A verdade sobre o caso Parasar
Carlos I. S. Azambuja
em 06 de outubro de 2004
Resumo: Recorrendo ao velho e periódico hábito de requentar notícias mentirosas, a mídia esquerdista brasileira prova mais uma vez desconhecer o conceito de honestidade. O autor deste texto foi uma testemunha privilegiada de todos os lances do chamado "Caso Parasar".
Resumo: Recorrendo ao velho e periódico hábito de requentar notícias mentirosas, a mídia esquerdista brasileira prova mais uma vez desconhecer o conceito de honestidade. O autor deste texto foi uma testemunha privilegiada de todos os lances do chamado "Caso Parasar".
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Nota da Editoria MSM: periodicamente a esquerda brasileira, utilizando-se dos bons ofícios de seus simpatizantes que dominam grande parte das redações no país, resolve desinformar um pouco mais do de costume o público, e aborda temas da época do regime militar. O objetivo, entre outras coisas, é reescrever a história do país, como manda a cartilha totalitária esquerdista, segundo a qual a honestidade com que se informa o público acaba - ou melhor, sequer começa -, quando se trata de atacar inimigos ideológicos ou simplesmente favorecer a causa com a qual simpatizam.
O texto abaixo é uma réplica ao artigo publicado pelo jornal O Globo “Rio de histórias: O capitão coragem que salvou a vida de milhares de cariocas”, publicado em 30 de setembro de 2004, artigo mentiroso e panfletário, que serve para mostrar como o jornal carioca - como de resto as organizações Globo -, deixaram de lado qualquer tipo de interesse em informar com um mínimo de equilíbrio seu público, colaborando conscientemente com o esquerdismo difamador e autoritário que campeia pelo Brasil afora, disfarçado sob o rótulo de "democracia".
Durante mais de 20 anos, diversos historiadores e uma série enorme de reportagens publicadas pela imprensa, no Brasil e no exterior, e versões levadas ao ar em programas de TV, abordaram de forma distorcida e mentirosa o chamado “Caso Parasar”, massacrando (esse é o verbo correto) o brigadeiro João Paulo Moreira Burnier, sob a alegação de que ele teria dado ordens, em 1968, para que militares da 1ª Esquadrilha Aeroterrestre de Salvamento, conhecida como “Parasar” participassem na repressão às passeatas estudantis, naquele ano, no Rio de Janeiro, bem como ordens para que políticos da oposição fossem mortos e o gasômetro no Rio de Janeiro fosse explodido.
Um desses historiadores, Jacob Gorender (que foi membro do Comitê Central do Partido Comunista Brasileiro e, depois da Revolução de 1964, um dos fundadores do Partido Comunista Brasileiro Revolucionário, organização que priorizava a luta armada) escreveu na página 164, capítulo “Turbulências de 68 e Fechamento Ditatorial”, livro “Combate nas Trevas”, que “o brigadeiro João Paulo Burnier havia ordenado em abril, a um grupo de 40 homens do Parasar (unidade de busca e salvamento da Aeronáutica) a execução de um plano de terrorismo em vasta escala. O capitão aviador Sérgio Miranda de Carvalho recusou-se a obedecer as ordens do brigadeiro Burnier, chefe do gabinete do Ministro da Aeronáutica Márcio de Souza e Mello. A posição do capitão aviador (sic), apoiado por colegas, frustrou o plano terrorista, mas lhe custou a reforma e afastamento definitivo da Força Aérea, em 1969”.
Não é verdade.
Sobre o assunto, o brigadeiro João Paulo Moreira Burnier fez o que poderia fazer na esfera militar, requerendo, sucessivamente, a diversos ministros, ser submetido a um Conselho de Justificação, processo previsto na legislação militar, para defender-se das acusações que lhes eram imputadas e das quais tomava conhecimento através da imprensa escrita, da TV e de livros publicados.
Em todo esse tempo, a imprensa e os historiadores, de modo geral, ao se referirem ao “Caso Parasar”, muitas vezes fazendo referência e até tornando públicos documentos sigilosos, nunca mencionaram os seguintes fatos:
- que em 11 de setembro de 1968 o Ministro da Aeronáutica, Márcio de Souza e Mello, determinou a expedição de um documento a toda a Força Aérea isentando o brigadeiro Burnier de qualquer responsabilidade, ante as alegações tornadas públicas pelo capitão Sérgio Miranda de Carvalho
- que 10 anos depois, em abril de 1978, o ministro da Aeronáutica, Joelmir Campos de Araripe Macedo, mandou divulgar uma informação destinada ao conhecimento de todos os oficiais da Força Aérea, reiterando que o brigadeiro Burnier nenhuma participação tivera nos fatos que periodicamente vinham sendo publicados pela imprensa, relacionados com o “Caso Parasar”
- que em 29 de maio de 1980, o Ministro da Aeronáutica, Delio Jardim de Mattos, indeferiu um requerimento de novembro de 1979 - época em que se desencadeara uma nova fase da campanha de inverdades sobre o chamado “Caso Parasar” - no qual o brigadeiro Burnier solicitava a instauração de um Conselho de Justificação para que fosse julgado das acusações a si imputadas.
O Ministro Delio despachou o requerimento afirmando ser desnecessária a designação de um Conselho de Justificação porque “as acusações relacionadas com o Caso Parasar eram inadmissíveis, após análise da documentação pertinente bem como dos registros da época”. O Despacho continha também um elogio ao brigadeiro Burnier: “Oficial vibrante, de extrema dedicação à carreira, patriota sobejamente comprovado, de conduta digna, notável responsabilidade no cumprimento do dever e possuidor de elevado conceito entre superiores, pares e subordinados”.
Em 1985, um ano político-eleitoral, no qual muitos políticos cediam às pressões dos militares punidos pela Revolução de Março de 1964 com aspirações de anulação das punições sofridas, com promoções e ressarcimentos pecuniários, como viria a acontecer após a Constituição de 1988, o chamado “Caso Parasar” voltou aos jornais. Novamente o brigadeiro Burnier requereu um Conselho de Justificação, e o então Ministro da Aeronáutica, Otávio Júlio Moreira Lima, assim como seus antecessores haviam decidido, indeferiu o pedido. Em seu Despacho, escreveu o Ministro: “Toda a documentação do caso foi pormenorizadamente reexaminada, nada se encontrando capaz de ensejar um Conselho de Justificação”. Isso significou, em outras palavras, que nada existia de que o brigadeiro Burnier tivesse de justificar-se.
Além dessas manifestações de quatro diferentes e consecutivos ministros da Aeronáutica, o capitão Sérgio Miranda, mais conhecido como “Sérgio Macaco”, ao longo dos anos tentou conseguir que sua situação de militar reformado pelo Ato Institucional nº 5 fosse revista por quatro presidentes da República, valendo-se, para tanto, de amigos e padrinhos. Não foi atendido por nenhum deles.
Em todos esses anos, uma única reportagem contou a verdadeira história do “Caso Parasar”. Ela foi publicada no jornal “O Estado de São Paulo” de 20 de outubro de 1985, assinada pelo jornalista Flávio Galvão. Como - já dizia Trotsky - “a verdade é revolucionária”, optamos por transcrevê-la a seguir:
“Da mesma natureza que a estórias do Monstro do Loch Ness e do Abominável Homem das Neves, frutos exclusivamente dos delírios da imaginação, o impropriamente chamado “Caso Parasar” desde 1968 freqüenta as colunas de jornais e revistas brasileiras, periodicamente, nos momentos em que escasseiam os assuntos do gosto do público ávido de sensacionalismo barato, ou então de efervescência política, como o atual, em que abundam, os pescadores de águas turvas.
Falar em Parasar, decorridos 18 anos, torna obrigatório que se faça um retrospecto, pois somente hoje os que contam trinta ou mais anos de idade é que poderão ter alguma informação - e ainda assim nem se sabe se correta - sobre o assunto.
Derrotados em 1964, quando já se julgavam muito próximos da tomada do poder, os esquerdistas - e sob esta denominação se incluem todos os grupos e matizes, do vermelho ao róseo, dos de obediência moscovita aos cubancheros, maoístas, albaneses, etc. - passado o primeiro impacto, passaram a organizar-se para o que hoje eufemisticamente chamam de “luta armada”, expressão que deve ser entendida como guerrilha e terrorismo.
Em livro recentemente publicado, ex-terrorista explicita, clara e expressamente, os objetivos desses grupos esquerdistas: “a destruição das instituições burguesas, das forças de representação políticas tradicionais, do aparelho judiciário e das Forças Armadas”. Como se vê, não estava a esquerda interessada na restauração da plenitude democrática, muito ao contrário...
O ano de 1968 marca o início dos choques entre estudantes, manipulados pelos ativistas da minoria esquerdista, e as forças encarregadas, constitucionalmente - ainda não fora instituído o AI-5 -, de manter a Lei e a Ordem.
Em um desses choques, no Rio, morreu um estudante, o que levou a esquerda a promover uma manifestação contra o governo e contra o regime, no dia 4 de abril de 1968. Para evitar mais graves perturbações da ordem pública, montaram as autoridades uma operação de policiamento preventivo, a ser executada pelas três Forças Armadas, sob comando do Exército, mais precisamente do comandante da Divisão Blindada. Esse comandante era o general Ramiro Tavares Gonçalves, velho conhecido dos paulistas, pois ali serviu durante largo período e já há muito na reserva depois de ter atingido o mais alto posto da hierarquia.
A participação da Aeronáutica nessa operação de policiamento foi quase simbólica, pois, como ninguém ignora, é pequeno o seu contingente de terra representado pela Infantaria de Guarda. A pedido do Exército, a 3ª Zona Aérea (hoje 3º COMAR) pôs à disposição do comandante da Divisão Blindada uma minúscula Unidade: a 1ª Esquadrilha Aeroterrestre de Salvamento, comumente conhecida por Parasar.
Em face de maliciosas distorções ou de generalizada ignorância é de se esclarecer, desde logo, que o Parasar é uma Unidade militar, não um grupo do Exército da Salvação, nem de escoteiros ou de bombeiros amadores. Suas funções foram definidas por Portaria expedida durante o governo de João Goulart e compreendem prestar socorro às vítimas de acidentes aeronáuticos, assegurar a sobrevivência e o resgate de aeronaves acidentadas, e executar missões especiais (grifado pelo autor do artigo) compatíveis com o preparo de seu pessoal. Militares profissionais, treinados para atuação em situações especiais de risco, os homens do PARASAR estavam adrede-recomendados para trabalhos como seria o de policiamento preventivo no dia 4 de abril de 1968, que poderia exigir rápida capacidade de avaliação, de decisão e de execução.
O comandante do Parasar era o então major Gil Lessa de Carvalho, da Infantaria de Guarda da Aeronáutica. Foi ele quem chefiou os 14 homens (grifado pelo autor do artigo) do Parasar (dois oficiais e 12 graduados) que, divididos em três grupos, participaram da operação de policiamento preventivo. Recebeu ele, juntamente com os outros dois oficiais - capitão Loris Arêas Cordovil e primeiro-tenente João Batista Magalhães - as necessárias instruções do general Ramiro Tavares Gonçalves que, em resposta a uma pergunta, esclareceu que se fossem agredidos ou atacados por perturbadores da ordem os homens do Parasar, que estavam armados, deveriam defender-se. Ponto final.
A operação decorreu, felizmente, sem quaisquer incidentes.
Registre-se, logo, que com essa operação nada teve a ver o brigadeiro-do-ar João Paulo Moreira Burnier. Aliás, ele acabara de ser elevado ao generalato, recebendo suas primeiras estrelas e, aguardando designação, encontrava-se à disposição do gabinete do Ministro da Aeronáutica, então o marechal-do-ar Márcio de Souza e Mello.
Àquela época, servia no Parasar, embora não fosse oficial combatente mas intendente, um capitão que, por ocasião da operação de policiamento realizada no dia 4 de abril, nem sequer estava no Rio, mas em Manaus, em gozo de férias.
Retornando ao Rio, esse capitão soube da participação do Parasar, por comentários de terceiros, não tendo qualquer informação direta pela simples razão de sua ausência do Rio. Apesar disso e como se fosse competente para decidir o que as unidades da Aeronáutica devem ou não fazer, passou a fazer críticas sobre a participação do Parasar, afirmando - é de pasmar - que os seus homens só poderiam ser escalados para “missões humanitárias...”
Esta é a base factual do chamado “Caso Parasar”. Nessa linha de comportamento que configurava transgressão disciplinar, o capitão intendente, por motivos que objetivamente se ignoram, mas que se pode imaginar, licitamente, tivessem bases pessoais, ideológicas e políticas, passou a promover sub-reptícia campanha contra o brigadeiro João Paulo Moreira Burnier, um dos mais prestigiosos militares da FAB, chefe de família modelar, profissional de sólida reputação, democrata provado, anticomunista convicto e um dos articuladores da Revolução de 1964 e, nesse dia, coordenador da defesa do Palácio Guanabara, no Rio de Janeiro.
Obviamente, as críticas e insinuações do capitão intendente, propaladas à sorrelfa, à socapa, não poderiam passar in albis para os escalões superiores da FAB e para o próprio Ministro da Aeronáutica. Descobriu-se que as “idéias” dele a respeito da atuação do Parasar - as quais configuravam erronias e heresias do ponto de vista militar - estavam infeccionando aquela pequena Unidade, sendo que a infecção já contaminava algumas outras, como, por exemplo, o 1º Esquadrão de Reconhecimento Fotográfico, com sede no Campo de Marte, em São Paulo.
O Ministro da Aeronáutica entendeu que era preciso pôr fim a isso, por meio de instrução a tais unidades. Foi assim que designou o brigadeiro Burnier, que então respondia interinamente pela chefia de seu gabinete, para fazer uma palestra para os homens do Parasar.
Tal palestra não foi clandestina. Foi realizada no dia 14 de junho de 1968, na sala do Ajudante-de-Ordens do gabinete do Ministro. Nela, Burnier deixou claro que o Parasar era uma Unidade militar e como tal podia ser empregada não apenas em missões específicas de rotina, mas também em missões especiais, à vista do treinamento especializado de seus homens.
Exemplificando, para fins didáticos, lembrou a propósito a atuação de unidades semelhantes dos Estados Unidos na guerra do Vietnã: para resgatar feridos e acidentados, elas com freqüência tinham de combater como qualquer outra Unidade - o que, aliás, o cinema tem mostrado à farta. Por outras palavras, o Parasar podia - e pode - ser empregado em missões propriamente militares, até de combate, além de suas tarefas de busca e salvamento.
Por outro lado, Burnier procurou explicar o que são missões especiais, determinadas pela cadeia hierárquica de comando e acentuou que elas não se confundem com o que, impropriamente sob essa denominação, se realizara durante o governo de João Goulart com o objetivo de assassinar o governador da Guanabara, Carlos Lacerda, missão - como se recorda - comandada por um general, “O Faz Tudo”, e que terminou em rotundo fracasso.
Dos 7 oficiais do Parasar que assistiram à palestra de Burnier, 6 entenderam-na perfeitamente e sempre declararam, confirmaram e corroboraram que, em síntese, esse fora o cerne dela. Somente um Oficial - aquele mesmo capitão intendente - nada entendeu ou entendeu às avessas.
Nada tendo entendido, como se pode perfeitamente concluir, isso não o impediu de passar a propalar uma versão, por ele fabulada, de que o brigadeiro Burnier pregara o emprego do Parasar na liquidação de adversários do regime e do governo e na prática de atentados como explosão de gasômetros, postos de gasolina, etc., do que se culparia, depois, os comunistas. Atente-se para, que, inicialmente, se acusava Burnier, só de preconizar o emprego do Parasar para isso ao longo de 18 anos, a fabulação foi-se ampliando e já se chegou a dizer que o tal capitão impediu a execução desses crimes e atentados, como se realmente em algum momento tivesse sido dada alguma ordem nesse sentido.
O capitão intendente veio a sofrer penalidades disciplinares pelas transgressões que insistia em cometer. Mas, tantas pintou e bordou que contra ele se instaurou um processo final, nos termos da legislação então vigente, que englobou tudo e que terminou com a proposta de seu alijamento da Força Aérea Brasileira e de cassação de seus direitos políticos por 10 anos.
Esse processo foi presidido pelo coronel Evandro Lima Araújo, hoje tenente-brigadeiro da reserva, e a proposta de punição acolhida pela Junta Militar que exerceu o Poder Executivo no impedimento, por moléstia, do marechal Costa e Silva. Entre os episódios iniciais e a punição medeou mais de um ano, a evidenciar que não foi uma decisão tomada de afogadilho, mas sim uma decisão que resultou de investigações e da colheita de provas.
Tudo isso foi narrado, minudentemente, pelo jornal O Estado de São Paulo, cuja isenção e responsabilidade são notórias, em suas edições de 5 de outubro de 1968 e em 12 de março de 1978, relatos esses jamais contestados. E foi à luz da apuração dos fatos realizada pelo jornal que o campeão da luta pelas liberdades democráticas, Júlio de Mesquita Filho, em editorial publicado no seu jornal, em 6 de outubro de 1968, fez o diagnóstico do chamado “Caso Parasar”:
“Estamos, portanto, diante de um novo episódio da campanha sub-reptícia que os derrotados de março de 1964 desenvolvem na área militar para quebrar primeiro a unidade de cada Arma e, depois, a união das três Forças Armadas”.
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