Aluizio Palmar, amigo de Lamarca, e ex-guerrilheiro, mantém o maior site de documentos da repressão do país
Nem jornalista é capaz de manter um arquivo desses: afinal ele garimpa sozinho documentos, com as próprias mãos --e a até a Comissão da Verdade busca dicas de pesquisa com ele.
O blog foi atrás desse pesquisador, Aluizio Ferreira Palmar, dono do site www.documentosrevelados.com.br
Nascido em São Fidélis, Rio de Janeiro, no ano de 1943, Aluizio Ferreira Palmar quando jovem estudou Ciências Sociais na Universidade Federal Fluminense. No processo de esfacelamento do PCB após o golpe, Aluízio, juntamente com Milton Gaia Leite, Nielse Fernandes, Umberto Trigueiros Lima e Iná Meirelles, formou a Dissidência do Rio de Janeiro (DI-RJ), mais tarde batizada de MR-8, o primeiro surgido em Niterói. Seguindo a orientação foquista (guevarista) do MR-8, Palmar se deslocou para o oeste paranaense a de averiguar o terreno e organizar a Resistência à ditadura Militar no Paraná.
Hoje, aos 72 anos, detém um site intrigante: 80 mil documentos sobre a ditadura, tarefa que nem jornalista é capaz de fazer. Ele logo avisa: boa parte do que a Comissão da Verdade investiga já foi devidamente adulterado pelos milicos.
Noas seus anos de luta, e após a definição de um local e meses de trabalho (com o recrutamento de militantes dissidentes do PCB e AP de Curitiba e Londrina, articulação de bases camponesas, contatos com os movimentos revolucionários do Paraguai e Argentina e inclusive com treinamento de guerrilha dentro do Parque Nacional), Palmar caiu nas mãos dos milicos, após um acidente de trânsito.
Na prisão, Palmar tentou o suicídio temendo não resistir às torturas. Porém, apesar de sua resistência, um grupo de quatro membros do MR-8 foi preso no interior do Paraná. Com essas prisões e outras ocorridas no Rio de Janeiro o velho MR8 caiu.
Os militantes do MR8 foram levados para o Cenimar e Ilha das Flores, e lá submetidos a novas torturas. Respondendo a dois processos, um no Rio (Marinha) e outro no Paraná (Exército), constantemente Aluízio passava por novas torturas.
Condenado, cumpriu parte da pena em Ilha Grande e deixou o cárcere como um dos libertados em troca do embaixador suíço, Giovanni Bucher, em janeiro de 1971.
Exilado no Chile, sem pertencer a nenhuma organização visto que o primeiro MR-8 acabou após as prisões efetuadas ainda em 1969, conta Palmar, “fui convidado para entrar na Vanguarda Popular Revolucionaria – VPR, na época comandada por Carlos Lamarca. Nossa meta era voltar para o Brasil e continuar a luta”. No exílio, Palmar coordenou a organização de uma estrutura para receber militantes que estavam no exterior.
Na fronteira entre Brasil e Argentina, Aluízio preparou uma estrutura completamente blindada, inclusive da própria VPR, que, em todos os seus escalões, desconhecia a localização do grupo que montava a área tática.
Em um sítio na região do alto Uruguai, disfarçado de camponês Aluízio, juntamente com um pequeno grupo de revolucionários composto por dois brasileiros, três paraguaios, um boliviano e dois panamenhos, preparou a recepção aos quadros revolucionários da VPR que estavam no Chile, em Cuba e Europa. Porém, o envolvimento em questões locais e mais tarde o golpe militar no Chile o obrigou a abandonar a região.
“Pouco antes da decisão de desmobilização da VPR, eu havia me deparado ao acaso com Onofre Pinto em Buenos Aires, e por pouco não embarquei na emboscada que culminou na morte do fundador da Vanguarda Popular Revolucionária e de todos os membros do grupo que me acompanhava, no episódio conhecido como Massacre do Parque Nacional do Iguaçu”, lembra Palmar.
Até seu retorno clandestino ao Brasil, em maio de 1979, Aluízio viveu na região do Chaco vendendo soda e colaborando com a esquerda revolucionaria argentina.
Em setembro de 1979, foi morar em Foz do Iguaçu – PR e em 1980, criou o semanário “Nosso Tempo”, de linha editorial crítica. Agora seu barato é o site.
“Meu site surgiu após o seu acesso aos documentos depositado no “arquivo” da delegacia da Polícia Federal de Foz do Iguaçu".
Relata Palmar:
“Esse acesso foi possível graças às lutas dos familiares dos mortos e desaparecidos políticos. Em 2004, o Ministério da Justiça fez um acordo com o Departamento da Polícia Federal e eu fui credenciado para ter acesso aos arquivos da PF. Minha meta era descobrir rastros, pistas dos desaparecidos políticos do grupo da VPR que desapareceu no Parque Nacional do Iguaçu.). Desde que emergiu da clandestinidade, para ser mais preciso, Palmar vinha procurando pistas que o levassem a conhecer o que havia acontecido com o grupo, que era comandado por Onofre Pinto”.
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