REVOLTA DOS SARGENTOS EM BRASÍLIA
Mas ali havia também oficiais, deputados, quiçá generais.
Promessa de paredón para os oficiais
(Extraído da obra "História Oral do Exército - 31 Março 1964", editada em 2003 pela Bibliex, em 15 Tomos)
“Com
esse Sargento Prestes de Paula e com o fotógrafo foi capturado um documento, ao
qual tive acesso e li. Por que li? Porque o Capitão José Fernandes Santana
Andrade, Comandante da Companhia, disse: ‘Máximo, você vai levar para o
Regimento [Santos Dumont], no Rio, esse documento que é da máxima importância,
que é o planejamento da revolta.’ Esclareço que chamam de revolta dos
sargentos, mas ali havia oficiais.
Vamos ouvir bem esse trecho do
depoimento do nosso Coronel, porque é da maior importância.
[entrevistador]
Veja
bem, li, tomei conhecimento, o Capitão Fernandes leu para todos nós, e eu
considero aquilo um trabalho de estado-maior. Os sargentos não poderiam fazer
aquilo sem terem generais, oficiais de estado-maior, comprometidos com essa
causa comunista no País, seja por oportunismo, seja por convicção ideológica,
ou seja, por fisiologismo, fazendo aquele jogo. Então, pude me deter na leitura
e considero um documento de peso, que tem aspectos que jamais me esqueci.
Antes
de trazê-lo para o Rio, como uma missão dada pelo Capitão Fernandes, senti-me
tentado a tirar cópias, coisa que lamento muito hoje não tê-lo feito. Mas
aquele rigor, aquela nossa formação o impedia, porque era um documento
confidencial, já tinha tomado conhecimento. De qualquer maneira, hoje também
estaria privado de fazê-lo. Espero que ele exista, em algum lugar porque o
entreguei ao Coronel José Aragão Cavalcante, meu Comandante, que levou para o
quartel-general e, de lá foi encaminhado para a 1ª. DE. Por isso, não sei mais
onde se encontra, e esta cópia eu não tenho. Ele dizia claramente, as ações
estavam previstas, como se uma ordem de operações fosse, em uma delas havia um
item: ‘pelotão de fuzilamento dos oficiais considerados irrecuperáveis para o
regime’. Que regime?
Vou repetir essa frase, esse
título da ordem de operações, que jamais esquecerei: ‘pelotão de fuzilamento
dos oficiais irrecuperáveis para o regime’. Logo a seguir: ‘Comandante do
pelotão de fuzilamento: sargento Dantas, fuzileiro naval’! São passados 38 anos, e isso foi tão fortemente marcado
na minha consciência, na minha visão de oficial diante daquela balbúrdia, que o
nome por eles escolhido não esqueci. Depois, ‘local das execuções’ – é algo que
tem um certo refinamento, e sem dúvida um apuro na escolha por parte desses
mentores, porque foi selecionado um local adequado, que eram os porões do
prédio das torres de televisões de Brasília. E, realmente, ali é uma espécie de
garagem enorme. Tive o cuidado de ir lá, depois de passados os acontecimentos,
é um lugar bem adequado para fuzilamentos, sobretudo para um grande número de
pessoas. Eles tiveram esse requinte” (Coronel Francimá de Luna Máximo, Tomo 11,
pg. 207-208).
“Em
setembro de 1963, em Brasília, a fim de contrapor-se a uma resolução do Supremo
Tribunal Federal sobre questão de inelegibilidade, os sargentos rebelaram-se.
Quase tomaram conta de tudo, não o fazendo por mero acaso. Ocuparam a Base
Aérea, a Base Naval, os quartéis do Exército, sujeitaram os ministérios da
Aeronáutica e da Marinha. Não foram tomados o Ministério do Exército, cuja guarda
reagiu, e o BGP.
Tomaram
o BPE, prenderam os oficiais e os levaram para a Base Aérea.
Por
que não tomaram o BGP? Quando o motorista do Comandante da Base Aérea, após ter
deixado o Coronel em casa, chegou à noite na Base, encontrou uma grande agitação.
Perguntou o que estava havendo e lhe responderam: ‘É a Revolução! Pega o seu
fuzil!’ Ele se esgueirou, pegou o carro de novo e foi para a casa do Coronel
avisar-lhe o que estava acontecendo na Base Aérea. O Coronel, já de madrugada,
ligou para o Comandante do BGP. Não sei se propositadamente ou não, o
Presidente estava ausente; o Comandante da Região Militar também. Estavam todos
viajando, restando presente como maior autoridade o Coronel Raymundo. O
Comandante da Base disse o que tinha acontecido.
O
Comandante, imediatamente, ligou para alguns oficiais do quartel, um deles fui
eu, por acaso tinha telefone. Ele me ordenou para apanhar os companheiros que
pudesse e me dirigir para o quartel, porque havia problemas. Não disse mais
nada. Pois bem, ele saiu, foi para o quartel e quando entrou no Corpo da
Guarda, disse:
-
Sargento, coloca a Guarda em forma!
Ele
não sabia que aquele sargento estava ali para imobilizar a Guarda. Mas, diante
da ordem de supetão, o sargento a cumpriu. Assim ele evitou a surpresa.
O
Oficial de Dia mandou o Adjunto fazer uma ronda nos fundos do quartel e ele foi
preso pelo pessoal da Aeronáutica que já estava cercando o aquartelamento, com
uma boa quantidade de armamento e munição, muito mais novo do que o nosso. Mas
o Adjunto teve presença de espírito e disse:
-
Calma, também sou sargento. Esperem aí que vou lá e aviso aos companheiros que
vocês estão chegando.
De
volta, relatou tudo para o Oficial de Dia, que acordou algumas subunidades; o
pessoal começou a armar-se e a fazer os preparativos. Quando chegamos de carro,
por volta das 2h30min ou 2h40min da manhã, assumimos o comando dos pelotões de
recrutas e saímos para romper o cerco do quartel. Houve tiros, prendemos muita
gente e recuperamos as viaturas, a munição e o armamento que eles tinham.
Rechaçamos o cerco do quartel.
A
partir daí o combate aos rebeldes foi planejado. Um pelotão foi designado para
reforçar a guarda do Ministério do Exército, sob o comando de um companheiro,
Tenente André, que foi caçado juntamente com seu pelotão na Esplanada dos
Ministérios, pelo pessoal dos ministérios da Marinha e da Aeronáutica. Era fogo
cerrado em cima e ele com um pelotão de recrutas, mas só ele e os sargentos
respondiam ao fogo, pois os recrutas não sabiam atirar direito. Conseguiram
progredir e se abrigaram no prédio do Ministério, mas as rajadas de
metralhadora estilhaçavam os vidros e as persianas caíam sobre eles; foi
difícil.
O
Comandante Raymundo Netto Corrêa assumiu o comando de toda operação. Organizou
três colunas: uma partiu para a Esplanada dos Ministérios, a fim de retomar os
ministérios da Marinha e da Aeronáutica; uma foi para a Base Aérea e a outra
coluna para a Base Naval. Cercamos esses locais, os revoltosos se renderam e
foram todos enviados para uma prisão na Baía de Guanabara.
Apurou-se que haviam
documentos com os nomes de todos os companheiros que eram contra eles,
relacionados para serem fuzilados debaixo da grande torre de TV, de Brasília,
onde havia uma plataforma de concreto. Isso
já serviu de ensinamento, mais adiante, e aconteceu em setembro de 1963.
Os
fatos se sucederam cada vez mais graves. Tínhamos ciência da existência do que
seria o Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST) daquela época, a
chamada Polícia da Boa Vontade, comandada por um cidadão de nome Raulino, na
cidade satélite de Taguatinga. A sede era lá, mas eles vinham em direção a
Brasília, fechavam os acessos e reivindicavam isto ou aquilo. Quando a polícia
se aproximava para tentar liberar a via e retirar os manifestantes, chegava a ordem
do Palácio do Planalto para deixá-los. O Governo era conivente com aquela
situação, mais ou menos parecida com que se vê hoje com relação ao MST.
Aceita-se violência da parte deles” (Coronel Marnio José Signorelli Teixeira
Pinto, Tomo 7, pg. 211-212).
Ainda sobre a Polícia da Boa Vontade,
após o Movimento de 31 de Março
“Notícias
nos davam conta de que seriam 15 mil candangos armados que atacariam o quartel,
destruiriam o Congresso e saqueariam os supermercados. Essa resistência em
Brasília seria montada com a tal Polícia da Boa Vontade armados pelo General
Fico [General Nicolau Fico, Comandante da Região Militar] e que este teria
desistido da ideia ao saber que o BGP estava revoltado” (Coronel Marnio José
Signorelli Teixeira Pinto, Tomo 7, pg. 216).
PM do RN e do PI se solidarizaram com a
Revolta dos Sargentos em Brasília
“Em
setembro de 1963, os sargentos de Brasília, a maioria da Aeronáutica,
revoltaram-se. Com isso, duas polícias militares, do Rio Grande do Norte e do
Piauí, resolveram, digamos, apoiar aquela revolta e fizeram uma greve. Nessa
época, disputava o campeonato de basquete do Exército, no Rio de Janeiro e, ao
regressar, fui designado para reorganizar a Polícia Militar do Rio Grande do
Norte. Para a Polícia Militar do Piauí, seguiu o Coronel Torres de Melo
(Francisco Batista T. de Melo). Assumi o comando, em Natal, no dia 1º de
outubro de 1963, e dei início ao meu trabalho. Foi instaurado um inquérito para
apurar as causas daquela situação de anormalidade da Polícia Militar.
A
missão ordenada pelo General Pinheiro, se fosse cumprida, geraria um massacre
de paraquedistas
“Entra o General Pinheiro –
Comandante do Núcleo da Divisão Aeroterrestre, indagando: ‘Qual é a Companhia
que vai cumprir a missão?’ ‘A 1ª. Companhia’. ‘Quem é o Comandante?’ ‘Tenente
Nery’. ‘Tenente, aqui’. Fiquei em pé, ao lado dele. Ele abriu em cima daquela
mesa grande, no cassino dos oficiais, local da reunião, a carta de Brasília.
Quando olhei, entendi o que já sabíamos durante a noite. Tinha havido uma
rebelião em Brasília, a Base Aérea foi tomada, alguns quartéis já estavam
tomados, alguns oficiais presos e a cidade estava na mão de uma rebelião. Só
não sabíamos a extensão do problema, naquele momento. Mas era sério. O
Presidente, os ministros e as principais autoridades estava propositadamente
fora de Brasília. Na verdade, foi tudo planejado. Inclusive, deputados
participaram daquele levante. O General Pinheiro disse: ‘Tenente, não está acontecendo nada
em Brasília. Você vai levar a sua tropa, desembarca, vai desarmado. Você vai
fazer um desfile semelhante ao de Sete de Setembro, no Dia da Pátria, na
Alameda dos Ministérios’.
Sabíamos que não era aquilo.
Acabáramos de ouvir na rádio – estávamos atentos, ligados, tínhamos
informações. A realidade era outra. Brasília estava sublevada, era a rebelião
dos sargentos, a maioria da Marinha e da Aeronáutica. Obedeciam a um
intelectualizado comando civil, não se restringia apenas a Brasília e devia
estender-se por todo o País. Da chefia da rebelião, participaram os Deputados
Neiva Moreira, do PSP-MA, Hércules Correia, Marco Antonio, do PCB-GB, e Max da
Costa Santos, do PSB-GB, sob a liderança de Leonel de Moura Brizola. Pela
ordem, os revoltosos pretendiam: depor o Presidente da República; fechar o
Congresso; acabar, sumariamente, com o Supremo Tribunal Federal, classificado
como órgão inútil e dispensável; desvirtuar o regime e implantar uma república
(ditadura) socialista; transformação total das Forças Armadas.
Os prédios dos Ministérios
da Marinha e da Aeronáutica estavam ocupados e os revoltosos já estavam no
terraço, na cobertura, no telhado dos pavilhões nos esperando. Sabiam que a
tropa paraquedista ia saltar. Seríamos eliminados como pombos. Íamos saltar e
desfilar desarmados. Disse para o General: ‘General, não é isso...’ Não
completei a frase! Quando ia começar a falar, levei uma ‘botinada’, por debaixo
da mesa. Eu estava em pé e os outros oficiais do Estado-Maior do Regimento,
sentados. O Oficial de Operações, Major Giácomo Jannuzzi Neto, me deu um
pontapé. Eu entendi. Era para ficar calado. Calei-me e ouvi a missão – desfilar
desarmado.
Ao sair dali, fui falar com
o Major Jannuzzi. Ele me disse: ‘Nery, é rebelião, se você for desarmado, você
vai morrer, sua tropa vai ser eliminada. É guerra! Eles ocuparam Brasília e já
leram o manifesto de criação da República Sindicalista Comunista do Brasil’. Eu
pergunto: ‘Como é que eu vou, Major?’ ‘Vá armado, claro! Você vai para a
guerra’. ‘Qual é a minha missão?’ ‘Você vai saltar para libertar Brasília’.
Saltar, para libertar Brasília das mãos dos revoltosos, ou seja, conquistar
Brasília. Essa foi a missão. ‘Onde estão os revoltosos?’ ‘Ocupando os prédios
dos ministérios militares. Já existem oficiais presos. Você tem que libertá-los
– descobrir onde eles estão e libertá-los’.
Naquele momento, minha maior
preocupação era armar a Companhia – duzentos homens. E a munição? Veio a
informação de que tinham trancado a munição. O Oficial de Munições do
Regimento, Tenente Eglair Barcelos Alves, disse: ‘Nery, vou me virar. Deixa
comigo’. E saiu, para conseguir a munição. Comecei a pegar o armamento, quando
chegou uma parte da munição. Tinha que ‘enfardar’. Dei ordem para colocar a
munição no carregador e leva-la também no cinto. O grosso da munição seria
acondicionado em um cunhe-te, com um paraquedas em cima para ser lançado do
avião. Após o salto, você sai correndo para procurar a munição, pegá-la e
leva-la com você. Sabendo que precisava de muitos paraquedas, mandei busca-los.
Chegou a informação: o major encarregado dos paraquedas fechou a ‘baiúca’ –
como nós chamamos o local de acondicionamento dos mesmos – e não vai distribuir
os paraquedas para você, por ordem do general – o paraquedas da munição! Na
hora, imediatamente, dei a ordem para que os cunhetes fossem abertos. Mandei
distribuir a munição pelos bolsos. Iríamos saltar com a munição dentro do
bolso, em quantidade. Aí, surgiu um problema. Soubemos que a rebelião era dos
sargentos de Brasília, com o foco principal na Marinha e na Aeronáutica.
Em virtude daqueles
acontecimentos de 1961, quando o General Santa Rosa, Comandante dos
paraquedistas, elogiou os sargentos por não terem cumprido ordem de seus
superiores hierárquicos, e do Governador Brizola mandando os sargentos matarem
seus oficiais, criou-se um ambiente de mal-estar dentro da tropa. Aquilo foi
sendo alimentado numa sequência, agora essa rebelião em Brasília, era o dia 12
de setembro de 1963. Apesar de preocupado, mandei distribuir a munição para os
sargentos. Não podia duvidar da lealdade dos sargentos. Paguei para ver.
Estávamos em pleno
aprestamento, tínhamos que preparar a munição, preparar os fardos. O
subtenente, aquele homem mais antigo, aquele sargento que foi alçado à função
de subtenente, o administrador da carga da Companhia, chegou para mim e disse:
‘Capitão, preciso falar com o senhor, aliás, todos os sargentos querem falar
com o senhor’. Eu disse: ‘Bom, o que houve? Vou lá’. Eles estavam numa sala,
reunidos. O subtenente iniciou: ‘Capitão, o senhor mandou distribuir a munição
para todos nós, sargentos. O senhor confia nos sargentos da Companhia?’ Chamei
a atenção dele: ‘Em algum momento, desconfiei de vocês? Em algum momento,
pensei isso? Não estou entendendo o que vocês estão falando’. ‘Capitão, a
reunião é para agradecer a confiança. Conte conosco. Em nenhum momento, o
senhor deixará de contar com a nossa lealdade. Conte conosco’.
Assim, fui para Brasília.
Eram 14 aviões. Até aeronave em manutenção decolou. Os antigos aviões C-82
voavam de porta aberta. Cruzando a serra de Petrópolis e Teresópolis, e
seguindo para Brasília, fazia muito frio, eu sentado ao lado da porta, olhando
o voo em formação, vi um avião pegar fogo – o avião do Tenente Maia Martins.
Retornou para os Afonsos. Mais adiante, o avião do Valporto, também, pega fogo
e pronto, o efetivo estava se reduzindo. Depois, eles chegaram a Brasília
- dois dias depois – não houve problema.
A nossa viagem foi longa.
Foi aquilo que eu disse: dentro do avião, você olha para o soldado e ele está
lhe olhando, você vai para lá e ele olha para lá, você vem para cá e ele olha
para cá. E eu me dei contra de que eu tinha dado a ordem, antes de decolar:
‘Nós vamos saltar na Alameda dos Ministérios. O suposto inimigo está ocupando
os telhados dos quatro prédios e vai atirar em nós. Todos os oficiais e
sargentos deverão tirar a arma do invólucro e durante a queda atirar em tudo o
que se mover’. Eu, como comandante, tinha que dar uma ordem que protegesse a
minha tropa e que permitisse o cumprimento da missão. Sabia que, com duzentos
homens, tinha que libertar Brasília. O que é isso? A cabeça não funcionava.
Qual a verdadeira dimensão disso. Brasília é muito grande. Aonde eu iria
procurar esse pessoal? A ordem estava dada.
Durante o voo, fiquei
pensando: vou chegar em Brasília às 5h da tarde, o expediente está terminando,
os funcionários estão cruzando a Alameda dos Ministérios. São pessoas que vão
estar se movimentando. Vamos atirar? Muita gente vai morrer, muita gente
inocente. O mestre de salto, o comandante em cada avião, vai com o fone no
ouvido, escutando os pilotos. Eu ouvia a conversa dos pilotos. Não ia haver
combustível para prosseguir o voo depois de Brasília. Eles diziam: ‘Vamos
pousar em qualquer lugar’. A situação era difícil e preocupava. Confesso que,
sozinho – não tinha ninguém para conversar, eu era o único oficial no meu
avião, os outros tenentes estavam nas demais aeronaves – fiquei preocupado,
muito preocupado.
Aí, me veio a história de um
outro livro – o emprego de paraquedistas belgas no Congo – quando houve um
levante e muitos reféns, mais de 1.500 reféns. A tropa paraquedista foi
empregada com sucesso – eles não saltaram em cima do objetivo. Você, na sua
introdução, falou na nossa EsAO, não foi? A Escola que aplica a doutrina no seu
laboratório, que é o campo, associando tática e técnica com tiro real, o mestrado
do oficial, a última escola onde aprendemos e aplicamos a tática da Arma. É
errado, no planejamento paraquedista, você traçar a zona de lançamento em cima
do objetivo – você não salta em cima do inimigo. Ah! Que felicidade! No avião,
lembrei-me disso. Então, me veio aquela sensação de satisfação – não devo
saltar em frente aos ministérios – tenho que saltar longe. Fazer como os
paraquedistas belgas: pegaram tudo o que andava, tudo o que tivesse roda e
foram correndo para o objetivo e libertaram os homens que estavam presos, seus
patrícios.
Então, imaginei: vou saltar
em outro lugar, assim vamos evitar atirar em tudo o que se mova. Tudo que se
mova seriam os funcionários terminando o expediente, saindo de Brasília.
Adquiri confiança e disse para o Comandante da aeronave – ele me avisaria vinte
minutos antes, com um toque de sirene dentro do avião: ‘Comandante, determine a
entrada em formação cerrada – para as aeronaves se aproximarem – dê uma rasante
em cima da alameda dos Ministérios. Depois, vou dar a final para você’. Nós
íamos saltar, eu tinha decidido saltar depois da Alameda dos Ministérios, bem
distante. Preferia ir a pé, correndo, para o objetivo.
Quando ele cerrou, dez
minutos antes de chegar em Brasília, o meu ala esquerda – eu via, a distância é
curta – o meu ala esquerda estourou o motor e pegou fogo. Era, justamente, a
aeronave do Tenente Brandão. Pegou fogo no motor. Aquilo foi imediato! Mudei a
missão! Eu disse para o Comandante da Aeronave: ‘Mande que siga direto para o
aeroporto’. O aeroporto estava nas mãos dos revoltosos. ‘Mande-o seguir direto
para o aeroporto e vamos todos para lá, vamos desembarcar’. Salto de viatura em
movimento – nós sabíamos fazer isso. Quando a aeronave tocar no chão, nós
saltamos sem paraquedas, ou seja, salta e rola. É claro que nós íamos ter
baixas com isso, mas estávamos treinados. Saltávamos de viatura em movimento
até na Avenida Brasil. Fazíamos esse adestramento. Ele falou: ‘O aeroporto está
nas mãos dos revoltosos’. Porém, eu sabia que um pelotão de Goiânia já estava
se dirigindo para lá – uma Companhia de Goiânia – sob o comando do então
Tenente Machado Borges, o mesmo que chegou a General. Quando a primeira aeronave,
que era a do Brandão, tocou a pista, ele comandou o salto. Todo mundo pulou da
aeronave – joga a arma e salta feito um fardo, feito uma roda. Você encolhe
todo o corpo e sai girando, pois machuca menos. Posamos em seguida.
Mas houve uma ocorrência.
Realmente, o aeroporto ainda estava nas mãos dos sargentos revoltosos. Um
deles, ao ver o avião pegando fogo no motor, comentou que aquele ali já está
sendo destruído pelo fogo e que ele iria acabar com ele, jogando uma granada. E
correu na diração do avião para jogar a granada. Acontece que ele estava perto
da cerca e parece que o estacionamento dos táxis, no aeroporto de Brasília. Os
motoristas ouviram aquilo e pularam a cerca, começando a correr atrás dele. Foi
uma cena inusitada. Os motoristas se abraçaram com aquele sargento que tinha
uma granada na mão, enquanto ele gritava: ‘Vou soltar a granada’. Quando o
Brandão chegou, com alguns homens, a granada não tinha nem mais grampo. Estava
sendo presa pelo capacete, na mão, e o sargento já com medo de soltar a
granada. Após ser preso, ele confirmou que ia jogar a granada para destruir a
aeronave, que sabia ser da tropa paraquedista.
Neste ínterim,
desembarcamos, corremos para frente do aeroporto e pegamos todas as viaturas,
carros, caminhões e ônibus que apareceram por ali. Desloquei-me em comboio com
a minha tropa – duzentos homens – chegamos na Alameda dos Ministérios, do outro
lado dos ministérios militares. Fiz o sinal para parar e logo a seguir o de
avançar. Não falei mais nada. Desembarcamos correndo, tomamos de assalto os
ministérios, fomos do primeiro piso até o último e fizemos setecentos
prisioneiros. Todos estavam armados.
É preciso lembrar que
ocorrera uma ação de um pelotão da Polícia do Exército-PE, na véspera. Naquela
noite, o Tenente era o Uchoa. Mas o que houve com ele? Acontece que no momento
do ataque dos sublevados ao Ministério da Aeronáutica, ele estava com o pelotão
guarnecendo e resistiu ao ataque. Foram disparados muitos tiros contra o
pelotão dele. Que era composto de ‘catarinas’, lembra? Naquela época, a Polícia do Exército incorporava somente
soldados do Sul do Brasil – os ‘barrigas-verdes’ catarinenses – os ‘catarinas’.
Ele deu ordem de
fogo, porque tinha que impedir o ataque – era um ataque mesmo. Nenhum soldado
atirou, nenhum soldado atirou. Ele tomou o fuzil de um soldado e
atrás de uma coluna gastou a munição, rolou para outra coluna – todos os
soldados estavam atrás das colunas do ministério. Ele foi de soldado em soldado
e resistiu ao ataque sozinho, atirando, porque os soldados não o fizeram.
A Biblioteca do Exército tem
um livro, de 1958, ‘Homens ou Fogo’. Eu li muito esse livro e se eu não me
engano é do General Omar Bradley que fez um inquérito na Segunda Guerra Mundial
sobre o porquê do homem não atirar, quando está em combate. Após uma operação
nas ilhas do Pacífico, ele colocou dois ou três regimentos de ‘quarentena’,
vamos dizer assim, numa ilha do Pacífico e ouviu do comandante ao último
soldado. Onde você estava na hora do ataque? O que houve? Por que você não atirou?
Etc... E concluiu, dizendo o seguinte: ‘O fator psicológico’. Ele tem uma
referência interessante: o jovem, principalmente – é o nosso caso, que
incorporamos recrutas – o jovem é criado para não maltratar até os animais. É
aquele negócio, não amarrem uma lata no rabo do gato, não maltratem o animal e
de uma hora para outra, dos dezessete para os dezoito anos ele se apresenta no
quartel e nós vamos ensiná-lo a atirar para matar.
Disse isso, quando estava na
Academia Militar das Agulhas Negras: ‘Estamos aqui para ensinar vocês a matar,
mas a matar em defesa da Pátria’. O Tenente Uchoa ficou abismado. Como é que o
soldado não atirava – não houve jeito dele atirar! No livro, Omar Bradley diz:
‘O maior índice de aproveitamento de tropas na Segunda Guerra Mundial foi com a
tropa paraquedista e de comandos’. Os paraquedistas russos chegavam a ter 18%
dos que atiram, no máximo 20%. Ou seja: de cada grupo de combate de infantaria
só dois homens atiram quando se deparam com o inimigo, mesmo quando ele está
correndo a dez metros de distância. Um grupo de combate tem um sargento e um
cabo. Se, dos dez integrantes, dois atiram, somente o sargento e o cabo
atiravam. Os soldados, não. Os recrutas não atiram, é preciso muito treinamento.
Uma prova foi o que ocorreu com o Tenente Uchoa.
Com a tropa paraquedista, o
rendimento é maior, mas chegamos ao último andar dos quatro prédios dos
ministérios e fizemos setecentos prisioneiros. Quantos tiros demos? Nenhum;
Prendemos a todos, depois de tomarmos de assalto o local. Foram colocados num andar e ficamos no
outro andar, embaixo. Durante 45 dias, nós ficamos ali guarnecendo. Dormíamos
no chão. Eles dormiam no andar de cima, também, no chão, o mesmo espaço, as
mesmas condições sanitárias – estávamos no andar de baixo e eles sabiam que não
podiam descer, eram sargentos.
Já à noite, reorganizei
minha tropa. Veio
uma informação rápida: acabaram de entrar num bloco de apartamentos, em uma
superquadra e cortaram os pulsos da esposa de um oficial, porque queriam
prender o marido. Ela foi salva pelos vizinhos. Cortaram os dois
pulsos porque ela não dizia onde estava o marido. Ela também não sabia. Ele
tinha saído para ir ao quartel. Ela nem sabia se ele já estava preso. Queriam o
seu marido. Era um oficial do Exército, um capitão, e cortaram os pulsos dela.
Fiquei com medo, porque aquilo poderia representar para a tropa uma reação
maior, a partir dali. Graças a Deus, não foi preciso.
Outra informação: na
rodoviária de Brasília, a última passagem, a mais baixa, naquela época de 1963
– a rodoviária não estava concluída, ainda estava em obra -, fora fechada pelos
revoltosos. Eles fecharam de um lado e do outro. Deixaram uma porta e escreveram no muro –
Paredão – e colocaram, em posição, um pelotão da tropa de fuzileiros navais,
com metralhadoras. Iam começar o fuzilamento dos oficiais que já
estavam presos. Peguei um grupo e mandei ao comando do Tenente Valporto, para a
rodoviária. Prendemos todo o pelotão, com as metralhadoras em posição, prontas
para fuzilar os oficiais. Essa foi a minha vivência em 1964 e antes de 1964, em
1963. Prendemos o pelotão e abriu-se um inquérito. Fizemos até um comentário,
porque o inquérito foi feito na Marinha. A maioria dos sublevados era da
Marinha. Conversando com o encarregado do inquérito, lhe disse: ‘Comandante,
daqui a 15 dias vão estar todos de volta, como se nada tivesse ocorrido’. Esses
presos foram trazidos de avião, por nós, para o Rio de Janeiro. Ficaram no
navio-prisão.
Há um fato que gostaria de
acrescentar. Quatro ou cinco dias depois, chegou a Brasília um Batalhão do
Regimento Santos Dumont. Não trazia munição. O general [Pinheiro] não tinha
deixado. Passaria a integrá-lo. O negócio estava quente, porque, ainda,
estávamos fazendo a limpeza de Brasília. Informei ao major que havia reunido
toda a munição que trouxera, em uma sala do pavilhão do ministério. ‘Tem
suficiente?’ perguntou. Respondi: ‘Tenho munição para um batalhão, por um ano’.
A nossa corrida, a proibição de sair armado! Foi tanta gente levando munição,
ao sairmos do Rio! O Barcelos, Eglair Barcelos Alves – Oficial de Munições.
Lembro-me de que, já com todas as aeronaves ‘taxiando’, motor ligado, ele
chegou com a viatura e foi jogando os cunhetes pela porta dos aviões. Os
pilotos ficaram preocupadíssimos. Tinha muita munição, o Batalhão cumpriu a sua
missão e nós retornamos para o Rio.
O Comandante do Batalhão,
Major Giácomo Jannuzzi Neto, chamou-se, aqui no Rio, depois da operação e
disse: ‘Nery, você fai fazer uma relação dos militares que vão receber
condecoração, por bravura, nesta operação, você faz isso?’ ‘Claro, indico os
homens da minha Companhia que merecem a medalha’. Chamei o meu sargenteante e
pedi que ele me desse o mapa da força – o manifesto do voo de lançamento dos
paraquedistas, para que todos fossem incluídos, todos os militares que foram
para Brasília comigo, que tomaram Brasília de assalto e que tinham consciência
de que libertaram Brasília. Entreguei ao Major Jannuzzi, Comandante do
Batalhão, a relação de toda a Companhia. Ele disse: ‘O que é isso? Pedi para
você o nome daqueles que merecem...’ Eu lhe disse: ‘Major, todos nós fizemos a
mesma coisa. O que um fez, o outro fez também. Todos fomos além do dever’.
Palavras dele: ‘Nery, só vou indicar você, porque condecorar duzentos por ato
de bravura vai desmoralizar a medalha’. Sendo assim, somente eu seria indicado.
‘Major, essa eu não vou receber. O senhor me desculpe – ou concede para todos
ou não me mantenha na relação’. E realmente, foi isso que ocorreu. Aqueles que
estavam em Brasília, foram condecorados. Os tenentes, sargentos e soldados
paraquedistas que, numa ação enérgica e eficaz, sufocaram um movimento
revolucionário que pregava uma ampla indisciplina contra a hierarquia militar e
contra a autoridade e a legitimidade do Poder Judiciário, representado pelo
tribunal mais alto, que é o Supremo Tribunal Federal, não foram reconhecidos.
Essa era a situação vivida naquela época, que levou à eclosão da Revolução de
1964” (General-de-Brigada Durval Antunes Machado Pereira de Andrade Nery, Tomo
10, pg. 169-176).
General
Pinheiro, o “Faz Tudo”, era acrobata e promovia festanças em Brasília
“Recordo-me de que o NuDAet
teve uma fase sob o comando do General Pinheiro, apelidado de ‘Faz Tudo’. Ele
era um homem da ‘corte’, mas causava admiração por sua figura de paraquedista.
Ele tinha uns cacoetes que encantavam os mais jovens. Por exemplo: por vezes,
ao receber a apresentação da tropa em plena forma física, lépido, se antecedia
com um salto mortal e recebia a apresentação, como se fosse um desses ases das
equipes de saltos ornamentais. Coisas assim, consideradas um pouco
deslumbrantes para os capitães, tenentes e para os sargentos. No entanto, ele
era um homem da absoluta e irrestrita confiança do Presidente João Goulart,
tendo desempenhado o cargo de Comandante do Batalhão da Guarda Presidencial
(BGP) e, segundo comentava-se durante nossa permanência naquela cidade,
organizava festas, recepções íntimas e orgias planaltinas para devaneio da alta
cúpula do poder, em Brasília” (Coronel Francimá de Luna Máximo, Tomo 11, pg.
212).
Obs.:
Durante a rebelião em Brasília, além
de alguns feridos, foram mortos o fuzileiro naval Divino
Dias dos Anjos (rebelde) e o motorista civil Francisco Moraes
(cfr. “A Verdade Sufocada”, pg. 65).
F. Maier
***
Muito antes da Revolta dos Sargentos em Brasília, em 1963, já em 1961 houve rebelião de sargentos em várias Organizações Militares, conforme atesta o depoimento do General-de-Brigada José Mattos de Marsillac Motta:
Sublevação de sargentos no 18º. RI, no
19º. RI e na Companhia de Guardas – 29 para 30 de agosto de 1961
“Na
época, servia no 18º. Regimento de Infantaria (18º. RI) e comandava um dos seus
Batalhões. O Comandante do Regimento, Coronel Ottomar (Ottomar Soares de Lima),
teve que assumir interinamente a Infantaria Divisionária da 6ª. Divisão de
Intantaria (ID/6). (...) Nesse tempo, aconteceu um movimento comunista dentro
do 18º. Coincidência ou não, no mesmo momento eclodia algo semelhante em outras
duas Unidades do III Exército: na Companhia de Guardas, comandada pelo Pedro
Américo Leal, e no 19º. RI. Consta, não confirmei nunca, que houve até um
sargento ferido lá. Se não me engano, servia lá um comunista notório, o Nunes
(Oswaldo Nunes).
Para
meu azar, quando me informaram que os sargentos haviam se sublevado, o Comandante
estava fora do quartel; tinha sido chamado ao Quarrtel-General e não regressara.
Os sargentos estavam reunidos em uma subunidade do quartel e pretendiam prender
o Peri quando ele voltasse. Instruí meus oficiais do Estado-Maior para que
permanecessem a postos, mantendo o pavilhão de comando em condições de receber
o Comandante do Regimento. Disse:
- Se
os sargentos tentarem qualquer ação, revidem porque trarei o Coronel.
Uma
das Companhias do meu Batalhão – eu era Subcomandante eventual – a 1ª., era comandada
por um grande Capitão, o Erydson (Erydson Pereira Magalhães). Simultaneamente,
determinei a ele que preparasse um Pelotão de confiança e fosse buscar o
Comandante onde ele estivesse, porque iria assumir o Comando do Regimento. E
mandei os oficiais garantirem a posse.
Decidi
abordá-los e quando entrei na sala, deparei-me com uma porção de sargentos na
minha frente, todos armados. Era de madrugada. Pensei comigo: ‘estou roubado’.
Aí fiz uma peroração:
-
Como é que vocês se arvoram no direito de abandonar suas Unidades e se reunirem
aqui como desordeiros.
Disse
o que tinha vontade de dizer, porque, nessa hora, mesmo não sendo de falar
muito, a palavra vem fácil, é uma coisa interessante. Falei com naturalidade,
mas forte. E terminei dizendo:
-
Não tenho medo de vocês, tanto é que vim aqui sozinho, se quiserem me fazer
alguma coisa, façam. Mas saibam que vou reagir.
Eu
atirava muito bem de metralhadora de mão – era até convencido. Nos estandes de tiro das Companhias,
utilizava uma metralhadora de mão INA, de minha propriedade, e enchia o alvo.
Era demagogia, porque apenas queria mostrar que também sabia atirar, mas
naquela ocasião na Legalidade, me serviu.
Era
uma sala pequena e estava com a minha metralhadora atravessada. Quando terminei
de dizer: ‘(...) mas saibam que vou reagir’, vi todos os olhares convergirem
para trás de mim e pensei comigo: ‘estou cercado’. Virei-me rápido e me deparei
com um punhado de oficiais que estavam ali oferecendo solidariedade e proteção
para mim. Fiquei muito comovido.
Embora
tenha conseguido amainar a revolta dos sargentos, eu não me sentia tranquilo,
pois o movimento ainda não tinha terminado. Disseram que a guarda do quartel
estava com as armas voltadas para nós e que há haviam prendido o Capitão
Alencastro (Sérgio Pêgas de Alencastro). Saí brabo e fui ao corpo da guarda
para ver o que estava ocorrendo. Cheguei, desarmei a guarda e prendi os
sargentos. Voltei para o pavilhão de comando, mas sem saber o que poderia
ocorrer ali em diante.
Embora
o movimento estivesse aparentemente debelado, poderia ressurgir a qualquer
hora. Não sabiam quem estava no comando da sublevação. Quando conversei com os
sargentos que iam prender o Comandante, eles disseram que o líder não era
sargento, era um oficial. Como eu confiava nos meus oficiais, não me contive e
disse:
-
Quero o nome desse traidor porque vou matá-lo!
No
relatório que mandei para o QG, escrevi que não permitiria que continuasse vivo
em nosso Regimento um traidor.
Um
dos sargentos, o Mader, disse que daria o nome do oficial. Não sei por que, ele
teve uma crise, começou a chorar enquanto os sargentos diziam:
-
Não diz! Não diz!
Nesse
instante, ouvi um tiro fora da sala e saí correndo na direção do corpo da
guarda. O Capitão Einloft (Oscar Carlos Einloft) surgiu atrás de mim, vindo na
minha direção, indagando: ‘O senhor está bem, Coronel?’ Ele pensou que tivessem
atirado em mim.
Por
fim, tudo acalmou. Este fato ocorreu na noite de 29 para 30 de agosto de 1961.
E aqui está o resultado desse movimento, são doze folhas do meu relatório,
feito no dia 11 de setembro. O Major Péricles Augusto de Machado Neves) foi
quem movimentou o Regimento contra nós. Era comunista. Isso está aqui escrito.
Major Péricles. Ele era de que turma?
[entrevistador]
Foi
meu cadete na Escola Preparatória nos idos de 1943 ou 1944. Uma cabeça
privilegiada, falava vários idiomas, era professor de psicologia, fazia clínica
de psiquiatria. Infelizmente, foi ele que promoveu esse movimento no 18º. RI.
O senhor disse que houve outros
movimentos em duas outras Unidades. [entrevistador]
Na Companhia de Guardas e no 19º. Agora, em nenhuma, com a mesma intensidade. Aquela noite eu pensei que ia morrer. Sentimos que o movimento viera de fora para dentro, porque nos cortaram a luz e o telefone. Eu via a Vila São José iluminada e no quartel tudo escuro” (General-de-Brigada José Mattos de Marsillac Motta, Tomo 13, pg. 99-101).
BIBLIOGRAFIA:
MOTTA, Aricildes de Moraes (Coordenador Geral). História Oral do Exército - 1964 - 31 de Março
- O Movimento Revolucionário e sua História. Tomos
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