Fake History versus True History
Félix
Maier
https://felixmaier1950.blogspot.com/2021/04/felix-maier-curriculum-vitae.html
Há um axioma que diz que a História das guerras é sempre contada pelos vencedores, nunca pelos vencidos. E que, devido a isso, a História precisa ser reescrita continuamente, com base em novos documentos e pesquisas, ou fatos que foram deliberadamente sonegados aos historiadores, de modo que a verdade seja restaurada.
A revisão histórica é benéfica, sem dúvida, desde que os críticos se atenham a critérios científicos tão ou até mais rigorosos do que aqueles que nortearam a história original.
Antonio Giusti Tavares afirma em seu livro “Totalitarismo Tardio - o caso do PT”, à pg. 194:
“Juízos de valor acerca de condutas do passado devem ser feitos não a partir de parâmetros éticos do presente, mas da contextualização da conduta na sua própria época, e nela, por comparação com condutas diferentes. Os historiadores e os cientistas sociais devem cumprir pelo menos dois requisitos básicos da epistemologia e da ética das ciências humanas: 1) evitar tanto quanto possível qualquer restrição ou seleção dos fatos brutos e 2) ao apresentá-los, distinguir sempre, tanto quanto possível, entre fatos e interpretações”.
A História do Brasil, nas últimas décadas, é contada principalmente pelos que foram derrotados pelo Movimento 31 de Março de 1964, ou seja, é contada sob a ótica marxista-gramscista dos terroristas comunistas derrotados e dos “guerrilheiros da pena”, que são os historiadores comprometidos com a ideologia da extrema esquerda, que quis impor ao Brasil um sistema comunista totalitário (me desculpem o pleonasmo), como o que existe em Cuba. Para esses impostores, a “ditadura” brasileira se resume a perseguição política, tortura e assassinatos, em vez de apresentar honestamente os acertos e erros cometidos.
Eis
o que afirma o ex-comunista Olavo de Carvalho,
em depoimento à “História Oral do Exército - 1964”:
“Minha satisfação de estar presente,
neste momento, deve-se sobretudo à natureza deste projeto, a de uma memória da
História do Brasil que está sendo apagada; a
memória do que se passou nos últimos quarenta anos está sendo totalmente
apagada, caricaturada, recortada, reescrita, safenada, já fizeram ‘o diabo’ com
essa história. E é importante lembrar que, ao eclodir a Revolução, eu me
encontrava exatamente do lado contrário. Quer dizer, não posso de maneira
alguma ser acusado de ter algum preconceito a favor do Movimento de 31 de Março
de 1964. Muito aos poucos, revendo o que se passou, de maneira muito gradativa
e cuidadosa, fui mudando de opinião”
(“História Oral do Exército - 1964”, Tomo 3, pg. 102).
Não
há necessidade de abordar a crença cega de terraplanistas – embora existam aos
montes -, como os que acreditam que Lula da Silva é inocente, que Dilma
Rousseff sofreu golpe, que o PT não “róba” nem deixa “robá” (apud José Dirceu), que os ministros do STF atual (onde há “7 líderes do PT”)
defendem
a Constituição Federal, que Jair Bolsonaro é nazifascista etc. A propósito, cerca
de 285 anos antes de Cristo, Eratóstenes de Cirene descobriu que a Terra é redonda e
até conseguiu medir sua circunferência.
Do
“jornalismo marrom” dos jornais e revistas impressos ou eletrônicos aos fake news das redes sociais,
fatos históricos e notícias do dia a dia são constantemente vilipendiados, sem
dó, nem piedade. Como saber se um fato que aprendemos nos bancos escolares ou lemos
nos livros é fake history (história
falsa) ou true history
(história verdadeira)? Estudando,
pesquisando e lendo muito.
Vejamos
13 exemplos:
1. “O Brasil não é um país sério”
A frase Le Brésil n’est pas un pays serieux (O Brasil não é um país sério) é constantemente atribuída ao então Presidente da França, Charles de Gaulle. No entanto, trata-se de uma mentira, de uma fake history. A frase foi dita pelo embaixador brasileiro na França, Carlos Alves de Sousa, não pelo presidente Charles de Gaulle, devido à inabilidade com que o governo João Goulart conduzia a anedótica “guerra da lagosta”.
Esse confronto pastelão ocorreu entre o Brasil e a França, em 1963, na costa pernambucana, onde havia atividade de lagosteiros bretões na plataforma continental brasileira.
Essa fake history se mantém forte, provando a máxima de Joseph Goebbels, ministro da Propaganda na Alemanha nazista (1933-1939): “uma mentira dita mil vezes torna-se verdade”.
2. “Guernica, de Pablo Picasso, retrata o ataque nazista à
cidade basca de Guernica”
Desde sempre, aprendemos que a obra-prima de Pablo Picasso, a pintura Guernica, retrata o ataque da Legião Condor, de Adolf Hitler, no dia 26/04/1936, quando 43 aviões bombardearam a cidade basca de Guernica, na Espanha, durante a Guerra Civil Espanhola, matando cerca de 1.000 pessoas e destruindo 70% dos edifícios. E que esse ataque foi um “aquecimento” da força aérea nazista, para o início da II Guerra Mundial, ocorrido em 1939.
O
ataque de Hitler contra Guernica é true history, porém dizer que a obra
de Picasso foi para lembrar tal episódio é fake history, e serviu para
que os crimes dos comunistas e anarquistas na Guerra Civil da Espanha contra
padres e freiras fossem esquecidos, como nos ensina um historiador de verdade,
Paul Johnson:
“Para os propagandistas do Komintern - os melhores do mundo - foi um golpe de sorte surpreendente, e eles transformaram esse episódio no mais celebrado de toda a guerra. Picasso, a quem já tinham encomendado um grande painel para o Pavilhão da Espanha, na Feira Mundial de Paris, se aproveitou do episódio: o resultado, mais tarde, foi levado para o Metropolitan de Nova Iorque. Guernica ajudou a levar todo um segmento da opinião ocidental, inclusive as revistas Time e Newsweek, para o lado dos republicanos. Seguiu-se uma confusão cujos ecos ainda puderam ser ouvidos nos anos 80, mas quando o quadro foi solenemente pendurado no Prado, os sons das chacinas de Barcelona passaram despercebidos. A maneira como usaram Guernica para encobrir a destruição do POUM era típica do brilhantismo da propaganda do Komintern, conduzida por dois inspirados mentirosos profissionais, Willi Muenzenberg e Otto Katz, ambos assassinados, mais tarde, por ordem de Stálin” (JOHNSON, 1994: 281).
A tragédia serviu de “inspiração” para o comunista Pablo Picasso pintar uma obra-prima já concluída, que retratava apenas cenas de touradas, que seria exposta na Feira Mundial de Paris, mas que se tornou - bingo! - a tela “Guernica”.
Raras vezes na História houve um símbolo tão bem arquitetado quanto “Guernica”, pintura que originalmente retratava apenas uma tourada em Madri. Essa é a true history, mas, quem se importa com a verdade?
3. “Genocício americano: a guerra do Paraguai
O "historiador" José Chiavenato, em seu livro “Genocídio americano: a guerra do Paraguai”, tenta classificar Caxias e o Conde D'Eu como “genocidas”.
“Historiadores militares de gabarito assinalaram, nessa obra de
Chiavenato, mais de 30 erros históricos comprovados e outras tantas distorções
da verdade comprovando o relativismo e o absolutismo com que o autor manipulou
a história” (PEDROSA: 2008, 69).
Os cambás (pretos, em guarani) foram decisivos para a vitória brasileira:
“Muitas vezes as deserções eram tantas que batalhões inteiros dissolviam-se quando em marcha para o front. Na verdade, como temos notícia em cartas de Osório a Caxias, muitos brancos rio-grandenses também desertavam. Porém, negros da Corte ou de todo o vasto Império lutavam bravamente e eram raríssimos os casos de deserção. O bom, forte e sacrificado sangue africano foi decisivo e insubstituível nas conquistas da guerra e, portanto, para o seu desfecho, com a vitória triunfal do Império” (PERNIDJI, 2010: 55-56).
Vale
lembrar que Caxias levou uma novidade ao campo de batalha contra o Paraguai: o
balão aerostático, para reconhecimento das tropas e do número de canhões do
inimigo. Para tanto, trouxe o coronel polonês-americano Roberto Adolfo
Chodasiewicz, perito no assunto.
4. “A esquerda pegou em armas para derrubar a ditadura e
restaurar a democracia”
Essa frase é uma das mais deslavadas mentiras que a esquerda propala há décadas no Brasil, com muito sucesso, de que lutava pela volta da democracia.
É, de fato, true history dizer que a esquerda pegou em armas para derrubar a ditadura, não só no Brasil, mas em praticamente todos os países da América Latina. Ditaduras que surgiram, vale lembrar, não para benefício de um ditador ou de uma gangue totalitária, mas para combater grupos terroristas marxistas, de modo a evitar que seus países fossem tomados pelos comunistas. Porém, é fake history dizer que os grupos terroristas que infernizaram o Brasil quisessem a volta da democracia. O que de fato os terroristas marxistas queriam era implantar uma ditadura cruel, assassina, totalitária, como a existente em Cuba até hoje.
Vejamos
o que dizem dois antigos terroristas do Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR-8),
grupo que se notabilizou pelo sequestro do embaixador americano Charles Burke
Elbrick, em “frente” com a Ação Libertadora Nacional (ALN), de Carlos
Marighella. Tanto Fernando Paulo Nagle Gabeira, quanto Daniel Aarão Reis, sabem
do que estão falando:
"Todos os principais ex-guerrilheiros que se lançam na luta política costumam dizer que estavam lutando pela democracia. Eu não tenho condições de dizer isso. Eu estava lutando contra a ditadura militar, mas, se você examinar o programa político que nos movia naquele momento, [ele] era voltado para uma ditadura do proletariado. Então, você não pode voltar atrás, corrigir seu passado e dizer que estava lutando pela democracia. Havia muita gente lutando pela democracia no Brasil, mas não os grupos armados, que tinham como programa esse processo de chegar à ditadura do proletariado. A luta armada não estava visando a democracia, pelo menos em seu programa" (in “Gabeira afirma que seu objetivo e o de Dilma eram diferentes na luta contra a ditadura”, Folha de S. Paulo, de 25/08/2010. Acesso em 11/08/2022).
“As esquerdas radicais se lançaram na luta contra a ditadura, não porque a gente queria uma democracia, mas para instaurar o socialismo no país por meio de uma ditadura revolucionária, como existia na China e em Cuba. Mas, evidentemente, elas falavam em resistência, palavra muito mais simpática, mobilizadora, aglutinadora. Isso é um ensinamento que vem dos clássicos sobre a guerra. Falava-se em cortar cabeças, essas palavras não eram metáforas. Se as esquerdas tomassem o poder, haveria, provavelmente, a resistência das direitas e poderia acontecer um confronto de grandes proporções no Brasil. Pior, haveria o que há sempre nesses processos e no coroamento deles: fuzilamento e cabeças cortadas”. (Daniel Aarão Reis, antigo terrorista do MR-8, depois professor da UFF - O Globo, 29/03/2004).
5. “Pio XII, o Papa de Hitler”
Periodicamente, a mídia volta a insistir na mentira do milênio passado, de que o Papa Pio XII foi omisso e insensível frente ao massacre nazista promovido contra os judeus. Há vários livros que tentam difundir essa fake history, como "O Papa de Hitler", do embusteiro John Cornwell, um best-seller de anos atrás. Livros sérios, que desmentem a calúnia contra Pio XII, como "The Myth of the Hitler Pope", do rabino David Dalin, e "The Defamation of Pius XII", do filósofo Ralph McInnerny, continuam inacessíveis ao público em geral e nunca foram mencionados pelos historiadores e a mídia ideologicamente comprometidos com o anticlericalismo. Também nada se diz sobre o livro "A Santa Sé e a questão judaica (1933-1945)", de Alessandro Duce, professor extraordinário de História das Relações Internacionais nas Faculdades de Ciências Políticas e de Jurisprudência da Universidade de Parma, Itália.
Pesquisas recentes feitas nos Arquivos do Vaticano pelo historiador alemão Michael Feldkamp, que é arquivista-chefe do Bundestag (Parlamento Alemão), comprovam que o Papa Pio XII salvou cerca de 15.000 judeus.
A foto que aparece na capa do livro de John Cornwell, “O Papa de Hitler”, não é do Papa Pio XII, mas do cardeal Eugenio Pacelli, quando ainda não era Papa. Essa ilação do Papa Pio XII com a ditadura nazista não é apenas uma fake history. É um ato criminoso, feito deliberadamente para denegrir a figura do Papa e tentar dinamitar a Igreja Católica.
Eugenio Pacelli foi Núncio Apostólico na Baviera (1917-1925) e em Berlim (1925-1929). Encontrou-se, uma vez, com Mussolini, em 1932, como Cardeal Secretário de Estado, mas, como Papa, nunca! Pacelli jamais se encontrou com o Chanceler da Alemanha, Adolf Hitler.
Essa “lenda negra” contra Pio XII ainda faz muito sucesso, principalmente entre historiadores, anticlericais ou não, que não têm compromisso com a verdade.
Sylvio
Back, cineasta catarinense de Blumenau radicado em Curitiba, é autor de extensa
filmografia, com destaque para “A Guerra dos Pelados”, drama épico envolvendo
os caboclos fanáticos da Guerra do Contestado, que ocorreu em Santa Catarina no
período de 1912 a 1916. Uma espécie de Canudos barriga-verde, com um saldo de 10.000
a 20.000 mortos em combate ou em consequência de fome e de epidemias.
O
documentário “Rádio
Auriverde - A FEB na Itália”, de Sylvio
Back, é corretamente qualificado por muitos, inclusive por seu autor, como “o
filme mais odiado da história”. Esse filme, que pode ser considerado como um
“antidocumentário”, trata a campanha da Força Expedicionária Brasileira (FEB)
na Itália com sarcasmo e desprezo, qualificando nossos pracinhas como toscos,
mal-vestidos, sem instrução adequada para participar de um conflito que estava
praticamente decidido em favor dos Aliados. Ou seja, que foram usados como
“bucha de canhão” pelos ianques. Imagens hilárias diversas, como soldados
fazendo treinamento de lançamento de dardos e depois correndo como loucos nos
vales nevados da Itália, como se fossem baratas tontas, vedetes cantantes
diversas, como os sassaricos de Carmen Miranda, discurso de Getúlio Vargas e jingle
do Repórter Esso, imagens muitas vezes sem nexo, que são dubladas de modo a achincalhar
as ações dos integrantes da FEB. Claro, não podia faltar a canção Lili Marlene, um
hit que fez estrondoso sucesso, tanto entre os nazistas, quanto entre os
Aliados.
De
fato, segundo Joaquim Xavier da Silveira, autor do livro “A FEB POR UM
SOLDADO”, os pracinhas não tiveram um treinamento adequado e foram despachados
para a Itália com uniformes impróprios para um clima extremamente frio, com
neve no inverno. O Governo brasileiro relutava em mandar uma força
expedicionária para a Europa, o que ocorreu somente depois que os nazistas
afundaram 32 navios na costa brasileira, com 972 mortos. Havia uma frase famosa
na época: “É mais fácil a cobra fumar, que a FEB embarcar”. Essa é a origem
mais aceita entre historiadores, sobre a criação do emblema da FEB, “a cobra
está fumando”.
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O Brasil entrou na Guerra com uniforme, enxoval e placas metálicas de identificação dos pracinhas. Os EUA entraram com equipamento bélico, incluindo aviões e viaturas. Os pracinhas foram até vaiados quando a primeira tropa chegou em Nápoles, no dia 16 de julho de 1944, no navio-transporte norte-americano General Mann, devido à cor cinza do uniforme, confundidos com prisioneiros nazistas. Por isso, nas bases militares, os americanos forneceram capotes beges aos brasileiros.
É
fato que os brasileiros foram submetidos on the job training, ou seja,
ao treinamento durante a operação, devido à urgência de prosseguir nas
operações militares contra os nazistas na Itália.
Também
é fato que os pracinhas tinham saúde bucal péssima, de modo que houve cerca de
17.000 extrações de dentes durante o período na Itália, uma média de 50
extrações por dia.
Houve
também a deserção de um soldado brasileiro, B. L., descendente de alemães, que
se entregou ao inimigo. Posteriormente, ele foi reincluído na FEB, mas
suicidou-se no Acampamento de Lucky Steik, em Saint-Valéry, França.
Joaquim
Xavier da Silveira também relata o caso de 2 soldados brasileiros, do QG de
Retaguarda, que foram condenados pela Justiça Militar da FEB a fuzilamento, por
estupro de uma moça italiana e morte de um parente que tentou evitar o crime. A
execução deveria ser imediata, porém, só depois de ser comunicada ao Presidente
Getúlio Vargas. Getúlio comutou a pena para prisão perpétua, atenuada depois
para 30 anos, porém os condenados cumpriram apenas 6 anos de prisão. Entrou em
cena o tal “sentimentalismo brasileiro”, uma predileção nacional por criminosos
que permanece até hoje, como é o caso do ladravaz Lula da Silva, “descondenado”
pelo STF para concorrer à Presidência da República, e que está liderando as
pesquisas de intenção de voto.
O
Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP) não permitiu que Carlos Lacerda
fosse correspondente de guerra na Itália, honra concedida a Rubem Braga (Diário
Carioca) e Joel Silveira (Diários Associados).
O
comando do corpo expedicionário coube ao general Mascarenhas de Morais. Na
Itália, o contingente brasileiro foi incorporado ao V Exército americano, sob o
comando do General Mark Clark. O total dos efetivos da FEB chegou a 25.334
pessoas, que, em 239 dias de ação, capturaram 2 generais, 892 oficiais e 19.573
praças. As baixas da FEB foram as seguintes: mortos (13 oficiais, 430 praças e
8 oficiais da FAB); feridos e acidentados (1.577 feridos em ação de combate,
1.145 acidentados - dos quais 487 em ação); prisioneiros (1 oficial e 34
praças); extraviados (23, dos quais 10 enterrados como desconhecidos). As
vitórias brasileiras foram: Camaiore, Monte Prano, Monte Castello, Castelnuovo,
Montese, Zocca, Collecchio, Fornovo. As cinzas dos heróis brasileiros mortos no
conflito foram transladadas de Pistoia, Itália, para o Brasil no dia 05/10/1960
e repousam no Monumento Nacional dos Mortos da II Guerra Mundial, no Aterro do
Flamengo, Rio de Janeiro.
A
operação brasileira de maior destaque ocorreu em Fornovo, com a rendição da
148ª. Divisão alemã, comandada pelo General Otto Fretter Pico, quando foram
capturados 14.777 homens, 4.000 cavalos, 80 canhões de diversos calibres e mais
de 1.500 viaturas, além de munição e material diverso.
Muitos
militares brasileiros foram condecorados pelos americanos com a medalha Bronze
Star, por ato de bravura em combate. Uma falha grave cometida pelas
autoridades brasileiras, que somente condecoraram os pracinhas depois do
término da guerra.
As
ações corajosas dos pracinhas contra os alemães, em combates sangrentos, foram
reconhecidas pelos generais americanos. Nunca os ianques confiariam operações
como a Tomada de Monte Castelo a uma tropa estropiada, sem preparo e sem
comando, como sugere o antidocumentário de Back. Dentre os oficiais que lutaram
na Itália, teve destaque o futuro Presidente do Brasil, Coronel Humberto de
Alencar Castello Branco, Chefe de Operações, que se impôs junto ao comandante,
General Mascarenhas de Moraes, em face de seu talento e preparo técnico para a
guerra.
Vernon A. Walters, oficial-de-ligação do Exército
dos EUA junto à FEB, que além do inglês falava fluentemente alemão, espanhol, francês, holandês, italiano,
russo e português, disse o seguinte
sobre Castello Branco:
“Dotado de inteligência brilhante, impacientava-se com a incompetência e
não tolerava a fraqueza e a mentira. Nunca hesitou em expressar seus pontos de
vista, quer aos superiores hierárquicos, quer aos oficiais norte-americanos.
Jamais o vi embaraçado, arrogante ou servil” (WALTERS, 1986: 122).
As ações desempenhadas pelos pracinhas na Itália,
de vitória em vitória, falam por si só. Não há quem possa manchar essa heroica
história da FEB, como nos garante o general Carlos de Meira Mattos, por mais que anarquistas e baderneiros do nitrato
de celulose como Sylvio Back tentem: “A
nossa FEB brilhou. Não ficou atrás, em operações guerreiras, de nenhuma outra
das unidades que combateram ao seu lado.”
7. “Se não têm pão, que comam
brioches”
Rainha Maria Antonieta
Essa frase muito conhecida, “se não têm pão, que comam brioches”, é atribuída à rainha Maria Antonieta, esposa do Rei Luís XVI, que estaria demonstrando sua grande insensibilidade frente à população pobre da França, que passava fome. Certamente, essa frase foi usada pela Revolução Francesa para decapitá-la na guilhotina, na Praça da Concórdia, onde atualmente há um obelisco de 230 toneladas, originado de Lúxor, no Alto Egito, doado à França pelo vice-rei egípcio Mohammed Ali, em 1831.
Porém,
trata-se de mais uma fake history, difícil de ser desfeita, por mais que
os séculos se sucedam. Não há, absolutamente, registro algum que tal frase
possa ser atribuída à rainha Maria Antonieta.
Na Wikipédia, consta
que a biógrafa de Maria Antonieta,
Antonia Fraser, escreveu em 2002:
“’Que comam brioche’ foi dita cem anos antes dela, por
Maria Teresa, a esposa de Luís XIV. Trata-se de uma frase insensível e
ignorante, e Maria Antonieta não era nem uma coisa nem outra.”
8. “A Guerra dos Mundos”
“A Guerra dos Mundos”, uma guerra fake
Em 1938, na véspera do Dia das Bruxas, ocorreu um mal-entendido, que hoje seria denominado como uma fake news histórica. O ator, diretor e produtor norte-americano Orson Welles criou um programa radiofônico, “A Guerra dos Mundos”, onde dramatizava a invasão terrestre sendo feita por alienígenas, com gritos pavorosos ao fundo.
Tudo
não passava de uma brincadeira. Porém, muitos nova-iorquinos deixaram suas
casas apavorados, fugindo sem direção, ocasionando um colapso na cidade.
Em 1949,
a encenação de “A Guerra dos Mundos” em Quito, capital do Equador, terminou com
a rádio
incendiada e pelo menos 6 mortos.
Em 2005, foi lançado o filme “Guerra dos Mundos”, com Tom Cruise.
9. “Os Protocolos dos Sábios de Sião”
Publicado
pela primeira vez na Rússia, em 1903, o livro “Os Protocolos dos Sábios de
Sião” continha falsas atas sobre uma reunião do fim do século 19, que tratava
de uma alegada conspiração dos judeus para dominar o mundo, controlando a
economia e a imprensa.
Obra-prima
da desinformação, “Os Protocolos dos Sábios de Sião” são uma fake history
que ainda faz muito sucesso entre antissemitas, islâmicos e distraídos.
O
ex-ministro do STF, Maurício Corrêa, explica como essa fake history foi
construída:
“Os
séculos XIX e XX podem ser definidos como aqueles em que as atividades
antissemitas mais se aprofundaram. Dois episódios se avultam: a acusação de
traição de um judeu, no caso o capitão Dreyfus, na França, que notabilizou
Émile Zola em Eu acuso, condenado, em seguida, em 14 de outubro de 1894, por um
tribunal militar, e posteriormente inocentado, após o cumprimento de parte da
pena em Caiena, na Guiana Francesa; e a publicação na Rússia, em 26 de agosto
de 1897, no jornal Znamia dos chamados Protocolos dos Sábios de Sião, que
seriam uma obra composta por judeus para ‘dominar o mundo e aniquilar a
cristandade’ e na qual os seus ideólogos, supostamente, organizam a derrubada
da monarquia cristã da Alemanha e a ruína da aristocracia russa, preparando-se
para reinar sobre o mundo e para reduzir os não judeus à condição de escravos.
Essa publicação foi intensamente explorada em todo o mundo. Em 1921,
especialmente por uma carta de um leitor turco remetida ao jornal inglês Times,
que declarava a obra autêntica, descobriu-se que tinha sido escrita por um
emigrado russo em Paris, Pierre Ratchovsky, colaborador da polícia czarista,
que por sua vez havia plagiado um panfleto francês, editado em Bruxelas em
1864, por Maurice Joly, esse, sim, redigido contra Napoleão III, em que, em
nenhum momento, menciona algo sobre judeu. Desmascarada a grande farsa, ninguém
pôde mais refrear o grande desastre causado! Com esse cenário e diante de todo
um quadro peculiar da época, chega-se a 30 de janeiro de 1933, em que von
Papen, achando possível controlar o futuro Führer, sugeriu ao presidente
Hindenburg que nomeasse Hitler para o cargo de chanceler alemão. Foi o
princípio do fim”
(Maurício Corrêa, ex-ministro do STF, in
“Judeu, Racismo e o Rosh Hashaná”, Correio
Braziliense, 19/09/2004).
Durante a ditadura getulista, que flertou com o nazismo, “Os Protocolos” faziam muito sucesso, inclusive entre militares, em edições lançadas por Gustavo Barroso, no período de 1917 a 1936. Para grupos terroristas islâmicos, como o Hamás, “Os Protocolos” são o livro mais importante depois do Corão.
10. “Os marmiteiros do Brigadeiro Eduardo Gomes”
Durante
a campanha presidencial de 1945, o Brigadeiro
Eduardo Gomes ia bem nas pesquisas, contra o General
Eurico Gaspar Dutra, até que um boato maldoso, de que “não precisava dos votos
dos marmiteiros”, o tirou do páreo.
Tal fake
news se referia aos trabalhadores pobres, que levavam a marmita de comida
até o local de trabalho. A partir daí, com apoio de Getúlio Vargas, Dutra
passou a ser o preferido entre a classe trabalhadora, vencendo o pleito.
Não
há um registro histórico sequer que comprove a fala do Brigadeiro contra os
“marmiteiros”, uma mentira provavelmente plantada por algum dono de jornal.
Durante
sua campanha presidencial, os aliados de Eduardo Gomes vendiam doces, para
angariar fundos, que passaram a ser conhecidos como “brigadeiros”.
Eduardo
Gomes foi um dos sobreviventes da Revolta dos 18 do Forte de Copacabana, em
1922, e foi o comandante do 1º. Regimento de Aviação contra o levante conhecido
como Intentona Comunista.
Em
1950, Eduardo Gomes foi novamente candidato à Presidência da República,
perdendo para Getúlio Vargas.
Em
1960, Eduardo Gomes foi promovido a Marechal-do-Ar. É também o patrono da Força
Aérea Brasileira (FAB).
11. “Armas de destruição em massa no Iraque”
Supostos
laboratórios móveis de armas biológicas no Iraque
A
guerra desenvolvida pelos EUA contra o Iraque, em 2003, a tal “Operação
Liberdade Iraquiana”, tinha como motivação uma fake news, de que o
regime de Saddam Hussein tinha enorme quantidade de armas de destruição em
massa, as quais jamais foram encontradas.
De
fato, Saddam Hussein chegou a usar armas químicas contra os curdos, no Norte do
Iraque, em 1988, por obra de um primo, Ali Hassan al-Majid, o “Ali Químico”.
Também se sabia que Saddam desenvolvia armas biológicas e apostava na
construção de arma nuclear, que nunca chegou a ser concretizar.
O thriller
desenvolvido no livro “O Punho de Deus” (The Fit of God), de
Frederick Forsyth, lançado em 1994, que apresenta interessante jogo de
espionagem e avanço tecnológico dos sistemas de comunicações e de armamentos,
tendo como pano de fundo o Iraque de Saddam Hussein em busca da fabricação de
uma devastadora arma de destruição em massa - “O Punho de Deus” -, fez muito
sucesso na época.
Segundo
reportagem da
BBC, de 19/03/2013, dois espiões iraquianos, repassando informações falsas,
ajudaram a provocar a guerra no Iraque, em 2003. O fato é que o MI6 britânico e
a CIA americana compraram o “ouro de tolo” de olhos fechados, as supostas
“armas de destruição em massa”. Tony Blair e George W. Bush foram enganados. Mas,
foram mesmo enganados?
O
ex-secretário de Estado do governo George W. Bush, Colin Power, tentando se
redimir posteriormente, lamentou profundamente o equívoco que foi a guerra
contra o Iraque, dizendo que foi “o maior fracasso de sua carreira”. Porém,
jamais uma autoridade americana chegou na TV para pedir desculpas pelo genocídio
ocasionado no Iraque - algo entre 150 mil e 500 mil mortes.
A
meu ver, havia pelo menos dois grandes motivos para que a guerra contra o
Iraque ocorresse, em 2003.
O
primeiro motivo foi o lobby dos “senhores da guerra”, dos fabricantes de
armas, junto às autoridades americanas, tanto políticas, quanto militares. E
aí, a meu ver, entrou com vigor a figura do político e homem de negociatas Donald
Rumsfeld, então Secretário de Defesa dos EUA. Afinal, os
“senhores das armas” tinham que ser prestigiados, pois havia necessidade de
combater o “terrorismo islâmico” em todos os cantos do mundo, e estava em curso
uma campanha militar no Afeganistão, depois dos ataques contra as Torres
Gêmeas, em Nova York, e o Pentágono, em Washington, em 2001. E o terrorismo latente
das tais “armas de destruição em massa” do Iraque precisava ter uma resposta
urgente. Resultado 1: nas guerras no Afeganistão e no Iraque, os EUA gastaram cerca
de US$ 8 trilhões. Resultado 2: o Iraque virou terra arrasada, dando origem ao
Estado Islâmico; o Afeganistão, depois de 20 anos de campanha americana, foi
novamente tomado pelos Talibãs.
O
segundo motivo para ocorrer a guerra contra o Iraque, a meu ver, foi de ordem
pessoal do presidente George Walker Bush. Ele quis finalizar o trabalho iniciado
pelo pai, George Herbert Walker Bush, que ficou incompleto, a letal e
espalhafatosa Guerra do Golfo, ocorrida em 1991 para “libertar o Kuwait”, pois
o ditador Saddam Hussein continuava no poder, mais forte que nunca.
Acima,
eu coloquei terrorismo islâmico entre aspas, porque, antes de você falar em
terrorismo islâmico, é preciso que se fale com todas as letras sobre o
terrorismo daqueles que arrasaram inteiramente o Iraque, tornando o país terra
de ninguém - o terrorismo dos EUA. Ao mesmo tempo, deve-se dizer também que
centenas de milhares de iraquianos foram mortos sem necessidade, muitos deles
vítimas de câncer, inclusive crianças, devido ao uso criminoso de ogivas com urânio
depletado (urânio enfraquecido), com a indiferença da ONU, cuja inocência já
foi para o brejo faz tempo.
Armas
de destruição em massa? Se houve destruição em massa no Iraque não foi obra de
Saddam Hussein, mas dos americanos, que arrasaram completamente o país.
Conheça
as reais vítimas das “armas de destruição em massa” no Iraque, especialmente as
crianças da “Hiroshima Iraquiana”, clicando aqui.
12. “A Amazônia é o pulmão do
mundo”
Rio Amazonas visto do espaço
A Amazônia não é o pulmão do mundo, como até os bispos da CNBB apregoaram, ao anunciarem o “Sínodo sobre a Amazônia”, que foi realizado em 2019 no Vaticano. É uma fake history que se mantém cada vez mais sólida, como afirmar que existem “raças humanas”, um conceito superado pela ciência depois que foi feito o sequenciamento genético do homo sapiens.
A
floresta tropical da Amazônia consome praticamente todo o oxigênio que produz,
por ser uma floresta antiga. Só árvores novas, em crescimento, produzem mais
oxigênio do que consomem. Isso eu aprendi ainda no ginásio, na década de 1960. São as algas dos oceanos, rios e
lagos nossa principal fonte de oxigênio e ponto final.
Há trinta anos, no início dos anos de 1990, houve uma campanha internacional pela preservação da Amazônia, como ocorre atualmente durante o Governo de Jair Bolsonaro, muito bem orquestrada por ONGs e governos do Primeiro Mundo, no rastilho de pólvora que foram a morte do seringueiro e "defensor da Amazônia" Chico Mendes, o mentiroso genocídio de índios ianomâmis inventado na época por uma freira e a cena teatral feita em torno da criação da reserva indígena Ianomâmi, uma interferência indevida de estrangeiros em assuntos nacionais. Até Bush father cobrou providências ao presidente Fernando Collor, nos EUA, depois de chamá-lo de Indiana Jones, por voar em jato da FAB e fazer acrobacias em jetsky no Lago Paranoá, em Brasília.
Na época, o ministro do Exército, General Leônidas Pires Gonçalves, apresentou uma palestra sobre a Amazônia, que teve boa repercussão, desmentindo que a Floresta Amazônica seja o "pulmão do mundo".
A Amazônia é importante no contexto climático global. Ninguém em sã consciência é a favor de seu desmatamento total e de queimadas sem controle que, nas últimas décadas, aumentaram consideravelmente. A real preocupação quanto ao oxigênio que respiramos deve ser direcionada à saúde dos rios, lagos, mares e oceanos, hoje verdadeiros despejos de esgotos e materiais que levam centenas de anos para se decomporem, como as garrafas PET. Nesse sentido, é extremamente importante o projeto ecológico Voz dos Oceanos, da família Schürmann.
Outra fake history repetida todo ano é que o nível dos oceanos vai aumentar dezenas de metros. Bye bye New York, bye bye Rio de Janeiro, bye bye Abu Dhabi, bye bye Balneário Camboriú!
A propósito, quanto mais falam em
aumento do nível dos oceanos, prédios cada vez mais altos são construídos em
Abu Dhabi e Camboriú. Pelo visto, os financistas desses empreendimentos não dão
a mínima importância para o derretimento das geleiras das calotas polares.
Abu
Dhabi, capital dos Emirados Árabes Unidos
13. “Atentado terrorista do Riocentro”
Puma
com o cadáver do Sargento Guilherme Pereira do Rosário
“Na noite de 30 de abril de 1981, durante um show de música
popular para 20 mil jovens, uma bomba explode dentro de um automóvel que
manobrava no estacionamento do Riocentro, na Barra da Tijuca. Morto no seu
interior o Sargento Guilherme Pereira do Rosário; gravemente ferido abandona o
veículo semidestruído o Capitão Wilson Luís Chaves Machado, ambos do
Destacamento de Operações de Informações do 1º Exército sediado no Rio de
Janeiro. Minutos depois outra bomba, mais poderosa, é lançada e explode próximo
à casa de força do Riocentro. Como não atinge o seu alvo, não provoca a
escuridão geral que certamente ocasionaria o pânico no recinto fechado do show,
com consequências fáceis de se imaginar” (Major do Exército
Dickson Melges Grael, in “Aventura, Corrupção e Terrorismo - à sombra da
impunidade”, 2ª. edição, Editora Vozes, Petrópolis, 1985, pg. 81 e
82).
Basicamente,
o Inquérito Policial Militar (IPM) aberto na época foi uma farsa. No dia 30 de junho de 1981, o Coronel Job
Lorena de Sant’Anna apresentou o resultado de suas investigações à imprensa,
afirmando que os militares “foram vítimas de um atentado e a bomba havia
sido feita com um quinto de uma lata de 2,5 litros de óleo Havoline e colocada
entre a porta e o banco direito do Puma”.
Em 02/05/2005, eu postei um texto no site Usina de
Letras, “O
‘atentado’ do Riocentro”, que foi inicialmente rejeitado pelo
site Mídia Sem Máscara, porque eu estaria tentando “denegrir” a imagem do
Exército Brasileiro, mas depois foi publicado naquele site, em 2014, com
modificações no texto, disponível aqui. Nessa
publicação, dei ênfase ao conteúdo publicado no livro do Major Grael acima
citado e a uma reportagem da Folha de S. Paulo. O Coronel Dickson Melges
Grael, falecido em 1987, é pai dos
Grael (Lars, Torben e Axel) e avô de Martine Grael, todos velejadores
olímpicos, que já trouxeram inúmeras medalhas ao Brasil.
Em
depoimento à “História Oral do Exército - 31 de Março de 1964”, há duas
testemunhas importantes sobre o “atentado” do Riocentro, o Coronel Romeu
Antonio Ferreira e o General-de-Exército Octávio Aguiar de Medeiros. Pior: o
Coronel Ferreira informa que um ano antes, em 1980, ele havia sido convidado
para jogar uma bomba no Riocentro. Ainda pior que isso: o General Medeiros, no
depoimento, afirma que a cúpula do serviço de Inteligência do Exército sabia do
planejamento de um “atentado” no Riocentro, em 1981, e que o General Newton
Cruz havia afirmado a ele que os militares, incluindo o Capitão Wilson Machado,
foram convencidos a não agir. Porém, agiram. O General Medeiros também informa
como os artefatos levados pelo automóvel Puma até o Riocentro foram
construídos.
Eis
o depoimento do Coronel Ferreira:
“O Riocentro
ocorreu em 30 de abril, na véspera do feriado de 1º. de maio. Toda noite de 30
de abril para 1º. de maio havia um show no Riocentro em que a ideia era colher
recursos para o Partido Comunista Brasileiro, e a nossa gente gostava, desculpe
o termo, de ‘sacanear’ o pessoal do PCB.
Em 1980, eu já era o segundo
homem da estrutura do DOI. Dois anos antes, já não mais prendíamos, apenas
atuávamos colhendo informações, encaminhando-as. Naquela época, recebi uma proposta de algumas pessoas para jogar uma
bomba no Riocentro. Essa bomba era para estourar na caixa de força, com a
finalidade de apagar a luz e o show parar. Não era para ser jogada nem lá
dentro do Riocentro nem era para matar ninguém. A ideia era acabar com o show
do PCB por falta de energia. Discordei daquilo, não gostei da proposta, por
achar que era completamente extemporâneo, não tendo mais nada a ver com o clima
em que vivíamos naquela época. E proibi a ação; isso foi em abril de 1980 -
proibi a ação e ela não foi feita.
Em janeiro de 1981, fui
cursar a ECEME, pois tinha ingresso garantido, porque havia conseguido o
segundo lugar na EsAO. Logicamente, acredito, é uma suposição, uma especulação,
que o que ocorreu lá no Rio Centro tenha sido, talvez, a mesma proposta de
jogar uma bomba na caixa de força para acabar a luz. Aquilo que proibi antes,
alguém autorizou depois e ocorreu aquele triste episódio do Riocentro no qual
morreu um sargento do Exército e ficou ferido um capitão.
Prestei este testemunho no
inquérito que foi feito pelo General Sérgio Conforto, da minha turma, meu
amigo. Disse exatamente isso nesse inquérito que estou agora repetindo”
(Coronel Romeu Antonio Ferreira, “HOE/1964”, Tomo 9, pg. 358-359).
Eis o depoimento do General
Medeiros, que foi Chefe do Serviço Nacional de Informações - SNI (1978-1985):
Entrevistador:
“O
episódio do Riocentro afetou o General Figueiredo? Atrapalhou a condução do
Governo, que estava na fase de instalação da ‘abertura’?”
General
Medeiros:
“Nem
um pouquinho. Em minha posição, no meu cargo, do lado de dentro do Governo, acompanhava
e sentia tudo. Penso que exageraram um pouco, porque sempre fica no ar um vago
receio, uma coisa indefinida... Mas, absolutamente, o Governo não balançou, nem
um pouquinho, até porque já sabíamos do fato muitos meses antes, um mês e meio
antes, mais ou menos. Tratava-se de um oficial do Destacamento de Operações de
Informações (DOI), vinculado ao Centro de Operações de Defesa Interna (CODI),
no Rio de Janeiro, e de um sargento, auxiliar dele naquela organização. Mais um
personagem, um carpinteiro, filho de Minas Gerais, que fabricava bombas.
Bem,
outro oficial, que morreu, infelizmente, sujeito formidável, contou para o
Chefe da Agência Central que havia isso assim, assim... com o propósito de
tumultuar uma reunião que seria realizada no Riocentro. O General Newton Cruz
relatou-me o que ouvira e disse: ‘Olha, você fique tranquilo, não precisa nem
falar com o Presidente, porque vamos atuar em cima desses dois e impedi-los de
agir.’ Poucos dias depois, o Newton voltou a mim e informou: ‘Olha, aquele
problema do Riocentro já está resolvido e os rapazes prometeram que não vão
fazer nada.’ Respondi: ‘Está bem, vamos esperar. Você acha que a gente pode
confiar?’ Newton disse: ‘Penso que sim, porque o oficial que trabalhou a cabeça
deles e falou comigo é de toda confiança.’ De qualquer maneira, contei para o
João Figueiredo. Informei, ainda, ao Venturini, bem como ao Ministro da
Aeronáutica, meu amigo (Brigadeiro Délio Jardim de Matos). Pedi que mantivessem
sigilo.
Entretanto,
mesmo com as recomendações, o Capitão resolveu fazer a besteira. O Sargento
apanhou a bomba que o carpinteiro havia preparado, colocou no carro e o grupo
dirigiu-se ao Riocentro. Deixaram o carro no estacionamento principal, depois
saíram, foram explorar o local onde iriam colocar a bomba, mas resolveram
voltar para casa.”
Entrevistador:
“Sem
fazer nada?”
General
Medeiros:
“Sem
fazer nada. Mas, nesse abrir de porta e sentar, o artefato explodiu.”
Entrevistador:
“A
ideia deles seria perturbar a ‘abertura’?”
General
Medeiros:
“Tumultuar
a festa que se realizava no Riocentro. Não visava a ‘abertura’.”
Entrevistador:
“Agora
o interessante, General, é que uma intenção primária dessas gerou tamanha
repercussão.”
General
Medeiros:
“Ah,
o Riocentro estava lotado! No auge da anistia, todos queriam participar da
maneira que pudessem: ‘Agora vamos fazer o que queremos e ninguém vai nos
prender’.”
Entrevistador:
“E
o Presidente Figueiredo? Ficou surpreso? No dia em que o senhor falou sobre a
ideia maluca, ele ficou tranquilo? O Presidente se sentiu traído?”
General
Medeiros:
“Sentiu-se;
as consequências foram imediatas: acabou tirando o Newton Cruz da Agência
Central, e aprovou o nome de outro oficial que eu apresentei. No entanto,
permaneceu um ambiente irrespirável, desagradável. Não precisava acontecer. No
final, o petardo explodiu e matou um sargento, à toa”
(General-de-Exército Octávio Aguiar de Medeiros” (HOE/1964”, Tomo 15, pg.
55-56).
Estranho, muito estranho,
foi o SNI não ter feito nada para impedir as ações do Capitão Wilson Luís
Chaves Machado e do Sargento Guilherme Pereira do Rosário, já que sabia que
poderiam colocar uma bomba no Riocentro, na noite de 30 de abril de 1981,
véspera do feriado do Dia do Trabalho. No mínimo, a Agência Central deveria
tê-los colocado sob rigorosa vigilância, ou melhor, tê-los mantido no quartel
ou em casa, à força.
De acordo com o livro de Dickson M. Grael, acima citado, antes e depois
do “Caso Riocentro”, nos anos de 1980 e 1981, durante 16 meses, houve cerca de 40
atentados contra bancas de jornais e órgãos
que faziam oposição ao governo João Figueiredo, com muitos feridos e pelo menos
uma morte, a da secretária da OAB-RJ, Lyda Monteiro da Silva, ocorrida em 27 de
agosto de 1980. Nenhum desses atentados foi elucidado.
A true history sobre o “atentado do Riocentro” é que não houve um
ato terrorista contra os militares, nem chegou a ser um atentado contra a
multidão reunida no local para ouvir canções da MPB, porque ninguém foi
atingido pela explosão ocorrida no Puma, exceto os dois militares que estavam
dentro do carro.
A true history garante que houve um “acidente de serviço” dos
militares em uma ação escabrosa, para tentar desestabilizar o movimento
político em direção à abertura democrática.
Os “duros” do Governo Figueiredo não queriam que os militares
“desmontassem do tigre”...
***
P.S.: Mensagem recebida por e-mail do Coronel JR Franco, em 12 de agosto de 2022 11:29:
"Parabéns irmão. Você está brilhante, como sempre.
Abração
Franco
No caso Rio Centro houve, como você citou, um acidente de trabalho. Ocasionado pelo uso de uma pulseira sabona pelo Sgt Rosário. Na época muitas pessoas usavam esse tipo de pulseira. Era um arco de cobre com uns dois milímetros por uns 5 milímetros. Era aberta: um arco interrompido. Tinha efeitos medicinais: afirmavam que ela regularia todas as correntes e fluxos do organismo de quem as usasse. Só um modismo.
Mas o cobre é um excelente condutor e fechou o circuito da bomba...
Merda feita!!!!"
FONTES CONSULTADAS:
Administrador
de https://www.forcesystem.com.br/. Como Eratóstenes
descobriu que a terra é redonda há 2200 anos. Disponível em https://www.forcesystem.com.br/como-eratostenes-descobriu-que-a-terra-e-redonda-ha-2200-anos/. Acesso em 11/08/2022.
BACK,
Sylvio. Documentário Rádio Auriverde - A FEB na Itália. Vídeo disponível
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Obs.: Trabalho também disponível em
https://drive.google.com/file/d/1-jdWU9V1vDvrZOUZ56ktSK5wFGuVpCbx/view
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