ANTECEDENTES DO MOVIMENTO CÍVICO-MILITAR DE 31 DE MARÇO DE 1964
Por
Félix Maier
MOVIMENTO COMUNISTA
INTERNACIONAL
Praticamente todos os entrevistados da obra “HISTÓRIA
ORAL DO EXÉRCITO - 31 MARÇO 1964”, publicada pela Biblioteca do Exército
Editora (Bibliex), concordam em dizer que o Brasil, em 1964, sofria a
influência direta da Guerra Fria, com o Movimento Comunista Internacional (MCI)
lançando suas garras sobre o Ocidente democrático, inclusive o Brasil, e os
americanos fazendo a contrapropaganda a essa doutrina que tornava o mapa
mundi cada vez mais vermelho.
“Ao término da Segunda Guerra Mundial, a
União Soviética, em inferioridade nuclear em face dos Estados Unidos, adotou,
em relação aos países não comunistas, política externa defensiva, caracterizada
pelo movimento pró-paz - ofensiva pela paz - e pala promoção da subversão naqueles
países - guerra psicológica - sempre acusando os EUA de intenções agressivas e
imperialistas.
A seguir, logo que conseguiu produzir armas
nucleares, a URSS mudou sua política externa, passando a utilizar a subversão e
a guerra revolucionária para a rápida expansão do comunismo no mundo” (Coronel
Helio Mendes, Tomo 1, pg. 255).
“As raízes remotas encontram-se em 1922.
Desde a criação do Partido Comunista, começou a ininterrupta pressão do
Movimento Comunista Internacional (MCI) sobre o Brasil; é a velha teoria do
dominó: se o Brasil caísse, cairia o resto.
Sobreveio a Coluna Prestes e, depois, a
Revolução de 1930. Luís Carlos Prestes, com a dissolução da Coluna, se exilou na
Argentina e se negou a participar da Revolução de 1930, porque julgou-a burguesa,
tendo declarado, pela primeira vez, que tomava a linha do comunismo.
A essa altura, conta a história que Oswaldo
Aranha já lhe tinha enviado oitenta mil dólares. Da Argentina, Prestes foi para
a Rússia, onde passou bastante tempo; aquele dinheiro foi um dos recursos que
financiaram, mais adiante, a Intentona Comunista de 1935.
Esses acontecimentos incorporaram-se às
raízes mais longínquas.
Como causa mais próxima, tenho que me
reportar à queda de Jânio Quadros. Emergiram contradições, no período que vai da
renúncia do Presidente Jânio Quadros à posse de João Goulart, e corremos o
risco de uma divisão dentro do Exército” (Coronel Gabriel Antônio Duarte
Ribeiro, Tomo 6, pg. 80-81).
“Amplos setores da administração pública, a
Confederação Geral dos Trabalhadores (CGT), a União Nacional dos Estudantes
(UNE), a União Brasileira de Estudantes Secundaristas (UBES) e a maioria dos
sindicatos estavam completamente dominados por esquerdistas ou notórios
comunistas. O Secretariado de Miguel Arraes, em Pernambuco, também era
constituído de elementos vinculados ao esquerdismo. Leonel Brizola fundara o
‘grupo dos onze’ e criara a Frente de Libertação Nacional. Francisco Julião, no
Nordeste, atuava, vigorosamente, através das Ligas Camponesas.
As greves se sucediam em proporções
assustadoras, tanto no meio sindical como no estudantil, surgindo as chamadas
greves de solidariedade. Janto tinha, no meio sindical, o seu grande
sustentáculo. A agitação no campo era intensa. Os sindicatos rurais eram
organizados por comunistas, militantes da Ação Popular trabalhista e sacerdotes
católicos, sendo criada a Confederação Nacional dos Trabalhadores na
Agricultura (CONTAG) que se tornou mais uma integrante da CGT. Setores da
Igreja Católica, considerados progressistas, expandiam o Movimento de Educação
de Base, aplicando o método de alfabetização de Paulo Freire.
O Plano Trienal de Celso Furtado fracassou e
o País mergulhou em impressionante ritmo inflacionário” (General-de-Exército
Sebastião José Ramos de Castro, Tomo 1, pg. 118-119).
Imigrantes trouxeram dogmas do
comunismo
“As forças políticas eram o resultado de 50
anos de confrontos e formação de elites políticas entre essas vertentes.
Importamos ideologia comunista e projeções internacionais de interesses
capitalistas. Dou exemplos marcantes que comprovam isso. A vinda de imigrantes
europeus para o nosso País, em face das condições de trabalho em seus países,
nas condições deixadas pela segunda revolução industrial e pelo sistema
capitalista que dela emergiu, bem como a influência de intelectuais que haviam
aderido aos dogmas da revolução bolchevista, foram responsáveis pela importação
do comunismo. Essas ideias permearam a industrialização nascente nos centros
urbanos do País e as relações de trabalho no campo, para onde parte daqueles
contingentes impregnaram a força de trabalho” (Coronel Adalto Luiz Lupi Barreiros,
Tomo 14, pg. 254).
As
21 condições para admissão do PCB à Terceira Internacional (COMINTERN)
“Em
março de 1922, foi criado o Partido Comunista no Brasil, no Rio de Janeiro, que
logo aderiu ao Movimento Comunista Internacional, aceitando as 21 condições de
admissão à Terceira Internacional (COMINTERN).
Através
dessa entidade, agindo como central da subversão, Moscou, impondo disciplina
férrea, dirigidas às atividades comunistas do mundo inteiro. É conveniente
ressaltar, para melhor compreender o fanatismo ideológico do comunismo, que
para aderir ao COMINTERN era indispensável a aceitação de determinadas
condições, dentre as quais soa como chocante a de número 16, que prevê: ‘Todos os Partidos Comunistas devem renunciar não somente ao
patriotismo, como também ao pacifismo social’.
Dentre
os primeiros líderes a serem trabalhados em Moscou para vir exercer funções de
destaque no Brasil, deve ser citado Luís Carlos Prestes (ex-capitão do
Exército). Durante anos permaneceu na URSS realizando cursos de liderança e
capacitação marxista-leninista. Retornou ao Brasil para participar da Intentona
Comunista de 27 de novembro de 1935” (Coronel Humberto Ayres Corrêa, Tomo 14,
pg. 232).
Obs.:
A história do PCB, assim como as
21 condições para admissão ao COMINTERN, pode ser visto em https://felixmaier1950.blogspot.com/2020/06/partido-comunista-brasileiro-pcb-fgv.html.
Hoje, temos na América Latina
outra Internacional Comunista, que pretende comunizar toda a região: o Foro de
São Paulo. Conheça o histórico e as Atas Finais de vários Encontros do FSP no
link https://midiasemmascara.net/atas-fsp/.
A Universidade de Amizade dos
Povos Patrice Lumumba, em Moscou, era uma incubadora de terroristas e
guerrilheiros, inclusive do Brasil – cfr. http://wikiterrorismobrasil.blogspot.com/2015/09/universidade-de-amizade-dos-povos.html.
O documentário “The Soviet Story”
(A História Soviética) apresenta os bárbaros crimes cometidos na URSS - Cfr.
em https://www.youtube.com/watch?v=87m5oT-JI38 e https://www.youtube.com/watch?v=iTJQXKUR6mM.
Em 12 de junho de 2007, foi
inaugurado em Washington, D.C. o “Memorial das Vítimas do Comunismo”, com a
dedicatória "Para
os mais de cem milhões de vítimas do comunismo e para os que amam a liberdade."
Cfr. em https://pt.wikipedia.org/wiki/Memorial_das_V%C3%ADtimas_do_Comunismo.
F. Maier
Revolução
de cunho comunista: tomada do Poder em dois tempos
“Sem
dúvida, havia uma revolução de cunho comunista, em preparação no País.
Permito-me explicar como isso acontece: os comunistas nunca fizeram ou nunca
iniciaram uma revolução, nem na União Soviética. Eles foram sempre os grandes
aproveitadores das revoluções. A isso chamam de transformação da revolução. A
revolução surge como um movimento determinado e depois se transforma. Lenine advertia:
‘Não é possível triunfar apenas com a vanguarda’. E o Partido Comunista é a
vanguarda, é a direção.
A
estratégia aplicada no Brasil tinha duas fases distintas. Na primeira, haveria
uma espécie de golpe revolucionário, aplicado pelo próprio Governo João
Goulart, originando um regime de força. O Congresso seria fechado e
promover-se-ia um expurgo, nas Forças Armadas, de todos os elementos
contrários.
Na
segunda fase, esses elementos golpistas seriam postos de lado, e os comunistas
assumiriam o Poder. Esse era o plano para a revolução comunista no Brasil. Eles
não iam iniciar a revolução; quem iria fazê-lo era João Goulart.
Há,
inclusive, uma carta enviada a Miguel Arraes por um jornalista, seu parente,
contendo as conclusões de várias entrevistas de confidentes de João Goulart,
como Samuel Weiner e outros, em que ele diz que o Presidente estava
entusiasmado com a possibilidade de aplicar esse golpe, fechando o Congresso e
estabelecendo uma outra Constituição para o Brasil. Era o que ele chamava de
‘República Sindicalista’, uma república dominada pelos sindicatos.
Mas
os comunistas estavam preparados para a segunda fase, que era assumir o Poder,
eliminando esses que a iniciaram” (General-de-Brigada Ferdinando de Carvalho,
Tomo 2, pg. 152).
“Quando
implantaram o comunismo na União Soviética, que ainda era o Império russo, no
ambiente militar iniciaram a sua revolução pelo aliciamento dos marinheiros.
Lembrem-se todos do episódio do encouraçado Potiomkin, também chamado por
alguns de Potemkim, em 1905, quando os comunistas insuflaram a rebeldia dos
marinheiros por motivos de rancho, ou ainda, do cruzador Aurora, que, nos
antecedentes da Revolução de Outubro de 1917, levantou-se e bombardeou a Cidade
de Leningrado. No Chile de 1963, a subversão nas Forças Armadas tinha importantes
células na Marinha de Guerra.
No
Brasil, também escolheram iniciar a revolução pela Marinha, embora as três
Forças Armadas, indistintamente, tenham sido inoculadas pelo germe da quebra da
hierarquia e da disciplina e pela tentativa de aliciamento das praças contra os
seus superiores.
Gostaria
de lembrar dois episódios que antecederam a revolta dos marinheiros e
fuzileiros, aqui, no Rio de Janeiro. Falo da revolta dos sargentos em Brasília,
um ano antes, na área Alfa, e da sabotagem que os sargentos mecânicos da Força
Aérea fizeram contra as aeronaves, que, consequentemente, ficaram
impossibilitadas de decolar. Felizmente, essa tentativa de cisalhamento não
teve sucesso, porque a maioria esmagadora dos graduados se posicionou contra a
crise provocada, artificialmente, pela subversão de cúpula conduzida pelo
governo, aliada à subversão de base, a cargo, principalmente, do Comando Geral
de Greve, depois CGT, e das Confederações de Trabalhadores, que agiam ao lado
da UNE (União Nacional dos Estudantes)” (Vice-Almirante Sérgio Tasso Vásquez de
Aquino, Tomo 9, pg. 96-97).
“Quando
eu estava na ativa, era muito convidado para reuniões com empresários. Era
solicitado pela Confederação Nacional do Comércio e, num almoço que eles
fizeram, estava um grupo de empresários americanos. Junto se encontrava aquele
que veio a ser presidente – o Jimmy Carter. Eram da Geórgia, do Sul dos Estados
Unidos. E, naquela conversa, como eu falava inglês e eles não falavam o
português, perguntei a eles: ‘Quais são os produtos brasileiros que vocês estão
mais interessados em importar?’ E um deles respondeu: ‘Gostaríamos de importar
o método de combate aos comunistas adotado por vocês’. Os americanos
consideravam a coisa mais perfeita do mundo. Nenhum país tinha conseguido
neutralizar, com tanta eficácia, o comunismo naquele nível que ele havia
alcançado, porque eles já se diziam do governo: ‘Só não temos o Poder, mas
estamos no Governo’. Eles falavam isso, o próprio Luís Carlos Prestes.
Era
a tal tomada do Poder em dois tempos que falei, lembrando que Kerenski e
Trotsky fizeram a revolução. Lênin entrou e derrubou os dois e estabeleceu a
ditadura do proletariado, de triste memória. Na Tchecoslováquia, lembramos a
tomada do parlamento, a queda do parlamento, eles assumiram o Poder, valendo-se
do próprio Congresso... Eles apoiavam todo e qualquer movimento nacionalista.
Você brigava com o governo e fazia um movimento de oposição. Eles apoiavam.
Essa oposição ganhava, chegava ao governo e os comunistas entravam com eles.
Era a chamada do Poder em dois tempos. Uma vez lá dentro, eles davam o tombo
final, o golpe de misericórdia.
Isso
eles fizeram, também, na própria Cuba. O movimento de Cuba, pelo Fidel Castro,
a tal campanha de Sierra Maestra, foi apoiada pelos Estados Unidos. Foi, porque
eles queriam se livrar do Batista, que estava tornando-se nacionalista. O
Batista era um ex-sargento, um fantoche, mas ele começou a desagradar os
americanos, reivindicando uma série de benefícios. Os cassinos, os hotéis, o
jogo, era tudo explorado pelos americanos. Ele começou a querer colocar ordem
no assunto e isso desagradou-lhes. A derrubada do Batista não foi ideológica,
ele não era comunista, ele era nacionalista. Quem era e enganou os americanos,
foi o Fidel Castro. Apoiado pelos americanos, derrubou o Batista, só que ‘o
tiro saiu pela culatra” (General-de-Brigada Celso dos Santos Meyer, Tomo 10,
pg. 141-142).
A renúncia do Presidente Jânio Quadros
A maioria dos entrevistados na
“HISTÓRIA ORAL DO EXÉRCITO/1964” prefere focar o dia 24 de agosto de 1961 como
antecedente próximo do Movimento de 1964, data da renúncia do presidente Jânio
Quadros. Houve uma fissura muito forte dentro das Forças Armadas, especialmente
no Exército, devido à não aceitação do vice de Jânio, João Goulart, para
assumir o governo. Houve deslocamento de tropas do Exército do RS para SC, e de
SP para o PR, porém não houve confronto bélico. Há depoimentos detalhados de
militares sobre essas manobras que alcançaram Lajes e Criciúma.
Após o arranjo do
parlamentarismo, Jango assumiu o governo, mas logo colocou em campo sua massa
de manobra dos tempos em que era ministro do Trabalho de Getúlio Vargas –
pelegos ligados a sindicatos, estudantes, comunistas – e reverteu, em
plebiscito, novamente para o sistema presidencialista, com a ajuda de seu
cunhado Leonel Brizola e sua “Cadeia da Legalidade”, pregada em várias rádios,
especialmente no Rio Grande do Sul.
“Por felicidade, hoje digo
por felicidade e, quando estávamos ultrapassando a divisa de Santa Catarina,
entrando em território gaúcho, veio a ordem para retornar. Naquele período,
soubemos depois, que os deputados reunidos com os ministros militares chegaram
a um acordo. Aí vem a importância, que eu sei que ocorreu, do Tancredo Neves
ter apresentado uma fórmula para evitar aquele derramamento de sangue – o parlamentarismo.
Voltamos – o parlamentarismo foi aceito. O Vice-Presidente João Goulart não
desfrutava mais dos poderes do presidencialismo. Sabemos que não demorou muito,
porque o próprio Tancredo Neves, no cargo de Primeiro-Ministro, fez tudo para
que o parlamentarismo terminasse e se retornasse ao presidencialismo. Essa é
uma passagem importante que vejo na minha vida de tenente” (General-de-Brigada
Durval Antunes Machado Pereira de Andrade Nery, Tomo 10, pg. 158).
República de Trombas e
Formoso
“Quanto
às ‘Ligas Camponesas’, criadas por Francisco Julião, vou relatar uma
experiência pessoal que tem ligação com as mesmas.
Em
1962, recebi uma missão para ir ao meio-norte de Goiás e produzir um relatório
sobre a chamada ‘República de Trombas’. Havia um elemento complicador, pois a
mesma não admitia gente estranha em seu território.
Estimava-se
serem dez mil habitantes a população de toda a área, em sua maioria posseiros,
com maior incidência de baianos e cearenses. De um modo geral, os que
demandavam aquela ‘República’ tinham sempre um passado a esconder, inclusive
condenados pela Justiça. O ânimo de todos era a defesa intransigente de suas
‘posses’. Com a construção de Brasília e da Rodovia Belém-Brasília, passando
próxima ao território da ‘República’, as terras foram valorizadas e novos
proprietários, com documentos legais ou forjados, surgiram na região, atritando
com os posseiros.
O
líder local era o José Porfírio de Souza, homem ‘chucro’, mas com sensibilidade
e carismático. Começou a montar uma cidade com aquela gente que precisava de
terra, traçando os limites da área, ou da ‘República’, como eles mesmos diziam.
Sei que um limite era o rio Tocantins, outra a Serra Dourada, mais a oeste a
Rodovia Belém-Brasília.
(...)
Lá
pude verificar que era uma sociedade organizada no molde socialista. A produção
era entregue à Associação de Lavradores que se encarregava de vende-la em
Anápolis e Goiânia.
A
distribuição de terras, convém frisar, obedecia a alguns fatores. O candidato
recebia a quantidade de lotes dependendo da idade, número de braços para o
trato da terra – filhos e dependentes -, disposição física e, principalmente,
tratar ele mesmo da gleba de ser um ‘associado’.
O
José Porfírio de Souza era uma pessoa muito ligada ao Deputado Estadual de
Pernambuco Francisco Julião, a quem considerava ídolo e orientador. (...)
Notei
que os homens portavam armas, de tipos bem variados. Havia desde as
rudimentares de caça, do tipo ‘espingarda do papo-amarelo’, até boas carabinas.
Organizações do Terreno (OT) eram encontradas nas proximidades do povoado. A
Associação possuía planos para a sua defesa; cada ‘grupo’, conforme a hipótese,
sabia o que fazer.
Quanto
à assistência médica, no caso de serem insuficientes os recursos locais, os
doentes eram levados para Goiânia, onde três médicos, previamente contratados
pela Associação, os atendiam, entre os quais se incluía um notório comunista.
Os
políticos de âmbito estadual e mesmo federal cortejavam José Porfírio, porque
era voto certo. O Vice-Governador já tinha estabelecido contato com ele.
(...)
Então,
a ‘Liga Camponesa’ não estava mais só no Nordeste, mas procurando atuar no
Norte goiano e com probabilidade de expandir-se para Mato Grosso e outros
lugares” (Coronel José Tancredo Ramos Jubé, Tomo II, pg. 329-330).
“As
ações criminosas das ligas camponesas se robusteceram e se ampliaram em virtude
do apoio oficial, sob a influência dos comunistas junto à alta administração
federal. Para se ter uma ideia da gravidade da situação, vou citar o caso do
distrito de Trombas, município de Formoso-GO, com base em documentação oficial
a que tive acesso. Ali existia um cearense, José Porfírio de Sousa, mais
conhecido como Zé Porfírio, que tinha o comando total da área e mantinha
quatrocentos homens em armas. Não se sabe de onde vinha o armamento, mas se
pode imaginar. Quando ocorriam eleições em Formoso, os mil e duzentos votos do
distrito de Trombas iam todos para Zé Porfírio ou para o candidato que ele
apoiasse. Os outros candidatos recebiam ‘zero voto’. Outra área infectada era
Araguaia, famosa, mais tarde, por emprestar esse nome – ‘guerrilha do Araguaia’
– aos focos guerrilheiros que por lá se instalaram. De início, como um núcleo
denominado ‘guerrilha de Xambioá’ ” (Tenente-Coronel Idalécio Nogueira
Diógenes, Tomo 4, pg. 185).
JK coloca Jango na Presidência
“Para se ter uma idéia da
falta de patriotismo e de espírito público da maioria de nossos políticos, vou
contar um fato ocorrido em 1961, por ocasião da queda de Jânio. Estava sentado
numa cadeira, na Companhia Telefônica; no andar de baixo estava o Coronel
Montagna. A telefonista disse: ‘O Juscelino vai falar com o Jango, em Paris.’
Liguei para o Montagna e perguntei: ‘Pode autorizar?’ Autorizou. Na conversa,
ouvi o Juscelino pedir, implorar, a vinda do Jango e este dizer: ‘Eu não, vou
nada, vou nada; aquele pessoal da FAB é um bando de doidos’ – alegava medo de
ter o avião derrubado. Aí o Juscelino respondeu: ‘Rapaz, venha; o que interessa
é o PSD, PTB, o resto que se lasque.’ Quer dizer, o País à beira de uma guerra
civil e um político da estatura do Juscelino pensando em PSD e PTB. Fui
conversar com o Montagna e disse: ‘Meu Deus do céu, e o País, e a Nação?’ Isto
me marcou profundamente: a falta de caráter do homem público brasileiro”
(General-de-Divisão Francisco Batista Torres de Melo, Tomo 4, pg. 72).
“Voltemos um pouco à época
da Legalidade. As coisas se acirraram demais e vivíamos a iminência de uma
guerra intestina muito séria, pois as próprias Forças Armadas estavam
divididas, alguns considerando que na obediência à Constituição estava a
legalidade; não viam o perigo que se corria por detrás disso. Antes, o General
Denys (Odylio Denys), querendo contornar a situação, pedira ao Deputado
Santiago Dantas, muito amigo do Jango, que o convencesse a desistir do governo.
O deputado telefonou para o Vice-Presidente, que estava em Paris, retornando da
China. Foi uma conversa tensa e, quando finalmente chegaram a um acordo, pois Jango
já havia concordado, aqui no Brasil, o Juscelino Kubitschek entrou na sala,
arrancou o telefone das mãos do Santiago Dantas e disse:
- Presidente, não desista.
Venha e assuma o Governo que nós faremos uma frente para apoiá-lo.
O Jango voltou atrás e veio.
Então, a Revolução que eu vivi tem três nomes: revolução redentora,
contrarrevolução e revolução que poderia não ter existido, não fosse a presença
e a ação inesperada do JK” (General-de-Brigada Ramão Menna Barreto, Tomo 13,
pg. 137).
“Juscelino, já Presidente da
República, preocupado com o desenvolvimento do País e com a construção de
Brasília, entregou a área fundamental do Ministério do Trabalho e da
Previdência Social a João Goulart, que a transformou em verdadeira sinecura
político-partidária com a participação de comunistas, aproveitadores e
‘pelegos’ ” (Professor Luiz Queiroz Campos, Tomo 4, pg. 361-362).
“Muita gente pensa que as
cassações foram arbitrárias, como pegar uma lista e ir cortando nomes. Não.
Todas passaram pelo crivo dessa investigação. Tínhamos aviões da Força Aérea
Brasileira (FAB) à nossa disposição e íamos ao lugar onde o sujeito estivesse.
Sentávamos com ele e dizíamos francamente: ‘Sr. Fulano, acontece isso, isso e
isso. Queremos que o Sr. Esclareça.
Fomos buscar documentos nos
cartórios, abrimos as suas dependências para fazê-lo. Fomos buscá-la onde
existisse e, realmente, fizemos um dossiê com tempo suficiente; algumas
daquelas pessoas foram levadas à própria Escola de Comando e Estado-Maior para
um depoimento. Lembro-me muito bem dos depoimentos de pessoas ligadas ao
Presidente Juscelino, que estiveram lá. A equipe que investigava o Juscelino
organizou 17 pastas de problemas ligados ao ex-Presidente. Sabedor que as
pessoas eram chamadas para serem ouvidas, antes que o pessoal fosse ao encontro
dele para conversar, Juscelino pediu autorização e foi embora do País. Esse foi
o problema do Presidente Kubistchek” (Coronel Sérgio Mário Pasquali, Tomo 5,
pg. 189).
Campanha da Legalidade, de
Brizola
“A
Legalidade resultou em uma grande insatisfação nas Forças Armadas e nas classes
políticas não comprometidas com o populismo, o esquerdismo e o comunismo. A
partir de então, e com o apoio de uma corrente de políticos de renome nacional
como Carlos Lacerda, Magalhães Pinto, Ney Braga, iniciou-se um processo de
conscientização da opinião pública, que ajudou a ampliar a fissura existente no
arcabouço político do País e acabou por gerar as ações que passaram a
tumultuá-lo. As Forças Armadas – particularmente uma parte significativa do
Exército – inconformadas com o Governo João Goulart começaram a conspirar”
(General-de-Brigada Egêo Corrêa de Oliveira Freitas, Tomo 8, pg. 213).
“Surgiu
o problema Jânio Quadros [renúncia à Presidência da República]. Em consequência,
vagou a Presidência, que caberia ao Vice-Presidente Jango, em viagem oficial
pela China. Os ministros militares, preocupados, editaram aquela circular,
informando sobre o que poderia acontecer no Brasil. Um jornal da época, Hora
Presente, se não me engano, declarou que não tinha visto ainda uma observação
tão penetrante como aquela declaração.
Como
consequência, teve início o desfile de tendências. O Brizola era o Governador
do Rio Grande do Sul e desencadeou a campanha pela Legalidade. Punha a toca no
telefone, no alto-falante e no rádio, dia e noite. Insultava todo o mundo e
dizia coisas apavorantes como as que ouvei: ‘os postes de luz em Porto Alegre não seriam
suficientes para pendurar os gorilas’. Hostilizava os militares,
procurando desmoralizá-los, chamando-os de gorilas” (General-de-Brigada Ramão
Menna Barreto, Tomo 13, pg. 136).
“Atribuo
a reação da oficialidade jovem contra a subversão, ao estudo da guerra
revolucionária, que começou a ser ministrado na ECEME e na EsAO. O conhecimento
doutrinário proporcionado pelas escolas, e até mesmo aquelas reuniões sobre as
quais já falei, conseguiram formar um arcabouço intelectual adequado para
proteger o militar contra a subversão” (General-de-Brigada Egêo Corrêa de
Oliveira Freitas, pg. 217).
O DITO “ESQUEMA MILITAR” DE JANGO
“O
General Osvino, à frente da Petrobras, pagou todas as despesas com os comícios
da Central do Brasil e do Automóvel Clube. Era o dinheiro da Nação a serviço
dos comunistas e corruptos” (Tenente-Coronel Murilo Walderk Menezes de Serpa,
Tomo 4, pg. 205).
“Os
militares viviam ansiando por um lar onde pudessem viver condignamente com a
família. Aí, João Goulart entrou, prometendo financiamento pleno para a
aquisição da casa própria a quem levasse um requerimento em sua presença. Ele
despachava: ‘Aprovo’, e a Caixa Econômica atendia. Conheci vários militares que
tiveram os seus requerimentos aprovados e adquiriram sua casa própria financiada
pela Caixa Econômica a perder de vista. Desta forma, o Governo considerava que
estava preparando um dispositivo militar que lhe daria total cobertura para
seus planos de implantação da república sindicalista-comunista dos seus sonhos.
Muitos subtenentes e sargentos do Exército foram ao Automóvel Clube do Brasil
naquela noite com o requerimento dentro de uma pasta para conseguir o ‘aprovo’,
que lhes daria o financiamento da casa própria até um determinado valor, como
acontecera com alguns conhecidos meus” (Coronel Italo Mandarino, Tomo 3, pg.
189).
“O
esquema militar foi montado com base em favores e não em adesão espiritual, de
consciência. O General Assis Brasil, através da Presidência da República,
prometia às pessoas, de vários níveis, que se comprometessem com ele, uma série
de favores. Vários coronéis foram promovidos a generais, nessas condições. Ele
influía nas promoções, concedia benefícios financeiros pessoais através de
organizações, como, por exemplo, a ‘Casa dos Sargentos’, ‘Casa dos Cabos’,
‘Casa dos Tenentes’ etc. Ele criou um esquema, mas não era um esquema de
consciência. Quem tinha essa consciência éramos nós.
A
prova disso é que os comandos da Vila Militar quando quiseram deslocar tropas
para nos confrontar, não conseguiram. Era consenso entre eles que, como
deslocavam a tropa na época dos comícios a título de segurança, para dar apoio
e proteção à cidade, a deslocariam em outras ocasiões. Enganaram-se
redondamente. Aqueles deslocamentos envolviam dois aspectos. Oficialmente, por
exemplo, o Batalhão de Polícia do Exército vinha para o comício da Central do
Brasil proteger o povo contra a desordem etc., mas, para eles, a tropa lá
estava porque os apoiava. Imaginavam que era uma adesão à causa deles. Houve,
pois, da parte deles, muita mistificação, e um erro crasso, confundiram as
coisas, e acabaram literalmente derrotados” (General-de-Exército
Carlos de Meira Mattos, Tomo 1, pg. 230-231).
Jango era assessorado por maus conselheiros
“Parece-me que o Sr. João
Goulart estava inteiramente alheio a qualquer problema, por culpa dos seus
auxiliares mais próximos, os quais os historiadores apontam como formuladores
de ilusões. Entre eles, o Chefe do Gabinete Civil, Professor Darci Ribeiro, e o
secretário de imprensa, Raul Ryff. Por isso, tomou como sendo da sociedade
aquilo que os seus assessores pensavam. Mas a sociedade tinha um pensamento
muito diferente e se sentia cada vez mais aflita com aquela situação”
(General-de-Brigada Danilo Venturini, Tomo 15, pg. 152).
Comunista febiano na ECEME
[Na ECEME] Uns poucos alunos
assumiram claramente posição contrária à Revolução. Quando o diretor de ano
suspendeu as aulas, dois deles foram fazer parte de um grupamento que saiu do
Rio e subiu a Serra para barrar as tropas que vinham de Minas, inclusive um
muito conhecido, o Major Granja (Alirio Granja), Oficial de Infantaria que
participou da Força Expedicionária Brasileira (FEB). Profissionalmente era
muito bom, mas comunista convicto. Lembro que durante as manobras que fazíamos
no campo, o Granja não comia a etapa da ração dele. E quando a meninada se
acercava do acampamento, pedindo sobras de comida, ele a distribuía toda,
justificando:
- É um absurdo que existam
brasileiros passando fome.
Algum
aluno ou instrutor foi cassado? [entrevistador]
Instrutor, não me lembro.
Houve algumas cassações de alunos. O Granja foi com o grupamento comandado pelo
General Cunha Mello (Luiz Tavares da Cunha Mello) enfrentar os revoltosos do
General Mourão (Olympio Mourão Filho) e como não tiveram êxito na missão,
apresentou-se na Escola e, de imediato, requereu o seu desligamento e
transferência para a reserva. Era um sujeito correto, e por isso teve sorte. Os
esquerdistas que não se anteciparam, inclusive um colega do segundo ano,
responderam a um inquérito. Tentaram negar qualquer ligação com a subversão,
mas acabaram sendo cassados” (Coronel Hélio Lourenço Ceratti, Tomo 13, pg.
187-188).
Oficiais e praças
alinhados com o governo Goulart tinham preferência para aquisição da casa
própria via Caixa, assim como a aquisição de automóvel
O
Fusca e o Gordini eram o sonho de consumo na época.
Os
sargentos levavam pessoalmente os contratos para financiamento de compra de
casa ou automóvel ao Presidente Goulart, que assinava no ato.
Imagine, hoje, o presidente Jair
Messias Bolsonaro colocando sua Bic em funcionamento, com longa fila de
sargentos paraquedistas gritando “Mito, Mito, Mito”...
“Vivíamos
numa situação financeira muito complicada. Precisávamos de dinheiro para deixar
com a esposa e para sobrevivermos no Rio, e os vencimentos extremamente baixos.
O Presidente João Goulart fazia alguns acenos para captar a simpatia,
principalmente dos paraquedistas, que recebiam financiamento para comprar
carro, normalmente um Gordini, o carro apropriado do momento, o carro se que se
podia ter, desde que se estivesse do lado do governo. Mas vivíamos numa
verdadeira miséria: sábado e domingo, de manhã, à tarde e à noite, íamos para o
rancho da EsAO porque não tínhamos o recurso necessário para fazer um lanche na
rua. Era, de fato, uma situação revoltante. Na Vila, também mantínhamos contatos
com outros oficiais, todos numa angústia muito séria e determinados a fazer
alguma coisa, mas sempre, contidos pelos chefes. Além disso, a EsAO
obrigava-nos a uma dedicação muito grande, pois o curso nos exigia bastante.
Mesmo assim, dávamos umas escapulidas para o Clube Militar, onde a
efervescência era grande: reuniões, debates e tudo mais” (General-de-Exército
Domingos Miguel Antonio Gazzineo, Tomo 4, pg. 34).
Obs.:
Quando fui promovido a 3º. Sargento do
Exército e classificado, como cinegrafista, no Campo de Provas da Marambaia, em
Guaratiba, RJ, em fevereiro de 1972, a situação financeira dos militares era
bem melhor do que nos tempos em que o General Gazzineo fazia a EsAO. Com meus
vencimentos, eu aluguei um quarto em Campo Grande, RJ, me matriculei numa
faculdade de Economia e comecei a pagar a poupança para a entrega de um
apartamento no Engenho Novo, que foi entregue em 1976, passando a pagar, daí em
diante, prestações bancárias durante 25 anos. Ao mesmo tempo, ainda sobrou
dinheiro para entrar num consórcio de automóvel, para aquisição de um Fusca
zero km.
A situação financeira, para os
militares, começou a se degradar novamente durante o Governo Geisel. Tanto é
que tive que vender um Fusca velho para mobiliar o apartamento.
F. Maier
Greves frequentes na
indústria, no comércio e nos meios de transporte, provocando o caos nas grandes
cidades
“Olha,
só vendo o que nós sofremos neste País, onde imperava o caos. Basta lembrar,
aqui, no Rio de Janeiro: a greve do pessoal do gás, obrigando-nos a ter que
comprar ‘fogãozinho’ de querosene para confeccionar as refeições; a greve dos
coveiros do Cemitério São João Batista e lembro, acerca dessa paralisação, um
episódio. Indo ao cemitério, com o General Castello, para o enterro do pai do
General Adhemar Villela dos Santos – o General Castello era amicíssimo dele,
por ligações desde Realengo e do 12º. Regimento de Infantaria, de Belo
Horizonte – vimos os caixões colocados na entrada do cemitério, pois, em
virtude da greve, o sepultamento não era realizado.
Faltavam
feijão, arroz e outros tipos de suprimentos. Não havia transporte para chegar
ao trabalho e sei muito bem disso porque enfrentei esse problema, num período
mais recuado, dentro dos pródromos da Revolução, quando era major, adjuto da
4ª. Seção da Zona Militar Leste (posteriormente I Exército e, atualmente,
Comando Militar do Leste), e tínhamos que atualizar o planejamento para
assegurar o transporte da cidade, no caso da greve dos bondes”
(General-de-Brigada Ruy Leal Campello, Tomo III, pg. 57-58).
“Sabíamos
que era meia dúzia de líderes sindicais que tumultuavam o País. A grande massa
dos trabalhadores não queria saber disso, o que ficou claro com o
desencadeamento do Movimento revolucionário.
Os
agitadores se valiam da massa. Eram sempre as mesmas pessoas que já conhecíamos
bem. Dentre eles, Dante Pelacani, Clodomith Riani, Oswaldo Pacheco (líder da
CGT), Hércules Correia (Deputado Federal), os Ministros Abelardo Jurema e
Amauri Silva e outros mais, figuras extremamente atuantes no processo de
tumultuar, permanentemente, a vida nacional” (Coronel Everton da Paixão Curado
Fleury, Tomo 3, pg. 230).
“Paravam
o transporte no Rio e ninguém conseguia deslocar-se para o trabalho, ou se
interrompiam durante o dia, prejudicavam o regresso para o lar, e isso se
repetia continuamente, toda a semana. Entre outras, greves de hospitais, houve
até greve de coveiros, impedindo que pessoas enterrassem seus mortos, então a
situação era de desordem incontrolada. E falei do Rio de Janeiro como um
exemplo expressivo, mas era assim no Brasil todo, sobretudo nas grandes
cidades” (Coronel Gustavo Petito, Tomo 7, pg. 238).
“Em
agosto desse ano, 1962, o Comando Geral de Greve transformou-se em Comando
Geral dos Trabalhadores, o famoso CGT. Com a eleição do comunista Clodsmidt
Rianni para a presidência do mesmo, o PCB coroava sua hegemonia sobre os
sindicatos, conquistando um poderoso instrumento de pressão, permanentemente
dom ameaças de greve geral.
Em
novembro desse ano, as Forças Armadas desarticularam vários campos de
treinamento de guerrilha. Em 27 de novembro de 1962, a queda de um Boeing da
Varig, no Peru, proporcionou comprometedoras informações sobre o apoio de Cuba
às ‘Ligas Camponesas’. Esses documentos caíram nas mãos do Governador Carlos
Lacerda que, naturalmente, os difundiu à imprensa e criou uma grande celeuma a
respeito desse apoio direto de Cuba às ‘Ligas Camponesas’ ” (General-de-Divisão
Agnaldo Del Nero Augusto, Tomo 5, pg. 98).
“Outra
situação, que visava nos desgastar e antagonizar com a população, pois
sentíamos perfeitamente que era essa a finalidade, consistia nas missões de
segurança das estações da Estrada de Ferro Central do Brasil. Com as constantes
greves, frequentemente recebíamos a missão de ocupar as estações e protege-las
de depredação. No entanto, tal encargo era muito mais um pano de fundo para o
verdadeiro objetivo, que era o desgaste. Determinava-se que apenas dois
soldados permanecessem no local para avisar que não havia trem circulando. As
pessoas ficavam revoltadas” (General-de-Brigada Oacyr Pizzotti Minervino, Tomo
7, pg. 110-111).
“Foi
um período muito tenso. A situação de prontidão era permanente. Parecia haver
um propósito de desgastar não só o militar, mas também a sua família. Parecia
que as próprias autoridades desejavam atingir a nossa base familiar, que ficava
também intranquila; a esposa saía para o trabalho e não sabia se lá chegaria;
nós vínhamos para casa e a esposa não havia retornado, os filhos tinham ficado
presos na escola por conta de fatos os mais diversos, por conta de
greves-relâmpago e outros tipos de distúrbios civis que nós conhecemos”
(Coronal Luiz Carlos Carneiro de Paula, Tomo 9, pg. 287).
“Somente
no Estado de São Paulo, no ano de 1961, realizaram-se 1.700 greves, conforme
registrou Luiz Jover Telles, um dos elementos radicais da Comissão Executiva do
Partido Comunista Brasileiro (PCB), em seu artigo O Movimento Operário em 1961, o que está mencionado no livro ‘A
Grande Mentira’, do General Agnaldo Del Nero Augusto. Eles realmente paravam o
País” (Coronel Nelson Roberto Bianco, Tomo 14, pg. 319).
Infiltração comunista no
meio artístico, no MEC, na Cultura, nos sindicatos, nas escolas, nas
universidades – via UNE
“Meu
primeiro desafio, em 1945 ou 1946, ainda adolescente. Em Santos, onde morava,
concluída a apuração das eleições, passou a ser dominada completamente pelos
comunistas, tanto a Câmara Municipal como, também, os organismos sindicais e
estudantis da cidade. O marxismo para mim, a rigor, representa a negação do
Cristianismo, a negação das minhas convicções religiosas.
Convidei
um amigo, de apenas 13 anos, a iniciarmos um trabalho a fim de mudar o quadro
do setor estudantil. Pensamos que seria bom conversar com Dom Idílio José
Soares, Bispo local, pois a natureza do nosso impulso era religiosa. Ele nos
disse que via com bons olhos o fato de os cristãos assumirem suas
responsabilidades na vida do País e que, portanto, ele não se oporia se
procurássemos organizá-los para enfrentar os comunistas, nos centros estudantis
de Santos. Sem entrar em detalhes, conseguimos organizar uma chapa, visitamos
todos os colégios católicos e ganhamos as eleições, para surpresa dos
comunistas. Fizemos um trabalho de inteligência, de disfarce. Os comunistas
controlavam os mecanismos de movimentação dos estudantes, mas conseguimos que
nossos eleitores chegassem a serem percebidos.
Repetimos
a mesma estratégia nas eleições da União Estadual dos Estudantes (UEE), naquele
tempo presidida pelo Almino Alves Afonso, e o derrotamos. Mais tarde, José
Gregório quis ser presidente e também o derrotamos. Posteriormente, fizemos uma
mobilização a nível nacional com os estudantes udenistas e de outros partidos e
conseguimos derrubar a chapa comunista na União Nacional dos Estudantes (UNE).
Nesse tempo, já era presidente do Departamento Estudantil da União Democrática
Nacional (UDN)” (Doutor José Carlos Graça Wagner, Tomo 7, pg. 366).
“Seguindo a orientação
nacional, o Sindicato dos Estivadores paralisou o porto de Manaus e mandou
colocar barricadas por toda a cidade, inclusive na entrada do 27º. BC. O
Governador era Gilberto Mestrinho, um oportunista aliado de Jango, que ficou
indiferente àquele estado de coisas. (...) Em situação semelhante estavam os
pilotos da FAB, que não podiam ter acesso aos aviões. Neste caso, alguns
soldados desimpediam o acesso, jogavam as pedras no rio e os pilotos decolavam
com seus aviões. Diariamente se armava uma confusão em Manaus, provocada por
‘pelegos’ e outros, que só prejudicava a população. Fechavam o mercado e
ninguém podia fazer sua feira” (General-de-Brigada Manoel Theóphilo Gaspar de
Oliveira Neto, Tomo 4, pg. 95)
Comando dos Trabalhadores
Intelectuais
“As
causas vêm de longe: desde a década de 1930, o Partido Comunista organizou em
células, sindicatos e agremiações de fachada, os ‘trabalhadores intelectuais’ –
conceito surrealista que reunia sambistas a físicos nucleares, professores
primários a banqueiros em transe poético, sem outro vínculo que não a
uniformidade do discurso ideológico, travestida em representatividade cultural.
As defecções após o relatório Kruschev, a preferência crescente da esquerda
pelas modalidades de adesão informais e discretas, não mudaram em nada a
solidariedade de fundo, que sustenta ainda hoje o espírito do unanimismo.
Essa
unidade postiça manteve-se à força de exclusões inconcebíveis. Em 1964, pelo
menos quatro das maiores figuras da nossa inteligência, Manuel Bandeira,
Gilberto Freyre, Augusto Frederico Schmidt e Miguel Reale, tomaram partido do
novo regime. Sua opinião foi imediatamente excluída do rol das ideias
significativas, para criar a impressão de que a inteligência nacional estava à
esquerda, de que no outro lado só havia a força bruta de sargentões iletrados.
Mentira grossa. Farsa comparável, só o pathos
democrático nos discursos de servidores, não raro profissionais, da ditadura
cubana” (Olavo de Carvalho, “O Imbecil Coletivo”, pg. 404).
“Em
1963, a subversão, até então conduzida mais ou menos na clandestinidade,
aflorou. Como não havia certeza do seu sucesso e até como uma forma de pressão,
começou a colocar-se à luz do dia. Nesse ano, foi criado o Comando dos Trabalhadores Intelectuais. Esse Comando, reunindo
nomes como Dias Gomes, Jorge Amado e Ênio Silveira, constituiu-se num baluarte
da propaganda esquerdista. A infiltração comunista se derramou sobre o ensino
em todos os níveis, com a orientação e apoio do próprio Ministério da Educação
e Cultura. A UNE criou centros populares de cultura que submeteram a população
a uma intensa propaganda esquerdista. A UNE, além de receber vultosos subsídios
do Ministério da Educação e Cultura, recebia subsídios financeiros e propaganda
da União Internacional de Estudantes (UIE), uma entidade de fachada do
Movimento Comunista Internacional onde a UNE tinha um representante: um dos
vice-presidentes dessa UIE era da UNE, um brasileiro.
(...)
Atendendo
uma específica orientação da Internacional Comunista, o PCB realizou, em
Niterói – O Governador da Guanabara [Carlos Lacerda] negou a permissão para a
realização do evento em seu Estado – um encontro de solidariedade a Cuba com a
presença de representantes de mais de oitenta países. Apesar das mensagens de
solidariedade enviadas para esse encontro pela União Soviética e pela China, a
vedete do encontro foi Prestes. Este, entre outras pregações revolucionárias,
profetizou que o Brasil teria o privilégio de ser a segunda nação
Latino-Americana, onde o socialismo seria implantado” (General-de-divisão
Agnaldo Del Nero Augusto, Tomo 5, pg. 98-99).
Intentona Comunista de
1935
“A
maioria dos que se dedicam ao assunto crê, no entanto, que o Movimento de 1964
vem do repúdio ao comunismo no meio militar, nascido em 1935, pelos crimes
perpetrados pelos marxistas-leninistas, na Intentona Comunista, levante armado
que irrompeu em Natal, Recife e no Rio de Janeiro, financiado e determinado
pelo Komintern – a Internacional
Comunista -, fundada em 1919 por Lênin, para propagar o comunismo, e
aproveitada por Stálin para promover os interesses da política exterior da
União Soviética.
A
Intentona, conduzida por Luís Carlos Prestes, que entrou no País com passaporte
falso para chefiá-la, contou com 23 estrangeiros para a sua preparação e
execução, dos quais apenas nove foram presos no Brasil após o fracasso do
movimento. Ficou, no seio do Exército e das Forças Armadas, a revolta contra
aquela infame Intentona, na qual os comunistas mataram covardemente seus
companheiros de farda, enquanto dormiam” “General-de-Brigada Geraldo Luiz Nery
da Silva, Tomo 10, pg. 196).
Obs.:
Assim como Prestes, que desencadeou a
Intentona Comunista em 1935, a UNE também recebeu o “Ouro de Moscou” – cfr. http://felixmaier1950.blogspot.com/2020/07/ouro-de-moscou.html.
F. Maier
Ameaça de enforcamentos na
Fábrica Nacional de Motores
“Um
fato me chamou a atenção, logo depois da vitória do movimento. Eu vi, ninguém
me contou. Foi na antiga Fábrica Nacional de Motores (FNM), que funcionava em
Xerém, arredores do Rio de Janeiro, a única fábrica de veículos brasileiros, os
famosos ‘Fenemê’. De serviço, com uma tropa, o que vi lá foi estarrecedor; nos
postes havia escrito o seguinte: ‘Nesse poste será enforcado o engenheiro tal, nesse poste
será enforcado fulano de tal, nesse poste será fuzilado sicrano de tal.’ Os nomes das pessoas estavam escritos pelos
comunistas que dominavam a fábrica e pensavam, um dia, tomar conta de tudo e
assassinar os desafetos. Na FNM, a mais nítida demonstração de qual era a
situação brasileira; as pessoas já tinham local certo e tipo de morte
escolhida, se era enforcamento ou fuzilamento” (General-de-Brigada Ozcyr
Pizzotti Minervino, Tomo 7, pg. 121-122).
Pelegos ligados ao Governo
João Goulart
“Os
pelegos – líderes sindicais ligados ao Governo – faziam comício em lugar
proibido, faziam depredações, ocupações do tipo dos sem teto hoje e invasões de
terras, estas sob o comando das ‘Ligas Camponesas’, que hoje se chamam de
Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), mas fazem a mesma coisa, e
o governo, naquela época, convivia com a desordem por eles promovida,
exatamente como acontece hoje [Governo FHC].
Sabe
o que o CGT e o PUA faziam com os desafetos? Eles agarravam à força as pessoas
e com barras de ferro quebravam as pernas das pessoas, esses sindicalistas,
esses extremistas do PUA e do CGT quebravam as pernas de quem não rezava pela
cartilha deles.
O
PUA inventou uma arma terrível, e o Departamento de Ordem Política e Social
(DOPS) apreendeu várias delas antes e depois da Revolução. Eles pegavam toco de
cabo de aço usado em atracação de navio, amarravam numa ponta, fazendo uma
espécie de uma empunhadura de espada e a outra ponta eles desfiavam para ficar
ouriçado e usavam aquilo como chicote, como rebenque para cortar qualquer
recalcitrante. O sujeito queria romper a greve, então tomava uma rebencada, que
rasgava o sujeito todo e ia parar no pronto-socorro. Era assim que eles agiam,
na ‘democracia’ ” (Coronel-Aviador Gustavo Eugenio de Oliveira Borges, Tomo 10,
pg. 293).
“Os
Ministros, inclusive os militares, temiam o CGT, o Comando Geral dos
Trabalhadores, que mandava mesmo, tendo como secretário-geral Dante Pelacani,
cujas ordens faziam curvar-se o Ministro do Trabalho, Amauri Silva, que não
realizava nenhuma nomeação para cargo de direção sem a aprovação de Pelacani” (General-de-Exército
Mario Orlando Ribeiro Sampaio, Tomo 11, pg. 32-33).
Movimento de Cultura
Popular
“Além
disso, o Movimento de Cultura Popular, que foi uma criação do Miguel Arraes, do
Gregório Bezerra, que era o homem que mandava nesse negócio, fazendo cartilhas
preparadas no sentido de ‘fazer a cabeça’ daquela juventude; inclusive, uma das
publicações dessa cartilha se chamava ‘O Tijolo’, e nela constava o seguinte:
‘Como é que é feito o tijolo? É tirado da terra, a terra é do agricultor, que é
pobre. E esse tijolo é feito por quem? É feito pelos operários, pobres. E para
quê? Para fazer a casa dos ricos’. É tudo uma sequência para ‘colocar na
cabeça’ dos pobres que eles estavam sendo explorados pelos ricos; então, o
exemplo era o tijolo, as coisas eram concebidas dessa forma”
(General-de-Exército Mario Orlando Ribeiro Sampaio, Tomo 11, pg. 33).
Ligação criminosa do
apátrida Prestes com Moscou
“Em
março [1964], houve um fato importante. Prestes voltou a Moscou e foi
encontrar-se novamente com Kruschev, com Suslov e, agora, com Brejnev, que
viria a substituir Kruschev e apresentou o que ele tinha feito nesses dois
anos: o trabalho de massa, inclusive a infiltração nas Forças Armadas. Veio de
lá com a aprovação da União Soviética, inclusive com a proposta de
financiamento para a Usina de Itaipu, que já era cogitada, naquela época. Ele
relatou o seu encontro para o Goulart. No dia 13 de março de 1964, realizou-se
o primeiro desses comícios no Rio de Janeiro, na Praça da República, entre o
prédio do Ministério da Guerra e a estação da Central do Brasil. Valendo-se de
transportes oferecidos por órgãos estatais [como a Petrobras] e do natural
afluxo de pessoas no final da trade em direção à estação da Central do Brasil,
o chamado ‘comício da reforma’ reuniu cerca de cem mil pessoas. No comício,
faixas pela organização do Partido Comunista, distribuição de armas ao povo
etc. e tal; e a situação de agitação já criava uma ansiedade, uma instabilidade
na população” (General-de-Divisão Agnaldo Del Nero Augusto, Tomo 5, pg.
100-101).
Jango fazia questão de
desprestigiar as Forças Armadas
“Quando
o Presidente chegou mais ou menos na testa da Academia, as pessoas postadas nas
sacadas e janelas dos edifícios situados no outro lado da Avenida começaram a
aplaudi-lo e a jogar papel picado. Ele passou a AMAN em revista ficando o tempo
todo de costas para nós, respondendo e agradecendo os aplausos e acenos da
população. E aqueles cadetes de todos os cursos que estavam ali em forma – na
maioria do terceiro e último ano – ficaram descontentes com a atitude e o pouco
respeito do nosso Comandante Supremo para com a Academia.
Este
fato nos causou uma indignação muito grande. Talvez até tenha sido algo pequeno
e irrelevante, mas os comentários entre os cadetes se prolongaram ao longo dos
meses, até o final do ano. A revolta por ele ter passado de costas para nós
fundamentou, na grande maioria da turma de 1963, até mesmo naqueles que tinham
uma tendência de esquerda, uma forte aversão ao Jango. Ficamos inconformados
com a atitude dele” (General-de-Brigada Flávio Oscar Maurer, Tomo 8, pg. 307).
Desabastecimento geral de
gêneros alimentícios; o Exército passou a distribuir feijão e arroz no Rio de
Janeiro
“Ultrapassado
o período da renúncia de Jânio Quadros, passamos a viver momentos difíceis,
sacrificados mesmo. Por exemplo, o GO 155, e outras Unidades, como o Primeiro
Regimento de Obuses 105 (1º. RO 105, sistematicamente ocupavam as estações de
trem, a fim de manter a ordem; a todo instante irrompiam os ‘quebra-quebras’
que as gente chamava de ‘quebra-quebra feijão’. Chegou a ponto de as Forças
Armadas serem incumbidas de comercializar gêneros alimentícios nas ruas.
Saíamos com uma viatura de cinco toneladas, abarrotada de arroz para vender à
população, por força de determinação do governo. Isso acontecia em São João de
Meriti, em Nova Iguaçu, em Nilópolis, sempre enfrentando sérios problemas. O
povo sofrido queria o produto e nós – um 2º. Tenente, um sargento, um cabo
motorista e um soldado – tínhamos que fazer das ‘tripas coração’ para conseguir
controlar a multidão” (Coronel Hahenderson Vieira, Tomo 5, pg. 276).
“Houve
uma ocasião em que o Governo João Goulart bloqueou a saída de arroz do Sul do
País, impedindo-o de chegar a São Paulo e Rio de Janeiro. O Governo culpava os
plantadores do Rio Grande do Sul e os capitalistas pela falta de arroz, mas, na
verdade, sabíamos do bloqueio que era feito. Numa jogada demagógica, fomos
obrigados, por determinação de Goulart, a utilizar os caminhões militares para
distribuir na rua o pouco arroz que chegava. Formavam-se filas intermináveis.
Alguns sargentos mais jovens, muitas vezes, quando iam entregar o arroz, viam
uma moça bonita e para namorar a jovem acabavam facilitando a entrega. Tal
procedimento, como era de se esperar, provocava tumulto e confusões terríveis,
envolvendo o Exército” (General-de-Brigada Oacyr Pizzotti Minervino, Tomo 7,
pg. 110).
Obs.
Na enchente de 1983, em Santa Catarina,
eu soube que na região de Joaçaba uma moça se tornou amante de um oficial da
PM, e sua família passou a receber produtos não perecíveis que dava até a
próxima enchente.
F. Maier
Lista negra do General Assis Brasil
“Durante o Comando do
General Jair, até maio de 1963, quando foi convidado para o cargo de Ministro
da Guerra, aconteceram as transferências dos oficiais que, em 1961 e também
mais tarde, havia sido considerados pelo agora General Assis Brasil e comparsas
como contrários à posse e à permanência do Vice-Presidente no governo. O
curioso é que, dentro do nosso limite de atuação, a expressiva maioria dos
oficiais, que foi movimentada como ‘castigo’, era favorável à solução
constitucional, isto é, à posse do Vice-Presidente João Goulart.
Trouxe aqui uma cópia de
documentos encontrados em 1964 na residência do Brizola, nos quais o General
Assis Brasil [Chefe da Casa Militar do Governo Jango] acusa seus colegas de
farda de serem opositores ao Governo do Jango. Nesta nota está a relação dos
oficiais sujeitos ao pedido de afastamento: Raphael Zipin, Milton Baptista
Pereira, Telmo de Oliveira Sant’Anna (Asperante da Arma de Cavalaria de 1940),
Jayme Moreno e Décio Barbosa. Estou eu aqui nesse pacote, sei lá por quê; Mas
um fato interessante: essa movimentação, como já falei, só foi acontecer depois
de 1961
“Vivíamos, em nossos
apartamentos [da EsAO], em clima de tensão, porque corria muita história, muito
boato e o que ocupávamos dava a frente para a Brigada Pára-quedista. Dizia-se
que os sargentos para-quedistas iriam tomar aqueles apartamentos e nos prender
ou qualquer coisa assim. Dávamos guarda à noite, armados, era uma escala de
serviço que durou os 15 dias que antecederam a Revolução. No dia do Movimento
estávamos escalados de serviço” (General-de-Exército Domingos Miguel Antonio
Gazzineo, Tomo 4, pg. 35).
“Já no Mec [3º. Regimento de
Reconhecimento Mecanizado], a situação ficou muito difícil porque havia uma
nítida separação [entre oficiais e sargentos]. Durante o dia parecia tudo
normal, mas à noite os oficiais dormiam no pavilhão da administração e os sargentos
nos esquadrões e cada grupo dava ronda para o seu lado, separados, como se
estivessem se protegendo uns dos outros. Quando clareava o dia, a tranquilidade
voltava ao quartel, era como se nada houvesse acontecido. Tudo porque realmente
o Comandante nunca chamou os oficiais e sargentos para dizer o que estava
acontecendo e de que lado estava a Unidade” (General-de-Divisão Lélio Gonçalves
Rodrigues da Silva, Tomo 8, pg. 161).
“Quando estava na ECEME, nos
dias que se seguiram à Revolução, cheguei a ser telefonista de dia revezando
com o Malan. Num desses telefonemas, dado por pessoa desconhecida, recebi o
seguinte informe: os senhores estão querendo prender o Almirante Aragão – o
almirante Fuzileiro Aragão era elemento altamente subversivo. E, eu disse:
‘gostaríamos sim’. E me informaram: ‘Se quiserem prendê-lo, ele agora está na
casa de uma senhora de quem ele é amante. Ele era chegado a essa atividade que
aliás era uma atividade interessante – ser mulherengo.
(...)
Com a decisão do General
[Mamede], foi pedido ao Almirante Heitor, já falecido também, que fosse
prendê-lo com alguns fuzileiros contrários ao Almirante Aragão. E, assim foi
feito, e, desta forma, ele acabou preso” (Coronel Hernani D’Aguiar, Tomo 9, pg.
173-174).
“Com a renúncia do Jânio
Quadros e com a posse do Presidente João Goulart, o General Santa Rosa foi
nomeado comandante. Ele assumiu o comando da Brigada, ainda, com a denominação
de Núcleo da Divisão Aeroterrestre. Ele vinha do Rio Grande do Sul, estava com
o Governador Leonel Brizola.
(...)
Os oficiais e sargentos de
todas as unidades paraquedistas se reuniram naquela sala. Fui conhecer o novo
comandante – General Santa Rosa – e fiquei surpreso, levei um susto, um susto
muito grande, porque ele subiu numa mesa, num tablado, nós sentados – oficiais
e sargentos – e disse assim: ‘Quero falar com os sargentos paraquedistas, quero cumprimentá-los
porque vocês não cumpriram as ordens de seus oficiais’. Era
inadmissível para mim, presenciar o General comandante em flagrante desrespeito
aos princípios basilares da Instituição.
Diante de tal absurdo,
passamos a nos envolver cada vez mais naquele movimento para derrubar, destruir
aquele império – o soviético – que usava um movimento que se chamava Movimento
Comunista Internacional, pretendendo ocupar um país continental, o Brasil,
geoestrategicamente área de influência e de interesse do outro império – o
norte-americano. Sentimos que a ameaça era muito maior do que aquela que
tínhamos imaginado e precisávamos, sim, o mais rápido possível, acelerar aquilo
e evitar o mal maior, porque a disciplina começou a cair visivelmente. Como um
General-de-Brigada assume um Grande Comando de uma tropa tão preparada como a
nossa e o seus primeiro ato é pregar a indisciplina, é jogar os sargentos contra
os oficiais? Aquilo foi demais para mim” (General-de-Brigada Durval Antunes
Machado Pereira de Andrade Nery, Tomo 10, pg. 160).
“No IME, não sentimos o
problema da indisciplina porque, como alunos, não tínhamos subordinados, éramos
responsáveis por nós mesmos. Mas sabíamos que nos quartéis havia problemas
sérios de indisciplina. Certo dia, perto do Iate Clube, na Avenida Pasteur,
encontrando um amigo, Capitão-Tenente, que servia numa Unidade da Marinha, no
Rio de Janeiro, ele me contou que partira para a luta corporal com um cabo, seu
subordinado, que se recusava à ordem de faxina.
Ora, quando uma Força Armada
chega a uma situação dessa natureza, é sinal de que estamos diante de uma
crise. Pois se a disciplina e a hierarquia – esteios da Instituição Militar –
deixam de existir, algo vai muito mal. Infelizmente, era este o quadro
precedente à Revolução. Oficiais da alta hierarquia das Forças Armadas,
principalmente do Exército e da Marinha, davam-nos maus exemplos. O Almirante
Aragão, Comandante do Corpo de Fuzileiros Navais, era chamado de ‘almirante do
povo’ ” (Tenente-Coronel Affonso Taboza Pereira, Tomo 12, pg. 218-219).
General queria saber o que a “laboriosa classe dos sargentos
precisava”...
“Um general que eu tinha em
algo conceito inspecionou o Regimento e foi uma decepção para mim. Havíamos
preparado vários temas táticos para que, mediante escolha dele, pudéssemos
realizar uma demonstração no terreno. Terminada a inspeção da tropa, ele reuniu
os sargentos no ginásio do 18º. e perguntou – palavras que me repetiram; eu não
escutei – o que
a laboriosa classe dos sargentos precisava.
Ora, no Exército não existe
classe, existe hierarquia. Como é que um general vem nos inspecionar e fala em
classe dos sargentos? E a decepção foi maior, porque ele retirou-se do
Regimento sem ouvir ninguém sobre a eficiência da Unidade, nem a mim que estava
encarregado da instrução e a nenhum outro oficial. Nós nos preocupávamos com
isso” (General-de-Brigada José Mattos de Marsillac Motta, Tomo 13, pg. 104).
O medo generalizado dos
oficiais, que desconfiavam dos praças quando tiravam serviço de oficial-de-dia,
devido às incitações de Brizola
O “esquema militar”,
alardeado pelo Chefe da Casa Militar de Jango, general Assis Brasil, de colocar
praças das Forças Armadas contra oficiais, trouxe funestas consequências. A
desconfiança era total. O oficial-de-dia da Unidade não dormia, ficava a noite
toda fazendo ronda, com a arma engatilhada, com medo de ser assassinado
enquanto dormia no seu quarto (Lembrai-vos de 1935!). Os “laranjeiras” também
não tinham sossego. Era um clima de terror, não se sabia em quem confiar.
“ ‘Lisbôa, tome cuidado.
Ainda existem aqui no quartel algumas alamedas sem nome’. Novo na Unidade,
procurei informar-me e fiquei ciente de que as alamedas tinham o nome de
militares mortos em serviço... A partir daí, recordando-me dos ensinamentos de
1935, tirava serviço a cada três dias, mas não me recolhia durante a noite para
o quarto destinado ao oficial-de-dia, localizado no corpo da guarda. Agindo com
mais cautela, passei a andar pelo quartel atento a tudo e, quando exausto,
entrava na boléia de qualquer viatura para dar uma breve ‘cochilada’.
O ambiente era tenso. Os
tenentes passaram a concorrer a outra escala de serviço, a de Comandante de
Pelotão de Choque, devendo estar preparados para serem empregados,
particularmente nas estações da Estrada de Ferro. Algumas vezes desloquei-me
para Deodoro, ocupei a estação com os meus soldados e, pelo menos em duas
ocasiões, deparei-me com a difícil situação de ter que me confrontar com
badernistas que tentavam quebrar os trens. Na missão, quase sempre indefinida
que recebia de meus superiores, apesar de inquirir a respeito, nunca me foi
dada explicitamente a ordem de ‘quando atirar’. A idéia que tinha era de que
estava ali como uma espécie de ‘bucha de canhão’, com a finalidade de permitir
criar uma situação difícil e incômoda, envolvendo o pessoal militar que, na
realidade, atendesse a outros objetivos não claramente explícitos.
(...)
Certa vez fui à 3ª. Bateria
(os mais perigosos estavam reunidos nas 1ª. E 3ª. Baterias) procurar o Tenente
Amorim. Ele era o Diretor do Curso de Formação de Cabos (CFC) e,
intencionalmente, não coordenava a instrução com os tenentes das Baterias.
Certamente, agia assim na tentativa de desestabilizar a Unidade e estava
conseguindo o seu objetivo, pois a instrução de cabo era um verdadeiro caos...
Encontrei-o na reserva dos sargentos recebendo, de um deles, detalhada
orientação sobre ‘ordens’ que deveriam ser seguidas. Perplexo, observei que o
referido tenente estava sendo enquadrado pelo sargento, em flagrante inversão
de todos os valores hierárquicos que conhecia. Compreendi, naquele momento, que
alguma coisa de grave estava para acontecer...” (Coronel José Carlos Lisbôa da
Cunha, Tomo 3, pg. 340).
“Em
1922, fundou-se o Partido Comunista Brasileiro, cujo chefe maior foi Luís
Carlos Prestes. Daí para frente, os comunistas brasileiros, orientados pela III
Internacional Comunista – Komintern – e apoiados por Moscou, começaram a
articular um movimento para implantar no Brasil o regime comunista. Este
movimento se desencadeou em novembro de 1935, começando em Natal-RN, com a
deposição e prisão de autoridades, com assaltos, sequestros, estupros e todo
tipo de violência. Estendeu-se para o Recife, onde houve confrontos e mortes
entre as forças da ordem e bandos comunistas armados. Tornou-se mais grave no
Rio de Janeiro. Na noite de 27 de novembro de 1935, foram atacados vários
quartéis e mortos 28 militares, enquanto dormiam em seus alojamentos. O mais
brutal desses ataques ocorreu no 3º. RI, na Praia Vermelha. Essa Intentona
Comunista de 1935, por suas características de traição e perversidade,
traumatizou a alma brasileira e vacinou o nosso militar contra essa ideologia
malsã. Foi, portanto, um marco deplorável na vida nacional e o antecedente
preponderante da Revolução de 1964” (General-de-Brigada Manoel Theóphilo Gaspar
de Oliveira Neto, Tomo 4, pg. 94).
“De
um modo geral, nos quartéis, existia sempre uma minoria muito atuante, cooptada
para implantar uma espécie de um processo de insubordinação. Havia um ambiente
de muita insegurança e, pior, de desconfiança, uma coisa que nunca vira
anteriormente. Havia uma desconfiança um do outro. Ninguém sabia quem era quem
ali, ou seja, quem era a quinta-coluna, que ali estava para gerar a
indisciplina. O quadro fazia-nos lembrar a Intentona de 1935, na qual os
comunistas, obcecados pela sua ideologia descabida, mataram seus colegas
dormindo. O postulado que eles obedecem cegamente é aquele que volto a
salientar – os fins justificam os meios” (Coronel Audir Santos Maciel, Tomo 11,
pg. 147).
A atuação
desestabilizadora das Ligas Camponesas, de Francisco Julião, principalmente em
PE, com apoio de Miguel Arraes, e dos Grupos dos Onze, de Brizola,
principalmente no Sul do Brasil
“Esse
homem, Francisco Julião, inclusive foi eleito deputado federal, aproveitou a
situação existente e veio a criar, naquela região, as ‘Ligas Camponesas’,
espécie de quistos, perigosos e difíceis de controlar. O Governo do Estado de
então, Miguel Arraes, estava de acordo com isso tudo e, também, o Professor
Paulo Freire, organizador de uma cartilha que ensinava a ler assim: ‘Letra ‘f’
– ‘f’ de fome. O Brasil tem fome” (General-de-Brigada Ruy Leal Campello, Tomo
III, pg. 60).
“As Ligas Camponesas foram
criadas em 1958 por Francisco Julião. Até 1961, a proposta ressaltada por
Julião era decididamente correta, pois recomendava a utilização de instrumentos
legais para reivindicar, organizar e atribuía papel privilegiado aos advogados.
Em 1961, já existiam federações das Ligas em dez Estados e foi fundado o
Conselho Nacional das Ligas Camponesas, com representação em 13 estados. Mas,
nesse ano, Julião visita Cuba e de lá retorna com o pensamento impregnado pelas
ideias locais. Abandona a orientação seguida até então e passa a pregar uma
concepção socialista coletivizante de reforma agrária, passando as Ligas a
representarem os focos de atração do movimento camponês. Julião se manifesta,
nacionalmente, através das Ligas e, em 1963, procura ampliar a ação das mesmas
criando o Movimento Unificado da Revolução Brasileira (MURB), que englobaria,
numa frente única, os setores radicais da subversão. Embora Julião mantivesse
estreitas ligações com o PCB, o seu movimento inspirava-se nas ideias da China
Popular e de Cuba. Já em 1962, no dia 21 de abril, lançava, em Ouro Preto, o
Movimento Revolucionário Tiradentes (MRT) e pregava a reforma agrária, ‘na lei
ou na marra’. Comprou fazendas e nelas instalou campos de treinamento de
guerrilhas. Essa maneira de agir veio enfraquecer o movimento das Ligas. O MURB
contava com o apoio de elementos treinados em Cuba, na União Soviética e na
República Popular da China e poderia ter-se transformado em executor de uma
ação armada de guerrilha rural de vulto, não fora o Movimento de 1964.
Em outubro de 1961, foi
lançada, em Goiânia, a Frente de Libertação Nacional, sob a liderança dos
governadores estaduais Leonel Brizola, Mauro Borges e Miguel Arraes, e de
Francisco Julião; Barbosa Lima Sobrinho, Bento Gonçalves e várias outras
pessoas, escolhidas para mascarar a nítida orientação comunista, estavam
presentes. A Frente era uma tentativa de
formação de uma frente única, de caráter amplo, inspirada no nacionalismo e
fundamentada nos motivos de emancipação econômica do País. Ressurgia, assim,
até com semelhança no nome, a Frente Democrática de Libertação Nacional,
lançada por Prestes em 1950, por intermédio do Manifesto de Agosto, coo é
conhecido. A Frente não era inteiramente ligada ao PCB, porque nela
predominavam as tendências chinesa e cubana” (General-de-Exército Sebastião
José Ramos de Castro, Tomo 1, pg. 120-121).
“Francisco Julião esteve em
Cuba, fez curso de guerrilha rural, e todos nós sabíamos disso. Peguei essa
fase em 1961, 1962, aqui em Pernambuco, quando aconteceu aquela greve geral dos
estudantes secundaristas, em 1961, e o Governo Federal mobilizou tropas do
Exército.
Do Rio de Janeiro veio a
tropa paraquedista, veio tropa da Marinha, e tropa da Paraíba...
A greve geral foi estimulada
por quem? Pelos ativistas comunistas e teve todo o apoio do Governo do Estado,
que não mobilizou a Polícia para reprimi-la. O Exército é que foi para a rua
acabar com a greve” (Coronel Clidenor de Moura Lima, Tomo 6, pg. 116).
“As ligas camponesas, aqui
no Nordeste, particularmente na Paraíba e em Pernambuco, faziam, talvez, pior
do que o MST de hoje, porque ameaçavam diretamente com invasões armadas e
apregoavam o apoio que recebiam de Cuba.
Sabíamos que era real, não era sonho, porque tínhamos informações e conhecíamos
perfeitamente o mecanismo que usavam. Isso nos preocupava profundamente, a tal
ponto de o comandante da Base Aérea – o Coronel Hipólito, que também
participava dessas reuniões – querer derrubar o avião do Jango, aproveitando-se
de uma viagem dele para apoiar as ‘Ligas Camponesas’, na Paraíba. Mais calmos,
o comandante do 23º. BC, eu e o Dr. Armando Falcão convencemo-l0 de que aquilo
era inoportuno, já que o Sr. João Goulart, depois, seria endeusado”
(Tenente-Coronel Idalécio Nogueira Diógenes, Tomo 4, pg. 179).
“Muito superficialmente, as
Ligas Camponesas foram herdeiras naturais das primeiras tentativas feitas no
campo para mostrar força e poder, pressionando os órgãos do Governo que
tratavam do setor de terras. Lembro-me de que começaram no Estado do Rio de
Janeiro. A Fábrica Nacional de Motores (FNM) foi invadida sob o comando do
falso Padre Aníbal. No campo agrário propriamente considerado, foram frequentes
os distúrbios e invasões chefiados pelo Deputado Francisco Julião. Realizaram
marchas sobre engenhos e fazendas, especialmente no Nordeste. O primeiro nome
das Ligas foi Bloco Operário Camponês. Invasões semelhantes foram levadas a
cabo, também, no Rio Grande do Sul.; depois, realizou-se em Goiânia, o
Congresso dos Camponeses Sem Terra para estabelecer os objetivos do Movimento.
Quanto ao ‘grupo dos onze’,
sob liderança de Leonel Brizola, jamais chegou a tornar público os estatutos
desta organização. Todas as sextas-feiras, utilizando o rádio, apresentava
ideias sobre os grupos que chamava de Comandos Nacionalistas ou ‘grupo dos onze’.
Deixava transparecer que a eles caberiam tipos específicos de missão: uma
ofensiva, em qualquer caso de golpe, fosse qual fosse sua origem. Se eles
fossem dar um golpe, poderiam contar com a participação desses grupos, como
também nas medidas preliminares de defesa.
Em 30 de novembro de 1963,
afirmou Brizola: ‘Estes grupos não estão sendo organizados para fazer crochê,
jogar cartas ou tomar chá. Estão sendo organizados para a ação’. Mas era voz
corrente que o mais importante dessas ações seria a neutralização por ou mesmo
a destruição dos chefes militares. O grosso desses grupos era constituído por
comunistas militantes ou por simpatizantes das três Forças Armadas,
principalmente, graduados e soldados” (Coronel Hernani D’Aguiar, Tomo 9, pg.
175-176).
“Tanto as ‘Ligas Camponesas’
de Francisco Julião, que agiam no Nordeste, particularmente em Pernambuco, com
a tolerância do Governador Miguel Arraes, quanto os ‘grupos dos onze’, cuja
formação, em todo o País, era fomentada pelo Governador do Rio Grande do Sul,
Leonel Brizola, para agirem como uma milícia paramilitar, estavam no contexto
da preparação da tomada do Poder e implantação no Brasil de uma República
Popular Sindical.
Além desses, podemos citar:
O Movimento Cultural Popular
(MCP), organizado em Pernambuco por Gregório Bezerra, notório comunista,
egresso de 1935, com o objetivo de conscientizar os estudantes com relação aos
jargões comunistas; o Comando Geral dos Trabalhadores (CGT), braço sindical a
serviço de Jango, como arma para a implantação da tal república sindicalista”
(General-de-Exército Carlos Tinoco Ribeiro Gomes, Tomo 10, pg. 33).
“Posso dizer que as ‘Ligas
Camponesas’ e os ‘grupos dos onze’, na verdade, foram blefes. Eram usados pela
imprensa, faziam estardalhaço, mas sentir a existência... e a ação... Não houve
nenhuma, absolutamente. Apenas no interior de Goiás foram apreendidos uns
caixotes com armas que eram destinadas ao ‘grupo dos onze’, mas o pessoal fugiu
e nunca mais apareceu. Havia um oficial amigo do Jango, Coronel Seixas, responsável
pela repressão, e que, ao invés de mandar aquelas armas para o Exército, enviou
para a Presidência da República. As armas tinham vindo de Cuba” Coronel Renato
Brilhante Ustra, Tomo 5, pg. 256).
“A partir desses quatro ou
cinco dias após o 31 de março, começaram a ocorrer aqui alguns inquéritos.
Prenderam muitas pessoas envolvidas com terrorismo, outras com guerrilhas e
corrupção. Trabalhei num inquérito do Banco do Brasil. Também participei, nesse
período, até o final do ano, da prisão do Francisco Julião. Muito inteligente,
nunca tentou esconder nada, sempre se confessou esquerdista, comunista
convicto, e que não iria mudar a posição dele. Era uma conversa muito
interessante. Durante um serviço que tirei no Batalhão, Como oficial de dia,
solicitou a Bíblia, porque não tivera tido oportunidade, na vida, de ler o
Livro Sagrado” (Coronel Carlos Fernando Freitas Almeida, Tomo 5, pg. 293).
“Existia um médico comunista
em Goiânia que reuniu um pessoal das ‘Ligas Camponesas’ e começou a marcar as
portas e janelas das casas daqueles que concordavam com a Revolução e não eram
a favor do comunismo. Isso aconteceu antes e nos primeiros momentos após o 31
de Março; esse pessoal, dizia-se na cidade de Goiânia, seria fuzilado!”
(Coronel Gabriel Antônio Duarte Ribeiro, Tomo 6, pg. 82).
“Na Paraíba, o Governador
Pedro Gondim não era de confiança dos militares, em virtude de suas atitudes
populistas; os integrantes das Ligas Camponesas faziam passeatas armados de
foices, principalmente nas cidades próximas das usinas (de açúcar); os
portuários, também, em Cabedelo, faziam comícios agressivos, procuravam o apoio
das Ligas do Francisco Julião.
Se um militar chegasse
fardado na região portuária de Cabedelo, eles mostravam seu desapreço, eram
acintosos.
(...)
Antes da Revolução de Março
de 1964, houve casos de invasão de usinas. Em Goiana, PE, redundou na morte de
empregados e policiais, assassinados pelos camponeses revoltados.
A cidade de Cabedelo, PB,
foi invadida por camponeses armados que ocuparam até prédios públicos, como a
prefeitura; o povo se escondeu daquela massa, isso a cerca de 18 km de João
Pessoa” (Coronel Expedito Bandeira de Araújo, Tomo 6, pg. 154-155).
“O senhor tem conhecimento
de alguma atividade que estaria prevista par o dia 1º. de maio de 1964?
Aqui em Recife, um desfile
das célebres ‘Ligas Camponesas’ e de trabalhadores rurais. Já existia até
uniforme: um macacão, faltando apenas um bordado que seria colocado na lapela,
estampando a foice e o martelo. Estive com esse uniforme em minhas mãos.
Como chegou às suas mãos?
Por ser intendente, conhecia
o pessoal que fabricou o macacão. Não me lembro do nome da firma, da confecção
que os fez, mas localizava-se na Rua da Matriz; não sei se apenas ela” (Coronel
Clycio D’Azevedo, Tomo 6, pg. 145).
“Os fatores internos
começaram muito antes de 1964. Já em 1961 o manual de guerrilha do Che Guevara
era distribuído no Brasil pelo Partido Comunista Brasileiro (PCB) e no Nordeste
foram implantadas as ‘Ligas Camponesas’. Tudo uma repercussão ou consequência
interna de um fator externo, a guerra fria grassava no mundo da época. A União
Soviética e todos os seus satélites – Alemanha Oriental, Checoslováquia, Cuba
etc. exportavam revoluções para os países do Terceiro Mundo. Dissidentes apenas
sobre os métodos a serem adotados, também a China e seus aliados buscavam a
tomada do Poder e a implantação do socialismo, em escala mundial, através de
movimentos revolucionários” (General-de-Brigada Daniel Lomando Andrade, Tomo 8,
pg. 235).
“Para se ter uma ideia da
situação antes do Movimento Democrático, as ‘Ligas Camponesas’, chefiadas por
Francisco Julião, invadiam fazendas, desrespeitando o direito de propriedade. O
presidente da Superintendência da Reforma Agrária (SUPRA), João Pinheiro Neto,
pregava as invasões de terras, a violação do direito de propriedade, incêndio
de lavouras, matança de gado, enfim a quebra do setor produtivo agrícola. Numa
dessa pregações, em Curvelo, o povo da cidade o expulsou a tiros para fora de
Minas” (Doutor Carlos Eduardo Guimarães Lousada, Tomo 7, pg. 348).
“As ‘Ligas Camponesas’ nada
mais foram do que uma instrumentalização feita em homens bons, em homens que
estão precisando de ajuda ainda hoje. Sou nordestino, não tenho nada que ser
contemporizador com a mentalidade dominante de certa camada do Nordeste, que
conheço muito bem, que sufoca, que priva da dignidade o ser humano. Mas não é
reduzir isso somente para o usineiro. Não é só o usineiro, somos todos nós.
Então, resumiria assim: esse
absurdo de não ter havido – não chamo a reforma agrária – o desenvolvimento
agrário no Brasil, capaz de solucionar o problema das demandas dessa gente, que
precisa de terra ainda hoje. E isso foi, entre outras bandeiras sociais,
assumidas pelo senhor Francisco Julião, que as transformou através de cartilhas
que foram apreendidas – e eu li algumas delas, em instrumento da subversão
comunista, no campo. Então, ninguém precisa me ensinar essas coisas. Cartilhas
ensinando a violência e armamento foram apreendidos nos aparelhos das ‘Ligas
Camponesas’. Em
Minas Gerais, em 1962, foi apreendido um ônibus da Faculdade de Arquitetura da
Universidade de Minas Gerais que estava se deslocando lá para o Nordeste com um
carregamento de armas.
(...)
No seu discurso de posse,
ele [Castello Branco] foi até o Estatuto da Terra, que ainda hoje é o melhor
documento que existe no Brasil sobre isso. Pois bem, aonde existia a
possibilidade de compatibilizar este objetivo a ser atingido – não digo nem
ideal – com a reforma agrária na marra, na violência, na usurpação, na loucura,
na cegueira, no fanatismo, inspirado no exemplo de Cuba, que muito encantava os
nossos líderes socialistas? Essas ‘Ligas Camponesas’ nada mais eram do que
braços políticos que estavam sendo transformados em braços armados da guerrilha
rural” (Coronel Francimá de Luna Máximo, Tomo 11, pg. 222-223).
“Entendo bastante do ‘grupo
dos onze’ porque fui designado para fazer um IPM (Inquérito Policial Militar)
desses grupos. Sobre as ‘Ligas Camponesas’, sei que elas foram criadas e eram
chefiadas pelo Francisco Julião, mas elas cresceram mais no Nordeste e
pretendiam, sob orientação cubana, fazer a reforma agrária ‘na marra’, como
eles diziam. (...)
Quanto ao ‘grupo dos onze’,
disse que fui designado para fazer o IPM. Era a milícia ‘brizolista’. Com ela,
o Brizola pretendia se opor às Forças Armadas em apoio ao ‘cunhado-presidente’
e depois em benefício próprio, porque ele já teria, naquela época, pretensões
de chegar ao Palácio do Planalto. Eles assumiram a Rádio Mayrink Veiga, que era
uma estação do Rio de Janeiro, de certo renome, e ali instalaram o seu
quartel-general. O seu chefe de estado-maior na
rádio era um cidadão chamado Paulo Shilling, cuja filha, extremista de
esquerda, foi presa e não sei se desapareceu ou não no Uruguai, onde andou
exercendo atividades terroristas. O ‘grupo dos onze’ se propôs a criar uma
milícia à imagem de uma equipe de futebol – onze jogadores – pois achavam que
aquilo tinha um chamamento místico sobre a população: futebol, onze jogadores,
onze integrantes. Na noite da Revolução – noite de 31 de março – eles tentaram
convocar a sua milícia, mas não conseguiram” (General-de-Brigada Celso dos
Santos Meyer, Tomo 10, pg. 133).
“O ‘grupo dos onze’ era uma
espécie de formação de guerrilheiros: eram grupos pequenos, armados, com 11
integrantes, efetivo de um grupo de combate, para proteger o Brizola. Isso era
coisa do Brizola. Dias antes da Revolução, ele publicou num tabloide de Porto
Alegre – e nós tínhamos lá em São Paulo um exemplar – um artigo concitando os sargentos
a matarem os oficiais e a assumirem os comandos.
Esse homem ia para a Rádio
Mayrink Veiga com aquela mala de dinheiro na mão – ele não pagava com cheque
não, era mal de dinheiro – para pagar as horas em que ficava pregando a
subversão” (General-de-Brigada Augusto Cid de Camargo Osório, tomo 14, pg.
124).
“Os
seguintes fatos demonstraram essa realidade: aceleração do processo de
sindicalização do País; tentativas de cisões no seio das Forças Armadas;
criação das ‘Ligas Camponesas’ e dos ‘grupos dos onze’; distribuição velada de
armamento no meio operário.
Em
Juiz de Fora, numa ocasião, foi visto uma viatura passar cheia de metralhadoras
para os operários da época, ali na minha cidade, nas nossas barbas, porque eu
estava em Juiz de Fora.
E
também, manifestações culturais, induzindo à revolta popular. Exemplo foi a
encenação de uma peça teatral chamada ‘Cristo Total’, onde eles mostravam que
Cristo encarnava o povo que estava sendo agredido, morrendo na cruz, com o
intuito de levar o nosso povo a se revoltar, como se o povo do Brasil fosse o
Cristo. Queriam que o povo se rebelasse e adotasse o regime comunista que ia
libertá-lo. Isso é o que eles queriam. Quem não viu isso é porque não quis ver
ou porque não interessava ver!” (Coronel Reynaldo de Biasi Silva Rocha, Tomo 3,
pg. 320).
“...
quando o Jango estava em Porto Alegre fugindo para o Uruguai, ele se encontrou
com o Brizola e com o comandante do III Exército, e o Brizola começou a
preconizar a resistência: ‘Temos que resistir, vou ser o Ministro da Justiça e
‘fulano de tal’ Ministro da Guerra. O General Ladário, que estava lá, era
adepto daquilo. Está tudo aqui no livro...
O
Brizola diz textualmente que eles tinham que reagir e que diante da ponderação
de um dos generais que estava presente, de que a maioria dos oficiais estava
contra Jango e, portanto, querendo aderir à Revolução, ele disse: ‘Não tem problema,
tenho um sargento ao lado de cada oficial e esse sargento está instruído para
matar o oficial e assumir o comando, assumir a posição dele” (Coronel-Aviador Gustavo Eugenio de Oliveira Borges,
Tomo 10, pg. 290).
“Mas,
antes de prosseguir enfocando esse Movimento, que salvou o Brasil e seu povo de
uma verdadeira catástrofe, impõe-se caracterizar a índole perversa da mais
perigosa entidade atuante no meio comuno-janguista, que eram os ‘grupos dos
onze’, criados por Leonel Brizola (naquela época, estimava-se em cerca de 1.300
grupos). Um documento de cinco a seis folhas, apreendido pelo Exército logo
após a Revolução, na célula comunista de Niterói, dedica um capítulo ao papel
dos ‘grupos dos onze’ na guarda e julgamento de prisioneiros. Por oportuno,
dele transcrevo o que se segue:
‘Devemos instruir os grupos
dos onze companheiros para missões especiais de prisão, guarda e julgamento
sumário de prisioneiros de guerra. Os reféns deverão ser sumária e
imediatamente fuzilados, a fim de que não denunciem os seus aprisionadores e
não lutem posteriormente para sua condenação. Os grupos dos onze serão como foi
a guarda vermelha da Revolução Socialista de 1917, na União Soviética, da qual
seguirão o vitorioso exemplo’ ”
(Coronel Luciano Moreira de Souza, Tomo 4, pg. 123).
Brizola, o carbonário
“O Brizola foi o primeiro
político brasileiro que entrou em ligação com Fidel Castro e mandou gente fazer
curso em Cuba. Inclusive esse Diógenes que andou se complicando há pouco tempo
em uma Comissão Parlamentar de Inquérito. O atual Vice-Governador do Rio Grande, Miguel Rosseto, também
andou por lá e é coronel honorário do exército cubano. Estes dois
são das primeiras turmas encaminhadas a Cuba pelo Brizola. Como Governador e
Deputado, o Brizola colocou as manguinhas de fora e os cubanos circulavam por
aqui. Sabíamos da presença em Porto Alegre de três cubanos. Fui um dos que
saíram para a rua e andavam à cata de agitadores estrangeiros que circulavam
por aqui. Além do mais, o Brizola agitava o País com seus célebres discursos
das sextas-feiras, uma pura ameaça à sociedade organizada. Foram criados os
‘grupos dos onze’, o Brasil estava cheio deles. Estimávamos que existiam cerca
de cinco mil Grupos, um efetivo de quase sessenta mil homens. E quem fazia o
proselitismo e os unia em termos nacionais era a Rádio Mayrink Veiga.
Sintonizávamos aquela emissora à noite e ouvíamos:
- Alô, alô Santo Ângelo,
comando revolucionário número trinta e quatro, alô doutor Fulano...
A mensagem para o
correligionário informava o número do grupo, a sua localização e convocava os
responsáveis para a transmissão de ordens ou transmitia alguma instrução. Isso
era feito o dia inteiro. Belo exemplo de sigilo nas operações...
(...)
Aqui no Estado, onde houve a
maior resistência à Revolução? [entrevistador]
Creio que foi aqui mesmo em
Porto Alegre. O Brizola fez um discurso na Praça da Prefeitura em que instigou
os sargentos a arrancarem os olhos dos oficiais com os dedos. Imaginem a
reação! Isso ninguém me contou, eu fui lá para ver e ouvir. Acho até que o
Gusmão estava comigo. Éramos dois ou três oficiais assistindo ao comício. Ele
falou claramente que os oficiais eram golpistas e que os sargentos não deviam
cumprir as ordens dos gorilas.
-
Ataquem, ataquem esta gente e arranquem os olhos deles
nem que seja com os dedos.
Ele disse isso. A
resistência era coordenada por ele que dispunha de um staff – inclusive já
citei o nome de alguns dos integrantes desse grupo – para lhe municiar das
informações necessárias” (General-de-Brigada Léo Guedes Etchegoyen, Tomo 8, pg.
178-179).
“Sobre aquele discurso [de
Leonel Brizola] não me falaram, eu mesmo o ouvi em uma emissora comercial. A
rede-rádio da 2ª. DC nos ligava com todas as Unidades. A 3ª. Seção sintonizou
nossa rede na emissora que transmitia a agressão verbal do agitador. Através
dessa escuta ouvíamos e transmitíamos o Brizola vociferar:
-
Fuzilem os oficiais! Matem esses gorilas!
Ele estava aqui em Porto
Alegre e bem que tentou conter a Revolução mas não conseguiu. Fugiu de avião,
dizem que travestido de padre!” (General-de-Brigada Léo Guedes Etchegoyen, Tomo
8, pg. 206).
“Ficava, portanto, no rádio,
acompanhando a tal cadeia da legalidade, com o Brizola insuflando: ‘Passa a mão
nesses gorilas, mata, agora vai correr sangue’, aquele jeito dele de falar,
instigando a Nação contra o movimento revolucionário que eclodira. O
Tenente-Coronel Raposo me disse: ‘Coloca isso no alto-falante para todo mundo
do quartel ouvir’. O nosso quartel era do lado do 8º. BC, e, à noite, aquele
silêncio, todo mundo ouviu tanto no Grupo de Artilharia, como no Regimento de
Cavalaria, o Brizola dizendo: ‘Matem os oficiais, passem fogo neles, ainda não correu
sangue’, o que trouxe uma revolta geral dentro dos quartéis diante
daquelas palavras insanas de ordem. O tiro saiu pela culatra. Até o povo nas
ruas ficou indignado com aquele tipo de mensagem voltado para a completa quebra
da hierarquia e da disciplina, uma mensagem diabólica, do líder daqueles que
queriam instalar, em nosso País, uma ‘república sindicalista’, tão falada
naquele Comício da Central do Brasil, no dia 13 de março” (Tenente-Coronel
Carlos Claudio Miguez Suarez, Tomo 9, pg. 384-385).
Obs.:
Um pouco sobre a carreira política do
carbonário Leonel Brizola pode ser visto em “Brizola, o Último dos Maragatos” -
http://felixmaier1950.blogspot.com/2020/07/brizola-o-ultimo-dos-maragatos-por.html
Sobre
os “Grupos dos Onze”, veja “Documentos Revelados”, do ex-guerrilheiro e amigo
de Lamarca, Aluizio Palmar – link http://www.documentosrevelados.com.br/repressao/grupo-dos-onze-companheiros-movimento-liderado-por-brizola-para-barrar-o-golpe-e-avancar-com-as-reformas-parte-3/ .
F. Maier
A partir de 1961, já havia
a infiltração de cubanos comunistas no Brasil, para aquisição de campos de
treinamento de guerrilheiros, em PE, BA, GO, AC.
As
Ligas Camponesas de Francisco Julião, o qual havia feito curso de guerrilha em
Cuba, promoviam o terror no meio rural, especialmente em Pernambuco, colocando
fogo nos canaviais e destruindo equipamentos industriais em usinas de
cana-de-açúcar (um MST avant la letre);
ao mesmo tempo, havia cartilhas comunistas sendo distribuídas pelo MEC,
contrapondo o “odioso” usineiro ao “miserável” trabalhador rural – trabalho de
massa que os comunistas sabem fazer como ninguém, especialmente o “mestre”
Paulo Freire.
A título
de informação, há um livro ilustrativo do fato histórico, escrito por Denise
Rollemberg, O Apoio de Cuba à Luta Armada
no Brasil – o treinamento guerrilheiro.
Obs.:
A revista Veja", de 24/01/2001, sob o título "Qué pasa compañero?",
faz uma análise centrada na tese de doutorado da pesquisadora Denise
Rollemberg, da UFRJ, a qual afirma que "o
primeiro auxílio de Fidel foi no Governo João Goulart, por intermédio do apoio
às Ligas Camponesas, lendário movimento rural chefiado por Francisco Julião.
(...) O apoio cubano concretizou-se no fornecimento de armas e dinheiro, além
da compra de fazendas em Goiás, Acre, Bahia e Pernambuco, para funcionar como
campos de treinamento”. Em sua língua de pau, Rollemberg se refere a
incêndios a canaviais, verdadeiros atos terroristas, como um “lendário
movimento rural”. Após a Contrarrevolução de 1964, as Ligas Camponesas foram
dissolvidas e Julião obteve asilo no México.
Sobre o assunto, leia “Guerrilha
Comunista no Brasil", de minha autoria, em https://portalconservador.com/guerrilha-comunista-no-brasil/
ou http://www.aman75-83.com.br/terror_comunanobr.htm.
F. Maier
“No
Brasil, a UNE, a CGT, a SUPRA [Superintendência da Reforma Agrária], a Frente
Parlamentar Nacionalista, o Grupo dos Onze, as Ligas Camponesas, alguns
Ministros de Estado, os Governadores do Rio Grande do Sul, Pernambuco, Goiás e
Sergipe e alguns Chefes Militares pressionaram o então Presidente, exigindo
reformas de cunho comunista.
Nas
Forças Armadas, a disciplina, base e alicerce primordial das Instituições
Militares, foi solapada, numa tentativa de jogarem praças contra oficiais”
(Coronel do Exército Márcio Matos Viana Pereira, in “O Direito de Opinar”, Editerra Editorial, Brasília, DF, 1987,
pg. 18).
É
importante citar a célebre frase do chefe comunista Luis Carlos Prestes, em
janeiro de 1964: “Nós, os comunistas, estamos no Governo, só nos falta o Poder.” Em viagem a Moscou, Prestes deu ciência a Kruschev
sobre a subversão comunista no Brasil e recebeu o sinal verde para implantar o
golpe.
Campanha psicológica de
Brizola no RS
“O
ano de 1961 mexeu com os brios do Rio Grande do Sul: ‘Com a difusão de que o
Rio Grande do Sul seria invadido, que as nossas famílias seriam presas e
violentadas pelas tropas que vinham do Norte’. Isso contribuiu para que
houvesse um chamamento grande em todo o Rio Grande do Su. Não digo somente na
minha Unidade, porque o Brizola fez a campanha psicológica que foi a única que
vi no meu Exército ao longo dos meus quase cinquenta anos de vida militar e sei
que não verei outra campanha que venha a envolver tão intensamente todo um
poro, porque o Brizola colocou nos porões do seu palácio os transmissores da
Rádio Guaíba e, através dela, arregimentou todo o povo gaúcho, organizando-o em
forças militares.
Eram
batalhões de operários metalúrgicos, eram batalhões de operários têxteis, eram
batalhões de operários da indústria civil, era a cavalaria através dos Centros
de Tradição Gaúcha (CTGs). Enfim, todo o Rio Grande do Sul foi motivado e
distribuiu as armas que tinha. Com isso, a decisão do III Exército foi tardia,
muito tardia. O nosso Comandante do III Exército na época custou a tomar a sua
decisão de aderir às forças, aderir ao Governo Brizola, mas o fez para impedir
também lá dentro quase que um massacre, pois o Exército ficaria sozinho face ao
seu povo” (Generao-de-Exército Luiz Gonzaga Schroeder Lessa, Tomo 10, pg. 50).
A infiltração política dos
comunistas dentro dos quartéis, especialmente na Marinha e na Aeronáutica,
pregando a separação de praças e oficiais
Várias
vezes, Brizola conclamou os sargentos a prender e matar os oficiais, e se
apoderar dos quartéis
“A partir de 1960, as forças
de esquerda persistiram nas tentativas de infiltração no meio militar,
voltando-se para os quadros subalternos, buscando dividir e corroer o organismo
militar, através da cisão entre oficiais e praças.
Na Aeronáutica, o Brigadeiro
Francisco Teixeira, então Cmt da Zona Aérea, dirigia essa infiltração. A
eleição do Clube de Oficiais, vencida pelas esquerdas, graças a certas
facilidades, foi uma luta de caráter ideológico. O Chefe do EM da Aeronáutica,
Brigadeiro Correia de Melo, por ter dado difusão a uma publicação
anticomunista, foi punido.
Na Marinha, mantinha-se o
mesmo clima de agitação e o Clube de Suboficiais era um verdadeiro foco de
propaganda comunista.
No Exército, o Gen Osvino,
Cmt do I Exército, cercado de elementos ditos progressistas e nacionalistas,
deixava a subversão alastrar-se nos quartéis.
Por todo o Brasil, nas
organizações militares, criou-se um clima de desconfiança entre oficiais e sargentos.
Os comunistas conseguiram êxito nessa primeira fase, e foi esse clima que
ensejou a rebelião de sargentos, de 12 a 13 de setembro de 1963, em Brasília,
sufocada, principalmente, por tropas do Exército” (General-de-Exército
Sebastião José Ramos de Castro, Tomo 1, pg. 121).
“Importa também registrar
que, ainda no Comando de Oswaldo de Mello Loureiro [2º. RO 105, Itu-SP], todos
os subtenentes e sargentos foram chamados a São Paulo para conversar,
pessoalmente, com o Presidente João Goulart a respeito de aquisição de casa
própria. Recordo-me de que estava toda a Linha de Fogo em plena instrução
visando ao tiro do Grupo, quando a sessão foi interrompida para que todos os
sargentos se apresentassem imediatamente para viajar a São Paulo, onde o
Presidente da República os receberia. A instrução prosseguiu comigo, com os
cabos e soldados, sem os chefes de peça. Veja que absurdo!... Os próprios
sargentos foram apanhados de surpresa e tiveram dificuldade, em termos de
uniforme de passeio, para cumprir, de pronto, aquela ordem que veio diretamente
da Casa Militar da Presidência, o que soubemos posteriormente.
Esse fato mostrou claramente
como o Presidente da República buscava a aproximação com os graduados, sonhando
valer-se dos mesmos mais tarde para neutralizar os oficiais, quando do
desencadeamento da revolução comunista, para a qual passou a trabalhar, com o
máximo empenho, após ter conseguido o retorno do País ao regime
presidencialista” (General-de-Brigada Geraldo Luiz Nery da Silva, Tomo 10, pg.
202).
“O outro fato, único
episódio negativo durante toda a participação do Grupo [2º. GO 105], deu-se
pouco antes da Revista do Recolher (21h) do dia 31 de março. O Subtenente
Rubens, da 1ª Bia O, surpreendeu a todos, quando, ao se ver sozinho com os
cabos e soldados da Bateria, fez um rápido discurso a favor das reformas de
base de João Goulart e do seu sindicalismo. Disse-lhes que o Regimento não
podia colocar-se contra o movimento dos trabalhadores porque, no futuro, eles,
cabos e soldados, seriam os trabalhadores.
O Capitão Luís Gonzaga
Camargo, S/2 do Regimento, ao ser informado do fato, efetuou, pessoalmente, a
sua prisão. Esse subtenente era, desde o tempo do Coronel Loureiro, o
Presidente do Grêmio de Subtenentes e Sargentos do Regimento, tendo lidado, com
certa frequência, com aquele Coronel, com quem nós, tenentes, o vimos, várias
vezes, conversando nas imediações do Gabinete do Comando. Coube-lhe conduzir os
graduados a São Paulo ao encontro com o Presidente da República, anteriormente
citado” (General-de-Brigada Geraldo Luiz Nery da Silva, Tomo 10, pg. 209-210).
“Cheguei a Brasília, em
janeiro de 1964 e encontrei, no Batalhão da Guarda Presidencial, um ambiente
pior ainda, pois, embora a Revolta tivesse ocorrida em Brasília e,
praticamente, dela não participaram os sargentos do Exército – os praças
graduados e soldados da Marinha e da Aeronáutica foram, realmente, os que
fizeram o Movimento – mesmo assim, persistia uma desconfiança total com relação
aos nossos graduados do Batalhão da Guarda Presidencial, a maior Unidade, na
época, em Brasília. Existiam, também, na guarnição, uma bateria de Artilharia
Antiaérea, comandada pelo Major Stockler, considerado de esquerda; uma
Companhia de PE, embrião do Batalhão da Polícia do Exército de hoje e um
Esquadrão, o 3º. Esquadrão C Mec (Cavalaria Mecanizada), que havia vindo do Rio
de Janeiro, de Campinho, para Brasília, por ocasião da Revolta dos Sargentos.
No ar, o clima de
desconfiança entre oficiais e sargentos. Tínhamos ordem de andar sempre armados
com a pistola engatilhada’ (Coronel Carlos Fernando Freitas Almeida, Tomo 5,
pg. 286-287).
“Paralelamente
a esses fatos [infiltração esquerdista no MEC e nas universidades], ocorreu o
problema da inelegibilidade dos sargentos, levando a agitação para a área militar,
o que, em fevereiro [1963], torna-se manifesto. Cerca de seis mil graduados
realizaram uma passeata em São Paulo, em apoio à posse dos companheiros de
farda eleitos. O Instituto Superior de Estudos Brasileiros (ISEB), dominado por
elementos esquerdistas, procurava atrair os subtenentes e sargentos com
palestras e cursos nos círculos e clubes militares. Em 6 de março, foi
realizada uma nova passeata de militares em São Paulo, desta vez com os
integrantes da Força Pública de São Paulo e da Aeronáutica, comparecendo
fardados. Os aniversários dos ‘generais do povo’ passaram a ser comemorados com
a presença maciça de graduados e com extremados discursos nacionalistas.
(...)
Ante
os fatos sinteticamente narrados, não se constitui em grande surpresa a rebelião
dos sargentos, em Brasília, em 12 de setembro de 1963. Tanto assim é que
providências tomadas impediram a participação dos graduados do Exército. Embora
o movimento fosse controlado em poucas horas, foi grande a sua repercussão no
País e no Exterior” (General-de-Divisão Agnaldo Del Nero Augusto, Tomo 5, pg.
99).
REAÇÃO
CIVIL-MILITAR
A
CONSPIRAÇÃO MILITAR PARA DERRUBAR JANGO COMEÇOU EM OUTUBRO DE 1961
“Inicialmente,
farei a seguinte colocação: não houve, a meu ver, uma revolução, em 1964, mas
uma contrarrevolução. Quem queria fazer uma revolução não éramos nós; reagimos
à revolução que estava sendo montada. Em plena guerra leste-oeste, o Brasil era
disputado pelas forças da época, de um lado lideradas pela União Soviética,
China e, também, Cuba; do outro, nós, democratas dispostos a defendê-lo.
Fizemos a contrarrevolução. Impedimos uma revolução comunista, que
transformaria o Brasil, não em uma nova Cuba, porém em uma nova China, em
função da sua extensão territorial, riquezas, grande população e posição
geográfica - na época o Atlântico Sul era militarmente vital. Geopoliticamente
falando, se o Brasil caísse, cairia toda a América Latina. Foi dentro dessa
visão contrarrevolucionária que se articulou a Revolução de 1964, ou seja, a
Contrarrevolução de 1964.
Tudo
tem início, a meu ver, na renúncia do Presidente Jânio Quadros, quando os três
ministros militares, Marechal Odylio Denys, Almirante Sylvio Heck e Brigadeiro
Grüm Moss, assumem a liderança da Nação,
durante um período. O Presidente Jânio Quadros simplesmente abandonara sua
cadeira de Chefe de Estado, e seu sucessor, Sr. João Goulart, já estava
comprometido com as forças ponderáveis da esquerda brasileira.
Na
ocasião, Jango recebe a adesão do General José Machado Lopes, Comandante do III
Exército, que apoia a posição de Leonel Brizola, então Governador do Rio Grande
do Sul.
Seguem-se
as démarches, nos setores militares e políticos. A realidade é que os três
ministros das Forças Armadas queriam dar um basta ao avanço das articulações da
esquerda, desencadeadas no País com uma força incrível. Eles pensavam, até, em
tomar definitivamente o Poder, fixando a data de 5 de setembro de 1961.
Entretanto, as forças militares se dividiram. Uns queriam a tomada do Governo
pelas forças militares, outros optavam por manter o País na frágil legalidade
existente. O Comandante do Exército, combalido por uma fratura no pé e febre,
marcou, mesmo assim, uma reunião com os generais para o dia 3 de setembro, às
7h da manhã, no Palácio Laguna, para tomar a posição definitiva.
Na
véspera, tanto o Almirante Heck, que exercia forte liderança na Marinha, quanto
o Brigadeiro Moss, haviam obtido total apoio dos seus pares. O Marechal Denys,
porém, no dia da reunião, no Palácio Laguna, conseguiu apenas o apoio de poucos
generais, cinco ou seis, se não me falha a memória. Terminada a reunião, o
Marechal Denys chamou os Ministros da Marinha e da Aeronáutica ao seu
escritório, no Palácio Laguna, e relatou-lhes o resultado do encontro.
O
Almirante Heck dirige-se à sala de visitas, onde se encontravam todos os
generais convocados pelo Marechal Denys, e apoiado pelo Brigadeiro Grüm Moss faz a seguinte declaração: ‘É
lamentável que a decisão tenha sido de entregar o Governo ao Jango. A revolução
que poderia ocorrer hoje, de cima para baixo, amanhã será feita de baixo para
cima. Mandarei fazer uma placa referente ao 5 de setembro de 1961, data que
marcará o início de uma longa e dura caminhada’.
Dito
isto, retirou-se para o Ministério da Marinha, acompanhado pelo Brigadeiro Grüm Moss e pelo Capitão-de-Fragata José Calvet
Aranha, mais tarde Almirante; também me encontrava no carro com eles, nesta
ocasião. Entregou-se o Governo ao Jango. Um grupo da Aeronáutica tentou, ainda,
uma reação que o Brigadeiro Moss conseguiu evitar.
Um
mês depois, no Edifício Avenida, na Avenida Rio Branco, no Rio de Janeiro,
realiza-se a primeira reunião, para se articular a Revolução de 1964, presidida
pelo Almirante Heck. Estavam presentes, também, do Exército: Marechal
Odylio Denys, General José Pinheiro Ulhôa Cintra, enteado do Presidente Dutra;
da Aeronáutica: Brigadeiro Grüm Moss e
outros; da Marinha: Almirantes Silveira Lobo, Acir de Carvalho Rocha, Augusto
Rademaker, Mário Cavalcante, Levy Aarão Reis e Heitor Lopes de Sousa, este do
Corpo de Fuzileiros Navais; do Itamaraty: Embaixador Abelardo Hermann Moraes e
Barros, Osvaldo Américo Campiglia, e os médicos Nemésio Bailão e Sílvio Fausto,
este muito amigo do Dr. Júlio de Mesquita Filho.
Coube-me
secretariar este encontro memorável em que se decidiu iniciar o processo de
articulação junto às Forças Armadas e à sociedade civil.
Como
havia alguns representantes de grupos civis paulistas, na reunião, o processo
começou em São Paulo, no meio civil. Em seguida, formou-se um núcleo chefiado
pelo General Agostinho Cortes e outro coordenado pelo General Sebastião Dalysio
Menna Barreto. Precisou-se ampliar com a formação de um terceiro grupo de
coordenação e suporte financeiro, chefiado pelo Dr. Júlio de Mesquita Filho.
Dele fazem parte: Dr. Gastão Vidigal, Dr. Hermann Moraes e Barros, Dr. João
Bapstista Leopoldo Figueiredo, que fundou, logo em seguida, o Instituto de
Pesquisa e Estudos Sociais (IPES), órgão de relevante influência no processo
conspiratório” (Doutor Carlos Eduardo Guimarães Lousada, Tomo 7, pg. 342-343).
“Com
a queda do parlamentarismo, João Goulart sentiu-se livre para fazer o que
queria: implantar no Brasil uma república sindicalista, nos moldes peronistas.
Os acontecimentos foram se precipitando; todos viam e sentiam que caminhávamos
para um regime de esquerda implantado pelo próprio Governo. Como E/1 (Oficial
de Informações) da 10ª. Região Militar, em Fortaleza, trabalhei no preparo do
que seria uma contrarrevolução, ou seja, planejando as ações que deveríamos
desencadear após a possível implantação comunista no País.
Naquele
momento, ainda sem nenhuma orientação do escalão superior, sem nenhuma
orientação de um líder – porque ainda não tínhamos líder -, estávamos
trabalhando, preparando essas ações. A ideia central era esta: se implantado um
regime comunista, deixaríamos os quartéis, levando a maior quantidade possível
de armamento e equipamento para o interior. Iríamos para zonas previamente
escolhidas, solidários aos líderes rurais, onde montaríamos núcleos de
resistência para derrubar o regime anárquico que seria instalado”
“General-de-Brigada Gentil Nogueira Paes, Tomo 12, pg. 140).
“É
preciso que a opinião pública entenda que o objetivo de 1964 não foi uma ação
de tomada do Poder. Houve apenas uma contraposição ao que estava ocorrendo.
Lembro que no Rio de Janeiro o Almirante Aragão havia cercado o Palácio do
Governo do Estado, cujo Governador [Carlos Lacerda] foi obrigado a usar a
retransmissão de uma estação de rádio de Belo Horizonte para denunciar o cerco.
O Exército tem nos seus arquivos uma gravação da primeira reunião do Partido
Comunista Brasileiro depois do 31 de março. Na sua autocrítica eles reconhecem
que a precipitação da esquerda em tentar a tomada do Poder foi uma das causas
do fracasso” (General-de-Brigada Léo Guedes Etchegoyen, Tomo 8, pg. 180).
Muitos dos entrevistados voltam aos tempos da
Proclamação da República, golpe desferido pelo Exército contra a Monarquia por
militares doutrinados na filosofia do Positivismo de Augusto Comte, lembrando
sua ideologia autoritária, que levou a muitas quarteladas durante quase um
século, e que, inicialmente, pensavam que o Movimento de 1964 fosse mais uma
dessas quarteladas passageiras, logo retornando o poder aos civis.
Outros entrevistados voltam à década de 1920,
afirmando ser o Tenentismo (Revolta dos 18 do Forte, Coluna Miguel
Costa-Prestes, Revolução de 1930) um dos motivos longínquos que redundou no
Movimento de 1964, por ser um movimento político-militar que criticava a
corrupção e o atraso sócio-econômico do Brasil, ao mesmo tempo em que pregava
um desenvolvimento industrial rápido para o País. Estes analistas afirmam que a
força remanescente ou pelo menos o espírito dos “Jovens Turcos” de outrora
prevaleceu no sentido de o Movimento de 1964 se prolongar por 21 anos. Ou seja,
venceu a turma dos “costistas” (Costa e Silva) – incluindo o presidente Médici,
que queria aproveitar o Movimento para desenvolver econômica e socialmente o
Brasil - sobre a turma dos “castelistas” (Castello Branco) – esses querendo
devolver o poder logo aos civis, após a arrumação da ordem pública.
Diz Geisel no livro “Ernesto Geisel”,
publicado pela Editora Fundação Getúlio Vargas, 5ª. Edição, 1998, à pg. 166:
“Lembro-me também de um fato, que nunca vi
publicado, ocorrido um ou dois dias depois da revolução: houve uma reunião no
gabinete do Costa e Silva e outros generais à qual compareci com Castello. Lá
estavam Costa e Silva e outros generais, entre eles Peri Beviláqua, que aderiu
à Revolução mas era muito ligado à esquerda. Costa e Silva, falando sobre a
revolução, declarou: ‘Nossa revolução não vai se
limitar a botar o Jango para fora! Temos que remontar aos ideais das revoluções
de 22, de 24 e de 30!’ Ele queria fazer uma revolução mais profunda. Ficaram todos em
silêncio”.
“Sobre a Revolução de 31 de Março de 1964,
podemos listar causas tanto remotas quanto imediatas. As remotas retrocedem à
década de 1920, quando irromperam os primeiros movimentos revolucionários
militares, conduzidos por jovens oficiais idealistas, que não se conformavam
com a situação de subdesenvolvimento do País. Achavam que o Exército – a
maioria era do Exército – deveria fazer algo para mudar aquele panorama,
caracterizado pela ‘política do café-com-leite’, que vigorava na época, a qual
mantinha no Poder algumas oligarquias que nada faziam para conduzir o País,
apesar de toda a sua potencialidade, ao nível de desenvolvimento das grandes
nações do mundo, o que aqueles idealistas pretendiam.
Esses movimentos ficaram bem marcados pelo
episódio heroico dos ’18 do Forte’, em 1922, tendo à frente o Capitão Siqueira
Campos, e depois pela coluna revolucionária que percorreu o País, entre 1924 e
1926, erroneamente chamada de Coluna Prestes, pois ele era apenas um dos seus
integrantes. Esses movimentos acabaram redundando na Revolução de 1930, cujos
participantes acreditavam que iria redimir o País dos seus problemas.
Foi justamente nessa época, em que
predominava tal pensamento em grande parte da oficialidade do Exército,
sobretudo entre os oficiais jovens, que ingressou nas Forças Armadas a maior parte
dos homens que fizeram a Revolução de 1964.
Então, imbuídos dos mesmos ideais daqueles
jovens de 1922 – reformar o Brasil, alçá-lo rapidamente a uma posição de relevo
mundial, acabar com o subdesenvolvimento – criou-se entre os oficiais do
Exército uma corrente que pretendia lutar para alcançá-los. Dela originou-se o
movimento de deposição de Getúlio Vargas e, depois, no segundo mandato de
Getúlio, o movimento da Cruzada Democrática contra os comunistas, o Memorial dos
Coronéis e o inquérito do Galeão, este determinante da queda e do suicídio do
Presidente Vargas.
Essa corrente, que em 1930 imaginou poder
atingir seus objetivos, foi traída por Getúlio, mais caudilho do que idealista.
Novamente frustrou-se diante do comportamento do Marechal Lott (Henrique
Baptista Duffles Teiseira Lott), em 1955, que afastou aqueles idealistas das
posições onde poderiam fazer algo pelo qual almejavam. Mais tarde, no Governo
João Goulart, passaram a conspirar no sentido de dar um basta ao caos que se
implantava no País.
Esses homens, e outros que em face da
situação a eles aderiram, foram os que fizeram a Revolução de 1964. Eis a razão
por que fui buscar as causas remotas da Revolução de 1964 no idealismo que veio
desde 1922, na corrente que se formou durante 40 anos, dentro do Exército, de
homens que queriam fazer pelo Brasil mais do que simplesmente exercer as
funções militares – queriam também mudar o País, a sua mentalidade política e
transformá-lo numa potência” (Contra-Almirante Luiz Pragana da Frota, Tomo 14,
pg 168-169).
“Existia, então, em algumas lideranças
castrenses uma certa doutrina que vinha do passado, preconizando que os valores
da elite militar seriam capazes de resolver os problemas brasileiros, sem a
presença das elites civis. Foram refratários a essa doutrina nomes como
Castello Branco e Eduardo Gomes, este sempre um militar civilista e
democrático. Muitos coronéis daquela época e outros oficiais mais jovens
queriam fazer algo em proveito do Brasil e, como entendo, a doutrina
militarista tinha raízes nos chamados ‘jovens turcos’, que no princípio do
século, durante o Governo Hermes da Fonseca, aperfeiçoaram-se na Alemanha.
A segunda questão está ligada às
características da formação do militar, preparados para dirigir, comandar e dar
ordens pressupostamente capazes de resolver os problemas que as pessoas estavam
vendo nas ruas. Tudo seria fácil mediante a intervenção militar.
Quando o Movimento de 1964 foi vitorioso,
indiscutivelmente quase 95% do País bateram palmas. Mas, à medida que o
processo revolucionário de 1964 vai se implantando, ao mesmo tempo vai
provocando discórdias e conflitos. Daí, a contestação que começava a surgir. No
processo revolucionário, o Poder é arbitrário e provoca contestação. Cresciam
dois tipos de oposição: os adeptos do marxismo, bem fortes, naquela época,
ligados a Cuba e à União Soviética; e algumas lideranças liberais democratas
que não estavam concordando com a execução do processo implantado no País. Eis
a terceira causa: essas duas forças vão se unir, a de esquerda e a liberal,
ambas antimilitaristas. Esta forma de oposição não sabia distinguir entre o
militar de tendências civilistas e o de tendências militaristas. Tudo para eles
era militarista” (Deputado Federal Bonifácio de Andrada, Tomo 15, pg. 96-97).
“Havia, nas Forças
Armadas, três grupos de oficiais, a saber: a corrente originada em 1922, que
pretendia fazer algo para eliminar o quadro de subdesenvolvimento e a
mentalidade política que tanto prejuízo trazia ao País; outro grupo que não
achava necessária a intervenção das Forças Armadas, mas às vésperas do
Movimento aderiu ao mesmo; e um terceiro grupo, menor, que apoiava a escalada
marxista.
Depois da Revolução, este último grupo foi
praticamente extinto: seus integrantes foram afastados, cassados ou demitidos e
outros passaram para a reserva. Deste modo, permaneceram dois grupos dentro do
sistema revolucionário militar: o grupo que defendia a transformação do
Movimento numa Revolução, isto é, que queria aproveitar a intervenção militar
de grande porte – afastou o Presidente da República – para conquistar os
objetivos, de muitos anos antes, de transformar as estruturas política e
administrativa do País, saneá-lo moralmente, afastar os políticos corruptos e
criar novos quadros, redimir a economia abalada, resolver os problemas das
desigualdades sociais e afastar definitivamente do cenário nacional a
subversão, que era bem forte. Para tal, a Revolução deveria demorar tempo maior
no Poder. O maior expoente desse grupo era o Marechal Costa e Silva.
Já o outro grupo, a outra corrente de
pensamento, defendia a opinião de que a intervenção militar deveria apenas
neutralizar aquela escalada comunista, afastando os homens do Governo ligados
diretamente à subversão marxista e, logo que possível, dever-se-ia restabelecer
o sistema político vigente antes da Revolução. Essa corrente, ligada ao
Marechal Castello Branco, não queria o prosseguimento da Revolução por muito
tempo.
Essa divergência resolveu-se com a ascensão à
Presidência da República do Marechal Costa e Silva. Durante todo o seu Governo
predominou a linha revolucionária, ou seja, aquela que queria transformar o
Movimento de 31 de Março em uma Revolução, entendendo-se que uma revolução vem
para mudar as estruturas existentes, para estabelecer uma nova ordem e não
somente para restabelecer a antiga, como queria a outra corrente”
(Contra-Almirante Luiz Pragana da Frota, Tomo 14, pg. 170-171).
Ob.:
O
Contra-Almirante Frota é filho do General-de-Exército Sylvio Couto Coelho da
Frota, Ministro do Exército no Governo Geisel. O Ministro Frota é autor
do livro “Ideais traídos: A mais grave crise dos governos militares narrada por
um de seus protagonistas”.
As ações do Tenentismo (“Jovens
Turcos”) que levaram ao Movimento de 1964 podem ser vistas em https://felixmaier1950.blogspot.com/2020/06/o-tenentismo-e-as-acoes-dos-jovens.html.
F. Maier
GENERAIS, ALMIRANTES E BRIGADEIROS DO POVO
“A política partidária e a oferta desabrida
de empregos e outras benesses constituíram uma tentativa de criar cisão nos
quadros das Forças Armadas, mas, em maior intensidade, na Marinha e na
Aeronáutica.
Militares como o General Henrique Baptista
Duffles Teixeira Lott, Almirante Pedro Paulo de Albuquerque Suzano e o
Brigadeiro Francisco Teixeira, em fase inicial, para citar apenas os de mais
alta patente e mais responsáveis, por suas ambições políticas e por simples
escravidão ideológica, fugindo aos seus juramentos profissionais e ao respeito
ao Estatuto dos Militares, tentaram subverter a ordem e a disciplina
castrenses, lançando oficiais contra oficiais, sargentos contra oficiais,
desrespeitando as Instituições, praticando ações político-partidárias dentro
dos quartéis, protegendo graduados e oficiais ligados ao esquema governamental
da época. De outro lado, líderes civis e altas patentes das Forças Armadas –
Ademar de Queiroz, Sylvio Heck, Grüm Moss – buscaram preservar a disciplina nas Forças Armadas.
Posteriormente, Almirante Aragão, Generais
Osvino Ferreira Alves, Assis Brasil e o Brigadeiro Teixeira foram os que mais
atuaram para fomentar a discórdia nas Forças Armadas, com a quebra da
disciplina, o estímulo à desobediência, esteios das ações subversivas que
caracterizaram o Governo Goulart.
São exemplos as inúmeras transferências de
oficiais do Exército para as Circunscrições de Recrutamento, Nordeste e
Amazônia, a discriminação de oficiais para missões no exterior etc. Outros, foram
a revolta dos sargentos em Brasília, a baderna dos marinheiros e fuzileiros
navais, as tentativas de organização de clubes de cabos e soldados nos moldes
das organizações trotsquistas de 1916 e 1917” (General-de-Brigada Hélio
Ipiapina Lima, Tomo 2, pg. 170-171).
“Quando Major, Comandante do Forte dos
Andradas, fui ativo participante da Contra-Revolução de 1964, tendo ocupado
simultaneamente a Refinaria Presidente Bernardes e encarregado de IPM, na
Alfândega de Santos, à revelia do então Comandante da Guarnição, General Carlos
Buck, um dos ‘Generais do Povo’ de então. Aquela missão me custou uma prisão”
(Coronel Antonio Erasmo Dias, Tomo 7, pg. 143).
“Concluí a EsAO no final de 1963. O
Ministro, General Jair, não permitiu que naquele ano os capitães da EsAO
ficassem no Rio de Janeiro. Acho que ele não foi hábil: dispersou pelo Brasil
inteiro centenas de capitães descontentes e doutrinados. Estudáramos a guerra
revolucionária durante o curso e acreditávamos – era opinião dos instrutores e
da maioria dos alunos – que já estávamos imersos em um de suas fases”
(General-de-Divisão João Carlos Rotta, Tomo 8, pg. 136).
“Segundo soubemos a posteriori, o Almirante
Aragão deixou de marchar sobre o Palácio Guanabara porque o General Amaury
Kruel, Comandante do II Exército, aderiu ao Movimento. Kruel chegou a fazer
vários apelos ao então Presidente João Goulart para que fizesse uma declaração
contrária aos comunistas. Avaliava o General Kruel que conseguiria travar o
Movimento, mas Jango evitou fazê-la. Diante da negativa do Presidente, ordenou
às tropas sob seu comando que marchassem em direção ao Rio de Janeiro. O
Comandante do I Exército, General Moraes Âncora, que até a reunião nas Agulhas
Negras com Kruel, segundo nos foi relatado, estava rigorosamente neutro, deu um
ultimato ao Almirante: ‘Não venha, porque senão vai enfrentar o Exército’.
Aragão era ‘posudo’, falastrão, mas tinha bom-senso e mudou de ideia,
desistindo do ataque ao Palácio Guanabara, cujas consequências seriam trágicas
para nós” (Doutor Emílio Antonio Mallet de Souza Aguiar Nina Ribeiro, Tomo 10,
pg. 245).
Obs.
Nina Ribeiro foi deputado estadual e
federal pelo Rio de Janeiro, e é “trineto, por parte de mãe, do Marechal Emílio
Luiz Mallet, Barão de Itapevi, Patrono da Artilharia Brasileira” (pg. 242).
F. Maier
“Tínhamos oficiais que eram considerados
comunistas, como o General Assis Brasil, o Jeová Mota – que é lá de Pernambuco.
Aliás, o General Ibiapina relata isso muito bem. Quem desencaminhou, doutrinou
o Gregório Bezerra, que era sargento, foi o Jeová Mota. Se bem que o Kerenski
Mota, que comandou o Batalhão de Petrópolis, embora o nome leve alguma relação,
nunca se revelou comunista, como o irmão. Conta um oficial que assessorava de
perto o Castello que ele vacilou na hora de assinar o ato de transferência para
a reserva do Kerenski Mota, depois do devido inquérito. A caneta falhou
e o oficial que estava secretariando o Castello puxou uma ‘Bic’ e disse:
‘General, essa aqui não falha’. Era um oficial altamente conceituado,
principalmente, pelo Castello. Nunca senti esse esforço de doutrinação. Havia
os naturalmente voltados para o comunismo como é o caso do Luís Carlos Prestes,
na Intentona. Ele, com seus seguidores, que enlutaram o 3º. Regimento de
Infantaria com os assassinatos dos seus companheiros democratas quando dormiam.
Aquele pessoal já era comunista e desenvolveu uma atividade de doutrinação em
alguns oficiais.
(...)
(...) Lembro de um que era até meu aluno de
inglês que se gabava do dispositivo militar do Jango: ‘Ah!, o dispositivo
militar do Jango é muito bom, muito forte e ele vai fazer e vai acontecer’.
Respondi-lhe: ‘Olha, esse dispositivo do Jango, na minha opinião, é fictício,
porque os que são conhecidos não têm destaque, os militares de projeção não
estão com o Jango’. Ele citou: ‘Assis Brasil, Jeová Mota, Osvino e Napoleão
Nobre’. ‘Eles não têm expressão no meio militar. Os que têm são altos chefes
militares: Castello Branco, Penha Brasil, Costa e Silva etc.’ Esse cidadão era
um civil, mas aí a discussão cessou” (General-de-Brigada Celso dos Santos
Meyer, Tomo 10, pg. 135-136).
Obs.
O Presidente Jair Messias Bolsonaro também
usa uma “Bic”, que às vezes falha, por obra da judicialização política do STF,
subserviente aos partidos de esquerda, como a nomeação do delegado Alexandre
Ramagem para o cargo de Diretor-Geral da PF.
F. Maier
“Quando estava na ECEME, nos dias que se
seguiram à Revolução, cheguei a ser telefonista de dia revezando com o Malan.
Num desses telefonemas, dado por pessoa desconhecida, recebi o seguinte informe:
os senhores estão querendo prender o Almirante Aragão - o almirante Fuzileiro
Aragão era elemento altamente subversivo. E, eu disse: ‘gostaríamos sim’. E me
informaram: ‘Se quiserem prendê-lo, ele agora está na casa de uma senhora de
quem ele é amante. Ele era chegado a essa atividade que aliás era uma atividade
interessante – ser mulherengo.
(...)
Com a decisão do General [Mamede], foi pedido
ao Almirante Heitor, já falecido também, que fosse prendê-lo com alguns
fuzileiros contrários ao Almirante Aragão. E, assim foi feito, e, desta forma,
ele acabou preso” (Coronel Hernani D’Aguiar, Tomo 9, pg. 173-174).
“Com a renúncia do Jânio Quadros e com a
posse do Presidente João Goulart, o General Santa Rosa foi nomeado comandante.
Ele assumiu o comando da Brigada, ainda, com a denominação de Núcleo da Divisão
Aeroterrestre. Ele vinha do Rio Grande do Sul, estava com o Governador Leonel
Brizola.
(...)
Os oficiais e sargentos de todas as unidades
paraquedistas se reuniram naquela sala. Fui conhecer o novo comandante -
General Santa Rosa – e fiquei surpreso, levei um susto, um susto muito grande,
porque ele subiu numa mesa, num tablado, nós sentados – oficiais e sargentos –
e disse assim: ‘Quero falar com os sargentos
paraquedistas, quero cumprimentá-los porque vocês não cumpriram as ordens de
seus oficiais’. Era inadmissível para mim,
presenciar o General comandante em flagrante desrespeito aos princípios
basilares da Instituição.
Diante de tal absurdo, passamos a nos
envolver cada vez mais naquele movimento para derrubar, destruir aquele império
– o soviético – que usava um movimento que se chamava Movimento Comunista
Internacional, pretendendo ocupar um país continental, o Brasil,
geoestrategicamente área de influência e de interesse do outro império – o
norte-americano. Sentimos que a ameaça era muito maior do que aquela que
tínhamos imaginado e precisávamos, sim, o mais rápido possível, acelerar aquilo
e evitar o mal maior, porque a disciplina começou a cair visivelmente. Como um
General-de-Brigada assume um Grande Comando de uma tropa tão preparada como a
nossa e o seus primeiro ato é pregar a indisciplina, é jogar os sargentos
contra os oficiais? Aquilo foi demais para mim” (General-de-Brigada Durval
Antunes Machado Pereira de Andrade Nery, Tomo 10, pg. 160).
“No IME, não sentimos o problema da
indisciplina porque, como alunos, não tínhamos subordinados, éramos
responsáveis por nós mesmos. Mas sabíamos que nos quartéis havia problemas
sérios de indisciplina. Certo dia, perto do Iate Clube, na Avenida Pasteur, encontrando
um amigo, Capitão-Tenente, que servia numa Unidade da Marinha, no Rio de
Janeiro, ele me contou que partira para a luta corporal com um cabo, seu
subordinado, que se recusava à ordem de faxina.
Ora, quando uma Força Armada chega a uma
situação dessa natureza, é sinal de que estamos diante de uma crise. Pois se a
disciplina e a hierarquia – esteios da Instituição Militar – deixam de existir,
algo vai muito mal. Infelizmente, era este o quadro precedente à Revolução.
Oficiais da alta hierarquia das Forças Armadas, principalmente do Exército e da
Marinha, davam-nos maus exemplos. O Almirante Aragão, Comandante do Corpo de
Fuzileiros Navais, era chamado de ‘almirante do povo’ ” (Tenente-Coronel
Affonso Taboza Pereira, Tomo 12, pg. 218-219).
Palestras sobre Guerra
Revolucionária são feitas nos quartéis
“Eu convidei uns companheiros ilustres, como
o Coronel Meira Mattos, depois General, bem como o Chefe do Estado-Maior da 1ª.
Região, de quem não me recordo o nome, para fazerem palestras sobre Guerra
Revolucionária. Fui denunciado, e, por isso, exonerado do Comando do “G Can 40.
Posteriormente, fui para São Paulo.
Companheiros nossos, principalmente o Chefe do Gabinete do Marechal Castello, no
Estado-Maior do Exército, conseguiram uma vaga em São Paulo, na 2ª. Região
Militar, cujo comandante era o General Olympio Mourão Filho. No II Exército
estava o Pery Constant Bevilaqua, homem incerto, enigmático.
Dizia: ‘Eu prego a Constituição, eu sou descendente
de Benjamim Constant’, e, com isso, ele não fazia nada” (General-de-Brigada
Augusto Cid de Camargo Osório, Tomo 14, pg. 116).
Casais compram armas e fazem
treinamento de tiro
“[Na 2ª. Região Militar] coube-me dar uma
dimensão a esse esforço, procurando ligações até mesmo no meio civil, na classe
produtora, em toda parte. Tivemos integral apoio do Governador do Estado. O
doutor Adhemar de Barros era contrário ao comunismo, enfrentava o Jango na
televisão e nos dava todo o apoio. O Secretário de Segurança era o General
Albérico Barbosa, que sempre nos apoiou. A Polícia Militar – muito bem
comandada pelo General Franco Pontes – também estava conosco. Comecei a
‘trabalhar’ os comandantes de Unidades do Exército na área, ligando-me a eles
estreitamente, conversando, visitando, quase todos meus colegas de turma da
Escola Militar.
Desta forma, o meu trabalho pôde crescer,
contando com a irrestrita solidariedade de muitos compatriotas. Junto à
população houve uma ação muito bem-feita pelo General Menna Barreto – muito
bem-quisto na sociedade. Ele fez até com que casais comprassem armas e fossem
realizar treinamento de tiro por ele coordenado. Era um trabalho psicológico
feito junto à população, assustada com os desvarios daquele Governo míope e
antinacional” (General-de-Brigada Augusto Cid de Camargo Osório, Tomo 14, pg.
117).
Primeira reação pacífica
popular anticomunista
“Na realidade, a minha participação nos
pródromos da Revolução de 31 de Março de 1964 começou em 1961, quando,
indignado pela falta de reação, naquela época, aos fatos graves que estavam
acontecendo no Brasil, idealizei e realizei, em 27 de novembro de 1961, às 17h,
junto ao Monumento aos Mortos da Segunda Guerra Mundial, com o pseudônimo de
José Carlos Gomes, a primeira reação pacífica popular anticomunista da década
de 1960.
Ela teve o objetivo de alertar a opinião
pública brasileira contra a infiltração comunista no País; contra a corrupção e
a subversão que ameaçavam a vida nacional; levantar o moral do povo para uma
possível luta e para protestar contra a política exterior do Brasil,
principalmente a de apoio a Cuba.
Na ocasião, eu era capitão-aluno da Escola de
Aperfeiçoamento de Oficiais. Organizei o comício contando com a cooperação de
membros da família de minha esposa, que era grande; do doutor José Carlos, da
Confederação Nacional do Comércio; da Liga Faminina Anticomunista; do
jornalista Álvaro Americano, dos jornais O Globo e Tribuna da Imprensa e,
também, do Palácio Guanabara.
Contei com a segurança oferecida pelo doutor
Boré, do Departamento de Ordem Política e Social – DOPS. Tive apoio de Dom
Jaima Câmara, do Monsenhor Bessa, doutor Cecil Boré e da Confederação Nacional
do Comércio. O comício contou com a participação de associações religiosas,
Liga Feminista Anticomunista e do povo em geral. Usaram da palavra Niaze
Gerude, sob o pseudônimo de José Carlos Gomes, Dona Dulce Magalhães, Herculano
Carneiro, Paulo Sérgio Carneiro, Angel Aparecido, refugiado cubano, Padre
Pancácio Dutra e Erodines Saraiva” (General-de-Brigada Niaze Almeida Gerude,
Tomo 11, pg. 90).
Obs.:
O General Niaze informa, ainda,
na pg. 91, que publicou o livro “O Movimento Revolucionário de 1964 e a Verdade
dos Fatos”.
F. Maier
Grupos de Combate com 5
integrantes (GC-5), de Newton Cruz
“Participei de reuniões de conspiração, que
se aceleraram desde o início de março de 1964, quando cursava o segundo ano da
Escola de Comando e Estado-Maior do Exército (ECEME).
Em determinada ocasião, fui convidado pelo
Tenente-Coronel Newton Cruz (Newton Araújo de Oliveira e Cruz) a participar de
um grupo de combate, com cinco integrantes, para determinadas missões de
caráter excepcional. Segundo ele nos deu ciência, este era o primeiro grupo de
cinco membros a ser organizado, e outros estavam em formação. O chefe desse
grupo era o Newton Cruz e dele participavam o então Capitão Oliveira (Argos
Gomes de Oliveira), o Capitão Einar Walter Bergh – o famoso alemão Berg – o
Capitão Ronaldo (Ronaldo Celso Lima), da turma de 1950, eu, Roberto Monteiro de
Oliveira e um Major, também de Artilharia, que era do terceiro ano da ECEME, e
só me recordo de seu sobrenome Oliveira.
Tínhamos, como os outros grupos, a
incumbência de cumprir missões especiais. Uma delas já estava definida: uma vez
iniciado o movimento (ou mesmo antes), receberíamos ordem e iríamos calar a TV
Rio, através de golpe de mão ou explodindo a geradora dessa televisão que se
situava na área do cais do Porto. Fizemos até mesmo reconhecimentos dessas
instalações.
Havia também a possibilidade de outras missões
mais complicadas e delicadas, que poderiam ser extremamente perigosas para os
executantes, mas que deveriam ser cumpridas, mesmo com extremo risco de suas
próprias vidas. Mas tudo ficou no campo das hipóteses, porque a Revolução
caminhou favoravelmente e esse gurpo de combate foi praticamente dissolvido sem
realizar nenhuma dessas missões” (Coronel Roberto Monteiro de Oliveira, Tomo
13, pg. 199).
Treinamento de tiro à noite, às
escondidas, no Recreio dos Bandeirantes e no Campo de Instrução de Gericinó, no
Rio de Janeiro
“Vivíamos, então, uma grave crise militar que
rapidamente evoluiu para a área política com sérias repercussões. Em
consequência, o Marechal Denys e o General Moniz de Aragão intensificaram as
ligações com a tropa. Começamos a perceber que era preciso haver maior
entrosamento entre as unidades. Como começamos a reagir, a tropa paraquedista
foi proibida de realizar tiros de exercício e até tiro do recruta. Proibiu-se
que a munição fosse entregue à Brigada. Começamos então a fazer acampamentos no
Recreio dos Bandeirantes, que era totalmente deserto naquela época. Entrávamos
com os carros particulares no Regimento-Escola de Infantaria – eu cansei de
fazer isso no meu carro – para pegar com os oficiais daquele Regimento, a
munição necessária para adestrar a tropa paraquedista. Fazíamos o tiro no
Recreio dos Bandeirantes. Era a única possibilidade de adestramento. Fomos
proibidos de participar de qualquer exercício. Entrávamos no Campo de Instrução
de Gericinó, à noite.
O Tenente José Aurélio Valporto de Sá foi preso,
assim como o Tenente Eglair Barcelos Alves. Foram presos porque estavam
adestrando os seus pelotões em um exercício programado pelo Regimento. É claro
que nós só podíamos fazer isso escondidos e durante a noite, ou no Recreio dos Bandeirantes
ou no Campo de Instrução de Gericinó” (General-de-Brigada Durval Antunes
Machado Pereira de Andrade Nery, Tomo 10, pg. 168).
Livro “Guerra Revolucionária”,
de um coronel português
“Primeiramente, a minha participação na
Revolução de 31 de Março de 1964 foi de expectativa, como era de praticamente
todos nós militares, voltados para seus afazeres castrenses. Já diplomado pela
Escola de Estado-Maior do Exército, em 1949, a minha visão se ampliou. Aliás,
um dos objetivos da Escola de Comando e Estado-Maior é abrir os horizontes.
Passei a me preocupar mais com os problemas políticos que, até então, nunca
tinham me inquietado. Acredito, também, que fosse a situação da maioria dos
meus companheiros. Cada um cuidava da sua vida, ministrava a sua instrução, as
suas aulas, recebia ensinamentos nas escolas militares, e o tempo ia passando.
Gostaria de assinalar o seguinte: na época –
não digo que tenha sido o único, porque não sei os outros – recebi um livro de
autoria de um coronel português intitulado Guerra Revolucionária. Esse
livro era uma antevisão da Quinta Coluna que foi muito bem usada pelos nazistas
para dominar, praticamente, toda a Europa, visando ao domínio mundial. Esse
coronel descrevia o processo com muita lucidez e objetividade e era um alerta.
Para mim, foi um alerta. Depois, emprestei esse livro e como livro e dinheiro
quando se empresta geralmente se perde, não sei mais aonde ele foi parar. Dali,
então, é que comecei a despertar mais para essa questão – perigo comunista,
política em si” (General-de-Brigada Celso dos Santos Meyer, Tomo 10, pg. 128).
João Cotrim: Um Engenheiro
Brasileiro na Rússia
“O País marchava a passos largos para a
implantação do que se chamava, na época, de república sindicalista, que, no
fundo, significava a adoção do marxismo-leninismo, ou seja, a comunização.
Era preciso reagir!... E começamos
modestamente... Os tenentes do Regimento [RO 105 – Itu-SP] passaram a fazer um
programa anticomunista na Rádio Convenção, de Itu, o qual era gravado em
instalações da Igreja Matriz, o que retrata, de maneira clara, a posição da
Igreja na época, em sua grande maioria contrária às artimanhas daquele Governo,
voltado para a implantação do comunismo ateu. A Igreja, além do incentivo,
oferecia-nos todo o apoio.
Trabalhávamos em duplas: Tenentes Danilo Rubens
Marini e Ronaldo Gouveia de Miranda faziam uma dupla de jornalistas,
apresentando um jornal comentado, com críticas aos atos e medidas populistas do
governo federal. Um outro quadro era o meu, como Engenheiro João Cotrim, especialista
em construção de barragens e hidrelétricas, com o Tenente Montedônio, como um
interlocutor ávido de notícias, interessado em saber tudo sobre a Rússia, de
onde Cotrim acabara de vir, após estagiar nos canteiros de trabalho de grandes
barragens, como autoridade, reconhecida internacionalmente, no assunto, obras
apresentadas ao mundo pela Rússia e pelos seus admiradores no Brasil como
fabulosas e inigualáveis. Esses mesmos brasileiros, anos depois, criticavam
Itaipu, que teve como principal técnico João Cotrim, chamando-a de obra
faraônica, obra que vem permitindo ao Brasil sobreviver em termos de energia.
Para viver o papel de João Cotrim, tive que
estudar, nas suas minudências, o livro por ele escrito ‘Um Engenheiro na
Rússia’. Nesse livro, ele mostra a grandeza das barragens, das hidrelétricas,
mas enfatiza que a propaganda russa as tornava maiores e mais importantes do
que na verdade o são.
Aborda, também, o Engenheiro Cotrim, o outro
lado, mostrando a carência e a má qualidade dos bens de consumo na Rússia e
destaca a intoxicação doutrinária, verdadeira lavagem cerebral, que sofria o
povo na União Soviética. Ele cita em seu livro, por exemplo, uma propaganda
muito difundida na Armênia, através de uma metáfora. Dizia o texto: ‘Raia no
horizonte o comunismo perfeito’. E os camponeses da região não entenderam a
figura de retórica e pediram explicações. A principal rádio estatal mandou-os
procurar a definição de horizonte, uma vez que o conceito de comunismo já era
por demais conhecido. E veio a definição de horizonte: ‘Linha imaginária que
separa o céu da terra e que se afasta de nós à medida que nós nos aproximamos
delas’.
Realmente, o conceito de horizonte retrata
muito bem o ‘comunismo perfeito’, mostrando que ele nunca será alcançado, não
existia, portanto, e nunca existirá.
Tudo isso era assunto de minha conversa no
papel do Engenheiro Cotrim, com o Montedônio, o interlocutor à procura da
verdade sobre a Rússia, que, no Brasil, era uma incógnita naquela época. Só
chegavam de lá informações positivas, deixando todo mundo impressionado com o
seu poder. Assim, o livro do Engenheiro Cotrim era, no início de 1963, uma
atração; fazia parte dos primeiros livros a apresentar uma amostragem da
realidade russa, diferente do que se difundia naquele período” (General-de-Brigada
Geraldo Luiz Nery da Silva, Tomo 10, pg. 203-204).
Júlio de Mesquita Filho, dono
do jornal O Estado de S. Paulo, queria uma Revolução muito mais dura
“Quem teve a oportunidade de ler o
livro Março 1964: a mobilização da audácia, editado em 1965,
irá relembrar as razões do acima exposto. Os que não leram vão tomar
conhecimento do que escreveu o jornalista José Stachini, autor do livro,
integrante de O Estado de São Paulo e, como citado no texto,
considerado um de seus mais notáveis repórteres. Logo, aceito como pleno de
credibilidade.
A carta do Dr. Júlio de Mesquita Filho, de 20
de janeiro de 1962, ao Estado-Maior clandestino, transcrita no livro, demonstra
a articulação posta em andamento para a derrubada do Governo Goulart.
Divergindo de alguns pontos, ressalta as falhas dos movimentos de outubro de
1945, contra a ditadura e na queda de Getúlio em agosto de 1954, com a
precipitação da entrega do Poder ‘a homens que vinham do mesmo passado’; discute
sobre o prazo de permanência de um governo discricionário; trata do expurgo dos
quadros do Poder Judiciário, como absolutamente necessário, mas sem violências
desnecessárias; opta pela decretação de estado de sítio, de início, com a
dissolução das Câmaras, após a conquista da confiança da opinião pública;
defende a vigência da Constituição de 1946, com as devidas alterações; propõe
nomes para as pastas ministeriais, concluindo que ‘seria meio caminho andado
para que o País se convencesse de que, afinal, se haviam apagado da nossa
História os hiatos abertos na sua evolução pela ditadura do senhor Getúlio
Vargas e pela ação corruptora dos seus discípulos nos governos que se sucederam
até os nossos dias’; e, com extrema convicção, proclama que: ‘Acha-se o País em
estado de profunda comoção e não esconde a descrença que o vai dominando,
relativamente à possibilidade de sairmos da situação de anarquia e desordem em
que desesperadamente nos debatemos’.
A etapa seguinte, de acordo com o livro, foi
a apresentação por parte do doutor Júlio de Mesquita Filho aos chefes da
conspiração de um projeto de ‘Ato Institucional’, elaborado pelo diretor
de O Estado com a colaboração de professor de Direito
Constitucional. Os seus dezesseis artigos definem que o governo será
constituído por uma Junta Militar, que serão dissolvidos o Senado, a Câmara dos
Deputados, as Assembleias Legislativas e as Câmaras Municipais, que
governadores e prefeitos poderão ser confirmados ou destituídos com a nomeação
de interventores, além de outras providências. Em suma, o que ocorreu
efetivamente com a Revolução de 31 de março de 1964 foi muitíssimo mais tímido,
muitíssimo mais brando, muitíssimo mais democrático do que havia sido proposto
pelo doutor Júlio de Mesquita Filho” (Coronel Ernesto Gomes Caruso, Tomo 11,
pg. 252-253).
TV Tupi era um alento para os conspiradores
anti-Jango
“A euforia da esquerda só se comparava à
nossa decepção e tristeza. Mas tínhamos um alento: a batalha travada pelo
Governador da Guanabara, Carlos Lacerda, que desmontava o Governo por meio de
artigos e discursos. E o Governador de Minas, Magalhães Pinto, que também era
favorável à Revolução. Outro fato alentador era ligar a TV Tupi, à noite, e
ouvir o editorial escrito por David Nasser, grande jornalista, lido com muita
ênfase pelo locutor Gontijo Teodoro” (Tenente-Coronel Affonso Taboza Pereira,
Tomo 12, pg. 219).
General Mourão conspira contra
Jango, primeiro em São Paulo, depois em Minas
“Em 1964, eu era Oficial do Estado-Maior da
2ª Região Militar, em São Paulo. Quando lá cheguei, em 1963, o Comandante da
Região era o General Lyra Tavares, que ficou pouco tempo, sendo logo
substituído pelo General Olympio Mourão Filho.
Com o General Mourão, logo após ele assumir,
passamos a ter reuniões conspiratórias presididas por ele, com alguns oficiais
do Estado-Maior da Região. Quero aqui destacar o nome de dois deles que foram
os padrinhos dos mais novos que lá estavam, foram o Coronel Policarpo e o então
Coronel Augusto Cid Camargo Osório, depois General. Lá em São Paulo, tínhamos
essas reuniões na parte da manhã, porque, naquela época, o expediente iniciava
às 11h. O General Mourão nos reunia pela manhã, quando fazia exposições a
respeito da situação, do pensamento dele; fizemos, inclusive, estudos e planejamentos para, se fosse o caso,
montarmos um grupo de resistência na Serra da Bocaina, a meio caminho entre o
Rio de São Paulo” (General-de-Divisão Anápio Gomes Filho, Tomo 11, pg. 48).
O estratagema do General
Mourão, para ter tropa a seu comando
“Mas, o General Mourão queria ir para Minas,
para uma Região Militar com tropa, porque não havia unidades de combate na 2ª.
Região Militar; e ele acabou sendo transferido para a 4ª. Região Militar/4a.
Divisão de Infantaria, em Juiz de Fora.
Aqui convém lembrar uma história que ele nos
relatou em uma visita que fez a São Paulo após a Revolução. Disse-nos que fora
informado por pessoas amigas que estava sendo acompanhado, vigiado em São
Paulo, porque estaria conspirando contra o Governo. Então, em meados de 1963,
nas comemorações da Revolução Constitucionalista de 1932 de São Paulo, ele e
alguns oficiais compareceram à Assembleia Legislativa para a sessão solene e lá
estava também o General Peri Constant Bevilaqua, que comandava o II Exército.
Quando um dos oradores começou a criticar o Governo, naquele exato momento, o
General Mourão fez um sinal para os seus oficiais, ficou de pé, e abandonou o
recinto, em sinal de protesto aos ataques que o Governo estava sofrendo por
parte daquele orador. Era a maneira que ele encontrou para mascarar a sua
posição diante daquela corrente ligada ao Governo, contrária a ele e ao seu
desejo de ir para a 4ª. RM/4ª. Di e, com aquela iniciativa, ele acabou sendo
transferido, como queria, para Minas Gerais” (General-de-Divisão Anápio Gomes
Filho, Tomo 11, pg. 48).
MOVIMENTOS DE GRUPOS CIVIS E
MILITARES SÃO CRIADOS EM TODO O BRASIL, PARA COMBATER O DESGOVERNO DE JOÃO
GOULART E A AMEAÇA COMUNISTA
Devido à baderna Jango-Brizola nos campos
econômico e social, e seu aparato militar a serviço da indisciplina e
insubordinação de militares nas Forças Armadas, desde 1961 houve criação de
inúmeros órgãos de combate às pretensões de Jango se tornar um novo Getúlio –
na verdade um novo Kerensky, pois estava alimentando o dragão vermelho, vale
dizer o Comunismo -, como o IPES, o IBAD, a CAMDE, a Arca de Noé, o MED etc.,
além de grupos de conspiração formada por militares. Empresários, militares,
escritores e artistas se empenharam em realizar palestras, lançar livros e
filmes, para alertar a sociedade sobre o perigo comunista que cada dia era mais
forte e evidente. Causou-me surpresa saber que poucos oficiais-generais, entre
os entrevistados, fizeram menção a essas organizações civis anti-Jango.
INSTITUTO DE PESQUISAS E ESTUDOS SOCIAIS
(IPES)
“Gostaria também de relatar sobre uma
atividade que participei com três dirigentes do Instituto de Pesquisas e Estudos
Sociais (IPES). O IPES foi um Instituto civil que atuou muito com o fito de
difundir os princípios da livre iniciativa, da propriedade privada e, também,
condenando as reformas de base do Governo de João Goulart.
Junto com três
diretores membros do IPES, o Paulo Ayres Filho, o João Baptista Leopoldo
Figueiredo e o Paulo Reis de Magalhães, formamos uma caixa única com o objetivo
de traduzir quatro livros favoráveis à livre iniciativa. Um deles chama-se ‘O
Caminho da Servidão’, principal livro de Hayek, fundador da Escola Neoliberal.
Traduzimos e
publicamos esse livro; fizemos uma edição de cinco mil exemplares. Procedemos,
ainda, a tradução e a publicação de mais três livros, tudo à nossa custa, e
distribuímos gratuitamente os quatro livros por todos os quartéis brasileiros,
por todas as universidades brasileiras, por todos os seminários brasileiros e
para todos os jornalistas que tratavam de assuntos políticos. Quer dizer, eles
podiam ser contra, mas não podiam dizer que eram ignorantes. Esses quatro livros
já mostravam o que seria a economia de mercado, que veio triunfar nos dias de
hoje” (Doutor Adolpho Lindenberg, História Oral do Exército – 1964, Tomo
7, pg. 300).
“Atribuo o
início das atividades de defesa da democracia à fundação do IPES (Instituto de
Pesquisa e Estudo Social) e IBAD (Instituto Brasileiro de Ação Democrática)
duas instituições que foram criadas por civis com a participação de militares.
Não tive a oportunidade de tomar parte, mas alguns militares foram convocados e
participaram, tentando vender a ideia de que alguma coisa tinha que ser feita.
O ritmo dos acontecimentos estavam se desenvolvendo, principalmente, a partir
da posse de João Goulart, com a renúncia do Jânio, começou a estabelecer uma
enorme preocupação. Havia mesmo civis que estavam pensando em se retirar do
País, achando que não havia mais solução. Um companheiro nosso, contemporâneo,
que chegou aos mais altos postos do Exército, chegou a considerar que estava
tudo perdido, tirou um ano de licença sem vencimentos e foi trabalhar numa
empresa civil. Acreditava que já estava tudo perdido!
Outros
militares, que eram mais politizados, começaram a fazer oposição ao Governo
Goulart que tinha assumido e foram afastados, mandados para as chamadas
Circunscrições de Recrutamento (CR), que passaram a ser, depois, as
Circunscrições do Serviço Militar, as CSM. Por que os mandaram para as CSM?
Porque eram administrativas relativas a Serviço Militar e Mobilização, contando
com um efetivo muito reduzido. Eram oficiais muito politizados, como os irmãos
Serpa. Para Bauru, foi o Golbery, se não me engano, e o Couto e Silva. O Serpa
‘louro’ foi para Sorocaba, o Serpa ‘preto’, que era o irmão mais velho, foi
para o Piauí, o Serpinha – Luiz Gonzaga de Andrada Serpa -, o mais moço e o
mais politizado, foi para Manaus. Esses oficiais merecem todo o meu respeito e
minha admiração. Eles tiveram a antevisão, que eu mesmo admito que não tinha.
Estava voltado para a minhas atividades castrenses, como já disse, para o meu
esporte... Às vezes, achava que eles exageravam, que eles estavam vendo, como
se diz normalmente, ‘chifre em cabeça de cavalo’ ” (General-de-Brigada Celso
dos Santos Meyer, Tomo 10, pg. 128-129).
“Telefona-me do
Rio de Janeiro um senhor chamado Gilberto Huber Filho, responsável pela impressão
das listas telefônicas amarelas, naquela época. Numa reunião social no Rio de
Janeiro ele fazia parte de um grupo que conversava sobre as ameaças de
esquerdização do Brasil: socialização, comunização, a possibilidade de se chegar
a choques, conflitos violentos, guerra civil; era um negócio muito
aterrorizante, na época. Nesse grupo carioca estava o Trajano Pupo Neto, outro
grande amigo meu, que disse a eles: ‘Olhem, não façam nada sem conversar com um
grande amigo lá em São Paulo que é um ‘tarado’ em matéria de liberdade
econômica.’
(...)
E esse Senhor
Huber, como disse, tornou-se um ‘amigão’, chegou no meu escritório mais ou
menos umas 16h e só saiu da minha casa depois da meia-noite. Então, nesse
primeiro encontro, creio que o Huber concorda comigo, nasceu o que veio a se
chamar Instituto de Pesquisa e Estudos Sociais (IPES), porque resolvemos que
faríamos alguma coisa nesse sentido: ele com o grupo do Rio e eu com os amigos
de São Paulo.
(...)
Assim, outras
entidades surgiram, também, mas Rio e São Paulo criaram o IPES e o seu
presidente foi o João Baptista [João Baptista Leopoldo Figueiredo]. Em São
Paulo, além do próprio João, contávamos, também, com gente como Paulo Reis de
Magalhães, que foi um grande companheiro, Roberto Pinto e Sousa, enfim, são
tantos que vou fazer a injustiça de nem tentar relacioná-los. No Rio de
Janeiro, junto com o Huber tinha muitos outros companheiros como Harold
Polland, presidente do grupo carioca, Augusto Trajano de Azevedo Antunes,
enfim, muitas pessoas sérias, de nível alto e, sobretudo, de um patriotismo
estupendo.
O IPES deu
início, então, ao seu trabalho e hoje estou tendo o prazer de entregar aqui, ao
Exército, os arquivos do IPES. O do Rio de Janeiro foi doado para a Biblioteca
Municipal, o que achei um erro grave. Aqui não, eles vão ficar guardados no
Exército e vão ser consultados por quem, sem ideia preconcebida, queira estudar
o que foto aquele movimento.
(...)
Por que o IPES
parou? Porque assim que houve a Revolução de 1964, das 440 empresas que
contribuíam para ele – para defendermos as próprias empresas, defendermos o
País, defendermos o interesse brasileiro – foram deixando de fazê-lo. Era uma
tragédia: em cada reunião, dez, vinte, trinta paravam.
Em 1965 e 1966
já se pensava em fechar o IPES. Em São Paulo, em 1967, passou a hibernar, e,
finalmente, fechou em 1968. O do Rio de Janeiro durou um pouco mais, mas também
desviou as atividades. Hão havia, por parte dos empresários, seja brasileiros
ou, muito menos, estrangeiros, interesse em apoiá-lo para que continuasse
realizando aquele trabalho de tão bons resultados.
(...)
Institutos
Liberais
Anos atrás
estava voltando a ser panfletário e, por isso, me procuraram para formar um
Instituto Liberal. Não pude aceitar, naquela ocasião. Paralelamente, surgiu um
outro no Rio, liderado por um empresário que se dedicou realmente 100% àquilo,
mas morreu há pouco tempo. Era um sujeito extraordinário; reuniu o pessoal do
IPES e outras pessoas que queriam trabalhar e conseguiu fazer um Instituto
Liberal dedicado exclusivamente à doutrinação e à cultura econômica. Obteve
muito sucesso.
Em São Paulo,
foi formado outro Instituto Liberal. Tive o privilégio de ser convidado para me
aliar a eles e acabei presidente do seu Conselho Consultivo. Doei ao Instituto a
minha biblioteca de economia, tudo sobre mercado. Existem hoje, pelo que sei,
oito institutos liberais no Brasil inteiro. Porém, aí vem a dolorosa
informação: todos, sobretudo o de São Paulo, estão passando pelo mesmo problema
que o IPES viveu – queda de arrecadação e elevação dos custos. Começa-se a
perguntar: para ou não para?” (Doutor Paulo Ayres de Almeida Freitas Filho,
Tomo 7, pg. 381-389).
Obs.
O
IPES, o Instituto Brasileiro de Ação Democrática (IBAD), a Campanha da Mulher
pela Democracia (CAMDE) e as Forças Armadas formaram a base quadrangular
decisiva para o desencadeamento da Contrarrevolução de 31 de março de 1964,
contra Jango, em sua política de implantar a "República Sindicalista"
no Brasil.
Em 2002, fui convidado
pelo secretário executivo do Instituto Liberal de Brasília, professor emérito
da Universidade de Brasília, Nelson Lehmann da Silva – autor do livro A
Religião Civil do Estado Moderno –, para participar das reuniões do
Instituto, às quintas-feiras, à noite. O presidente era o embaixador,
professor, pensador e escritor José Osvaldo de Meira Penna, autor de mais de
duas dezenas de livros – cfr. em https://www.amazon.com.br/Livros-Jos%C3%A9-Osvaldo-de-Meira-Penna/s?rh=n%3A6740748011%2Cp_27%3AJos%C3%A9+Osvaldo+de+Meira+Penna.
O IL de Brasília
fechou em 2004, assim como muitos outros no País inteiro, por falta de
patrocínio. Herdei cerca de 20 livros do IL, versando principalmente sobre
Economia e Liberdade, como O Caminho da Servidão, de Friedrich F.
Hayek.
Nelson Lehmann
faleceu em 2011.
Meira Penna
faleceu em 29 de julho de 2017, aos 100 anos de idade.
F. Maier
MOVIMENTO ESTUDANTIL DEMOCRÁTICO (MED)
“Nos idos de 1963, época em que cursava o 2º.
Ano do Curso Colegial, no Colégio Dante Alighieri, aqui em São Paulo, foi
organizado por um pugilo de colegas, um movimento chamado Movimento Estudantil
Democrático (MED). Os colegas, de quem me recordo, Rafael Boschesi, filho de um
antigo presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, e Moacir
Porfírio, orientados por nosso saudoso mestre de Português, à época, Professor
Francisco Sodero, organizaram o movimento. Possuía dois campos de ação, um de
ordem cultural e outro de ordem eminentemente política.
Qual o sentido desse movimento? Por que foi
organizado?
Porque o Brasil caminhava, tudo levava a
crer, para um momento de forte confronto, naqueles tempos de enorme agitação em
nosso País: agitação cultural, agitação política, agitação econômica e, é bom
recordar, também, agitação militar – em 1963, o Presidente João Goulart
compareceu a uma solenidade da Marinha e, praticamente, incitou a tropa contra
seus respectivos comandantes. O confronto viria entre os grupos que,
praticamente, detinham o Poder, homens da extrema esquerda, e os que queriam
evitar que o País caísse totalmente nessa linha política.
Daí a razão desses curso e conferências,
digamos, preparatórios, para os estudantes que estavam em fase de conclusão de
seus respectivos cursos colegiais e entrando nas faculdades, que, de uma
maneira geral, eram verdadeiros ninhos de subversão sob orientação da União
Nacional dos Estudantes (UNE) e da União Estadual de Estudantes (UEE).
Tentava-se algum exercício democrático, um
preparo de ideias democráticas para podermos enfrentar os colegas esquerdistas,
estes sim, que já vinham tremendamente preparados pelo pessoal da extrema
esquerda. Em outras palavras, esforçávamo-nos para que os demais estudantes não
caíssem presas fáceis nas mãos das hostes comunistas. Naquela época, se usava
muito essa expressão ‘comunista’, ‘esquerdista’. Aparentemente, hoje, esses
termos estão fora de moda, mas talvez não estejam tão fora de moda assim;
muda-se a forma mas não se altera o conteúdo.
O MED, movimento de reação democrática,
parecia muito promissor e eram convidadas para falar pessoas ilustres do nosso
meio jurídico. Recordo-me, por exemplo, do Dr. José Carlos Graça Wagner,
advogado de grande renome, excelente conferencista, do Dr. Ives Gandra Martins,
outro advogado de muita respeitabilidade, e que, também, fazia suas
conferências, suas palestras, e do Dr. Francisco Albuquerque, então integrantes
do Partido Liberal, dentre outros.
Lamentavelmente, este movimento encerrou suas
atividades. Assim, chegamos ao 3º. Ano do Curso Colegial, às portas de
entrarmos na faculdade, sem essa preparação.
Nessa ocasião, eu e mais um punhado de outros
colegas, integrantes do antigo movimento, fundamos um novo, nas mesmas bases,
que se chamou Associação Democrática Estudantil de São Paulo (ADESP)” (Doutor
Antônio Carlos Adler, Tomo 7, pg. 318-319).
ASSOCIAÇÃO DOS HOMENS LIVRES
“A AD/6 estava sem General Comandante e o
Coronel Paula Couto a comandava interinamente. Por sua posição anticomunista
claramente definida, estava preocupado com o crescimento dos movimentos de
esquerda. A principal ameaça provinha dos ‘grupos dos onze’ do Brizola que se
organizavam em todo o Estado [RS]. Para contrabater os tais grupos, ele criou
a Associação dos Homens Livres. Parecia até que, no início de 1963,
Cruz Alta tornara-se um reduto de oficiais ligados a uma conspiração contra o
governo. Essas precauções e a atuação democrática junto à população civil
tiveram depois, em março de 1964, efeito muito positivo. Esse era o quadro da
Guarnição” (General-de-Exército Décio Barbosa Machado, Tomo 13, pg. 91).
LIGA DE DEFESA NACIONAL
“No meio civil, destaco algumas pessoas que
colaboraram conosco. O Dr. Apodyr Almeida de Oliveira, representante da Liga de
Defesa Nacional na cidade. Foi um homem com quem me liguei permanentemente
desde que cheguei em Pelotas. Nunca duvidei do seu sentimento patriótico.
Advogado, não exercia cargo público, coisa rara. Era dedicado à Liga de Defesa
Nacional, onde eu o auxiliava. Também o Dr. Edmar Fetter, Prefeito municipal,
nos deu apoio antes, durante e depois da eclosão do movimento, e ainda um
radioamador que servia de ligação entre a minha pessoa e o Etchegoyen (Léo
Guedes Etchegoyen) – perdi o nome, é uma das minhas mágoas. Tínhamos uma
rede-rádio de radioamadores que, mediante palavras-código, aparentemente sem
importância, estávamos ligados: ‘Como vai o futebol? E o teu time? Já tens
novos reservas?’ Parecia só brincadeira, mas sabíamos do que estávamos falando.
Cito também o repórter Mário Emílio de Menezes, que hoje mora em Porto Alegre.
Trabalhou muito na Liga de Defesa Nacional e tem muito para contar.
(...)
Entre os militares da Guarnição
destacavam-se: o Major Scarone (Cid Scarone Vieira), meu braço direito na
Revolução; o Major Prates (Paulo Sylvio Prates); o Tenente ou Aspirante Suppa
(Mário Ângelo Suppa Thomaz Pereira), foi um grande auxiliar que tive. Como
Aspirante ele até corria risco, proque eu, se me mandassem embora, iria
promovido com todas as vantagens, mas o pobre do Aspirante.
Destaco, ainda, o Major Lúcio (Lúcio Madeira
Guimarães), que era Assistente na ID/3, trabalhava ligado ao Coronell Joaquim.
A ID não tinha oficial de Estado-Maior. Eram só o Comandante, o Assistente e
dois oficiais do Quadro Auxiliar de Oficiais, por sinal excelentes; um deles –
o Cavalcanti (Humberto Pessoa Cavalcanti) – faleceu há pouco tempo.
Convém deixar aqui registrado que houve
unanimidade por parte dos demais oficiais e praças da Unidade em apoiar o
Movimento. Não tivemos defecção. A partir do momento que o Regimento disse que
estava a favor da Revolução, nenhuma voz discordante se apresentou”
(General-de-Brigada José Mattos de Marsillac Motta, Tomo 13, pg. 109-110).
EDUCANDO PARA A DEMOCRACIA
“Uma organização que nos ajudou muito foi a
‘Educando para a Democracia’, cuja história retrato no artigo ‘O acordar dos
militares’. Cortamos todo o Rio Grande pregando Democracia para os estudantes
do 3º. Grau. Era uma linha intelectual que reunia homens como: o Galeano
Lacerda, desembargador, hoje está aposentado; o Hugo di Primio Paz, professor
da UFRGS; o Clóvis Stenzel, psicólogo e advogado, foi líder da Arena no
Congresso; a Ecilda Haenzel, advogada, cujo marido, o médico José Mariano
Haenzel, já morto, foi quem me possibilitou não embarcar para Ipameri e ficar
resistindo aqui. Um colaborador de peso foi o José Otão, reitor da Pontifícia
Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC/RS), que nos possibilitou
organizar a ‘Educando para a Democracia’, que nasceu dentro da PUC” (Coronel
Pedro Américo Leal, Tomo 13, pg. 246).
“Os ‘janguistas’ me anularam, mas me
vigiavam. Sabiam que eu tinha proteção da Junta [Médica], através do seu
presidente e do Mariano Haenzel, que emitiu um atestado para meu filho – na
verdade, ele sempre foi profundamente asmático. Tudo isso era uma articulação e
logo depois que iniciei a Licença para Tratamento de Saúde de Pessoa da Família
(LTSPF), senti que fui esvaziado.
Eu, o Léo Etchegoyen, o Lauro Rieth, o Sommer
de Azambuja e o Comandante do 2º. Regimento de Reconhecimento Mecanizado, o
Admar Borges Fortes da Silva; nós cinco fomos transferidos. O Sommer de Azambuja
e o Lauro Rieth solicitaram transferência para a reserva; não sei se o
Etchegoyen chegou a ir para Santo Ângelo; eu não fui e o Coronel de Cavalaria,
irmão de um jornalista do Correio do Povo, não sei o que se passou com ele.
Fiquei uns dois ou três meses completamente isolado, porque quem falasse comigo
era identificado e ficava marcado” (Coronel Pedro Américo Leal, Tomo 13, pg.
248).
GRUPO DE AÇÃO PATRIÓTICA (GAP)
“Fiz a Revolução com 19 anos, liderando um
movimento de jovens do Grupo de Ação Patriótica – GAP – que se opunha à
representação da União Nacional dos Estudantes (UNE), dominada por comunistas.
Nossa atuação está registrada em muitos autores e os jornais da época destacam
a presença do GAP em atos públicos de defesa da ordem e dos valores mais
expressivos e conservadores da sociedade brasileira.
O nosso Grupo, que atuava principalmente no
Rio de Janeiro, em Minas Gerais e em São Paulo, era composto, basicamente, por
jovens estudantes, tendo por programa de ação o combate às reformas comunizantes
de Brizola e Goulart; ao sistema de representatividade da classe estudantil,
adotado na União Nacional dos Estudantes e na União dos Estudantes do Ensino
Secundário (UEES); à encampação de refinarias; à ocupação de postos-chave da
administração na Petrobras, no Departamento de Correios e Telégrafos, na Rede
Ferroviária, nos Portos etc. por elementos comunistas; à influência desmedida
dos dirigentes sindicais nos destinos do País; à censura à palavra de políticos
da oposição, como Amaral Neto, Carlos Lacerda, Raimundo Padilha e muitos
outros, no rádio e na televisão; à omissão governamental diante das greves e
das agitações permanentes, de caráter político e subversivo.
Os jovens tinham como referência maior o
trabalho desenvolvido pelo Almirante Sílvio Heck, Ministro da Marinha no
Governo Jânio Quadros, para fugirem a uma identidade partidária, de vez que
eram muitas as lideranças políticas que se opunham a Goulart, como os
governadores de Minas, Magalhães Pinto, de São Paulo, Adhemar de Barros, e da
Guanabara, Carlos Lacerda, todos candidatos em 1965, e o grupo de JK, do PSD,
onde muita gente se contrapunha ao Presidente.
O GAP se integrou a entidades formadas por
empresários, mulheres, militantes católicos, militares da reserva, ex-líderes
estudantis, para se opor à pregação revolucionária das esquerdas, que
encontravam acolhida no Governo Goulart, bem como ao grevismo político que
fazia parte do cotidiano do País.
(...)
O Brasil é quase todo o continente, e para
onde se inclina, a América Latina tende a seguir, como bem disse o Presidente
Nixon. Os EUA não tolerariam uma Cuba do tamanho do Brasil. Nem do Chile, salvo
por uma das mais impressionantes e completas personalidades históricas de nosso
tempo, o General Augusto Pinochet, um grande amigo do Brasil, que nos visitou
várias vezes como Presidente e, depois, como mero turista. Este forma com o
General Franco, de Espanha, a dupla de grandes benfeitores do Ocidente, tratados
com tanta ingratidão e maior desonestidade no que tem sido publicado. Foram eles
que infringiram as maiores derrotas ao comunismo no século XX.
A bibliografia é rica em confirmar o empenho
da União Soviética em agitar a situação política e social no Brasil, na América
Latina, insistindo na violência no campo, na dominação da mídia e do meio
intelectual. A Igreja e as Forças Armadas eram prioridades do comunismo desde a
década de 1940. Afinal, as grandes derrotas do comunismo se deram no final da década
de 1930 com a Guerra Civil da Espanha, em meados da década de 1960 com o Brasil
e de 1970 com o Chile. Em todos os três casos, a mão comunista – com base na
Rússia principalmente – era visível e os bons resultados da reação no campo
social e do desenvolvimento econômico foram duros golpes. As bases do progresso
da Espanha, do Chile e do Brasil são devidas a Franco, Pinochet e aos nossos
generais-presidentes, especialmente Castello, Costa e Silva, Médici, e João
Figueiredo. A única vitória do comunismo importante foi a Revolução dos Cravos,
em Portugal, que acabou por permitir uma independência sangrenta em Angola e
Moçambique, territórios que estavam marchando para uma solução de alto nível,
com base na lusitanidade, em algo que se parecesse com a do Brasil que foi
proporcionada por um rei de Portugal, na ocasião príncipe-herdeiro. Mas a
cobiça comunista das riquezas de Angola, principalmente, falou mais alto, não
contando apenas com a reação de uma parte não comunista, a União Nacional para
Independência Total de Angola (UNITA), que sustentou uma guerra violenta por
mais de 25 anos, com grande número de mutilados. Uma tragédia, em que o Brasil
agiu de forma omissa no governo Geisel e, daí, em diante.
(...)
A partir daí, a prioridade dos soviéticos foi
a infiltração entre militares e religiosos. No Brasil, não poderia ser
diferente. Os militares sofreram de tal maneira a infiltração, que tivemos,
pouco antes da Guerra da Espanha, a Intentona de 1935 e, em 1964, a nossa
Revolução precisou retirar, de forma autoritária de suas fileiras, mais de
quatro mil militares sob suspeição de tolerância com o comunismo, número muito
maior do que o de afastamento no funcionalismo civil, por exemplo. A Igreja,
por sua vez, foi muito usada pelos radicais da luta armada e pela influência
que os temas políticos passaram a ter na Conferência Nacional dos Bispos do
Brasil (CNBB). O saldo desta militância de esquerda de parte do clero abriu as
portas do Brasil para seitas ditas cristãs, que acabaram se tornando
verdadeiros negócios e comitês eleitorais, a chamada ‘bancada evangélica’.
(...)
Ao ser fundado em junho de 1962, o GAP firmou
convênio com a Aliança Democrática Brasileira e o Centro José Bonifácio,
organizações democráticas de São Paulo, presididas pelos estudantes Waldo
Domingos Claro e Fânio Sandoval, e formou um núcleo em Juiz de Fora, dirigido
pelo universitário Marcos Ventura de Barros.
(...)
Não tendo vinculação com qualquer partido, o
GAP aceitava, de bom grado, a colaboração e a adesão de todos os verdadeiros
patriotas, independente de onde viessem ou estivessem.
De nossa Carta de Princípios, constava a
defesa intransigente do regime democrático, da família, da Igreja, da
propriedade e da iniciativa privada.
(...)
Hélio Silva recorda os Comícios pela Democracia,
realizados pelo Deputado Amaral Neto, com a presença de parlamentares de todo o
País, membros da Ação Democrática Parlamentar, nos quais pregávamos, em praça
pública, a reação ao Governo. Nesses comícios, realizados semanalmente em
várias cidades, coube-me sempre falar em nome dos estudantes democratas como
presidente nacional do GAP.
Lembra o escritor que me cabia, através da
Rede da Democracia – cadeia de emissoras de rádio que se opunha à cadeia da
legalidade, de Leonel Brizola – falar, semanalmente, na qualidade de Presidente
do GAP, recomendando, inclusive, a mobilização armada contra os camponeses de
Francisco Julião e os elementos dos Grupos dos Onze, de Brizola.
A participação da rapaziada do GAP, relembra
o escritor, estava intimamente ligada ao grupo conspirador liderado pelo
Almirante Sílvio Heck. Por algumas vezes, realizamos
transporte de armas de São Paulo para o Rio de Janeiro. Chegamos, inclusive, a
trazer metralhadoras em malas e em ônibus da viação Cometa. Este transporte e movimentação de
armamento foi uma vez estourado pela Polícia do Exército, mas eu e mais dois
companheiros conseguimos escapar na própria estação rodoviária.
Em consequência desta ação, a sede da
entidade Ação Vigilante do Brasil, na Rua 1º. de Março, no Rio de Janeiro, foi
invadida e interditada, assim como um sítio em Jacarepaguá, onde o Governo
apreendeu as armas. Por sorte, o Inquérito Policial Militar (IPM) que o
Ministro da Guerra instaurou foi confiado ao General Idálio Sardemberg. Como a
imprensa janguista insistia em citar Heck, além de citar-me juntamente com o
GAP, tomei a iniciativa de procurar pessoalmente o General Sardemberg, em sua
casa, na Rua Souza Lima. Na conversa que mantive com ele, aleguei que o
movimento distribuía livros, combatia a UNE etc. e que o noticiário dos jornais
era maldoso. O General Sardemberg me ouviu e por fim disse-me: ‘Sei que as
coisas não são bem como você diz, mas elogio o seu civismo e peço levar ao
Almirante Heck minhas palavras de tranquilidade. Vocês não serão incomodados’.
(...)
Lembro-me de que, no final de 1962, logo após
o Almirante Sílvio Heck deixar o Quartel Central do Corpo de Fuzileiros Navais,
onde se encontrava preso, formamos um grande cortejo de automóveis integrado
por delegações de diversas entidades, entre as quais a nossa – o Grupo de Ação
Patriótica – e muitas outras, como a Frente da Juventude Democrática, a Ação
Vigilante do Brasil, a União Operária Camponesa do Brasil, o Movimento
Estudantil Católico, o Movimento Estudantil Marítimo, a Aliança Democrática
Popular etc.
(...)
A primeira operação conjunta foi a
distribuição de livros e folhetos em fábricas e colégios da Guanabara, São
Paulo de Minas Gerais. Distribuímos, inicialmente, três livretos: ‘Depoimento
sobre a Rússia’, mais de seis mil exemplares, de Nascimento Brito, Diretor
do Jornal do Brasil; ‘Estopim da Fraude’, de Waldo Domingos Claro,
presidente da Aliança Democrática Brasileira; e ‘UNE, Instrumento da Subversão’.
Numa ação continuada, conseguimos, ainda,
distribuir mais de vinte mil livros de esclarecimento popular, alcançando maior
destaque ‘Um Engenheiro Brasileiro na Rússia’, de John Cotrim; ‘Estudantes
Brasileiros na Tcheco-Eslováquia’, de Ronaldo Pereira Rodrigues, que fora
Secretário da UNE; e ‘Condição Humana da China Comunista’, de Suzanne Labin.
(...)
A Cadeia Radiofônica da Democracia iniciou
suas atividades no final de outubro de 1963, liderada pelas Rádios Tupi, Globo
e Jornal do Brasil, com a participação no primeiro programa de João
Calmon, Roberto Marinho e Nascimento Brito, diretores das emissoras que
encabeçavam a Cadeia” (Jornalista Aristóteles Drummond, Tomo 9, pg. 144-158).
AÇÃO DEMOCRÁTICA PARLAMENTAR (ADEP)
“Dia a dia, eu e meu pai sentíamo-nos na
obrigação de tomar posição favorável ao movimento contra João Goulart. Meu pai,
Deputado José Bonifácio Lafayette de Andrada me chamou para vir a Brasília e
disse que o Deputado João Mendes tinha organizado uma frente parlamentar
poderosa, a Ação Democrática Parlamentar (ADEP), para defender a democracia
contra qualquer manobra que surgisse. A ADEP realmente reuniu deputados da UDN,
quase todos do PSD, também do PTB e de outros partidos da Câmara dos Deputados.
Conversei com o João Mendes e ele disse: ‘Bonifácio, você podia organizar a
ADEP em Minas. Temos o apoio do IBAD (Instituto Brasileiro de Ação
Democrática), instituição não ligada a nós diretamente, mas que está muito
preocupada com o avanço da esquerda no Brasil. É um grupo poderoso de
industriais brasileiros dispostos a apoiar financeiramente o combate ao comunismo’.
Essa foi a informação que recebi sobre o
IBAD. Ele disse mais: ‘Você lá em Minas, além da direção da ADEP na Assembleia,
como também vou me comunicar com os dirigentes do IBAD, poderá fazer contato
com eles.’ O professor Ivan Hassolocher, segundo me disse, era o presidente do
IBAD. Respondi: “Deputado João Mendes, esse negócio de dinheiro do IBAD é algo
com que não gosto de lidar. Nesse caso, lá em Minas, há uma figura muito
interessante, Padre jesuíta José Cândido de Castro, que está também muito atemorizado
com os movimentos de esquerda no País e poderá gerenciar esta área, com
garantia de correção.’ Nesse episódio, preferi que tudo se articulasse com ele,
porque todos ficariam seguros de que não haveria nenhuma hipótese de desvio de
dinheiro. Realmente, não cuidei desse setor. O Padre Castro articulou-se com o
IBAD e passou a ser o responsável por essa área, em Minas. E mantinha contato
comigo. Organizei a ADEP na Assembleia Legislativa, que logo recebeu o apoio de
quase todos os deputados mineiros. Lançamos um manifesto nesse sentido”
(Deputado Federal Bonifácio de Andrada, Tomo 15, pg. 67).
CRUZADA TIRADENTES
“A determinação era muito grande. Acho que
uma pesquisa, antes que desapareçam os dados, precisa ser mais bem-feita sobre
aquela fase e sobre o ambiente psicossocial de Minas Gerais. Recordo-me bem da
Cruzada Tiradentes, de um Padre interiorano. Não me lembro direito da figura
dele. Esse Movimento andava pelo interior de Minas, em grupos enormes,
organizados para apoiar o Cristianismo contra o Comunismo. Era um movimento
altamente significativo. Estive também com grupos sindicalistas desejosos de
participar. Os meios empresariais, da mesma forma. O movimento feminino era
poderoso, desfilando nas ruas por Deus e pela Pátria. Quer dizer, é preciso
caracterizar bem que esse 31 de Março de 1964, em Minas Gerais, fou uma reação
vigorosa do seu povo para depor o pró-comunista João Goulart. No dia 31 de
março, a vitória das forças mineiras, da maioria do povo de Minas, inegável e
decisivamente contribuíram, até além das Alterosas, para que as Forças Armadas
ocupassem o Poder e iniciassem a institucionalização do movimento
revolucionário” (Deputado Federal Bonifácio de Andrada, Tomo 15, pgl 76-77).
MANIFESTO DOS PROFESSORES UNIVERSITÁRIOS,
COM SOBRAL PINTO
“O ambiente nacional exigia providências
emergenciais. No campo, havia uma violência muito grande. Os brasileiros não
mais se sentiam seguros. E ainda se apresentava a anarquia institucional: os
deputados a fazerem leis apenas compatíveis com a ideologia que cada um
adotava. Em 1963, falava-se abertamente de uma república sindicalista.
No primeiro trimestre de 1964, quatrocentos
ou mais professores universitários, tendo à frente a figura grandiosa de Sobral
Pinto, divulgaram um manifesto, criticando a complacência do Governo e pedindo
soluções. O cardeal do Rio de Janeiro fez um alerta sobre a eclosão possível de
uma revolução popular. À época, eu era juíza de Barbalha e, ouvindo a Rádio
Mayrink Veiga, mesmo como juíza, era difícil entender se o Governo estava
dentro da legalidade ou se o povo estava com a ilegalidade. Com o manifesto dos
professores universitários, pude, então, compreender que o Governo se
posicionava do lado das esquerdas” (Desembargadora Águeda Passos Rodrigues
Martins, Tomo 12, pg. 244).
CRUZADA DEMOCRÁTICA
“Em 1950, os comunistas conseguiram
infiltrar-se no Clube Militar, utilizando a revista para fazer proselitismo da
sua doutrina. Nasceu, então, a reação dos verdadeiros patriotas e democratas
para retomar a direção do Clube, através de um movimento que se denominou
Cruzada Democrática.
Não podendo utilizar as dependências do
Clube, as reuniões da Cruzada foram realizadas, inicialmente, na Federação de
Escoteiros do Brasil e, posteriormente, na sede do Clube dos Oficiais Reformados
e da Reserva das Forças Armadas, na Praça da República, 197, no Rio de Janeiro:
a Casa de Deodoro.
(...)
Em meados de 1962, nos reuníamos
rotineiramente às quartas-feiras à noite, na Casa de Deodoro, participando das
reuniões da Cruzada Democrática, as quais compareciam muitos oficiais da
reserva e da ativa (General Bina Machado, Coronel Sebastião Chaves,
Tenente-Coronel João Baptista de Oliveira Figueiredo etc.).
(...)
Fazíamos reuniões com outros companheiros, no
porão do edifício residencial da Praia Vermelha e na Vila Militar, em Marechal
Hermes, numa academia de judô.
Conseguimos, enfim, realizar a tão esperada
assembleia no Clube Militar, em 3 de julho de 1963, na presença de quase dois
mil sócios. Os comunistas, cerca de sessenta pessoas, em sua maioria oficiais,
audaciosamente, tentaram tumultuar a reunião inscrevendo-se para falar e
abordando assuntos contrários aos nossos objetivos. Foi preciso que um
companheiro, o Tenente-Coronel Aviador Coqueiro, mais tarde Brigadeiro, tomasse
o microfone das mãos de um esquerdista para que toda a assembleia, aos gritos,
os expulsassem do recinto.
Nessa assembleia, os irmãos Torres de Melo
(Artur de Freitas Torres de Melo e José Ramos Torres de Melo Filho) falaram de
forma incisiva em defesa dos postulados democráticos e da dignidade da classe
militar. No dia seguinte, esses companheiros foram presos: Artur, no Forte de
São João, e o José, no Forte Rio Branco” (Coronel Edgar Maranhão Ferreira, Tomo
6, pg. 107-108).
“Inicialmente muito tímido, o Clube Militar,
com o tempo, foi-se encorajando, graças, em grande parte, à presença de
oficiais-alunos da EsAO, do IME e da ECEME e, juntamente com o Clube Naval e o
Clube da Aeronáutica, teve um papel de grande relevância na preparação do
Movimento de 1964. Havia uma ala conhecida como ‘Cruzada Democrática’, que
reunia muitos oficiais que pensavam igualmente sobre aquele momento nacional.
Entre esses oficiais, incluíamo-nos eu e meu irmão Artur Torres de Melo, então
major, e outros bem conhecidos, como os então coronéis Arnizaut de Matos,
Sebastião Chaves e João Baptista Figueiredo. Aí confabulávamos sobre a situação
do País, sobre o que deveria ser feito e como. Motivado pela ‘Cruzada
Democrática’, no dia 3 de julho de 1963, o Clube Militar promoveu uma grande
reunião, com mais de três mil oficiais, presidida pelo General Magessi da Cunha
Pereira, seu presidente. Capitão e aluno do 3º. ano do IME, compareci a essa
reunião juntamente com o Artur, e fizemos, cada qual, um pronunciamento contra
o estado de coisas reinante, imputando as responsabilidades ao Ministro da
Guerra e ao Presidente da República. Os dois discursos, por sua veemência,
valeram-nos trinta dias de prisão para cada um, dados pelo Ministro da Guerra,
General Jair Dantas Ribeiro. Mas nós, os oficiais mais jovens, não arrefecemos
e continuamos nessa batalha, sem sabermos qual o pensamento dos nossos chefes”
(Major José Ramos Torres de Melo Filho, Tomo 4, pg. 236-237).
ARCA DE NOÉ
“Idealizada pelo então capitão dos Portos [do
Ceará], o Comandante Fernando Cavalcante, que aos sábados reunia-se com pessoas
de todas as classes sociais, na Capitania. A ‘Arca de Noé’ tinha como objetivo
a união de todas as categorias, exatamente o contrário do movimento comunista,
que preconizava a luta de classes para a tomada do poder. Tínhamos
representantes de todas as classes sociais: estivadores, militares, advogados,
juízes, industriais, todos em harmonia, inclusive os representantes de
sindicatos patronais e de empregados. As reuniões da ‘Arca de Noé’ tiveram
início em 1961. Em 1963, a ‘Arca de Noé’ passou à condição de pessoa jurídica.
Seu objetivo era o de promover a união entre todas as classes sociais e o
combate ao comunismo internacional” (Tenente-Coronel Silvio de Magalhães
Sampaio - Tomo 4, pg. 226).
“Por intermédio da Associação ‘Arca de Noé’,
colaboramos com importante trabalho de conscientização anticomunista em
instituições locais.
No mês de fevereiro de 1964, fui preso pelo
Cmt da 10ª. RM (amigo do Presidente João Goulart) por vinte dias, no quartel do
23º. BC, e transferido, a bem da disciplina, por ter determinado a distribuição
de folheto, divulgando informações de trabalho anticomunista em algumas
instituições. O fato teve grande repercussão na cidade e em várias guarnições
do Exército. Antes de seguir destino, recebi várias homenagens de militares e
civis, voltando mais tarde para receber os títulos de cidadão cearense e
fortalezenense, qua guardo até hoje” (General-de-Brigada Helio Duarte Pereira
de Lemos, Tomo 1, pg. 240). Como Chefe de Gabinete do SNI, o general Lemos
participou da apuração dos fatos realizados pela PF contra o governador de Goiás,
Mauro Borges, que foi deposto depois de o STF dar habeas corpus ao político,
por unanimidade.
“No Ceará, participamos de algo muito
interessante: um grupo, constituído por Antônio Guimarães, que já morreu –
quase todos já morreram – Hélio Lemos, o Comandante do 23º. BC, o Coronel
Diegues, eu e outros, fundou um clube, chamado ‘Arca de Noé’. Todos os sábados
nos reuníamos com o pessoal dos sindicatos e a gente conversava, tomava uns
aperitivos e almoçava. Dessa forma, fomos nos preparando e trocando idéias. O
resultado é que, em 1964, quando eclodiu a Revolução, o único Estado brasileiro
em que não houve greve foi o Ceará. Os sindicalistas compreenderam que o Brasil
não podia continuar com a anarquia existente, consequência daquela ação
psicológica desenvolvida com o objetivo de conscientizar a opinião pública”
(General-de-Divisão Francisco Batista Torres de Melo, Tomo 4, pg. 57).
“Destaco, também, a Arca de Noé, cujo
significado pré-revolucionário pouca gente conhece. Não era a Arca de Noé
bíblica, que reuniu todos os bichos da Terra, mas uma Arca de Noé que acolhia,
harmonicamente, os sindicalistas, os patrões e os empregados, pessoas de
diversas procedências, mas com um só pensamento: a defesa da Pátria! A ela se
deve, por exemplo, a imunização dos portuários cearenses às idéias anarquistas
vindas de fora. Estas, portanto, são reminiscências de um período vivido, pouco
antes da eclosão do Movimento Revolucionário de 1964” (General-de-Brigada
Manoel Theóphilo Gaspar de Oliveira Neto, Tomo 4, pg. 90).
“Quando o Sr. João Goulart assumiu a
Presidência da República, os oficiais que aqui serviam, por não concordarem com
o procedimento adotado pelo Poder Executivo, de seguir fielmente o movimento
comunista, chegaram a lançar um Manifesto, que lhes custou prisão e transferência.
No 10º. Grupo de Obuses 105 mm (10º. GO 105), a totalidade dos seus componentes
não se intimidou diante das ameaças. Eu estava servindo lá, nessa época. O
Grupo, sob o comando do Coronel Hélio Lemos, antecipou-se aos acontecimentos,
junto com a sociedade, preparando-se materialmente e com pessoal para combater
o governo central. Foi criada, nessa época, uma entidade civil chamada ‘Arca de
Noé’, idealizada pelo então Capitão dos Portos, o Comandante Fernando
Cavalcante, que, aos sábados, reunia-se com pessoas de todas as classes
sociais, na Capitania. A ‘Arca de Noé’ tinha como objetivo a união de todas as
categorias, exatamente o contrário do movimento comunista, que preconizava a
luta de classes para a tomada do poder. Tínhamos representantes de todas as
classes sociais: estivadores, militares, advogados, juízes, industriais, todos
em harmonia, inclusive os representantes de sindicatos patronais e de empregados.
As reuniões da ‘Arca de Noé’ tiveram início em 1961. Em 1963, a ‘Arca de Noé’
passou à condição de pessoa jurídica. Seu objetivo era o de promover a união
entre todas as classes sociais e o combate ao comunismo internacional”
(Tenente-Coronel Silvio de Magalhães Sampaio, Tomo 4, pg. 226).
GRUPO ÁGUIA BRANCA E “OPERAÇÃO
MARIMBONDO”
“Muito pouco contato tive com o General
Mourão; convivi mais com o Bragança – o Coronel Bragança – que teve um irmão
assassinado em 1935. Esse não era anticomunista, ele era mais do que
anticomunista; a coisa era pessoal, era uma declaração integral contra o
comunismo, porque perdera...
Perdera o irmão em 1935? Era
tenente o irmão dele? [entrevistador]
Era tenente, assassinado pelos comunistas. O
Bragança nunca esqueceu esse fato. Ele foi, realmente, um elemento de ação –
foi contra o populismo do Getúlio, foi contra o Juscelino, foi contra o João
Goulart – um anticomunista sistemático. O Bragança, na década de 1960, uniu-se
a uma rapaziada, formada de estudantes de Belo Horizonte, o grupo dos ‘Águia
Branca’, participando de uma série de episódios para calar os comunistas na
base da pancadaria.
O Brizola e seu pessoal queriam realizar um
comício em Belo Horizonte, mas o Governador Magalhães Pinto, a polícia, não
autorizavam comícios. Fizeram, então, uma reunião, uma famosa assembleia, no
auditório da Secretaria de Administração, alguma coisa assim, lá em Belo
Horizonte. Era um auditório muito grande para a época, e o certo é que o
Bragança e seu grupo entraram lá e bateram no Brizola, bateram na mulher do
Brizola, foi um inferno, acabaram com a tal a Assembleia ‘a tapa’.
Depois disso, marcou-se um comício com
presença do Jango – interessante, aqui no Rio, o Comício da Central do Brasil.
Lá, em Belo Horizonte, antes, realizaram um comício na Praça da Estação. O
Jango chegou de trem para o tal comício. E a turma Águia Branca fez a Operação
Marimbondo, que consistiu em levar, em sacos plásticos, marimbondos que foram
soltos na hora do comício, dispersado a turba que viera para participar do
comício. Isso é coisa que entra para o folclore político, mas que aconteceu
realmente.
O Mourão, promovido a general, foi outro que,
em todos os lugares por onde passou, fez uma campanha sistemática
anticomunista. Ele falava diretamente aos seus oficiais, aos seus subordinados,
em todos os lugares onde comandou” (Coronel Luiz Carlos Carneiro de Paula, Tomo
9, pg. 300).
CLUBES DE MÃES
“D. Iedda: (...)
Naquela época, visitei favelas, todo o ABCD;
fui a vários lugares. Tínhamos total consciência da existência de um terreno
fértil para aquelas ideias enganosas do comunismo; conhecíamos perfeitamente a
semente e o terreno onde seria semeada. Não tomamos nenhuma atitude movida por
impulso, mas por grande conscientização.
Estávamos muito bem acompanhadas de pessoas
como Carlos Lacerta, que tinha sido comunista e que havia se desencantado com
essa ideologia e punha a público o que eles faziam e os maus intentos deles;
Padre Calazans, Senador, e o Padre Godinho, Deputado Federal, sempre nos
elucidando e ensinando. Insisto que não foi um impulso de ‘patriotada’. Foi um
movimento consciente, com maturidade, de dever cívico e dever de mãe.
D. Maria Lucia: Foi bom você lembrar que nós
trabalhávamos na periferia.
D. Iedda: Você se lembra o que se fundou em
decorrência da camanha política?
D. Maria Lucia: Os Clubes de Mães e chegamos
a ter 15 Clubes de Mães, cada um com trinta mulheres.
Ensinando inclusive a cuidar do bebê.
[entrevistador]
D. Maria Lucia: Não só a cuidar do bebê, mas
também de toda a família.
D. Iedda: Foi algo que deu resultado. Esses
Clubes de Mães começaram em 1965 e existem até hoje. Várias das atuais
professoras foram nossas alunas e ficamos amigas; fazíamos chás em nossas
casas, havia uma comunicação de culturas. O resultado foi excelente não só para
elas, assim como para nós. Recebemos, também, muitíssimo. Aprendi muito com
aquelas senhoras de outra cultura, de comunidades extremamente carentes, e fico
gratificada de pensar que estávamos mais devolvendo do que entregando.
Mas, penso que a Marcha da Família simboliza
a nossa atuação, na Revolução (Doutora Iedda Borges Falzoni e Doutora Maria
Lucia Whitaker Vidigal, Tomo 7, pg. 359).
Obs.:
Em 2003, a Doutora Maria Lucia
Whitaker Vidigal era a presidente da Liga das Senhoras Católicas, onde prestava
assistência a mais de 4.500 pessoas. Trabalhou na TV Cultura como produtora e
apresentadora, durante vinte anos.
F. Maier
RADIOAMADORES: O WHATSAPP DA
ÉPOCA
“D. Iedda: Meu filho tinha entre 13 e 14
anos; morávamos em frente ao Palácio do Governo e quando saí disse:
- Henrique, você fica tomando conta da casa e
o revólver está aqui; defenda a sua casa.
O meu marido era radioamador e o Exército
perdera a confiança em alguns graduados, naquele momento. Então foram
convocados os radioamadores para que fossem feitos os contatos; é bom lembrar
que não havia esse boom de comunicação, como hoje. Os radioamadores,
como qualquer empresa de radiofonia, receberam uma licença para operar. Eles
não foram convidados, mas convocados para ajudar. Muitos, porém, se omitiram,
alegando que seu equipamento não estava bom.
Lembro-me de meu marido até de madrugada
transmitindo mensagens sigilosas, que ele não me deixava ouvir. Foi uma atuação
muito grande. A Revolução levou só dois dias para vencer, mas devo dizer que foram
dois dias de intensa vivência. Definiram um momento histórico que deve ser
lembrado, constantemente” (Doutora Iedda Borges Falzoni, Tomo 7, pg. 358).
“Tivemos, também, o apoio dos radioamadores.
Durante o deslocamento, o Coronel Faceda montou um PDR de radioamadores em Juiz
de Fora e durante todo o deslocamento uma rede montada atuou como informante. Tínhamos
informações de todo o movimento do Destacamento Cunha de Melo através dessa
rede. Uma série de providências administrativas foram tomadas através da rede,
por exemplo, alguns fogões de campanha não estavam funcionando a gasolina e sim
com botijão de gás e, naquela época, variava conforme a empresa. E se fez o
levantamento do tipo de botijão de gás etc., através dos radioamadores da rede
e, daí, se pedia a subsistência: um caminhão com tantos botijões de gás de tal
tipo para atender ao suprimento de tais Companhias. É interessante assinalar
que isso em combate seria um caos. Se a linha de suprimento de fogões
funcionava a gasolina e o subtenente macetoso botou o botijão de gás, que
realmente era muito mais confortável, mas, em situação de campanha, qual era o
gás? Como é que seria suprido? Isso é um ensinamento que tem que ser levado
sempre em consideração” (Coronel Amaury Friese Cardoso, Tomo 10, pg. 359).
Obs.
Me ocorre o trabalho feito por
jornais editados por militares aposentados, nas últimas décadas, como Letras em
Marcha, Ombro a Ombro, Inconfidência – além de grupos similares como o Grupo
Guararapes, Grupo Estácio de Sá, Grupo Anhanguera, Quero-Quero, Associação dos
Militares da Reserva e Reformados (ASMIR) etc., que iniciaram um trabalho de conscientização
da população nos tempos revanchistas dos governos FHC, Lula e Dilma, culminando
na obra de Olavo de Carvalho, os quais tiveram o mérito de enfrentar o
“pensamento único” das esquerdas nas universidades, nos meios artísticos, na
mídia cada vez mais militante de esquerda – uma luta ainda longe para se chegar
a um mero empate.
A trilogia de Olavo de Carvalho
“A Nova Era e a Revolução Cultural: Fritjof Capra & Antonio Gramsci”
(1994), “O Jardim das Aflições: de Epicuro à Ressurreição de César” (1995) e “O
Imbecil Coletivo: Atualidades Inculturais Brasileiras” (1996), junto com
“O Mínimo Que Você Precisa Saber Para Não Ser Um Idiota” (2013) - 193 artigos
de Olavo escritos entre os anos de 1997 e 2013, e organizados pelo jornalista
Felipe Moura Brasil - é fundamental para se entender os últimos 50 anos do
Brasil, em termos culturais, de pregação marxista em todos os setores da
sociedade brasileira.
F. Maier
BIBLIOGRAFIA:
MOTTA, Aricildes de Moraes (Coordenador
Geral). História Oral do Exército - 1964 -
31 de Março - O Movimento Revolucionário e sua História. Tomos
Leia também
MEMORIAL 31 DE MARÇO DE 1964
http://felixmaier1950.blogspot.com/2020/09/memorial-31-de-marco-de-1964-textos.html
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