As origens da Tricontinental de Havana
Carlos I. S. Azambuja
em 17 de novembro de 2005
Resumo:Depois de Bandung, as sucessivas reuniões “de solidariedade” foram sempre marcadas pela propaganda destinada a favorecer os objetivos comunistas de dominação mundial.
© 2005 MidiaSemMascara.org
Resumo:Depois de Bandung, as sucessivas reuniões “de solidariedade” foram sempre marcadas pela propaganda destinada a favorecer os objetivos comunistas de dominação mundial.
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“El Gobierno de Cuba rechaza categóricamente estas calumnias, confirma que jamás ha interferido en los asuntos internos de esta hermana nación, y responsabiliza totalmente de esta maniobra propagandística a los agresivos planes del imperialismo contra Cuba y contra Lula” (Trecho da Nota do embaixador de Cuba no Brasil, Pedro Nuñez Mosquera, a respeito da reportagem da revista Veja, que denunciou a entrega de dólares cubanos ao PT).
A Conferência de Solidariedade aos Povos da África, Ásia e América Latina (OSPAAAL), mais conhecida como Conferência Tricontinental, foi realizada em Havana em janeiro de 1966 e, por proposta de um dos delegados, o então deputado Salvador Allende do Partido Socialista Chileno, foi aprovada a constituição da Organização Latino-Americana de Solidariedade (OLAS) no ano seguinte, também em Havana.
Todavia, poucas pessoas têm um entendimento seguro do que tenha sido a Tricontinental, objeto deste artigo.
Os anos 50 e 60 do século passado foram uma época em que o imperialismo comunista buscava ampliar, por todos os meios, sua esfera de influência. Assim, programou uma série de conferências em diversos países, sob o disfarce de anti-colonialismo, objetivando expandir a doutrina do marxismo-leninismo e captar grupos de influência e, principalmente, dar instruções sobre a subversão aos partidos e organizações ideologicamente dependentes de Moscou e Pequim.
A primeira dessas conferências foi realizada em Bandung, Indonésia, em abril de 1955. Essa conferência foi patrocinada pela China e dela participaram 29 países afro-asiáticos. Seus principais postulados foram promover a solidariedade afro-asiática, buscar a coordenação de esforços na luta anti-colonialista e ajudar os povos colonizados em suas lutas de libertação.
Depois de Bandung, as sucessivas reuniões “de solidariedade” foram sempre marcadas pela propaganda destinada a favorecer os objetivos comunistas de dominação mundial.
A seguir foi realizada no Cairo, Egito, a I Conferência de Solidariedade dos Povos Afro-Asiáticos (OSPAA), no período de 26 de dezembro de 1957 a 1 de janeiro de 1958, com a presença de cerca de 500 delegados. Entre os resultados dessa Conferência se destaca a constituição de um “Conselho de Solidariedade aos Povos Afro-Asiáticos”, com sede no Cairo, que na época, ademais, servia de sede de diversas organizações extremistas. Isso permitiu aos chineses e soviéticos estreitar suas relações com as lideranças políticas dos países africanos.
Como conseqüência da acelerada independência das antigas colônias africanas, foi considerado conveniente celebrar a II Conferência de Solidariedade em Conakry, Guiné. E ali, em abril de 1960, se consolida definitivamente o Movimento de Solidariedade dos Povos aos Povos Afro-Asiáticos (OSPAA). Nessa Conferência foram criados os órgãos de direção da OSPAA: uma Conferência, um Conselho, um Comitê Executivo com delegados de 27 nações, e um Secretariado permanente com 12 países, entre os quais, como é lógico, estavam a URSS e a China. Foram também instalados dois outros organismos: O Fundo de Solidariedade Afro-Asiática e o Birô de Escritores e Autores Afro-Asiáticos. O Fundo, com dinheiro soviético, deveria ajudar os nascentes movimentos de libertação nacional da África, e o Birô deveria desenvolver uma campanha de propaganda da OSPAA.
A III Conferência da OSPAA foi realizada em Moshi, Tanganica, de 4 a 10 de fevereiro de 1963 com a participação de cerca de 400 delegados e, pela primeira vez, alguns observadores da América Latina. Foi nessa Conferência que se materializou a idéia de expandir as atividades à “nossa América”. Foi constituído um Comitê composto por 18 membros (6 africanos, 6 asiáticos e 6 latino-americanos) com o objetivo de estudar a melhor forma de estender os tentáculos da OSPAA à América Latina.
A IV Conferência foi realizada em Acra, Ghana, em 9/16 de março de 1965, com a presença de 300 delegados de 70 organizações e partidos comunistas da África, Ásia e América Latina. Centrando-se a discussão, como sempre, no aperfeiçoamento dos meios de agitação, propaganda e subversão. A Conferência dedicou uma atenção especial aos problemas latino-americanos e decidiu que a V Conferência fosse realizada em Havana.
A eleição de Havana para sede da V Conferência não foi casual. Teve como objetivo identificá-la com os “povos que buscam sua liberação seguindo o exemplo de Cuba” e tratando de reforçar a posição do governo de Fidel Castro que, desde que assumiu o Poder, em 1959, tornara-se o principal instrumento de subversão na América Latina.
Assim, a V Conferência da Tricontinental foi realizada em Havana em janeiro de 1966. A sua finalidade principal foi a de incrementar ao máximo os movimentos revolucionários, coordenar a forma de realizá-los e fortalecer o apoio moral e material para torná-los mais efetivos. Participaram 83 delegações com 513 delegados, das quais 27 delegações da América Latina. Além disso, cerca de 150 observadores e convidados especiais assistiram a Conferência. A delegação soviética estava composta por 40 membros. Também participaram 129 jornalistas de 35 países.
A seguir, em 15 de janeiro, Fidel Castro pronunciou um longo discurso no qual afirmou que “Neste continente, em todos ou quase todos os povos, a luta assumirá as formas mais violentas e, quando se sabe disso, o mais correto é preparar-se para quando essa luta chegue”.
Um telegrama da United Press, datado de Caracas, 31 de janeiro de 1966, assinalou que um informe secreto emanado de Havana dava conta da criação da Organização Latino-Americana de Solidariedade (OLAS), conforme assinalado acima, no primeiro parágrafo. Também o jornal “Le Monde”, em sua edição de 20 de janeiro de 1966, publicou uma correspondência enviada pelo seu correspondente em Havana, assinalando que Fidel Castro manteve uma reunião a portas fechadas, durante 12 horas, com os delegados dos países latino-americanos. Nessa reunião foram estudadas as condições de luta nos diversos países, chegando-se à conclusão de que era necessário coordená-las adequadamente. E para coordená-las, foi constituída uma comissão composta por delegados de 9 países da América Latina para preparar a reunião de criação da Organização Latino-Americana de Solidariedade (OLAS) que seria realizada no ano seguinte.
Na Conferência Tricontinental o sacerdote guerrilheiro colombiano Camilo Torres, militante do Exército de Libertação Nacional, fez sua primeira aparição em público. Um mês depois, em 16 de fevereiro, seria morto em combate.
Finalmente, Che Guevara, que estava a caminho da Bolívia e cujo paradeiro não era conhecido, enviou uma mensagem à Tricontinental. Nessa mensagem ele assinala: “América, continente esquecido pelas últimas lutas políticas de liberação, que começa a fazer-se sentir através da Tricontinental, na voz de vanguarda de seus povos, que é a revolução cubana, terão uma tarefa de muito maior relevo: a criação do segundo e terceiro Vietnã do mundo”.
Ao descrever as condições básicas que devem ter os combatentes, assinalou a necessidade do ódio: “O ódio como fator de luta, o ódio intransigente ao inimigo, o ódio que impulsiona mais além das limitações naturais do ser humano e o converte em uma efetiva, violenta, seletiva e fria máquina de matar. Nossos soldados têm que ser assim, pois um povo sem ódio não pode triunfar sobre um inimigo brutal”.
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