MEMORIAL 31 DE MARÇO DE 1964

MEMORIAL 31 DE MARÇO DE 1964
Avião que passou no dia 31 de março de 2014 pela orla carioca, com a seguinte mensagem: "PARABÉNS MILITARES: 31/MARÇO/64. GRAÇAS A VOCÊS, O BRASIL NÃO É CUBA." Clique na imagem para abrir MEMORIAL 31 DE MARÇO DE 1964.

segunda-feira, 8 de março de 2021

ANTECEDENTES DO MOVIMENTO CÍVICO-MILITAR DE 31 DE MARÇO DE 1964 - Por Félix Maier

 ANTECEDENTES DO MOVIMENTO CÍVICO-MILITAR DE 31 DE MARÇO DE 1964

 

Por Félix Maier

 

MOVIMENTO COMUNISTA INTERNACIONAL

Praticamente todos os entrevistados da obra “HISTÓRIA ORAL DO EXÉRCITO - 31 MARÇO 1964”, publicada pela Biblioteca do Exército Editora (Bibliex), concordam em dizer que o Brasil, em 1964, sofria a influência direta da Guerra Fria, com o Movimento Comunista Internacional (MCI) lançando suas garras sobre o Ocidente democrático, inclusive o Brasil, e os americanos fazendo a contrapropaganda a essa doutrina que tornava o mapa mundi cada vez mais vermelho.

“Ao término da Segunda Guerra Mundial, a União Soviética, em inferioridade nuclear em face dos Estados Unidos, adotou, em relação aos países não comunistas, política externa defensiva, caracterizada pelo movimento pró-paz - ofensiva pela paz - e pala promoção da subversão naqueles países - guerra psicológica - sempre acusando os EUA de intenções agressivas e imperialistas.

A seguir, logo que conseguiu produzir armas nucleares, a URSS mudou sua política externa, passando a utilizar a subversão e a guerra revolucionária para a rápida expansão do comunismo no mundo” (Coronel Helio Mendes, Tomo 1, pg. 255).

“As raízes remotas encontram-se em 1922. Desde a criação do Partido Comunista, começou a ininterrupta pressão do Movimento Comunista Internacional (MCI) sobre o Brasil; é a velha teoria do dominó: se o Brasil caísse, cairia o resto.

Sobreveio a Coluna Prestes e, depois, a Revolução de 1930. Luís Carlos Prestes, com a dissolução da Coluna, se exilou na Argentina e se negou a participar da Revolução de 1930, porque julgou-a burguesa, tendo declarado, pela primeira vez, que tomava a linha do comunismo.

A essa altura, conta a história que Oswaldo Aranha já lhe tinha enviado oitenta mil dólares. Da Argentina, Prestes foi para a Rússia, onde passou bastante tempo; aquele dinheiro foi um dos recursos que financiaram, mais adiante, a Intentona Comunista de 1935.

Esses acontecimentos incorporaram-se às raízes mais longínquas.

Como causa mais próxima, tenho que me reportar à queda de Jânio Quadros. Emergiram contradições, no período que vai da renúncia do Presidente Jânio Quadros à posse de João Goulart, e corremos o risco de uma divisão dentro do Exército” (Coronel Gabriel Antônio Duarte Ribeiro, Tomo 6, pg. 80-81).

“Amplos setores da administração pública, a Confederação Geral dos Trabalhadores (CGT), a União Nacional dos Estudantes (UNE), a União Brasileira de Estudantes Secundaristas (UBES) e a maioria dos sindicatos estavam completamente dominados por esquerdistas ou notórios comunistas. O Secretariado de Miguel Arraes, em Pernambuco, também era constituído de elementos vinculados ao esquerdismo. Leonel Brizola fundara o ‘grupo dos onze’ e criara a Frente de Libertação Nacional. Francisco Julião, no Nordeste, atuava, vigorosamente, através das Ligas Camponesas.

As greves se sucediam em proporções assustadoras, tanto no meio sindical como no estudantil, surgindo as chamadas greves de solidariedade. Janto tinha, no meio sindical, o seu grande sustentáculo. A agitação no campo era intensa. Os sindicatos rurais eram organizados por comunistas, militantes da Ação Popular trabalhista e sacerdotes católicos, sendo criada a Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (CONTAG) que se tornou mais uma integrante da CGT. Setores da Igreja Católica, considerados progressistas, expandiam o Movimento de Educação de Base, aplicando o método de alfabetização de Paulo Freire.

O Plano Trienal de Celso Furtado fracassou e o País mergulhou em impressionante ritmo inflacionário” (General-de-Exército Sebastião José Ramos de Castro, Tomo 1, pg. 118-119). 

Imigrantes trouxeram dogmas do comunismo

“As forças políticas eram o resultado de 50 anos de confrontos e formação de elites políticas entre essas vertentes. Importamos ideologia comunista e projeções internacionais de interesses capitalistas. Dou exemplos marcantes que comprovam isso. A vinda de imigrantes europeus para o nosso País, em face das condições de trabalho em seus países, nas condições deixadas pela segunda revolução industrial e pelo sistema capitalista que dela emergiu, bem como a influência de intelectuais que haviam aderido aos dogmas da revolução bolchevista, foram responsáveis pela importação do comunismo. Essas ideias permearam a industrialização nascente nos centros urbanos do País e as relações de trabalho no campo, para onde parte daqueles contingentes impregnaram a força de trabalho” (Coronel Adalto Luiz Lupi Barreiros, Tomo 14, pg. 254).

As 21 condições para admissão do PCB à Terceira Internacional (COMINTERN)

“Em março de 1922, foi criado o Partido Comunista no Brasil, no Rio de Janeiro, que logo aderiu ao Movimento Comunista Internacional, aceitando as 21 condições de admissão à Terceira Internacional (COMINTERN).

Através dessa entidade, agindo como central da subversão, Moscou, impondo disciplina férrea, dirigidas às atividades comunistas do mundo inteiro. É conveniente ressaltar, para melhor compreender o fanatismo ideológico do comunismo, que para aderir ao COMINTERN era indispensável a aceitação de determinadas condições, dentre as quais soa como chocante a de número 16, que prevê: ‘Todos os Partidos Comunistas devem renunciar não somente ao patriotismo, como também ao pacifismo social’.

Dentre os primeiros líderes a serem trabalhados em Moscou para vir exercer funções de destaque no Brasil, deve ser citado Luís Carlos Prestes (ex-capitão do Exército). Durante anos permaneceu na URSS realizando cursos de liderança e capacitação marxista-leninista. Retornou ao Brasil para participar da Intentona Comunista de 27 de novembro de 1935” (Coronel Humberto Ayres Corrêa, Tomo 14, pg. 232).

Obs.:

A história do PCB, assim como as 21 condições para admissão ao COMINTERN, pode ser visto em https://felixmaier1950.blogspot.com/2020/06/partido-comunista-brasileiro-pcb-fgv.html.

Hoje, temos na América Latina outra Internacional Comunista, que pretende comunizar toda a região: o Foro de São Paulo. Conheça o histórico e as Atas Finais de vários Encontros do FSP no link https://midiasemmascara.net/atas-fsp/.

A Universidade de Amizade dos Povos Patrice Lumumba, em Moscou, era uma incubadora de terroristas e guerrilheiros, inclusive do Brasil – cfr. http://wikiterrorismobrasil.blogspot.com/2015/09/universidade-de-amizade-dos-povos.html.

O documentário “The Soviet Story” (A História Soviética) apresenta os bárbaros crimes cometidos na URSS - Cfr. em https://www.youtube.com/watch?v=87m5oT-JI38 e https://www.youtube.com/watch?v=iTJQXKUR6mM.

Em 12 de junho de 2007, foi inaugurado em Washington, D.C. o “Memorial das Vítimas do Comunismo”, com a dedicatória "Para os mais de cem milhões de vítimas do comunismo e para os que amam a liberdade." Cfr. em https://pt.wikipedia.org/wiki/Memorial_das_V%C3%ADtimas_do_Comunismo.

F. Maier

 

Revolução de cunho comunista: tomada do Poder em dois tempos

“Sem dúvida, havia uma revolução de cunho comunista, em preparação no País. Permito-me explicar como isso acontece: os comunistas nunca fizeram ou nunca iniciaram uma revolução, nem na União Soviética. Eles foram sempre os grandes aproveitadores das revoluções. A isso chamam de transformação da revolução. A revolução surge como um movimento determinado e depois se transforma. Lenine advertia: ‘Não é possível triunfar apenas com a vanguarda’. E o Partido Comunista é a vanguarda, é a direção.

A estratégia aplicada no Brasil tinha duas fases distintas. Na primeira, haveria uma espécie de golpe revolucionário, aplicado pelo próprio Governo João Goulart, originando um regime de força. O Congresso seria fechado e promover-se-ia um expurgo, nas Forças Armadas, de todos os elementos contrários.

Na segunda fase, esses elementos golpistas seriam postos de lado, e os comunistas assumiriam o Poder. Esse era o plano para a revolução comunista no Brasil. Eles não iam iniciar a revolução; quem iria fazê-lo era João Goulart.

Há, inclusive, uma carta enviada a Miguel Arraes por um jornalista, seu parente, contendo as conclusões de várias entrevistas de confidentes de João Goulart, como Samuel Weiner e outros, em que ele diz que o Presidente estava entusiasmado com a possibilidade de aplicar esse golpe, fechando o Congresso e estabelecendo uma outra Constituição para o Brasil. Era o que ele chamava de ‘República Sindicalista’, uma república dominada pelos sindicatos.

Mas os comunistas estavam preparados para a segunda fase, que era assumir o Poder, eliminando esses que a iniciaram” (General-de-Brigada Ferdinando de Carvalho, Tomo 2, pg. 152).

“Quando implantaram o comunismo na União Soviética, que ainda era o Império russo, no ambiente militar iniciaram a sua revolução pelo aliciamento dos marinheiros. Lembrem-se todos do episódio do encouraçado Potiomkin, também chamado por alguns de Potemkim, em 1905, quando os comunistas insuflaram a rebeldia dos marinheiros por motivos de rancho, ou ainda, do cruzador Aurora, que, nos antecedentes da Revolução de Outubro de 1917, levantou-se e bombardeou a Cidade de Leningrado. No Chile de 1963, a subversão nas Forças Armadas tinha importantes células na Marinha de Guerra.

No Brasil, também escolheram iniciar a revolução pela Marinha, embora as três Forças Armadas, indistintamente, tenham sido inoculadas pelo germe da quebra da hierarquia e da disciplina e pela tentativa de aliciamento das praças contra os seus superiores.

Gostaria de lembrar dois episódios que antecederam a revolta dos marinheiros e fuzileiros, aqui, no Rio de Janeiro. Falo da revolta dos sargentos em Brasília, um ano antes, na área Alfa, e da sabotagem que os sargentos mecânicos da Força Aérea fizeram contra as aeronaves, que, consequentemente, ficaram impossibilitadas de decolar. Felizmente, essa tentativa de cisalhamento não teve sucesso, porque a maioria esmagadora dos graduados se posicionou contra a crise provocada, artificialmente, pela subversão de cúpula conduzida pelo governo, aliada à subversão de base, a cargo, principalmente, do Comando Geral de Greve, depois CGT, e das Confederações de Trabalhadores, que agiam ao lado da UNE (União Nacional dos Estudantes)” (Vice-Almirante Sérgio Tasso Vásquez de Aquino, Tomo 9, pg. 96-97).

“Quando eu estava na ativa, era muito convidado para reuniões com empresários. Era solicitado pela Confederação Nacional do Comércio e, num almoço que eles fizeram, estava um grupo de empresários americanos. Junto se encontrava aquele que veio a ser presidente – o Jimmy Carter. Eram da Geórgia, do Sul dos Estados Unidos. E, naquela conversa, como eu falava inglês e eles não falavam o português, perguntei a eles: ‘Quais são os produtos brasileiros que vocês estão mais interessados em importar?’ E um deles respondeu: ‘Gostaríamos de importar o método de combate aos comunistas adotado por vocês’. Os americanos consideravam a coisa mais perfeita do mundo. Nenhum país tinha conseguido neutralizar, com tanta eficácia, o comunismo naquele nível que ele havia alcançado, porque eles já se diziam do governo: ‘Só não temos o Poder, mas estamos no Governo’. Eles falavam isso, o próprio Luís Carlos Prestes.

Era a tal tomada do Poder em dois tempos que falei, lembrando que Kerenski e Trotsky fizeram a revolução. Lênin entrou e derrubou os dois e estabeleceu a ditadura do proletariado, de triste memória. Na Tchecoslováquia, lembramos a tomada do parlamento, a queda do parlamento, eles assumiram o Poder, valendo-se do próprio Congresso... Eles apoiavam todo e qualquer movimento nacionalista. Você brigava com o governo e fazia um movimento de oposição. Eles apoiavam. Essa oposição ganhava, chegava ao governo e os comunistas entravam com eles. Era a chamada do Poder em dois tempos. Uma vez lá dentro, eles davam o tombo final, o golpe de misericórdia.

Isso eles fizeram, também, na própria Cuba. O movimento de Cuba, pelo Fidel Castro, a tal campanha de Sierra Maestra, foi apoiada pelos Estados Unidos. Foi, porque eles queriam se livrar do Batista, que estava tornando-se nacionalista. O Batista era um ex-sargento, um fantoche, mas ele começou a desagradar os americanos, reivindicando uma série de benefícios. Os cassinos, os hotéis, o jogo, era tudo explorado pelos americanos. Ele começou a querer colocar ordem no assunto e isso desagradou-lhes. A derrubada do Batista não foi ideológica, ele não era comunista, ele era nacionalista. Quem era e enganou os americanos, foi o Fidel Castro. Apoiado pelos americanos, derrubou o Batista, só que ‘o tiro saiu pela culatra” (General-de-Brigada Celso dos Santos Meyer, Tomo 10, pg. 141-142).

 

A renúncia do Presidente Jânio Quadros

A maioria dos entrevistados na “HISTÓRIA ORAL DO EXÉRCITO/1964” prefere focar o dia 24 de agosto de 1961 como antecedente próximo do Movimento de 1964, data da renúncia do presidente Jânio Quadros. Houve uma fissura muito forte dentro das Forças Armadas, especialmente no Exército, devido à não aceitação do vice de Jânio, João Goulart, para assumir o governo. Houve deslocamento de tropas do Exército do RS para SC, e de SP para o PR, porém não houve confronto bélico. Há depoimentos detalhados de militares sobre essas manobras que alcançaram Lajes e Criciúma.

Após o arranjo do parlamentarismo, Jango assumiu o governo, mas logo colocou em campo sua massa de manobra dos tempos em que era ministro do Trabalho de Getúlio Vargas – pelegos ligados a sindicatos, estudantes, comunistas – e reverteu, em plebiscito, novamente para o sistema presidencialista, com a ajuda de seu cunhado Leonel Brizola e sua “Cadeia da Legalidade”, pregada em várias rádios, especialmente no Rio Grande do Sul.

“Por felicidade, hoje digo por felicidade e, quando estávamos ultrapassando a divisa de Santa Catarina, entrando em território gaúcho, veio a ordem para retornar. Naquele período, soubemos depois, que os deputados reunidos com os ministros militares chegaram a um acordo. Aí vem a importância, que eu sei que ocorreu, do Tancredo Neves ter apresentado uma fórmula para evitar aquele derramamento de sangue – o parlamentarismo. Voltamos – o parlamentarismo foi aceito. O Vice-Presidente João Goulart não desfrutava mais dos poderes do presidencialismo. Sabemos que não demorou muito, porque o próprio Tancredo Neves, no cargo de Primeiro-Ministro, fez tudo para que o parlamentarismo terminasse e se retornasse ao presidencialismo. Essa é uma passagem importante que vejo na minha vida de tenente” (General-de-Brigada Durval Antunes Machado Pereira de Andrade Nery, Tomo 10, pg. 158).

 

República de Trombas e Formoso

“Quanto às ‘Ligas Camponesas’, criadas por Francisco Julião, vou relatar uma experiência pessoal que tem ligação com as mesmas.

Em 1962, recebi uma missão para ir ao meio-norte de Goiás e produzir um relatório sobre a chamada ‘República de Trombas’. Havia um elemento complicador, pois a mesma não admitia gente estranha em seu território.

Estimava-se serem dez mil habitantes a população de toda a área, em sua maioria posseiros, com maior incidência de baianos e cearenses. De um modo geral, os que demandavam aquela ‘República’ tinham sempre um passado a esconder, inclusive condenados pela Justiça. O ânimo de todos era a defesa intransigente de suas ‘posses’. Com a construção de Brasília e da Rodovia Belém-Brasília, passando próxima ao território da ‘República’, as terras foram valorizadas e novos proprietários, com documentos legais ou forjados, surgiram na região, atritando com os posseiros.

O líder local era o José Porfírio de Souza, homem ‘chucro’, mas com sensibilidade e carismático. Começou a montar uma cidade com aquela gente que precisava de terra, traçando os limites da área, ou da ‘República’, como eles mesmos diziam. Sei que um limite era o rio Tocantins, outra a Serra Dourada, mais a oeste a Rodovia Belém-Brasília.

(...)

Lá pude verificar que era uma sociedade organizada no molde socialista. A produção era entregue à Associação de Lavradores que se encarregava de vende-la em Anápolis e Goiânia.

A distribuição de terras, convém frisar, obedecia a alguns fatores. O candidato recebia a quantidade de lotes dependendo da idade, número de braços para o trato da terra – filhos e dependentes -, disposição física e, principalmente, tratar ele mesmo da gleba de ser um ‘associado’.

O José Porfírio de Souza era uma pessoa muito ligada ao Deputado Estadual de Pernambuco Francisco Julião, a quem considerava ídolo e orientador. (...)

Notei que os homens portavam armas, de tipos bem variados. Havia desde as rudimentares de caça, do tipo ‘espingarda do papo-amarelo’, até boas carabinas. Organizações do Terreno (OT) eram encontradas nas proximidades do povoado. A Associação possuía planos para a sua defesa; cada ‘grupo’, conforme a hipótese, sabia o que fazer.

Quanto à assistência médica, no caso de serem insuficientes os recursos locais, os doentes eram levados para Goiânia, onde três médicos, previamente contratados pela Associação, os atendiam, entre os quais se incluía um notório comunista.

Os políticos de âmbito estadual e mesmo federal cortejavam José Porfírio, porque era voto certo. O Vice-Governador já tinha estabelecido contato com ele.

(...)

Então, a ‘Liga Camponesa’ não estava mais só no Nordeste, mas procurando atuar no Norte goiano e com probabilidade de expandir-se para Mato Grosso e outros lugares” (Coronel José Tancredo Ramos Jubé, Tomo II, pg. 329-330).

“As ações criminosas das ligas camponesas se robusteceram e se ampliaram em virtude do apoio oficial, sob a influência dos comunistas junto à alta administração federal. Para se ter uma ideia da gravidade da situação, vou citar o caso do distrito de Trombas, município de Formoso-GO, com base em documentação oficial a que tive acesso. Ali existia um cearense, José Porfírio de Sousa, mais conhecido como Zé Porfírio, que tinha o comando total da área e mantinha quatrocentos homens em armas. Não se sabe de onde vinha o armamento, mas se pode imaginar. Quando ocorriam eleições em Formoso, os mil e duzentos votos do distrito de Trombas iam todos para Zé Porfírio ou para o candidato que ele apoiasse. Os outros candidatos recebiam ‘zero voto’. Outra área infectada era Araguaia, famosa, mais tarde, por emprestar esse nome – ‘guerrilha do Araguaia’ – aos focos guerrilheiros que por lá se instalaram. De início, como um núcleo denominado ‘guerrilha de Xambioá’ ” (Tenente-Coronel Idalécio Nogueira Diógenes, Tomo 4, pg. 185).

 

JK coloca Jango na Presidência

“Para se ter uma idéia da falta de patriotismo e de espírito público da maioria de nossos políticos, vou contar um fato ocorrido em 1961, por ocasião da queda de Jânio. Estava sentado numa cadeira, na Companhia Telefônica; no andar de baixo estava o Coronel Montagna. A telefonista disse: ‘O Juscelino vai falar com o Jango, em Paris.’ Liguei para o Montagna e perguntei: ‘Pode autorizar?’ Autorizou. Na conversa, ouvi o Juscelino pedir, implorar, a vinda do Jango e este dizer: ‘Eu não, vou nada, vou nada; aquele pessoal da FAB é um bando de doidos’ – alegava medo de ter o avião derrubado. Aí o Juscelino respondeu: ‘Rapaz, venha; o que interessa é o PSD, PTB, o resto que se lasque.’ Quer dizer, o País à beira de uma guerra civil e um político da estatura do Juscelino pensando em PSD e PTB. Fui conversar com o Montagna e disse: ‘Meu Deus do céu, e o País, e a Nação?’ Isto me marcou profundamente: a falta de caráter do homem público brasileiro” (General-de-Divisão Francisco Batista Torres de Melo, Tomo 4, pg. 72).

“Voltemos um pouco à época da Legalidade. As coisas se acirraram demais e vivíamos a iminência de uma guerra intestina muito séria, pois as próprias Forças Armadas estavam divididas, alguns considerando que na obediência à Constituição estava a legalidade; não viam o perigo que se corria por detrás disso. Antes, o General Denys (Odylio Denys), querendo contornar a situação, pedira ao Deputado Santiago Dantas, muito amigo do Jango, que o convencesse a desistir do governo. O deputado telefonou para o Vice-Presidente, que estava em Paris, retornando da China. Foi uma conversa tensa e, quando finalmente chegaram a um acordo, pois Jango já havia concordado, aqui no Brasil, o Juscelino Kubitschek entrou na sala, arrancou o telefone das mãos do Santiago Dantas e disse:

- Presidente, não desista. Venha e assuma o Governo que nós faremos uma frente para apoiá-lo.

O Jango voltou atrás e veio. Então, a Revolução que eu vivi tem três nomes: revolução redentora, contrarrevolução e revolução que poderia não ter existido, não fosse a presença e a ação inesperada do JK” (General-de-Brigada Ramão Menna Barreto, Tomo 13, pg. 137).

“Juscelino, já Presidente da República, preocupado com o desenvolvimento do País e com a construção de Brasília, entregou a área fundamental do Ministério do Trabalho e da Previdência Social a João Goulart, que a transformou em verdadeira sinecura político-partidária com a participação de comunistas, aproveitadores e ‘pelegos’ ” (Professor Luiz Queiroz Campos, Tomo 4, pg. 361-362).

“Muita gente pensa que as cassações foram arbitrárias, como pegar uma lista e ir cortando nomes. Não. Todas passaram pelo crivo dessa investigação. Tínhamos aviões da Força Aérea Brasileira (FAB) à nossa disposição e íamos ao lugar onde o sujeito estivesse. Sentávamos com ele e dizíamos francamente: ‘Sr. Fulano, acontece isso, isso e isso. Queremos que o Sr. Esclareça.

Fomos buscar documentos nos cartórios, abrimos as suas dependências para fazê-lo. Fomos buscá-la onde existisse e, realmente, fizemos um dossiê com tempo suficiente; algumas daquelas pessoas foram levadas à própria Escola de Comando e Estado-Maior para um depoimento. Lembro-me muito bem dos depoimentos de pessoas ligadas ao Presidente Juscelino, que estiveram lá. A equipe que investigava o Juscelino organizou 17 pastas de problemas ligados ao ex-Presidente. Sabedor que as pessoas eram chamadas para serem ouvidas, antes que o pessoal fosse ao encontro dele para conversar, Juscelino pediu autorização e foi embora do País. Esse foi o problema do Presidente Kubistchek” (Coronel Sérgio Mário Pasquali, Tomo 5, pg. 189).

 

Campanha da Legalidade, de Brizola

“A Legalidade resultou em uma grande insatisfação nas Forças Armadas e nas classes políticas não comprometidas com o populismo, o esquerdismo e o comunismo. A partir de então, e com o apoio de uma corrente de políticos de renome nacional como Carlos Lacerda, Magalhães Pinto, Ney Braga, iniciou-se um processo de conscientização da opinião pública, que ajudou a ampliar a fissura existente no arcabouço político do País e acabou por gerar as ações que passaram a tumultuá-lo. As Forças Armadas – particularmente uma parte significativa do Exército – inconformadas com o Governo João Goulart começaram a conspirar” (General-de-Brigada Egêo Corrêa de Oliveira Freitas, Tomo 8, pg. 213).

“Surgiu o problema Jânio Quadros [renúncia à Presidência da República]. Em consequência, vagou a Presidência, que caberia ao Vice-Presidente Jango, em viagem oficial pela China. Os ministros militares, preocupados, editaram aquela circular, informando sobre o que poderia acontecer no Brasil. Um jornal da época, Hora Presente, se não me engano, declarou que não tinha visto ainda uma observação tão penetrante como aquela declaração.

Como consequência, teve início o desfile de tendências. O Brizola era o Governador do Rio Grande do Sul e desencadeou a campanha pela Legalidade. Punha a toca no telefone, no alto-falante e no rádio, dia e noite. Insultava todo o mundo e dizia coisas apavorantes como as que ouvei: ‘os postes de luz em Porto Alegre não seriam suficientes para pendurar os gorilas’. Hostilizava os militares, procurando desmoralizá-los, chamando-os de gorilas” (General-de-Brigada Ramão Menna Barreto, Tomo 13, pg. 136).

“Atribuo a reação da oficialidade jovem contra a subversão, ao estudo da guerra revolucionária, que começou a ser ministrado na ECEME e na EsAO. O conhecimento doutrinário proporcionado pelas escolas, e até mesmo aquelas reuniões sobre as quais já falei, conseguiram formar um arcabouço intelectual adequado para proteger o militar contra a subversão” (General-de-Brigada Egêo Corrêa de Oliveira Freitas, pg. 217).

 

O DITO “ESQUEMA MILITAR” DE JANGO

“O General Osvino, à frente da Petrobras, pagou todas as despesas com os comícios da Central do Brasil e do Automóvel Clube. Era o dinheiro da Nação a serviço dos comunistas e corruptos” (Tenente-Coronel Murilo Walderk Menezes de Serpa, Tomo 4, pg. 205).

“Os militares viviam ansiando por um lar onde pudessem viver condignamente com a família. Aí, João Goulart entrou, prometendo financiamento pleno para a aquisição da casa própria a quem levasse um requerimento em sua presença. Ele despachava: ‘Aprovo’, e a Caixa Econômica atendia. Conheci vários militares que tiveram os seus requerimentos aprovados e adquiriram sua casa própria financiada pela Caixa Econômica a perder de vista. Desta forma, o Governo considerava que estava preparando um dispositivo militar que lhe daria total cobertura para seus planos de implantação da república sindicalista-comunista dos seus sonhos. Muitos subtenentes e sargentos do Exército foram ao Automóvel Clube do Brasil naquela noite com o requerimento dentro de uma pasta para conseguir o ‘aprovo’, que lhes daria o financiamento da casa própria até um determinado valor, como acontecera com alguns conhecidos meus” (Coronel Italo Mandarino, Tomo 3, pg. 189).

“O esquema militar foi montado com base em favores e não em adesão espiritual, de consciência. O General Assis Brasil, através da Presidência da República, prometia às pessoas, de vários níveis, que se comprometessem com ele, uma série de favores. Vários coronéis foram promovidos a generais, nessas condições. Ele influía nas promoções, concedia benefícios financeiros pessoais através de organizações, como, por exemplo, a ‘Casa dos Sargentos’, ‘Casa dos Cabos’, ‘Casa dos Tenentes’ etc. Ele criou um esquema, mas não era um esquema de consciência. Quem tinha essa consciência éramos nós.

A prova disso é que os comandos da Vila Militar quando quiseram deslocar tropas para nos confrontar, não conseguiram. Era consenso entre eles que, como deslocavam a tropa na época dos comícios a título de segurança, para dar apoio e proteção à cidade, a deslocariam em outras ocasiões. Enganaram-se redondamente. Aqueles deslocamentos envolviam dois aspectos. Oficialmente, por exemplo, o Batalhão de Polícia do Exército vinha para o comício da Central do Brasil proteger o povo contra a desordem etc., mas, para eles, a tropa lá estava porque os apoiava. Imaginavam que era uma adesão à causa deles. Houve, pois, da parte deles, muita mistificação, e um erro crasso, confundiram as coisas, e acabaram literalmente derrotados” (General-de-Exército Carlos de Meira Mattos, Tomo 1, pg. 230-231).

 

Jango era assessorado por maus conselheiros

“Parece-me que o Sr. João Goulart estava inteiramente alheio a qualquer problema, por culpa dos seus auxiliares mais próximos, os quais os historiadores apontam como formuladores de ilusões. Entre eles, o Chefe do Gabinete Civil, Professor Darci Ribeiro, e o secretário de imprensa, Raul Ryff. Por isso, tomou como sendo da sociedade aquilo que os seus assessores pensavam. Mas a sociedade tinha um pensamento muito diferente e se sentia cada vez mais aflita com aquela situação” (General-de-Brigada Danilo Venturini, Tomo 15, pg. 152).

 

Comunista febiano na ECEME

[Na ECEME] Uns poucos alunos assumiram claramente posição contrária à Revolução. Quando o diretor de ano suspendeu as aulas, dois deles foram fazer parte de um grupamento que saiu do Rio e subiu a Serra para barrar as tropas que vinham de Minas, inclusive um muito conhecido, o Major Granja (Alirio Granja), Oficial de Infantaria que participou da Força Expedicionária Brasileira (FEB). Profissionalmente era muito bom, mas comunista convicto. Lembro que durante as manobras que fazíamos no campo, o Granja não comia a etapa da ração dele. E quando a meninada se acercava do acampamento, pedindo sobras de comida, ele a distribuía toda, justificando:

- É um absurdo que existam brasileiros passando fome.

Algum aluno ou instrutor foi cassado? [entrevistador]

Instrutor, não me lembro. Houve algumas cassações de alunos. O Granja foi com o grupamento comandado pelo General Cunha Mello (Luiz Tavares da Cunha Mello) enfrentar os revoltosos do General Mourão (Olympio Mourão Filho) e como não tiveram êxito na missão, apresentou-se na Escola e, de imediato, requereu o seu desligamento e transferência para a reserva. Era um sujeito correto, e por isso teve sorte. Os esquerdistas que não se anteciparam, inclusive um colega do segundo ano, responderam a um inquérito. Tentaram negar qualquer ligação com a subversão, mas acabaram sendo cassados” (Coronel Hélio Lourenço Ceratti, Tomo 13, pg. 187-188).

 

Oficiais e praças alinhados com o governo Goulart tinham preferência para aquisição da casa própria via Caixa, assim como a aquisição de automóvel

O Fusca e o Gordini eram o sonho de consumo na época.

Os sargentos levavam pessoalmente os contratos para financiamento de compra de casa ou automóvel ao Presidente Goulart, que assinava no ato.

Imagine, hoje, o presidente Jair Messias Bolsonaro colocando sua Bic em funcionamento, com longa fila de sargentos paraquedistas gritando “Mito, Mito, Mito”...

“Vivíamos numa situação financeira muito complicada. Precisávamos de dinheiro para deixar com a esposa e para sobrevivermos no Rio, e os vencimentos extremamente baixos. O Presidente João Goulart fazia alguns acenos para captar a simpatia, principalmente dos paraquedistas, que recebiam financiamento para comprar carro, normalmente um Gordini, o carro apropriado do momento, o carro se que se podia ter, desde que se estivesse do lado do governo. Mas vivíamos numa verdadeira miséria: sábado e domingo, de manhã, à tarde e à noite, íamos para o rancho da EsAO porque não tínhamos o recurso necessário para fazer um lanche na rua. Era, de fato, uma situação revoltante. Na Vila, também mantínhamos contatos com outros oficiais, todos numa angústia muito séria e determinados a fazer alguma coisa, mas sempre, contidos pelos chefes. Além disso, a EsAO obrigava-nos a uma dedicação muito grande, pois o curso nos exigia bastante. Mesmo assim, dávamos umas escapulidas para o Clube Militar, onde a efervescência era grande: reuniões, debates e tudo mais” (General-de-Exército Domingos Miguel Antonio Gazzineo, Tomo 4, pg. 34).

Obs.:

Quando fui promovido a 3º. Sargento do Exército e classificado, como cinegrafista, no Campo de Provas da Marambaia, em Guaratiba, RJ, em fevereiro de 1972, a situação financeira dos militares era bem melhor do que nos tempos em que o General Gazzineo fazia a EsAO. Com meus vencimentos, eu aluguei um quarto em Campo Grande, RJ, me matriculei numa faculdade de Economia e comecei a pagar a poupança para a entrega de um apartamento no Engenho Novo, que foi entregue em 1976, passando a pagar, daí em diante, prestações bancárias durante 25 anos. Ao mesmo tempo, ainda sobrou dinheiro para entrar num consórcio de automóvel, para aquisição de um Fusca zero km.

A situação financeira, para os militares, começou a se degradar novamente durante o Governo Geisel. Tanto é que tive que vender um Fusca velho para mobiliar o apartamento.

F. Maier

 

Greves frequentes na indústria, no comércio e nos meios de transporte, provocando o caos nas grandes cidades

“Olha, só vendo o que nós sofremos neste País, onde imperava o caos. Basta lembrar, aqui, no Rio de Janeiro: a greve do pessoal do gás, obrigando-nos a ter que comprar ‘fogãozinho’ de querosene para confeccionar as refeições; a greve dos coveiros do Cemitério São João Batista e lembro, acerca dessa paralisação, um episódio. Indo ao cemitério, com o General Castello, para o enterro do pai do General Adhemar Villela dos Santos – o General Castello era amicíssimo dele, por ligações desde Realengo e do 12º. Regimento de Infantaria, de Belo Horizonte – vimos os caixões colocados na entrada do cemitério, pois, em virtude da greve, o sepultamento não era realizado.

Faltavam feijão, arroz e outros tipos de suprimentos. Não havia transporte para chegar ao trabalho e sei muito bem disso porque enfrentei esse problema, num período mais recuado, dentro dos pródromos da Revolução, quando era major, adjuto da 4ª. Seção da Zona Militar Leste (posteriormente I Exército e, atualmente, Comando Militar do Leste), e tínhamos que atualizar o planejamento para assegurar o transporte da cidade, no caso da greve dos bondes” (General-de-Brigada Ruy Leal Campello, Tomo III, pg. 57-58).

“Sabíamos que era meia dúzia de líderes sindicais que tumultuavam o País. A grande massa dos trabalhadores não queria saber disso, o que ficou claro com o desencadeamento do Movimento revolucionário.

Os agitadores se valiam da massa. Eram sempre as mesmas pessoas que já conhecíamos bem. Dentre eles, Dante Pelacani, Clodomith Riani, Oswaldo Pacheco (líder da CGT), Hércules Correia (Deputado Federal), os Ministros Abelardo Jurema e Amauri Silva e outros mais, figuras extremamente atuantes no processo de tumultuar, permanentemente, a vida nacional” (Coronel Everton da Paixão Curado Fleury, Tomo 3, pg. 230).

“Paravam o transporte no Rio e ninguém conseguia deslocar-se para o trabalho, ou se interrompiam durante o dia, prejudicavam o regresso para o lar, e isso se repetia continuamente, toda a semana. Entre outras, greves de hospitais, houve até greve de coveiros, impedindo que pessoas enterrassem seus mortos, então a situação era de desordem incontrolada. E falei do Rio de Janeiro como um exemplo expressivo, mas era assim no Brasil todo, sobretudo nas grandes cidades” (Coronel Gustavo Petito, Tomo 7, pg. 238).

“Em agosto desse ano, 1962, o Comando Geral de Greve transformou-se em Comando Geral dos Trabalhadores, o famoso CGT. Com a eleição do comunista Clodsmidt Rianni para a presidência do mesmo, o PCB coroava sua hegemonia sobre os sindicatos, conquistando um poderoso instrumento de pressão, permanentemente dom ameaças de greve geral.

Em novembro desse ano, as Forças Armadas desarticularam vários campos de treinamento de guerrilha. Em 27 de novembro de 1962, a queda de um Boeing da Varig, no Peru, proporcionou comprometedoras informações sobre o apoio de Cuba às ‘Ligas Camponesas’. Esses documentos caíram nas mãos do Governador Carlos Lacerda que, naturalmente, os difundiu à imprensa e criou uma grande celeuma a respeito desse apoio direto de Cuba às ‘Ligas Camponesas’ ” (General-de-Divisão Agnaldo Del Nero Augusto, Tomo 5, pg. 98).

“Outra situação, que visava nos desgastar e antagonizar com a população, pois sentíamos perfeitamente que era essa a finalidade, consistia nas missões de segurança das estações da Estrada de Ferro Central do Brasil. Com as constantes greves, frequentemente recebíamos a missão de ocupar as estações e protege-las de depredação. No entanto, tal encargo era muito mais um pano de fundo para o verdadeiro objetivo, que era o desgaste. Determinava-se que apenas dois soldados permanecessem no local para avisar que não havia trem circulando. As pessoas ficavam revoltadas” (General-de-Brigada Oacyr Pizzotti Minervino, Tomo 7, pg. 110-111).

“Foi um período muito tenso. A situação de prontidão era permanente. Parecia haver um propósito de desgastar não só o militar, mas também a sua família. Parecia que as próprias autoridades desejavam atingir a nossa base familiar, que ficava também intranquila; a esposa saía para o trabalho e não sabia se lá chegaria; nós vínhamos para casa e a esposa não havia retornado, os filhos tinham ficado presos na escola por conta de fatos os mais diversos, por conta de greves-relâmpago e outros tipos de distúrbios civis que nós conhecemos” (Coronal Luiz Carlos Carneiro de Paula, Tomo 9, pg. 287).

“Somente no Estado de São Paulo, no ano de 1961, realizaram-se 1.700 greves, conforme registrou Luiz Jover Telles, um dos elementos radicais da Comissão Executiva do Partido Comunista Brasileiro (PCB), em seu artigo O Movimento Operário em 1961, o que está mencionado no livro ‘A Grande Mentira’, do General Agnaldo Del Nero Augusto. Eles realmente paravam o País” (Coronel Nelson Roberto Bianco, Tomo 14, pg. 319).

 

Infiltração comunista no meio artístico, no MEC, na Cultura, nos sindicatos, nas escolas, nas universidades – via UNE

“Meu primeiro desafio, em 1945 ou 1946, ainda adolescente. Em Santos, onde morava, concluída a apuração das eleições, passou a ser dominada completamente pelos comunistas, tanto a Câmara Municipal como, também, os organismos sindicais e estudantis da cidade. O marxismo para mim, a rigor, representa a negação do Cristianismo, a negação das minhas convicções religiosas.

Convidei um amigo, de apenas 13 anos, a iniciarmos um trabalho a fim de mudar o quadro do setor estudantil. Pensamos que seria bom conversar com Dom Idílio José Soares, Bispo local, pois a natureza do nosso impulso era religiosa. Ele nos disse que via com bons olhos o fato de os cristãos assumirem suas responsabilidades na vida do País e que, portanto, ele não se oporia se procurássemos organizá-los para enfrentar os comunistas, nos centros estudantis de Santos. Sem entrar em detalhes, conseguimos organizar uma chapa, visitamos todos os colégios católicos e ganhamos as eleições, para surpresa dos comunistas. Fizemos um trabalho de inteligência, de disfarce. Os comunistas controlavam os mecanismos de movimentação dos estudantes, mas conseguimos que nossos eleitores chegassem a serem percebidos.

Repetimos a mesma estratégia nas eleições da União Estadual dos Estudantes (UEE), naquele tempo presidida pelo Almino Alves Afonso, e o derrotamos. Mais tarde, José Gregório quis ser presidente e também o derrotamos. Posteriormente, fizemos uma mobilização a nível nacional com os estudantes udenistas e de outros partidos e conseguimos derrubar a chapa comunista na União Nacional dos Estudantes (UNE). Nesse tempo, já era presidente do Departamento Estudantil da União Democrática Nacional (UDN)” (Doutor José Carlos Graça Wagner, Tomo 7, pg. 366).

“Seguindo a orientação nacional, o Sindicato dos Estivadores paralisou o porto de Manaus e mandou colocar barricadas por toda a cidade, inclusive na entrada do 27º. BC. O Governador era Gilberto Mestrinho, um oportunista aliado de Jango, que ficou indiferente àquele estado de coisas. (...) Em situação semelhante estavam os pilotos da FAB, que não podiam ter acesso aos aviões. Neste caso, alguns soldados desimpediam o acesso, jogavam as pedras no rio e os pilotos decolavam com seus aviões. Diariamente se armava uma confusão em Manaus, provocada por ‘pelegos’ e outros, que só prejudicava a população. Fechavam o mercado e ninguém podia fazer sua feira” (General-de-Brigada Manoel Theóphilo Gaspar de Oliveira Neto, Tomo 4, pg. 95)

 

Comando dos Trabalhadores Intelectuais

“As causas vêm de longe: desde a década de 1930, o Partido Comunista organizou em células, sindicatos e agremiações de fachada, os ‘trabalhadores intelectuais’ – conceito surrealista que reunia sambistas a físicos nucleares, professores primários a banqueiros em transe poético, sem outro vínculo que não a uniformidade do discurso ideológico, travestida em representatividade cultural. As defecções após o relatório Kruschev, a preferência crescente da esquerda pelas modalidades de adesão informais e discretas, não mudaram em nada a solidariedade de fundo, que sustenta ainda hoje o espírito do unanimismo.

Essa unidade postiça manteve-se à força de exclusões inconcebíveis. Em 1964, pelo menos quatro das maiores figuras da nossa inteligência, Manuel Bandeira, Gilberto Freyre, Augusto Frederico Schmidt e Miguel Reale, tomaram partido do novo regime. Sua opinião foi imediatamente excluída do rol das ideias significativas, para criar a impressão de que a inteligência nacional estava à esquerda, de que no outro lado só havia a força bruta de sargentões iletrados. Mentira grossa. Farsa comparável, só o pathos democrático nos discursos de servidores, não raro profissionais, da ditadura cubana” (Olavo de Carvalho, “O Imbecil Coletivo”, pg. 404).

“Em 1963, a subversão, até então conduzida mais ou menos na clandestinidade, aflorou. Como não havia certeza do seu sucesso e até como uma forma de pressão, começou a colocar-se à luz do dia. Nesse ano, foi criado o Comando dos Trabalhadores Intelectuais. Esse Comando, reunindo nomes como Dias Gomes, Jorge Amado e Ênio Silveira, constituiu-se num baluarte da propaganda esquerdista. A infiltração comunista se derramou sobre o ensino em todos os níveis, com a orientação e apoio do próprio Ministério da Educação e Cultura. A UNE criou centros populares de cultura que submeteram a população a uma intensa propaganda esquerdista. A UNE, além de receber vultosos subsídios do Ministério da Educação e Cultura, recebia subsídios financeiros e propaganda da União Internacional de Estudantes (UIE), uma entidade de fachada do Movimento Comunista Internacional onde a UNE tinha um representante: um dos vice-presidentes dessa UIE era da UNE, um brasileiro.

(...)

Atendendo uma específica orientação da Internacional Comunista, o PCB realizou, em Niterói – O Governador da Guanabara [Carlos Lacerda] negou a permissão para a realização do evento em seu Estado – um encontro de solidariedade a Cuba com a presença de representantes de mais de oitenta países. Apesar das mensagens de solidariedade enviadas para esse encontro pela União Soviética e pela China, a vedete do encontro foi Prestes. Este, entre outras pregações revolucionárias, profetizou que o Brasil teria o privilégio de ser a segunda nação Latino-Americana, onde o socialismo seria implantado” (General-de-divisão Agnaldo Del Nero Augusto, Tomo 5, pg. 98-99).

 

Intentona Comunista de 1935

“A maioria dos que se dedicam ao assunto crê, no entanto, que o Movimento de 1964 vem do repúdio ao comunismo no meio militar, nascido em 1935, pelos crimes perpetrados pelos marxistas-leninistas, na Intentona Comunista, levante armado que irrompeu em Natal, Recife e no Rio de Janeiro, financiado e determinado pelo Komintern – a Internacional Comunista -, fundada em 1919 por Lênin, para propagar o comunismo, e aproveitada por Stálin para promover os interesses da política exterior da União Soviética.

A Intentona, conduzida por Luís Carlos Prestes, que entrou no País com passaporte falso para chefiá-la, contou com 23 estrangeiros para a sua preparação e execução, dos quais apenas nove foram presos no Brasil após o fracasso do movimento. Ficou, no seio do Exército e das Forças Armadas, a revolta contra aquela infame Intentona, na qual os comunistas mataram covardemente seus companheiros de farda, enquanto dormiam” “General-de-Brigada Geraldo Luiz Nery da Silva, Tomo 10, pg. 196).

Obs.:

Assim como Prestes, que desencadeou a Intentona Comunista em 1935, a UNE também recebeu o “Ouro de Moscou” – cfr. http://felixmaier1950.blogspot.com/2020/07/ouro-de-moscou.html.

F. Maier

 

Ameaça de enforcamentos na Fábrica Nacional de Motores

“Um fato me chamou a atenção, logo depois da vitória do movimento. Eu vi, ninguém me contou. Foi na antiga Fábrica Nacional de Motores (FNM), que funcionava em Xerém, arredores do Rio de Janeiro, a única fábrica de veículos brasileiros, os famosos ‘Fenemê’. De serviço, com uma tropa, o que vi lá foi estarrecedor; nos postes havia escrito o seguinte: ‘Nesse poste será enforcado o engenheiro tal, nesse poste será enforcado fulano de tal, nesse poste será fuzilado sicrano de tal.’ Os nomes das pessoas estavam escritos pelos comunistas que dominavam a fábrica e pensavam, um dia, tomar conta de tudo e assassinar os desafetos. Na FNM, a mais nítida demonstração de qual era a situação brasileira; as pessoas já tinham local certo e tipo de morte escolhida, se era enforcamento ou fuzilamento” (General-de-Brigada Ozcyr Pizzotti Minervino, Tomo 7, pg. 121-122).

 

Pelegos ligados ao Governo João Goulart

“Os pelegos – líderes sindicais ligados ao Governo – faziam comício em lugar proibido, faziam depredações, ocupações do tipo dos sem teto hoje e invasões de terras, estas sob o comando das ‘Ligas Camponesas’, que hoje se chamam de Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), mas fazem a mesma coisa, e o governo, naquela época, convivia com a desordem por eles promovida, exatamente como acontece hoje [Governo FHC].

Sabe o que o CGT e o PUA faziam com os desafetos? Eles agarravam à força as pessoas e com barras de ferro quebravam as pernas das pessoas, esses sindicalistas, esses extremistas do PUA e do CGT quebravam as pernas de quem não rezava pela cartilha deles.

O PUA inventou uma arma terrível, e o Departamento de Ordem Política e Social (DOPS) apreendeu várias delas antes e depois da Revolução. Eles pegavam toco de cabo de aço usado em atracação de navio, amarravam numa ponta, fazendo uma espécie de uma empunhadura de espada e a outra ponta eles desfiavam para ficar ouriçado e usavam aquilo como chicote, como rebenque para cortar qualquer recalcitrante. O sujeito queria romper a greve, então tomava uma rebencada, que rasgava o sujeito todo e ia parar no pronto-socorro. Era assim que eles agiam, na ‘democracia’ ” (Coronel-Aviador Gustavo Eugenio de Oliveira Borges, Tomo 10, pg. 293).

“Os Ministros, inclusive os militares, temiam o CGT, o Comando Geral dos Trabalhadores, que mandava mesmo, tendo como secretário-geral Dante Pelacani, cujas ordens faziam curvar-se o Ministro do Trabalho, Amauri Silva, que não realizava nenhuma nomeação para cargo de direção sem a aprovação de Pelacani” (General-de-Exército Mario Orlando Ribeiro Sampaio, Tomo 11, pg. 32-33).

 

Movimento de Cultura Popular

“Além disso, o Movimento de Cultura Popular, que foi uma criação do Miguel Arraes, do Gregório Bezerra, que era o homem que mandava nesse negócio, fazendo cartilhas preparadas no sentido de ‘fazer a cabeça’ daquela juventude; inclusive, uma das publicações dessa cartilha se chamava ‘O Tijolo’, e nela constava o seguinte: ‘Como é que é feito o tijolo? É tirado da terra, a terra é do agricultor, que é pobre. E esse tijolo é feito por quem? É feito pelos operários, pobres. E para quê? Para fazer a casa dos ricos’. É tudo uma sequência para ‘colocar na cabeça’ dos pobres que eles estavam sendo explorados pelos ricos; então, o exemplo era o tijolo, as coisas eram concebidas dessa forma” (General-de-Exército Mario Orlando Ribeiro Sampaio, Tomo 11, pg. 33).

 

Ligação criminosa do apátrida Prestes com Moscou

“Em março [1964], houve um fato importante. Prestes voltou a Moscou e foi encontrar-se novamente com Kruschev, com Suslov e, agora, com Brejnev, que viria a substituir Kruschev e apresentou o que ele tinha feito nesses dois anos: o trabalho de massa, inclusive a infiltração nas Forças Armadas. Veio de lá com a aprovação da União Soviética, inclusive com a proposta de financiamento para a Usina de Itaipu, que já era cogitada, naquela época. Ele relatou o seu encontro para o Goulart. No dia 13 de março de 1964, realizou-se o primeiro desses comícios no Rio de Janeiro, na Praça da República, entre o prédio do Ministério da Guerra e a estação da Central do Brasil. Valendo-se de transportes oferecidos por órgãos estatais [como a Petrobras] e do natural afluxo de pessoas no final da trade em direção à estação da Central do Brasil, o chamado ‘comício da reforma’ reuniu cerca de cem mil pessoas. No comício, faixas pela organização do Partido Comunista, distribuição de armas ao povo etc. e tal; e a situação de agitação já criava uma ansiedade, uma instabilidade na população” (General-de-Divisão Agnaldo Del Nero Augusto, Tomo 5, pg. 100-101).

 

Jango fazia questão de desprestigiar as Forças Armadas

“Quando o Presidente chegou mais ou menos na testa da Academia, as pessoas postadas nas sacadas e janelas dos edifícios situados no outro lado da Avenida começaram a aplaudi-lo e a jogar papel picado. Ele passou a AMAN em revista ficando o tempo todo de costas para nós, respondendo e agradecendo os aplausos e acenos da população. E aqueles cadetes de todos os cursos que estavam ali em forma – na maioria do terceiro e último ano – ficaram descontentes com a atitude e o pouco respeito do nosso Comandante Supremo para com a Academia.

Este fato nos causou uma indignação muito grande. Talvez até tenha sido algo pequeno e irrelevante, mas os comentários entre os cadetes se prolongaram ao longo dos meses, até o final do ano. A revolta por ele ter passado de costas para nós fundamentou, na grande maioria da turma de 1963, até mesmo naqueles que tinham uma tendência de esquerda, uma forte aversão ao Jango. Ficamos inconformados com a atitude dele” (General-de-Brigada Flávio Oscar Maurer, Tomo 8, pg. 307).

 

Desabastecimento geral de gêneros alimentícios; o Exército passou a distribuir feijão e arroz no Rio de Janeiro

“Ultrapassado o período da renúncia de Jânio Quadros, passamos a viver momentos difíceis, sacrificados mesmo. Por exemplo, o GO 155, e outras Unidades, como o Primeiro Regimento de Obuses 105 (1º. RO 105, sistematicamente ocupavam as estações de trem, a fim de manter a ordem; a todo instante irrompiam os ‘quebra-quebras’ que as gente chamava de ‘quebra-quebra feijão’. Chegou a ponto de as Forças Armadas serem incumbidas de comercializar gêneros alimentícios nas ruas. Saíamos com uma viatura de cinco toneladas, abarrotada de arroz para vender à população, por força de determinação do governo. Isso acontecia em São João de Meriti, em Nova Iguaçu, em Nilópolis, sempre enfrentando sérios problemas. O povo sofrido queria o produto e nós – um 2º. Tenente, um sargento, um cabo motorista e um soldado – tínhamos que fazer das ‘tripas coração’ para conseguir controlar a multidão” (Coronel Hahenderson Vieira, Tomo 5, pg. 276).

“Houve uma ocasião em que o Governo João Goulart bloqueou a saída de arroz do Sul do País, impedindo-o de chegar a São Paulo e Rio de Janeiro. O Governo culpava os plantadores do Rio Grande do Sul e os capitalistas pela falta de arroz, mas, na verdade, sabíamos do bloqueio que era feito. Numa jogada demagógica, fomos obrigados, por determinação de Goulart, a utilizar os caminhões militares para distribuir na rua o pouco arroz que chegava. Formavam-se filas intermináveis. Alguns sargentos mais jovens, muitas vezes, quando iam entregar o arroz, viam uma moça bonita e para namorar a jovem acabavam facilitando a entrega. Tal procedimento, como era de se esperar, provocava tumulto e confusões terríveis, envolvendo o Exército” (General-de-Brigada Oacyr Pizzotti Minervino, Tomo 7, pg. 110).

Obs.

Na enchente de 1983, em Santa Catarina, eu soube que na região de Joaçaba uma moça se tornou amante de um oficial da PM, e sua família passou a receber produtos não perecíveis que dava até a próxima enchente.

F. Maier

 

 

Lista negra do General Assis Brasil

“Durante o Comando do General Jair, até maio de 1963, quando foi convidado para o cargo de Ministro da Guerra, aconteceram as transferências dos oficiais que, em 1961 e também mais tarde, havia sido considerados pelo agora General Assis Brasil e comparsas como contrários à posse e à permanência do Vice-Presidente no governo. O curioso é que, dentro do nosso limite de atuação, a expressiva maioria dos oficiais, que foi movimentada como ‘castigo’, era favorável à solução constitucional, isto é, à posse do Vice-Presidente João Goulart.

Trouxe aqui uma cópia de documentos encontrados em 1964 na residência do Brizola, nos quais o General Assis Brasil [Chefe da Casa Militar do Governo Jango] acusa seus colegas de farda de serem opositores ao Governo do Jango. Nesta nota está a relação dos oficiais sujeitos ao pedido de afastamento: Raphael Zipin, Milton Baptista Pereira, Telmo de Oliveira Sant’Anna (Asperante da Arma de Cavalaria de 1940), Jayme Moreno e Décio Barbosa. Estou eu aqui nesse pacote, sei lá por quê; Mas um fato interessante: essa movimentação, como já falei, só foi acontecer depois de 1961

“Vivíamos, em nossos apartamentos [da EsAO], em clima de tensão, porque corria muita história, muito boato e o que ocupávamos dava a frente para a Brigada Pára-quedista. Dizia-se que os sargentos para-quedistas iriam tomar aqueles apartamentos e nos prender ou qualquer coisa assim. Dávamos guarda à noite, armados, era uma escala de serviço que durou os 15 dias que antecederam a Revolução. No dia do Movimento estávamos escalados de serviço” (General-de-Exército Domingos Miguel Antonio Gazzineo, Tomo 4, pg. 35).

“Já no Mec [3º. Regimento de Reconhecimento Mecanizado], a situação ficou muito difícil porque havia uma nítida separação [entre oficiais e sargentos]. Durante o dia parecia tudo normal, mas à noite os oficiais dormiam no pavilhão da administração e os sargentos nos esquadrões e cada grupo dava ronda para o seu lado, separados, como se estivessem se protegendo uns dos outros. Quando clareava o dia, a tranquilidade voltava ao quartel, era como se nada houvesse acontecido. Tudo porque realmente o Comandante nunca chamou os oficiais e sargentos para dizer o que estava acontecendo e de que lado estava a Unidade” (General-de-Divisão Lélio Gonçalves Rodrigues da Silva, Tomo 8, pg. 161).

“Quando estava na ECEME, nos dias que se seguiram à Revolução, cheguei a ser telefonista de dia revezando com o Malan. Num desses telefonemas, dado por pessoa desconhecida, recebi o seguinte informe: os senhores estão querendo prender o Almirante Aragão – o almirante Fuzileiro Aragão era elemento altamente subversivo. E, eu disse: ‘gostaríamos sim’. E me informaram: ‘Se quiserem prendê-lo, ele agora está na casa de uma senhora de quem ele é amante. Ele era chegado a essa atividade que aliás era uma atividade interessante – ser mulherengo.

(...)

Com a decisão do General [Mamede], foi pedido ao Almirante Heitor, já falecido também, que fosse prendê-lo com alguns fuzileiros contrários ao Almirante Aragão. E, assim foi feito, e, desta forma, ele acabou preso” (Coronel Hernani D’Aguiar, Tomo 9, pg. 173-174).

“Com a renúncia do Jânio Quadros e com a posse do Presidente João Goulart, o General Santa Rosa foi nomeado comandante. Ele assumiu o comando da Brigada, ainda, com a denominação de Núcleo da Divisão Aeroterrestre. Ele vinha do Rio Grande do Sul, estava com o Governador Leonel Brizola.

(...)

Os oficiais e sargentos de todas as unidades paraquedistas se reuniram naquela sala. Fui conhecer o novo comandante – General Santa Rosa – e fiquei surpreso, levei um susto, um susto muito grande, porque ele subiu numa mesa, num tablado, nós sentados – oficiais e sargentos – e disse assim: ‘Quero falar com os sargentos paraquedistas, quero cumprimentá-los porque vocês não cumpriram as ordens de seus oficiais’. Era inadmissível para mim, presenciar o General comandante em flagrante desrespeito aos princípios basilares da Instituição.

Diante de tal absurdo, passamos a nos envolver cada vez mais naquele movimento para derrubar, destruir aquele império – o soviético – que usava um movimento que se chamava Movimento Comunista Internacional, pretendendo ocupar um país continental, o Brasil, geoestrategicamente área de influência e de interesse do outro império – o norte-americano. Sentimos que a ameaça era muito maior do que aquela que tínhamos imaginado e precisávamos, sim, o mais rápido possível, acelerar aquilo e evitar o mal maior, porque a disciplina começou a cair visivelmente. Como um General-de-Brigada assume um Grande Comando de uma tropa tão preparada como a nossa e o seus primeiro ato é pregar a indisciplina, é jogar os sargentos contra os oficiais? Aquilo foi demais para mim” (General-de-Brigada Durval Antunes Machado Pereira de Andrade Nery, Tomo 10, pg. 160).

“No IME, não sentimos o problema da indisciplina porque, como alunos, não tínhamos subordinados, éramos responsáveis por nós mesmos. Mas sabíamos que nos quartéis havia problemas sérios de indisciplina. Certo dia, perto do Iate Clube, na Avenida Pasteur, encontrando um amigo, Capitão-Tenente, que servia numa Unidade da Marinha, no Rio de Janeiro, ele me contou que partira para a luta corporal com um cabo, seu subordinado, que se recusava à ordem de faxina.

Ora, quando uma Força Armada chega a uma situação dessa natureza, é sinal de que estamos diante de uma crise. Pois se a disciplina e a hierarquia – esteios da Instituição Militar – deixam de existir, algo vai muito mal. Infelizmente, era este o quadro precedente à Revolução. Oficiais da alta hierarquia das Forças Armadas, principalmente do Exército e da Marinha, davam-nos maus exemplos. O Almirante Aragão, Comandante do Corpo de Fuzileiros Navais, era chamado de ‘almirante do povo’ ” (Tenente-Coronel Affonso Taboza Pereira, Tomo 12, pg. 218-219).

 

General queria saber o que a “laboriosa classe dos sargentos precisava”...

“Um general que eu tinha em algo conceito inspecionou o Regimento e foi uma decepção para mim. Havíamos preparado vários temas táticos para que, mediante escolha dele, pudéssemos realizar uma demonstração no terreno. Terminada a inspeção da tropa, ele reuniu os sargentos no ginásio do 18º. e perguntou – palavras que me repetiram; eu não escutei – o que a laboriosa classe dos sargentos precisava.

Ora, no Exército não existe classe, existe hierarquia. Como é que um general vem nos inspecionar e fala em classe dos sargentos? E a decepção foi maior, porque ele retirou-se do Regimento sem ouvir ninguém sobre a eficiência da Unidade, nem a mim que estava encarregado da instrução e a nenhum outro oficial. Nós nos preocupávamos com isso” (General-de-Brigada José Mattos de Marsillac Motta, Tomo 13, pg. 104).

 

O medo generalizado dos oficiais, que desconfiavam dos praças quando tiravam serviço de oficial-de-dia, devido às incitações de Brizola

O “esquema militar”, alardeado pelo Chefe da Casa Militar de Jango, general Assis Brasil, de colocar praças das Forças Armadas contra oficiais, trouxe funestas consequências. A desconfiança era total. O oficial-de-dia da Unidade não dormia, ficava a noite toda fazendo ronda, com a arma engatilhada, com medo de ser assassinado enquanto dormia no seu quarto (Lembrai-vos de 1935!). Os “laranjeiras” também não tinham sossego. Era um clima de terror, não se sabia em quem confiar.

“ ‘Lisbôa, tome cuidado. Ainda existem aqui no quartel algumas alamedas sem nome’. Novo na Unidade, procurei informar-me e fiquei ciente de que as alamedas tinham o nome de militares mortos em serviço... A partir daí, recordando-me dos ensinamentos de 1935, tirava serviço a cada três dias, mas não me recolhia durante a noite para o quarto destinado ao oficial-de-dia, localizado no corpo da guarda. Agindo com mais cautela, passei a andar pelo quartel atento a tudo e, quando exausto, entrava na boléia de qualquer viatura para dar uma breve ‘cochilada’.

O ambiente era tenso. Os tenentes passaram a concorrer a outra escala de serviço, a de Comandante de Pelotão de Choque, devendo estar preparados para serem empregados, particularmente nas estações da Estrada de Ferro. Algumas vezes desloquei-me para Deodoro, ocupei a estação com os meus soldados e, pelo menos em duas ocasiões, deparei-me com a difícil situação de ter que me confrontar com badernistas que tentavam quebrar os trens. Na missão, quase sempre indefinida que recebia de meus superiores, apesar de inquirir a respeito, nunca me foi dada explicitamente a ordem de ‘quando atirar’. A idéia que tinha era de que estava ali como uma espécie de ‘bucha de canhão’, com a finalidade de permitir criar uma situação difícil e incômoda, envolvendo o pessoal militar que, na realidade, atendesse a outros objetivos não claramente explícitos.

(...)

Certa vez fui à 3ª. Bateria (os mais perigosos estavam reunidos nas 1ª. E 3ª. Baterias) procurar o Tenente Amorim. Ele era o Diretor do Curso de Formação de Cabos (CFC) e, intencionalmente, não coordenava a instrução com os tenentes das Baterias. Certamente, agia assim na tentativa de desestabilizar a Unidade e estava conseguindo o seu objetivo, pois a instrução de cabo era um verdadeiro caos... Encontrei-o na reserva dos sargentos recebendo, de um deles, detalhada orientação sobre ‘ordens’ que deveriam ser seguidas. Perplexo, observei que o referido tenente estava sendo enquadrado pelo sargento, em flagrante inversão de todos os valores hierárquicos que conhecia. Compreendi, naquele momento, que alguma coisa de grave estava para acontecer...” (Coronel José Carlos Lisbôa da Cunha, Tomo 3, pg. 340).

“Em 1922, fundou-se o Partido Comunista Brasileiro, cujo chefe maior foi Luís Carlos Prestes. Daí para frente, os comunistas brasileiros, orientados pela III Internacional Comunista – Komintern – e apoiados por Moscou, começaram a articular um movimento para implantar no Brasil o regime comunista. Este movimento se desencadeou em novembro de 1935, começando em Natal-RN, com a deposição e prisão de autoridades, com assaltos, sequestros, estupros e todo tipo de violência. Estendeu-se para o Recife, onde houve confrontos e mortes entre as forças da ordem e bandos comunistas armados. Tornou-se mais grave no Rio de Janeiro. Na noite de 27 de novembro de 1935, foram atacados vários quartéis e mortos 28 militares, enquanto dormiam em seus alojamentos. O mais brutal desses ataques ocorreu no 3º. RI, na Praia Vermelha. Essa Intentona Comunista de 1935, por suas características de traição e perversidade, traumatizou a alma brasileira e vacinou o nosso militar contra essa ideologia malsã. Foi, portanto, um marco deplorável na vida nacional e o antecedente preponderante da Revolução de 1964” (General-de-Brigada Manoel Theóphilo Gaspar de Oliveira Neto, Tomo 4, pg. 94).

“De um modo geral, nos quartéis, existia sempre uma minoria muito atuante, cooptada para implantar uma espécie de um processo de insubordinação. Havia um ambiente de muita insegurança e, pior, de desconfiança, uma coisa que nunca vira anteriormente. Havia uma desconfiança um do outro. Ninguém sabia quem era quem ali, ou seja, quem era a quinta-coluna, que ali estava para gerar a indisciplina. O quadro fazia-nos lembrar a Intentona de 1935, na qual os comunistas, obcecados pela sua ideologia descabida, mataram seus colegas dormindo. O postulado que eles obedecem cegamente é aquele que volto a salientar – os fins justificam os meios” (Coronel Audir Santos Maciel, Tomo 11, pg. 147).

 

A atuação desestabilizadora das Ligas Camponesas, de Francisco Julião, principalmente em PE, com apoio de Miguel Arraes, e dos Grupos dos Onze, de Brizola, principalmente no Sul do Brasil

“Esse homem, Francisco Julião, inclusive foi eleito deputado federal, aproveitou a situação existente e veio a criar, naquela região, as ‘Ligas Camponesas’, espécie de quistos, perigosos e difíceis de controlar. O Governo do Estado de então, Miguel Arraes, estava de acordo com isso tudo e, também, o Professor Paulo Freire, organizador de uma cartilha que ensinava a ler assim: ‘Letra ‘f’ – ‘f’ de fome. O Brasil tem fome” (General-de-Brigada Ruy Leal Campello, Tomo III, pg. 60).

“As Ligas Camponesas foram criadas em 1958 por Francisco Julião. Até 1961, a proposta ressaltada por Julião era decididamente correta, pois recomendava a utilização de instrumentos legais para reivindicar, organizar e atribuía papel privilegiado aos advogados. Em 1961, já existiam federações das Ligas em dez Estados e foi fundado o Conselho Nacional das Ligas Camponesas, com representação em 13 estados. Mas, nesse ano, Julião visita Cuba e de lá retorna com o pensamento impregnado pelas ideias locais. Abandona a orientação seguida até então e passa a pregar uma concepção socialista coletivizante de reforma agrária, passando as Ligas a representarem os focos de atração do movimento camponês. Julião se manifesta, nacionalmente, através das Ligas e, em 1963, procura ampliar a ação das mesmas criando o Movimento Unificado da Revolução Brasileira (MURB), que englobaria, numa frente única, os setores radicais da subversão. Embora Julião mantivesse estreitas ligações com o PCB, o seu movimento inspirava-se nas ideias da China Popular e de Cuba. Já em 1962, no dia 21 de abril, lançava, em Ouro Preto, o Movimento Revolucionário Tiradentes (MRT) e pregava a reforma agrária, ‘na lei ou na marra’. Comprou fazendas e nelas instalou campos de treinamento de guerrilhas. Essa maneira de agir veio enfraquecer o movimento das Ligas. O MURB contava com o apoio de elementos treinados em Cuba, na União Soviética e na República Popular da China e poderia ter-se transformado em executor de uma ação armada de guerrilha rural de vulto, não fora o Movimento de 1964.

Em outubro de 1961, foi lançada, em Goiânia, a Frente de Libertação Nacional, sob a liderança dos governadores estaduais Leonel Brizola, Mauro Borges e Miguel Arraes, e de Francisco Julião; Barbosa Lima Sobrinho, Bento Gonçalves e várias outras pessoas, escolhidas para mascarar a nítida orientação comunista, estavam presentes. A Frente era uma tentativa  de formação de uma frente única, de caráter amplo, inspirada no nacionalismo e fundamentada nos motivos de emancipação econômica do País. Ressurgia, assim, até com semelhança no nome, a Frente Democrática de Libertação Nacional, lançada por Prestes em 1950, por intermédio do Manifesto de Agosto, coo é conhecido. A Frente não era inteiramente ligada ao PCB, porque nela predominavam as tendências chinesa e cubana” (General-de-Exército Sebastião José Ramos de Castro, Tomo 1, pg. 120-121).

“Francisco Julião esteve em Cuba, fez curso de guerrilha rural, e todos nós sabíamos disso. Peguei essa fase em 1961, 1962, aqui em Pernambuco, quando aconteceu aquela greve geral dos estudantes secundaristas, em 1961, e o Governo Federal mobilizou tropas do Exército.

Do Rio de Janeiro veio a tropa paraquedista, veio tropa da Marinha, e tropa da Paraíba...

A greve geral foi estimulada por quem? Pelos ativistas comunistas e teve todo o apoio do Governo do Estado, que não mobilizou a Polícia para reprimi-la. O Exército é que foi para a rua acabar com a greve” (Coronel Clidenor de Moura Lima, Tomo 6, pg. 116).

“As ligas camponesas, aqui no Nordeste, particularmente na Paraíba e em Pernambuco, faziam, talvez, pior do que o MST de hoje, porque ameaçavam diretamente com invasões armadas e apregoavam o  apoio que recebiam de Cuba. Sabíamos que era real, não era sonho, porque tínhamos informações e conhecíamos perfeitamente o mecanismo que usavam. Isso nos preocupava profundamente, a tal ponto de o comandante da Base Aérea – o Coronel Hipólito, que também participava dessas reuniões – querer derrubar o avião do Jango, aproveitando-se de uma viagem dele para apoiar as ‘Ligas Camponesas’, na Paraíba. Mais calmos, o comandante do 23º. BC, eu e o Dr. Armando Falcão convencemo-l0 de que aquilo era inoportuno, já que o Sr. João Goulart, depois, seria endeusado” (Tenente-Coronel Idalécio Nogueira Diógenes, Tomo 4, pg. 179).

“Muito superficialmente, as Ligas Camponesas foram herdeiras naturais das primeiras tentativas feitas no campo para mostrar força e poder, pressionando os órgãos do Governo que tratavam do setor de terras. Lembro-me de que começaram no Estado do Rio de Janeiro. A Fábrica Nacional de Motores (FNM) foi invadida sob o comando do falso Padre Aníbal. No campo agrário propriamente considerado, foram frequentes os distúrbios e invasões chefiados pelo Deputado Francisco Julião. Realizaram marchas sobre engenhos e fazendas, especialmente no Nordeste. O primeiro nome das Ligas foi Bloco Operário Camponês. Invasões semelhantes foram levadas a cabo, também, no Rio Grande do Sul.; depois, realizou-se em Goiânia, o Congresso dos Camponeses Sem Terra para estabelecer os objetivos do Movimento.

Quanto ao ‘grupo dos onze’, sob liderança de Leonel Brizola, jamais chegou a tornar público os estatutos desta organização. Todas as sextas-feiras, utilizando o rádio, apresentava ideias sobre os grupos que chamava de Comandos Nacionalistas ou ‘grupo dos onze’. Deixava transparecer que a eles caberiam tipos específicos de missão: uma ofensiva, em qualquer caso de golpe, fosse qual fosse sua origem. Se eles fossem dar um golpe, poderiam contar com a participação desses grupos, como também nas medidas preliminares de defesa.

Em 30 de novembro de 1963, afirmou Brizola: ‘Estes grupos não estão sendo organizados para fazer crochê, jogar cartas ou tomar chá. Estão sendo organizados para a ação’. Mas era voz corrente que o mais importante dessas ações seria a neutralização por ou mesmo a destruição dos chefes militares. O grosso desses grupos era constituído por comunistas militantes ou por simpatizantes das três Forças Armadas, principalmente, graduados e soldados” (Coronel Hernani D’Aguiar, Tomo 9, pg. 175-176).

“Tanto as ‘Ligas Camponesas’ de Francisco Julião, que agiam no Nordeste, particularmente em Pernambuco, com a tolerância do Governador Miguel Arraes, quanto os ‘grupos dos onze’, cuja formação, em todo o País, era fomentada pelo Governador do Rio Grande do Sul, Leonel Brizola, para agirem como uma milícia paramilitar, estavam no contexto da preparação da tomada do Poder e implantação no Brasil de uma República Popular Sindical.

Além desses, podemos citar:

O Movimento Cultural Popular (MCP), organizado em Pernambuco por Gregório Bezerra, notório comunista, egresso de 1935, com o objetivo de conscientizar os estudantes com relação aos jargões comunistas; o Comando Geral dos Trabalhadores (CGT), braço sindical a serviço de Jango, como arma para a implantação da tal república sindicalista” (General-de-Exército Carlos Tinoco Ribeiro Gomes, Tomo 10, pg. 33).

“Posso dizer que as ‘Ligas Camponesas’ e os ‘grupos dos onze’, na verdade, foram blefes. Eram usados pela imprensa, faziam estardalhaço, mas sentir a existência... e a ação... Não houve nenhuma, absolutamente. Apenas no interior de Goiás foram apreendidos uns caixotes com armas que eram destinadas ao ‘grupo dos onze’, mas o pessoal fugiu e nunca mais apareceu. Havia um oficial amigo do Jango, Coronel Seixas, responsável pela repressão, e que, ao invés de mandar aquelas armas para o Exército, enviou para a Presidência da República. As armas tinham vindo de Cuba” Coronel Renato Brilhante Ustra, Tomo 5, pg. 256).

“A partir desses quatro ou cinco dias após o 31 de março, começaram a ocorrer aqui alguns inquéritos. Prenderam muitas pessoas envolvidas com terrorismo, outras com guerrilhas e corrupção. Trabalhei num inquérito do Banco do Brasil. Também participei, nesse período, até o final do ano, da prisão do Francisco Julião. Muito inteligente, nunca tentou esconder nada, sempre se confessou esquerdista, comunista convicto, e que não iria mudar a posição dele. Era uma conversa muito interessante. Durante um serviço que tirei no Batalhão, Como oficial de dia, solicitou a Bíblia, porque não tivera tido oportunidade, na vida, de ler o Livro Sagrado” (Coronel Carlos Fernando Freitas Almeida, Tomo 5, pg. 293).

“Existia um médico comunista em Goiânia que reuniu um pessoal das ‘Ligas Camponesas’ e começou a marcar as portas e janelas das casas daqueles que concordavam com a Revolução e não eram a favor do comunismo. Isso aconteceu antes e nos primeiros momentos após o 31 de Março; esse pessoal, dizia-se na cidade de Goiânia, seria fuzilado!” (Coronel Gabriel Antônio Duarte Ribeiro, Tomo 6, pg. 82).

“Na Paraíba, o Governador Pedro Gondim não era de confiança dos militares, em virtude de suas atitudes populistas; os integrantes das Ligas Camponesas faziam passeatas armados de foices, principalmente nas cidades próximas das usinas (de açúcar); os portuários, também, em Cabedelo, faziam comícios agressivos, procuravam o apoio das Ligas do Francisco Julião.

Se um militar chegasse fardado na região portuária de Cabedelo, eles mostravam seu desapreço, eram acintosos.

(...)

Antes da Revolução de Março de 1964, houve casos de invasão de usinas. Em Goiana, PE, redundou na morte de empregados e policiais, assassinados pelos camponeses revoltados.

A cidade de Cabedelo, PB, foi invadida por camponeses armados que ocuparam até prédios públicos, como a prefeitura; o povo se escondeu daquela massa, isso a cerca de 18 km de João Pessoa” (Coronel Expedito Bandeira de Araújo, Tomo 6, pg. 154-155).

“O senhor tem conhecimento de alguma atividade que estaria prevista par o dia 1º. de maio de 1964?

Aqui em Recife, um desfile das célebres ‘Ligas Camponesas’ e de trabalhadores rurais. Já existia até uniforme: um macacão, faltando apenas um bordado que seria colocado na lapela, estampando a foice e o martelo. Estive com esse uniforme em minhas mãos.

Como chegou às suas mãos?

Por ser intendente, conhecia o pessoal que fabricou o macacão. Não me lembro do nome da firma, da confecção que os fez, mas localizava-se na Rua da Matriz; não sei se apenas ela” (Coronel Clycio D’Azevedo, Tomo 6, pg. 145).

“Os fatores internos começaram muito antes de 1964. Já em 1961 o manual de guerrilha do Che Guevara era distribuído no Brasil pelo Partido Comunista Brasileiro (PCB) e no Nordeste foram implantadas as ‘Ligas Camponesas’. Tudo uma repercussão ou consequência interna de um fator externo, a guerra fria grassava no mundo da época. A União Soviética e todos os seus satélites – Alemanha Oriental, Checoslováquia, Cuba etc. exportavam revoluções para os países do Terceiro Mundo. Dissidentes apenas sobre os métodos a serem adotados, também a China e seus aliados buscavam a tomada do Poder e a implantação do socialismo, em escala mundial, através de movimentos revolucionários” (General-de-Brigada Daniel Lomando Andrade, Tomo 8, pg. 235).

“Para se ter uma ideia da situação antes do Movimento Democrático, as ‘Ligas Camponesas’, chefiadas por Francisco Julião, invadiam fazendas, desrespeitando o direito de propriedade. O presidente da Superintendência da Reforma Agrária (SUPRA), João Pinheiro Neto, pregava as invasões de terras, a violação do direito de propriedade, incêndio de lavouras, matança de gado, enfim a quebra do setor produtivo agrícola. Numa dessa pregações, em Curvelo, o povo da cidade o expulsou a tiros para fora de Minas” (Doutor Carlos Eduardo Guimarães Lousada, Tomo 7, pg. 348).

“As ‘Ligas Camponesas’ nada mais foram do que uma instrumentalização feita em homens bons, em homens que estão precisando de ajuda ainda hoje. Sou nordestino, não tenho nada que ser contemporizador com a mentalidade dominante de certa camada do Nordeste, que conheço muito bem, que sufoca, que priva da dignidade o ser humano. Mas não é reduzir isso somente para o usineiro. Não é só o usineiro, somos todos nós.

Então, resumiria assim: esse absurdo de não ter havido – não chamo a reforma agrária – o desenvolvimento agrário no Brasil, capaz de solucionar o problema das demandas dessa gente, que precisa de terra ainda hoje. E isso foi, entre outras bandeiras sociais, assumidas pelo senhor Francisco Julião, que as transformou através de cartilhas que foram apreendidas – e eu li algumas delas, em instrumento da subversão comunista, no campo. Então, ninguém precisa me ensinar essas coisas. Cartilhas ensinando a violência e armamento foram apreendidos nos aparelhos das ‘Ligas Camponesas’. Em Minas Gerais, em 1962, foi apreendido um ônibus da Faculdade de Arquitetura da Universidade de Minas Gerais que estava se deslocando lá para o Nordeste com um carregamento de armas.

(...)

No seu discurso de posse, ele [Castello Branco] foi até o Estatuto da Terra, que ainda hoje é o melhor documento que existe no Brasil sobre isso. Pois bem, aonde existia a possibilidade de compatibilizar este objetivo a ser atingido – não digo nem ideal – com a reforma agrária na marra, na violência, na usurpação, na loucura, na cegueira, no fanatismo, inspirado no exemplo de Cuba, que muito encantava os nossos líderes socialistas? Essas ‘Ligas Camponesas’ nada mais eram do que braços políticos que estavam sendo transformados em braços armados da guerrilha rural” (Coronel Francimá de Luna Máximo, Tomo 11, pg. 222-223).

“Entendo bastante do ‘grupo dos onze’ porque fui designado para fazer um IPM (Inquérito Policial Militar) desses grupos. Sobre as ‘Ligas Camponesas’, sei que elas foram criadas e eram chefiadas pelo Francisco Julião, mas elas cresceram mais no Nordeste e pretendiam, sob orientação cubana, fazer a reforma agrária ‘na marra’, como eles diziam. (...)

Quanto ao ‘grupo dos onze’, disse que fui designado para fazer o IPM. Era a milícia ‘brizolista’. Com ela, o Brizola pretendia se opor às Forças Armadas em apoio ao ‘cunhado-presidente’ e depois em benefício próprio, porque ele já teria, naquela época, pretensões de chegar ao Palácio do Planalto. Eles assumiram a Rádio Mayrink Veiga, que era uma estação do Rio de Janeiro, de certo renome, e ali instalaram o seu quartel-general. O seu chefe de estado-maior na  rádio era um cidadão chamado Paulo Shilling, cuja filha, extremista de esquerda, foi presa e não sei se desapareceu ou não no Uruguai, onde andou exercendo atividades terroristas. O ‘grupo dos onze’ se propôs a criar uma milícia à imagem de uma equipe de futebol – onze jogadores – pois achavam que aquilo tinha um chamamento místico sobre a população: futebol, onze jogadores, onze integrantes. Na noite da Revolução – noite de 31 de março – eles tentaram convocar a sua milícia, mas não conseguiram” (General-de-Brigada Celso dos Santos Meyer, Tomo 10, pg. 133).

“O ‘grupo dos onze’ era uma espécie de formação de guerrilheiros: eram grupos pequenos, armados, com 11 integrantes, efetivo de um grupo de combate, para proteger o Brizola. Isso era coisa do Brizola. Dias antes da Revolução, ele publicou num tabloide de Porto Alegre – e nós tínhamos lá em São Paulo um exemplar – um artigo concitando os sargentos a matarem os oficiais e a assumirem os comandos.

Esse homem ia para a Rádio Mayrink Veiga com aquela mala de dinheiro na mão – ele não pagava com cheque não, era mal de dinheiro – para pagar as horas em que ficava pregando a subversão” (General-de-Brigada Augusto Cid de Camargo Osório, tomo 14, pg. 124).

“Os seguintes fatos demonstraram essa realidade: aceleração do processo de sindicalização do País; tentativas de cisões no seio das Forças Armadas; criação das ‘Ligas Camponesas’ e dos ‘grupos dos onze’; distribuição velada de armamento no meio operário.

Em Juiz de Fora, numa ocasião, foi visto uma viatura passar cheia de metralhadoras para os operários da época, ali na minha cidade, nas nossas barbas, porque eu estava em Juiz de Fora.

E também, manifestações culturais, induzindo à revolta popular. Exemplo foi a encenação de uma peça teatral chamada ‘Cristo Total’, onde eles mostravam que Cristo encarnava o povo que estava sendo agredido, morrendo na cruz, com o intuito de levar o nosso povo a se revoltar, como se o povo do Brasil fosse o Cristo. Queriam que o povo se rebelasse e adotasse o regime comunista que ia libertá-lo. Isso é o que eles queriam. Quem não viu isso é porque não quis ver ou porque não interessava ver!” (Coronel Reynaldo de Biasi Silva Rocha, Tomo 3, pg. 320).

“... quando o Jango estava em Porto Alegre fugindo para o Uruguai, ele se encontrou com o Brizola e com o comandante do III Exército, e o Brizola começou a preconizar a resistência: ‘Temos que resistir, vou ser o Ministro da Justiça e ‘fulano de tal’ Ministro da Guerra. O General Ladário, que estava lá, era adepto daquilo. Está tudo aqui no livro...

O Brizola diz textualmente que eles tinham que reagir e que diante da ponderação de um dos generais que estava presente, de que a maioria dos oficiais estava contra Jango e, portanto, querendo aderir à Revolução, ele disse: ‘Não tem problema, tenho um sargento ao lado de cada oficial e esse sargento está instruído para matar o oficial e assumir o comando, assumir a posição dele” (Coronel-Aviador Gustavo Eugenio de Oliveira Borges, Tomo 10, pg. 290).

“Mas, antes de prosseguir enfocando esse Movimento, que salvou o Brasil e seu povo de uma verdadeira catástrofe, impõe-se caracterizar a índole perversa da mais perigosa entidade atuante no meio comuno-janguista, que eram os ‘grupos dos onze’, criados por Leonel Brizola (naquela época, estimava-se em cerca de 1.300 grupos). Um documento de cinco a seis folhas, apreendido pelo Exército logo após a Revolução, na célula comunista de Niterói, dedica um capítulo ao papel dos ‘grupos dos onze’ na guarda e julgamento de prisioneiros. Por oportuno, dele transcrevo o que se segue:

‘Devemos instruir os grupos dos onze companheiros para missões especiais de prisão, guarda e julgamento sumário de prisioneiros de guerra. Os reféns deverão ser sumária e imediatamente fuzilados, a fim de que não denunciem os seus aprisionadores e não lutem posteriormente para sua condenação. Os grupos dos onze serão como foi a guarda vermelha da Revolução Socialista de 1917, na União Soviética, da qual seguirão o vitorioso exemplo’ (Coronel Luciano Moreira de Souza, Tomo 4, pg. 123).

 

Brizola, o carbonário

“O Brizola foi o primeiro político brasileiro que entrou em ligação com Fidel Castro e mandou gente fazer curso em Cuba. Inclusive esse Diógenes que andou se complicando há pouco tempo em uma Comissão Parlamentar de Inquérito. O atual Vice-Governador do Rio Grande, Miguel Rosseto, também andou por lá e é coronel honorário do exército cubano. Estes dois são das primeiras turmas encaminhadas a Cuba pelo Brizola. Como Governador e Deputado, o Brizola colocou as manguinhas de fora e os cubanos circulavam por aqui. Sabíamos da presença em Porto Alegre de três cubanos. Fui um dos que saíram para a rua e andavam à cata de agitadores estrangeiros que circulavam por aqui. Além do mais, o Brizola agitava o País com seus célebres discursos das sextas-feiras, uma pura ameaça à sociedade organizada. Foram criados os ‘grupos dos onze’, o Brasil estava cheio deles. Estimávamos que existiam cerca de cinco mil Grupos, um efetivo de quase sessenta mil homens. E quem fazia o proselitismo e os unia em termos nacionais era a Rádio Mayrink Veiga. Sintonizávamos aquela emissora à noite e ouvíamos:

- Alô, alô Santo Ângelo, comando revolucionário número trinta e quatro, alô doutor Fulano...

A mensagem para o correligionário informava o número do grupo, a sua localização e convocava os responsáveis para a transmissão de ordens ou transmitia alguma instrução. Isso era feito o dia inteiro. Belo exemplo de sigilo nas operações...

(...)

Aqui no Estado, onde houve a maior resistência à Revolução? [entrevistador]

Creio que foi aqui mesmo em Porto Alegre. O Brizola fez um discurso na Praça da Prefeitura em que instigou os sargentos a arrancarem os olhos dos oficiais com os dedos. Imaginem a reação! Isso ninguém me contou, eu fui lá para ver e ouvir. Acho até que o Gusmão estava comigo. Éramos dois ou três oficiais assistindo ao comício. Ele falou claramente que os oficiais eram golpistas e que os sargentos não deviam cumprir as ordens dos gorilas.

- Ataquem, ataquem esta gente e arranquem os olhos deles nem que seja com os dedos.

Ele disse isso. A resistência era coordenada por ele que dispunha de um staff – inclusive já citei o nome de alguns dos integrantes desse grupo – para lhe municiar das informações necessárias” (General-de-Brigada Léo Guedes Etchegoyen, Tomo 8, pg. 178-179).

“Sobre aquele discurso [de Leonel Brizola] não me falaram, eu mesmo o ouvi em uma emissora comercial. A rede-rádio da 2ª. DC nos ligava com todas as Unidades. A 3ª. Seção sintonizou nossa rede na emissora que transmitia a agressão verbal do agitador. Através dessa escuta ouvíamos e transmitíamos o Brizola vociferar:

- Fuzilem os oficiais! Matem esses gorilas!

Ele estava aqui em Porto Alegre e bem que tentou conter a Revolução mas não conseguiu. Fugiu de avião, dizem que travestido de padre!” (General-de-Brigada Léo Guedes Etchegoyen, Tomo 8, pg. 206).

“Ficava, portanto, no rádio, acompanhando a tal cadeia da legalidade, com o Brizola insuflando: ‘Passa a mão nesses gorilas, mata, agora vai correr sangue’, aquele jeito dele de falar, instigando a Nação contra o movimento revolucionário que eclodira. O Tenente-Coronel Raposo me disse: ‘Coloca isso no alto-falante para todo mundo do quartel ouvir’. O nosso quartel era do lado do 8º. BC, e, à noite, aquele silêncio, todo mundo ouviu tanto no Grupo de Artilharia, como no Regimento de Cavalaria, o Brizola dizendo: ‘Matem os oficiais, passem fogo neles, ainda não correu sangue’, o que trouxe uma revolta geral dentro dos quartéis diante daquelas palavras insanas de ordem. O tiro saiu pela culatra. Até o povo nas ruas ficou indignado com aquele tipo de mensagem voltado para a completa quebra da hierarquia e da disciplina, uma mensagem diabólica, do líder daqueles que queriam instalar, em nosso País, uma ‘república sindicalista’, tão falada naquele Comício da Central do Brasil, no dia 13 de março” (Tenente-Coronel Carlos Claudio Miguez Suarez, Tomo 9, pg. 384-385).

Obs.:

Um pouco sobre a carreira política do carbonário Leonel Brizola pode ser visto em “Brizola, o Último dos Maragatos” - http://felixmaier1950.blogspot.com/2020/07/brizola-o-ultimo-dos-maragatos-por.html

Sobre os “Grupos dos Onze”, veja “Documentos Revelados”, do ex-guerrilheiro e amigo de Lamarca, Aluizio Palmar – link http://www.documentosrevelados.com.br/repressao/grupo-dos-onze-companheiros-movimento-liderado-por-brizola-para-barrar-o-golpe-e-avancar-com-as-reformas-parte-3/ .

F. Maier 

 

 

A partir de 1961, já havia a infiltração de cubanos comunistas no Brasil, para aquisição de campos de treinamento de guerrilheiros, em PE, BA, GO, AC.

As Ligas Camponesas de Francisco Julião, o qual havia feito curso de guerrilha em Cuba, promoviam o terror no meio rural, especialmente em Pernambuco, colocando fogo nos canaviais e destruindo equipamentos industriais em usinas de cana-de-açúcar (um MST avant la letre); ao mesmo tempo, havia cartilhas comunistas sendo distribuídas pelo MEC, contrapondo o “odioso” usineiro ao “miserável” trabalhador rural – trabalho de massa que os comunistas sabem fazer como ninguém, especialmente o “mestre” Paulo Freire.

A título de informação, há um livro ilustrativo do fato histórico, escrito por Denise Rollemberg, O Apoio de Cuba à Luta Armada no Brasil – o treinamento guerrilheiro.

Obs.:

A revista Veja", de 24/01/2001, sob o título "Qué pasa compañero?", faz uma análise centrada na tese de doutorado da pesquisadora Denise Rollemberg, da UFRJ, a qual afirma que "o primeiro auxílio de Fidel foi no Governo João Goulart, por intermédio do apoio às Ligas Camponesas, lendário movimento rural chefiado por Francisco Julião. (...) O apoio cubano concretizou-se no fornecimento de armas e dinheiro, além da compra de fazendas em Goiás, Acre, Bahia e Pernambuco, para funcionar como campos de treinamento”. Em sua língua de pau, Rollemberg se refere a incêndios a canaviais, verdadeiros atos terroristas, como um “lendário movimento rural”. Após a Contrarrevolução de 1964, as Ligas Camponesas foram dissolvidas e Julião obteve asilo no México.

Sobre o assunto, leia “Guerrilha Comunista no Brasil", de minha autoria, em https://portalconservador.com/guerrilha-comunista-no-brasil/

ou http://www.aman75-83.com.br/terror_comunanobr.htm.

F. Maier

 

“No Brasil, a UNE, a CGT, a SUPRA [Superintendência da Reforma Agrária], a Frente Parlamentar Nacionalista, o Grupo dos Onze, as Ligas Camponesas, alguns Ministros de Estado, os Governadores do Rio Grande do Sul, Pernambuco, Goiás e Sergipe e alguns Chefes Militares pressionaram o então Presidente, exigindo reformas de cunho comunista.

Nas Forças Armadas, a disciplina, base e alicerce primordial das Instituições Militares, foi solapada, numa tentativa de jogarem praças contra oficiais” (Coronel do Exército Márcio Matos Viana Pereira, in “O Direito de Opinar”, Editerra Editorial, Brasília, DF, 1987, pg. 18).

É importante citar a célebre frase do chefe comunista Luis Carlos Prestes, em janeiro de 1964: “Nós, os comunistas, estamos no Governo, só nos falta o Poder.” Em viagem a Moscou, Prestes deu ciência a Kruschev sobre a subversão comunista no Brasil e recebeu o sinal verde para implantar o golpe.

 

Campanha psicológica de Brizola no RS

“O ano de 1961 mexeu com os brios do Rio Grande do Sul: ‘Com a difusão de que o Rio Grande do Sul seria invadido, que as nossas famílias seriam presas e violentadas pelas tropas que vinham do Norte’. Isso contribuiu para que houvesse um chamamento grande em todo o Rio Grande do Su. Não digo somente na minha Unidade, porque o Brizola fez a campanha psicológica que foi a única que vi no meu Exército ao longo dos meus quase cinquenta anos de vida militar e sei que não verei outra campanha que venha a envolver tão intensamente todo um poro, porque o Brizola colocou nos porões do seu palácio os transmissores da Rádio Guaíba e, através dela, arregimentou todo o povo gaúcho, organizando-o em forças militares.

Eram batalhões de operários metalúrgicos, eram batalhões de operários têxteis, eram batalhões de operários da indústria civil, era a cavalaria através dos Centros de Tradição Gaúcha (CTGs). Enfim, todo o Rio Grande do Sul foi motivado e distribuiu as armas que tinha. Com isso, a decisão do III Exército foi tardia, muito tardia. O nosso Comandante do III Exército na época custou a tomar a sua decisão de aderir às forças, aderir ao Governo Brizola, mas o fez para impedir também lá dentro quase que um massacre, pois o Exército ficaria sozinho face ao seu povo” (Generao-de-Exército Luiz Gonzaga Schroeder Lessa, Tomo 10, pg. 50).

 

A infiltração política dos comunistas dentro dos quartéis, especialmente na Marinha e na Aeronáutica, pregando a separação de praças e oficiais

Várias vezes, Brizola conclamou os sargentos a prender e matar os oficiais, e se apoderar dos quartéis

“A partir de 1960, as forças de esquerda persistiram nas tentativas de infiltração no meio militar, voltando-se para os quadros subalternos, buscando dividir e corroer o organismo militar, através da cisão entre oficiais e praças.

Na Aeronáutica, o Brigadeiro Francisco Teixeira, então Cmt da Zona Aérea, dirigia essa infiltração. A eleição do Clube de Oficiais, vencida pelas esquerdas, graças a certas facilidades, foi uma luta de caráter ideológico. O Chefe do EM da Aeronáutica, Brigadeiro Correia de Melo, por ter dado difusão a uma publicação anticomunista, foi punido.

Na Marinha, mantinha-se o mesmo clima de agitação e o Clube de Suboficiais era um verdadeiro foco de propaganda comunista.

No Exército, o Gen Osvino, Cmt do I Exército, cercado de elementos ditos progressistas e nacionalistas, deixava a subversão alastrar-se nos quartéis.

Por todo o Brasil, nas organizações militares, criou-se um clima de desconfiança entre oficiais e sargentos. Os comunistas conseguiram êxito nessa primeira fase, e foi esse clima que ensejou a rebelião de sargentos, de 12 a 13 de setembro de 1963, em Brasília, sufocada, principalmente, por tropas do Exército” (General-de-Exército Sebastião José Ramos de Castro, Tomo 1, pg. 121).

“Importa também registrar que, ainda no Comando de Oswaldo de Mello Loureiro [2º. RO 105, Itu-SP], todos os subtenentes e sargentos foram chamados a São Paulo para conversar, pessoalmente, com o Presidente João Goulart a respeito de aquisição de casa própria. Recordo-me de que estava toda a Linha de Fogo em plena instrução visando ao tiro do Grupo, quando a sessão foi interrompida para que todos os sargentos se apresentassem imediatamente para viajar a São Paulo, onde o Presidente da República os receberia. A instrução prosseguiu comigo, com os cabos e soldados, sem os chefes de peça. Veja que absurdo!... Os próprios sargentos foram apanhados de surpresa e tiveram dificuldade, em termos de uniforme de passeio, para cumprir, de pronto, aquela ordem que veio diretamente da Casa Militar da Presidência, o que soubemos posteriormente.

Esse fato mostrou claramente como o Presidente da República buscava a aproximação com os graduados, sonhando valer-se dos mesmos mais tarde para neutralizar os oficiais, quando do desencadeamento da revolução comunista, para a qual passou a trabalhar, com o máximo empenho, após ter conseguido o retorno do País ao regime presidencialista” (General-de-Brigada Geraldo Luiz Nery da Silva, Tomo 10, pg. 202).

“O outro fato, único episódio negativo durante toda a participação do Grupo [2º. GO 105], deu-se pouco antes da Revista do Recolher (21h) do dia 31 de março. O Subtenente Rubens, da 1ª Bia O, surpreendeu a todos, quando, ao se ver sozinho com os cabos e soldados da Bateria, fez um rápido discurso a favor das reformas de base de João Goulart e do seu sindicalismo. Disse-lhes que o Regimento não podia colocar-se contra o movimento dos trabalhadores porque, no futuro, eles, cabos e soldados, seriam os trabalhadores.

O Capitão Luís Gonzaga Camargo, S/2 do Regimento, ao ser informado do fato, efetuou, pessoalmente, a sua prisão. Esse subtenente era, desde o tempo do Coronel Loureiro, o Presidente do Grêmio de Subtenentes e Sargentos do Regimento, tendo lidado, com certa frequência, com aquele Coronel, com quem nós, tenentes, o vimos, várias vezes, conversando nas imediações do Gabinete do Comando. Coube-lhe conduzir os graduados a São Paulo ao encontro com o Presidente da República, anteriormente citado” (General-de-Brigada Geraldo Luiz Nery da Silva, Tomo 10, pg. 209-210).

“Cheguei a Brasília, em janeiro de 1964 e encontrei, no Batalhão da Guarda Presidencial, um ambiente pior ainda, pois, embora a Revolta tivesse ocorrida em Brasília e, praticamente, dela não participaram os sargentos do Exército – os praças graduados e soldados da Marinha e da Aeronáutica foram, realmente, os que fizeram o Movimento – mesmo assim, persistia uma desconfiança total com relação aos nossos graduados do Batalhão da Guarda Presidencial, a maior Unidade, na época, em Brasília. Existiam, também, na guarnição, uma bateria de Artilharia Antiaérea, comandada pelo Major Stockler, considerado de esquerda; uma Companhia de PE, embrião do Batalhão da Polícia do Exército de hoje e um Esquadrão, o 3º. Esquadrão C Mec (Cavalaria Mecanizada), que havia vindo do Rio de Janeiro, de Campinho, para Brasília, por ocasião da Revolta dos Sargentos.

No ar, o clima de desconfiança entre oficiais e sargentos. Tínhamos ordem de andar sempre armados com a pistola engatilhada’ (Coronel Carlos Fernando Freitas Almeida, Tomo 5, pg. 286-287).

“Paralelamente a esses fatos [infiltração esquerdista no MEC e nas universidades], ocorreu o problema da inelegibilidade dos sargentos, levando a agitação para a área militar, o que, em fevereiro [1963], torna-se manifesto. Cerca de seis mil graduados realizaram uma passeata em São Paulo, em apoio à posse dos companheiros de farda eleitos. O Instituto Superior de Estudos Brasileiros (ISEB), dominado por elementos esquerdistas, procurava atrair os subtenentes e sargentos com palestras e cursos nos círculos e clubes militares. Em 6 de março, foi realizada uma nova passeata de militares em São Paulo, desta vez com os integrantes da Força Pública de São Paulo e da Aeronáutica, comparecendo fardados. Os aniversários dos ‘generais do povo’ passaram a ser comemorados com a presença maciça de graduados e com extremados discursos nacionalistas.

(...)

Ante os fatos sinteticamente narrados, não se constitui em grande surpresa a rebelião dos sargentos, em Brasília, em 12 de setembro de 1963. Tanto assim é que providências tomadas impediram a participação dos graduados do Exército. Embora o movimento fosse controlado em poucas horas, foi grande a sua repercussão no País e no Exterior” (General-de-Divisão Agnaldo Del Nero Augusto, Tomo 5, pg. 99).

 

REAÇÃO CIVIL-MILITAR

A CONSPIRAÇÃO MILITAR PARA DERRUBAR JANGO COMEÇOU EM OUTUBRO DE 1961

“Inicialmente, farei a seguinte colocação: não houve, a meu ver, uma revolução, em 1964, mas uma contrarrevolução. Quem queria fazer uma revolução não éramos nós; reagimos à revolução que estava sendo montada. Em plena guerra leste-oeste, o Brasil era disputado pelas forças da época, de um lado lideradas pela União Soviética, China e, também, Cuba; do outro, nós, democratas dispostos a defendê-lo. Fizemos a contrarrevolução. Impedimos uma revolução comunista, que transformaria o Brasil, não em uma nova Cuba, porém em uma nova China, em função da sua extensão territorial, riquezas, grande população e posição geográfica - na época o Atlântico Sul era militarmente vital. Geopoliticamente falando, se o Brasil caísse, cairia toda a América Latina. Foi dentro dessa visão contrarrevolucionária que se articulou a Revolução de 1964, ou seja, a Contrarrevolução de 1964.

Tudo tem início, a meu ver, na renúncia do Presidente Jânio Quadros, quando os três ministros militares, Marechal Odylio Denys, Almirante Sylvio Heck e Brigadeiro Grüm Moss, assumem a liderança da Nação, durante um período. O Presidente Jânio Quadros simplesmente abandonara sua cadeira de Chefe de Estado, e seu sucessor, Sr. João Goulart, já estava comprometido com as forças ponderáveis da esquerda brasileira.

Na ocasião, Jango recebe a adesão do General José Machado Lopes, Comandante do III Exército, que apoia a posição de Leonel Brizola, então Governador do Rio Grande do Sul.

Seguem-se as démarches, nos setores militares e políticos. A realidade é que os três ministros das Forças Armadas queriam dar um basta ao avanço das articulações da esquerda, desencadeadas no País com uma força incrível. Eles pensavam, até, em tomar definitivamente o Poder, fixando a data de 5 de setembro de 1961. Entretanto, as forças militares se dividiram. Uns queriam a tomada do Governo pelas forças militares, outros optavam por manter o País na frágil legalidade existente. O Comandante do Exército, combalido por uma fratura no pé e febre, marcou, mesmo assim, uma reunião com os generais para o dia 3 de setembro, às 7h da manhã, no Palácio Laguna, para tomar a posição definitiva.

Na véspera, tanto o Almirante Heck, que exercia forte liderança na Marinha, quanto o Brigadeiro Moss, haviam obtido total apoio dos seus pares. O Marechal Denys, porém, no dia da reunião, no Palácio Laguna, conseguiu apenas o apoio de poucos generais, cinco ou seis, se não me falha a memória. Terminada a reunião, o Marechal Denys chamou os Ministros da Marinha e da Aeronáutica ao seu escritório, no Palácio Laguna, e relatou-lhes o resultado do encontro.

O Almirante Heck dirige-se à sala de visitas, onde se encontravam todos os generais convocados pelo Marechal Denys, e apoiado pelo Brigadeiro Grüm Moss faz a seguinte declaração: ‘É lamentável que a decisão tenha sido de entregar o Governo ao Jango. A revolução que poderia ocorrer hoje, de cima para baixo, amanhã será feita de baixo para cima. Mandarei fazer uma placa referente ao 5 de setembro de 1961, data que marcará o início de uma longa e dura caminhada’.

Dito isto, retirou-se para o Ministério da Marinha, acompanhado pelo Brigadeiro Grüm Moss e pelo Capitão-de-Fragata José Calvet Aranha, mais tarde Almirante; também me encontrava no carro com eles, nesta ocasião. Entregou-se o Governo ao Jango. Um grupo da Aeronáutica tentou, ainda, uma reação que o Brigadeiro Moss conseguiu evitar.

Um mês depois, no Edifício Avenida, na Avenida Rio Branco, no Rio de Janeiro, realiza-se a primeira reunião, para se articular a Revolução de 1964, presidida pelo Almirante Heck. Estavam presentes, também, do Exército: Marechal Odylio Denys, General José Pinheiro Ulhôa Cintra, enteado do Presidente Dutra; da Aeronáutica: Brigadeiro Grüm Moss e outros; da Marinha: Almirantes Silveira Lobo, Acir de Carvalho Rocha, Augusto Rademaker, Mário Cavalcante, Levy Aarão Reis e Heitor Lopes de Sousa, este do Corpo de Fuzileiros Navais; do Itamaraty: Embaixador Abelardo Hermann Moraes e Barros, Osvaldo Américo Campiglia, e os médicos Nemésio Bailão e Sílvio Fausto, este muito amigo do Dr. Júlio de Mesquita Filho.

Coube-me secretariar este encontro memorável em que se decidiu iniciar o processo de articulação junto às Forças Armadas e à sociedade civil.

Como havia alguns representantes de grupos civis paulistas, na reunião, o processo começou em São Paulo, no meio civil. Em seguida, formou-se um núcleo chefiado pelo General Agostinho Cortes e outro coordenado pelo General Sebastião Dalysio Menna Barreto. Precisou-se ampliar com a formação de um terceiro grupo de coordenação e suporte financeiro, chefiado pelo Dr. Júlio de Mesquita Filho. Dele fazem parte: Dr. Gastão Vidigal, Dr. Hermann Moraes e Barros, Dr. João Bapstista Leopoldo Figueiredo, que fundou, logo em seguida, o Instituto de Pesquisa e Estudos Sociais (IPES), órgão de relevante influência no processo conspiratório” (Doutor Carlos Eduardo Guimarães Lousada, Tomo 7, pg. 342-343).

“Com a queda do parlamentarismo, João Goulart sentiu-se livre para fazer o que queria: implantar no Brasil uma república sindicalista, nos moldes peronistas. Os acontecimentos foram se precipitando; todos viam e sentiam que caminhávamos para um regime de esquerda implantado pelo próprio Governo. Como E/1 (Oficial de Informações) da 10ª. Região Militar, em Fortaleza, trabalhei no preparo do que seria uma contrarrevolução, ou seja, planejando as ações que deveríamos desencadear após a possível implantação comunista no País.

Naquele momento, ainda sem nenhuma orientação do escalão superior, sem nenhuma orientação de um líder – porque ainda não tínhamos líder -, estávamos trabalhando, preparando essas ações. A ideia central era esta: se implantado um regime comunista, deixaríamos os quartéis, levando a maior quantidade possível de armamento e equipamento para o interior. Iríamos para zonas previamente escolhidas, solidários aos líderes rurais, onde montaríamos núcleos de resistência para derrubar o regime anárquico que seria instalado” “General-de-Brigada Gentil Nogueira Paes, Tomo 12, pg. 140).

“É preciso que a opinião pública entenda que o objetivo de 1964 não foi uma ação de tomada do Poder. Houve apenas uma contraposição ao que estava ocorrendo. Lembro que no Rio de Janeiro o Almirante Aragão havia cercado o Palácio do Governo do Estado, cujo Governador [Carlos Lacerda] foi obrigado a usar a retransmissão de uma estação de rádio de Belo Horizonte para denunciar o cerco. O Exército tem nos seus arquivos uma gravação da primeira reunião do Partido Comunista Brasileiro depois do 31 de março. Na sua autocrítica eles reconhecem que a precipitação da esquerda em tentar a tomada do Poder foi uma das causas do fracasso” (General-de-Brigada Léo Guedes Etchegoyen, Tomo 8, pg. 180).

Muitos dos entrevistados voltam aos tempos da Proclamação da República, golpe desferido pelo Exército contra a Monarquia por militares doutrinados na filosofia do Positivismo de Augusto Comte, lembrando sua ideologia autoritária, que levou a muitas quarteladas durante quase um século, e que, inicialmente, pensavam que o Movimento de 1964 fosse mais uma dessas quarteladas passageiras, logo retornando o poder aos civis.

Outros entrevistados voltam à década de 1920, afirmando ser o Tenentismo (Revolta dos 18 do Forte, Coluna Miguel Costa-Prestes, Revolução de 1930) um dos motivos longínquos que redundou no Movimento de 1964, por ser um movimento político-militar que criticava a corrupção e o atraso sócio-econômico do Brasil, ao mesmo tempo em que pregava um desenvolvimento industrial rápido para o País. Estes analistas afirmam que a força remanescente ou pelo menos o espírito dos “Jovens Turcos” de outrora prevaleceu no sentido de o Movimento de 1964 se prolongar por 21 anos. Ou seja, venceu a turma dos “costistas” (Costa e Silva) – incluindo o presidente Médici, que queria aproveitar o Movimento para desenvolver econômica e socialmente o Brasil - sobre a turma dos “castelistas” (Castello Branco) – esses querendo devolver o poder logo aos civis, após a arrumação da ordem pública.

Diz Geisel no livro “Ernesto Geisel”, publicado pela Editora Fundação Getúlio Vargas, 5ª. Edição, 1998, à pg. 166:

“Lembro-me também de um fato, que nunca vi publicado, ocorrido um ou dois dias depois da revolução: houve uma reunião no gabinete do Costa e Silva e outros generais à qual compareci com Castello. Lá estavam Costa e Silva e outros generais, entre eles Peri Beviláqua, que aderiu à Revolução mas era muito ligado à esquerda. Costa e Silva, falando sobre a revolução, declarou: ‘Nossa revolução não vai se limitar a botar o Jango para fora! Temos que remontar aos ideais das revoluções de 22, de 24 e de 30!’ Ele queria fazer uma revolução mais profunda. Ficaram todos em silêncio”.

“Sobre a Revolução de 31 de Março de 1964, podemos listar causas tanto remotas quanto imediatas. As remotas retrocedem à década de 1920, quando irromperam os primeiros movimentos revolucionários militares, conduzidos por jovens oficiais idealistas, que não se conformavam com a situação de subdesenvolvimento do País. Achavam que o Exército – a maioria era do Exército – deveria fazer algo para mudar aquele panorama, caracterizado pela ‘política do café-com-leite’, que vigorava na época, a qual mantinha no Poder algumas oligarquias que nada faziam para conduzir o País, apesar de toda a sua potencialidade, ao nível de desenvolvimento das grandes nações do mundo, o que aqueles idealistas pretendiam.

Esses movimentos ficaram bem marcados pelo episódio heroico dos ’18 do Forte’, em 1922, tendo à frente o Capitão Siqueira Campos, e depois pela coluna revolucionária que percorreu o País, entre 1924 e 1926, erroneamente chamada de Coluna Prestes, pois ele era apenas um dos seus integrantes. Esses movimentos acabaram redundando na Revolução de 1930, cujos participantes acreditavam que iria redimir o País dos seus problemas.

Foi justamente nessa época, em que predominava tal pensamento em grande parte da oficialidade do Exército, sobretudo entre os oficiais jovens, que ingressou nas Forças Armadas a maior parte dos homens que fizeram a Revolução de 1964.

Então, imbuídos dos mesmos ideais daqueles jovens de 1922 – reformar o Brasil, alçá-lo rapidamente a uma posição de relevo mundial, acabar com o subdesenvolvimento – criou-se entre os oficiais do Exército uma corrente que pretendia lutar para alcançá-los. Dela originou-se o movimento de deposição de Getúlio Vargas e, depois, no segundo mandato de Getúlio, o movimento da Cruzada Democrática contra os comunistas, o Memorial dos Coronéis e o inquérito do Galeão, este determinante da queda e do suicídio do Presidente Vargas.

Essa corrente, que em 1930 imaginou poder atingir seus objetivos, foi traída por Getúlio, mais caudilho do que idealista. Novamente frustrou-se diante do comportamento do Marechal Lott (Henrique Baptista Duffles Teiseira Lott), em 1955, que afastou aqueles idealistas das posições onde poderiam fazer algo pelo qual almejavam. Mais tarde, no Governo João Goulart, passaram a conspirar no sentido de dar um basta ao caos que se implantava no País.

Esses homens, e outros que em face da situação a eles aderiram, foram os que fizeram a Revolução de 1964. Eis a razão por que fui buscar as causas remotas da Revolução de 1964 no idealismo que veio desde 1922, na corrente que se formou durante 40 anos, dentro do Exército, de homens que queriam fazer pelo Brasil mais do que simplesmente exercer as funções militares – queriam também mudar o País, a sua mentalidade política e transformá-lo numa potência” (Contra-Almirante Luiz Pragana da Frota, Tomo 14, pg 168-169).

“Existia, então, em algumas lideranças castrenses uma certa doutrina que vinha do passado, preconizando que os valores da elite militar seriam capazes de resolver os problemas brasileiros, sem a presença das elites civis. Foram refratários a essa doutrina nomes como Castello Branco e Eduardo Gomes, este sempre um militar civilista e democrático. Muitos coronéis daquela época e outros oficiais mais jovens queriam fazer algo em proveito do Brasil e, como entendo, a doutrina militarista tinha raízes nos chamados ‘jovens turcos’, que no princípio do século, durante o Governo Hermes da Fonseca, aperfeiçoaram-se na Alemanha.

A segunda questão está ligada às características da formação do militar, preparados para dirigir, comandar e dar ordens pressupostamente capazes de resolver os problemas que as pessoas estavam vendo nas ruas. Tudo seria fácil mediante a intervenção militar.

Quando o Movimento de 1964 foi vitorioso, indiscutivelmente quase 95% do País bateram palmas. Mas, à medida que o processo revolucionário de 1964 vai se implantando, ao mesmo tempo vai provocando discórdias e conflitos. Daí, a contestação que começava a surgir. No processo revolucionário, o Poder é arbitrário e provoca contestação. Cresciam dois tipos de oposição: os adeptos do marxismo, bem fortes, naquela época, ligados a Cuba e à União Soviética; e algumas lideranças liberais democratas que não estavam concordando com a execução do processo implantado no País. Eis a terceira causa: essas duas forças vão se unir, a de esquerda e a liberal, ambas antimilitaristas. Esta forma de oposição não sabia distinguir entre o militar de tendências civilistas e o de tendências militaristas. Tudo para eles era militarista” (Deputado Federal Bonifácio de Andrada, Tomo 15, pg. 96-97).

Havia, nas Forças Armadas, três grupos de oficiais, a saber: a corrente originada em 1922, que pretendia fazer algo para eliminar o quadro de subdesenvolvimento e a mentalidade política que tanto prejuízo trazia ao País; outro grupo que não achava necessária a intervenção das Forças Armadas, mas às vésperas do Movimento aderiu ao mesmo; e um terceiro grupo, menor, que apoiava a escalada marxista.

Depois da Revolução, este último grupo foi praticamente extinto: seus integrantes foram afastados, cassados ou demitidos e outros passaram para a reserva. Deste modo, permaneceram dois grupos dentro do sistema revolucionário militar: o grupo que defendia a transformação do Movimento numa Revolução, isto é, que queria aproveitar a intervenção militar de grande porte – afastou o Presidente da República – para conquistar os objetivos, de muitos anos antes, de transformar as estruturas política e administrativa do País, saneá-lo moralmente, afastar os políticos corruptos e criar novos quadros, redimir a economia abalada, resolver os problemas das desigualdades sociais e afastar definitivamente do cenário nacional a subversão, que era bem forte. Para tal, a Revolução deveria demorar tempo maior no Poder. O maior expoente desse grupo era o Marechal Costa e Silva.

Já o outro grupo, a outra corrente de pensamento, defendia a opinião de que a intervenção militar deveria apenas neutralizar aquela escalada comunista, afastando os homens do Governo ligados diretamente à subversão marxista e, logo que possível, dever-se-ia restabelecer o sistema político vigente antes da Revolução. Essa corrente, ligada ao Marechal Castello Branco, não queria o prosseguimento da Revolução por muito tempo.

Essa divergência resolveu-se com a ascensão à Presidência da República do Marechal Costa e Silva. Durante todo o seu Governo predominou a linha revolucionária, ou seja, aquela que queria transformar o Movimento de 31 de Março em uma Revolução, entendendo-se que uma revolução vem para mudar as estruturas existentes, para estabelecer uma nova ordem e não somente para restabelecer a antiga, como queria a outra corrente” (Contra-Almirante Luiz Pragana da Frota, Tomo 14, pg. 170-171).

Ob.:

O Contra-Almirante Frota é filho do General-de-Exército Sylvio Couto Coelho da Frota, Ministro do Exército no Governo Geisel.  O Ministro Frota é autor do livro “Ideais traídos: A mais grave crise dos governos militares narrada por um de seus protagonistas”.

As ações do Tenentismo (“Jovens Turcos”) que levaram ao Movimento de 1964 podem ser vistas em https://felixmaier1950.blogspot.com/2020/06/o-tenentismo-e-as-acoes-dos-jovens.html.

F. Maier 

 

GENERAIS, ALMIRANTES E BRIGADEIROS DO POVO 

“A política partidária e a oferta desabrida de empregos e outras benesses constituíram uma tentativa de criar cisão nos quadros das Forças Armadas, mas, em maior intensidade, na Marinha e na Aeronáutica.

Militares como o General Henrique Baptista Duffles Teixeira Lott, Almirante Pedro Paulo de Albuquerque Suzano e o Brigadeiro Francisco Teixeira, em fase inicial, para citar apenas os de mais alta patente e mais responsáveis, por suas ambições políticas e por simples escravidão ideológica, fugindo aos seus juramentos profissionais e ao respeito ao Estatuto dos Militares, tentaram subverter a ordem e a disciplina castrenses, lançando oficiais contra oficiais, sargentos contra oficiais, desrespeitando as Instituições, praticando ações político-partidárias dentro dos quartéis, protegendo graduados e oficiais ligados ao esquema governamental da época. De outro lado, líderes civis e altas patentes das Forças Armadas – Ademar de Queiroz, Sylvio Heck, Grüm Moss – buscaram preservar a disciplina nas Forças Armadas. 

Posteriormente, Almirante Aragão, Generais Osvino Ferreira Alves, Assis Brasil e o Brigadeiro Teixeira foram os que mais atuaram para fomentar a discórdia nas Forças Armadas, com a quebra da disciplina, o estímulo à desobediência, esteios das ações subversivas que caracterizaram o Governo Goulart. 

São exemplos as inúmeras transferências de oficiais do Exército para as Circunscrições de Recrutamento, Nordeste e Amazônia, a discriminação de oficiais para missões no exterior etc. Outros, foram a revolta dos sargentos em Brasília, a baderna dos marinheiros e fuzileiros navais, as tentativas de organização de clubes de cabos e soldados nos moldes das organizações trotsquistas de 1916 e 1917” (General-de-Brigada Hélio Ipiapina Lima, Tomo 2, pg. 170-171). 

“Quando Major, Comandante do Forte dos Andradas, fui ativo participante da Contra-Revolução de 1964, tendo ocupado simultaneamente a Refinaria Presidente Bernardes e encarregado de IPM, na Alfândega de Santos, à revelia do então Comandante da Guarnição, General Carlos Buck, um dos ‘Generais do Povo’ de então. Aquela missão me custou uma prisão” (Coronel Antonio Erasmo Dias, Tomo 7, pg. 143). 

“Concluí a EsAO no final de 1963. O Ministro, General Jair, não permitiu que naquele ano os capitães da EsAO ficassem no Rio de Janeiro. Acho que ele não foi hábil: dispersou pelo Brasil inteiro centenas de capitães descontentes e doutrinados. Estudáramos a guerra revolucionária durante o curso e acreditávamos – era opinião dos instrutores e da maioria dos alunos – que já estávamos imersos em um de suas fases” (General-de-Divisão João Carlos Rotta, Tomo 8, pg. 136). 

“Segundo soubemos a posteriori, o Almirante Aragão deixou de marchar sobre o Palácio Guanabara porque o General Amaury Kruel, Comandante do II Exército, aderiu ao Movimento. Kruel chegou a fazer vários apelos ao então Presidente João Goulart para que fizesse uma declaração contrária aos comunistas. Avaliava o General Kruel que conseguiria travar o Movimento, mas Jango evitou fazê-la. Diante da negativa do Presidente, ordenou às tropas sob seu comando que marchassem em direção ao Rio de Janeiro. O Comandante do I Exército, General Moraes Âncora, que até a reunião nas Agulhas Negras com Kruel, segundo nos foi relatado, estava rigorosamente neutro, deu um ultimato ao Almirante: ‘Não venha, porque senão vai enfrentar o Exército’. Aragão era ‘posudo’, falastrão, mas tinha bom-senso e mudou de ideia, desistindo do ataque ao Palácio Guanabara, cujas consequências seriam trágicas para nós” (Doutor Emílio Antonio Mallet de Souza Aguiar Nina Ribeiro, Tomo 10, pg. 245). 

Obs. 

Nina Ribeiro foi deputado estadual e federal pelo Rio de Janeiro, e é “trineto, por parte de mãe, do Marechal Emílio Luiz Mallet, Barão de Itapevi, Patrono da Artilharia Brasileira” (pg. 242). 

F. Maier

 

“Tínhamos oficiais que eram considerados comunistas, como o General Assis Brasil, o Jeová Mota – que é lá de Pernambuco. Aliás, o General Ibiapina relata isso muito bem. Quem desencaminhou, doutrinou o Gregório Bezerra, que era sargento, foi o Jeová Mota. Se bem que o Kerenski Mota, que comandou o Batalhão de Petrópolis, embora o nome leve alguma relação, nunca se revelou comunista, como o irmão. Conta um oficial que assessorava de perto o Castello que ele vacilou na hora de assinar o ato de transferência para a reserva do Kerenski Mota, depois do devido inquérito. A caneta falhou e o oficial que estava secretariando o Castello puxou uma ‘Bic’ e disse: ‘General, essa aqui não falha’. Era um oficial altamente conceituado, principalmente, pelo Castello. Nunca senti esse esforço de doutrinação. Havia os naturalmente voltados para o comunismo como é o caso do Luís Carlos Prestes, na Intentona. Ele, com seus seguidores, que enlutaram o 3º. Regimento de Infantaria com os assassinatos dos seus companheiros democratas quando dormiam. Aquele pessoal já era comunista e desenvolveu uma atividade de doutrinação em alguns oficiais. 

(...) 

(...) Lembro de um que era até meu aluno de inglês que se gabava do dispositivo militar do Jango: ‘Ah!, o dispositivo militar do Jango é muito bom, muito forte e ele vai fazer e vai acontecer’. Respondi-lhe: ‘Olha, esse dispositivo do Jango, na minha opinião, é fictício, porque os que são conhecidos não têm destaque, os militares de projeção não estão com o Jango’. Ele citou: ‘Assis Brasil, Jeová Mota, Osvino e Napoleão Nobre’. ‘Eles não têm expressão no meio militar. Os que têm são altos chefes militares: Castello Branco, Penha Brasil, Costa e Silva etc.’ Esse cidadão era um civil, mas aí a discussão cessou” (General-de-Brigada Celso dos Santos Meyer, Tomo 10, pg. 135-136). 

Obs. 

O Presidente Jair Messias Bolsonaro também usa uma “Bic”, que às vezes falha, por obra da judicialização política do STF, subserviente aos partidos de esquerda, como a nomeação do delegado Alexandre Ramagem para o cargo de Diretor-Geral da PF. 

F. Maier 

“Quando estava na ECEME, nos dias que se seguiram à Revolução, cheguei a ser telefonista de dia revezando com o Malan. Num desses telefonemas, dado por pessoa desconhecida, recebi o seguinte informe: os senhores estão querendo prender o Almirante Aragão - o almirante Fuzileiro Aragão era elemento altamente subversivo. E, eu disse: ‘gostaríamos sim’. E me informaram: ‘Se quiserem prendê-lo, ele agora está na casa de uma senhora de quem ele é amante. Ele era chegado a essa atividade que aliás era uma atividade interessante – ser mulherengo.

(...)

Com a decisão do General [Mamede], foi pedido ao Almirante Heitor, já falecido também, que fosse prendê-lo com alguns fuzileiros contrários ao Almirante Aragão. E, assim foi feito, e, desta forma, ele acabou preso” (Coronel Hernani D’Aguiar, Tomo 9, pg. 173-174).

“Com a renúncia do Jânio Quadros e com a posse do Presidente João Goulart, o General Santa Rosa foi nomeado comandante. Ele assumiu o comando da Brigada, ainda, com a denominação de Núcleo da Divisão Aeroterrestre. Ele vinha do Rio Grande do Sul, estava com o Governador Leonel Brizola.

(...)

Os oficiais e sargentos de todas as unidades paraquedistas se reuniram naquela sala. Fui conhecer o novo comandante - General Santa Rosa – e fiquei surpreso, levei um susto, um susto muito grande, porque ele subiu numa mesa, num tablado, nós sentados – oficiais e sargentos – e disse assim: ‘Quero falar com os sargentos paraquedistas, quero cumprimentá-los porque vocês não cumpriram as ordens de seus oficiais’. Era inadmissível para mim, presenciar o General comandante em flagrante desrespeito aos princípios basilares da Instituição.

Diante de tal absurdo, passamos a nos envolver cada vez mais naquele movimento para derrubar, destruir aquele império – o soviético – que usava um movimento que se chamava Movimento Comunista Internacional, pretendendo ocupar um país continental, o Brasil, geoestrategicamente área de influência e de interesse do outro império – o norte-americano. Sentimos que a ameaça era muito maior do que aquela que tínhamos imaginado e precisávamos, sim, o mais rápido possível, acelerar aquilo e evitar o mal maior, porque a disciplina começou a cair visivelmente. Como um General-de-Brigada assume um Grande Comando de uma tropa tão preparada como a nossa e o seus primeiro ato é pregar a indisciplina, é jogar os sargentos contra os oficiais? Aquilo foi demais para mim” (General-de-Brigada Durval Antunes Machado Pereira de Andrade Nery, Tomo 10, pg. 160).

“No IME, não sentimos o problema da indisciplina porque, como alunos, não tínhamos subordinados, éramos responsáveis por nós mesmos. Mas sabíamos que nos quartéis havia problemas sérios de indisciplina. Certo dia, perto do Iate Clube, na Avenida Pasteur, encontrando um amigo, Capitão-Tenente, que servia numa Unidade da Marinha, no Rio de Janeiro, ele me contou que partira para a luta corporal com um cabo, seu subordinado, que se recusava à ordem de faxina.

Ora, quando uma Força Armada chega a uma situação dessa natureza, é sinal de que estamos diante de uma crise. Pois se a disciplina e a hierarquia – esteios da Instituição Militar – deixam de existir, algo vai muito mal. Infelizmente, era este o quadro precedente à Revolução. Oficiais da alta hierarquia das Forças Armadas, principalmente do Exército e da Marinha, davam-nos maus exemplos. O Almirante Aragão, Comandante do Corpo de Fuzileiros Navais, era chamado de ‘almirante do povo’ ” (Tenente-Coronel Affonso Taboza Pereira, Tomo 12, pg. 218-219). 

 

Palestras sobre Guerra Revolucionária são feitas nos quartéis

“Eu convidei uns companheiros ilustres, como o Coronel Meira Mattos, depois General, bem como o Chefe do Estado-Maior da 1ª. Região, de quem não me recordo o nome, para fazerem palestras sobre Guerra Revolucionária. Fui denunciado, e, por isso, exonerado do Comando do “G Can 40.

Posteriormente, fui para São Paulo. Companheiros nossos, principalmente o Chefe do Gabinete do Marechal Castello, no Estado-Maior do Exército, conseguiram uma vaga em São Paulo, na 2ª. Região Militar, cujo comandante era o General Olympio Mourão Filho. No II Exército estava o Pery Constant Bevilaqua, homem incerto, enigmático.

Dizia: ‘Eu prego a Constituição, eu sou descendente de Benjamim Constant’, e, com isso, ele não fazia nada” (General-de-Brigada Augusto Cid de Camargo Osório, Tomo 14, pg. 116).

 

Casais compram armas e fazem treinamento de tiro

“[Na 2ª. Região Militar] coube-me dar uma dimensão a esse esforço, procurando ligações até mesmo no meio civil, na classe produtora, em toda parte. Tivemos integral apoio do Governador do Estado. O doutor Adhemar de Barros era contrário ao comunismo, enfrentava o Jango na televisão e nos dava todo o apoio. O Secretário de Segurança era o General Albérico Barbosa, que sempre nos apoiou. A Polícia Militar – muito bem comandada pelo General Franco Pontes – também estava conosco. Comecei a ‘trabalhar’ os comandantes de Unidades do Exército na área, ligando-me a eles estreitamente, conversando, visitando, quase todos meus colegas de turma da Escola Militar.

Desta forma, o meu trabalho pôde crescer, contando com a irrestrita solidariedade de muitos compatriotas. Junto à população houve uma ação muito bem-feita pelo General Menna Barreto – muito bem-quisto na sociedade. Ele fez até com que casais comprassem armas e fossem realizar treinamento de tiro por ele coordenado. Era um trabalho psicológico feito junto à população, assustada com os desvarios daquele Governo míope e antinacional” (General-de-Brigada Augusto Cid de Camargo Osório, Tomo 14, pg. 117).

 

Primeira reação pacífica popular anticomunista

“Na realidade, a minha participação nos pródromos da Revolução de 31 de Março de 1964 começou em 1961, quando, indignado pela falta de reação, naquela época, aos fatos graves que estavam acontecendo no Brasil, idealizei e realizei, em 27 de novembro de 1961, às 17h, junto ao Monumento aos Mortos da Segunda Guerra Mundial, com o pseudônimo de José Carlos Gomes, a primeira reação pacífica popular anticomunista da década de 1960.

Ela teve o objetivo de alertar a opinião pública brasileira contra a infiltração comunista no País; contra a corrupção e a subversão que ameaçavam a vida nacional; levantar o moral do povo para uma possível luta e para protestar contra a política exterior do Brasil, principalmente a de apoio a Cuba.

Na ocasião, eu era capitão-aluno da Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais. Organizei o comício contando com a cooperação de membros da família de minha esposa, que era grande; do doutor José Carlos, da Confederação Nacional do Comércio; da Liga Faminina Anticomunista; do jornalista Álvaro Americano, dos jornais O Globo e Tribuna da Imprensa e, também, do Palácio Guanabara.

Contei com a segurança oferecida pelo doutor Boré, do Departamento de Ordem Política e Social – DOPS. Tive apoio de Dom Jaima Câmara, do Monsenhor Bessa, doutor Cecil Boré e da Confederação Nacional do Comércio. O comício contou com a participação de associações religiosas, Liga Feminista Anticomunista e do povo em geral. Usaram da palavra Niaze Gerude, sob o pseudônimo de José Carlos Gomes, Dona Dulce Magalhães, Herculano Carneiro, Paulo Sérgio Carneiro, Angel Aparecido, refugiado cubano, Padre Pancácio Dutra e Erodines Saraiva” (General-de-Brigada Niaze Almeida Gerude, Tomo 11, pg. 90).

Obs.:

O General Niaze informa, ainda, na pg. 91, que publicou o livro “O Movimento Revolucionário de 1964 e a Verdade dos Fatos”.

F. Maier

 

Grupos de Combate com 5 integrantes (GC-5), de Newton Cruz

“Participei de reuniões de conspiração, que se aceleraram desde o início de março de 1964, quando cursava o segundo ano da Escola de Comando e Estado-Maior do Exército (ECEME).

Em determinada ocasião, fui convidado pelo Tenente-Coronel Newton Cruz (Newton Araújo de Oliveira e Cruz) a participar de um grupo de combate, com cinco integrantes, para determinadas missões de caráter excepcional. Segundo ele nos deu ciência, este era o primeiro grupo de cinco membros a ser organizado, e outros estavam em formação. O chefe desse grupo era o Newton Cruz e dele participavam o então Capitão Oliveira (Argos Gomes de Oliveira), o Capitão Einar Walter Bergh – o famoso alemão Berg – o Capitão Ronaldo (Ronaldo Celso Lima), da turma de 1950, eu, Roberto Monteiro de Oliveira e um Major, também de Artilharia, que era do terceiro ano da ECEME, e só me recordo de seu sobrenome Oliveira.

Tínhamos, como os outros grupos, a incumbência de cumprir missões especiais. Uma delas já estava definida: uma vez iniciado o movimento (ou mesmo antes), receberíamos ordem e iríamos calar a TV Rio, através de golpe de mão ou explodindo a geradora dessa televisão que se situava na área do cais do Porto. Fizemos até mesmo reconhecimentos dessas instalações.

Havia também a possibilidade de outras missões mais complicadas e delicadas, que poderiam ser extremamente perigosas para os executantes, mas que deveriam ser cumpridas, mesmo com extremo risco de suas próprias vidas. Mas tudo ficou no campo das hipóteses, porque a Revolução caminhou favoravelmente e esse gurpo de combate foi praticamente dissolvido sem realizar nenhuma dessas missões” (Coronel Roberto Monteiro de Oliveira, Tomo 13, pg. 199).

 

Treinamento de tiro à noite, às escondidas, no Recreio dos Bandeirantes e no Campo de Instrução de Gericinó, no Rio de Janeiro

“Vivíamos, então, uma grave crise militar que rapidamente evoluiu para a área política com sérias repercussões. Em consequência, o Marechal Denys e o General Moniz de Aragão intensificaram as ligações com a tropa. Começamos a perceber que era preciso haver maior entrosamento entre as unidades. Como começamos a reagir, a tropa paraquedista foi proibida de realizar tiros de exercício e até tiro do recruta. Proibiu-se que a munição fosse entregue à Brigada. Começamos então a fazer acampamentos no Recreio dos Bandeirantes, que era totalmente deserto naquela época. Entrávamos com os carros particulares no Regimento-Escola de Infantaria – eu cansei de fazer isso no meu carro – para pegar com os oficiais daquele Regimento, a munição necessária para adestrar a tropa paraquedista. Fazíamos o tiro no Recreio dos Bandeirantes. Era a única possibilidade de adestramento. Fomos proibidos de participar de qualquer exercício. Entrávamos no Campo de Instrução de Gericinó, à noite.

O Tenente José Aurélio Valporto de Sá foi preso, assim como o Tenente Eglair Barcelos Alves. Foram presos porque estavam adestrando os seus pelotões em um exercício programado pelo Regimento. É claro que nós só podíamos fazer isso escondidos e durante a noite, ou no Recreio dos Bandeirantes ou no Campo de Instrução de Gericinó” (General-de-Brigada Durval Antunes Machado Pereira de Andrade Nery, Tomo 10, pg. 168).

 

Livro “Guerra Revolucionária”, de um coronel português

“Primeiramente, a minha participação na Revolução de 31 de Março de 1964 foi de expectativa, como era de praticamente todos nós militares, voltados para seus afazeres castrenses. Já diplomado pela Escola de Estado-Maior do Exército, em 1949, a minha visão se ampliou. Aliás, um dos objetivos da Escola de Comando e Estado-Maior é abrir os horizontes. Passei a me preocupar mais com os problemas políticos que, até então, nunca tinham me inquietado. Acredito, também, que fosse a situação da maioria dos meus companheiros. Cada um cuidava da sua vida, ministrava a sua instrução, as suas aulas, recebia ensinamentos nas escolas militares, e o tempo ia passando.

Gostaria de assinalar o seguinte: na época – não digo que tenha sido o único, porque não sei os outros – recebi um livro de autoria de um coronel português intitulado Guerra Revolucionária. Esse livro era uma antevisão da Quinta Coluna que foi muito bem usada pelos nazistas para dominar, praticamente, toda a Europa, visando ao domínio mundial. Esse coronel descrevia o processo com muita lucidez e objetividade e era um alerta. Para mim, foi um alerta. Depois, emprestei esse livro e como livro e dinheiro quando se empresta geralmente se perde, não sei mais aonde ele foi parar. Dali, então, é que comecei a despertar mais para essa questão – perigo comunista, política em si” (General-de-Brigada Celso dos Santos Meyer, Tomo 10, pg. 128).

 

João Cotrim: Um Engenheiro Brasileiro na Rússia

“O País marchava a passos largos para a implantação do que se chamava, na época, de república sindicalista, que, no fundo, significava a adoção do marxismo-leninismo, ou seja, a comunização.

Era preciso reagir!... E começamos modestamente... Os tenentes do Regimento [RO 105 – Itu-SP] passaram a fazer um programa anticomunista na Rádio Convenção, de Itu, o qual era gravado em instalações da Igreja Matriz, o que retrata, de maneira clara, a posição da Igreja na época, em sua grande maioria contrária às artimanhas daquele Governo, voltado para a implantação do comunismo ateu. A Igreja, além do incentivo, oferecia-nos todo o apoio.

Trabalhávamos em duplas: Tenentes Danilo Rubens Marini e Ronaldo Gouveia de Miranda faziam uma dupla de jornalistas, apresentando um jornal comentado, com críticas aos atos e medidas populistas do governo federal. Um outro quadro era o meu, como Engenheiro João Cotrim, especialista em construção de barragens e hidrelétricas, com o Tenente Montedônio, como um interlocutor ávido de notícias, interessado em saber tudo sobre a Rússia, de onde Cotrim acabara de vir, após estagiar nos canteiros de trabalho de grandes barragens, como autoridade, reconhecida internacionalmente, no assunto, obras apresentadas ao mundo pela Rússia e pelos seus admiradores no Brasil como fabulosas e inigualáveis. Esses mesmos brasileiros, anos depois, criticavam Itaipu, que teve como principal técnico João Cotrim, chamando-a de obra faraônica, obra que vem permitindo ao Brasil sobreviver em termos de energia.

Para viver o papel de João Cotrim, tive que estudar, nas suas minudências, o livro por ele escrito ‘Um Engenheiro na Rússia’. Nesse livro, ele mostra a grandeza das barragens, das hidrelétricas, mas enfatiza que a propaganda russa as tornava maiores e mais importantes do que na verdade o são.

Aborda, também, o Engenheiro Cotrim, o outro lado, mostrando a carência e a má qualidade dos bens de consumo na Rússia e destaca a intoxicação doutrinária, verdadeira lavagem cerebral, que sofria o povo na União Soviética. Ele cita em seu livro, por exemplo, uma propaganda muito difundida na Armênia, através de uma metáfora. Dizia o texto: ‘Raia no horizonte o comunismo perfeito’. E os camponeses da região não entenderam a figura de retórica e pediram explicações. A principal rádio estatal mandou-os procurar a definição de horizonte, uma vez que o conceito de comunismo já era por demais conhecido. E veio a definição de horizonte: ‘Linha imaginária que separa o céu da terra e que se afasta de nós à medida que nós nos aproximamos delas’.

Realmente, o conceito de horizonte retrata muito bem o ‘comunismo perfeito’, mostrando que ele nunca será alcançado, não existia, portanto, e nunca existirá.

Tudo isso era assunto de minha conversa no papel do Engenheiro Cotrim, com o Montedônio, o interlocutor à procura da verdade sobre a Rússia, que, no Brasil, era uma incógnita naquela época. Só chegavam de lá informações positivas, deixando todo mundo impressionado com o seu poder. Assim, o livro do Engenheiro Cotrim era, no início de 1963, uma atração; fazia parte dos primeiros livros a apresentar uma amostragem da realidade russa, diferente do que se difundia naquele período” (General-de-Brigada Geraldo Luiz Nery da Silva, Tomo 10, pg. 203-204).

 

Júlio de Mesquita Filho, dono do jornal O Estado de S. Paulo, queria uma Revolução muito mais dura

“Quem teve a oportunidade de ler o livro Março 1964: a mobilização da audácia, editado em 1965, irá relembrar as razões do acima exposto. Os que não leram vão tomar conhecimento do que escreveu o jornalista José Stachini, autor do livro, integrante de O Estado de São Paulo e, como citado no texto, considerado um de seus mais notáveis repórteres. Logo, aceito como pleno de credibilidade.

A carta do Dr. Júlio de Mesquita Filho, de 20 de janeiro de 1962, ao Estado-Maior clandestino, transcrita no livro, demonstra a articulação posta em andamento para a derrubada do Governo Goulart. Divergindo de alguns pontos, ressalta as falhas dos movimentos de outubro de 1945, contra a ditadura e na queda de Getúlio em agosto de 1954, com a precipitação da entrega do Poder ‘a homens que vinham do mesmo passado’; discute sobre o prazo de permanência de um governo discricionário; trata do expurgo dos quadros do Poder Judiciário, como absolutamente necessário, mas sem violências desnecessárias; opta pela decretação de estado de sítio, de início, com a dissolução das Câmaras, após a conquista da confiança da opinião pública; defende a vigência da Constituição de 1946, com as devidas alterações; propõe nomes para as pastas ministeriais, concluindo que ‘seria meio caminho andado para que o País se convencesse de que, afinal, se haviam apagado da nossa História os hiatos abertos na sua evolução pela ditadura do senhor Getúlio Vargas e pela ação corruptora dos seus discípulos nos governos que se sucederam até os nossos dias’; e, com extrema convicção, proclama que: ‘Acha-se o País em estado de profunda comoção e não esconde a descrença que o vai dominando, relativamente à possibilidade de sairmos da situação de anarquia e desordem em que desesperadamente nos debatemos’.

A etapa seguinte, de acordo com o livro, foi a apresentação por parte do doutor Júlio de Mesquita Filho aos chefes da conspiração de um projeto de ‘Ato Institucional’, elaborado pelo diretor de O Estado com a colaboração de professor de Direito Constitucional. Os seus dezesseis artigos definem que o governo será constituído por uma Junta Militar, que serão dissolvidos o Senado, a Câmara dos Deputados, as Assembleias Legislativas e as Câmaras Municipais, que governadores e prefeitos poderão ser confirmados ou destituídos com a nomeação de interventores, além de outras providências. Em suma, o que ocorreu efetivamente com a Revolução de 31 de março de 1964 foi muitíssimo mais tímido, muitíssimo mais brando, muitíssimo mais democrático do que havia sido proposto pelo doutor Júlio de Mesquita Filho” (Coronel Ernesto Gomes Caruso, Tomo 11, pg. 252-253).

 

TV Tupi era um alento para os conspiradores anti-Jango

“A euforia da esquerda só se comparava à nossa decepção e tristeza. Mas tínhamos um alento: a batalha travada pelo Governador da Guanabara, Carlos Lacerda, que desmontava o Governo por meio de artigos e discursos. E o Governador de Minas, Magalhães Pinto, que também era favorável à Revolução. Outro fato alentador era ligar a TV Tupi, à noite, e ouvir o editorial escrito por David Nasser, grande jornalista, lido com muita ênfase pelo locutor Gontijo Teodoro” (Tenente-Coronel Affonso Taboza Pereira, Tomo 12, pg. 219).

 

General Mourão conspira contra Jango, primeiro em São Paulo, depois em Minas

“Em 1964, eu era Oficial do Estado-Maior da 2ª Região Militar, em São Paulo. Quando lá cheguei, em 1963, o Comandante da Região era o General Lyra Tavares, que ficou pouco tempo, sendo logo substituído pelo General Olympio Mourão Filho.

Com o General Mourão, logo após ele assumir, passamos a ter reuniões conspiratórias presididas por ele, com alguns oficiais do Estado-Maior da Região. Quero aqui destacar o nome de dois deles que foram os padrinhos dos mais novos que lá estavam, foram o Coronel Policarpo e o então Coronel Augusto Cid Camargo Osório, depois General. Lá em São Paulo, tínhamos essas reuniões na parte da manhã, porque, naquela época, o expediente iniciava às 11h. O General Mourão nos reunia pela manhã, quando fazia exposições a respeito da situação, do pensamento dele; fizemos, inclusive, estudos e planejamentos para, se fosse o caso, montarmos um grupo de resistência na Serra da Bocaina, a meio caminho entre o Rio de São Paulo” (General-de-Divisão Anápio Gomes Filho, Tomo 11, pg. 48).

 

O estratagema do General Mourão, para ter tropa a seu comando

“Mas, o General Mourão queria ir para Minas, para uma Região Militar com tropa, porque não havia unidades de combate na 2ª. Região Militar; e ele acabou sendo transferido para a 4ª. Região Militar/4a. Divisão de Infantaria, em Juiz de Fora.

Aqui convém lembrar uma história que ele nos relatou em uma visita que fez a São Paulo após a Revolução. Disse-nos que fora informado por pessoas amigas que estava sendo acompanhado, vigiado em São Paulo, porque estaria conspirando contra o Governo. Então, em meados de 1963, nas comemorações da Revolução Constitucionalista de 1932 de São Paulo, ele e alguns oficiais compareceram à Assembleia Legislativa para a sessão solene e lá estava também o General Peri Constant Bevilaqua, que comandava o II Exército. Quando um dos oradores começou a criticar o Governo, naquele exato momento, o General Mourão fez um sinal para os seus oficiais, ficou de pé, e abandonou o recinto, em sinal de protesto aos ataques que o Governo estava sofrendo por parte daquele orador. Era a maneira que ele encontrou para mascarar a sua posição diante daquela corrente ligada ao Governo, contrária a ele e ao seu desejo de ir para a 4ª. RM/4ª. Di e, com aquela iniciativa, ele acabou sendo transferido, como queria, para Minas Gerais” (General-de-Divisão Anápio Gomes Filho, Tomo 11, pg. 48).

 

MOVIMENTOS DE GRUPOS CIVIS E MILITARES SÃO CRIADOS EM TODO O BRASIL, PARA COMBATER O DESGOVERNO DE JOÃO GOULART E A AMEAÇA COMUNISTA 

Devido à baderna Jango-Brizola nos campos econômico e social, e seu aparato militar a serviço da indisciplina e insubordinação de militares nas Forças Armadas, desde 1961 houve criação de inúmeros órgãos de combate às pretensões de Jango se tornar um novo Getúlio – na verdade um novo Kerensky, pois estava alimentando o dragão vermelho, vale dizer o Comunismo -, como o IPES, o IBAD, a CAMDE, a Arca de Noé, o MED etc., além de grupos de conspiração formada por militares. Empresários, militares, escritores e artistas se empenharam em realizar palestras, lançar livros e filmes, para alertar a sociedade sobre o perigo comunista que cada dia era mais forte e evidente. Causou-me surpresa saber que poucos oficiais-generais, entre os entrevistados, fizeram menção a essas organizações civis anti-Jango.

 

INSTITUTO DE PESQUISAS E ESTUDOS SOCIAIS (IPES) 

“Gostaria também de relatar sobre uma atividade que participei com três dirigentes do Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (IPES). O IPES foi um Instituto civil que atuou muito com o fito de difundir os princípios da livre iniciativa, da propriedade privada e, também, condenando as reformas de base do Governo de João Goulart.

Junto com três diretores membros do IPES, o Paulo Ayres Filho, o João Baptista Leopoldo Figueiredo e o Paulo Reis de Magalhães, formamos uma caixa única com o objetivo de traduzir quatro livros favoráveis à livre iniciativa. Um deles chama-se ‘O Caminho da Servidão’, principal livro de Hayek, fundador da Escola Neoliberal.

Traduzimos e publicamos esse livro; fizemos uma edição de cinco mil exemplares. Procedemos, ainda, a tradução e a publicação de mais três livros, tudo à nossa custa, e distribuímos gratuitamente os quatro livros por todos os quartéis brasileiros, por todas as universidades brasileiras, por todos os seminários brasileiros e para todos os jornalistas que tratavam de assuntos políticos. Quer dizer, eles podiam ser contra, mas não podiam dizer que eram ignorantes. Esses quatro livros já mostravam o que seria a economia de mercado, que veio triunfar nos dias de hoje” (Doutor Adolpho Lindenberg,  História Oral do Exército – 1964, Tomo 7, pg. 300).

“Atribuo o início das atividades de defesa da democracia à fundação do IPES (Instituto de Pesquisa e Estudo Social) e IBAD (Instituto Brasileiro de Ação Democrática) duas instituições que foram criadas por civis com a participação de militares. Não tive a oportunidade de tomar parte, mas alguns militares foram convocados e participaram, tentando vender a ideia de que alguma coisa tinha que ser feita. O ritmo dos acontecimentos estavam se desenvolvendo, principalmente, a partir da posse de João Goulart, com a renúncia do Jânio, começou a estabelecer uma enorme preocupação. Havia mesmo civis que estavam pensando em se retirar do País, achando que não havia mais solução. Um companheiro nosso, contemporâneo, que chegou aos mais altos postos do Exército, chegou a considerar que estava tudo perdido, tirou um ano de licença sem vencimentos e foi trabalhar numa empresa civil. Acreditava que já estava tudo perdido!

Outros militares, que eram mais politizados, começaram a fazer oposição ao Governo Goulart que tinha assumido e foram afastados, mandados para as chamadas Circunscrições de Recrutamento (CR), que passaram a ser, depois, as Circunscrições do Serviço Militar, as CSM. Por que os mandaram para as CSM? Porque eram administrativas relativas a Serviço Militar e Mobilização, contando com um efetivo muito reduzido. Eram oficiais muito politizados, como os irmãos Serpa. Para Bauru, foi o Golbery, se não me engano, e o Couto e Silva. O Serpa ‘louro’ foi para Sorocaba, o Serpa ‘preto’, que era o irmão mais velho, foi para o Piauí, o Serpinha – Luiz Gonzaga de Andrada Serpa -, o mais moço e o mais politizado, foi para Manaus. Esses oficiais merecem todo o meu respeito e minha admiração. Eles tiveram a antevisão, que eu mesmo admito que não tinha. Estava voltado para a minhas atividades castrenses, como já disse, para o meu esporte... Às vezes, achava que eles exageravam, que eles estavam vendo, como se diz normalmente, ‘chifre em cabeça de cavalo’ ” (General-de-Brigada Celso dos Santos Meyer, Tomo 10, pg. 128-129).

“Telefona-me do Rio de Janeiro um senhor chamado Gilberto Huber Filho, responsável pela impressão das listas telefônicas amarelas, naquela época. Numa reunião social no Rio de Janeiro ele fazia parte de um grupo que conversava sobre as ameaças de esquerdização do Brasil: socialização, comunização, a possibilidade de se chegar a choques, conflitos violentos, guerra civil; era um negócio muito aterrorizante, na época. Nesse grupo carioca estava o Trajano Pupo Neto, outro grande amigo meu, que disse a eles: ‘Olhem, não façam nada sem conversar com um grande amigo lá em São Paulo que é um ‘tarado’ em matéria de liberdade econômica.’

(...)

E esse Senhor Huber, como disse, tornou-se um ‘amigão’, chegou no meu escritório mais ou menos umas 16h e só saiu da minha casa depois da meia-noite. Então, nesse primeiro encontro, creio que o Huber concorda comigo, nasceu o que veio a se chamar Instituto de Pesquisa e Estudos Sociais (IPES), porque resolvemos que faríamos alguma coisa nesse sentido: ele com o grupo do Rio e eu com os amigos de São Paulo.

(...)

Assim, outras entidades surgiram, também, mas Rio e São Paulo criaram o IPES e o seu presidente foi o João Baptista [João Baptista Leopoldo Figueiredo]. Em São Paulo, além do próprio João, contávamos, também, com gente como Paulo Reis de Magalhães, que foi um grande companheiro, Roberto Pinto e Sousa, enfim, são tantos que vou fazer a injustiça de nem tentar relacioná-los. No Rio de Janeiro, junto com o Huber tinha muitos outros companheiros como Harold Polland, presidente do grupo carioca, Augusto Trajano de Azevedo Antunes, enfim, muitas pessoas sérias, de nível alto e, sobretudo, de um patriotismo estupendo.

O IPES deu início, então, ao seu trabalho e hoje estou tendo o prazer de entregar aqui, ao Exército, os arquivos do IPES. O do Rio de Janeiro foi doado para a Biblioteca Municipal, o que achei um erro grave. Aqui não, eles vão ficar guardados no Exército e vão ser consultados por quem, sem ideia preconcebida, queira estudar o que foto aquele movimento.

(...)

Por que o IPES parou? Porque assim que houve a Revolução de 1964, das 440 empresas que contribuíam para ele – para defendermos as próprias empresas, defendermos o País, defendermos o interesse brasileiro – foram deixando de fazê-lo. Era uma tragédia: em cada reunião, dez, vinte, trinta paravam.

Em 1965 e 1966 já se pensava em fechar o IPES. Em São Paulo, em 1967, passou a hibernar, e, finalmente, fechou em 1968. O do Rio de Janeiro durou um pouco mais, mas também desviou as atividades. Hão havia, por parte dos empresários, seja brasileiros ou, muito menos, estrangeiros, interesse em apoiá-lo para que continuasse realizando aquele trabalho de tão bons resultados.

(...)

Institutos Liberais

Anos atrás estava voltando a ser panfletário e, por isso, me procuraram para formar um Instituto Liberal. Não pude aceitar, naquela ocasião. Paralelamente, surgiu um outro no Rio, liderado por um empresário que se dedicou realmente 100% àquilo, mas morreu há pouco tempo. Era um sujeito extraordinário; reuniu o pessoal do IPES e outras pessoas que queriam trabalhar e conseguiu fazer um Instituto Liberal dedicado exclusivamente à doutrinação e à cultura econômica. Obteve muito sucesso.

Em São Paulo, foi formado outro Instituto Liberal. Tive o privilégio de ser convidado para me aliar a eles e acabei presidente do seu Conselho Consultivo. Doei ao Instituto a minha biblioteca de economia, tudo sobre mercado. Existem hoje, pelo que sei, oito institutos liberais no Brasil inteiro. Porém, aí vem a dolorosa informação: todos, sobretudo o de São Paulo, estão passando pelo mesmo problema que o IPES viveu – queda de arrecadação e elevação dos custos. Começa-se a perguntar: para ou não para?” (Doutor Paulo Ayres de Almeida Freitas Filho, Tomo 7, pg. 381-389).

Obs.

O IPES, o Instituto Brasileiro de Ação Democrática (IBAD), a Campanha da Mulher pela Democracia (CAMDE) e as Forças Armadas formaram a base quadrangular decisiva para o desencadeamento da Contrarrevolução de 31 de março de 1964, contra Jango, em sua política de implantar a "República Sindicalista" no Brasil.

Em 2002, fui convidado pelo secretário executivo do Instituto Liberal de Brasília, professor emérito da Universidade de Brasília, Nelson Lehmann da Silva – autor do livro A Religião Civil do Estado Moderno –, para participar das reuniões do Instituto, às quintas-feiras, à noite. O presidente era o embaixador, professor, pensador e escritor José Osvaldo de Meira Penna, autor de mais de duas dezenas de livros – cfr. em https://www.amazon.com.br/Livros-Jos%C3%A9-Osvaldo-de-Meira-Penna/s?rh=n%3A6740748011%2Cp_27%3AJos%C3%A9+Osvaldo+de+Meira+Penna.

O IL de Brasília fechou em 2004, assim como muitos outros no País inteiro, por falta de patrocínio. Herdei cerca de 20 livros do IL, versando principalmente sobre Economia e Liberdade, como O Caminho da Servidão, de Friedrich F. Hayek.

Nelson Lehmann faleceu em 2011.

Meira Penna faleceu em 29 de julho de 2017, aos 100 anos de idade.

F. Maier

 

MOVIMENTO ESTUDANTIL DEMOCRÁTICO (MED) 

“Nos idos de 1963, época em que cursava o 2º. Ano do Curso Colegial, no Colégio Dante Alighieri, aqui em São Paulo, foi organizado por um pugilo de colegas, um movimento chamado Movimento Estudantil Democrático (MED). Os colegas, de quem me recordo, Rafael Boschesi, filho de um antigo presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, e Moacir Porfírio, orientados por nosso saudoso mestre de Português, à época, Professor Francisco Sodero, organizaram o movimento. Possuía dois campos de ação, um de ordem cultural e outro de ordem eminentemente política. 

Qual o sentido desse movimento? Por que foi organizado? 

Porque o Brasil caminhava, tudo levava a crer, para um momento de forte confronto, naqueles tempos de enorme agitação em nosso País: agitação cultural, agitação política, agitação econômica e, é bom recordar, também, agitação militar – em 1963, o Presidente João Goulart compareceu a uma solenidade da Marinha e, praticamente, incitou a tropa contra seus respectivos comandantes. O confronto viria entre os grupos que, praticamente, detinham o Poder, homens da extrema esquerda, e os que queriam evitar que o País caísse totalmente nessa linha política. 

Daí a razão desses curso e conferências, digamos, preparatórios, para os estudantes que estavam em fase de conclusão de seus respectivos cursos colegiais e entrando nas faculdades, que, de uma maneira geral, eram verdadeiros ninhos de subversão sob orientação da União Nacional dos Estudantes (UNE) e da União Estadual de Estudantes (UEE). 

Tentava-se algum exercício democrático, um preparo de ideias democráticas para podermos enfrentar os colegas esquerdistas, estes sim, que já vinham tremendamente preparados pelo pessoal da extrema esquerda. Em outras palavras, esforçávamo-nos para que os demais estudantes não caíssem presas fáceis nas mãos das hostes comunistas. Naquela época, se usava muito essa expressão ‘comunista’, ‘esquerdista’. Aparentemente, hoje, esses termos estão fora de moda, mas talvez não estejam tão fora de moda assim; muda-se a forma mas não se altera o conteúdo. 

O MED, movimento de reação democrática, parecia muito promissor e eram convidadas para falar pessoas ilustres do nosso meio jurídico. Recordo-me, por exemplo, do Dr. José Carlos Graça Wagner, advogado de grande renome, excelente conferencista, do Dr. Ives Gandra Martins, outro advogado de muita respeitabilidade, e que, também, fazia suas conferências, suas palestras, e do Dr. Francisco Albuquerque, então integrantes do Partido Liberal, dentre outros. 

Lamentavelmente, este movimento encerrou suas atividades. Assim, chegamos ao 3º. Ano do Curso Colegial, às portas de entrarmos na faculdade, sem essa preparação. 

Nessa ocasião, eu e mais um punhado de outros colegas, integrantes do antigo movimento, fundamos um novo, nas mesmas bases, que se chamou Associação Democrática Estudantil de São Paulo (ADESP)” (Doutor Antônio Carlos Adler, Tomo 7, pg. 318-319). 

 

ASSOCIAÇÃO DOS HOMENS LIVRES 

“A AD/6 estava sem General Comandante e o Coronel Paula Couto a comandava interinamente. Por sua posição anticomunista claramente definida, estava preocupado com o crescimento dos movimentos de esquerda. A principal ameaça provinha dos ‘grupos dos onze’ do Brizola que se organizavam em todo o Estado [RS]. Para contrabater os tais grupos, ele criou a Associação dos Homens Livres. Parecia até que, no início de 1963, Cruz Alta tornara-se um reduto de oficiais ligados a uma conspiração contra o governo. Essas precauções e a atuação democrática junto à população civil tiveram depois, em março de 1964, efeito muito positivo. Esse era o quadro da Guarnição” (General-de-Exército Décio Barbosa Machado, Tomo 13, pg. 91). 

 

LIGA DE DEFESA NACIONAL 

“No meio civil, destaco algumas pessoas que colaboraram conosco. O Dr. Apodyr Almeida de Oliveira, representante da Liga de Defesa Nacional na cidade. Foi um homem com quem me liguei permanentemente desde que cheguei em Pelotas. Nunca duvidei do seu sentimento patriótico. Advogado, não exercia cargo público, coisa rara. Era dedicado à Liga de Defesa Nacional, onde eu o auxiliava. Também o Dr. Edmar Fetter, Prefeito municipal, nos deu apoio antes, durante e depois da eclosão do movimento, e ainda um radioamador que servia de ligação entre a minha pessoa e o Etchegoyen (Léo Guedes Etchegoyen) – perdi o nome, é uma das minhas mágoas. Tínhamos uma rede-rádio de radioamadores que, mediante palavras-código, aparentemente sem importância, estávamos ligados: ‘Como vai o futebol? E o teu time? Já tens novos reservas?’ Parecia só brincadeira, mas sabíamos do que estávamos falando. Cito também o repórter Mário Emílio de Menezes, que hoje mora em Porto Alegre. Trabalhou muito na Liga de Defesa Nacional e tem muito para contar. 

(...) 

Entre os militares da Guarnição destacavam-se: o Major Scarone (Cid Scarone Vieira), meu braço direito na Revolução; o Major Prates (Paulo Sylvio Prates); o Tenente ou Aspirante Suppa (Mário Ângelo Suppa Thomaz Pereira), foi um grande auxiliar que tive. Como Aspirante ele até corria risco, proque eu, se me mandassem embora, iria promovido com todas as vantagens, mas o pobre do Aspirante. 

Destaco, ainda, o Major Lúcio (Lúcio Madeira Guimarães), que era Assistente na ID/3, trabalhava ligado ao Coronell Joaquim. A ID não tinha oficial de Estado-Maior. Eram só o Comandante, o Assistente e dois oficiais do Quadro Auxiliar de Oficiais, por sinal excelentes; um deles – o Cavalcanti (Humberto Pessoa Cavalcanti) – faleceu há pouco tempo. 

Convém deixar aqui registrado que houve unanimidade por parte dos demais oficiais e praças da Unidade em apoiar o Movimento. Não tivemos defecção. A partir do momento que o Regimento disse que estava a favor da Revolução, nenhuma voz discordante se apresentou” (General-de-Brigada José Mattos de Marsillac Motta, Tomo 13, pg. 109-110).  

 

EDUCANDO PARA A DEMOCRACIA 

“Uma organização que nos ajudou muito foi a ‘Educando para a Democracia’, cuja história retrato no artigo ‘O acordar dos militares’. Cortamos todo o Rio Grande pregando Democracia para os estudantes do 3º. Grau. Era uma linha intelectual que reunia homens como: o Galeano Lacerda, desembargador, hoje está aposentado; o Hugo di Primio Paz, professor da UFRGS; o Clóvis Stenzel, psicólogo e advogado, foi líder da Arena no Congresso; a Ecilda Haenzel, advogada, cujo marido, o médico José Mariano Haenzel, já morto, foi quem me possibilitou não embarcar para Ipameri e ficar resistindo aqui. Um colaborador de peso foi o José Otão, reitor da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC/RS), que nos possibilitou organizar a ‘Educando para a Democracia’, que nasceu dentro da PUC” (Coronel Pedro Américo Leal, Tomo 13, pg. 246). 

“Os ‘janguistas’ me anularam, mas me vigiavam. Sabiam que eu tinha proteção da Junta [Médica], através do seu presidente e do Mariano Haenzel, que emitiu um atestado para meu filho – na verdade, ele sempre foi profundamente asmático. Tudo isso era uma articulação e logo depois que iniciei a Licença para Tratamento de Saúde de Pessoa da Família (LTSPF), senti que fui esvaziado. 

Eu, o Léo Etchegoyen, o Lauro Rieth, o Sommer de Azambuja e o Comandante do 2º. Regimento de Reconhecimento Mecanizado, o Admar Borges Fortes da Silva; nós cinco fomos transferidos. O Sommer de Azambuja e o Lauro Rieth solicitaram transferência para a reserva; não sei se o Etchegoyen chegou a ir para Santo Ângelo; eu não fui e o Coronel de Cavalaria, irmão de um jornalista do Correio do Povo, não sei o que se passou com ele. Fiquei uns dois ou três meses completamente isolado, porque quem falasse comigo era identificado e ficava marcado” (Coronel Pedro Américo Leal, Tomo 13, pg. 248). 

 

GRUPO DE AÇÃO PATRIÓTICA (GAP) 

“Fiz a Revolução com 19 anos, liderando um movimento de jovens do Grupo de Ação Patriótica – GAP – que se opunha à representação da União Nacional dos Estudantes (UNE), dominada por comunistas. Nossa atuação está registrada em muitos autores e os jornais da época destacam a presença do GAP em atos públicos de defesa da ordem e dos valores mais expressivos e conservadores da sociedade brasileira.

O nosso Grupo, que atuava principalmente no Rio de Janeiro, em Minas Gerais e em São Paulo, era composto, basicamente, por jovens estudantes, tendo por programa de ação o combate às reformas comunizantes de Brizola e Goulart; ao sistema de representatividade da classe estudantil, adotado na União Nacional dos Estudantes e na União dos Estudantes do Ensino Secundário (UEES); à encampação de refinarias; à ocupação de postos-chave da administração na Petrobras, no Departamento de Correios e Telégrafos, na Rede Ferroviária, nos Portos etc. por elementos comunistas; à influência desmedida dos dirigentes sindicais nos destinos do País; à censura à palavra de políticos da oposição, como Amaral Neto, Carlos Lacerda, Raimundo Padilha e muitos outros, no rádio e na televisão; à omissão governamental diante das greves e das agitações permanentes, de caráter político e subversivo. 

Os jovens tinham como referência maior o trabalho desenvolvido pelo Almirante Sílvio Heck, Ministro da Marinha no Governo Jânio Quadros, para fugirem a uma identidade partidária, de vez que eram muitas as lideranças políticas que se opunham a Goulart, como os governadores de Minas, Magalhães Pinto, de São Paulo, Adhemar de Barros, e da Guanabara, Carlos Lacerda, todos candidatos em 1965, e o grupo de JK, do PSD, onde muita gente se contrapunha ao Presidente. 

O GAP se integrou a entidades formadas por empresários, mulheres, militantes católicos, militares da reserva, ex-líderes estudantis, para se opor à pregação revolucionária das esquerdas, que encontravam acolhida no Governo Goulart, bem como ao grevismo político que fazia parte do cotidiano do País. 

(...) 

O Brasil é quase todo o continente, e para onde se inclina, a América Latina tende a seguir, como bem disse o Presidente Nixon. Os EUA não tolerariam uma Cuba do tamanho do Brasil. Nem do Chile, salvo por uma das mais impressionantes e completas personalidades históricas de nosso tempo, o General Augusto Pinochet, um grande amigo do Brasil, que nos visitou várias vezes como Presidente e, depois, como mero turista. Este forma com o General Franco, de Espanha, a dupla de grandes benfeitores do Ocidente, tratados com tanta ingratidão e maior desonestidade no que tem sido publicado. Foram eles que infringiram as maiores derrotas ao comunismo no século XX. 

A bibliografia é rica em confirmar o empenho da União Soviética em agitar a situação política e social no Brasil, na América Latina, insistindo na violência no campo, na dominação da mídia e do meio intelectual. A Igreja e as Forças Armadas eram prioridades do comunismo desde a década de 1940. Afinal, as grandes derrotas do comunismo se deram no final da década de 1930 com a Guerra Civil da Espanha, em meados da década de 1960 com o Brasil e de 1970 com o Chile. Em todos os três casos, a mão comunista – com base na Rússia principalmente – era visível e os bons resultados da reação no campo social e do desenvolvimento econômico foram duros golpes. As bases do progresso da Espanha, do Chile e do Brasil são devidas a Franco, Pinochet e aos nossos generais-presidentes, especialmente Castello, Costa e Silva, Médici, e João Figueiredo. A única vitória do comunismo importante foi a Revolução dos Cravos, em Portugal, que acabou por permitir uma independência sangrenta em Angola e Moçambique, territórios que estavam marchando para uma solução de alto nível, com base na lusitanidade, em algo que se parecesse com a do Brasil que foi proporcionada por um rei de Portugal, na ocasião príncipe-herdeiro. Mas a cobiça comunista das riquezas de Angola, principalmente, falou mais alto, não contando apenas com a reação de uma parte não comunista, a União Nacional para Independência Total de Angola (UNITA), que sustentou uma guerra violenta por mais de 25 anos, com grande número de mutilados. Uma tragédia, em que o Brasil agiu de forma omissa no governo Geisel e, daí, em diante. 

(...) 

A partir daí, a prioridade dos soviéticos foi a infiltração entre militares e religiosos. No Brasil, não poderia ser diferente. Os militares sofreram de tal maneira a infiltração, que tivemos, pouco antes da Guerra da Espanha, a Intentona de 1935 e, em 1964, a nossa Revolução precisou retirar, de forma autoritária de suas fileiras, mais de quatro mil militares sob suspeição de tolerância com o comunismo, número muito maior do que o de afastamento no funcionalismo civil, por exemplo. A Igreja, por sua vez, foi muito usada pelos radicais da luta armada e pela influência que os temas políticos passaram a ter na Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). O saldo desta militância de esquerda de parte do clero abriu as portas do Brasil para seitas ditas cristãs, que acabaram se tornando verdadeiros negócios e comitês eleitorais, a chamada ‘bancada evangélica’. 

(...) 

Ao ser fundado em junho de 1962, o GAP firmou convênio com a Aliança Democrática Brasileira e o Centro José Bonifácio, organizações democráticas de São Paulo, presididas pelos estudantes Waldo Domingos Claro e Fânio Sandoval, e formou um núcleo em Juiz de Fora, dirigido pelo universitário Marcos Ventura de Barros. 

(...) 

Não tendo vinculação com qualquer partido, o GAP aceitava, de bom grado, a colaboração e a adesão de todos os verdadeiros patriotas, independente de onde viessem ou estivessem. 

De nossa Carta de Princípios, constava a defesa intransigente do regime democrático, da família, da Igreja, da propriedade e da iniciativa privada. 

(...) 

Hélio Silva recorda os Comícios pela Democracia, realizados pelo Deputado Amaral Neto, com a presença de parlamentares de todo o País, membros da Ação Democrática Parlamentar, nos quais pregávamos, em praça pública, a reação ao Governo. Nesses comícios, realizados semanalmente em várias cidades, coube-me sempre falar em nome dos estudantes democratas como presidente nacional do GAP. 

Lembra o escritor que me cabia, através da Rede da Democracia – cadeia de emissoras de rádio que se opunha à cadeia da legalidade, de Leonel Brizola – falar, semanalmente, na qualidade de Presidente do GAP, recomendando, inclusive, a mobilização armada contra os camponeses de Francisco Julião e os elementos dos Grupos dos Onze, de Brizola. 

A participação da rapaziada do GAP, relembra o escritor, estava intimamente ligada ao grupo conspirador liderado pelo Almirante Sílvio Heck. Por algumas vezes, realizamos transporte de armas de São Paulo para o Rio de Janeiro. Chegamos, inclusive, a trazer metralhadoras em malas e em ônibus da viação Cometa. Este transporte e movimentação de armamento foi uma vez estourado pela Polícia do Exército, mas eu e mais dois companheiros conseguimos escapar na própria estação rodoviária. 

Em consequência desta ação, a sede da entidade Ação Vigilante do Brasil, na Rua 1º. de Março, no Rio de Janeiro, foi invadida e interditada, assim como um sítio em Jacarepaguá, onde o Governo apreendeu as armas. Por sorte, o Inquérito Policial Militar (IPM) que o Ministro da Guerra instaurou foi confiado ao General Idálio Sardemberg. Como a imprensa janguista insistia em citar Heck, além de citar-me juntamente com o GAP, tomei a iniciativa de procurar pessoalmente o General Sardemberg, em sua casa, na Rua Souza Lima. Na conversa que mantive com ele, aleguei que o movimento distribuía livros, combatia a UNE etc. e que o noticiário dos jornais era maldoso. O General Sardemberg me ouviu e por fim disse-me: ‘Sei que as coisas não são bem como você diz, mas elogio o seu civismo e peço levar ao Almirante Heck minhas palavras de tranquilidade. Vocês não serão incomodados’. 

(...) 

Lembro-me de que, no final de 1962, logo após o Almirante Sílvio Heck deixar o Quartel Central do Corpo de Fuzileiros Navais, onde se encontrava preso, formamos um grande cortejo de automóveis integrado por delegações de diversas entidades, entre as quais a nossa – o Grupo de Ação Patriótica – e muitas outras, como a Frente da Juventude Democrática, a Ação Vigilante do Brasil, a União Operária Camponesa do Brasil, o Movimento Estudantil Católico, o Movimento Estudantil Marítimo, a Aliança Democrática Popular etc. 

(...) 

A primeira operação conjunta foi a distribuição de livros e folhetos em fábricas e colégios da Guanabara, São Paulo de Minas Gerais. Distribuímos, inicialmente, três livretos: ‘Depoimento sobre a Rússia’, mais de seis mil exemplares, de Nascimento Brito, Diretor do Jornal do Brasil; ‘Estopim da Fraude’, de Waldo Domingos Claro, presidente da Aliança Democrática Brasileira; e ‘UNE, Instrumento da Subversão’.

Numa ação continuada, conseguimos, ainda, distribuir mais de vinte mil livros de esclarecimento popular, alcançando maior destaque ‘Um Engenheiro Brasileiro na Rússia’, de John Cotrim; ‘Estudantes Brasileiros na Tcheco-Eslováquia’, de Ronaldo Pereira Rodrigues, que fora Secretário da UNE; e ‘Condição Humana da China Comunista’, de Suzanne Labin. 

(...) 

A Cadeia Radiofônica da Democracia iniciou suas atividades no final de outubro de 1963, liderada pelas Rádios Tupi, Globo e Jornal do Brasil, com a participação no primeiro programa de João Calmon, Roberto Marinho e Nascimento Brito, diretores das emissoras que encabeçavam a Cadeia” (Jornalista Aristóteles Drummond, Tomo 9, pg. 144-158). 

 

AÇÃO DEMOCRÁTICA PARLAMENTAR (ADEP) 

“Dia a dia, eu e meu pai sentíamo-nos na obrigação de tomar posição favorável ao movimento contra João Goulart. Meu pai, Deputado José Bonifácio Lafayette de Andrada me chamou para vir a Brasília e disse que o Deputado João Mendes tinha organizado uma frente parlamentar poderosa, a Ação Democrática Parlamentar (ADEP), para defender a democracia contra qualquer manobra que surgisse. A ADEP realmente reuniu deputados da UDN, quase todos do PSD, também do PTB e de outros partidos da Câmara dos Deputados. Conversei com o João Mendes e ele disse: ‘Bonifácio, você podia organizar a ADEP em Minas. Temos o apoio do IBAD (Instituto Brasileiro de Ação Democrática), instituição não ligada a nós diretamente, mas que está muito preocupada com o avanço da esquerda no Brasil. É um grupo poderoso de industriais brasileiros dispostos a apoiar financeiramente o combate ao comunismo’. 

Essa foi a informação que recebi sobre o IBAD. Ele disse mais: ‘Você lá em Minas, além da direção da ADEP na Assembleia, como também vou me comunicar com os dirigentes do IBAD, poderá fazer contato com eles.’ O professor Ivan Hassolocher, segundo me disse, era o presidente do IBAD. Respondi: “Deputado João Mendes, esse negócio de dinheiro do IBAD é algo com que não gosto de lidar. Nesse caso, lá em Minas, há uma figura muito interessante, Padre jesuíta José Cândido de Castro, que está também muito atemorizado com os movimentos de esquerda no País e poderá gerenciar esta área, com garantia de correção.’ Nesse episódio, preferi que tudo se articulasse com ele, porque todos ficariam seguros de que não haveria nenhuma hipótese de desvio de dinheiro. Realmente, não cuidei desse setor. O Padre Castro articulou-se com o IBAD e passou a ser o responsável por essa área, em Minas. E mantinha contato comigo. Organizei a ADEP na Assembleia Legislativa, que logo recebeu o apoio de quase todos os deputados mineiros. Lançamos um manifesto nesse sentido” (Deputado Federal Bonifácio de Andrada, Tomo 15, pg. 67). 

 

CRUZADA TIRADENTES 

“A determinação era muito grande. Acho que uma pesquisa, antes que desapareçam os dados, precisa ser mais bem-feita sobre aquela fase e sobre o ambiente psicossocial de Minas Gerais. Recordo-me bem da Cruzada Tiradentes, de um Padre interiorano. Não me lembro direito da figura dele. Esse Movimento andava pelo interior de Minas, em grupos enormes, organizados para apoiar o Cristianismo contra o Comunismo. Era um movimento altamente significativo. Estive também com grupos sindicalistas desejosos de participar. Os meios empresariais, da mesma forma. O movimento feminino era poderoso, desfilando nas ruas por Deus e pela Pátria. Quer dizer, é preciso caracterizar bem que esse 31 de Março de 1964, em Minas Gerais, fou uma reação vigorosa do seu povo para depor o pró-comunista João Goulart. No dia 31 de março, a vitória das forças mineiras, da maioria do povo de Minas, inegável e decisivamente contribuíram, até além das Alterosas, para que as Forças Armadas ocupassem o Poder e iniciassem a institucionalização do movimento revolucionário” (Deputado Federal Bonifácio de Andrada, Tomo 15, pgl 76-77). 

 

MANIFESTO DOS PROFESSORES UNIVERSITÁRIOS, COM SOBRAL PINTO 

“O ambiente nacional exigia providências emergenciais. No campo, havia uma violência muito grande. Os brasileiros não mais se sentiam seguros. E ainda se apresentava a anarquia institucional: os deputados a fazerem leis apenas compatíveis com a ideologia que cada um adotava. Em 1963, falava-se abertamente de uma república sindicalista. 

No primeiro trimestre de 1964, quatrocentos ou mais professores universitários, tendo à frente a figura grandiosa de Sobral Pinto, divulgaram um manifesto, criticando a complacência do Governo e pedindo soluções. O cardeal do Rio de Janeiro fez um alerta sobre a eclosão possível de uma revolução popular. À época, eu era juíza de Barbalha e, ouvindo a Rádio Mayrink Veiga, mesmo como juíza, era difícil entender se o Governo estava dentro da legalidade ou se o povo estava com a ilegalidade. Com o manifesto dos professores universitários, pude, então, compreender que o Governo se posicionava do lado das esquerdas” (Desembargadora Águeda Passos Rodrigues Martins, Tomo 12, pg. 244). 

 

CRUZADA DEMOCRÁTICA

“Em 1950, os comunistas conseguiram infiltrar-se no Clube Militar, utilizando a revista para fazer proselitismo da sua doutrina. Nasceu, então, a reação dos verdadeiros patriotas e democratas para retomar a direção do Clube, através de um movimento que se denominou Cruzada Democrática.

Não podendo utilizar as dependências do Clube, as reuniões da Cruzada foram realizadas, inicialmente, na Federação de Escoteiros do Brasil e, posteriormente, na sede do Clube dos Oficiais Reformados e da Reserva das Forças Armadas, na Praça da República, 197, no Rio de Janeiro: a Casa de Deodoro.

(...)

Em meados de 1962, nos reuníamos rotineiramente às quartas-feiras à noite, na Casa de Deodoro, participando das reuniões da Cruzada Democrática, as quais compareciam muitos oficiais da reserva e da ativa (General Bina Machado, Coronel Sebastião Chaves, Tenente-Coronel João Baptista de Oliveira Figueiredo etc.).

(...)

Fazíamos reuniões com outros companheiros, no porão do edifício residencial da Praia Vermelha e na Vila Militar, em Marechal Hermes, numa academia de judô.

Conseguimos, enfim, realizar a tão esperada assembleia no Clube Militar, em 3 de julho de 1963, na presença de quase dois mil sócios. Os comunistas, cerca de sessenta pessoas, em sua maioria oficiais, audaciosamente, tentaram tumultuar a reunião inscrevendo-se para falar e abordando assuntos contrários aos nossos objetivos. Foi preciso que um companheiro, o Tenente-Coronel Aviador Coqueiro, mais tarde Brigadeiro, tomasse o microfone das mãos de um esquerdista para que toda a assembleia, aos gritos, os expulsassem do recinto.

Nessa assembleia, os irmãos Torres de Melo (Artur de Freitas Torres de Melo e José Ramos Torres de Melo Filho) falaram de forma incisiva em defesa dos postulados democráticos e da dignidade da classe militar. No dia seguinte, esses companheiros foram presos: Artur, no Forte de São João, e o José, no Forte Rio Branco” (Coronel Edgar Maranhão Ferreira, Tomo 6, pg. 107-108).

“Inicialmente muito tímido, o Clube Militar, com o tempo, foi-se encorajando, graças, em grande parte, à presença de oficiais-alunos da EsAO, do IME e da ECEME e, juntamente com o Clube Naval e o Clube da Aeronáutica, teve um papel de grande relevância na preparação do Movimento de 1964. Havia uma ala conhecida como ‘Cruzada Democrática’, que reunia muitos oficiais que pensavam igualmente sobre aquele momento nacional. Entre esses oficiais, incluíamo-nos eu e meu irmão Artur Torres de Melo, então major, e outros bem conhecidos, como os então coronéis Arnizaut de Matos, Sebastião Chaves e João Baptista Figueiredo. Aí confabulávamos sobre a situação do País, sobre o que deveria ser feito e como. Motivado pela ‘Cruzada Democrática’, no dia 3 de julho de 1963, o Clube Militar promoveu uma grande reunião, com mais de três mil oficiais, presidida pelo General Magessi da Cunha Pereira, seu presidente. Capitão e aluno do 3º. ano do IME, compareci a essa reunião juntamente com o Artur, e fizemos, cada qual, um pronunciamento contra o estado de coisas reinante, imputando as responsabilidades ao Ministro da Guerra e ao Presidente da República. Os dois discursos, por sua veemência, valeram-nos trinta dias de prisão para cada um, dados pelo Ministro da Guerra, General Jair Dantas Ribeiro. Mas nós, os oficiais mais jovens, não arrefecemos e continuamos nessa batalha, sem sabermos qual o pensamento dos nossos chefes” (Major José Ramos Torres de Melo Filho, Tomo 4, pg. 236-237).

 

ARCA DE NOÉ

“Idealizada pelo então capitão dos Portos [do Ceará], o Comandante Fernando Cavalcante, que aos sábados reunia-se com pessoas de todas as classes sociais, na Capitania. A ‘Arca de Noé’ tinha como objetivo a união de todas as categorias, exatamente o contrário do movimento comunista, que preconizava a luta de classes para a tomada do poder. Tínhamos representantes de todas as classes sociais: estivadores, militares, advogados, juízes, industriais, todos em harmonia, inclusive os representantes de sindicatos patronais e de empregados. As reuniões da ‘Arca de Noé’ tiveram início em 1961. Em 1963, a ‘Arca de Noé’ passou à condição de pessoa jurídica. Seu objetivo era o de promover a união entre todas as classes sociais e o combate ao comunismo internacional” (Tenente-Coronel Silvio de Magalhães Sampaio - Tomo 4, pg. 226).

“Por intermédio da Associação ‘Arca de Noé’, colaboramos com importante trabalho de conscientização anticomunista em instituições locais.

No mês de fevereiro de 1964, fui preso pelo Cmt da 10ª. RM (amigo do Presidente João Goulart) por vinte dias, no quartel do 23º. BC, e transferido, a bem da disciplina, por ter determinado a distribuição de folheto, divulgando informações de trabalho anticomunista em algumas instituições. O fato teve grande repercussão na cidade e em várias guarnições do Exército. Antes de seguir destino, recebi várias homenagens de militares e civis, voltando mais tarde para receber os títulos de cidadão cearense e fortalezenense, qua guardo até hoje” (General-de-Brigada Helio Duarte Pereira de Lemos, Tomo 1, pg. 240). Como Chefe de Gabinete do SNI, o general Lemos participou da apuração dos fatos realizados pela PF contra o governador de Goiás, Mauro Borges, que foi deposto depois de o STF dar habeas corpus ao político, por unanimidade.

“No Ceará, participamos de algo muito interessante: um grupo, constituído por Antônio Guimarães, que já morreu – quase todos já morreram – Hélio Lemos, o Comandante do 23º. BC, o Coronel Diegues, eu e outros, fundou um clube, chamado ‘Arca de Noé’. Todos os sábados nos reuníamos com o pessoal dos sindicatos e a gente conversava, tomava uns aperitivos e almoçava. Dessa forma, fomos nos preparando e trocando idéias. O resultado é que, em 1964, quando eclodiu a Revolução, o único Estado brasileiro em que não houve greve foi o Ceará. Os sindicalistas compreenderam que o Brasil não podia continuar com a anarquia existente, consequência daquela ação psicológica desenvolvida com o objetivo de conscientizar a opinião pública” (General-de-Divisão Francisco Batista Torres de Melo, Tomo 4, pg. 57).

“Destaco, também, a Arca de Noé, cujo significado pré-revolucionário pouca gente conhece. Não era a Arca de Noé bíblica, que reuniu todos os bichos da Terra, mas uma Arca de Noé que acolhia, harmonicamente, os sindicalistas, os patrões e os empregados, pessoas de diversas procedências, mas com um só pensamento: a defesa da Pátria! A ela se deve, por exemplo, a imunização dos portuários cearenses às idéias anarquistas vindas de fora. Estas, portanto, são reminiscências de um período vivido, pouco antes da eclosão do Movimento Revolucionário de 1964” (General-de-Brigada Manoel Theóphilo Gaspar de Oliveira Neto, Tomo 4, pg. 90).

“Quando o Sr. João Goulart assumiu a Presidência da República, os oficiais que aqui serviam, por não concordarem com o procedimento adotado pelo Poder Executivo, de seguir fielmente o movimento comunista, chegaram a lançar um Manifesto, que lhes custou prisão e transferência. No 10º. Grupo de Obuses 105 mm (10º. GO 105), a totalidade dos seus componentes não se intimidou diante das ameaças. Eu estava servindo lá, nessa época. O Grupo, sob o comando do Coronel Hélio Lemos, antecipou-se aos acontecimentos, junto com a sociedade, preparando-se materialmente e com pessoal para combater o governo central. Foi criada, nessa época, uma entidade civil chamada ‘Arca de Noé’, idealizada pelo então Capitão dos Portos, o Comandante Fernando Cavalcante, que, aos sábados, reunia-se com pessoas de todas as classes sociais, na Capitania. A ‘Arca de Noé’ tinha como objetivo a união de todas as categorias, exatamente o contrário do movimento comunista, que preconizava a luta de classes para a tomada do poder. Tínhamos representantes de todas as classes sociais: estivadores, militares, advogados, juízes, industriais, todos em harmonia, inclusive os representantes de sindicatos patronais e de empregados. As reuniões da ‘Arca de Noé’ tiveram início em 1961. Em 1963, a ‘Arca de Noé’ passou à condição de pessoa jurídica. Seu objetivo era o de promover a união entre todas as classes sociais e o combate ao comunismo internacional” (Tenente-Coronel Silvio de Magalhães Sampaio, Tomo 4, pg. 226).

 

GRUPO ÁGUIA BRANCA E “OPERAÇÃO MARIMBONDO”

“Muito pouco contato tive com o General Mourão; convivi mais com o Bragança – o Coronel Bragança – que teve um irmão assassinado em 1935. Esse não era anticomunista, ele era mais do que anticomunista; a coisa era pessoal, era uma declaração integral contra o comunismo, porque perdera...

Perdera o irmão em 1935? Era tenente o irmão dele? [entrevistador]

Era tenente, assassinado pelos comunistas. O Bragança nunca esqueceu esse fato. Ele foi, realmente, um elemento de ação – foi contra o populismo do Getúlio, foi contra o Juscelino, foi contra o João Goulart – um anticomunista sistemático. O Bragança, na década de 1960, uniu-se a uma rapaziada, formada de estudantes de Belo Horizonte, o grupo dos ‘Águia Branca’, participando de uma série de episódios para calar os comunistas na base da pancadaria.

O Brizola e seu pessoal queriam realizar um comício em Belo Horizonte, mas o Governador Magalhães Pinto, a polícia, não autorizavam comícios. Fizeram, então, uma reunião, uma famosa assembleia, no auditório da Secretaria de Administração, alguma coisa assim, lá em Belo Horizonte. Era um auditório muito grande para a época, e o certo é que o Bragança e seu grupo entraram lá e bateram no Brizola, bateram na mulher do Brizola, foi um inferno, acabaram com a tal a Assembleia ‘a tapa’.

Depois disso, marcou-se um comício com presença do Jango – interessante, aqui no Rio, o Comício da Central do Brasil. Lá, em Belo Horizonte, antes, realizaram um comício na Praça da Estação. O Jango chegou de trem para o tal comício. E a turma Águia Branca fez a Operação Marimbondo, que consistiu em levar, em sacos plásticos, marimbondos que foram soltos na hora do comício, dispersado a turba que viera para participar do comício. Isso é coisa que entra para o folclore político, mas que aconteceu realmente.

O Mourão, promovido a general, foi outro que, em todos os lugares por onde passou, fez uma campanha sistemática anticomunista. Ele falava diretamente aos seus oficiais, aos seus subordinados, em todos os lugares onde comandou” (Coronel Luiz Carlos Carneiro de Paula, Tomo 9, pg. 300).

 

CLUBES DE MÃES

“D. Iedda: (...)

Naquela época, visitei favelas, todo o ABCD; fui a vários lugares. Tínhamos total consciência da existência de um terreno fértil para aquelas ideias enganosas do comunismo; conhecíamos perfeitamente a semente e o terreno onde seria semeada. Não tomamos nenhuma atitude movida por impulso, mas por grande conscientização.

Estávamos muito bem acompanhadas de pessoas como Carlos Lacerta, que tinha sido comunista e que havia se desencantado com essa ideologia e punha a público o que eles faziam e os maus intentos deles; Padre Calazans, Senador, e o Padre Godinho, Deputado Federal, sempre nos elucidando e ensinando. Insisto que não foi um impulso de ‘patriotada’. Foi um movimento consciente, com maturidade, de dever cívico e dever de mãe.

D. Maria Lucia: Foi bom você lembrar que nós trabalhávamos na periferia.

D. Iedda: Você se lembra o que se fundou em decorrência da camanha política?

D. Maria Lucia: Os Clubes de Mães e chegamos a ter 15 Clubes de Mães, cada um com trinta mulheres.

Ensinando inclusive a cuidar do bebê. [entrevistador]

D. Maria Lucia: Não só a cuidar do bebê, mas também de toda a família.

D. Iedda: Foi algo que deu resultado. Esses Clubes de Mães começaram em 1965 e existem até hoje. Várias das atuais professoras foram nossas alunas e ficamos amigas; fazíamos chás em nossas casas, havia uma comunicação de culturas. O resultado foi excelente não só para elas, assim como para nós. Recebemos, também, muitíssimo. Aprendi muito com aquelas senhoras de outra cultura, de comunidades extremamente carentes, e fico gratificada de pensar que estávamos mais devolvendo do que entregando.

Mas, penso que a Marcha da Família simboliza a nossa atuação, na Revolução (Doutora Iedda Borges Falzoni e Doutora Maria Lucia Whitaker Vidigal, Tomo 7, pg. 359).

Obs.:

Em 2003, a Doutora Maria Lucia Whitaker Vidigal era a presidente da Liga das Senhoras Católicas, onde prestava assistência a mais de 4.500 pessoas. Trabalhou na TV Cultura como produtora e apresentadora, durante vinte anos.

F. Maier

 

RADIOAMADORES: O WHATSAPP DA ÉPOCA

“D. Iedda: Meu filho tinha entre 13 e 14 anos; morávamos em frente ao Palácio do Governo e quando saí disse:

- Henrique, você fica tomando conta da casa e o revólver está aqui; defenda a sua casa.

O meu marido era radioamador e o Exército perdera a confiança em alguns graduados, naquele momento. Então foram convocados os radioamadores para que fossem feitos os contatos; é bom lembrar que não havia esse boom de comunicação, como hoje. Os radioamadores, como qualquer empresa de radiofonia, receberam uma licença para operar. Eles não foram convidados, mas convocados para ajudar. Muitos, porém, se omitiram, alegando que seu equipamento não estava bom.

Lembro-me de meu marido até de madrugada transmitindo mensagens sigilosas, que ele não me deixava ouvir. Foi uma atuação muito grande. A Revolução levou só dois dias para vencer, mas devo dizer que foram dois dias de intensa vivência. Definiram um momento histórico que deve ser lembrado, constantemente” (Doutora Iedda Borges Falzoni, Tomo 7, pg. 358).

“Tivemos, também, o apoio dos radioamadores. Durante o deslocamento, o Coronel Faceda montou um PDR de radioamadores em Juiz de Fora e durante todo o deslocamento uma rede montada atuou como informante. Tínhamos informações de todo o movimento do Destacamento Cunha de Melo através dessa rede. Uma série de providências administrativas foram tomadas através da rede, por exemplo, alguns fogões de campanha não estavam funcionando a gasolina e sim com botijão de gás e, naquela época, variava conforme a empresa. E se fez o levantamento do tipo de botijão de gás etc., através dos radioamadores da rede e, daí, se pedia a subsistência: um caminhão com tantos botijões de gás de tal tipo para atender ao suprimento de tais Companhias. É interessante assinalar que isso em combate seria um caos. Se a linha de suprimento de fogões funcionava a gasolina e o subtenente macetoso botou o botijão de gás, que realmente era muito mais confortável, mas, em situação de campanha, qual era o gás? Como é que seria suprido? Isso é um ensinamento que tem que ser levado sempre em consideração” (Coronel Amaury Friese Cardoso, Tomo 10, pg. 359). 

Obs.

Me ocorre o trabalho feito por jornais editados por militares aposentados, nas últimas décadas, como Letras em Marcha, Ombro a Ombro, Inconfidência – além de grupos similares como o Grupo Guararapes, Grupo Estácio de Sá, Grupo Anhanguera, Quero-Quero, Associação dos Militares da Reserva e Reformados (ASMIR) etc., que iniciaram um trabalho de conscientização da população nos tempos revanchistas dos governos FHC, Lula e Dilma, culminando na obra de Olavo de Carvalho, os quais tiveram o mérito de enfrentar o “pensamento único” das esquerdas nas universidades, nos meios artísticos, na mídia cada vez mais militante de esquerda – uma luta ainda longe para se chegar a um mero empate.

A trilogia de Olavo de Carvalho “A Nova Era e a Revolução Cultural: Fritjof Capra & Antonio Gramsci” (1994), “O Jardim das Aflições: de Epicuro à Ressurreição de César” (1995) e “O Imbecil Coletivo: Atualidades Inculturais Brasileiras” (1996),  junto com “O Mínimo Que Você Precisa Saber Para Não Ser Um Idiota” (2013) - 193 artigos de Olavo escritos entre os anos de 1997 e 2013, e organizados pelo jornalista Felipe Moura Brasil - é fundamental para se entender os últimos 50 anos do Brasil, em termos culturais, de pregação marxista em todos os setores da sociedade brasileira.

F. Maier 


BIBLIOGRAFIA:

MOTTA, Aricildes de Moraes (Coordenador Geral). História Oral do Exército - 1964 - 31 de Março - O Movimento Revolucionário e sua História. Tomos 1 a 15. Bibliex, Rio, 2003.


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