revolucionária. Essa doutrina – as pessoas confundem um
pouco – pois pensam que foi trazida da Escola das Américas e dos Estados Unidos.
A Escola das Américas contribuiu muito, ajudou em outros aspectos, sobretudo
nos ligados à repressão e ações policiais, mas esse clima da guerra
revolucionária foi importado da Escola Superior de Guerra de Paris, que passou
a desenvolver a teoria da guerra revolucionária. Recordo-me claramente, estava
na Escola de Estado-Maior, como instrutor, e as conferências da Escola Superior
de Guerra versavam sobre guerra revolucionária. Havia aquelas famosas ‘cinco
fases da Guerra Revolucionária” (General-de-Divisão
Octávio Pereira da Costa, Tomo 2, pg. 59-60).
Obs.:
O ex-guerrilheiro, amigo de Lamarca, Aluizio
Palmar, no blog “Documentos Revelados”, apresenta a relação dos alunos
brasileiros que frequentaram a Escola das Américas – cfr. em http://felixmaier1950.blogspot.com/2020/07/relacao-de-militares-que-frequentaram.html.
F. Maier
“As medidas tomadas pelo Estado-Maior do Exército (EME), a fim de instruir os quadros – oficiais e sargentos – sobre a doutrina de guerra revolucionária foram oportunas e acertadas. O EME produziu uma série de documentos que facilitavam o entendimento do assunto. Passamos a dominá-lo e, como tal, a reconhecer nos fatos que corriam a existência de uma guerra revolucionária em andamento. A sensibilidade do EME permitiu a inclusão, nos currículos dos estabelecimentos de ensino militares, o assunto Guerra Revolucionária.
O
próprio General Castello, que era o chefe do EME, quando proferiu a aula inaugural
do ano letivo de 1964, no mês de fevereiro, na Escola de Aperfeiçoamento de
Oficiais (EsAO), teve o ensejo, como chefe, de deixar uma mensagem para a
reflexão dos capitães, sobre o assunto” (General-de-Divisão César Montagna de
Souza, Tomo III, pg. 42).
“Chegamos,
então, à década de 1960 e às causas próximas do Movimento de 1964. Naquela
ocasião, o Movimento Comunista Internacional conseguira lançar uma cunha no
território americano: Cuba, no Caribe, com a subida de Fidel Castro, em 1959, e
a implantação do regime comunista, trampolim para a Revolução Bolchevista nos
países em desenvolvimento. Nessa época, surgiu a guerra revolucionária. E em
1961, foi feito o primeiro exercício de guerrilha rural. Eu era Cadete de
Infantaria. Colocaram-nos em grupos e nos mandaram para o campo em trajes
civis. Era uma coisa assim meio diferente, pois, até então, estávamos
acostumados com a instrução padrão, o Batalhão no ataque e a Companhia na
defesa, e de repente nos colocam à paisana e de barba crescida, para fazer um
exercício” (General-de-Divisão Théo Espindola Basto, Tomo 12, pg. 127-128).
“Se
não nos apressássemos, iríamos pegar a revolução deles – comunistas – já
iniciada e em franca evolução. Acredito que todos chegamos à mesma conclusão:
enfrentar uma revolução em que eles tomaram a iniciativa. E, em guerra, tomar a
iniciativa é essencial. Estaríamos limitados, possivelmente, a uma atuação
igual à do Vietnã, em que as duas partes externas tomaram o controle da guerra.
Seríamos a bucha de canhão. Cuba estava, preparada, através da Rússia,
financeira e materialmente, para desembarcar armamento no Brasil, onde já
contava com alguma coisa e com elementos por ela infiltrados. E os Estados
Unidos, tranquilamente, não iam deixar sua retaguarda à mercê dos comunistas. E
numa hora dessas, de desespero, aceitaríamos ajuda. Nunca pedimos, mas
aceitaríamos ajuda dos Estados Unidos ou da Argentina, de alguém que nos
fornecesse armamento. Porque, quando chega o desespero, ninguém pode avaliar.
Foi esse desespero que, felizmente, as Forças Armadas, basicamente, o Exército,
enxergaram antecipadamente. Pelo próprio preparo, talvez pelo exemplo do
Vietnã, anteciparam-se na ação e, com o apoio do povo, conquistaram a vitória,
em menos de vinte e quatro horas” (Tenente-Coronel Idalécio Nogueira Diógenes,
Tomo 4, pg. 181).
“Agora
estou certo de que essa vitória da Revolução, até porque a história é
controversa, no meu entender, foi uma vitória no plano internacional, porque
representou a maior derrota do expansionismo soviético no mundo. Um dia será
reconhecida não só por ter livrado a população brasileira dos horrores do
comunismo, mas também por ter limitado ou atenuado o avanço do comunismo no
mundo. (...)
Não
tenho dúvida de que haveria intervenção, no ambiente da guerra fria em que
vivíamos; haveria intervenção dos Estados Unidos, da União Soviética e iríamos
sofrer as consequências da disputa entre eles pela hegemonia no mundo”
(General-de-Divisão Agnaldo Del Nero Augusto, Tomo 5, pg. 102-103).
Obs.:
Em 1971, quando fiz o curso de sargentos
na Escola de Instrução Especializada (EsIE), período básico, depois fui para a
Escola de Comunicações – Es Com, também havia ensino de G Revo, um manual de
mais de 200 páginas.
F. Maier
Plano Junção
“A preparação da Revolução foi coordenada e minuciosa ou seu desencadeamento foi espontâneo? [entrevistador]
Eu diria que foram as duas coisas. Em parte, foi coordenado, porque o Estado-Maior do Exército (EME) publicava uns folhetos sobre a Guerra Revolucionária. Então os tenentes, capitães e mesmo outros militares de postos mais elevados nos indagavam:
- Coronel? Estamos na primeira ou na segunda fase?
Houve essa coordenação. Falando sobre isso, temos o caso da nossa Divisão: ela foi sui generis, talvez no âmbito do Brasil, porque foi comandada pelo General Mourão (Olympio Mourão Filho) e temos que dar mérito a quem o tem. Sou testemunha porque fui seu Chefe de Estado-Maior. Ele já estava preocupado com a situação desde á muito, e todos os meses um oficial do Estado-Maior visitava as Grandes Unidades e Unidades subordinadas, às vezes de quinze em quinze dias, para verificar se estava tudo bem. O General fazia ligações com o Governador Ildo Meneghetti e com outras autoridades, expondo sua preocupação. Foi o grande batalhador da causa.
Tentei servir no Rio, fiquei três meses lá e voltei para Santa Maria. No meu retorno, o General estava aborrecido com o Chefe do Estado-Maior interino, pois queria elaborar um planejamento revolucionário e o camarada estava relutando. Isso aconteceu alguns dias antes da minha chegada. Assim que me apresentei, ele me falou sobre o assunto. Então me dediquei ao ‘Plano Junção’ que, após ser desenvolvido, foi assinado. Era o seguinte: se fechassem o Congresso, como prometiam – há provas irrefutáveis sobre isso – a 3ª. DI sairia campo afora, não sei para onde nem por onde, mas sairia.
Tempos depois, o Mourão foi transferido para São Paulo e, ao passar pelo Rio, declarou que eu fora um Chefe de Estado-Maior leal e revolucionário. E era verdade. Agíamos muito, mas em sigilo absoluto, porque se algo transpirasse, seríamos transferidos. O Adolpho João (Adlopho João de Paula Couto) foi transferido para uma Circunscrição de Recrutamento (CR), em Mato Grosso. Na CR de Santa Maria, havia o Coronel Edmundo (Edmundo da Costa Neves), que depois foi promovido a general.
Eram mandados normalmente para uma CR. [entrevistador]
Porque aquelas Unidades não dispunham de tropa.
Lembro que, em 1963, quase todas as CR eram comandadas por excelentes coronéis: heróis da FEB, oficiais de Estado-Maior, todos brilhantes. [entrevistador]
Pois é, nós éramos transferidos e o pessoal que atuava no outro lado era prestigiado. Havia um sargento deputado – se não me engano de nome Antônio Garcia Filho – que percorria as Unidades, falando e doutrinando os sargentos e subtenentes. Esteve em Santa Maria e entrou em duas Unidades. Naquela ocasião, eu comandava interinamente o 7º. RI e fiquei sabendo. Ordenei que se ele aparecesse, não o deixassem entrar e se por um motivo qualquer ele burlasse a vigilância, que o prendessem no xadrez. Não apareceu mais. O pessoal da esquerda era favorecido, haja vista o Castello Branco, que foi removido de Pernambuco porque estava atrapalhando o Arraes” ( General-de-Brigada Ramão Menna Barreto, Tomo 13, pg. 138-139).
O contragolpe dos militares contra Jango
estava marcado para ocorrer no dia 4 ou 5 de abril de 1964, segundo muitos dos
entrevistados
Depoimentos
de vários militares nesta obra “História Oral do Exército – 1964” se referem a
essas datas. A data foi antecipada para 31 de março devido ao levante de Minas
Gerais, feito pelo General Olympio Mourão Filho.
Já
cientes do golpe de Jango em marcha, a cúpula militar conspiratória havia
marcado a data do contragolpe para 3 ou 4 de abril de 1964; mas, como é do
conhecimento de todos, o general Mourão Filho antecipou o levante em Minas
Gerais para o dia 31 de Março de 1964 e o resto é história; a ECEME já se
considerava sublevada desde o dia 30 de março, segundo o depoimento do Coronel
Hélio Lourenço Ceratti; houve movimentação de tropas do Rio para Minas e para
São Paulo, de Mato Grosso e de Minas para Brasília, de São Paulo para o Rio –
com a disposição dos cadetes da AMAN na
Via Dutra, além de muita movimentação no RS; felizmente, não houve
enfrentamento bélico, assim como não houve em 1961.
“Sabemos
que, dentre os nossos princípios de guerra, está um muito aplicado por
Napoleão: a surpresa. Então a surpresa foi decisiva, aquilo aniquilou qualquer
tentativa de uma reação ordenada. Lembro-me de uma das capas da Revista
Petrobras que continha o desenho camuflado de fuzis e armas de uma possível
revolução comunista, que iria se manifestar em maio de 1964. A Petrobras estava
completamente infiltrada de comunistas a ponto de apresentar em sua revista
oficial um sinal claro do estava por vir” (Coronel Reynaldo de Biasi Silva
Rocha, Tomo 3, pg. 322).
“No
dia 30 [de março de 1964], mais ou menos às 8h30m da manhã, o nosso diretor de
ano, Coronel Cesário (Luiz Cesário da Silva), pai do General que hoje chefia o
Centro de Comunicação Social do Exército (CComSEx), chegou a nossa sala e
suspendeu a aula em curso. Informou que a Escola estava rebelada e que a partir
daquele momento só obedeceria às ordens do Chefe do Estado-Maior do Exército,
General Castello Branco.
Só para confirmar, a data é importante,
este posicionamento da ECEME ocorreu no dia 30 de março?
[entrevistador]
Confirmo,
foi no dia 30 de março de 1964. Quem estava ministrando a aula interrompida
pelo Coronel Cesário era o Paiva Chaves (Carlos Alfredo Malan de Paiva Chaves).
No fim da reunição chegiada pelo Coronel Cesário, os oficiais sabidamente
ligados ou simpáticos ao Governo Jango foram convidados para uma conversa no
gabinete do diretor de ano. Eram uns quatro ou cinco colegas que não mais
retornaram ao nosso convívio.
Os que
permaneceram na sala foram distribuídos em vários grupos, com missões
específicas. Uns foram ocupar os Fortes da Zona Sul, onde só atuariam para
assumir o comando de Unidades ou dar assessoramento aos comandantes
revolucionários. O encargo de um desses foi o de coordenar a segurança do
Governador Carlos Lacerda no Palácio das Laranjeiras” (Coronel Hélio Lourenço
Ceratti, Tomo 13, pg. 183).
“Quando
o General Castello Branco tomou conhecimento das linhas gerais do planejamento
feito, repetiu: ‘Qualquer movimento armado deveria partir de Minas Gerais e não
de São Paulo, porque todos se voltam contra São Paulo’. Ele não queria a
repetição do que aconteceu em 1932” (General-de-Brigada Rubens Resstel, Tomo 7,
pg. 97).
“O
povo brasileiro, irmanado em três raças fortes, base da sua formação, em
perfeita harmonia com suas Forças Armadas, iria reagir à ideologia comunista
estimulada pelas apátridas declarações do Sr. Luís Carlos Prestes. A primeira
delas foi quando Prestes, numa discussão no Senado com o ex-interventor da
Bahia, Juraci Magalhães, declarou que, em caso de guerra entre o Brasil e a
Rússia, combateria ao lado da Rússia. A segunda declaração, já em março de
1964, foi no Recife, ao fazer o seguinte pronunciamento: ‘Nós, os comunistas,
já estamos no governo, só nos falta o Poder’. Por aí a gente vê e confirma o
grau de infiltração e de comandamento comunista no Governo Jango” (Empresário
Francisco Martins de Lima, Tomo 4, pg. 266).
“Esses
três episódios [dias 13, 26 e 30 de março de 1964] mostravam o avanço das ações
comunistas na direção da tomada do Poder, a ponto de Luís Carlos Prestes, o
chefe maior de todos os comunistas do Brasil, pronunciar, no Recife, a seguinte
frase: ‘Nós, os comunistas, já estamos no Governo, só nos falta o Poder’. Esse
pronunciamento confirma a intenção comunista da tomada do Poder que, aliás,
estava prevista para o dia 1º. De maio de 1964, Dia do Trabalho, conforme
indicava a documentação da cúpula comunista apreendida na época. Então, esses
três eventos, associados ao ‘1º de maio’ e ao estímulo das Marchas da Família
com Deus pela Liberdade, apressaram o desencadeamento da Revolução e
precipitaram o seu eclodir para 31 de março de 1964” (Tenente-Coronel Idalécio
Nogueira Diógenes, Tomo 4, pg. 186).
“No
fim do ano de 1963 – setembro de 1963 – o General Castello Branco assume a
Chefia do EME e, interessante registrar, vai encontrar um grande número de
oficiais completamente engajados no processo revolucionário. O EME era tratado
como se fosse um ‘depósito de pessoal’: quem não estivesse concordando com o
governo, iria para o Estado-Maior do Exército”
(General-de-Brigada Ruy Leal Campello, Tomo III, pg. 55).
“Eu,
como tenente, desconhecia que algo estivesse sendo feito, para dar um fim a
essa situação. A única vez em que tive alguma pista, algum sinal, e não entendi
absolutamente nada do que foi dito. Foi em uma determinada prontidão, quando um
tenente comprou um vinho branco da marca Castelo. Os oficiais sentados à mesa,
eu ponderava sobre todos esses fatos que estavam acontecendo e afirmava que não
aguentava mais e que estava pensando em sair do Exército. O Tenente Porto
Alegre (Jorge Carlos Porto Alegre Rosa), que depois chegou a general-de-brigada,
interveio:
-
Pizzotti, fique calmo porque este vinho ‘Castelo’ vai nos salvar.
Sinceramente,
não entendi coisa alguma e, ainda, tentei questionar. Ele insistiu:
- É
o vinho que vai nos salvar; tome dele que você vai ser salvo” (General-de-Brigada
Oacyr Pizzotti Minervino, Tomo 7, pg. 113).
“Naquele
quadro político que emergiu após a Legalidade, era de se presumir que o Governo
colocasse pessoal de sua confiança nos comandos importantes. Mas na hora ‘H’ o
que se viu foi o esquema todo ruir. O General Luiz Tavares da Cunha Mello que
comandou a Divisão que partiu na direção de Minas foi um dos poucos que
conseguiram mobilizar tropas para a defesa do Governo. Mesmo assim, no primeiro
confronto com as tropas do General Mourão houve a rumorosa defecção do
Regimento Sampaio e de outras Unidades. No Rio, praticamente, foi só o General
Cunha Mello que se definiu claramente em favor do Governo.
Aqui
no Sul, o General Ladário Pereira Telles assumiu o Comando da 6ª. DI e depois o
do III Exército, mas não conseguiu exercê-los. Os oficiais da 6ª. DI e os do
III Exército não cumpriam as ordens dele contrárias à Revolução.
(...)
Uma
cena que não esqueço: quando correu a notícia de que o Jango fugira, ou viajara
para o Uruguai, olhávamos do Forte [Duque de Caxias] e era uma festa só em
Copacabana: desfile, carros, buzinaço, velas e lençóis brancos nas janelas, o
povo todo na rua e foguetes por todo o Rio de Janeiro. Foi realmente um
espetáculo inesquecível a homenagem às forças que haviam derrubado o Jango. Um
exemplo de apoio popular impressionante que muitos insistem em esquecer”
(General-de-Brigada Egêo Corrêa de Oliveira Freitas, Tomo 8, pg. 218).
Suspensão do licenciamento dos soldados
em Novembro de 1963
“Estudávamos
guerra revolucionária, terrorismo, guerrilha urbana, tudo isso os cursos
ensinavam. Agora, em nenhum dos cursos que fiz, nem nas áreas de quartéis-generais
onde servi, nunca ouvi dizer que isso fosse especificamente dirigido para um
determinado movimento como se formou em 1964.
Então
vou entrar na sua ‘chave’. Primeiro: acredito que o Estado-Maior do Exército
agiu, naquela época, com uma precisão notável até o último momento. O golpe fatal foi
suspenderem a baixa dos soldados em novembro. Aquilo foi de uma perspicácia
enorme.
É a primeira vez que ouço isso. [Entrevistador]
Quando
março chegou, não tínhamos recrutas, só soldados adestrados, inclusive para
controle de tumultos. Isso é mais um aspecto a ressaltar. Acho que o
Estado-Maior do Exército foi quem visualizou e conduziu esses caminhos que a
EsAO e a Escola de Comando e Estado-Maior do Exército (ECEME) adotaram e que
propiciaram ao Exército estar em plenas condições para atuar, como ocorreu em
1964” (Tenente-Coronel Alexandre Máximo Chaves Amêndola, Tomo 8, pg. 393).
“Meu
pai [General Carlos Luís Guedes], muito tempo depois, contou um episódio do
então General Ademar de Queiroz, Ministro da Guerra, já na época do Castello
Branco, o qual dizia que, no QG, neste QG que hoje pertence ao Comando Militar
do Leste, nos corredores, nos banheiros, já se conspirava contra aquilo que
estava acontecendo no País. E havia tentativas concretas de se fazer alguma
coisa.
Minas
apenas saiu na vanguarda, porque meu pai dizia o seguinte: ‘Ou nós começamos ou
eles [os comunistas] começam; se nós começarmos nós conseguiremos a
redemocratização e não deixaremos o País ir para o comunismo porque, se o
comunismo vier, aí vai demorar uma eternidade para se voltar à democracia e vai
correr muito sangue’. Essa era uma das mensagens dele.
Aquela
reunião no Acaiaca colocou o civil na rua, e os movimentos, então, começaram a
ser mais claros, até o próprio rompimento do Governador Magalhães Pinto com o
Presidente João Goulart.
Faço
um parênteses quando falo no Governador Magalhães Pinto, porque ele era
governador de um grande Estado, e precisava do apoio do Presidente. Mesmo
assim, em 1962, ele uniu a Polícia Militar (PM) e colocou sob o comando do
Exército. Aí, aparece o Coronel José Geraldo, Comandante da PM, um dos grandes
chefes revolucionários, e que pensava da mesma forma do meu pai; lembro que a
PM tinha 18 mil homens na ocasião e que as tropas de Minas não passavam de três
mil.
Então,
a união com a PM era muito importante para nós, e isso é que fez com que Minas
partisse, finalmente, unida. Foi a partir desse episódio, que o Magalhães foi
num crescendo, num crescendo mesmo. No início ele dizia que não podia mostrar a
sua face revolucionária, porque o Governo de Minas é que seria prejudicado,
verbas não viriam, o Governo seria afetado, enfim, a dependência do Estado de Minas
ao Governo Federal era um fato inegável.
Mas,
em 30 de março de 1964, ele fez um manifesto, no qual ele rompia publicamente
com o Governo Federal, expondo as mazelas que vinham sendo praticadas a olho
nu, como se dizia: todo mundo via, mas ninguém falava.
Daí,
a aceleração das providências visando à partida do Movimento de 31 de Março de
1964, antes que fossem destruídas todas as bases daquilo que estava sendo
organizado, volto a dizer, praticamente desde 1962, inclusive, porque a ideia
inicial do movimento não era apenas derrubar o Presidente – nem se sabia se
iríamos conseguir uma coisa dessas – mas criar, dentro do Brasil, um Estado que
permitisse a quem não fosse comunista vir ao seu encontro” (Coronel Carlos
Alberto Guedes, Tomo 9, pg. 241-242).
“Sabemos
que o então Coronel Figueiredo, mais tarde Presidente da República, era da
ECEME e na época organizou um grupo de oficiais para pressionar, trabalhar e
conspirar contra o Governo. Sabíamos também que Castello Branco era um homem
extremamente legalista; isso faz parte da sua biografia e ele só se decide pelo
Movimento de 1964 praticamente no seu deflagrar.
(...)
Diria
mais que o Dutra entrou nisso, há evidências do Dutra nessa coisa. De todos,
temos mais a falar do General Mourão Filho e do General Carlos Guedes, que
foram os homens que botaram a cabeça na guilhotina, porque foram os chefes que
saíram lá das Minas Gerais, com forças fraquíssimas, mas moralmente potentes
para vir ao Rio deflagrar e consagrar o Movimento armado, juntamente com o
Comandante da coluna – o General Muricy, que marchou à frente das tropas
mineiras” (General-de-Exército Luiz Gonzaga Schroeder Lessa, Tomo 10, pg. 63).
“É
como eu disse: o Mourão quis ser, e foi o estopim, provocou, deu o primeiro
passo. É aquela história dos ratos, da assembleia dos ratos para se defender
dos gatos: os ratos estavam preocupados, pois vinham sendo comidos pelos gatos
e aí convocaram uma assembleia. Lá se discutiu isso e aquilo – como se discute
coisas inúteis em assembleia – até que um rato disse: ‘Vamos colocar um guizo
no rabo do gato e toda a vez que ele se mexer, o guizo toca e nós nos escondemos’.
Foi aplaudido, aprovada a moção por unanimidade. Então, um outro rato
perguntou: ‘E quem é que vai botar o guizo no rabo do gato?’ O Mourão pôs o
guizo no ‘rabo do gato’. Ele criou o problema. Porque o que havia muito... Eu
estava perto do General Penha Brasil (quatro estrelas), vivia ‘batendo papo’,
digamos, assim como o Castello e os outros e nos mantinham relativamente bem
informados. Ninguém estava falando em colocar o guizo. E os quatro estrelas? O
Amaury Kruel vacilou até a última hora, custou muito a se definir. O Âncora
estava do outro lado. Os generais estavam divididos. O Osvino era nitidamente
do Governo e o Jair Dantas Ribeiro uma péssima figura. Estava disposto a fazer
o que quiser que fosse para ser ministro, como foi. Havia essas simpatias. O
Kruel, na madrugada de 31 de março para 1º. de abril, telefonou para o Médici
na AMAN, informando-lhe que decidira pela Revolução e solicitava o apoio de
Médici, no que fosse possível, e o Médici hipotecou-lhe solidariedade.
Foi
daí que ele partiu de São Paulo para a AMAN – na tarde do dia 1º., quando parte
de suas tropas já havia chegado a Resende – para a reunião com o Âncora, que
foi do Rio e estava respondendo pelo Ministério – o Jair estava no hospital. O
Médici promoveu o encontro dos dois, no qual chegaram a um consenso. Vale
lembrar que o Médici já havia ocupado, com o Corpo de Cadetes, uma posição
defensiva frente às forças do I Exército que viriam para São Paulo. O Âncora,
após o encontro com o Kruel, retornou e entregou o comando para os generais que
já estavam reunidos no Palácio Duque de Caxias, no Rio, aguardando o final das
tratativas na Academia. Se tivesse sido diferente, poderia ter acontecido um
problema muito sério, porque a situação da tropa não estava ainda definida
totalmente” (General-de-Brigada Celso dos Santos Meyer, Tomo 10, pg. 139-140).
Estrangeiros infiltrados na Faculdade
Nacional de Filosofia
“Vários
estrangeiros estavam infiltrados, plantados na sociedade brasileira. Como
exemplo, citamos o casal russo Sônia e Ivan, conhecidos, no Brasil, por Stela e
Heinz, fazendo-se passar por alemães.
A
Faculdade Nacional de Filosofia era sempre frequentada por um senhor de idade,
estrangeiro, que se dizia alemão e que todos os dias ia àquele educandário para
jogar xadrez. Quando eclodiu o movimento revolucionário, ele desapareceu e
ninguém até hoje sabe nada a respeito dele.
No
dia 30 de março de 1964, véspera do Movimento 31 de Março de 1964, o estudante
Antônio Carlos Silveira Alves foi ferido, acidentalmente, por um tiro quando
recebia instrução de uso de arma de fogo dentro de uma das salas de aula da
Faculdade Nacional de Filosofia, o que pode caracterizar bem que a revolução
comunista se encontrava em andamento. No início do fato do tiro acidental, o
membro do Partido Comunista e também aluno Antônio Carlos Faria Pinto Peixoto,
que ministrava a instrução, se opôs a que o ferido recorresse a um hospital,
para que não denunciasse e não desse informação a respeito do assunto.
Só
no dia seguinte é que ele foi atendido no Hospital Miguel Couto, sendo que
correu um boato muito forte de que ele tinha morrido, sem ter sido atendido.
Isso é prova suficiente que Alfredo Sirkis está errado ao dizer que tudo
começou com a morte do estudante Edson Luís de Lima Souto no restaurante do
Calabouço, no Rio de Janeiro, em 28 de março de 1968.
O
Calabouço era um núcleo tremendo de comunistas e mantinha ligação com a
Faculdade Nacional de Filosofia, cuja atuação tinha um âmbito enorme, muito
vasto, alcançava vários pontos aqui do Rio de Janeiro, mantendo ligação
permanente com várias outras faculdades.
Em
alguns dias daquele ano, quando estava no Rio, a serviço, assisti àquela turba
de estudantes no Centro da Cidade, quebrando tudo por onde passavam. Inclusive
lojas comerciais que não tinham tido tempo de fechar as suas portas. Era uma
multidão incontida, raivosa, verdadeiras hordas.
(...)
Clube da cueca
Dentro
das normas gerais de ação adotadas pelos comunistas num primeiro estágio,
deviam procurar fazer com que o aluno quebrasse os seus vínculos com a família
e, por esse motivo, o membro do partido comunista Pedro Celso Uchoa Cavalcante
Neto, anterior inclusive ao inquérito da Faculdade Nacional de Filosofia, mas
que levantamos na época, fundou o ‘clube da cueca’, que nada mais era do que um
apartamento para encontros com a finalidade de alunos da Faculdade Nacional de
Filosofia realizarem relações sexuais de acordo com quem estivesse lá
disponível.
Alguns
anos depois, quando aquele aluno comunista saiu da Faculdade, foi então criado
pelo aluno membro do PCB (Partido Comunista Brasileiro), Antônio Carlos Faria
Pinto Peixoto, o ‘clube do amor livre’, que funcionava de maneira ideêntica ao
‘clube da cueca’ ” (Tenente-Coronel Orestes Raphael Rocha Cavalcanti, Tomo 11,
pgl 284-285).
Chineses com muitos dólares e
canetas-revólveres
“Quando
eclodiu o Movimento de 31 de Março de 1964, foram detidos vários chineses.
Muita gente também não se lembra disso. Eles estavam de posse de muitos dólares
e canetas-revólveres calibre 32. Estive com essas canetas na minha mão, na
época que estava à disposição do inquérito policial militar da Faculdade
Nacional de Filosofia e andava sempre em contato íntimo com o SNI e, através do
SNI, cheguei a manusear essas canetas.
Eram
canetas como essa aqui, como uma caneta comum. Tinha percussor que ficava
travado, era do tipo dessa técnica que é usada com essas canetas multicores,
que a gente abaixa uma e prende. Servia para fazer a eliminação seletiva,
atividade em que era muito usada. A pseudocaneta-tinteiro era muito empregada
no terrorismo seletivo.
Quando
eclodiu o Movimento de 31 de Março, estavam cheios de dólares e com essas
canetas, e a única coisa que aconteceu na época é que eles foram expatriados,
recambiados lá para a China, foram expulsos do País” (Tenente-Coronel Orestes Raphael
Rocha Cavalcanti, Tomo 11, pg. 298).
Na Faculdade de Direito da Universidade
Federal do Ceará, comunistas ameaçam professores no “paredão de fuzilamento”
“Na
Faculdade de Direito, onde exercia o cargo de professor: era um professor
jovem, um desportista atuante, e, por conta disso, tinha boa convivência com os
jovens universitários e depois, junto ao 10º. GAC, onde estagiava. Na Faculdade
de Direito, realmente, pude sentir violentar ameaças que motivaram, inclusive,
a necessidade da ocupação daquele estabelecimento de ensino, para que a ordem
fosse restaurada. E quero dizer que, naqueles momentos, muitos professores
foram constrangidos a assinarem manifesto comunista. Os que se recusaram a
tanto foram violentamente ameaçados de morte no ‘paredão de fuzilamento’,
quando os comunistas vencessem a batalha. Eu, certamente, fui um desses tantos,
mas não me quebrei sob as ameaças e reagi” (Procurador de Justiça Meton César
de Vasconcelos, Tomo 12, pg. 323).
Obs.:
O Procurador de Justiça Meton fez CPOR,
com estágio de segundo-tenente, no 10º. Grupamento de Obuses 105, atual 10º.
GAC.
F. Maier
II. ANTECEDENTES IMEDIATOS OU DIRETOS
Corrupção generalizada
“A
Alfândega de Santos era o exemplo da instituição da corrupção no âmbito
governamental pela ‘máfia’ ligada ao janguismo e pela ‘burguesia-pelega’ da
época. Inspetores, conferentes, despachantes, constituindo verdadeiras
quadrilhas, não raro com o beneplácito de elementos do Judiciário, como
advogados e juízes, forjando mandados de segurança, oficializando o
contrabando.
Na
ponta do fio, os despachantes patrocinavam ‘andorinhas’, pessoas de todo o
tipo, desde garçons a vendedores de loja, com passaporte, viagens e estadas
pagas nos Estados Unidos. Dessas viagens, tão ‘ilustres’ passageiros importavam
Impalas – automóveis de último tipo da época – com porta-malas lotados de
muamba com destino ao Paraguai, em trânsito por Santos, como ‘bagagem
desacompanhada’. Chegavam a Santos Impalas e mais Impalas que, através de
‘mandados de segurança’, impetrados pelos ‘viajantes’ – isto é, despachantes –
eram liberados no Porto de Santos e negociados de imediato por figurões da
época que já aguardavam a ‘mercadoria’.
Tudo
forjado, falsificado, contrabandeado, enriquecendo a burguesia pelega da época.
Fui designado encarregado de Inquérito Policial Militar (IPM) para apurar a
corrupção latente, o que realizei a duras penas, desmascarando a máfia e
apontando à Justiça os envolvidos” (Coronel Antonio Erasmo Dias, Tomo 7, pg.
136-137).
Sublevação de sargentos no 18º. RI, no
19º. RI e na Companhia de Guardas – 29 para 30 de agosto de 1961
“Na
época, servia no 18º. Regimento de Infantaria (18º. RI) e comandava um dos seus
Batalhões. O Comandante do Regimento, Coronel Ottomar (Ottomar Soares de Lima),
teve que assumir interinamente a Infantaria Divisionária da 6ª. Divisão de
Intantaria (ID/6). (...) Nesse tempo, aconteceu um movimento comunista dentro
do 18º. Coincidência ou não, no mesmo momento eclodia algo semelhante em outras
duas Unidades do III Exército: na Companhia de Guardas, comandada pelo Pedro
Américo Leal, e no 19º. RI. Consta, não confirmei nunca, que houve até um
sargento ferido lá. Se não me engano, servia lá um comunista notório, o Nunes
(Oswaldo Nundes).
Para
meu azar, quando me informaram que os sargentos haviam se sublevado, o Comandante
estava fora do quartel; tinha sido chamado ao Qaurtel-General e não regressara.
Os sargentos estavam reunidos em uma subunidade do quartel e pretendiam prender
o Peri quando ele voltasse. Instruí meus oficiais do Estado-Maior para que
permanecessem a postos, mantendo o pavilhão de comando em condições de receber
o Comandante do Regimento. Disse:
- Se
os sargentos tentarem qualquer ação, revidem porque trarei o Coronel.
Uma
das Companhias do meu Batalhão – eu era Subcomandante eventual – a 1ª., era comandada
por um grande Capitão, o Erydson (Erydson Pereira Magalhães). Simultaneamente,
determinei a ele que preparasse um Pelotão de confiança e fosse buscar o
Comandante onde ele estivesse, porque iria assumir o Comando do Regimento. E
mandei os oficiais garantirem a posse.
Decidi
abordá-los e quando entrei na sala, deparei-me com uma porção de sargentos na
minha frente, todos armados. Era de madrugada. Pensei comigo: ‘estou roubado’.
Aí fiz uma peroração:
-
Como é que vocês se arvoram no direito de abandonar suas Unidades e se reunirem
aqui como desordeiros.
Disse
o que tinha vontade de dizer, porque, nessa hora, mesmo não sendo de falar
muito, a palavra vem fácil, é uma coisa interessante. Falei com naturalidade,
mas forte. E terminei dizendo:
-
Não tenho medo de vocês, tanto é que vim aqui sozinho, se quiserem me fazer
alguma coisa, façam. Mas saibam que vou reagir.
Eu
atirava muito bem de metralhadora de mão – era até convencido. Nos estandes de tiro das Companhias,
utilizava uma metralhadora de mão INA, de minha propriedade, e enchia o alvo.
Era demagogia, porque apenas queria mostrar que também sabia atirar, mas
naquela ocasião na Legalidade, me serviu.
Era
uma sala pequena e estava com a minha metralhadora atravessada. Quando terminei
de dizer: ‘(...) mas saibam que vou reagir’, vi todos os olhares convergirem
para trás de mim e pensei comigo: ‘estou cercado’. Virei-me rápido e me deparei
com um punhado de oficiais que estavam ali oferecendo solidariedade e proteção
para mim. Fiquei muito comovido.
Embora
tenha conseguido amainar a revolta dos sargentos, eu não me sentia tranquilo,
pois o movimento ainda não tinha terminado. Disseram que a guarda do quartel
estava com as armas voltadas para nós e que há haviam prendido o Capitão
Alencastro (Sérgio Pêgas de Alencastro). Saí brabo e fui ao corpo da guarda
para ver o que estava ocorrendo. Cheguei, desarmei a guarda e prendi os
sargentos. Voltei para o pavilhão de comando, mas sem saber o que poderia
ocorrer ali em diante.
Embora
o movimento estivesse aparentemente debelado, poderia ressurgir a qualquer
hora. Não sabiam quem estava no comando da sublevação. Quando conversei com os
sargentos que iam prender o Comandante, eles disseram que o líder não era
sargento, era um oficial. Como eu confiava nos meus oficiais, não me contive e
disse:
-
Quero o nome desse traidor porque vou matá-lo!
No
relatório que mandei para o QG, escrevi que não permitiria que continuasse vivo
em nosso Regimento um traidor.
Um
dos sargentos, o Mader, disse que daria o nome do oficial. Não sei por que, ele
teve uma crise, começou a chorar enquanto os sargentos diziam:
-
Não diz! Não diz!
Nesse
instante, ouvi um tiro fora da sala e saí correndo na direção do corpo da
guarda. O Capitão Einloft (Oscar Carlos Einloft) surgiu atrás de mim, vindo na
minha direção, indagando: ‘O senhor está bem, Coronel?’ Ele pensou que tivessem
atirado em mim.
Por
fim, tudo acalmou. Este fato ocorreu na noite de 29 para 30 de agosto de 1961.
E aqui está o resultado desse movimento, são doze folhas do meu relatório,
feito no dia 11 de setembro. O Major Péricles Augusto de Machado Neves) foi
quem movimentou o Regimento contra nós. Era comunista. Isso está aqui escrito.
Major Péricles. Ele era de que turma?
[entrevistador]
Foi
meu cadete na Escola Preparatória nos idos de 1943 ou 1944. Uma cabeça
privilegiada, falava vários idiomas, era professor de psicologia, fazia clínica
de psiquiatria. Infelizmente, foi ele que promoveu esse movimento no 18º. RI.
O senhor disse que houve outros
movimentos em duas outras Unidades. [entrevistador]
Na
Companhia de Guardas e no 19º. Agora, em nenhuma, com a mesma intensidade.
Aquela noite eu pensei que ia morrer. Sentimos que o movimento viera de fora
para dentro, porque nos cortaram a luz e o telefone. Eu via a Vila São José
iluminada e no quartel tudo escuro” (General-de-Brigada José Mattos de
Marsillac Motta, Tomo 13, pg. 99-101).
REVOLTA
DOS SARGENTOS EM BRASÍLIA
Mas ali havia também oficiais,
deputados, quiçá generais.
“Com
esse Sargento Prestes de Paula e com o fotógrafo foi capturado um documento, ao
qual tive acesso e li. Por que li? Porque o Capitão José Fernandes Santana
Andrade, Comandante da Companhia, disse: ‘Máximo, você vai levar para o
Regimento [Santos Dumont], no Rio, esse documento que é da máxima importância,
que é o planejamento da revolta.’ Esclareço que chamam de revolta dos
sargentos, mas ali havia oficiais.
Vamos ouvir bem esse trecho do
depoimento do nosso Coronel, porque é da maior importância.
[entrevistador]
Veja
bem, li, tomei conhecimento, o Capitão Fernandes leu para todos nós, e eu
considero aquilo um trabalho de estado-maior. Os sargentos não poderiam fazer
aquilo sem terem generais, oficiais de estado-maior, comprometidos com essa
causa comunista no País, seja por oportunismo, seja por convicção ideológica,
ou seja, por fisiologismo, fazendo aquele jogo. Então, pude me deter na leitura
e considero um documento de peso, que tem aspectos que jamais me esqueci.
Antes
de trazê-lo para o Rio, como uma missão dada pelo Capitão Fernandes, senti-me
tentado a tirar cópias, coisa que lamento muito hoje não tê-lo feito. Mas
aquele rigor, aquela nossa formação o impedia, porque era um documento
confidencial, já tinha tomado conhecimento. De qualquer maneira, hoje também
estaria privado de fazê-lo. Espero que ele exista, em algum lugar porque o
entreguei ao Coronel José Aragão Cavalcante, meu Comandante, que levou para o
quartel-general e, de lá foi encaminhado para a 1ª. DE. Por isso, não sei mais
onde se encontra, e esta cópia eu não tenho. Ele dizia claramente, as ações
estavam previstas, como se uma ordem de operações fosse, em uma delas havia um
item: ‘pelotão de fuzilamento dos oficiais considerados irrecuperáveis para o
regime’. Que regime?
Vou repetir essa frase, esse
título da ordem de operações, que jamais esquecerei: ‘pelotão de fuzilamento
dos oficiais irrecuperáveis para o regime’. Logo a seguir: ‘Comandante do
pelotão de fuzilamento: sargento Dantas, fuzileiro naval’! São passados 38 anos, e isso foi tão fortemente marcado
na minha consciência, na minha visão de oficial diante daquela balbúrdia, que o
nome por eles escolhido não esqueci. Depois, ‘local das execuções’ – é algo que
tem um certo refinamento, e sem dúvida um apuro na escolha por parte desses
mentores, porque foi selecionado um local adequado, que eram os porões do
prédio das torres de televisões de Brasília. E, realmente, ali é uma espécie de
garagem enorme. Tive o cuidado de ir lá, depois de passados os acontecimentos,
é um lugar bem adequado para fuzilamentos, sobretudo para um grande número de
pessoas. Eles tiveram esse requinte” (Coronel Francimá de Luna Máximo, Tomo 11,
pg. 207-208).
“Em
setembro de 1963, em Brasília, a fim de contrapor-se a uma resolução do Supremo
Tribunal Federal sobre questão de inelegibilidade, os sargentos rebelaram-se.
Quase tomaram conta de tudo, não o fazendo por mero acaso. Ocuparam a Base
Aérea, a Base Naval, os quartéis do Exército, sujeitaram os ministérios da
Aeronáutica e da Marinha. Não foram tomados o Ministério do Exército, cuja guarda
reagiu, e o BGP.
Tomaram
o BPE, prenderam os oficiais e os levaram para a Base Aérea.
Por
que não tomaram o BGP? Quando o motorista do Comandante da Base Aérea, após ter
deixado o Coronel em casa, chegou à noite na Base, encontrou uma grande agitação.
Perguntou o que estava havendo e lhe responderam: ‘É a Revolução! Pega o seu
fuzil!’ Ele se esgueirou, pegou o carro de novo e foi para a casa do Coronel
avisar-lhe o que estava acontecendo na Base Aérea. O Coronel, já de madrugada,
ligou para o Comandante do BGP. Não sei se propositadamente ou não, o
Presidente estava ausente; o Comandante da Região Militar também. Estavam todos
viajando, restando presente como maior autoridade o Coronel Raymundo. O
Comandante da Base disse o que tinha acontecido.
O
Comandante, imediatamente, ligou para alguns oficiais do quartel, um deles fui
eu, por acaso tinha telefone. Ele me ordenou para apanhar os companheiros que
pudesse e me dirigir para o quartel, porque havia problemas. Não disse mais
nada. Pois bem, ele saiu, foi para o quartel e quando entrou no Corpo da
Guarda, disse:
-
Sargento, coloca a Guarda em forma!
Ele
não sabia que aquele sargento estava ali para imobilizar a Guarda. Mas, diante
da ordem de supetão, o sargento a cumpriu. Assim ele evitou a surpresa.
O
Oficial de Dia mandou o Adjunto fazer uma ronda nos fundos do quartel e ele foi
preso pelo pessoal da Aeronáutica que já estava cercando o aquartelamento, com
uma boa quantidade de armamento e munição, muito mais novo do que o nosso. Mas
o Adjunto teve presença de espírito e disse:
-
Calma, também sou sargento. Esperem aí que vou lá e aviso aos companheiros que
vocês estão chegando.
De
volta, relatou tudo para o Oficial de Dia, que acordou algumas subunidades; o
pessoal começou a armar-se e a fazer os preparativos. Quando chegamos de carro,
por volta das 2h30min ou 2h40min da manhã, assumimos o comando dos pelotões de
recrutas e saímos para romper o cerco do quartel. Houve tiros, prendemos muita
gente e recuperamos as viaturas, a munição e o armamento que eles tinham.
Rechaçamos o cerco do quartel.
A
partir daí o combate aos rebeldes foi planejado. Um pelotão foi designado para
reforçar a guarda do Ministério do Exército, sob o comando de um companheiro,
Tenente André, que foi caçado juntamente com seu pelotão na Esplanada dos
Ministérios, pelo pessoal dos ministérios da Marinha e da Aeronáutica. Era fogo
cerrado em cima e ele com um pelotão de recrutas, mas só ele e os sargentos
respondiam ao fogo, pois os recrutas não sabiam atirar direito. Conseguiram
progredir e se abrigaram no prédio do Ministério, mas as rajadas de
metralhadora estilhaçavam os vidros e as persianas caíam sobre eles; foi
difícil.
O
Comandante Raymundo Netto Corrêa assumiu o comando de toda operação. Organizou
três colunas: uma partiu para a Esplanada dos Ministérios, a fim de retomar os
ministérios da Marinha e da Aeronáutica; uma foi para a Base Aérea e a outra
coluna para a Base Naval. Cercamos esses locais, os revoltosos se renderam e
foram todos enviados para uma prisão na Baía de Guanabara.
Apurou-se que haviam
documentos com os nomes de todos os companheiros que eram contra eles,
relacionados para serem fuzilados debaixo da grande torre de TV, de Brasília,
onde havia uma plataforma de concreto. Isso
já serviu de ensinamento, mais adiante, e aconteceu em setembro de 1963.
Os
fatos se sucederam cada vez mais graves. Tínhamos ciência da existência do que
seria o Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST) daquela época, a
chamada Polícia da Boa Vontade, comandada por um cidadão de nome Raulino, na
cidade satélite de Taguatinga. A sede era lá, mas eles vinham em direção a
Brasília, fechavam os acessos e reivindicavam isto ou aquilo. Quando a polícia
se aproximava para tentar liberar a via e retirar os manifestantes, chegava a ordem
do Palácio do Planalto para deixá-los. O Governo era conivente com aquela
situação, mais ou menos parecida com que se vê hoje com relação ao MST.
Aceita-se violência da parte deles” (Coronel Marnio José Signorelli Teixeira
Pinto, Tomo 7, pg. 211-212).
Ainda sobre a Polícia da Boa Vontade,
após o Movimento de 31 de Março
“Notícias
nos davam conta de que seriam 15 mil candangos armados que atacariam o quartel,
destruiriam o Congresso e saqueariam os supermercados. Essa resistência em
Brasília seria montada com a tal Polícia da Boa Vontade armados pelo General
Fico [General Nicolau Fico, Comandante da Região Militar] e que este teria
desistido da ideia ao saber que o BGP estava revoltado” (Coronel Marnio José
Signorelli Teixeira Pinto, Tomo 7, pg. 216).
PM do RN e do PI se solidarizaram com a
Revolta dos Sargentos em Brasília
“Em
setembro de 1963, os sargentos de Brasília, a maioria da Aeronáutica,
revoltaram-se. Com isso, duas polícias militares, do Rio Grande do Norte e do
Piauí, resolveram, digamos, apoiar aquela revolta e fizeram uma greve. Nessa
época, disputava o campeonato de basquete do Exército, no Rio de Janeiro e, ao
regressar, fui designado para reorganizar a Polícia Militar do Rio Grande do
Norte. Para a Polícia Militar do Piauí, seguiu o Coronel Torres de Melo
(Francisco Batista T. de Melo). Assumi o comando, em Natal, no dia 1º de
outubro de 1963, e dei início ao meu trabalho. Foi instaurado um inquérito para
apurar as causas daquela situação de anormalidade da Polícia Militar.
A
missão ordenada pelo General Pinheiro, se fosse cumprida, geraria um massacre
de paraquedistas
“Entra o General Pinheiro –
Comandante do Núcleo da Divisão Aeroterrestre, indagando: ‘Qual é a Companhia
que vai cumprir a missão?’ ‘A 1ª. Companhia’. ‘Quem é o Comandante?’ ‘Tenente
Nery’. ‘Tenente, aqui’. Fiquei em pé, ao lado dele. Ele abriu em cima daquela
mesa grande, no cassino dos oficiais, local da reunião, a carta de Brasília.
Quando olhei, entendi o que já sabíamos durante a noite. Tinha havido uma
rebelião em Brasília, a Base Aérea foi tomada, alguns quartéis já estavam
tomados, alguns oficiais presos e a cidade estava na mão de uma rebelião. Só
não sabíamos a extensão do problema, naquele momento. Mas era sério. O
Presidente, os ministros e as principais autoridades estava propositadamente
fora de Brasília. Na verdade, foi tudo planejado. Inclusive, deputados
participaram daquele levante. O General Pinheiro disse: ‘Tenente, não está acontecendo nada
em Brasília. Você vai levar a sua tropa, desembarca, vai desarmado. Você vai
fazer um desfile semelhante ao de Sete de Setembro, no Dia da Pátria, na
Alameda dos Ministérios’.
Sabíamos que não era aquilo.
Acabáramos de ouvir na rádio – estávamos atentos, ligados, tínhamos
informações. A realidade era outra. Brasília estava sublevada, era a rebelião
dos sargentos, a maioria da Marinha e da Aeronáutica. Obedeciam a um
intelectualizado comando civil, não se restringia apenas a Brasília e devia
estender-se por todo o País. Da chefia da rebelião, participaram os Deputados
Neiva Moreira, do PSP-MA, Hércules Correia, Marco Antonio, do PCB-GB, e Max da
Costa Santos, do PSB-GB, sob a liderança de Leonel de Moura Brizola. Pela
ordem, os revoltosos pretendiam: depor o Presidente da República; fechar o
Congresso; acabar, sumariamente, com o Supremo Tribunal Federal, classificado
como órgão inútil e dispensável; desvirtuar o regime e implantar uma república
(ditadura) socialista; transformação total das Forças Armadas.
Os prédios dos Ministérios
da Marinha e da Aeronáutica estavam ocupados e os revoltosos já estavam no
terraço, na cobertura, no telhado dos pavilhões nos esperando. Sabiam que a
tropa paraquedista ia saltar. Seríamos eliminados como pombos. Íamos saltar e
desfilar desarmados. Disse para o General: ‘General, não é isso...’ Não
completei a frase! Quando ia começar a falar, levei uma ‘botinada’, por debaixo
da mesa. Eu estava em pé e os outros oficiais do Estado-Maior do Regimento,
sentados. O Oficial de Operações, Major Giácomo Jannuzzi Neto, me deu um
pontapé. Eu entendi. Era para ficar calado. Calei-me e ouvi a missão – desfilar
desarmado.
Ao sair dali, fui falar com
o Major Jannuzzi. Ele me disse: ‘Nery, é rebelião, se você for desarmado, você
vai morrer, sua tropa vai ser eliminada. É guerra! Eles ocuparam Brasília e já
leram o manifesto de criação da República Sindicalista Comunista do Brasil’. Eu
pergunto: ‘Como é que eu vou, Major?’ ‘Vá armado, claro! Você vai para a
guerra’. ‘Qual é a minha missão?’ ‘Você vai saltar para libertar Brasília’.
Saltar, para libertar Brasília das mãos dos revoltosos, ou seja, conquistar
Brasília. Essa foi a missão. ‘Onde estão os revoltosos?’ ‘Ocupando os prédios
dos ministérios militares. Já existem oficiais presos. Você tem que libertá-los
– descobrir onde eles estão e libertá-los’.
Naquele momento, minha maior
preocupação era armar a Companhia – duzentos homens. E a munição? Veio a
informação de que tinham trancado a munição. O Oficial de Munições do
Regimento, Tenente Eglair Barcelos Alves, disse: ‘Nery, vou me virar. Deixa
comigo’. E saiu, para conseguir a munição. Comecei a pegar o armamento, quando
chegou uma parte da munição. Tinha que ‘enfardar’. Dei ordem para colocar a
munição no carregador e leva-la também no cinto. O grosso da munição seria
acondicionado em um cunhe-te, com um paraquedas em cima para ser lançado do
avião. Após o salto, você sai correndo para procurar a munição, pegá-la e
leva-la com você. Sabendo que precisava de muitos paraquedas, mandei busca-los.
Chegou a informação: o major encarregado dos paraquedas fechou a ‘baiúca’ –
como nós chamamos o local de acondicionamento dos mesmos – e não vai distribuir
os paraquedas para você, por ordem do general – o paraquedas da munição! Na
hora, imediatamente, dei a ordem para que os cunhetes fossem abertos. Mandei
distribuir a munição pelos bolsos. Iríamos saltar com a munição dentro do
bolso, em quantidade. Aí, surgiu um problema. Soubemos que a rebelião era dos
sargentos de Brasília, com o foco principal na Marinha e na Aeronáutica.
Em virtude daqueles
acontecimentos de 1961, quando o General Santa Rosa, Comandante dos
paraquedistas, elogiou os sargentos por não terem cumprido ordem de seus
superiores hierárquicos, e do Governador Brizola mandando os sargentos matarem
seus oficiais, criou-se um ambiente de mal-estar dentro da tropa. Aquilo foi
sendo alimentado numa sequência, agora essa rebelião em Brasília, era o dia 12
de setembro de 1963. Apesar de preocupado, mandei distribuir a munição para os
sargentos. Não podia duvidar da lealdade dos sargentos. Paguei para ver.
Estávamos em pleno
aprestamento, tínhamos que preparar a munição, preparar os fardos. O
subtenente, aquele homem mais antigo, aquele sargento que foi alçado à função
de subtenente, o administrador da carga da Companhia, chegou para mim e disse:
‘Capitão, preciso falar com o senhor, aliás, todos os sargentos querem falar
com o senhor’. Eu disse: ‘Bom, o que houve? Vou lá’. Eles estavam numa sala,
reunidos. O subtenente iniciou: ‘Capitão, o senhor mandou distribuir a munição
para todos nós, sargentos. O senhor confia nos sargentos da Companhia?’ Chamei
a atenção dele: ‘Em algum momento, desconfiei de vocês? Em algum momento,
pensei isso? Não estou entendendo o que vocês estão falando’. ‘Capitão, a
reunião é para agradecer a confiança. Conte conosco. Em nenhum momento, o
senhor deixará de contar com a nossa lealdade. Conte conosco’.
Assim, fui para Brasília.
Eram 14 aviões. Até aeronave em manutenção decolou. Os antigos aviões C-82
voavam de porta aberta. Cruzando a serra de Petrópolis e Teresópolis, e
seguindo para Brasília, fazia muito frio, eu sentado ao lado da porta, olhando
o voo em formação, vi um avião pegar fogo – o avião do Tenente Maia Martins.
Retornou para os Afonsos. Mais adiante, o avião do Valporto, também, pega fogo
e pronto, o efetivo estava se reduzindo. Depois, eles chegaram a Brasília
- dois dias depois – não houve problema.
A nossa viagem foi longa.
Foi aquilo que eu disse: dentro do avião, você olha para o soldado e ele está
lhe olhando, você vai para lá e ele olha para lá, você vem para cá e ele olha
para cá. E eu me dei contra de que eu tinha dado a ordem, antes de decolar:
‘Nós vamos saltar na Alameda dos Ministérios. O suposto inimigo está ocupando
os telhados dos quatro prédios e vai atirar em nós. Todos os oficiais e
sargentos deverão tirar a arma do invólucro e durante a queda atirar em tudo o
que se mover’. Eu, como comandante, tinha que dar uma ordem que protegesse a
minha tropa e que permitisse o cumprimento da missão. Sabia que, com duzentos
homens, tinha que libertar Brasília. O que é isso? A cabeça não funcionava.
Qual a verdadeira dimensão disso. Brasília é muito grande. Aonde eu iria
procurar esse pessoal? A ordem estava dada.
Durante o voo, fiquei
pensando: vou chegar em Brasília às 5h da tarde, o expediente está terminando,
os funcionários estão cruzando a Alameda dos Ministérios. São pessoas que vão
estar se movimentando. Vamos atirar? Muita gente vai morrer, muita gente
inocente. O mestre de salto, o comandante em cada avião, vai com o fone no
ouvido, escutando os pilotos. Eu ouvia a conversa dos pilotos. Não ia haver
combustível para prosseguir o voo depois de Brasília. Eles diziam: ‘Vamos
pousar em qualquer lugar’. A situação era difícil e preocupava. Confesso que,
sozinho – não tinha ninguém para conversar, eu era o único oficial no meu
avião, os outros tenentes estavam nas demais aeronaves – fiquei preocupado,
muito preocupado.
Aí, me veio a história de um
outro livro – o emprego de paraquedistas belgas no Congo – quando houve um
levante e muitos reféns, mais de 1.500 reféns. A tropa paraquedista foi
empregada com sucesso – eles não saltaram em cima do objetivo. Você, na sua
introdução, falou na nossa EsAO, não foi? A Escola que aplica a doutrina no seu
laboratório, que é o campo, associando tática e técnica com tiro real, o mestrado
do oficial, a última escola onde aprendemos e aplicamos a tática da Arma. É
errado, no planejamento paraquedista, você traçar a zona de lançamento em cima
do objetivo – você não salta em cima do inimigo. Ah! Que felicidade! No avião,
lembrei-me disso. Então, me veio aquela sensação de satisfação – não devo
saltar em frente aos ministérios – tenho que saltar longe. Fazer como os
paraquedistas belgas: pegaram tudo o que andava, tudo o que tivesse roda e
foram correndo para o objetivo e libertaram os homens que estavam presos, seus
patrícios.
Então, imaginei: vou saltar
em outro lugar, assim vamos evitar atirar em tudo o que se mova. Tudo que se
mova seriam os funcionários terminando o expediente, saindo de Brasília.
Adquiri confiança e disse para o Comandante da aeronave – ele me avisaria vinte
minutos antes, com um toque de sirene dentro do avião: ‘Comandante, determine a
entrada em formação cerrada – para as aeronaves se aproximarem – dê uma rasante
em cima da alameda dos Ministérios. Depois, vou dar a final para você’. Nós
íamos saltar, eu tinha decidido saltar depois da Alameda dos Ministérios, bem
distante. Preferia ir a pé, correndo, para o objetivo.
Quando ele cerrou, dez
minutos antes de chegar em Brasília, o meu ala esquerda – eu via, a distância é
curta – o meu ala esquerda estourou o motor e pegou fogo. Era, justamente, a
aeronave do Tenente Brandão. Pegou fogo no motor. Aquilo foi imediato! Mudei a
missão! Eu disse para o Comandante da Aeronave: ‘Mande que siga direto para o
aeroporto’. O aeroporto estava nas mãos dos revoltosos. ‘Mande-o seguir direto
para o aeroporto e vamos todos para lá, vamos desembarcar’. Salto de viatura em
movimento – nós sabíamos fazer isso. Quando a aeronave tocar no chão, nós
saltamos sem paraquedas, ou seja, salta e rola. É claro que nós íamos ter
baixas com isso, mas estávamos treinados. Saltávamos de viatura em movimento
até na Avenida Brasil. Fazíamos esse adestramento. Ele falou: ‘O aeroporto está
nas mãos dos revoltosos’. Porém, eu sabia que um pelotão de Goiânia já estava
se dirigindo para lá – uma Companhia de Goiânia – sob o comando do então
Tenente Machado Borges, o mesmo que chegou a General. Quando a primeira aeronave,
que era a do Brandão, tocou a pista, ele comandou o salto. Todo mundo pulou da
aeronave – joga a arma e salta feito um fardo, feito uma roda. Você encolhe
todo o corpo e sai girando, pois machuca menos. Posamos em seguida.
Mas houve uma ocorrência.
Realmente, o aeroporto ainda estava nas mãos dos sargentos revoltosos. Um
deles, ao ver o avião pegando fogo no motor, comentou que aquele ali já está
sendo destruído pelo fogo e que ele iria acabar com ele, jogando uma granada. E
correu na diração do avião para jogar a granada. Acontece que ele estava perto
da cerca e parece que o estacionamento dos táxis, no aeroporto de Brasília. Os
motoristas ouviram aquilo e pularam a cerca, começando a correr atrás dele. Foi
uma cena inusitada. Os motoristas se abraçaram com aquele sargento que tinha
uma granada na mão, enquanto ele gritava: ‘Vou soltar a granada’. Quando o
Brandão chegou, com alguns homens, a granada não tinha nem mais grampo. Estava
sendo presa pelo capacete, na mão, e o sargento já com medo de soltar a
granada. Após ser preso, ele confirmou que ia jogar a granada para destruir a
aeronave, que sabia ser da tropa paraquedista.
Neste ínterim,
desembarcamos, corremos para frente do aeroporto e pegamos todas as viaturas,
carros, caminhões e ônibus que apareceram por ali. Desloquei-me em comboio com
a minha tropa – duzentos homens – chegamos na Alameda dos Ministérios, do outro
lado dos ministérios militares. Fiz o sinal para parar e logo a seguir o de
avançar. Não falei mais nada. Desembarcamos correndo, tomamos de assalto os
ministérios, fomos do primeiro piso até o último e fizemos setecentos
prisioneiros. Todos estavam armados.
É preciso lembrar que
ocorrera uma ação de um pelotão da Polícia do Exército-PE, na véspera. Naquela
noite, o Tenente era o Uchoa. Mas o que houve com ele? Acontece que no momento
do ataque dos sublevados ao Ministério da Aeronáutica, ele estava com o pelotão
guarnecendo e resistiu ao ataque. Foram disparados muitos tiros contra o
pelotão dele. Que era composto de ‘catarinas’, lembra? Naquela época, a Polícia do Exército incorporava somente
soldados do Sul do Brasil – os ‘barrigas-verdes’ catarinenses – os ‘catarinas’.
Ele deu ordem de
fogo, porque tinha que impedir o ataque – era um ataque mesmo. Nenhum soldado
atirou, nenhum soldado atirou. Ele tomou o fuzil de um soldado e
atrás de uma coluna gastou a munição, rolou para outra coluna – todos os
soldados estavam atrás das colunas do ministério. Ele foi de soldado em soldado
e resistiu ao ataque sozinho, atirando, porque os soldados não o fizeram.
A Biblioteca do Exército tem
um livro, de 1958, ‘Homens ou Fogo’. Eu li muito esse livro e se eu não me
engano é do General Omar Bradley que fez um inquérito na Segunda Guerra Mundial
sobre o porquê do homem não atirar, quando está em combate. Após uma operação
nas ilhas do Pacífico, ele colocou dois ou três regimentos de ‘quarentena’,
vamos dizer assim, numa ilha do Pacífico e ouviu do comandante ao último
soldado. Onde você estava na hora do ataque? O que houve? Por que você não atirou?
Etc... E concluiu, dizendo o seguinte: ‘O fator psicológico’. Ele tem uma
referência interessante: o jovem, principalmente – é o nosso caso, que
incorporamos recrutas – o jovem é criado para não maltratar até os animais. É
aquele negócio, não amarrem uma lata no rabo do gato, não maltratem o animal e
de uma hora para outra, dos dezessete para os dezoito anos ele se apresenta no
quartel e nós vamos ensiná-lo a atirar para matar.
Disse isso, quando estava na
Academia Militar das Agulhas Negras: ‘Estamos aqui para ensinar vocês a matar,
mas a matar em defesa da Pátria’. O Tenente Uchoa ficou abismado. Como é que o
soldado não atirava – não houve jeito dele atirar! No livro, Omar Bradley diz:
‘O maior índice de aproveitamento de tropas na Segunda Guerra Mundial foi com a
tropa paraquedista e de comandos’. Os paraquedistas russos chegavam a ter 18%
dos que atiram, no máximo 20%. Ou seja: de cada grupo de combate de infantaria
só dois homens atiram quando se deparam com o inimigo, mesmo quando ele está
correndo a dez metros de distância. Um grupo de combate tem um sargento e um
cabo. Se, dos dez integrantes, dois atiram, somente o sargento e o cabo
atiravam. Os soldados, não. Os recrutas não atiram, é preciso muito treinamento.
Uma prova foi o que ocorreu com o Tenente Uchoa.
Com a tropa paraquedista, o
rendimento é maior, mas chegamos ao último andar dos quatro prédios dos
ministérios e fizemos setecentos prisioneiros. Quantos tiros demos? Nenhum;
Prendemos a todos, depois de tomarmos de assalto o local. Foram colocados num andar e ficamos no
outro andar, embaixo. Durante 45 dias, nós ficamos ali guarnecendo. Dormíamos
no chão. Eles dormiam no andar de cima, também, no chão, o mesmo espaço, as
mesmas condições sanitárias – estávamos no andar de baixo e eles sabiam que não
podiam descer, eram sargentos.
Já à noite, reorganizei
minha tropa. Veio
uma informação rápida: acabaram de entrar num bloco de apartamentos, em uma
superquadra e cortaram os pulsos da esposa de um oficial, porque queriam
prender o marido. Ela foi salva pelos vizinhos. Cortaram os dois
pulsos porque ela não dizia onde estava o marido. Ela também não sabia. Ele
tinha saído para ir ao quartel. Ela nem sabia se ele já estava preso. Queriam o
seu marido. Era um oficial do Exército, um capitão, e cortaram os pulsos dela.
Fiquei com medo, porque aquilo poderia representar para a tropa uma reação
maior, a partir dali. Graças a Deus, não foi preciso.
Outra informação: na
rodoviária de Brasília, a última passagem, a mais baixa, naquela época de 1963
– a rodoviária não estava concluída, ainda estava em obra -, fora fechada pelos
revoltosos. Eles fecharam de um lado e do outro. Deixaram uma porta e escreveram no muro –
Paredão – e colocaram, em posição, um pelotão da tropa de fuzileiros navais,
com metralhadoras. Iam começar o fuzilamento dos oficiais que já
estavam presos. Peguei um grupo e mandei ao comando do Tenente Valporto, para a
rodoviária. Prendemos todo o pelotão, com as metralhadoras em posição, prontas
para fuzilar os oficiais. Essa foi a minha vivência em 1964 e antes de 1964, em
1963. Prendemos o pelotão e abriu-se um inquérito. Fizemos até um comentário,
porque o inquérito foi feito na Marinha. A maioria dos sublevados era da
Marinha. Conversando com o encarregado do inquérito, lhe disse: ‘Comandante,
daqui a 15 dias vão estar todos de volta, como se nada tivesse ocorrido’. Esses
presos foram trazidos de avião, por nós, para o Rio de Janeiro. Ficaram no
navio-prisão.
Há um fato que gostaria de
acrescentar. Quatro ou cinco dias depois, chegou a Brasília um Batalhão do
Regimento Santos Dumont. Não trazia munição. O general [Pinheiro] não tinha
deixado. Passaria a integrá-lo. O negócio estava quente, porque, ainda,
estávamos fazendo a limpeza de Brasília. Informei ao major que havia reunido
toda a munição que trouxera, em uma sala do pavilhão do ministério. ‘Tem
suficiente?’ perguntou. Respondi: ‘Tenho munição para um batalhão, por um ano’.
A nossa corrida, a proibição de sair armado! Foi tanta gente levando munição,
ao sairmos do Rio! O Barcelos, Eglair Barcelos Alves – Oficial de Munições.
Lembro-me de que, já com todas as aeronaves ‘taxiando’, motor ligado, ele
chegou com a viatura e foi jogando os cunhetes pela porta dos aviões. Os
pilotos ficaram preocupadíssimos. Tinha muita munição, o Batalhão cumpriu a sua
missão e nós retornamos para o Rio.
O Comandante do Batalhão,
Major Giácomo Jannuzzi Neto, chamou-se, aqui no Rio, depois da operação e
disse: ‘Nery, você fai fazer uma relação dos militares que vão receber
condecoração, por bravura, nesta operação, você faz isso?’ ‘Claro, indico os
homens da minha Companhia que merecem a medalha’. Chamei o meu sargenteante e
pedi que ele me desse o mapa da força – o manifesto do voo de lançamento dos
paraquedistas, para que todos fossem incluídos, todos os militares que foram
para Brasília comigo, que tomaram Brasília de assalto e que tinham consciência
de que libertaram Brasília. Entreguei ao Major Jannuzzi, Comandante do
Batalhão, a relação de toda a Companhia. Ele disse: ‘O que é isso? Pedi para
você o nome daqueles que merecem...’ Eu lhe disse: ‘Major, todos nós fizemos a
mesma coisa. O que um fez, o outro fez também. Todos fomos além do dever’.
Palavras dele: ‘Nery, só vou indicar você, porque condecorar duzentos por ato
de bravura vai desmoralizar a medalha’. Sendo assim, somente eu seria indicado.
‘Major, essa eu não vou receber. O senhor me desculpe – ou concede para todos
ou não me mantenha na relação’. E realmente, foi isso que ocorreu. Aqueles que
estavam em Brasília, foram condecorados. Os tenentes, sargentos e soldados
paraquedistas que, numa ação enérgica e eficaz, sufocaram um movimento
revolucionário que pregava uma ampla indisciplina contra a hierarquia militar e
contra a autoridade e a legitimidade do Poder Judiciário, representado pelo
tribunal mais alto, que é o Supremo Tribunal Federal, não foram reconhecidos.
Essa era a situação vivida naquela época, que levou à eclosão da Revolução de
1964” (General-de-Brigada Durval Antunes Machado Pereira de Andrade Nery, Tomo
10, pg. 169-176).
General
Pinheiro, o “Faz Tudo”, era acrobata e promovia festanças em Brasília
“Recordo-me de que o NuDAet
teve uma fase sob o comando do General Pinheiro, apelidado de ‘Faz Tudo’. Ele
era um homem da ‘corte’, mas causava admiração por sua figura de paraquedista.
Ele tinha uns cacoetes que encantavam os mais jovens. Por exemplo: por vezes,
ao receber a apresentação da tropa em plena forma física, lépido, se antecedia
com um salto mortal e recebia a apresentação, como se fosse um desses ases das
equipes de saltos ornamentais. Coisas assim, consideradas um pouco
deslumbrantes para os capitães, tenentes e para os sargentos. No entanto, ele
era um homem da absoluta e irrestrita confiança do Presidente João Goulart,
tendo desempenhado o cargo de Comandante do Batalhão da Guarda Presidencial
(BGP) e, segundo comentava-se durante nossa permanência naquela cidade,
organizava festas, recepções íntimas e orgias planaltinas para devaneio da alta
cúpula do poder, em Brasília” (Coronel Francimá de Luna Máximo, Tomo 11, pg.
212).
Obs.:
Durante a rebelião em Brasília, além
de alguns feridos, foram mortos o fuzileiro naval Divino
Dias dos Anjos (rebelde) e o motorista civil Francisco Moraes
(cfr. “A Verdade Sufocada”, pg. 65).
F. Maier
Havia um golpe de Jango em andamento,
que estava previsto para ocorrer no dia 1º. de maio de 1964, Dia do Trabalho,
com fechamento do Congresso Nacional e do STF, e decretação do Estado de Sítio
Brizola
informou esse fato secretamente ao governador de São Paulo, Adhemar de Barros,
que ficou na moita, concordando tacitamente com o golpe.
Assim,
São Paulo seria o primeiro Estado a se sublevar, para a instalação de uma
República Sindicalista.
“No
meu entender, foi uma Contrarrevolução, porque a revolução estava preparada
para eclodir no dia 1º. de maio, conforme o então Deputado Leonel de Moura
Brizola anunciara para o Adhemar de Barros. A Capital de São Paulo fora
escolhida para sediar o início do evento, conforme declarou o próprio
Governador paulista. Por algum tempo, manteve silêncio, porque eram aliados
políticos. Mas Adhemar viu mais alto e rompeu, uns meses antes, com a turma do
Brizola” (Major João Barcelos de Souza, Tomo 15, pg. 358-359).
“Houve um
fato muito importante, em fevereiro de 1964, que foram as denúncias feitas pelo
Governador Adhemar de Barros, que afirmava ter sido instado pelo Presidente
João Goulart a participar de uma reforma política da Constituição, que
transformaria o País em uma república sindicalista. Os governadores que não
estivessem de acordo sofreriam intervenção federal em seus Estados. Isto
preocupou muito as lideranças políticas. Sei disso porque ele procurou o
Marechal Denys em sua residência, em fevereiro de 1964. O Marechal, na ocasião,
pediu-lhe que divulgasse, o mais que pudesse, aquelas denúncias”
(General-de-Exército Rubens Bayma Denys, Tomo 1, pg. 161). O General Bayma
Denys é filho do Marechal Denys.
Adhemar de Barros e a compra fracassada
de armamento na Argentina
“No
início de 1964, creio que perto de janeiro, recebi e Uruguaiana o
Coronel-Aviador Carlos Affonso Dellamora, meu concunhado, com a missão de
conseguir armamento na Argentina, para ser levado a São Paulo, porque não se
sabia o que iria acontecer. Fazíamos uma avaliação do que estava ocorrendo em
todo o Brasil, e são Paulo também estava preparado para dar um basta naquela
situação.
Estabeleci
contato com a Argentina, e isso era uma coisa anormal, pelo fato de um E2 estar
fazendo ligação... Graças a Deus, não acarretou complicação, e deu-se um
encontro na casa de um arquiteto, chamado Osvaldo silva, no lado brasileiro.
Essa família Silva era uma família udenista ‘roxa’: além do Osvaldo, o Trajano,
o Carlos e o Antônio. Eram os homens da mais inteira confiança e totalmente
integrados à conspiração. Eles é que providenciaram o encontro do Dellamora com
argentino, para concretizar a aquisição.
(...)
Bem, dali o Dellamora foi a
uma estância próxima a Uruguaiana, fez a demarcação de um campo de pouso para
DC3, justamente para levar esse armamento. Isso aconteceu no início de 1964,
mas não chegou a se concretizar. Apenas, ocorreu o seguinte: o contrabandista
de armamento foi preso na Argentina, e o comandante da Guarnição, Coronel
Rodolfo Noé, Comandante do Regimento de Infantaria, fez-me um convite para ir a
Paso de Los Libres. Fui, já sabendo da prisão do encarregado do contrabando.
(...)
Liberaram
a pessoa e o armamento? [entrevistador]
Não, não tinha armamento.
Aquele camarada ainda estava negociando. Mais tarde, fiquei sabendo que o
suprimento financeiro correria por conta do Adhemar de Barros. Ele estava atrás
de toda história e o intermediário com o Dellamora tinha sido o Brigadeiro
Bournier” (Coronel José Campedelli, Tomo 15, pg. 277-278).
Em 2 de março de 1964,
estudantes impediram a aula inaugural do reitor da
Universidade Federal da Bahia, Clemente Mariani
O fato pode ser conferido no link http://felixmaier1950.blogspot.com/2020/07/reitor-e-proibido-de-proferir-aula.html.
Comício da Central do Brasil, em 13 de março de 1964
Em 13 de março de 1964, em comício na Central do
Brasil, no Rio de Janeiro, Jango começou a cavar sua cova política.
O
Comício da Central foi realizado estrategicamente no terminal de trens no
centro do Rio de Janeiro; com a paralização dos trens feita pelos sindicatos no
final do dia, a população não pode voltar para casa e se aglomerou no terminal,
próximo ao Ministério da Guerra (Palácio Duque de Caxias); além disso, o
governo Goulart disponibilizou dezenas de ônibus, para trazer manifestantes de
vários bairros e cidades da Baixada Fluminense, com os custos pagos pela
Petrobras. Sempre a Petrobras...
As
medidas anunciadas por Jango, nesse Comício, incluíam a reforma agrária,
estatização das refinarias de petróleo privadas, direito a voto a analfabetos, cabos
e soldados, reforma constitucional, legalização do Partido Comunista.
O que se viu no Comício, entre
outras aberrações, foi o presidente do Brasil estar cercado de militares, desde
o ministro da Guerra, até o mais simples soldado, quebrando os princípios
basilares da hierarquia e da disciplina, coluna dorsal das Forças Armadas. O
general Castello Branco, chefe do EME, também foi convidado para o evento, mas
declinou do vil convite.
Calcula-se que houve cerca de 150 mil pessoas nesse Comício.
Cfr. imagens em https://cultura.uol.com.br/videos/35063_1964-comicio-da-central-do-brasil.html
“Os
Generais Castello Branco, Costa e Silva e Cordeiro de Faria fizeram de tudo
para afastar Jango dos comunistas; chegaram a ir ao Ministro Jair, juntos e
separados, para dizer: ‘Jair, fala com o Presidente, que ele largue os
comunistas e nós o apoiaremos. Ele não pode continuar como está, dominado pelos
comunistas.’ Jair foi, voltou e disse: ‘Eu não posso fazer nada.’ Fomos
procurar outros emissários. Nós tínhamos Kruel. Kruel foi ao próprio
Presidente, de quem era amigo, para convencê-lo a largar os comunistas e também
não conseguiu nada. Jango estava completamente dominado pelo Partido Comunista,
todo mundo viu Oswaldo Pacheco, no palanque, ao lado de Jango, soprar o que ele
devia dizer. Pacheco foi o grande mentor do comício de 13 de março, e todo o
mundo percebeu, e isto fez com que, nas Forças Armadas, aqueles que ainda
duvidavam não tivessem mais dúvidas, e muitos daqueles que estavam indecisos
vieram imediatamente até nós para nos apoiar (General-do-Exército Antonio
Carlos da Silva Muricy, Tomo 14, pg. 38).
“Comício das lavadeiras”
“No
dia 13 [de março de 1964], deu-se o comício da Central do Brasil, ao lado do
edifício do então Ministério da Guerra e do Comando do I Exército. A turbamulta
foi se formando nas proximidades da Praça da República e se concentrou em
frente à Central do Brasil, protegida pela Polícia do Exército, por
determinação do Comando do I Exército. As provocações prosseguiam sob a batuta
das lideranças comunistas e entidades comprometidas, como UNE, CGT, CNTI e
outras. Ao comício, compareceram o Presidente da República e todos os
ministros, inclusive os militares. Os oradores, que não foram poucos, exigiam
as ‘reformas na lei ou na marra’, a instalação de uma Constituinte, o
fechamento do Congresso Nacional e todo o poder para os sindicatos”
(General-de-Brigada Manoel Theóphilo Gaspar de Oliveira Neto, Tomo 4, pg.
96-97).
“Para
o comício do dia 13, na Central do Brasil, o presidente da Petrobras, General
Osvino Ferreira Alves, paralisou os serviços da empresa e pagou ônibus e
alimentação para que seus funcionários participassem da massa que compôs o
comício. Outros setores da administração também tomaram essas providências. É
como se faz quando se arregimenta gente para comício de quem quer que seja. Em
Brasília pegavam até mendigo, morador embaixo de ponte, para participar destes
‘atos cívicos’. Esperava-se então uma reação desses grupos, o que não
aconteceu.
Enquanto
isso, o Chefe da Casa Militar, General Argemiro de Assis Brasil, alardeava que
seu esquema militar estava a postos e pronto para agir. Os fatos mostram que
não existia o tal esquema. Apenas alguns comandos – mais por lealdade ao então
Ministro Jair Dantas Ribeiro, que no momento estava doente – se posicionaram
contra a Revolução. Acho que na área militar, praticamente, não havia
vinculação político-ideológica com o Governo. Daí o fracasso do esquema montada
pelo General Assis Brasil. Na hora, falou amis alto aos militares a preocupação
com os destinos da Pátria” “General-de-Brigada Egêo Corrêa de Oliveira Freitas,
Tomo 8, pgl 216-217).
“Há até uma piada feita na época,
chamando o comício da Central de ‘comício das lavadeiras’: só tinha tanque e
trouxa. Os tanques eram os carros de combate e os trouxas eram os caras que
estavam lá.
(...)
É só
consultar as revistas da época: bandeiras vermelhas com foice e martelo, viva
Cuba, fora os gorilas... Uma provocação e agora querem tapar o sol com a
peneira...
Havia
uma revolução comunista em andamento em nosso País. Eles queriam tomar não só o
Brasil na América Latina, mas a Argentina, o Uruguai, o Paraguai, a Bolívia, o
Peru, a Colômbia e o Chile” (Tenente-Coronel Carlos Claudio Miguez Suarez, Tomo
9, pg. 385).
“O
comício do dia 13 foi a maior farsa da história, porque eles marcaram o comício
para a praça em frente à Central do Brasil, do lado do Ministério da Guerra. Os
encarregados do comício bloquearam todas as linhas de trem do subúrbio e da
periferia do Estado da Guanabara; ninguém podia embarcar para os ramais de
Santa Cruz e Japeri, a partir das 5h da tarde; então, começou a juntar gente
que queria ir para casa e não podia. Não tendo outra alternativa, ficavam ali
para assistir. O planejamento para aumentar a assistência foi muito bem bolado!
O pessoal do Exército, principalmente o de Informações, assistiu ao comício das
janelas laterais do Palácio Duque de Caxias, em frente à praça.
Não
obstante, além das cento e tantas mil pessoas que ficaram retidas na Central do
Brasil, outras foram trazidas da Baixada Fluminense e até de Volta Redonda em
ônibus alugados pela Petrobras, com o dinheiro da Petrobras, da Presidência da
República e dos empreiteiros que deviam favores a Jango. Isso quem conta é o
Samuel Wainer, não sou deu, ele conta porque assistiu às negociações.
Outro
que fala dessas negociações é o Aberlardo Jurema, no livro ‘Sexta-Feira 13’.
Por causa do comício, ele batizou o livro de ‘Sexta-Feira 13’ ”
(Coronel-Aviador Gustavo Eugenio de Oliveira Borges, Tomo 10, pg. 288-289).
Documento “Lealdade ao Exército”
“Nessa
altura, já estávamos convencidos de que teríamos de sair da atividade ofensiva,
antes que pudéssemos ser surpreendidos pelo golpe que o Governo iria dar. E
começávamos então a nos articular para a luta, agora já abertamente. Viajava-se
para cá, viajava-se para lá, mandava-se emissários. Redigiu-se o documento
‘LeEx’ (Lealdade ao Exército), que foi formulado basicamente pelo General
Cintra, levado ao Cordeiro, depois ao Castello, e foi batido à máquina pelo
Superintendente da Cruzeiro do Sul, o Ribeiro Dantas. Esse documento que foi
espalhado pelo Brasil inteiro informou muitos militares sobre o nosso
movimento.
Depois
da Revolução, a um oficial vindo do Sul, que encontrei no Rio, o Coronel Léo
Etchegoyen, perguntei: ‘Como é, Léo? O Rio Grande estava tão difícil...’ ‘Ah, o
documento LeEx nos esclareceu muito e fez com que pudéssemos ganhar muitos
elementos para o nosso lado” (General-do-Exército Antonio Carlos da Silva
Muricy, Tomo 14, pg. 38-39).
Velas acesas nas janelas dos
apartamentos do Rio de Janeiro
“O
desencadeamento mesmo foi feito pelas mulheres, porque depois do comício da
Central do Brasil, em todo o trajeto desde a Avenida Rio Branco até o fim da
Zona Sul do Rio, havia velas acesas nas janelas dos apartamentos em sinal de
tristeza pela situação e pedindo a Deus que desse uma solução. Aquele protesto
evoluiu para as Marchas da Família com Deus pela Liberdade, que só no Rio de
Janeiro reuniu quase um milhão de pessoas e em São Paulo outro tanto.
E a
maior resistência? Vou dizer, a maior resistência foi a dos militares. É
difícil quebrar a disciplina, a hierarquia e aquele amor à legalidade que são
apanágios do militar. Ele é muito enquadrado; fazê-lo revoltar-se não é fácil”
(General-de-Exército Ruy de Paula Couto, Tomo 13, pg. 42).
Obs.:
Na entrevista, o General Ruy de Paula
Couto entrega um Anexo, que foi transcrito no livro, “A REVOLUÇÃO DE 31 DE
MARÇO DE 1964 NA 3ª. DI”, assinado pelo Gen Div José Canavarro Pereira, Cmt da
3ª. DI, onde são descritos com detalhe a evolução da Revolução no Sul do Brasil,
os antecedentes, a ação final, bem como o apoio da população e o moral da tropa
- pg. 48-82.
À pg. 66, lê-se:
“Cerca de 17:00 horas o Gen Poppe de
Figueiredo [Comandante da 3ª. DI] foi chamado ao telefone pelo Gen Ladário
[Comandante do III Exército]. Nesse contato, o Gen Poppe de Figueiredo deu-lhe
conhecimento de sua decisão.
O Gen Ladário Pereira Telles então
disse-lhe:
- ‘Poppe, você está cometendo uma
traição’.
Ao que o Gen Poppe de Figueiredo
respondeu-lhe:
- ‘Traição está cometendo você,
permitindo a comunização do País’.
Após essas palavras o Gen Ladário
Pereira Telles disse:
- ‘Está bem, vou desligar’.
F. Maier
CGT dá ultimado ao Congresso Nacional
“Já
se sabia, antes de março de 1964, do desejo explícito do Presidente João
Goulart – com o apoio parlamentar de que dispunha – de transformar o Brasil
numa república sindicalista, inclusive com data certa para a deflagração do
golpe: 1º. de maio de 1964. A frente parlamentar que foi instituída no
Congresso Nacional não permite dúvida sobre ter sido a força primeira que daria
respaldo ao presidente, para a implementação deste seu desejo” (Juiz Stênio
Rocha Carvalho Lima, Tomo 12, pg. 316).
“No
dia 16 [de março de 1964], o CGT, aquele que ia me tirar da EsAO... deu um
ultimato ao Congresso Nacional. Isto parece mentira, mas aconteceu. Pergunto:
que democracia é esta, que admite uma organização de trabalhadores dar um
ultimato ao Congresso? Deu um ultimato: ‘Tem trinta dias para fazer a reforma
da Constituição ou, então, nós vamos tomar medidas concretas’. E, aí, surgiu a
célebre expressão ‘na lei ou na marra’, dita pelo CGT, através de seus
principais dirigentes, os pelegos Dante Pelacani, Oswaldo Pacheco, Clodsmith
Riani e aquela gente toda, especializada em baderna e ameaças”
(General-de-Exército Jonas de Morais Correia Neto, Tomo 9, pg. 39).
“No dia 16 de março, o Comando
Geral dos Trabalhadores (CGT) deu um ultimato ao Congresso Nacional, exigindo
que fosse votado o regime sindicalista, com vigência a partir do dia 1º. de
maio. Esse fato veio a ser confirmado pelo embaixador soviético acreditado no
Brasil e por documentos dos arquivos de Moscou, liberados aos pesquisadores” (General-de-Divisão Théo Espindola Basto, Tomo 12, pg.
129).
MARCHAS DA FAMÍLIA COM DEUS PELA LIBERDADE
No dia 19 de março de 1964, Dia de
São José, padroeiro da família, houve a resposta da população ordeira, que
promoveu a Marcha da Família com Deus pela Liberdade, em São Paulo, com mais de
500 mil pessoas, que pediam a Deus e às Forças Armadas que impedissem que o
Brasil se transformasse em um país comunista.
Cfr. https://www.youtube.com/watch?v=dzOENN8WiJY
Pedido de socorro aos militares
“Passamos a divulgar nossas
teses através de cursos, aulas, conferências e publicações. Editamos um jornal
chamado Catolicismo, que substituiu O Legionário, que fora confiscado pelo
Cardeal [Mota]. Enfim, colaboramos muito na preparação da opinião pública
católica para preveni-la contra o crescimento abusivo da socialização, no
Brasil.
Posso afirmar que as Marchas
da Família com Deus pela Liberdade, tanto em São Paulo como em Minas Gerais e
no Rio de Janeiro, não foram promovidas pela TFP, mas nasceram de uma ação
adrede preparada da TFP, esclarecendo os meios católicos de que a Igreja era
contrária aos princípios marxistas. Creio que se não houvesse essa atuação,
eles não teriam aderido a essa marcha. Assim, a grande preparadora psicológica
das marchas foi a TFP e essa, na minha opinião, foi a maior colaboração da TFP
à Revolução de 31 de Março de 1964” (Doutor Adolpho Lindenberg, Tomo 7, pg.
299).
“A Igreja estava do nosso
lado, muito preocupada com o avanço do comunismo internacional, até porque a
Igreja já tinha pago um preço muito alto numa revolução pouco citada, que foi,
aliás, a Guerra Civil na Espanha, onde os religiosos, tanto homens como
mulheres, era trucidados pelas tropas chamadas de republicanos. Os republicanos
da revolução eram comunistas, apenas eles nunca se declaram abertamente como
comunistas, eram republicanos. Mas massacravam os conventos, violentavam as
irmãs de caridade, castravam os padres, morticínio terrível. Isso nos anos de
1937, 1938 e 1939. Foi o que passou à História como a Guerra Civil na Espanha.
Depois, eles já tinham pago
um preço altíssimo na Rússia, porque muitas igrejas católicas de lá – o
cristianismo ortodoxo – foram incendiadas e outras transformadas em museus, em
depósitos de suprimentos, mudando a sua finalidade. Como o espírito religioso
russo é muito acentuado, eles não conseguiram destruir esse espírito e a prova
disso foi observada quando caiu o Muro de Berlim, símbolo da queda do regime
comunista na Rússia, e a Igreja ressurgiu com força redobrada, porque jamais
tinha deixado de existir apesar de todo anticlericalismo dos comunistas russos”
(General-de-Brigada Acrísio Figueira, Tomo 14, pg. 139).
Obs.:
Sobre
os horrores que foi a Guerra Civil Espanhola, leia meu texto https://felixmaier1950.blogspot.com/2020/06/guerra-civil-espanhola_18.html.
F. Maier
Agradecimento aos militares
“No dia 31 de março, obedecendo a ordens superiores, dirigi-me à Casa de Detenção [Recife, PE], comandando um destacamento, e rendi a guarda da Polícia, que não ofereceu resistência: saiu, em forma, direitinho para o seu aquartelamento.
Ocupei a Casa de Detenção com o meu contingente, respondendo pelo cargo de diretor daquele estabelecimento penal, por dois dias.
Fato interessante é que, no primeiro ou segundo dia, estava no gabinete, quando um soldado veio dizer-me que havia uma comissão de senhoras da sociedade do Recife, na calçada, querendo falar comigo.
Era a Marcha da Família com Deus pela Liberdade.
Fui até a calçada e recebi as homenagens daquelas senhoras capitaneadas pela esposa do escritor Gilberto Freyre, dona Madalena Freyre, que me presenteou com uma corbelha. Fiquei assim muito agradecido por aquele reconhecimento público da sociedade pernambucana, pelo serviço que nós, do Exército, estávamos prestando, ao eliminarmos a ameaça que pairava sobre a cidade do Recife, mantendo a Casa de Detenção em nossas mãos” (Tenente-Coronel José Lyra de Almeida, Tomo 6, pg. 248).
“Devo mencionar, ainda, outro belíssimo espetáculo, hoje igualmente deixado em conveniente esquecimento: a grande Marcha de Agradecimento ao Exército, quando cinquenta mil pessoas percorreram, sob palmas, a principal artéria urbana da cidade [Santa Maria, RS], que termina em face do atual quartel da 6ª. Brigada de Infantaria Blindada (6ª. Bda Inf Bld). Espontânea descarga emocional de uma população que, por infindáveis meses, vivera aterrorizada por ameaças de ‘paredón’, como se aqui fosse Cuba; por arreganhos contra os ‘gorilas’; por fechamento, sob pressão, das lojas de comércio; por tensão interminável; por greves e comícios de inaudita truculência” (Tenente-Coronel Alexandre Máximo Chaves Amêndola, Tomo 8, pg. 411).
“A Igreja, tenho as fotografias, posicionou-se contra a comunização do País, começando por São Paulo, onde participou da primeira Marcha da Família com Deus pela Liberdade, realizada em 19 de março de 1964. Naquela oportunidade, reuniram quase um milhão de pessoas, com destaque para as mulheres paulistanas. Posteriormente, no dia 2 de abril, depois de vitoriosa a Revolução, reuniram cerca de um milhão de pessoas no Rio de Janeiro, com a Igreja apoiando integralmente. E o Cardeal Evaristo Arns foi abençoar as tropas mineiras na chegada ao Rio de Janeiro” (Tenente-Coronel Carlos Claudio Miguez Suarez, Tomo 9, pg. 384).
“Emociona-me lembrar dessa marcha. Minha pranteada mãe participou desse movimento junto com as senhoras da CAMDE (Campanha da Mulher pela Democracia). Na Cidade de Petrópolis, onde tínhamos a nossa casa, ela entregou um ramo de flores ao General Muricy (Antonio Carlos da Silva Muricy). Na ocasião, minha mãe fez o discurso, em nome das senhoras presentes, quando de forma eloquente se concedeu ao General a honra ao mérito pela participação no Movimento. O General Muricy representava as Forças Armadas, particularmente o Exército, que tornou possível a vitória do Movimento 31 de Março. Sem o Exército, espinha dorsal do Movimento, não haveria o triunfo, mas o campo psicossocial, tão bem simbolizado na Marcha da Família com Deus pela Liberdade, foi muito importante” (Doutor Emílio Antonio Mallet de Souza Aguiar Nina Ribeiro, Tomo 10, pg. 251).
“Aproximadamente dois meses após o 31 de Março, já vivendo a rotina da vida acadêmica, ao retornar à ala da Artilharia após um dia de instrução, recebi a notícia de que haveria um desfile em Belo Horizonte para comemorar a vitória da Revolução e que quatro cadetes de Artilharia seriam sorteados para integrar a representação da AMAN. Eu fui um dos sorteados!
Viajamos numa aeronave C-47, decolando do
campo de aviação de Resende. Só estou citando isso porque o desfile que fizemos
em Belo Horizonte foi a mais apoteótica manifestação de apoio ao Exército que
me lembro de ter visto em toda a minha vida! Basta dizer que, enquanto
desfilávamos, a população, maciçamente presente nas ruas, jogava sobre nós
pétalas de rosas. Ao final, o itinerário do desfile estava literalmente coberto
de flores; foi uma festa popular grandiosa, como se a população estivesse
expressando, com o máximo entusiasmo possível, o agradecimento pelo alívio que
lhe trouxemos, ao colocar um ponto final na agitação insuportável vivida pelo
País. Nenhuma outra manifestação poderia ilustrar de forma mais clara o
irrestrito, absoluto e incondicional apoio do povo brasileiro ao Movimento de 31
de Março de 1964” (General-de-Divisão Ulisses Lisboa Perazzo Lannes, Tomo 15,
pg. 130-131).
Circular Reservada, do general Castello
Branco, chefe do EME, emitida em 20 de março de 1964
Alertava
o País sobre o avanço do comunismo, afirmando que “A insurreição é um recurso
legítimo do povo”.
“Quando
Castello Branco escreveu, a 20 de março de 1964, a Circular Reservada dirigida
‘aos generais e demais militares do EME e das Organizações subordinadas’,
desejou mostrá-la ao General Jair Dantas Ribeiro, Ministro da Guerra, antes de
sua distribuição. Infelizmente, o Ministro estava doente, mas redigiu-lhe uma
carta, contendo a interpretação de cada trecho da Circular. Todos tinham noção
de qual era o seu pensamento. Eu levei a carta até a residência do General
Jair, no bairro Riachuelo, subúrbio do Rio, que após lê-la disse-me: ‘Depois eu
falarei com o Castello’ ” (Coronel Anysio Alves Negrão, Tomo 15, pg. 340).
Obs.:
Em 1964, o Coronel Anysio Negrão era
Capitão Ajudante-de-Ordens do General Castello Branco.
Cfr. a “Circular Reservada” do General
Castello Branco em https://felixmaier1950.blogspot.com/2020/04/circular-reservada-do-chefe-de-estado.html
F. Maier
A Revolta dos Marinheiros no Sindicato
dos Metalúrgicos, em Benfica, Rio, no dia 25 de março
Marinheiros
e fuzileiros rebelados, em passeata, sob liderança do Cabo Anselmo, carregaram
nos ombros o Almirante Cândido Aragão
“Poucos
dias mais tarde, um grupo de marinheiros, liderados pelo tal cabo Anselmo, revoltou-se
e promoveu agitada reunião no Sindicato dos Metalúrgicos do Rio de Janeiro.
Tropas do Exército cercaram o edifício e após horas de confabulação, prenderam
os insurretos, mas João Goulart determinou que os mesmos fossem libertados e
demitiu o Ministro da Marinha.
A
ordem presidencial para a liberação dos marinheiros presos, a presença do
comunista Hércules Corrêa e outros, nos quartéis, para verificar o cumprimento
da ordem do Presidente, e a passeata vexatória que se seguiu, com marinheiros
desuniformizados carregando o Almirante Aragão nos ombros, atingiram
violentamente os brios dos militares – oficiais, sargentos e soldados – ferindo
a dignidade das Forças Armadas” (General-de-Brigada Niaze Almeida Gerude, Tomo
11, pg. 95-96).
“Não
satisfeitos em fazerem o Comício da Central do Brasil, eles promoveram a
rebelião dos marinheiros, a revolta dos marinheiros. É interessante assinalar
que, naquela época, o filme sobre o Encouraçado Potenkin – onde houve uma
revolta de marinheiros em que os oficiais russos foram jogados ao mar por eles
– era passado em todos os quartéis da Marinha de Guerra, justamente para servir
de exemplo, para que os nossos marinheiros seguissem e fizessem a mesma coisa
com os seus oficiais. Inclusive, tínhamos um almirante fuzileiro naval que, na
tal revolta, deixou-se carregar nos ombros dos marinheiros: era o Almirante
Cândido Aragão, que optara por dar golpes fatais na hierarquia e na disciplina.
Isso tudo para nós, tenentes e capitães, era inconcebível. Como é que um
almirante fardado se deixava carregar nos ombros por marinheiros em
impressionante baderna? Era uma inversão total de tudo que havíamos aprendido
na vida militar. Quer dizer, era um chefe populista que estava fazendo o jogo
do Governo do Presidente João Goulart” (General-de-Brigada Acrísio Figueira,
Tomo 14, pg. 136-137).
Obs.:
Nos anos de 1970, eu vi o filme “Encouraçado
Potenkim” na Associação Brasileira de Imprensa (ABI), no Centro do Rio de
Janeiro. Na saída, havia distribuição de folhetos criticando o governo militar.
O filme, do russo Serguei Eisenstein, pode ser visto em https://www.youtube.com/watch?v=3U_SsH9Rl2E.
Na mesma época, fiz um cursinho no
Centro do Rio, sobre Economia e Finanças, com vistas a um concurso público da
Receita Federal que não prosperou. Um dos professores, ao falar sobre o AI-5 –
o que fazia com frequência -, dava uma rebolada e dizia: “Ai, cinco!”.
Que ditadura foi essa, companheiro?
F. Maier
Em 26 de março, Carlos Marighella
declara:
“O Partido [PCB] precisa se preparar,
pois está em vias de assumir o Poder” (in “A Verdade Sufocada”, pg. 67).
A reunião de sargentos no Automóvel
Clube, no Rio de Janeiro, em 30 março
Com
a presença do presidente João Goulart, foi a “gota d’água” para o
desencadeamento da Revolução de 31 de Março de 1964:
“A
quebra de disciplina nas Forças Armadas foi proposta pelo Comandante-em-Chefe,
João Goulart, no Automóvel Clube do Brasil, na reunião com os marinheiros, um
espetáculo terrível de indisciplina. Foi assistido pela televisão, praças e
sargentos jogando gorros para o ar, abraços, e ele, o Presidente, se inflama,
sai do roteiro – estava lendo o discurso que defendia aquelas reformas que
pretendia – e conclamava à indisciplina: ‘que os graduados se unam ao povo e
vamos, todos, impor ao Congresso a nossa vontade’. Isso foi sugerido pelo
Comandante-em-Chefe das Forças Armadas, pelo Presidente da República” (General-de-Divisão
Geraldo de Araújo Ferreira Braga, Tomo 2, pg. 103-104).
“No
dia 30 [de março de 1964], no Automóvel Clube do Brasil, no Rio de Janeiro,
sargentos, cabos e soldados ofereceram um almoço ao Presidente da República e a
seus ministros, ocasião em que se repetiram as mesmas exigências do dia 13, com
o apoio e reforço do Chefe do Governo. Era a agressão frontal à ordem vigente,
comandada pelo próprio Presidente da República, com desrespeito à Constituição
e ao Congresso Nacional, com a intenção de desestabilizar as Forças Armadas,
quebrando-lhes a disciplina e afrontando-a. Era, sobretudo, uma agressão ao
povo e à Nação, cuja tranquilidade deu lugar a uma inquietação indefinida e
constrangedora” (General-de-Brigada Manoel Theóphilo Gaspar de Oliveira Neto,
Tomo 4, pg. 97).
“É
provável que este terceiro fato [reunião no Automóvel Clube do Brasil] tenha
feito o General Mourão Filho precipitar os acontecimentos, pois a eclosão do
Movimento estava prevista para 2 de abril de 1964, por razões táticas, como já
disse. De qualquer forma, essa eclosão tinha que ocorrer antes de 1º. de maio
de 1964, Dia do Trabalho, data que vários documentos da cúpula comunista
indicavam para a implantação final do comunismo no Brasil” (Coronel Genivaldo
Catão Torquato, Tomo 4, pg. 142).
“Vale
lembrar que o General Mourão Filho, em Minas Gerais, estava dentro da
conspiração com o Cordeiro de Farias e com o Marechal Denys que se deslocou
para Juiz de Fora. O Mourão Filho foi dormir cedo no dia 30 de março, ele
dormia muito cedo e acordava muito cedo, como bom ‘milico’.
Por
volta das 7h, 8h da noite, sua esposa acordou-o e disse: ‘Mourão, você tem que
assistir isso aqui’. Era a televisão, mostrando a reunião do Automóvel Clube do
Brasil. Muito a contragosto, ele se levantou e sentou diante da televisão.
Quando
acabou a reunião do Automóvel Clube do Brasil, ele já estava fardado, 45 na
cintura, caminhando para a 4ª Região Militar, em Juiz de Fora, para dar partida
no Movimento armado, para acionar a tropa, adotando aquele princípio da
surpresa do Sun Tsu, general chinês que sabia tudo sobre guerra. As coisas que
aquele homem deixou escrito são impressionantes e o General Mourão as leu e
adotou.
Deu
partida, portanto, no dia 31 de março, antecipando-se à proposta, ainda meio no
ar, de outras lideranças de iniciar a Revolução no dia 3 de abril. Ele se
antecipou. E, segundo Sun Tsu, ele tinha razão, porque textualmente ele diz que
a precipitação, às vezes, é prejudicial, mas quem não se antecipa aos fatos
está fadado à derrota” (Coronel-Aviador Gustavo Eugenio de Oliveira Borges,
Tomo 10, pg. 290-291).
Em 30 de março, a ECEME estava rebelada
“O
Coronel Cesário (Luiz Cesário da Silva), pai do General que hoje chefia o
Centro de Comunicação Social do Exército (CComSEx), chegou a nossa sala e
suspendeu a aula em curso. Informou que
a Escola estava rebelada e que a partir daquele momento só obedeceria às
ordens do Chefe do Estado-Maior do Exército, General Castello Branco” (Coronel
Hélio Lourenço Ceratti, Tomo 13, pg. 183).
Em 30 de março, o General Guedes se
declara rebelado
O
Comandante da 4ª. Infantaria Divisionária (ID/4), sediada em Belo Horizonte,
General Carlos Luís Guedes, reúne os oficiais no quartel e se declara rebelado.
31 DE MARÇO DE 1964: O “GRANDE MUDO”,
ENFIM, FALOU!
Em 31 de março, o General Olympio Mourão
Filho anuncia a rebelião de Minas Gerais e escolhe o General Muricy para
comandar o Destacamento Tiradentes em direção ao Rio de Janeiro. Ao mesmo
tempo, cria o Destacamento Caicó, para progredir em direção a Brasília.
“Naquela
época, havia um jornalista de muito prestígio aqui no Rio de Janeiro, David
Nasser, que fez um artigo que ficou muito conhecido, chamando o Exército de o
grande mudo, porque não estava se pronunciando diante do clima de subversão e
de desordem implantado de Norte a Sul do País. Até que o Exército se pronunciou
e o nosso prestígio era de tal monta que só o fato da tropa sair de Minas e
tomar o caminho do Rio de Janeiro, sucessivas adesões de tropas se seguiram,
inclusive de Unidades que eram consideradas da confiança do Presidente da
República, todas aderindo ao Movimento Revolucionário de 31 de Março de 1964,
que uniu a grande maioria dos brasileiros contra o governo do caos” (General-de-Brigada
Acrísio Figueira, Tomo 14, pg. 137-138).
Revolução Redentora e Contrarrevolução – antecipação ao golpe de 1º. de maio de 1964
“Redentora, porque a Revolução de 1964 foi o óbice à segunda tentativa de comunizar este País, não há dúvida nenhuma. Temos várias declarações muito importantes sobre isso, ninguém pode negar. Em dois de junho daquele ano, a Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), constituída por pessoas gabaritadas e preparadas que, em função de sua responsabilidade, não saíam dizendo coisas desbaratadas, assim se manifestou: ‘Graças às Forças Armadas que nos tiraram das mãos do comunismo, agora podemos respirar livremente’.
Outra declaração também importante foi a do General Amaury Kruel, Comandante do II Exército, que tarde da noite de 31, talvez vinte e três horas, telefonou para o Presidente Jango, dizendo-lhe que ele o apoiaria, desde que abandonasse os comunistas. Jango respondeu que não poderia abandonar as suas bases. Esse diálogo foi presenciado pelo Décio Freitas, atual colunista dominical da Zero Hora. Parece clara essa parte, redimimos o Brasil.
Contrarrevolução, porque está mais do que provada a pretensão de se instalar uma República Comuno-Sindicalista. Dois relatos comprovam isso: no início de 1964, Adhemar de Barros confidenciou aos íntimos que Brizola lhe falara em uma República Sindicalista a ser proclamada no Brasil por João Goulart durante o discurso comemorativo do 1º. de maio – uma tradição trabalhista de Vargas. Em março do mesmo ano, Adhemar procurou o Marechal Denys em sua casa e, muito agitado, disse-lhe:
- Vim agora mesmo do Palácio do Planalto onde o Jango me convidou para o golpe que dará.
E explicou como seria:
- No dia 19 de abril – aniversário de Getúlio Vargas – haverá um grande comício comemorativo em Belo Horizonte. Nele ocorrerão badernas de grandes proporções para justificar a intervenção em Minas Gerais e, no dia 1º. de maio, será outorgada a Constituição que implantará no País o regime sindicalista.
A situação estava nesse pé, avermelhando-se dia a dia e a nação assombrada. Nós, que vivemos aquela época, embora julgássemos que quase tudo estava perdido, continuávamos firmes na resistência. Um dia eu disse para o General:
- Se amanhã tivermos que sair para a rua só com um pelotão, vamos sair.
Era horrível, tal a propaganda espalhada. Felizmente, o povo e principalmente as mulheres foram tomando consciência, ficando apavorados e organizaram as grandes passeatas em Belo Horizonte, Rio de Janeiro e São Paulo, que tiveram uma enorme influência nesse processo; milhares de pessoas espontaneamente na rua com o slogan: Marcha da Família com Deus pela Liberdade. Sobre isso o General Cordeiro de Faria (Oswaldo Cordeiro de Faria) comentou o apelo de várias mulheres que chegavam a ele quase em tom de insulto:
- O que os senhores estão esperando que façamos, para saírem às ruas?” (General-de-Brigada Ramão Menna Barreto, Tomo 13, pg. 137-138).
A Revolução era para começar no dia 4 ou 5 de abril de 1964
“O Governador Magalhães Pinto e o General Olympio Mourão Filho tinham a convicção de que tudo que era necessário fazer fora realizado. O retardamento só traria dificuldades mais adiante. Mas o que desejava o Presidente Castello Branco? Já comentamos isso: a conversa do Coronel Confúcio Pamplona com o General Adalberto Pereira dos Santos, Comandante da 6ª. Divisão de Infantaria, em Porto Alegre. Castello Branco, no dia 31, enviou o General Alfredo Malan, que levava uma data para o início da Revolução: 4 ou 5 de abril.
O General Alfredo Malan confirmaria ao General Adalberto Pereira dos Santos, em Porto Alegre, Comandante da 6ª. DI, que o início do movimento estava previsto para 4 ou 5...
Primeiro, o Coronel Confúcio Pamplona, que entregou mensagem redigida de próprio punho pelo General Castello.
Mas não houve precipitação. Apenas o
Governador de Minas Gerais, Magalhães Pinto, e o Comandante da 4ª. Região
Militar, General Olympio Mourão Filho, entenderam que não havia mais o que
esperar. E quanto mais cedo melhor, até porque o fator surpresa seria peça
importante naquela empreitada” (General-de-Brigada Danilo Venturini, Tomo 15,
pg. 154).
Um aparato brancaleone sai de Minas Gerais
As unidades rebeladas que saíram de Minas para o Rio de Janeiro eram um aparato bastante improvisado, que tiveram o apoio de aviões de aeroclubes, radioamadores, ônibus, caminhões e fuscas, cedidos ao Exército por empresários e cidadãos comuns, além de combustível para os carros do Exército e dos civis.
“Eu sempre mantive muito contato com o General Mourão, desde a minha época de 2º. Tenente, quando ele foi meu Comandante no 19º. RI. Ao longo dos anos, essa amizade continuou e se consolidou, mesmo depois da Revolução que teve nele um dos principais artífices. Tenho uma carta do Mourão em que ele externa em que condições sua tropa partiu de Minas Gerais. Em princípio, diz o seguinte:
‘Leal, como é que o movimento poderia ter sido planejado se eu estava avançando com soldados que não sabiam nem atirar? Fico pasmo de ter acontecido uma Revolução com uma tropa tão bisonha. A maioria dos soldados tinha só dois meses de instrução e estavam ainda no período de adaptação’.
A carta está lá para quem quiser ver. Foi o que aconteceu. O precursor da Revolução comandando uma tropa que não sabia atirar” (Coronel Pedro Américo Leal, Tomo 13, pg. 257).
O General Guedes dá início à sublevação em 30 de março. Porém, o General Mourão escolhe o General Muricy para comandar as tropas de Minas, em direção ao Rio de Janeiro, em 31 de março.
“O Guedes, no dia 30 de março, reuniu seus oficiais em Belo Horizonte e lhes disse: ‘Não recebo mais ordens do Governo! Eu estou revoltado! Quem quiser fique comigo.’
E o General Guedes, ainda no dia 30 de março, começou a movimentar sua tropa. Eu, aqui, no Rio, fui informado dessa situação. Liguei para o General Geisel:
- Ernesto, você ouviu no rádio? Que é que há?
- Eu não sei, vou procurar saber.
Não tivemos confirmação da notícia, mas continuaram os boatos de que havia um movimento de tropas em Minas.
Em fins de 1963, o General Mourão, em Minas, queria um Comandante para as tropas locais quando viesse a Revolução. Eu estava sem comando. Ele tinha vindo ao Rio, em novembro ou dezembro, para ver a quem ele entregaria o comando de uma tropa. Ao convidar-me, aceitei. Eu estava sem comando e não podia ficar olhando os acontecimentos, não é do meu temperamento. Por isso aceitei.
Mourão não era propriamente um líder dentro do Exército, era um General com qualidades e defeitos, e sobre ele pesavam certas acusações a respeito do célebre Plano Cohen, que tinha dado margens, ou acirrado, aos acontecimentos de 1935. Ele era o homem do Plano Cohen, e não gozava de um prestígio 100%.
Guedes, que sempre servira em Minas,
era um oficial inteligente, mas também sem penetração dentro do Exército.
Mourão, quando veio ao Rio no fim do ano, me disse: ‘Muricy, quero um homem
para comandar minha tropa e não acredito no Guedes” (General-de-Exército
Antonio Carlos da Silva Muricy, Tomo 14, pg. 39-40).
“Salvo” por uma lavadeira
“Em torno do dia 20, o Mourão mandou dois emissários falarem comigo: o Ministro Antonio Neder – naquele tempo Juiz em Petrópolis -, e um filho do Marechal Denys, o Roberto, para saber se eu iria mesmo comandar sua tropa no movimento que se aproximava. Eu lhes disse: ‘Agora estou engajado aqui no rio, preciso ver onde sou mais útil, se lá ou cá. Amanhã dou uma resposta.’ No dia seguinte, fui falar com o Castello, com o Ademar, com o Orlando Geisel, com o Ernesto Geisel e eles disseram: ‘Você para nós é muito mais importante lá em Minas do que aqui. Lá em Minas nós não temos gente para agir.’ Então mandei um recado para o Mourão: ‘Estou à sua disposição.’ E me preparei para ir para Minas, com o então Coronel Walter Pires (Walter Pires de Carvalho e Albuquerque) e com o Tenente-Coronel Caracas Linhares (Heitor de Caracas Linhares), que seriam do meu Estado-Maior e começamos a planejar nossa ida para Minas e as ações que teríamos que executar antes de nossa partida.
E estávamos nesse trabalho quando veio o dia 30 e o Guedes se revolta e movimenta sua tropa. Conversa com o Mourão e com o Magalhães Pinto, que acham precipitada sua decisão mas que acabam concordando em revoltar Minas. Magalhães Pinto, que tinha preparado um pronunciamento brando, muda-o para um mais forte e iniciam juntos a revolução desejada pelo povo brasileiro.
Eu estava em casa no dia 31 de março, quando à 6h da manhã toca o telefone e um companheiro me perguntou:
- Muricy, como é? Sai hoje ou não sai?
- Não sei ainda!
Estava ouvindo notícias do movimento em Minas, o rádio avisando. Mas mal eu acabava de desligar o telefone, veio um telefonema do Ministro Neder.
- Olhe, General Muricy, o nosso homem partiu, o nosso homem arrancou, e quer saber a que horas o senhor estará aqui em Juiz de Fora.
- Bom, são 7h; tenho que pegar meus companheiros que vão commigo para Minas, mas ao meio-dia estarei em Juiz de Fora.
Realmente, cheguei a Juiz de Fora pouco depois do meio-dia, tendo saído do Rio às 9h pela estrada União e Indústria, dirigindo.
Quero dizer aqui o que disse anteriormente: nunca houve quem fizesse mais contravenções de trânsito do que eu nesse dia. Saí como um louco, mas cheguei a tempo.
No caminho, ocorreu um fato anedótico: Estava preocupado com o caminho a seguir e pensava com meus botões: ‘Vou para Juiz de Fora, passando por Petrópolis ou dou a volta por Teresópolis, lá por cima? Vai depender da tropa de Petrópolis, o 1º. Batalhão de Caçadores, que poderá nos prender.’
Mas, quando entrei na Avenida Brasil, passei pela porta do 1º. Batalhão de Carros de Combate e vi uma lavadeira com uma trouxa na cabeça entrando no Portão das Armas. Concluí: ‘Não há prontidão! Logo, eles não estão sabendo ainda o que está se passando. Vamos embora direto por Petrópolis’ ” (General-de-Exército Antonio Carlos da Silva Muricy, Tomo 14, pg. 40-41).
Obs.:
O General Muricy relata nas pg. 41 a 46 sua marcha de Minas para o Rio,
as adesões de Unidades que recebe no caminho, inclusive as tropas do Regimento
Sampaio, que partiram do Rio para enfrentar as tropas rebeladas de Minas.
Após o General Cunha Melo retrair sua tropa, o General Muricy prossegue
no seu deslocamento:
“Passou-se uma hora e eu meti a tropa na estrada. Quando cheguei à
altura de Pedro do Rio, próximo a Petrópolis, encontrei o 3º. RI inteiro, à
beira da estrada: ‘General, a tropa é sua.’ Avancei mais um pouco e encontrei
outra Unidade: ‘General, a tropa é sua.’ De maneira que quando entrei no Rio de
Janeiro, na manhã do dia 2, eu, que tinha saído de Minas com 3 mil homens
estava agora com cerca de 6 mil.
Quando cheguei, o Governador Carlos Lacerda veio ao meu encontro,
abraçou-me e colocou o estádio do Maracanã à minha disposição para eu estacionar
a tropa.
Aqui no Rio a situação era muito confusa. Ainda havia possibilidade de
alguma reação. O General Costa e Silva, o mais antigo general da Guarnição,
havia assumido o Ministério do Exército [na verdade, o Ministério da Guerra].
Deixando a tropa no Maracanã, fui ao encontro dos chefes militares.
Pediram-me que mantivesse a tropa mineira aqui, pronta para agir, até que a
situação ficasse tranquila. Foi o que fiz” (pg. 44-45).
F. Maier
O
Rio Grande do Sul, por ser a terra de Jango e Brizola, mereceu um cuidado
especial dos revolucionários de 1964, pois havia sério risco de ocorrer uma
guerra civil, com Unidades do Exército comandadas por chefes pró e anti-Jango.
“O General Poppe foi convencido
a assumir o Comando do III Exército, por ser o mais antigo. Assim sendo, o
problema se resolveu da periferia [Santa Maria] para o centro [Porto Alegre].
Paralelamente a tudo isso, o
Governador Leonel Brizola, ensandecido, histérico, aos gritos desesperados,
mandava insistentes mensagens para os sargentos de Uruguaiana, principalmente
do 4º. Grupo de Artilharia, durante a jornada de 1º. de abril. Exortava-os a
pendurar, nos postes da Praça Central, em frente ao QG, e nas ruas principais,
o Comandante e os oficiais. Dizia que, enquanto não conseguissem fazer isso,
que pegassem suas mulheres e filhos. Mandava pendurar no poste com as solas dos
pés cortadas – como faziam os farroupilhas, que penduravam o inimigo em um
poste, ou numa árvore qualquer, com as solas dos pés cortadas. Em minutos, a
pessoa morria, porque a sola do pé é extremamente irrigada por capilares. Tanto
que os orientais usam muito os pés na acupuntura. Permitam-me estar
reproduzindo, mas são expressões textuais do Brizola.
A mensagem era repetida o
dia inteiro, por horas, A certa altura, dizia: ‘Aos heroicos e bravos sargentos
do 4º. Grupo. Reproduzam o feito dos irmãos de Bagé. (...)
O problema mais sério
ocorreu no 5º. RC de Quaraí, onde 49 sargentos, dos 53 existentes, se recusaram
a cumprir ordens de se deslocarem, na manhã de 2 de abril, junto com o
Regimento, para a região de Harmonia. Apenas quatro sargentos haviam
permanecido fiéis ao Movimento. Um sargento disse: ‘Eu não sei o que está
ocorrendo. Nós estamos com o Presidente’, e 48 o acompanharam. O Comandante os
substituiu por cabos que foram comissionados para as funções desses sargentos e
o Regimento deslocou-se para cumprir sua missão. Os 49 sargentos foram
recolhidos ao meu Grupo, onde ficaram presos, tendo o quartel por ménage.
Houve, além desses, o recolhimento de um capitão, do Grupo de Artilharia de
Alegrete, que estimulara a reação dos sargentos, sobre quem, aliás, já pairava
uma dúvida, agora confirmada. Excelente oficial, por sinal.
No dia 2 de abril, os
sargentos e o oficial ocupavam todas as instalações da Unidade. Assim, os
líderes comunistas civis foram trancafiados em compartimentos adaptados para
prisão. Entre eles, um arquimilionário que jogava todas as noites na Associação
Comercial e era tido como líder comunista, no Rio Grande do Sul. Na verdade,
era um grande burguês. Foi o primeiro a ser preso” (Coronel Amerino Raposo
Filho, Tomo 2, pg. 272).
“No trajeto para o Rio,
fomos panfletados por um avião, incitando que deixássemos de cumprir o nosso
intento e retornássemos. Depois, fiquei sabendo que íamos ser bombardeados por
aeronave da Força Aérea, que viria do Rio de Janeiro. Por alguma razão que eu
desconheço, acabou não acontecendo.
O deslocamento prosseguiu
pela noite. Ao alvorecer do dia 2, adentrávamos a área urbana do Rio de
Janeiro. Uma parcela do 10º. RI se dirigiu para ocupar a Refinaria Duque de
Caxias e a Fábrica Nacional de Motores, e a parcela da qual eu participava
encaminhou-se para o estádio do Maracanã, onde ficamos acantonados.
Fomos alertados de que a
nossa tropa iria permanecer no Rio de Janeiro, por desejo do Escalão Superior,
pelo fato de ser uma tropa altamente leal, enquanto a situação no Rio se
definia, naquele momento de mudanças nos comandos” (Coronel Reynaldo de Biasi
Silva Rocha, Tomo 3, pg. 311).
“Ainda nesse dia 2 de abril,
em seguida, fui destacado, juntamente com meu Pelotão – eu era da 4ª. Companhia
[do BGP] – para apresentar-me ao Comandante do 3º. Esquadrão C Mec, que estava
na sede do Comando Militar de Brasília, na Esplanada. Os carros de combate
estavam todos lá. Cheguei e apresentei-me ao Comandante do Esquadrão. Era o
Capitão Casales (Luciano Phaelante Casales). Apresentei-me e fiquei aguardando
ordens. Por volta de uma hora da manhã, fui chamado pelo Chefe do Estado-Maior,
dizendo que eu deveria cumprir a seguinte missão: deslocar-me, com meu pelotão,
pela BR 040, até a altura onde se encontravam as antenas da Rádio Nacional. Lá,
teria que lacrar os transmissores. A Polícia Militar estava tomando conta da
instalação da Rádio Nacional. Com meu pelotão deveria cercar a área e prender
todos os elementos da Polícia Militar e lacrar os transmissores. Recebi a ordem
e levei comigo um Major de Comunicações. Esse oficial iria lacrar os
transmissores, mas estava com receio de ser preso pelas tropas de Minas Gerais.
Permanecia o tempo todo com a pistola na mão, e eu alertava:
- Major, guarda essa
pistola, o senhor está nervoso, daqui a pouco o senhor dá um tiro e se acidente
com essa arma. Aí, o Major acalmou-se.
Chegamos no local, ele ficou
na estrada e eu avancei com o pelotão; posicionei o sargento mais antigo para
cobrir o meu flanco. Os PMs que estavam lá dentro não notaram a nossa chegada.
Já eram duas e pouco da manhã, a maioria estava dormindo. Abri a porta, entrei
e rendi todos que estavam lá. Uns dois ou três tentaram fugir, mas fechamos a
porta e não conseguiram sair. Desarmamos todos eles e, a partir desse momento,
avisei o Major:
- Pode chegar que há
segurança para o senhor lacrar os transmissores.
Então, lacrou todos os
transmissores, botou a data, assinou. A partir daí, a rede da legalidade foi
neutralizada, porque o que estava ocorrendo em Brasília, era a rede da
legalidade, por intermédio da qual agitadores insuflavam os candangos a quebrar
lojas comerciais, a entrar nas residências etc. Silenciamos a rádio da
legalidade” (Coronel Carlos Fernando Freitas Almeida, Tomo 5, pg. 290-291).
“O General Santa Rosa pregou
a indisciplina no Núcleo Paraquedista, usou a tropa para desocupar um terreno
particular dele. Saiu do comando. O General Pinheiro tentou a operação ‘Mata
Lacerda’, dizendo que era missão para paraquedista, ganhou um apartamento da
Caixa Econômica Federal para ficar calado e foi para casa. Esses homens não
lideravam nada. Esquema? Era o esquema dos aproveitadores. Dos homens que
tinham desvirtuado os nossos princípios, que não seguiram aqueles ensinamentos
que obtivemos na caserna. Essa é a verdade! Não eram líderes, não eram chefes!
Não havia esquema. O próprio Chefe da Casa Civil do Governo Goulart – Darci
Ribeiro – cobrou, na hora, do General Assis Brasil, Chefe da Casa Militar, o
esquema, a tropa para a defesa do Governo João Goulart. Simplesmente, não
existia!” (General-de-Brigada Durval Antunes Machado Pereira de Andrade Nery,
Tomo 10, pg. 185).
“O desmoronamento rápido e
sem derramamento de sangue processou-se porque o esquema montado, tendo à
frente o General Assis Brasil, baseava-se em benefícios, inclusive financeiros,
em privilégios, promoções, numa série de favores e não numa adesão consciente.
Como já lhes falei,
financiavam também casas para oficiais subalternos e capitães do QOA e QOE,
sargentos e cabos engajados. Era um esquema implantado em cima de interesses.
Os comandos da Vila Militar
foram entregues a coronéis do esquema, os quais, quando quiseram deslocar a
tropa para enfrentar a Revolução, para confrontar conosco, não obtiveram êxito.
O Governo e seus seguidores se equivocaram porque pensavam que, por conseguirem
deslocar tropas durante os comícios, para dar-lhes apoio, segurança, proteção,
dentro da cidade, conseguiriam também efetuar os deslocamentos que se fizessem
necessários para apoiá-los politicamente em qualquer situação. O Governo
enganou-se redondamente quando entendeu que as tropas que evitavam desordens
nos comícios, como no do dia 13 de março, eram tropas de adesão à causa deles.
Ledo engano!... Assim, os comandantes no Rio não conseguiram conscientizar a
tropa no sentido da causa defendida por eles. Isso aconteceu, por exemplo, com
o Comandante do Grupo-Escola que, ao deslocar-se contra São Paulo, ficou
sozinho na estrada, porque, no primeiro descuido, as baterias o abandonaram
passando para o lado das tropas revolucionárias. O mesmo aconteceu com o
‘general do povo’ [general Cunha Mello] que comandava a Força contra Minas;
voltou para casa frustrado.
O desmoronamento
processou-se porque não havia a menor capacidade de liderança naqueles que se
aliaram ao governo das bravatas, ao governo da mazorca, ao governo das reformas
‘na lei ou na marra’. Além de tudo, não contavam com o mínimo prestígio no seio
do povo, embora quisessem passar à História como generais e almirantes do povo”
(General-de-Brigada Gerando Luiz Nery da Silva, Tomo 10, pg. 222-223).
“Quero sublinhar que ninguém
melhor do que os homens responsáveis que marchavam de São Paulo contra o Rio de
Janeiro, cônscios de suas limitações e deficiências, em termos de pessoal e
material, ninguém melhor do que eles para avaliar o valor incomensurável desse
emprego. As poucas tropas do II Exército ali envolvidas – 5º. RI, 2º. RO 105, a
Bateria do CPOR/SP, BCCL (que veio de trem) e o 2º Esqd Rec Mec, hoje 2º. Esqd
C Mec -, ao conhecerem a decisão do Comando da AMAN, tiveram o seu moral
extremamente fortalecido.
Quanto
às operações militares, o senhor pode precisar alguns objetivos estratégicos visados
pelas tropas que deflagraram a Revolução? [entrevistador]
As [tropas] de Minas
elegeram corretamente o Rio de Janeiro e Brasília como os objetivos
estratégicos de maior relevância para definir a situação.
O Rio de Janeiro
concentrava, naquela época, os Ministérios Militares, Chefias de Estado-Maior e
de Departamentos e a maior parte das tropas das três Forças Singulares, além de
vários órgãos de Ministérios civis, ainda não transferidos para Brasília, que era
outro objetivo estratégico pro ser a capital da República.
Brasília foi também o
objetivo das tropas de Mato Grosso (Cuiabá) que partiram, sob o comando do
Coronel Meira Mattos, que lá desempenhou um papel relevante, sobretudo junto ao
Congresso Nacional.
Para o II Exército, o
principal objetivo estratégico era o Rio de Janeiro, onde estavam os ‘generais
e almirantes do povo’.
As tropas do IV Exército
tinham que se impor lá no Nordeste (o principal objetivo estratégico estava em
Recife), assim como as do III Exército, no Rio Grande do Sul, sobretudo em
Porto Alegre.
Houve deslocamento de tropas
de São Paulo para o Sul, a partir do dia 2 de abril (4º. RI e 12º. GAC, na
época 2º. GO 155), mas que não precisaram chegar ao destino pela rápida
definição da situação em favor dos objetivos da Revolução de 31 de Março de
1964, com a fuga de Goulart” (General-de-Brigada Geraldo Luiz Nery da Silva,
Tomo 10, pg. 224-225).
Feridos no Forte Copacabana
“Então sinalizei para a nossa tropa que estava tudo bem, que não era nada contra o Forte Copacabana, confesso que, de momento, não identifiquei o Coronel Montagna, mesmo porque eu não o conhecia pessoalmente. Aí, nesse momento, foi possível aos oficiais do Forte de Copacabana já alertados, inclusive por alguns tiros que aconteceram lá, virem à frente do Forte e ajudarem a completar a tomada do QG.
Nesse episódio, houve dois feridos: um deles foi um sargento do próprio QG, que, até onde pude saber, levou um tiro de cima para baixo, do pessoal que estava pulando o muro, porque ele teria ameaçado a vida de alguém, e um dos alunos da ECEME, que eu não sei quem, foi ferido pela baioneta de um soldado, no ombro, felizmente sem gravidade. Então, essas foram as perdas, na tomada do QG ACos/1” (Coronel Nelson Roberto Bianco, Tomo 14, pg. 331).
Um aparato brancaleone também sai de São Paulo
“Tínhamos a informação de que iriam dificultar o nosso movimento. Em comunicações, estávamos paupérrimos, como sempre. Rádio nós não tínhamos nada: zero. Lembro de quando fui comandar lá em Jundiaí, tínhamos cerca de oitenta estações de rádio: nenhuma funcionava. Quem nos ajudou foram os radioamadores que, em cadeia, fora da faixa, trabalharam e nos apoiaram, nos colocaram em contato com o Brasil inteiro. O próprio Comandante do II Exército falou com o Comandante da 8ª. Região Militar, de quem eu não me lembro mais o nome, para incentivá-lo a entrar na Revolução, através de ligação feita por radioamador.
Transporte, estávamos também a zero! Então, começamos a levantar, com antecedência, as necessidades de transporte e, quando o Chefe da 4ª. Seção da Região me procurou no II Exército para saber quais as nossas necessidades em transporte, eu lhe disse: ‘Vá à rua tal, número tal, que é o escritório do doutor Paulo Egídio Martins – que depois foi Governador de São Paulo – e lá está a nossa mobilização de transporte.’ Eu já tinha dado a ele as nossas necessidades de transporte para o pessoal a pé, inclusive para o Regimento de Cavalaria de Pirassununga.
Lembro-me de que nós passamos por São Paulo, indo para Resende, e eles cruzaram conosco, de ônibus. [entrevistador]
Toda a mobilização de transporte foi feita por civis do gabinete do Paulo Egídio Martins. O Presidente do Clube de Engenharia tomou parte nisso – João Soares do Amaral Neto – que era um engenheiro muito distinto.
E quanto ao Regimento foi por via férrea? [entrevistador]
Os carros embarcaram no trem, na Santos-Jundiaí, e ‘eles’ desligaram a energia elétrica.
O inimigo interno desligou a energia elétrica e ficamos sem condições de prosseguimento. [entrevistador]
Os trens ficaram sem poder se movimentar, com os carros embarcados. O Paulo Ferraz, da Soma – tradicional fábrica de vagões, de quem eu falei, me procurou e disse que queria uma garantia: a colocação, nas máquinas, de gente ou soldados armados, para garantir o pessoal deles, que levariam os trens até o Vale do Paraíba. E, assim, eles foram pela Santos-Jundiaí, depois entraram numa linha da Central e foram até perto de Resende.
(...)
O que o senhor gostaria de destacar, ainda, no dia da Revolução? [entrevistador]
Tenho, ainda, um episódio para contar. No dia da Revolução, Kruel ainda em dúvida, foi jantar, e eu fui procurado por um amigo, colega de Turma, coronel de artilharia, engenheiro militar, um irmão que eu tinha, Paulo Peçanha. Era um técnico excelente. Ele montou uma indústria que chegou a ser a maior fábrica de fórmica no Brasil, fórmica não ferrosa, de grande capacidade. Mas ele, embora na reserva, trabalhou na Revolução comigo, foi comigo à casa do Kruel no dia 31 de março.
O Kruel interrompeu o jantar – do qual participaram o Vinicius Kruel, seu sobrinho, depois General, e o seu assistente Paulo, Major de Cavalaria – e fomos para o quartel. Quando chegamos ao quartel, ele entrou no gabinete comigo, sozinho, fechou a porta e me perguntou: ‘Como é Cid, como está a coisa? Temos ou não temos dissensões?’ E eu lhe disse: ‘O senhor pode iniciar o movimento que não teremos dissensões, não haverá problema.’ Ele disse: ‘Então você se arme, avise aos companheiros para ficarem aqui perto do gabinete, que vou chamar os generais e, se eles não aderirem, vocês entrem que nós vamos prender os generais.’ E ficamos esperando...
(...)
Saíram dizendo que iam aderir, e não aderiram nada. O Comandante da Região, Bandeira de Moraes, fugiu e se escondeu oito dias na Companhia de Comando e Serviço da Região.
O Aluísio Miranda Mendes, Comandante da 2ª. DI, passou no PI (Ponto Inicial) às 7h da manhã, mas só chegou em Resende às 4h da tarde e ‘segurou’ o Esquadrão que ele devia ter lançado no reconhecimento à frente. O Esquadrão é para isso, você o lança em busca do inimigo; e o Esquadrão ficou ‘preso’ atrás dele.
(...)
Outra coisa: saímos blefando, não tínhamos munição. Foi na época em que estavam trocando também o armamento, do Mauser para o FAL (Fuzil Automático Leve), o fuzil belga que, depois, passamos a fabricar no Brasil. Então, tínhamos pouco munição do fuzil Mauser e pouca munição do FAL. O Carlos Alberto levou os dois, ele estava motorizado. Também, em matéria de transporte, estávamos péssimos, não tínhamos nada.
Todos aqueles Regimentos do Vale do Paraíba eram praticamente a pé. [entrevistador]
Todos eram a pé. Mas mesmo na Artilharia, todo o material era velhíssimo. Só para você ter uma ideia: quando eu cheguei lá em Jundiaí, para comandar o 2º. GO, de 13 tratores – aqueles tratores de 12 toneladas, com motor de avião – só um funcionava. Eram tratores muito velhos, com motor e painel de avião, difíceis de tratorar. Então, comecei a ensinar aos oficiais das Baterias, aos sargentos das Peças e cabos apontadores a tratorar, ficando, em consequência, bem suprido de tratoristas. E estava tentando ver se comprava caminhões, para tirar aqueles tratores arcaicos. Imagine que um trator daquele gastava dois litros de gasolina por quilômetro.
(...)
Mas o fato é que fizemos a Revolução blefando, pois não tínhamos nada” (General-de-Brigada Augusto Cid de Camargo Osório, Tomo 14, pg. 118-123).
Metralhadoras dos Fuzileiros Navais no alto do Morro da Urca?
“A maior preocupação de todos nós, se
os fuzileiros invadissem a Praia Vermelha, era com as nossas famílias, com a
leva de pessoas desordeiras que poderiam vir depois.
Tratei, então, no dia 31 de março, de levar minha esposa, que estava grávida do meu primeiro filho, para o apartamento em Copacabana, e fiquei sozinho na Praia Vermelha. Se acontecesse algo, seria comigo, e não com ela. Falou-se, certa ocasião, que o Coronel Zilio, administrador do edifício Praia Vermelha, subira o morro da Urca com um grupo de oficiais da ECEME e apreendera algumas metralhadoras que os fuzileiros navais estariam instalando por lá. Comentou-se, mas não sei se é verdade. De fato, apareceram umas metralhadoras, mas não sei se eram as tais” (Tentente-Coronel Affonso Taboza Pereira, Tomo 12, pg. 220).
O Kerensky brasileiro
“Quando a situação se definiu, entramos naquela fase de prontidão relativa, em que se permitia, pelo sistema de rodízio, que oficiais e sargentos fossem até suas residências para visitar os familiares e buscar roupas. Ainda não estava definida a segurança do Movimento, o Brasil estava se aquietando. Tenho a impressão de que os generais dos grandes comandos, no centro do País, já se haviam definido, mas ainda havia dúvidas sobre certas Unidades.
Sei de um que resistiu até quase o fim – o 1º. BC de Petrópolis, RJ -, não pelas armas; era comandado pelo Kerensky Túlio Motta, nortista e muito estudioso; foi o segundo colocado na minha turma e que era comunista. Eu sabia que ainda havia uma resistência, pelas notícias que ouvíamos” (General-de-Brigada José Mattos de Marsillac Motta, Tomo 13, pg. 118).
18º. RI, covil de comunistas
“Quando o Poppe de Figueiredo assumiu o III Exército, ele já sabia da razão de eu ter sido transferido para Pelotas. Então me trouxe para comandar o 18º., porque o Comandante, Coronel Bandeira de Mello (Lauro Bandeira de Mello), que o enchera o Regimento de comunistas notórios – os tenentes-coronéis Liberato (Liberato Vieira da Cunha), Quadros (Wilson Quadros de Oliveira), Palmeiro (Eduardo Palmeiro da Costa) e outros – tinha sido destituído do comando e preso.
O único fora do ninho daquela turma era o Nunes que servia no 19º. [entrevistador]
O Regimento era um covil de comunistas. Então me trouxeram para comandá-lo; assumi o comando como Tenente-Coronel. A primeira medida que tomei foi pedir para retirarem do quartel os oficiais comunistas que estavam presos lá. Aleguei que não poderia ficar com aqueles oficiais que tinham servido lá, inclusive, comandantes de Batalhão. Fui atendido” (General-de-Brigada José Mattos de Marsillac Motta, Tomo 13, pg. 120).
O Coronel-Aviador Moreira Lima faz rasante sobre o Destacamento do General Mourão Filho
“Quando chegou a Revolução de 1964,
eu era Comandante da Base Aérea de Santa Cruz. Lá, um dia, recebi fora do plano
de transferência o Capitão Juarez, que foi para Santa Cruz com o intuito de me
prender, acredito que dentro do esquema da Revolução, o que ficou claro,
porque, uma semana antes de 31 de março, ele foi à Vila dos Sargentos junto com
o Major Mascarenhas, que havia estado em Aragarças – foram, em um sábado de
madrugada, falar com os graduados da Vila dos Sargentos da Base, propondo minha
prisão e a sublevação da Base.
Veja que maluquice, ele falou com o sargento Mascarenhas, que era irmão desse Major Mascarenhas. O sargento protestou e denunciou o que estava acontecendo, telefonando-me em seguida. Tomei as providências devidas, apresentando o Capitão Juarez, na segunda-feira, preso ao Comandante da 3ª. Zona Aérea, solicitando que fosse aberta uma sindicância a respeito.
No final do expediente, fui ao Brigadeiro Teixeira, Comandante da 3ª. Zona Aérea, e perguntei sobre o destino do Capitão Juarez, e ele disse: ‘Eu o mandei embora, é um garoto’. Muito aborrecido com o Teixeira, disse: ‘Então, esse Capitão vai para a Vila dos Sargentos tentar tomar a Base, eu o mando preso para cá e o senhor simplesmente o liberta? Francamente, o caso é real e o senhor não está levando a sério. Estou comandando uma Base onde existem três mil e tantas pessoas, entre civis, sargentos e oficiais. Tenho três Unidades aqui sediadas – o 1º. Grupo de Caça, o 1º. Grupo de Aviação Embarcada e o Grupo de Controle e Alarme. Venho dormindo na Base quatro dias por semana, como se eu estivesse de mal com a minha mulher e o senhor faz uma coisa dessas?’ ‘Calma, rapaz, isso não vai dar em nada’.
Mas o 31 de Março foi a resposta que
tivemos. As previsões do Brigadeiro Teixeira não se confirmaram. O General
Mourão pôs a tropa na estrada e marchou contra o Rio de Janeiro. Por duas
vezes, o Conselho de Segurança, através de um colega que já morreu, me
telefonou: ‘Rui, dá uma corrida nessa
coluna do Mourão, basta uma passagem que você faz o serviço nele. Eles vão
embora.’
Impaciente por esperar, lá pelas 16h decolei no jatinho Paris, tendo como co-piloto o Tenente-Coronel Berthier, Comandante do 1º. Grupo de Caça. Passei para o topo das nuvens – 5.500m – chamei o radar do Galeão, pedindo ao operador que me levasse à vertical da cidade de Paraíba do Sul. Fiz a primeira tentativa e encontrei a coluna próxima a Areal. Assinalei no mapa da revista Quatro Rodas. Quando passei pelas viaturas, foi uma correria só. Pânico total, por falta de espaço para manobrar, em plena Serra do Mar e com o tempo reinante, voltei a 5.500m e fiz nova tentativa.
Chamei de novo o Galeão para me levar outra vez para cima de Paraíba do Sul. As palavras do Berthier – que era meu amigo, mas estava formal, com um constrangimento terrível – foram essas: ‘Coronel Rui, nessa segunda tentativa, vamos morrer’. Eu lhe respondi com essa frase: ‘A gente só morre uma vez’.
Nova passagem sobre a coluna, novo pânico. Voltei ao topo das nuvens novamente e chamei o Galeão que me transmitiu a seguinte mensagem: ‘O Brigadeiro Teixeira está pedindo a sua presença na 3ª Zona Aérea.’ Respondi: ‘Você avisa o Brigadeiro Teixeira que estou com o Comandante do 1º. Grupo de Caça a bordo, vou deixá-lo em Santa Cruz e volta para falar com ele.’
Deixei o Berthier em Santa Cruz e fui para o Santos Dumont falar com o Brigadeiro Teixeira. Encontrei-o no corredor, acompanhado de umas quinze pessoas, indo para a pista. Ao ver-me, falou informalmente: ‘A Vila Militar entregou a rapadura.’ ‘E agora?’ ‘Estamos indo para a casa do Ministro Botelho ouvir suas instruções, suas ordens.’
Eles usaram um C-47 da Base do Galeão e eu segui no jatinho Paris. Na casa do Ministro Botelho, fomos recebidos – ele emocionado, com lágrimas – nos disse: ‘Meus amigos, o Presidente estava aqui no Rio e sem comunicar nada a ninguém foi para Brasília. Em Brasília, também, sem comunicar nada a ninguém, foi para o Rio Grande do Sul. Então, a minha ordem – que foi dada no dia 1º. de abril - é a seguinte: Voltem para suas Unidades e aguardem instruções. Nós perdemos a Vila, que não reagiu, e o General Mourão está chegando aí. Regressem, pois, às suas Unidades e aguardem novas instruções.
Para não deixar dúvida sobre meu voo sobre a coluna do General Mourão, nem uma vez, repito, nem uma vez, eu disse que ia bombardear essa coluna. O avião a jato Paris era uma aeronave de turismo, usada pelo GTE para conduzir passageiros importantes. Estou lhe dizendo agora que esse foi o fato. Realmente, queria saber a posição da coluna, porque, se parasse a chuva e me mandassem atirar na coluna, eu sei como parar uma coluna. Cumpriria a ordem, sem matar ninguém. Sempre agi em obediência à carta de meu pai: ‘Nos momentos de loucura coletiva, deves ser prudente, não atentando contra a vida dos teus concidadãos.’ A carta do meu pai esteve sempre presente... até hoje. As minhas palavras quando saí de Santa Cruz foram inspiradas nessa carta. Uma mensagem para o 1º. Grupo de Caça: ‘Vocês estão sentados numa arma perigosíssima, com quatro canhões 20mm, com foguetes, com bomba incendiária e bomba de demolição. Não as usem contra o povo brasileiro; não façam o papel que o Perón fez lá na Casa Rosada” (Major-Brigadeiro-do-Ar Rui Barbosa Moreira Lima, tomo 12, pg. 57-59).
O
sargento Venaldino feriu a tiros os aspirantes Flávio Oscar Maurer e Aloysio
Oséas, e depois se matou
“Quanto tempo o Aspirante Maurer ficou hospitalizado por causa dos tiros
do Sargento Venaldino? [entrevistador]
Considerando as diversas
cirurgias que fiz, passei uns quatro meses no hospital. Em 25 de agosto, época
da promoção a Segundo-Tenente, ainda me encontrava em recuperação. A Junta de
Saúde foi condescendente comigo na hora da inspeção. Eu ainda enfrentava
dificuldade para falar, não conseguia pronunciar as palavras com clareza, e os
médicos então abriram uma exceção para que pudesse ser promovido na data
aprazada.
Um
colega seu de turma, o Aspirante Aloysio Oséas, também foi ferido pelo Sargento
Venaldino? [entrevistador]
Como eu, foi ferido aqui
dentro do Batalhão [19º. RI, atual 19º. BIMtz, São Leopoldo, RS], na escada.
Levou quatro tiros. Só que ele teve mais sorte, as balas entraram de cima para
baixo. O Venaldino encontrava-se no topo da escada e o Oséas colocou a mão como
anteparo e as balas, felizmente, atingiram o braço e a perna dele, uma outra
entrou na barriga, mas sem nenhum risco de morte. Foi submetido apenas a uma
cirurgia e não restaram sequelas da agressão. Quinze dias depois ele estava
recuperado.
O tiro do rosto provocou um
estrago muito grande, já que a bala entrou de um lado e saiu do outro. Todo o
lado esquerdo da face foi arrebentado. Precisei passar por várias intervenções
cirúrgicas. O Doutor Demétrio Mércio Xavier Filho, Capitão que servia no Hospital
Geral de Porto Alegre (HGPA) e o Dr. Nathan Goldstein, um civil já falecido,
fizeram as plásticas para a reconstituição do meu rosto. Tudo muito
bem-sucedido. O Dr. Goldstein, por exemplo, ao final ainda queria tirar uma
pequena cicatriz. Eu disse para ele:
- Pelo amor de Deus, deixe
alguma coisa na cara que comprove toda a minha história, senão depois quando
contar o que me ocorreu e os ferimentos que sofre na cabeça, quem vai acreditar
em mi?” (General-de-Brigada Flávio Oscar Maurer, Tomo 8, pg. 313-314).
“Apresentei-me ao
Tenente-Coronel Borba e ele ordenou que eu providenciasse um xadrez para o
Sargento Venaldino Saraiva que acabara de ser preso. No decurso do inquérito
sobre as suas atividades subversivas no quartel no dia 31 de março, o seu
envolvimento havia sido definitivamente comprovado na recém-terminada acareação
com outros colegas. Eram os sargentos que eu encontrara na escada.
Desci e verifiquei que havia
um xadrez livre o qual poderia ser ocupado pelo Venaldino. Instruí o
comandante-da-guarda, bem como o sargento-adjunto do iria acontecer e subi
novamente. Perguntei ao Subcomandante onde estava o preso e ele me apontou o
Gabinete do Comandante. Apenas para lembrar: Venaldino era aquele graduado que
comandara um grupo armado no dia da Revolução, ocupando posições de tiro junto
à caixa d’água do quartel [ID/6]. O Gabinete do Comandante era constituído de
duas salas. Em uma ficava a mesa de despacho e na outra, contígua, aconteciam
as reuniões de oficiais, eram recebidas autoridades etc.
Entrei na primeira sala e
encontrei o Major Ruy [Ruy de Paula Couto, mais tarde General-de-Exército] –
encarregado do inquérito – que, justamente naquele instante, saía da outra
dependência e me informou, de passagem, que o Vanaldino lá se encontrava. Ao
chegar no umbral da porta que separava os dois ambientes, vi o sargento. Ele
estava parado, de costas para mim e de frente para uma janela, olhando a rua.
Vestia japona e estava com a mão direita enfiada entre os botões da frente do
uniforme, num gesto típico de quem a abriga do frio. Ato contínuo, falei para
ele:
- Vamos, Venaldino.
Ele girou o corpo
rapidamente e voltou-se para mim, apontando uma pistola. Disparou de imediato e
continuamente três tiros. Naturalmente, tinha a arma escondida sob a japona.
Como ele não foi revistado antes do interrogatório é a típica indagação que só
se faz depois que as tragédias acontecem.
O fato é que tudo foi muito
rápido, tanto que o Major Ruy ainda estava na outra sala, atrás de mim. O
primeiro tiro ele errou, passou a uns 3cm da minha cabeça, alojando-se no marco
da porta. A marca da bala está lá até hoje para quem quiser ver. O segundo tiro
pegou de raspão no meu tórax, furando meu uniforme em dois lugares. Já o
terceiro me acertou em cheio.
Como o meu corpo estava em
rotação procurando abrigo no vão da porta à minha retaguarda, eles último tiro
penetrou atrás da minha orelha direita, perfurando toda a cabeça e saiu em
baixo do olho esquerdo estraçalhando o osso malar. A arma do Venaldino era uma
pistola Beretta 6.35. O projetil, com capa de aço e grande velocidade inicial,
na sua trajetória encontrou osso somente na saída, onde fez o seu estrago
maior, abrindo um rombo.
No início do seu percurso,
até a bala encontrar os ossos malares, a sorte foi minha aliada. Ela passou
justamente na bifurcação da veia jugular – na sua parte superior – e foi
tangenciando o cérebro por baixo e a arcada bucal por cima, sem encontrar
grande resistência.
Dei alguns passos, coloquei
a mão no rosto e senti o sangue jorrando profusamente. A seguir, senti frio e
tremor no corpo todo e uma fraqueza muito grande nas pernas. Antes de desabar
em frente à mesa do Comandante, ainda percebi que atiravam na direção do
Gabinete onde estava o Venaldino que respondia aos tiros.
(...)
Enlouquecido, o sargento
prosseguiu na sua sanha assassina, dirigindo-se para o outro lado do corredor,
até chegar às escadarias da Sala Marechal Floriano. Ao descê-las, se deparou
com o Aspirante Oséas que vinha subindo e atirou nele quatro vezes. Acertou nos
braços e na barriga, tudo sem muita gravidade mas que, mesmo assim, fez com que
o Oséas caísse, liberando-lhe a passagem. Ao chegar no pátio, correu até o meio
dele e em um derradeiro e tresloucado gesto, desferiu o último tiro da sua arma
contra a própria cabeça. O fato foi testemunhado por dezenas de militares da
Unidade, já que eram mais ou menos 17h30min, hora do toque de ordem”
(General-de-Brigada Flávio Oscar Maurer, Tomo 8, pg. 324-325).
Tropas
argentinas na fronteira
“Durante toda a noite de 1º.
Para 2, ouviu-se ronco de aviões. Ficamos sabendo que os argentinos estavam
trazendo tropas de várias partes do país para a fronteira, porque não sabiam o
que iria acontecer no Brasil. Lá pelo dia 3, mais ou menos, o Comandante da
Guarnição e outros oficiais argentinos vieram fazer uma visita de cortesia ao
general e informar que a fronteira estava toda guarnecida etc. e que
contássemos com a solidariedade deles. O comandante argentino veio,
oficialmente, hipotecar solidariedade à Revolução.
Uns dias depois, apareceu o Vernon Walters, Adido Militar dos EUA. Encaramos sua presença na área, muito ligeira, muita rápida, como algo natural. Seu Governo, a fim de reconhece o Poder Revolucionário, estava interessado em saber qual era a situação real. Por isso, como um bom adido militar, estava se inteirando da situação no Rio Grande do Sul. Esclareço, porque se fala muito da interferência estrangeira, inclusive há alguns brasilianistas, cidadãos dos Estados Unidos, que especulam sobre uma eventual interferência americana, que aqui manteriam alguns títeres, um deles possivelmente o Golbery. Isso tudo é uma mentira grosseira” (Coronel José Campedelli, Tomo 15, pg. 288).
O Coronel Rui Moreira Lima é preso no navio Barroso Pereira
“O Brigadeiro Baiena – Nelson Baiena
de Miranda – oficial do seu Estado-Maior, telefonou-me: ‘Moreira Lima, você
podia dar um pulinho aqui no Estado-Maior?’ ‘Tem que levar escova de dente,
toalha, chinelo?’ ‘É, é melhor você trazer’. Então, fui lá, onde houve, também,
um incidente. Essas coisas são assim e eu até nem gosto de falar nisso, mas
cheguei lá e disse: ‘Quero ver o meu mandado de prisão.’ Tomei conhecimento,
indignado, de que o meu inquiridor do IPM da Força Aérea Brasileira seria o
Tenente-Brigadeiro Antonio Guedes Muniz.
Guedes Muniz era uma figura conhecida nas Forças Armadas como um quatro estrelas, formado em engenharia aeronáutica, era piloto, projetou e construiu os aviões de instrução Muniz-7 e Muniz-9, enfim, tinha todos os méritos na FAB. Mas ele foi muito mal falado administrativamente quando dirigiu a Fábrica Nacional de Motores (FNM). ‘Brigadeiro Baiena, com a má fama que o Muniz tem, não o reconheço com moral para me inquirir nesse IPM. Se acontecer, declararei isso em público e não responderei suas perguntas.’ O Brigadeiro Muniz foi substituído no IPM, na véspera em que eu deveria ser interrogado. Talvez minha recusa inicial tenha influído na substituição do Brigadeiro Muniz pelo Marechal-do-Ar Ajalmar Vieira Mascarenhas.
(...)
Quem me acompanhou até o Estado-Maior da Aeronáutica foi o Coronel Helio de Amorim Gonçalves, meu cunhado, amigo e herói de Montese.
O Coronel Amorim tem história, foi ferido em combate, é herói da FEB. Deu uma ótima entrevista registrada no Tomo 4, da História Oral do Exército na Segunda Guerra Mundial. Não esqueci. [entrevistador]
Exatamente, ferido em combate. Ele é uma pessoa extraordinária; é revolucionário de 1964, pensamento completamente diferente do meu, vamos dizer assim, o pensamento nosso era contrário, tínhamos ideias opostas.
Ele é seu cunhado. [entrevistador]
Irmão de minha mulher, irmão de Julinha. O Hélio me acompanhou a pedido de Julinha e, de repente, testemunhou as cenas descritas. Pouco depois de ir lá para baixo, chega o Zamir – Coronel-Aviador Zamir de Barros Pinto. Percebi que ele seria minha escolta: ‘Rui, estou numa situação difícil, vou te acompanhar.’ ‘Ah, rapaz, nem sabia que você estava aqui por isso. Então, vamos embora.
Fomos para o 1º. Distrito Naval e mal chegamos na porta do quartel, fomos recebidos por dois fuzileiros e um capitão-tenente. Continências e tal e ele me entregou o ofício ao capitão: ‘Está entregue o prisioneiro.’ ‘Assim não, Zamir, você observe que nós dois estamos com a nossa farda, somos coronéis, isso é o azul barateia do nosso uniforme, é a nossa glória, é a nossa honra, é a nossa dignidade. Não aceito que um capitão me receba aqui com ofício, como se eu fosse um prisioneiro qualquer. Desta forma, eu não aceito. Deve haver lá em cima uma autoridade responsável por isso'.
Era um almirante, não me lembro o nome, era um homem magro e muito educado, foi de uma delicadeza enorme comigo. ‘Almirante, estou exausto, muito cansado. Por favor, mande-me logo para a prisão.’ Ele chamou um oficial meu conhecido e que, agora, não estou lembrando o nome, mas foi corredor de 800 e 1.500 metros na Taça Laje. Mais tarde, corremos pelo Fluminense. Foi ele que me acompanhou e me levou para o navio Barroso Pereira.
(...)
Fui, então, para bordo do Barroso Pereira e nesse navio fiquei convivendo num ambiente de barata, de rato, num lugar sórdido à beça. O meu sanitário era daquele que você equilibra no pé em um buraco, muito chato aquilo. Não tinha chuveiro, tinha pia. Então resolvi fazer uma greve de fome. Passei três dias lá, sinceramente confesso a vocês, quando a gente quer, o sujeito aguenta. Aguentei esses três dias pelo menos com uma fome danada, doido para comer qualquer coisa, mas tinha um compromisso, eu disse que não ia comer e cumpri. Iria, sei lá, até às últimas consequências. E quando eles vinham com a comida e colocavam o prato no chão, um prato de esmalte – e este escorregava para chegar ao fundo. Estávamos no último deque. Eu pegava o prato e o jogava lá; arremessava na porta que acabara de fechar. Aquilo tudo ficou impregnado de sujeira.
Três dias depois, veio um capitão e disse: ‘O senhor vai mudar de prisão.’ Disse-lhe, então: ‘Está ótimo.’
Nesse ínterim, Julinha foi ao Brigadeiro Nero Moura e disse: ‘Brigadeiro, eu não peço nada para o Rui. Quero apenas que ele não seja discriminado: ele está num navio diferente, sozinho.’ O Brigadeiro Nero falou com o Castello Branco. O Castello Branco havia me elogiado em boletim por ocasião da Guerra, foi meu professor duas vezes na manobra de 11 de novembro, quando era Comandante da ECEME e eu estava justamente naquela manobra de fim de ano. E ele prontamente atendeu ao Brigadeiro Nero e me mandou para o Princesa Leopoldina.
(...)
Observei de cara que o navio ostentava o galhardete de almirante. O navio-prisão guardava três brigadeiros, dois almirantes e dois generais. Ainda hoje não sei, mas acho que o galhardete de almirante deveria obedecer a esse detalhe.
(...)
Daí em diante, o gelo foi quebrado antes de ser recolhido ao camarote. Disse-lhe: ‘Santos Lima [Comandante do navio-prisão], acho que agora que nos conhecemos melhor, você já pode me mandar para o porão desse belo navio’, disse rindo. ‘Não senhor, o senhor vai para um camarote com ar-condicionado. Aqui não há nenhum prisioneiro, oficial ou sargento, preso em porão, todos estão em camarotes com ar-condicionado’.
(...)
Após 47 dias de prisão na Marinha, o pessoal da Força Aérea voltou a seus pagos. Fomos transferidos para o quartel da 3ª. Zona Aérea, sob o comando do correto Brigadeiro João Adil de Oliveira. É o ex-Coronel Adil que chefiou o inquérito da República do Galeão. Bem que a ‘República da Diretoria de Rotas’ esperava que o Adil fosse torturar o Gregório e seus asseclas, sob sua custódia. Tratou-os como suspeitos, sem cometer nem permitir violências. As pessoas importantes que foram ouvidas, como o veterano do 1º. Grupo de Aviação de Caça – o ex-Tenente Médico Luthero Vargas – filho do Presidente Vargas e muitos outros foram tratados com respeito e dignidade. Quando a imprensa noticiou falsamente que Dona Darcy Vargas iria ser interrogada, o Coronel Adil desmentiu categoricamente, protestando contra a infâmia divulgada. Enfim, os presos do Princesa Leopoldina passaram a ser os presos da 3ª. Zona Aérea, com direito a usar o telefone, usar a área do Quartel-General por ménage e receber visitas. João Adil não se contaminou com a linha dura que assumiu o Poder” (Major-Brigadeiro-do-Ar Rui Barbosa Moreira Lima, Tomo 12, pg. 65-71).
Aviões de caça em troca de algodão
“Como Ministro da Aeronáutica, Nero Moura inaugurou a era jato, adquirindo na Inglaterra setenta Gloster Meteor Mark-8. A Força Aérea Brasileira, sob sua batuta, conquistou um espaço entre seus pares sul-americanos, reequipando-a com a aquisição desses setenta aviões. A compra desse tipo de aeronave foi altamente benéfica para o Brasil. Trocamos uma safra de algodão estocada no Brasil por setenta modernos caças bi-reatores tipo Gloster Meteor. Ganhou a Inglaterra que não tinha matéria-prima – algodão – para alimentar sua indústria têxtil e ganhou o Brasil que em boa hora ingressou na era jato, modernizando a Força Aérea Brasieira, com aeronaves saídas da fábrica para as Bases de Caça de Santa Cruz e Canoas. O velho guerreiro – o caça P-47 Thunderbolt – cedeu ao tempo, sendo substituído pelos Mark-8 ingleses.
Participei da equipe que foi à
Inglaterra receber os setenta jatos. Foi justamente nessa ocasião que deixei o
Brigadeiro Nero e voltei para meus pagos – minha Aviação de Caça”
(Major-Brigadeiro-do-Ar Rui Barbosa Moreira Lima, Tomo 12, pgl 74).
O General Zerbini foi preso, por impedir o avanço de tropas de São Paulo
para o Rio de Janeiro
“Chegamos à Academia por volta das 15 h [do dia 1º. de abril], ocasião em que o General Emílio Garratazu Médici, Comandante da AMAN, com seu Estado-Maior, que ali realizava contínuo estudo de situação, recebeu a oficialidade do Escalão Avançado do I Grupo do 2º. RO 105. Depois de destacar a importância de nosso concurso para o êxito do Movimento Revolucionário contra o caos instalado no País, entregou, pessoalmente, uma flâmula da AMAN a cada oficial, assinando a que foi destinada ao Coronel Benedicto, Comandante do nosso Regimento ali presente. Foi um episódio inesquecível!
Em seguida, o Coronel Benedicto nos informou de que íamos ficar alojados no Curso de Artilharia da AMAN, onde permaneceria ao comboio, após reabastecimento, em condições de, no dia seguinte, 2 de abril, substituir a Bateria da AMAN que se encontrava ocupando posição, em apoio ao Curso de Infantaria, cuja missão era impedir o acesso a Resende das tropas oriundas do Rio de Janeiro.
No conjunto principal, minutos após
esse inesquecível evento, juntos aos elevadores próximos à sala do
Oficial-de-Dia e do Estado-Maior da AMAN, assisti à prisão do General Zerbini,
o que se deu elegantemente através de um convite para tomar café, feito pelo
1º. Tenente José Pordeus Maia, no momento em que ele tentava sair da Academia e
foi impedido por determinação do General Médici. O General Zerbini, Cmt da ID/2
(Infantaria Divisionária da 2ª. DI) foi quem segurara, nos quartéis, os
Regimentos que deveríamos apoiar – o 4º. e o 6º. RI – pois o único que saiu e à
revelia foi o 5º. RI, de Lorena. Pude observar que o referido General não
queria voltar para tomar o café, mas o Tenente Maia não o deixou recusar o
convite, fazendo-o praticamente retornar ao elevador por onde descera. Eu
conversava com o Maia naquele local quando ele passou a dar cumprimento à ordem
recebida.
Naquela mesma tarde, chegou à AMAN A Bateria de Artilharia do CPOR de São Paulo, assim como duas Baterias do Grupo-Escola (GEsA), que deixaram o Coronel Aldo Pereira, Comandante do Grupo, na estrada e passaram para o lado da Revolução, apresentando-se às tropas da AMAN. Seus integrantes ficaram alojados na Seção de Educação Física da Academia, onde tive a oportunidade de rever meu amigo de turma – 1º. Tenente Armindo da Luz Matheus -, que servira comigo em Itu, como Aspirante e 2º. Tenente, nos anos de 1961 e 1962” (General-de-Brigada Geraldo Luiz Nery da Silva, Tomo 10, pg. 211).
O Comandante do 3º. Batalhão Rodoviário, em Vacaria, RS, era contra a Revolução, foi preso e cassado
“No contexto do Movimento, o 3º. Rodoviário foi uma Unidade atípica, pois acredito que foi a última a aderir. O seu Comandante, Coronel João Guerreiro Brito, era radicalmente contra a Revolução. Obviamente, alguns dos seus comandados estavam com ele e outros contra, ou seja, favoráveis ou contrários ao Movimento. Ficávamos por lá, ociosos ou recebendo esclarecimentos de um ou de outro sobre o que estava acontecendo, enquanto o ambiente se tornava cada vez mais tenso. A situação evoluía e sentia que poderia haver uma precipitação para pior naquele clima.
Inclusive, um fato que também nos alarmou foi a decisão do cabo Podalírio – um praça velho com quase trinta anos de serviço – encarregado do armamento. Ele distribuiu aos soldados fuzis e metralhadoras, municiou-os e colocou-os em torno da reserva, protegida por sacos de areia em toda a volta. E foi taxativo:
- Aqui não chega ninguém. Nem cabo, nem sargento, nem capitão e nem coronel.
E não deixou ninguém chegar na reserva. O clima realmente era de muita tensão. Oficiais e sargentos sestrosos, cada um olhando desconfiado para o companheiro, a maioria sem saber quem estava a favor ou contra, nem para que lado ir. Em visto disso, acredito que o cabo Podalírio tomou a atitude certa não permitindo a entrada do pessoal na reserva, pois qualquer armamento, além do individual, de posse de algum radical ou exaltado, seria um perigo” (Capitão QAO Emerson Rogério de Oliveira, Tomo 13, pg. 335).
EMPREGO
DOS CADETES DA AMAN NA REVOLUÇÃO
Todos os militares
entrevistados afirmam que foi correta a decisão do General Médici, Comandante
da AMAN, de empregar os cadetes enquanto a Revolução não estava definida.
“Eu
era aspirante-a-Oficial do Exército – que não deixa de ser um cadete do quarto
ano – quando fui, com a Força Expedicionária Brasileira, combater na Itália,
portanto estou certo de que foi acertada a decisão do General Médici, quando
empregou os cadetes da Academia. A nossa formação profissional visa ao combate,
à luta; não somos formados para professor de escola pública, mas para ser
militar. Assim, a tropa constituída por cadetes é da melhor qualidade e bem
adestrada. Tenho que empregar a tropa de que disponho.
Principalmente,
em se tratando da soberania do País [entrevistador].
O
grande objetivo, afinal.
Os
cadetes também foram empregados na Intentona Comunista, contra os Afonsos (Base
Aérea dos Afonsos). E foi acertado o seu emprego. É a melhor tropa combatente
de que se dispõe. Ninguém deixou os cadetes trancados em Realengo.
Apreciando
a nossa Revolução de 1964, o General Médici agiu muito bem, evitando,
inclusive, o possível confronto entre as tropas do I e do II Exércitos” (General-de-Divisão
Geraldo de Araújo Ferreira Braga, Tomo 2, pg. 106-107).
”A juventude militar, que se
prepara para defender o Brasil com sacrifício da própria vida, não poderia
ficar indiferente, omissa a um movimento de tal expressão nacional como a
Revolução de 31 de Março de 1964.
A participação da AMAN teve
muita importância. A atitude corajosa do General Emílio Médici, colocando os
cadetes em posição de combate, foi correta. A nossa juventude não poderia ficar
de fora.
Essa atitude evitou o ataque
das tropas legais à Academia e levou o I Exército, sediado no Rio de Janeiro, a
aderir à Revolução. Nenhum chefe militar atacaria a ‘alma-mater’ do Exército”
(General-de-Divisão Tasso Villar de Aquino, Tomo 9, pg. 84).
“Sei muito mais sobre a
Revolução por causa do meu pai, General Tasso Villar de Aquino. Sei, por
exemplo, que o General Âncora, um grande e respeitável chefe militar, como
Comandante do I Exército e sem nenhuma intenção de usufruir vantagem, optou por
defender a ordem vigente. Foi por uma questão de consciência; quem o conhece
sabe que ele era um homem absolutamente correto, probo, um excelente chefe
militar. Então, ele dirigiu-se para Resende e teve um encontro histórico com o
General Amaury Kruel, que viera de São Paulo. Esse encontro foi na AMAN. O
General Âncora, como qualquer chefe digno, jamais atacaria a AMAN. Ele se
compôs com o General Kruel e não houve nenhum derramamento de sangue. Por isso, digo que o posicionamento dos
cadetes da AMAN foi decisivo para a vitória da Revolução” (Vice-Almirante
Sérgio Tasso Vásquez de Aquino, Tomo 9, pg. 100-101).
“Jango!
Jango!”
“Na noite de 31 de março para
1º. de abril, estava na minha casa, na Tijuca, ouvindo as notícias pelo rádio.
A televisão naquele tempo ainda era meio difícil...
Ao saber que o General
Castello estava reunindo um comando da Revolução na Escola de Comando e
Estado-Maior (ECEME), pensei: ‘Bom, vou me apresentar lá’, mas sabia que para
sair da Tijuca, no meu carro – que, aliás, era uma Kombi – com um outro colega,
eu teria – naquele tempo não havia o Túnel Santa Bárbara – que passar pela
Avenida Presidente Vargas.
Quando estávamos chegando,
vi aquele alvoroço, um turba, o pessoal na Central, gritando o nome do Jango,
com aquelas bandeiras vermelhas, foice e martelo, e eu disse: ‘Bom, para eu
passar agora, vou ter que imaginar um meio’. A maneira encontrada foi gritarmos,
eu e meu colega, das janelas da Kombi: ‘Jango!, Jango!’, e, devagarzinho,
conseguimos passar, e fomos para a ECEME, chegamos lá já escurecendo, era 1º.
de abril, no fim do dia.
Apresentamo-nos na Escola, à
paisana, porque tinha essa circunstância de ter de passar pelo Centro do Rio de
Janeiro. O fato é que o General Castello estava na Escola, chefiando grupos,
para fazer a Revolução aqui no Rio de Janeiro” (General-de-Exército Mario
Orlando Ribeiro Sampaio, Tomo 11, pg. 30).
BRIZOLA
E JANGO SERIAM PRESOS EM URUGUAIANA NO DIA 4 DE ABRIL DE 1964
“Quando estourou a Revolução
em Minas Gerais, soubemos através do rádio. Antes de tomar conhecimento do que
estava acontecendo em Minas Gerais, já havia um planejamento, porque o Brizola
e o João Goulart iriam fazer um comício em Uruguaiana no dia 4 de abril. Isso é
muito interessante, porque, antes, o Carlos Lacerda tinha estado em Uruguaiana
e ali houve um comício que suplantou todas as expectativas, considerando que
ali era um ninho do PTB. Houve esse comício com o Carlos Lacerda e eles
quiseram fazer um outro comício em represália, marcado para o dia 4 de abril, e
quando o avião – isso pouca gente sabe – pousasse no aeroporto, ia haver uma
guarda de honra para receber o Presidente, e estava previsto que esta guarda,
constituída por elementos do 8º. RC, sob o comando do Capitão Tolentino, ia, na
hora, prender o João Goulart e o Brizola, quando descessem do avião.
Então, não tinha nada a ver
com o movimento de Minas Gerais, foi uma coisa planejada separadamente,
espontânea, mas como o de Minas Gerais eclodiu quatro ou cinco dias antes,
nosso planejamento não aconteceu. Tinha até local para onde eles seriam levados
presos, porque a sociedade de Uruguaiana estava apoiando o movimento,
principalmente os estancieiros. Todos iam ficar presos numa estância de um daqueles
que apoiavam a Revolução. São fatos que precisam ser contados” (Tenente-Coronel
Carlos Claudio Miguez Suarez, Tomo 9, pg. 378-379).
“Em janeiro de 1964, Carlos
Lacerda fez um comício em Uruguaiana; um verdadeiro sucesso, lotou a praça.
Contou com o apoio do pessoal da família Silva, aqueles fazendeiros todos, o
pessoal conservador. O Capitão-de-Mar-e-Guerra Dylo Modesto de Almeida, da
Capitania dos Portos do Rio Uruguai, engajou-se ‘até os miolos’ com o comício
do Lacerda. (...)
(...) O pessoal favorável ao
Jango resolveu marcar um comício para o dia 4 de abril, em revide a esse do
Carlos Lacerda. Compareceria o Presidente da República João Goulart, agora já
no regime presidencialista, o Brizola e todos aqueles próceres da situação.
Deveria transformar-se num tremendo festival do pessoal comunista e
paracomunista. Circulariam ônibus e trens de graça; seria algo fantástico, tudo
em Uruguaian.
Depois de estudar a
situação, resolvemos que no dia 4 de abril seria provocada enorme confusão no
Aeroporto, durante o desembarque da comitiva, e o Presidente da República e o
Brizola seriam ‘sequestrados’. Os civis é que iriam fazer esse ‘negócio’, com a
nossa cobertura. Eles, também, fizeram contato com oficiais argentino, que
firmaram compromisso no sentido de que Jango e Brizola fossem aparecer lá pelos
Andes, mas nunca na fronteira. Não sabíamos exatamente o que aqueles civis
iriam arrumar, mas faríamos a cobertura.
(...)
Não haveria comício,
desapareceria tudo. Foi preparado um plano detalhando as missões das Unidades e
demais providências. O nosso E4 era o Gaspar Albite Chuy – bom artilheiro o
Chuy -, que tratou dos estoques de suprimento. Em Uruguaiana existia uma
refinaria, fizemos um acordo com os empresários da refinaria para diminuir a
distribuição e estocar combustível.
Esta
refinaria é a origem da empresa Petróleos Ipiranga.
[entrevistador]
Exatamente. Esta empresa
possuía uma refinaria em Uruguaiana, que parece ter sido a primeira refinaria
do Brasil. Bem, no quadro da situação, foi atualizado o plano de requisição de
viaturas e tomas todas as providências necessárias para a operação do dia 4. Os
fatos, no entanto, começaram a se precipitar.
(...)
Íamos detonar o movimento.
Mas, ocorreu o comício localizado próximo à Central do Brasil, no Rio de
Janeiro, no dia 13 de março de 1964, uma sexta-feira, se não me engano. Nessa
mesma noite, houve uma reunião na casa – acho que foi na residência do Apolônio
– e resolvemos antecipar o que estava previsto para detonar em 4 de abril. Para
tal, teríamos que sublevar as Unidades. Lembro-me de uqe tiraram o coitado do
Capitão Tolentino (Tolentino Job Barbieri), nosso homem no 8º. Regimento de
Cavalaria, da cama, e ele compareceu à reunião.
Inteligente, comentou:
‘Olha, vou cumprir a missão de vocês, agora tem uma coisa: vou levantar só a
guarda do quartel! Hoje é sábado, não há ninguém lá no aquartelamento. Vou
sublevar a guarda!’ Refletimos e vimos que sublevar a guarda... Iria dar
complicação. Seria preciso prender o Coronel, ‘fazer o diabo’; o Carlos Ramos
de Alencar era o Comandante. Desistimos da ideia da antecipação” (Coronel José
Campedelli, Tomo 15, pg. 282-283).
O
QUASE CONFRONTO ENTRE TROPAS DO EXÉRCITO
Como
em 1961 – quando alguns chefes militares não admitiam que João Goulart
assumisse a Presidência da República depois da renúncia de Jânio Quadros -, em
1964 houve também o deslocamento de tropas, a favor e contra a Revolução,
abrangendo os Estados de MG, MT, DF, RJ, SP, PR, SC e RS.
No III Exército (atual
Comando Militar do Sul), a situação foi mais tensa, até que o General Poppe de
Figueiredo assumiu o Comando Revolucionário do III Exército, em Santa Maria, no
dia 2 de abril de 1964. A respeito desses fatos, há um relato pormenorizado
feito pelo entrevistado da História Oral, General-de-Brigada Gabriel D’Annunzio
Agostini, Tomo 2, pg. 125-142).
Sobre os acontecimentos do
dia 1º. de abril de 1964, na Vila Militar, no Rio de Janeiro, há um relato
sucinto do General-de-Brigada Ruy Leal Campello, Tomo III, pg. 63-65. Envolve
as ações do General Orlando Geisel e de auxiliares, como o coronel Ariel Pacca
da Fonseca, o tenente-coronel Darcy Lázaro, o major Leônidas Pires Gonçalves, o
major Ivan de Souza Mendes – além do então tenente-coronel Campello).
“Eu servia no 1º. Batalhão
de Engenharia de Combate (1º. BE Cmb), em Santa Cruz, muito próximo à Base
Aérea. O Rio de Janeiro ainda se comportava como a capital política do País. O
Exército, neste clima, também encontrava-se agitado. (...)
Entre os oficiais não havia
[dissensões], mas entre as praças, quase a totalidade do Batalhão era favorável
ao Governo João Goulart. Para se ter uma ideia, cerca de 16 a 18 subtenentes e
sargentos foram alcançados pelo Ato Institucional no. 1, em meados de abril de 1964..
No dia 31 de março, quando
tivemos notícia de que o General Olympio Mourão Filho se deslocava para o Rio
de Janeiro, a partir de Minas, e que de São Paulo aguardava-se outra coluna
apoiada pela Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN), o Comandante do I
Exército determinou o deslocamento de tropas para formar uma linha balizada por
Brarra Mansa, Volta Redonda, Paracambi, a fim de conter esses elementos que
marchavam de Minas e de São Paulo.
O nosso Comandante de
Unidade, Coronel Mário Miranda Santa Rosa – depois afastado pela Revolução –
recebeu a ordem de deslocar uma Companhia de Engenharia sob o comando do
Capitão Almir Taranto de Mendonça, como se fosse de Infantaria, certamente com
deficiência.
Às 7h da noite, em meio ao
desencontro das informações – o canal oficial ficou tumultuado e nos valíamos
das estações de rádio, ouvidas nos aparelhos a pilha – o Capitão Mendonça
resolveu voltar ao quartel com a tropa. Os subtenentes e sargentos decidiram
não obedecer, assumiram o comando da tropa, prenderam o capitão, o tenente e o
aspirante.
Depois dessa violência,
chegaram a um acordo: soltaram os oficiais que voltaram sozinhos e chegaram ao
quartel, sob forte impacto emocional.
À 1h da manhã de 1º de abril
chega a Companhia, totalmente desmoralizada, uma vez que a tropa do I Exército
aderira ao Movimento. Em frente ao Batalhão de Engenharia existe uma grande
praça cimentada onde a Companhia entrou em forma e foi apresentada ao Capitão
Mendonça: no subtenente que a apresentou, ele deu um soco na cara.
Os sargentos saíram de forma
correndo e se abrigaram no quartel, com medo. Foram reunidos no cassino aqueles
de quem tínhamos informação que discordavam do Movimento revolucionário, e
deixamos sob guarda.
O quartel ficava muito
próximo da Base Aérea de Santa Cruz, onde havia quase mil sargentos; o
comandante era o Coronel-Aviador Rui Moreira Lima, herói da Segunda Guerra
Mundial, muito respeitado, mas totalmente de esquerda. O grande temor era a
base rebelar-se.
(...)
Encontramos na casa de
alguns subtenentes e sargentos do BECmb muita documentação dos ‘grupos dos
onze’, criação de Leonel Brizola, inclusive com os objetivos: atacar a casa do
comandante, atacar o paiol etc. Isso era uma tática de guerrilha de inspiração
chinesa: empregar pequenos grupos” (Tenente-Coronel Hiran Gomes Cavalcanti,
Tomo 6, pg. 265).
“Em São Paulo, contudo, o
desenvolvimento dos fatos não transcorreu facilmente, no meio militar. O
General Amaury Kruel, Comandante do II Exército, ficou em meio à dúvida, por
ser gaúcho, ter sido promovido por Getúlio Vargas e ser amigo de João Goulart,
não se decidiu. O Comandante do 4º. RI, o então Coronel Carlos Alberto Cabral
Ribeiro, foi ao QG do II Exército – na época era II Exército -, expôs os fatos
ao General Kruel, disse-lhe que o 4º. RI apoiava o Movimento e saiu dali com a
adesão do General. A tropa permaneceu aquartelada, de prontidão, e atenta às
manifestações contrárias, praticamente nulas.
Houve uma indecisão no Sul
do País, terra de João Goulart e de Brizola. A tendência seria o III Exército,
com sede em Porto Alegre, manter-se a favor de João Goulart. Em consequência,
em São Paulo, constituiu-se um grupamento tático, organizado com base no 4º. RI
e reforçado com peças de artilharia do Grupo de Itu. A coluna de marcha, de
mais ou menos 5 km, partiu em direção a Porto Alegre.
Nessa hora, foi possível
constatar a situação em que se encontrava o nosso Exército. Como não tínhamos
viaturas para o transporte de todo o pessoal, foram requisitados ônibus da
Companhia Municipal de Transportes Coletivos, de São Paulo. As peças de
artilharia foram praticamente ‘amarradas’ em caminhões retirados do parque
industrial, apenas o chassi e a cabine do motorista. Nos postos de gasolina,
fazia-se, mediante requisição, o reabastecimento das viaturas
Quando chegamos em Curitiba,
a situação em Porto Alegre já havia sido resolvida. Com a destituição do seu
Comandante, que se evadira da cidade, o III Exército aderiu ao Movimento. Sendo
assim, de Curitiba retornamos para São Paulo. Na chegada à capital paulista,
fomos surpreendidos por uma manifestação popular em apoio ao 4º. RI e, por
conseguinte, à Revolução. Desfilamos no Vale do Anhangabaú, na Avenida 9 de
Julho, sob aclamação entusiasmada de grande parte da população, que se deslocou
em atendimento ao anúncio do desfile da tropa. Indubitavelmente, acontecimento
da maior importância, pouco comentado” (General-de-Brigada Adalberto Bueno da
Cruz, Tomo 12, pg. 149).
TENTATIVA
DE ASSALTO DOS FUZILEIROS AO PALÁCIO GUANABARA
“Foram milhares de pessoas,
com lenço azul e branco, para defender o Palácio de qualquer maneira. Apareceu
gente com canivete, com faca de cozinha, com pica-pau, garrucha, espingarda de
mil e oitocentos e alguma coisa, aparecia de tudo, impressionante.
Tinha juiz, tinha padre,
todo mundo aparecia e se oferecia para defender o Palácio Guanabara, foi uma
adesão impressionante do povo.
É
importante dizer isso, pois mostra como é que o povo se manifestou e hoje eles,
os derrotados, omitem tudo isso. [entrevistador]
Exatamente. Tínhamos um
plano, caso viessem os tanques pela Rua Paissandu e Rua Ipiranga, que dão
acesso à Pinheiro Machado e ao Palácio, portanto. Tínhamos um plano de fazer
uma chuva de coquetel molotov em cima dos blindados do Exército ou dos
Fuzileiros Navais, o que viesse.
No sexto andar de todos
aqueles prédios, nessas duas ruas, ficaram agentes do DOPS com a sacola de
feira cheia de garrafa de coca-cola, com o pavio pronto para dar a partida.
Eles conversavam com o dono do apartamento e pediam para ficar na janela em
posição de jogar aquelas garrafinhas se aparecesse algum blindado.
Todos esses funcionários do
DOPS foram recebidos de braços aberto, com cafezinho, comida, cadeira para
sentar, todas as mordomias possíveis e imagináveis daquelas famílias da Rua
Paissandu.
Ninguém aguentava mais
aquela anarquia. Em suma, foi aquela adesão do povo, todo mundo foi para lá,
todo mundo queria cooperar... [entrevistador]
Em dado momento, nos
sentimos um pouco fracos no Palácio Guanabara em termos de defesa, apenas com
sacos de areia para aquela espécie de casamata.
Apareceu um português,
proprietário de uma pedreira em Jacarepaguá, que em poucas horas trouxe uns
três ou quatro caminhões cheios de pó de pedra, ensacou aquilo tudo e fez um
verdadeiro fortim no Palácio Guanabara. Tudo dele, ideia, dinheiro, caminhão e
pó de pedra.
(...)
No dia 1º. de abril, não me
lembro mais a que horas, apareceram uns grupos de soldados na crista de um
morro que dá nos fundos do Palácio Guanabara. E alguém, um desses voluntários,
viu aquilo e deu um grito de alarme, achando que os fuzileiros estavam
atacando, mas era a própria PM, o 2º. Batalhão da Polícia Militar tomando
posição, pois eu tinha determinado que eles defendessem os fundos do Palácio.
O 2º. Batalhão da PM
defendeu os fundos do Palácio e aquela garganta que tem na Rua Farani, aquele
corte na pedra. Eles ficaram lá em cima, apontando armas, e o Coronel Burnier,
João Paulo Moreira Burnier, outro sujeito extraordinário, que depois foi
injuriado pelo Departamento de Desinformação da KGB. Trouxe até um documento
sobre isso; as desinformações da KGB eram muito eficientes.
O Coronel Burnier aorganizou
o pessoal de lenço azul e branco, ele tinha retirado da Base Aérea de Santa
Cruz dois trilhos, dois suportes de foguete ar-ar ou ar-terra, foquetinhos
pequenos de 5 polegadas que os aviões levam embaixo da asa, e quando eles veem
um alto interessante no chão fazem a pontaria e disparam os foguetes.
Ele retirou os trilhos,
porque a Base Aérea não estava conosco; havia vários janguistas lá dentro.
Depois acabou ficando nas nossas mãos com a prisão dos contrários e os
brizolistas não se mexeram. Ameaçaram de bombardear para atender ao apelo do
Brizola do rádio. O próprio Luís Carlos Prestes, no seu livro, confessa que deu
ordem ao seu Partido para movimentar os elementos comunistas dentro da Base de
Santa Cruz, para que Santa Cruz atacasse o Palácio Guanabara com os foguetes
dos aviões e gasolina gelatinosa dos bimotores Meteoros, que, naquele tempo,
era o avião de caça do Brasil, um bimotor com dois jatinhos.
Voltando ao Palácio
Guanabara, quando foi dado o alarme, todo mundo pensou que era o ataque dos
fuzileiros do Aragão. Eu até fiquei chateado, porque era responsável por aquela
segurança toda, e como é que deram o alarme, achando que os fuzileiros tinham
chegado nos fundos do Palácio e eu não sabia, a minha tropa não sabia? Isso não
podia acontecer, como, aliás, não aconteceu. Era o meu pessoal que estava
chegando para ocupar posição. Quem se precipitou era uma pessoa desinformada!”
(Coronel-Aviador Gustavo Eugenio de Oliveira Borges, Tomo 10, pg. 298).
Blindados
sob o comando do Tenente Perdigão protegem o Palácio Guanabara
“Gostaria de destacar um
aspecto que até hoje é obscuro na história da Revolução, para fazer justiça a
um amigo, Tenente Perdigão. Durante a Revolução, no dia 29 de março, fui preso
pelo Comandante da Base Aérea de Santa Cruz, Coronel Rui Moreira Lima, em
virtude de estar fazendo parte de uma conspiração para derrubada do Governo
João Goulart. Fui conduzido preso – naquela época era Zona Aérea – para a 3ª.
Zona Aérea e, no mesmo dia 29, fugi, porque já estava combinado com o
Brigadeiro Burnier que eles estariam me aguardando no Palácio Guanabara.
Desloquei-me à noite, para o Palácio e lá fiquei, provavelmente, até o dia 2 ou
3 de abril.
No dia 31 de março, estava
com três sargentos, dois cabos e 27 soldados da Polícia Militar, guardando a
entrada da Rua das Laranjeiras, um dos acessos ao Palácio Guanabara. Em
determinado momento, vislumbrei, ao longe, dois blindados. Chamei um sargento e
um cabo e, cada um de nós com quatro granadas, nos dirigimos para jogar as
granadas nas lagartas dos blindados. Não sabíamos quem estava nos carros. Para
nós, eram blindados que estavam vindo para invadir o Palácio Guanabara. Quando
nos aproximamos, o tenente, que estava comandando os dois blindados, acenou com
um lenço branco. Falei com o sargento e o cabo: ‘Vamos ver do que se trata’.
Ele parou os blindados e eu perguntei: ‘Quem é você?’ ‘Sou o Tenente Perdigão e
vim aderir à Revolução no Palácio Guanabara. Esses blindados forma enviados
para proteger o Presidente João Goulart, no Palácio do Catete. Nós desviamos e
viemos para cá’. Faço questão de que isso seja ressaltado, porque existe uma
história que esses blindados teriam sido levados ao Palácio Guanabara pelos
irmãos Etchegoyen, o que não é verdade. Quem recebeu os blindados fui eu.
(...)
Saíra uma reportagem na revista O Cruzeiro, dizendo que o Ciro e o Leo haviam levado os blindados. Eles, o Ciro e o Leo, estavam no Palácio Guanabara comigo, na época. Se não me engano, o Leo fazia parte do estado-maior formado pelo Brigadeiro Burnier, o Brigadeiro Souza e Silva e o Coronel Mendes, do Exército. Eles constituíram um estado-maior na Escola Anne Frank, que é anexa ao Palácio Guanabara” (Tenente-Coronel-Aviador Juarez de Deus Gomes da Silva, Tomo 10, pg. 406-407).
O Coronel Alfeu Monteiro tentou matar o Brigadeiro Nelson Lavanère
Wanderley na passagem de comando e foi morto
“O Brigadeiro Lavanère Wanderley, que logo depois da eclosão da Revolução foi nomeado comandante da 5ª. Zona Aérea e lá chegando aparece um coronel da FAB, Alfeu Alcântara, que era janguista, e dá um tiro de 45, cara a cara com o Lavanère, mas o sujeito era muito ruim de tiro e a bala raspou, só fez um risco na cabeça do Lavanère Wanderley.
Outro oficial da FAB, chamado
Hipóllyto da Csota, que estava ao lado do Brigadeiro Lavanère Wanderley, puxou
a 45 e eu um tiro nesse coronel comunista, matando-o na hora. Conto esse fato
no livro com todos os detalhes.
“Por volta da meia-noite [do dia 2 ou 3 de abril de 1964, segundo o entrevistado], recebi uma ordem para que me deslocasse com a minha Companhia para ocupar o quartel-general da 5ª. Zona Aérea, hoje V COMAR. Naquele quartel, tinha havido uma série de incidentes. O Brigadeiro Nelson Lavanère Wanderley tinha vindo assumir o Comando do V COMAR, mas foi contestado pelo Coronel Alfeu Monteiro, que pertencia ao Estado-Maior e estava interino no Comando, por ser o oficial mais antigo.
No COMAR também, como acontecera no Exército e na Marinha, os sargentos haviam sofrido uma forte doutrinação ideológica, só que, lá, as coisas ficaram mais sérias. O Coronel Alfeu erra um homem da linha esquerdista, amigo particular de João Goulart. Quando o Brigadeiro chegou para assumir o Comando do COMAR, o Comandante interino disse que não passava o Comando e atirou no Brigadeiro Lavanère Wanderley, isso no seu gabinete – era uma passagem de Comando em gabinete. Atirou no Brigadeiro e o feriu. Um dos oficiais que acompanhava o Brigadeiro, o Coronel Roberto Hipólito da Costa, puxou de sua arma e com um tiro certeiro matou o Coronel Alfeu.
Isso criou um clima insustentável na 5ª. Zona Aérea. Os sargentos praticamente se levantaram, porque é preciso notar que a impregnação ideológica dos sargentos foi muito grande; é preciso notar que o Coronel, que acabara de falecer, era um homem aliado a eles, criando um clima insuportável, onde os sargentos iriam invadir a Vila dos Oficiais etc. Esse era o clima no V COMAR. Quem estava no Comando de Porto Alegre já não era o General Osvino, o grande aliado de João Goulart. Enfim, nós fomos acionados, recebemos ordens para que ocupássemos aquele quartel da Força Aérea. Essa ordem foi dada a mim. A outra Companhia de Fuzileiros saiu para ocupar a refinaria Alberto Pasqualine e também foi feito um movimento à noite” (General-de-Exército Luiz Gonzaga Schroeder Lessa, Tomo 10, pg. 54-55).
Obs.
Apesar de um IPM ter inocentado o Coronel Roberto Hipólito da Costa pela
morte do Coronel Alfeu, por ter agido em legítima defesa da vida do Brigadeiro
Lavanère, a Comissão de Mortos e Desaparecidos concedeu pensão à família do
morto. Pior, a Comissão baseou-se em livro de Elio Gaspari, onde consta que o
morto recebeu 16 tiros nas costas, uma mentira deslavada que não consta do
Inquérito.
Um soldado que partiu com o Destacamento Caicó, de Minas para Brasília,
foi dado como desaparecido na Capital do Brasil, conforme depoimento do Coronel Luiz Marques
Tavares (Tomo 6, pg. 230).
O sargento Venaldino Saraiva tentou matar os aspirantes Flávio Maurer e
Aloysio Oséas e depois se suicidou.
Dois militares ficaram feridos no Forte de Copacabana, um aluno da ECEME
e um sargento, conforme relato do Coronel Nelson Roberto Bianco (Tomo 14, pg.
331).
Assim, pode-se dizer que a Revolução de 31 de Março de 1964 foi a mais
incruenta de toda a História da Humanidade: dois mortos, alguns feridos
(quatro?) e um desaparecido.
F. Maier
O último itinerário de Jango no Brasil,
como Presidente, foi viajar do Palácio das Laranjeiras (Rio de Janeiro) para Brasília
(Granja do Torto), depois para Porto Alegre, São Borja e Uruguai.
“Quando começou o Movimento, a equipe de
Jango estava em Brasília? [entrevistador]
Eu
estava com o Presidente no Palácio das Laranjeiras, no Rio de Janeiro. Na manhã
do dia 1º. de abril, o General Moraes Âncora (Armando de Moraes Âncora Filho)
sugeriu ao Presidente que deixasse a cidade, pela falta de segurança. Na viagem
até a Base Aérea do Galeão, o carro foi apenas com o Jango, o Eugênio Caillar
Ferreira – seu secretário particular – e eu; o Presidente não determinou
providência especial no sentido de sua segurança pessoal.
Na
Granja do Torto, discutiu-se duas linhas de ação: abandono de Brasília e
constituição de um núcleo de resistência no rio Grande do Sul ou permanecer em
Brasília porque, mesmo admitindo que a Capital Federal não apresentava
condições de segurança, era importante preservar o caráter da legalidade do
Governo. A opção foi pela primeira linha de ação e à noite, após vários boatos,
inclusive a versão de sabotagem ou defeito no Coronado da Varig, viajamos para
Porto Alegre, parece que em um Avro da Força Aérea Brasileira (FAB).
E o Ladário veio junto?
[entrevistador]
Não.
Penso que o General Ladário veio para o Rio Grande do Sul após a Semana Santa,
porque ele fora nomeado Comandante da 6ª. DI e, como General mais antigo,
passara a comandar o III Exército, pois o General Galhardo (Benjamim Rodrigues
Galhardo) assumira o Estado-Maior do Exército. Tudo isso ocorrera porque o
então Comandante da 6ª. DI, General Adalberto (Adalberto Pereira dos Santos) e
o General Castello Branco não mereciam mais a confiança do Governo; havia
informações que eles conspiravam.
Quando os senhores chegaram aqui foram
direto para... [entrevistador]
Ficamos
na residência do Comandante do III Exército, localizada na Avenida Cristóvão
Colombo, próximo ao Hospital Militar de Porto Alegre.
Cite alguns nomes que estavam na reunião
que houve na residência do Comandante do III Exército. O Brizola estava?
[entrevistador]
O
Brizola não. Estavam presentes os Generais Ladário e Floriano (Floriano de
Silva Machado), seu Chefe de Estado-Maior, além de outras pessoas que não me
recordo. Discutiram a possibilidade de reagir, porque haveria tropas –
inclusive Jaguarão – que não haviam aderido ao levante militar. Lembro das
palavras do General Ladário – um guerreiro – para o Presidente:
- Se
nós iniciarmos a reação, isso se alastra e o Rio Grande do Sul se torna uma
nova Legalidade.
-
Uma pergunta só – ponderou o Presidente Jango. Vai correr sangue?
-
Ah, vai! – respondeu o General de modo taxativo.
-
Então eu não concordo.
Mais
tarde, o General Ladário, referindo-se ao fato, comentou:
-
Bah! O Presidente esqueceu que tivemos o Antônio João que morreu abraçado ao
mastro defendendo a Bandeira e a Pátria.
Lembrei
do que ele falou porque agora o Fontourinha (Carlos Joaquim da Fontoura
Rodrigues) também se enrolou na Bandeira para não entrega-la aos sem-terra. Já
virou símbolo de coragem utilizar-se da Bandeira para reagir a uma situação
adversa.
Desde
que houvesse possibilidade de derramamento de sangue entre irmãos, Jango não
queria a constituição de um núcleo de resistência no Rio Grande do Sul, para
preservar o caráter de legalidade do Governo. Ele era da Paz.
E ele saiu daqui para o Uruguai?
[entrevistador]
Não,
daqui fomos para São Borja. Ficamos no Rancho Grande mais uns dois ou três
dias. A permanência naquele local era uma temeridade. A segurança inexistia e
constava que o Regimento sediado em São Borja recebera ordem para cercar a
fazenda. Então ele foi para um rancho de sua propriedade às margens do Rio
Uruguai. A comitiva que o acompanhara permaneceu na fazenda Rancho Grande, de
onde, por ordem do Presidente, retornou para Porto Alegre. Ele, após alguns
dias, seguiu para o Uruguai em um avião particular, sob o comando de seu piloto
Manoel Soares Leães, vulgo Maneco, que morreu há pouco tempo.
Você estava com ele?
[entrevistador]
Como
já referi, por determinação dele, retornamos para Porto Alegre. Aqui fomos
presos e nos mandaram para Brasília. Cerca de dois dias depois, nos embarcaram
para o Rio de Janeiro. Não me deram tempo para fazer nada, nem para arrumar as
malas. Minha esposa permaneceu em Brasília, tratando da mudança, só mais tarde
viajou para o Rio de Janeiro, onde nos reencontramos. Tudo aconteceu com tal
rapidez que fomos obrigados a deixar nosso carro em Brasília. Posteriormente,
um amigo – Roberto Godinho, genro de João Tamer, radicado na capital federal –
o levou ao Rio para mim.
Eu
tive sorte porque tinha onde morar, pois quando fui convidado pelo Presidente
Jango eu era solteiro – casei em agosto de 1963 – servia no Rio e alugara um
apartamento na Rua Professor Gastão Bahiana, que mantive comigo nos anos
seguintes. Alguns companheiros tiveram que entregar o apartamento funcional a
toque de caixa, não tinham nem lugar para onde ir...
No Rio, vocês foram desingados para
alguma comissão? Ficaram presos? Dormiam no quartel?
[entrevistador]
Ficamos
apenas adidos ao I Exército, à disposição dos vários inquéritos instaurados
para verificar o comprometimento com a subversão.
Não
ficamos presos. Dormíamos em casa e nos apresentávamos todos os dias no
Ministério da Guerra. Depois de algum tempo, a paciência deles se esgotou e
passaram a exigir uma apresentação semanal. Mais tarde, só nos exigiam uma apresentação
no fim do mês, a fim de recebermos os vencimentos” (Tenente-Coronel Ernani
Corrêa de Azambuja, Tomo 13, pg. 274-275).
Obs.:
Após o episódio da Legalidade, o então
Capitão Azambuja passou a ser Ajudante-de-Ordens de Jango. Após o Movimento de
1964, não foi preso, ficando adido ao I Exército e depois classificado na 23ª.
CR (Circunscrição de Recrutamento), em João Pessoa, atual 23ª. Circunscrição do
Serviço Militar (23ª. CSM). “Eu brincava
dizendo que fora mandado para o Centro de Recuperação (CR)” (pg. 276).
Por duas vezes, o “pseudo-subversivo”
Azambuja foi proibido de prestar concurso para a ECEME. Como Tenente-Coronel,
pediu transferência para a Reserva em 1969.
Graduou-se em Engenharia Civil pela
UFRGS, em 1971.
O episódio envolvendo o Coronel Fontoura
e o MST pode ser visto em https://felixmaier1950.blogspot.com/2020/06/o-patriota-coronel-carlos-fontoura.html.
F. Maier
Comandante de Unidade Militar estaria tramando a morte de oficiais anti-Jango
“Uma tarde, durante aquela fase que a Revolução ainda estava se consolidando, chegou lá no Regimento o Dr. Apodyr, da Liga de Defesa Nacional. Éramos amigos porque eu também pertencia à Liga. Foi logo falando:
- Marsillac, quero falar com o Comandante do Regimento e só com ele.
- Antes de tudo – fui sincero com ele – vou perguntar ao Comandante se ele quer te receber.
Afirmei antes que o Coronel não andava mais pelo quartel, depois da reunião lá na sala de refeições. Ficou encerrado no quarto dele o tempo todo, não participando das atividades; sumiu do mapa. Como nossos gabinetes eram contíguos, bati na porta do Danton [Danton do Amaral Duro] e entrei. Ele estava sentado junto à mesa de despacho. Disse-lhe:
- O Dr. Apodyr quer falar contigo, e disse que é só contigo, porque o motivo é muito grave e afeta a segurança do Regimento. Vou fazê-lo entrar.
- Manda esse fofoqueiro embora, não vou ouvir ninguém, não quero encher o meu ouvido de fofoca. Manda ele embora.
- Danton – ponderei -, tu não podes fazer isso, o Dr. Apodyr representa uma parte da sociedade local. Quer relatar um fato que afeta a segurança do Regomento; mesmo que seja fofoca, tu tens que recebê-lo.
- Mas não vou recebê-lo, faz o que tu quiseres.
Voltei para o meu gabinete e disse ao Apodyr:
- Doutor, o Comandante não vai recebê-lo. Resta-lhe falar comigo ou se retirar.
- Marsillac, é grave, não sei nem como começar.
- Agora tu não sairás daqui sem dizer do que se trata.
- Então te direi tudo.
Contou-me que corria na cidade a notícia de que o Danton tornaria ‘vira-casaca’ e movimentaria o Regimento para defender o Governo Jango Goulart. Para tal, ele tramava a minha morte e dos oficiais que me seguissem.
Relativamente há pouco tempo, uns cinco ou seis anos, quando me encontrei com o jornalista Menezes na Liga de Defesa Nacional, ele me disse, confidencialmente, que o tal boato já se transformara em notícia. Ele sabia do assunto em detalhes. Ainda ontem, na solenidade do Dia da Bandeira, no Centro de Preparação de Oficiais da Reserva (CPOR), ele me disse:
- Marsillac, tu podias não estar aqui, assistindo esta cerimônia.
Estava conosco o Coronel Johhy (Jonny Gomes Prange), que perguntou o porquê. A resposta veio pronta:
- Porque
ele seria morto pelo Comandante do 9º. RI” (General-de-Brigada José Mattos
de Marsillac Motta, Tomo 13, pg. 116-117).
Nota:
(*) Operação Mata Lacerda
“Em mais uma noitada, também
numa boate em Copacabana, se não me engano, no Copacabana Palace, foi intentada
uma ação que, se tivesse logrado êxito, teria sido fundamental para o
fortalecimento do esquema militar do Governo João Goulart. As informações que
tivemos indicam que, naquela madrugada, reuniram-se na boate, o Presidente da
República, o Chefe da Casa Civil, General Assis Brasil, que acreditava no
esquema militar, o General Pinheiro, Comandante da Brigada Paraquedista, e o
Coronel Mafra, Chefe do Estado-Maior. O Presidente da República, que utilizava
como guarda pessoal, em Brasília, os oficiais paraquedistas, estava se ligando
à Brigada Paraquedista. Nessa noitada dos quatro, então, a decisão tomada foi a
de que deveria ser ordenada a uma unidade paraquedista, a prisão do Governador
Carlos Lacerda, quando de sua visita, na manhã seguinte, ao Hospital Miguel
Couto, na Lagoa. O Lacerda deveria fazer a inauguração de uma ala destinada ao
atendimento de emergência, no hospital. Tudo fazendo parecer que teria sido uma
atitude de iniciativa própria dos paraquedistas, em desagravo a possíveis
palavras ofensivas do Governador às Forças Armadas.
Mais uma vez não apareceu o
planejamento, foi só coisa de boca. O ordem era verbal. Sabia-se que o
Governador dispunha de forte esquema de segurança, lógico supor que tal ato
desencadearia ações e reações bem além do controle, as quais poderiam levar a
uma situação de grande intranquilidade, até mesmo em nível nacional. Ao
amanhecer, o Presidente da República retornou a Brasília, e deu entrada no
Congresso com o pedido de estado de sítio. Tal pedido seria retirado, sem
qualquer explicação, após o almoço no mesmo dia.
(...)
Na GU Paraquedista o normal
era o seguinte: sempre havia uma subunidade de prontidão, fosse ela do Grupo Paraquedista,
do Batalhão Santos Dumont, do Batalhão Logístico, ou mesmo da Companhia de
Engenharia. Naquela noite, estava de prontidão uma Bateria, do Grupo de
Artilharia Paraquedista, comandada por um dos oficiais esquerdistas bastante
comprometido. Então, a essa Bateria caberia a missão de prender o Governador
Lacerda, mas tudo de forma a parecer uma reação intempestiva dos paraquedistas
e não uma ação desencadeada mediante ordem.
Nada por escrito. Pessoas
presentes na mesma boate, na qual houve a inusitada reunião e a não menos
inusitada decisão, ouviram o que estava sendo decidido e um desses ouvintes
comunicou, ainda na madrugada, ao Coronel Aragão, o oficial que estava de superior
de dia na Brigada Paraquedista. Alguém na boate ouviu e denunciou:
- Olha, vai sair daqui uma
ordem para prender e matar o Lacerda, prepara que a confusão...
O que fez o Aragão? Pegou o
telefone, ligou para o Coronel Boaventura, Comandante do Grupo Paraquedista, e
disse:
- Olha, vão utilizar uma
Bateria do Grupo para prender o Lacerda. Vem para o quartel rápido.
O Coronel Aragão, ao mesmo
tempo, pegou o telefone e ligou para o Coronel Gustavo Borges, o Secretário de
Segurança do Lacerda.
- Olha, vão matar o Lacerda
amanhã!
O Gustavo Borges me disse
pessoalmente – conversando comigo dias atrás – que alertou o Lacerda, só que o
Lacerda tomou uma atitude inesperada. Perguntando se iria cancelar a visita ao
hospital, respondeu:
- Cancelar? Não, vou bem
mais cedo, vou antecipar o horário.
O Coronel Boaventura
dirigiu-se ao quartel e, ao chegar, reuniu os oficiais sabidamente não
comprometidos com tal esquema, para evitar que, em último caso, houvesse a
possibilidade de sair qualquer viatura do quartel. O que ele fez? Conversou
comigo, que era subordinado de confiança dele, Oficial de Munições, e ordenou:
‘Pegue a chave do paiol, reúna a munição e não deixe ninguém entrar’; a seguir,
mandou chamar os outros oficiais, o Abreu Morais, e determinou: ‘Olha, vocês
neutralizem as viaturas, tirem a bateria, tirem o cabo da bateria’.
(...)
O Coronel Boaventura,
imediatamente, dirigiu-se ao Quartel-General para tentar esclarecer a ordem,
junto ao General Comandante, Alfredo Pinheiro Soares Filho. O Coronel
Boaventura regressou ao Grupo e determinou uma reunião de oficiais, subtenentes
e sargentos dentro do Cassino dos Oficiais. A reunião, faço questão de dizer,
foi muito fiel ao estilo, ou seja: o Subcomandante da Unidade, os Comandantes
de Bateria à testa e os sargentos e subtenentes à retaguarda. O Comandante
chegou ao recinto, recebeu a apresentação, determinou que fosse comandado
‘descansar’ e proferiu as seguintes palavras:
‘Hoje pela manhã, recebi
ordem do Comandante do Núcleo da Divisão Aeroterrestre, por intermédio do seu
Chefe de Estado-Maior, para deslocar a Bateria de prontidão para a região do
Hospital Miguel Couto, a fim de prender o Governador Carlos Lacerda. Pedi ao
Chefe de Estado-Maior para falar com o General Comandante, no que fui atendido.
Recebido em seu gabinete, solicitei que tal ordem, por conter características
especiais e inusitadas, fosse a mim transmitida por escrito, conforme prevê o
regulamento. O general disse que não pedira, de quem a recebera, por escrito e,
portanto, não a daria por escrito. Respondi que enquanto não recebesse a ordem
por escrito, não a cumpriria e me retirei do gabinete’.
Encerrando a reunião, disse
o Coronel Boaventura aos seus oficiais e sargentos
‘Enquanto for Comandante,
ordens como essas não serão cumpridas.’
Obviamente, o Coronel
Boaventura foi exonerado.
Agora, para completar a história,
a Subunidade que entraria no dia seguinte de prontidão seria a Companhia de
Engenharia. A Subunidade começava o expediente às 7h30min. Até reunir a
Companhia, iniciaram o deslocamento do quartel quase às nove horas, e o Lacerda
já tinha se retirado há muito tempo” (Coronel Renato Brilhante Ustra, Tomo 5,
pg. 246-248).
“Um dia de madrugada – 2h da
manhã – fomos chamados ao quartel. Foi acionado o plano de chamada. No quartel,
aquele alvoroço! ‘O que está acontecendo?’ ‘Uma operação para matar o Governador da Guanabara, Carlos
Lacerda. Ele vai ser eliminado, vai haver agitação no Rio de Janeiro, o
presidente vai pedir estado de sítio ao Congresso, justamente, pela agitação
que vai ocorrer pela morte do governador’. Daí seria criada a
república sindicalista comunista da América do Sul – que era o objetivo deles.
E nós sabíamos porque a imprensa anunciava! Se pegarmos os jornais da época,
vamos ver que isso estava quse todos os dias na imprensa. E estávamos com essa
motivação.
Já tínhamos as nossas ligações
com os grupos do Marechal Denys e do General Aragão, Moniz de Aragão. A nossa
ligação era o Capitão Tarcísio, Assistente do General Aragão – Coronel
Tarcísio, hoje. Deles, veio a informação sobre a operação ‘Mata Lacerda’. O
nosso comandante chegou e disse assim: ‘Estou sendo chamado para ir ao comando
do Núcleo da Divisão Aeroterrestre’. Não era mais o General Santa Rosa, que
havia sido movimentado para outra função. Era o General Alfredo Pinheiro,
paraquedista, conhecido por ‘Faz Tudo’. O Coronel José Aragão Cavalcanti, nosso
comandante – não era parente do General, havia sido professor de geopolítica,
na AMAN -, reuniu os oficiais, nós já estávamos movimentando a tropa, armando o
pessoal, aquela movimentação de uma prontidão, um aprestamento em ordem-de-marcha,
isso de madrugada. Ele disse: ‘Fui chamado para me apresentar, agora, ao
comandante, no Núcleo da Divisão, no quartel-general, mas sei a missão que vou
receber’. A
missão que lhe seria dada de ‘deslocar o Regimento para emboscar e matar o
Governador da Guanabara quando ele inaugurar o pavilhão do Hospital Miguel
Couto, no Leblon, às 9h da manhã’. Claro que não iríamos fazer isso!
Nem o nosso comandante! Ele seguiu para o quartel-general e nós ficamos
aguardando.
Retornou, dizendo que falou
para o General Pinheiro que já sabia do planejamento a ser executado. A missão
que ele recebeu foi a seguinte: ‘Coronel, o Brasil já está em estado de sítio.
O Presidente acabou de solicitar ao Congresso o estado de sítio, porque o
Governador da Guanabara está agitando o País e tem que ser preso. Você vai
prendê-lo’. Ele disse: ‘Não é isso que sei, General. Não houve o pedido ainda,
de estado de sítio. O Congresso está fechado. Não amanheceu ainda e a sessão do
Congresso vai ser realizada de manhã. O pedido não ocorreu. Sei que vai ser ao
contrário – nós vamos matar o Governador Lacerda – aí sim, vai haver motivo
para o estado de sítio. Essa missão o senhor não pode me dar’.
O Chefe do Estado-Maior do
Núcleo da Divisão Aeroterrestre – Coronel Mafra – disse para o General: ‘Deixa,
vamos chamar o comandante do Grupo de Obuses Aeroterrestre’. Na época, era o
Coronel Francisco Boaventura Cavalcanti Júnior. Só que estávamos em ligação
permanente – o nosso Regimento com o Grupo – 24 hora em contato. O Coronel
Boaventura foi ao quartel-general e respondeu da mesma maneira para o Chefe do
Estado-Maior.
Sabendo que a missão seria
cumprida de qualquer maneira, o Coronel Aragão determinou que um oficial do
Regimento Santos Dumont se deslocasse para a porta de cada unidade paraquedista,
para observar a movimentação. Depois de uma hora, mais ou menos, vem o Tenente
José Alves Machado, de carro, meu companheiro de turma – que tinha sido
designado para verificar a situação do Grupamento de Unidades Divisionárias,
aquela série de Companhias de Serviços que formam um grupamento, ao comando de
um oficial superior. Pois não é que o Chefe do Estado-maior se dirigiu à
Companhia de Engenharia para comandá-la na operação ‘Mata Lacerda’. O Alves
Machado, quando viu que a Companhia já estava se preparando para sair, e ia
sair mesmo, retornou ao Regimento e avisou ao nosso comandante. Foi
instantâneo. Sem ordem, todos nós embarcamos no comboio para sair, para impedir
a passagem daquela Companhia que tinha a missão de eliminar o Governador da Guanabara.
Não queríamos que o Brasil
entrasse em uma guerra civil, quando sabíamos que o inimigo era outro. Mais uma
cilada, planejada para envolver os militares, para envolver as Forças Armadas,
como aquela em que fui envolvido em Xerém contra aquele ‘grupo dos onze’ que,
na verdade, era para proteger o terreno dos sócios do Automóvel Clube do
Brasil! Quando nós corremos para embarcar, o Coronel Aragão apitou, reuniu os
oficiais e disse: ‘Não precisa, calma. Já falamos com o Governador Lacerda que
a Companhia de Engenharia iria sair. Não, não, não se preocupe’. Às 4h da
manhã, o Major Monção, que era paraquedista, ligara para o Governador Carlos
Lacerda, que estava em Petrópolis, na sua casa – casa do governador – e o
avisou. O que ele fez? Inverteu as inaugurações daquela manhã. O pavilhão do
Hospital Miguel Couto que estava previsto para as 9h, passou para as 5h. O
Coronel Aragão disse: ‘Deixa a tropa sair. A Companhia de Engenharia pode se
deslocar. Não vai haver problema nenhum’. Vamos ver quem mora perto? Tenente
Brandão: ‘Eu moro em frente ao hospital’. O Coronel Aragão determinou que ele
ligasse para a sua casa e ficamos aguardando. O Brandão, pelo telefone, ia
passando para nós o que a sua esposa na janela, olhando o que acontecia na
porta do Miguel Couto, transmitia.
A
Companhia de Engenharia saiu? [entrevistador]
Saiu, sim. Incrível! O
Coronel Mafra entrou na Companhia de Engenharia composta de um capitão, três
tenentes e quinze sargentos, aproximadamente, todos jovens. Sabe como é a tropa
paraquedista – aguerrida, bem treinada- autoestima – ele chega e diz: ‘Capitão,
tem uma missão. Reúna os seus oficiais e sargentos. Tem uma missão para
paraquedista, muito importante. Quem estiver com medo pode se retirar. Alguém
está com medo?’ Meu Deus! Jovens oficiais, jovens sargentos vão dizer para um
chefe que estão com medo! ‘Então, armem-se e vamos embora. Eu vou comandar a
Companhia’. E assim ele saiu.
Cabe lembrar que apareceram quatro oficiais paraquedistas armados de
fuzis com lunetas. Sabíamos, desde o início, que aquela missão
fora planejada no apartamento no. 15 do Anexo do Copacabana Palace, então
apartamento do Presidente da República João Goulart. Contou com a presença do então Governador do
Rio Grande do Sul, Leonel Brizola, do Ministro da Justiça, Abelardo Jurema, do
Comandante da tropa paraquedista, General Pinheiro, e do Coronel João Sarmento,
do Gabinete Militar. Planejaram que a solução para antecipar a criação da
república sindicalista comunista seria criar um caos no Estado da Guanabara,
com a decretação do estado de sítio. E como criar um caos? Aí, o general
paraquedista disse: ‘Deixa comigo, isso é missão para paraquedista’ – tropa
pretoriana. A ordem para prender e ‘atirar para matar’ Carlos Lacerda na manhã
do dia 4 de outubro de 1963, quando da sua visita ao Hospital Miguel Couto, no
Leblon, foi transmitida naquele apartamento, ao General Alfredo Pinheiro, pelo
Ministro da Justiça, Deputado Abelardo Jurema, que esclareceu ao General
Pinheiro que o Ministro da Guerra, General Jair Dantas Ribeiro, estava a par de
todo o plano e dera sua aprovação. Nós estávamos sendo usados como tropa
pretoriana. O General Pinheiro, dali mesmo, ligou para o oficial que
estava de Superior-de-Dia no quartel-general – o qual representava o comandante
na ausência deste – ‘Capitão, desencadeie o plano de chamada que nós temos uma
missão para a tropa paraquedista’.
Mas o que ele não sabia era
que nós, do Regimento Santos Dumont e do Grupo de Artilharia, já estávamos no
quartel. Já tínhamos sido avisados daquela reunião, durante toda a madrugada
regada a uísque. Sabíamos de todos os detalhes da reunião. Por isso, quando o
Coronel Aragão recebeu a missão do General, ele disse: ‘Não é isso, General
Pinheiro, tenho a certeza do que está ocorrendo’.
(...)
A esposa do Tenente Brandão
ficou da janela anunciando: a tropa chegou, desembarcou, os soldados deitaram,
ocuparam posição... Depois de mais de uma ou duas horas, lá pelas 11h da manhã,
ela disse: ‘Alguém se levantou, está vindo na direção do prédio, no térreo’ –
era um bar. Foi, realmente, um oficial que ligou para dizer: ‘Não apareceu
ninguém!’ Depois disso, deram ordem para retrair. Essa foi a operação ‘Mata
Lacerda’. Os quatro oficiais que estavam armados com fuzis e lunetas, que não
pertenciam à Companhia de Engenharia, foram com a missão de eliminar o
governador. A esposa do Tenente Brandão viu esse oficiais, com os respectivos
fuzis e com as lunetas, nas mãos. Ela era esposa de um oficial – ela sabia o
que estava dizendo – ela falou em fuzil dom luneta.
(...)
(...) O inquérito foi aberto,
queríamos ser ouvidos. Surpresa! O Major Monção foi transferido para o interior
do Brasil, para ficar bem longe, justamente aquele oficial que ligou para o
Governador Lacerda e avisou. Mais tarde, merecidamente, foi promovido a General.
Todos os oficiais que participaram ou que sabiam da história não foram ouvidos
no inquérito.
O Major Monção fez uma
carta, que foi publicada nos jornais da época, contando a verdade. Um
escândalo, um escândalo! Nós exigimos o inquérito, queríamos ser ouvidos no
inquérito e o que ocorreu? O General Pinheiro, Comandante da Brigada, o General
‘Faz Tudo’, é bom lembrar, mandou reunir os oficiais do Regimento Santos
Dumont. Entra, com uma garrafa de uísque debaixo do braço, fardado, como
Comandante, e diz: ‘Companheiros, vim aqui para falar com vocês, roupa suja se
lava em casa. Nós não devemos comparecer ao inquérito para contar o que houve’.
Abriu a garrafa de uísque. Com a exceção de uns dois ou três, fomos nos
retirando do local e ele ficou ali para beber o seu uísque. Esse era o
Exército, o Núcleo da Divisão de Paraquedistas, em 1962 e 1963.
Por terem se negado a
comandar a ‘Operação Mata Lacerda’, também foram transferidos para o interior
do Brasil, os coronéis José Aragão Cavalcanti e Francisco Boaventura Cavalcanti
Júnior, comandantes do Regimento Santos Dumont e do Grupo de Obuses
Aeroterrestre, respectivamente” (General-de-Brigada Durval Antunes Machado
Pereira de Andrade Nery, Tomo 10 pg. 163-167).
“O Comandante do nosso
Rebimento [Santos Dumont, paraquedista] – o Tenente-Coronel José Aragão
Cavalcante – foi instado por um grupo de oficiais, notadamente pelos então
capitães Carlos Alberto de Lima Mena Barreto e Acrísio Figueira, para que ele
passasse a ter uma segurança permanente de dois oficiais. Depois desse evento –
atentado ao Lacerda, do qual o Coronel Aragão não admitiu que o seu Regimento
participasse – e as evidências, como disse, eram gritantes – de indisciplina e
da ação deletéria ideológica marxista-leninista, com todos os seus panfletos distribuídos
nos quartéis, vilas e clubes militares – o Coronel passou a ser escoltado, ora
pelo Capitão Paulo Rubens Brandão, ora por mim, que era solteiro e ambos
morando no Leblon e Ipanema. Íamos no jipe dele, e ele não vinha diretamente
para o quartel. Veja a que ponto as coisas chegaram!
Ele se dirigia para a
chamada ‘área A’, que é na região de Vila Valqueire, onde moravam os oficiais,
onde morava o Tenente Adalto Luiz Lupi Barreiros, o Tenente Gilseno Nunes
Ribeiro, o Tenente Andrade Nery – Durval Antunes Machado Pereira de Andrade
Nery -, que era da minha Companhia, onde morava o Tenente Eglair Barcellos
Alves e, a partir daquele ponto, era que o Coronel Aragão se deslocava, com um
cortejo dos seus oficiais, para o quartel, para assegurar que ele estava em
segurança e não seria alvo de uma ação, no prosseguimento desses atos” (Coronel
Francimá De Luna Máximo, Tomo 11, pg. 202-203).
Obs.:
O
Coronel Aragão, antes de ser transferido, ficou preso por 30 dias (Cfr. Tomo
10, pg. 168).
F.
Maier
“Quando nós o procuramos
para protegê-lo, em 1954, dissemos: ‘Carlos, nós temos a obrigação de defender
a sua integridade, porque você é o único que pode falar aquilo que desejamos e
não podemos. Não podemos, porque o regulamento proíbe, porque não temos a sua
capacidade, a sua eloquência, a sua dialética e os seus conhecimentos do
Partido Comunista’.
‘Nós sabemos o que queremos,
a democracia, mas não temos os meios que você tem, então vamos protege-lo, dar
segurança para que você possa continuar nessa campanha’. E a sua campanha
infernizou o Jango e sua malta.
Tanto ele incomodava, tanto
ele era líder que o Jango tentou mata-lo várias vezes. O Getúlio também
tentou...
Vocês vão ver no livro,
antes do atentado da Tonelero que alguém da guarda pessoal do Getúlio tentou
matar o Lacerda, jogando uma bomba de dinamite numa lancha, quando a gente
estava atracando na Ilha de Paquetá. Eu estava a bordo da lancha, ninguém me
contou, eu vi explodira a banana de dinamite.
Como
escaparam? [entrevistador]
Foi uma questão de segundos.
A banana de dinamite caiu na água, abriu um rombo na lancha por baixo e na hora
nós não percebemos. Descemos da lancha e mal tínhamos passado pelo pontão,
aquela ponte de atracação das barcas, veio um marinheiro corrento e afirmando
que a lancha estava afundando.
Nós corremos para ver que
realmente já estava com água pela metade, arrastamos a lancha para a praia e
apareceu o rombo, tipicamente provocado por dinamite” (Coronel-Aviador Gustavo
Eugenio de Oliveira Borges, Tomo 10, pg. 294-295).
“Três meses antes do
assassinato do Major Rubem Vaz, colegas da Diretoria de Rotas, tentaram
cooptar-me. Recusei a proposta com essas palavras: ‘É muito caro para a Nação
contratar um Major para guarda-costas particular de um político. Esse político
é inimigo da família Vargas e não duvido de que alguém da guarda pessoal do
Presidente possa matar o Lacerda. Como vocês são amadores e bala não tem
endereço, pode acontecer que uma delas bata na testa’ – toquei o dedo na testa
do Souza Leão – e aí o Cotonifício Bezerra de Melo vai perder um sócio ilustre.
Souza Leão era Major-Aviador e meu colega de turma. Retirei-me da reunião – era
aniversário de um dos colegas – dizendo que a função de Major-Aviador merecia
tratamento mais digno. O episódio me colocou em oposição declarada, ficando eu
mais uma vez marcado pelos futuros ganhadores da Revolução de 31 de Março de
1964.
Três meses depois, o Vaz foi
morto pelo pistoleiro João Alcino, amigo e comparsa dos homens da Guarda
Pessoal do Presidente, entre eles Gregório Fortunato e um tal de Climério. No
instante em que João Alcino atirou em Lacerda, seu guarda-costas do dia, o
Major Rubem Vaz, estava na porta da casa do Lacerda – Rua Tonelero, em
Copacabana – e correu para pegar sua pistola .45 que estava no porta-luvas do
seu carro. João Alcino o matou pelas costas, exatamente após abrir a porta do
carro e abaixar-se na tentativa de pegar a arma. Eu tinha razão – os
guarda-costas de Lacerda eram amadores” (Major-Brigadeiro-do-Ar Rui Barbosa
Moreira Lima, Tomo 12, pg. 45).
“Entre os civis, os mais
destacados, sem dúvida, foram (...); o Governador da Guanabara, Carlos Lacerda,
um crítico mordaz do Governo, que, por pouco, não foi morto numa trama
diabólica arquitetada em reunião presidida pelo próprio Presidente da
República, na qual se encomendou o seu assassinato ao General Pinheiro,
Comandante do Núcleo da Divisão Aeroterrestre, que, por uma série de motivos,
não conseguiu colocar em execução o plano. Por muito pouco ele não foi morto, porque
houve recusa de vários comandantes de unidades paraquedistas em cumprir a
missão, até que um aceitou e saiu para executá-lo e acabou não tendo êxito, por
um estratagema no qual o Governador, ao ser informado do problema, fez uma
mudança no horário de uma inauguração” (General-de-Exército Luiz Gonzaga
Schroeder Lessa, Tomo 10, pg. 64).
Desinformação
da KGB 1: Caso dos mendigos jogados no Rio da Guarda
“Esse documento que mostro
aqui para as câmeras é a história do Departamento de Desinformação da KGB. A
KGB criou esse Departamento para fazer o que eles chamam de desinformátsiya. Trata-se de indicar
informações passadas – falsas, incompletas ou dúbias – fornecidas ou
confirmadas a outros países, a fim de fazer com que seus governos cheguem a
conclusões errôneas sobre a Rússia, sendo, inclusive, induzidos a ações
benéficas para com a Rússia.
Essa máquina continua, é
feito máquina sem freio, tomou aquele embalo e não cessa. Caiu o Muro de
Berlim, caiu a União Soviética, mas eles continuam funcionando dentro de todos
os jornais com a desinformátsiya.
Esses documentos do Departamento
de Desinformação da KGB, pela sua influência e pelos seus danosos resultados,
tratarei mais a fundo no meu próximo livro.
As grandes operações da desinformátsiya aqui no Rio de Janeiro
foram o caso dos mendigos e o caso do Brigadeiro Burnier. Dizem que o Burnier
ia explodir o gasômetro, no caso do Sérgio Macaco – um trapalhão que conseguiu
promoções na Justiça ao arrepio da lei. Um absurdo! Como um Capitão Intendente
sem os Cursos de Aperfeiçoamento e de Comando e Estado-Maior chega a
Brigadeiro?! É o próprio Samba do Crioulo Doido, é a negação a tudo que está
escrito sobre promoções, prejudicando a imagem do Judiciário!
A questão dos mendigos
começou com um fato concreto, realmente estavam matando mendigos e jogavam os
cadáveres no Rio da Guarda. Amarravam as mãos do mendigo atrás, davam uma
bordoada na cabeça e jogavam no Rio da Guarda, de cima de uma ponte.
Até que uma mendiga, não
deram com força suficiente, acordou, era exímia nadadora porque era filha de
pescador, e nadou até a margem, apesar de estar com as mãos amarradas, foi
batendo o pé, encalhou na areia. Um caboclo a salvou e a levou para a
delegacia.
Mas ela era completamente
demente, levou uns quinze dias dizendo coisas sem nexo. Aos poucos, o delegado
de Santa Cruz conseguiu formar uma história coerente, abriu um inquérito e me
comunicou.
Saí correndo e fui avisar o
Lacerda, uma coisa horrorosa estava acontecendo, já havia mais de dez mendigos,
dez cadáveres encontrados no Rio da Guarda, e a Última Hora estava dizendo que ele estava matando mendigos.
Ele mandou abrir um
inquérito administrativo e policial. O delegado de Santa Cruz tinha traçado a
origem como sendo o Serviço de Mendicância, que era em Olaria, um abrigo de
mendigos administrado pela Polícia.
Mandei cercar o lugar com a
PM e prendi todo mundo que estava lá dentro, do último mendigo até o chefe que
era policial de carreira, prendi todo mundo. Foram todos para o Regimento de
Cavalaria da Polícia Militar e lá tudo foi esclarecido.
Era um guarda civil antigão,
nomeado muito antes do Lacerda assumir o Governo, que começou a dizer para os
outros que ele falava com Cristo. Falava com Jesus Cristo e que Jesus Cristo o
tinha encarregado de beneficiar os mendigos sob sua guarda que ele achasse
irrecuperáveis, os quais deveria matar e jogar no rio.
Ele se mancomunou com o
motorista, cujo nome já diz tudo, o apelido era ‘Tranca Ruas’, a gente já vê
que não era boa coisa. Ele levava os mendigos para o Rio da Guarda junto com
esse motorista e matava. A Última Hora
fez um escarcéu tremendo.
A KGB espalhou isso no mundo
inteiro, recebi telegramas de uns quatro ou cinco países, apelando para que eu
parasse de matar mendigos. O Lacerda então recebeu pilhas. Peguei todos esses
telegramas, fiz um cálculo, porque conhecia o sistema de tarifa de telegramas:
a KGB gastou da ordem de 600 mil dólares só de telegramas, foi quanto custou
essa campanha dos mendigos. E, anos depois, vinha gente me perguntar: ‘Mas,
Coronel, é verdade que o senhor matava mendigo?’, porque as notícias da Última
Hora eram categóricas: ‘ele mandou, foi ele que tramou, foi ele que imaginou,
que mandou a Polícia segurar os mendigos e matar com uma bordoada na cabeça’,
prejudicando o Governo e a imagem do Lacerda também, já nem falo na minha
pessoa.
Faz sentido o Governador
Lacerda sair das suas obrigações para mandar matar mendigos a bordoada? Mas o
povo acreditava, pois era dito tantas vezes, com tanta firmeza...
Há um filósofo francês que
diz: ‘Menti, menti, caluniai, sempre ficará alguma coisa.
Gramsci, membro do Comitê
Central do Partido Comunista Italiano, usava isso” (Coronel-Aviador Gustavo
Eugenio de Oliveira Borges, Tomo 10, pg. 302-304).
Obs.:
Cansei
de ver, em debate na TV, a professora e deputada Sandra Cavalcanti, que foi
Secretária de Serviços Sociais do Governo Lacerda, ser acusada por adversários
políticos, como Miro Teixeira, de ser responsável pela morte de mendigos,
jogados no Rio da Guarda e no Rio Guandu. Cfr. em https://pt.wikipedia.org/wiki/Sandra_Cavalcanti.
F.
M.
Lacerda
ficou 48h acompanhando reparo da Adutora Guandu
“Entre os civis destacaria,
sem dúvida, em primeiro lugar, Carlos Lacerda. Homem de talento, bravura e
idealismo, conseguiu ser o maior tribuno de todos os tempos no nosso
parlamento. Na Revolução foi um bravo. Destacou-se como administrador.
Compartilhei da sua ação administrativa, onde mostrou que não era apenas
um demolidor, mas sabia construir,
também. Lembro-me de que poucos dias depois de assumir o Governo do Estado da,
então Guanabara, começou a faltar água. A adutora do Guandu estourou e o Rio de
Janeiro ficou sem água. Normalmente, nesses casos, o governador expede suas
ordens e fica em casa. Era um fim de semana. Lacerda foi pra lá e ficou mais de
48 horas sem arredar um instante, comendo sanduíche e em pé. Eu disse:
‘Governador, o senhor precisa descansar’. Ele respondeu: ‘Não saio daqui,
enquanto o Rio de Janeiro não voltar a ter água. Faço questão de dar o exemplo’
” (Doutor Emílio Antonio Mallet de Souza Aguiar Nina Ribeiro, Tomo 10, pg.
253).
Lacerda,
criador de anedotas infames
“Aberta a sucessão, o nome
do Ministro Costa e Silva naturalmente surgiu. Eu e Jubé identificamos uma
campanha difamatória contra ele, uma série de anedotas deste nível: ‘Ele usa
óculos escuros, porque ao ver o verde da grama, vai querer pastar’.
Decidimos levantar a origem
dessas piadas infames e maldosas. A melhor maneira de destruir alguém é fazê-lo
via anedota. Ridicularizar através de um humorismo inteligente, porém
difamante, é pior que uma bomba nuclear, destrói qualquer coisa. Aquilo me
preocupou pois era publicado na Imprensa, minha área. As investigações
descobriram que as anedotas eram lançadas nos corredores do Congresso, trazidas
por um oficial – não vou dizer se da Marinha ou da Aeronáutica – da assessoria
parlamentar. Ele foi seguido e descobrimos que frequentava o Gabinete do Carlos
Lacerda, na Galeria Avenida, no Rio de Janeiro, de onde as anedotas saíam.
Lacerda estava preocupado com o crescimento da candidatura de Costa e Silva. (...)
Devo dizer que levava as
anedotas ao conhecimento do Costa e Silva, que as achava engraçadas e, até,
ria. (...)
Descoberta a origem, ficou
mais fácil o combate. Quando diziam que era imbecil, que se tratava de um
boçal, que Costa e Silva não servia nem para sargento, imprimíamos uma
fotografia dele e no verso colocávamos um currículo resumido. No final,
esclarecíamos que Costa e Silva fora o primeiro colocado da Infantaria na
Escola Militar de Realengo, mesma turma de Castello [7º. Colocado]” General-de-Exército
Oswaldo Muniz Oliva, Tomo 7, pg. 57).
“Encontrava-me na sala de
aula [ECEME] com mais alguns companheiros, quando foram chamados oficiais
dispostos, aqueles que ‘topavam qualquer parada’. (...) O Coronel Figueiredo
(João Baptista de Oliveira Figueiredo), instrutor, dirigiu-se a nós:
- Nós os escolhemos porque
tempos confiança em vocês e vamos cumprir uma missão muito árdua. O Palácio
Guanabara enviou um pedido para que mandássemos alguns oficiais para organizar
a defesa do Palácio, sede do Governo do Estado, onde se encontrava o senhor
Carlos Lacerda e o pessoal mais chegado a ele. Consta que vão ser atacados
pelos fuzileiros navais do Aragão; já estão lá três ou quatro oficiais da
Aeronáutica, comandados pelo Coronel Burnier, que confessam não saberem fazer
defesa terrestre. A Escola só pode dar a condução de ida para vocês. Alguém não
deseja ou não aceita a missão?
- Não senhor! – respondemos
– nós iremos” (Coronel Godofredo de Araújo Neves, Tomo 7, pg. 160).
Frente
Ampla: suicídio político de Lacerda
“O AI-2 extinguiu os
partidos, criando o bipartidarismo, e adotou uma série de outras medidas, mas o
mais importante não foi feito, fruto do firme desejo de Castello, a reeleição
do Presidente. Automaticamente, abriu a sucessão. Talvez não tenha pensado nessa
consequência.
Nesse momento, quando ele
abriu a sucessão, Lacerda surgiu como candidato, mas Costa e Silva, também,
passou a ser um nome poderosos, preferido dos militares e alguns políticos.
Lacerda erradamente, a meu ver, resolveu fazer uma reunião em Portugal para
criar a Frente Ampla, com Jango e Juscelino. Nesse instante, perdeu a confiança
nele depositada. (...)
(...)
Lacerda era o nosso
candidato, mas passou a atacar a Revolução, distanciando-se do apoio militar.
Começou a errar e a ‘engrossar’, quando Castello decidiu transformar a eleição
em indiretas. Milton Campos, Ministro da Justiça, homem da mais alta dignidade,
foi convocado para enviar mensagem ao Congresso, a respeito do assunto.
Castello chamou Magalhães Pinto e Lacerda, dois líderes civis da Revolução, à
Brasília, para contar-lhes. Nenhum dos dois receber as acusações, justa ou
injustamente lançadas sobre Adhemar de Barros, que foi essencial para a
Revolução. Lacerda saiu do Palácio, chegou ao Rio e, na televisão, desafiou
Castello a manter a eleição direta, já sabendo que seria indireta.
Tao atitude de Lacerda
deixou Castello muito aborrecido. No instante em que Lacerda antagonizou-se com
Castello, ficaram dois candidatos militares, Oswaldo Cordeiro de Farias e Costa
e Silva” (General-de-Exército Oswaldo Muniz Oliva, Tomo 7, pg. 59-60).
“Por uma questão de
idoneidade histórica, vou criticar um pouco o próprio Governador Lacerda de
quem fui tanto amigo. Quando ele achou que era seu dever participar da ‘Frente
Ampla’, lealmente fui à presença dele e disse-lhe: ‘A partir desse momento não
lhe sirvo mais, embora continue lacerdista. O senhor é que está deixando de
sê-lo’. Ele tomou um susto, ficou espantado e, também, achou engraçado.
Passados os anos, voltamos a nos visitar e estreitar o nosso relacionamento,
até o seu perecimento. Naquele momento, creio que estava mal-aconselhado ou
mal-inspirado.
Ele possuía uma inteligência
brilhante e o gênio tem esses altos e
baixos. Naquele momento, infelizmente, me permiti discordar. Não era um robô, mas
um adepto sincero de suas ideias. Foi um dos líderes incontestes da Revolução
de 1964” (Doutor Emílio Antonio Mallet de Souza Aguiar Nina Ribeiro, Tomo 10,
pg. 253-254).
“Há uma passagem do
Governador Carlos Lacerda, que foi um homem decisivo na época da Revolução para
a vitória do Movimento. Ele tinha ambições de ser Presidente da República e
quando os elementos militares mais radicais, vamos falar assim, não queriam que
se passasse logo o governo para um civil, quando Lacerda percebeu que não seria
o candidato nas eleições que deveriam vir em seguida... ele saiu com uma frase
que os jornais estamparam na época, para nós considerada uma ofensa grave ao
Marechal Humberto Castello Branco. Ele diz: ‘Eu acho que o Marechal Castello
Branco é mais feio por dentro do que por fora.’ Um homem que tinha sido um dos
líderes da Revolução, só porque se viu tolhido e frustrado por não poder se
candidatar à presidência logo em seguida, como sonhara, se voltou contra nós. E
vamos ver, logo em seguida, uma reunião que houve de Lacerda, Jango e creio que
Juscelino, com a ideia de formar uma frente ampla para tratar dos interesses de
seus líderes” (General-de-Brigada Acrísio Figueira, Tomo 14, pg. 150).
Obs:
A título de informação, o Ministro San Thiago
Dantas desejava unir todas as esquerdas em uma “Frente Única” (1963), para dar
suporte consistente ao Governo João Goulart e suas “Reformas de Base”. Os
partidos comunistas e o exibicionismo de Brizola impediram a formação dessa
Frente. A “Frente Popular” de Jango, com o PCB e as organizações dominadas pelo
“Partidão”, foi o que sobrou da pretensa “Frente Única”.
A “Frente Única” pelo menos serviu como
inspiração para a moda da década de 1960, sendo uma peça feminina bastante
“sexy” – ao mesmo tempo em que debutavam as chinelas hawaianas e a camisa
“ban-lon”, também conhecida como “camisa volta ao mundo”.
F. M.
Desinformação
da KGB 2: Caso Sérgio Macaco
“O outro foi o Sérgio
Macaco. Em dado momento, o Partido Comunista começou a char que Burnier estava
incomodando muito, eles ficaram furiosos num episódio de um sequestro de um
Caravelle no Geleão.
O avião foi sequestrado
ainda no chão, renderam os pilotos, e pelo rádio exigiram mais gasolina, porque
eles queriam voar direto para Cuba. Mas o Burnier, que não era de brincadeira,
cercou o avião, deu uma rajada de metralhadora em cada pneumático, furou todos
os pneus do avião e começou a bolar uma solução.
Demorou algumas horas até
que cristalizou um plano global para tomar o avião de volta. Ele cobriu o avião
com espuma, valendo-se do carro de bombeiro do aeroporto, do qual sai aquele
jato de água que quando cai em cima do fogo faz uma imensa bolha de espuma e
com isso abafa o fogo.
Ele cobriu o avião com
espuma de incêndio, com isso ele tirou a visibilidade das janelas, inclusive da
janela do piloto e do comandante. Os três terroristas, dois sujeitos e uma
mulher, ficaram dentro do avião sem conseguir olhar para o lado de fora e não
sabiam onde estava a tropa da FAB.
Ele teve tempo de preparar o
seguinte: injetar pela tomada de ar condicionado gás lacrimogêneo da polícia.
Em dado momento, estava tudo preparado, inclusive uma tropa de elite, para
invadir o avião.
Ele apertou, disparou as
garrafinhas de gás lacrimogêneo, os terroristas ficaram meio tontos, com os
olhos congestionados, aí o Burnier arrombou a porta do avião, entrou com a sua
tropa, prenderam a mulher e um terrorista e mataram o outro, que estava querendo
eliminar o comandante.
O comandante, quando viu
aquele movimento de gás lacrimogêneo, saiu por uma portinha e caiu embaixo no
pátio, mas, como é mito alto, quebrou a perna no salto e ficou caído, deitado.
O terrorista veio ali na
janela, começou a atirar no comandante. Esse comandante está vivo, pertenceu à
empresa Cruzeiro do Sul, era meu amigo. A tropa do Burnier não teve outro jeito
senão fuzilar esse terrorista, ou fuzilava o terrorista ou ele matava o piloto.
Era preciso anular o
Burnier, então acionaram a desinformátsiya, engendraram estórias fantásticas e
desmoralizantes para o Burnier. Disso foi encarregado um oficial comunista da
FAB, Sérgio Macaco, que já era mau elemento desde cadete. O Eduardo Gomes
gostava dele, não por quê, e passou a mão na cabeça dele em várias instâncias.
Ele deveria ter sido expulso e não foi, foi ficando, dizendo que ia se regenerar.
Sei que passaram a mão na
cabeça do Sérgio Macaco e ele começou a acusar o Burnier de umas coisas muito
engraçadas. Causa espanto o fato de esses fatos serem aceitos pela opinião
pública, apesar dos absurdos.
O Burnier foi acusado de planejar a explosão do
gasômetro [do Rio de Janeiro, próximo à Rodoviária Novo Rio]. Acontece que o
gasômetro está a um quilômetro e meio da casa onde o Burnier morava, logo, se
aquele gasômetro explodisse, a casa do Burnier iria para o espaço.
Evidentemente, ele não ia explodir o gasômetro. E o que ele ia conseguir com a
explosão do gasômetro? Nada. Poderia acusar, dizer que aquilo era coisa dos
comunistas, mas a Revolução tinha ganho, não precisava de desculpa para
explodir coisa nenhuma, para combater os comunistas, nós já tínhamos ganho a
guerra.
Passaram a acusar o Burnier
de levar os comunistas a bordo de aviões e ameaçar jogá-los do avião em
alto-mar, mas não deram por falta de ninguém.
O mais ridículo de tudo é
que o Burnier tinha vendido a Amazônia. Veja o absurdo, vendido a Amazônia para
um general americano, comandante da 82ª. Aerotransportada. Como é que um
general americano ia comprar, com que dinheiro? Ele precisaria de vários
caminhões de ouro maciço para comprar a Amazônia e o Burnier ie fazer o que com
esse ouro todo?
É
um absurdo, lembra o caso da Zuzu Angel, eles mesmos sabem que á a maior
fantasia do mundo, mas fingem que acreditam. [entrevistador]
É outra operação da KGB...
Da
KGB, que aceita que alguém a uma distância enorme pudesse ver, de noite, que um
carro da repressão fechou outro que era da Zuzu Angel – uma mentira deslavada,
insuportável! [entrevistador]
O acidente do Juscelino –
tentaram inventar um pseudo-assassinato. Um caminhão atravessa a pista, dá de
cara com o carro dele e aquilo foi tramado pelo Exército. Brincadeira”
(Coronel-Aviador Gustavo Eugenio de Oliveira Borges, Tomo 10, pg. 304-305).
Obs.:
A
famigerada Comissão Nacional da Verdade (CNV), instalada no Governo da antiga
terrorista da VAR-Palmares, Dilma Rousseff, “descobriu” o autor do “atentado”,
só porque ele estava numa foto após o acidente: o Coronel Freddie Perdigão. Por
que as outras pessoas que estão na foto não se tornaram suspeitas? - https://felixmaier1950.blogspot.com/2020/05/foto-liga-militar-acidente-de-zuzu.html.
A
mesma CNV, em seu Relatório Final, elenca 377 agentes de Estado que teriam
cometido crimes durante a ditadura, incluindo os 5 presidentes militares –
Castello Branco, Costa e Silva, Médici, Geisel e Figueiredo – cfr. http://felixmaier1950.blogspot.com/2020/07/comissao-nacional-da-verdade-377.html.
Em
21 de novembro de 2012, eu enviei uma carta à Comissão Nacional da Calúnia (no
dizer do General Maynard Marques de Santa Rosa), com resposta do Ouvidor da CNV
e minha tréplica – Cfr. em http://felixmaier1950.blogspot.com/2020/07/carta-comissao-nacional-da-verdade-por.html
“Essa
arraia-miúda [esquerda brasileira] embevecida pela própria retórica domina as
universidades, a imprensa e o movimento editorial, onde penetrou desde a década
de 1930 ajudada pelas verbas culturais do KGB (uma história que Sader
provavelmente ignora) e onde reina até hoje pelo boicote sistemático aos
adversários superiores em inteligência, cultura e honestidade. A esquerda não
tem nada, intelectualmente, exceto dois ou três pensadores medianos como Lukács
e Horkheimer (sempre patrulhados pela própria esquerda), e exceto,
naturalmente, aquilo que rouba: nosso descarado professor [Emir Sader]
contabiliza no patrimônio esquerdista até mesmo Freud, um moralista conservador
(ver Philip Rieff, Freud: The Mind of a
Moralist), e Bertrand Russell, que só aderiu à esquerda em plena senilidade
e que na época do seu maior esplendor intelectual propunha nada menos que uma
guerra atômica preventiva contra a URSS” (Olavo de Carvalho, in “O Imbecil Coletivo”, pg. 295-296).
F.
Maier
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