MEMORIAL 31 DE MARÇO DE 1964

MEMORIAL 31 DE MARÇO DE 1964
Avião que passou no dia 31 de março de 2014 pela orla carioca, com a seguinte mensagem: "PARABÉNS MILITARES: 31/MARÇO/64. GRAÇAS A VOCÊS, O BRASIL NÃO É CUBA." Clique na imagem para abrir MEMORIAL 31 DE MARÇO DE 1964.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2020

Olavo de Carvalho na "História Oral do Exército - 31 de Março de 1964"

Olavo de Carvalho


PROFESSOR OLAVO LUIZ PIMENTEL DE CARVALHO, DE JORNALISTA COMUNISTA A DEFENSOR DO MOVIMENTO DE 1964


(Extrato da entrevista do filósofo e escritor Olavo de Carvalho à "História Oral do Exército - 31 de Março de 1964")

 

Uma história que está sendo reescrita pela esquerda terrorista derrotada

“Minha satisfação de estar presente, neste momento, deve-se  sobretudo à natureza deste projeto, a de uma memória da História do Brasil que está sendo apagada; a memória do que se passou nos últimos quarenta anos está sendo totalmente apagada, caricaturada, recortada, reescrita, safenada, já fizeram ‘o diabo’ com essa história. E é importante lembrar que, ao eclodir a Revolução, eu me encontrava exatamente do lado contrário. Quer dizer, não posso de maneira alguma ser acusado de ter algum preconceito a favor do Movimento de 31 de Março de 1964. Muito aos poucos, revendo o que se passou, de maneira muito gradativa e cuidadosa, fui mudando de opinião” (Tomo 3,  pg. 102).

“Nos meses que antecederam o Movimento de 1964, havia, no colégio em que estudava – era estudante secundarista na época, aluno do Colégio Estadual de São Paulo – facções políticas bem definidas, com uma maioria esquerdista e uma minoria (mas não tão minoria assim) à direita, que depois apoiou o Movimento de 1964.

Mas a parte esquerdista era, naturalmente, a mais ativa, e fui diretamente envolvido por ela, sem ter tido muito contato com a outra facção. Tão logo perceberam que eu existia, já me cercaram, curiosamente, com o pretexto católico. Era a esquerda dita católica, liderada, ali na escola, por uma moça muito simpática, muito bonita, muito sedutora. Era mais velha do que nós, e exercia uma liderança fantástica sobre aquela meninada toda. Creio que estavam todos de algum modo apaixonados por ela, e ela usava isto muito bem. Pouca coisa sei da vida da personagem, mas via a atuação dela.

Então, a pretexto de catolicismo, de catequese e até de Primeira Comunhão, se colocavam ideias flagrantemente marxistas na cabaça de cada menino. Muitos anos depois, por uma coincidência da vida, voltei a encontrar essa pessoa num ambiente de trabalho – mas quase dez anos depois – e aí fiquei sabendo que nunca tinha sido católica coisíssima nenhuma, que aquilo era exclusivamente uma atividade política. Isso é para se ter ideia do ponto em que as coisas já se encontravam no ambiente secundarista.

Não vejo por que citar o nome da criatura. Ela era importante no movimento secundarista da época: era ligada à AP (Ação Popular), o mesmo movimento em que militava o Presidente da República atual e o seu candidato, o ‘vice-rei’ José Serra, presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE), na época” (Tomo 3, pg. 103).

 

Cárcere privado para kamarada suspeito de namorar agente do Governo

“Tão logo me convidaram para entrar no Partido [PCB], comecei a frequentar as reuniões de base – as unidades mínimas do Partido chamam-se bases -; tinha uma base na Folha de S. Paulo, uma base no Estadão etc. Na base da Folha de S. Paulo, onde se reuniam os jornalistas que trabalhavam nos vários jornais da organização Folha, comecei a minha atividade.

Mas, poucas reuniões depois, apareceu um sujeito do comitê estadual, que na ausência do chefe da base, nos reuniu e disse o seguinte: ‘Companheiros, o companheiro fulano de tal – que era o chefe da base – criou uma situação extremamente delicada. Arrumou uma amante que, temos sérias razões para acreditar, é uma agente do DOPS (Departamento da Ordem Política e Social). Então decidimos isolá-lo durante algum tempo, para podermos investigar e tirar a limpo esta coisa. Precisamos arrumar um lugar para depositar esse camarada, deixa-lo meio sem contato com o pessoal da profissão durante algum tempo, até que possamos esclarecer tudo.’

Em suma, o que ele queria dizer era cárcere privado, em última instância. E nomeou quatro idiotas para achar um lugar para colocar o camarada.

E um dos quatro era eu. Não me recordo exatamente quem eram os outros. Um dos quatro, salvo engano, era o jornalista Rocco Bonfiglio, irmão da Mônica Bonfiglio, que aliás faz programas de TV sobre anjos, essa coisa toda. Muito boa pessoa, eram muito meu amigo também, naquela época.

(...) ... no fim, colocamos o sujeito lá e, de três em três dias, alguém ia levar comida e cigarros para ele. E o sujeito ficou depositado lá um tempão. Levei comida para ele três ou quatro vezes. Depois designaram outras pessoas para fazer isso, e eu não soube de mais nada. Um dia escuto, entre dois militantes, na redação a seguinte conversa:

- Sabe quem estava aí, na portaria? Aquele f. d. p. do fulano de tal – que era aquele antigo chefe da base. Não deixamos nem entrar.

Isso queria dizer que o sujeito estava virtualmente excluído. Junto da exclusão do Partido, estava excluído da profissão, pelo menos em São Paulo. Achei aquilo tudo normal, porque pareciam medidas de segurança, e passados outros meses, certo dia, estou num bar na frente da Folha de S. Paulo, tomando um cafezinho, e aparece o tal do sujeito, magro, chupado, barbudo, com um ar de mendigo. E vem falar comigo. E eu, como militante devotado, virei-lhe as costas e não falei com ele.

Também levei anos para compreender a significação moral – ou imoral – daquilo que fiz, porque na verdade ocorreu o seguinte: houve um cárcere privado, exclusão da profissão, descriminação odiosa, a destruição total de uma vida, de uma carreira, no fim das contas, por causa de uma desconfiança. E todo mundo considerou isso normal, porque o Partido tinha todo o direito de agir assim. Nem se questionava.

Não tive o menor problema moral na época por ter procedido assim. O bem estava conosco; do outro lado não eram nem gente. Portanto, ninguém iria perder tempo tendo bons sentimentos para com um sujeito que pensa de outra forma e tem outra orientação política.

Na época, estive insensível a esta coisa. Entretanto, mais tarde, analisando o que se passou, eu vejo... Por exemplo, hoje, esses que pedem indenização porque dizem que ‘foram excluídos da profissão’ e não sei o que mais. Ao contrário, no Partido era normal excluir uma pessoa, fechar uma boda, jogar um cidadão na miséria, na exclusão, no silêncio e no isolamento total. Então, esse negócio de que ‘fomos discriminados’, são ‘lágrimas de crocodilo’. Isso é a coisa mais falsa e torpe a que se pode assistir. É uma coisa medonha, que não considero moralmente justificável” (Tomo 3, pg. 108-109).

 

Os “democráticos” terroristas foram buscar ajuda democrática em Cuba

“Uma prova inequívoca dessa desproporção no julgamento, de si e dos outros, foi justamente o que aconteceu nos anos seguintes, à medida que a esquerda – e sobretudo a ala mais radical do Partido Comunista – reagindo contra um regime autoritário mas muito brando e que havia se imposto sem a menor violência, foram buscar ajuda logo de quem? Da ditadura mais sangrenta que havia na América Latina, a de Fidel Castro. Até àquela altura, Fidel Castro já havia fuzilado 17 mil cubanos e logo depois, para a intervenção em Angola, matou 100 mil angolanos no prazo de poucas semanas.

(...)

Eu poderia até ser contra o novo regime, mas o novo regime não era um regime assassino, não era um regime violento, não era um regime cruento. E eles foram pedir ajuda e se aliar ao que havia de mais violento, de mais cruel na América Latina. Qual a justificativa moral que se pode apresentar para isso? Moralmente, qual é o sentido que faz uma coisa dessas? Com um único ato deste, o indivíduo já desmascara o seu intuito na mesma hora.

Porque, se o sujeito, para reagir contra o Governo do Marechal Castello Branco, vai pedir ajuda a Fidel Castro, isto significa claramente que o indivíduo nada tem contra o uso da violência, nada tem contra o derramamento de sangue, nada tem contra o genocídio. Tem apenas contra o Marechal Castello Branco, é o que se entende” (Tomo 3, pg. 109-110).

 

“Neurose é uma mentira esquecida na qual você ainda acredita”

“Então, esses dois capítulos – a covardia inicial, seguida dessa escolha errada do Partido – são capítulos da novela psicótica da esquerda nacional. Eu não tenho a menor dúvida de que toda a esquerda nacional, desde então, está possuída por uma fantasia psicótica.

É por isso que hoje em dia eu não aceito mais quando a pessoa diz: ‘Temos que discutir as divergências ideológicas, respeitosamente.’ Respondo: ‘Está bem, uma divergência ideológica pode-se discutir respeitosamente, mas uma psicose não.’ Uma psicose não se respeita, e aliás nem se desrespeita: uma psicose se diagnostica e se cura.

Agora, como é que se cura uma psicose? Pelo velho método psicanalítico do desmascaramento. Tenho um amigo, um grande gênio da psicologia clínica, que dava a seguinte definição para neurose: ‘Neurose é uma mentira esquecida na qual você ainda acredita.’ Até hoje, toda a história da esquerda brasileira é exatamente a história dessas duas mentiras esquecidas: a covardia de 1964 e a aliança macabra com um governo genocida para combater um autoritarismo brando” (Tomo 3, pg. 111).

 

Caio Prado, o ídolo intelectual dos comunistas

“Com base no livro do Caio Prado [A Revolução Brasileira], vai se formando uma ala radical disposta a romper com a estratégia clássica do PCB, que era a aliança com a burguesia, e partir para uma solução violenta. Essa é a origem das guerrilhas.

É evidente que toda a argumentação usada para levar a decisão à guerrilha era falsa. Toda ela era uma racionalização neurótica – como se diz em psicanálise – para ocultar o fato básico. O fato básico é que a esquerda já vivia na mentira e na covardia muitos anos antes. Por quê? Porque a guerrilha já tinha começado em 1961 e, em 1961, Cuba já estava dando ajuda às ‘Ligas Camponesas’ do Francisco Julião para fazer uma guerrilha no Brasil.

Portanto, veja que coisa absurda: se já havia a guerrilha, já havia a ala radical, e a guerrilha já estava em ação desde 1961, como é que o fracasso poderia ser explicado por culpa da estratégia pacifista do Prestes? Não tinha estratégia pacifista nenhuma, eles já estavam fazendo guerrilhas antes! E no entanto, toda aquela argumentação pomposa e pseudo-intelectual do Caio Prado (aqui para mim e cá entre nós, acho ele um palhaço) que vem desde a história colonial, baseada em dados econômicos, mas ocultando o básico. Se ele estava argumentando que não existe burguesia nacional e, portanto, a estratégia pacífica foi a culpada do nosso fracasso, ele está simplesmente omitindo o fato de que não havia estratégia pacíifica nenhuma, de vez que já havia guerrilha, aqui, desde 1961” (Tomo 3, pg. 113).

“O Caio Prado era o ídolo filosófico dos comunistas, na época, e os anarquistas também tinham o seu ídolo filosófico, que era o falecido Mário Ferreira dos Santos, este sim de uma capacidade fantástica.

Certo dia realizaram um debate para analisar uma questão do ponto de vista marxista e do ponto de vista do Proudhon, do anarquismo. Chamaram então o Caio Prado para apresentar o pondo de vista marxista e o Mário Ferreira para apresentar o ponto de vista anarquista. Falou primeiro o Caio Prado, aquela coisa toda elegante; quando terminou, o Mario Ferreira se levantou e disse: ‘Olha, o pondo de vista marxista não é esse que você disse, não. De modo que eu vou refazer a sua conferência, antes de começar a minha’. E refez toda a conferência do Caio Prado. Quando foi dito que iriam publicar a transcrição, o pessoal comunista ameaçou jogar uma bomba na gráfica anarquista para evitar que o seu filósofo fosse exposto àquela vergonha. Isso é só para dar uma ideia do que um filósofo de maior envergadura pode fazer com um Caio Prado da vida.

Note bem, destes intelectuais do Partido Comunista, o único que respeito, pelo trabalho intelectual, é o Jacob Gorender. Seu livro, O Escravismo Colonial, é um trabalho realmente de muito peso para a gente” (Tomo 3, pg. 114).

 

Os dois discursos do Partido Comunista: um público, outro secreto

“Na história do Partido Comunista, sempre houve dois discursos, uma para dentro e um para fora. Tem o discurso em petit comité, o discurso dos congressos dos partidos, e tem a propaganda para fora, que é totalmente diferente. No Partido dos Trabalhadores (PT), ocorre exatamente a mesma coisa. Se você acompanha as discussões nos congressos do PT, verá que não têm absolutamente nada a ver com o discurso que é feito, depois, para o público.

Essa duplicidade é uma coisa crônica na história do comunismo. Mentir, representar outro papel, para o comunista é uma coisa natural, principalmente aqueles que tiveram a experiência da clandestinidade. A clandestinidade é uma mentira, é ter uma vida de mentira. Você representa um papel fictício para fora e outro para dentro. Só que, durante o tempo em que você está na clandestinidade, é obrigado a fazer isso, porque, teoricamente, está correndo um risco. Mas acontece que, ao passar o risco, você continua a praticar aquilo que se incorporou à sua personalidade.

Significa dizer que a hipocrisia, a mentira, a farsa, fazem parte da estrutura de caráter do comunista; são treinados para isso, e acabam incorporando estes hábitos nefandos. No fim, aquilo se torna inteiramente natural, a duplicidade de consciência. E observei muitos e muitos casos disso aí.

São exemplos que não acabam mais. Quer dizer: para o comunista, encarar a sua atuação política num certo plano e a sua vida pessoal num outro plano inteiramente diferente, sem ser capaz de julgar uma pela outra, é a coisa mais normal do mundo.

Por exemplo, Karl Marx tem páginas muito ácidas sobre os burqueses que exploram sexualmente as suas empregadas. Entretanto, Karl Marx teve um filho com a sua própria empregada, e jamais deixou que esse filho se sentasse à mesa junto com a família. E ele não percebia nada de incoerente nisso, porque já estava na mentalidade dupla.

E este mesmo tipo de conduta observa-se, também, no total desprezo para com as mulheres do povo que você usa sexualmente. Notei isto em todos os militantes comunistas que conheci, com exceção daqueles que eram casados com mulheres muito ciumentas e não podiam se dar ao luxo dessa brincadeira. Usavam a mulher, assim, como se fosse um lixo.

(...)

Eram discípulos [de Karl Marx] no sentido psicológico, não doutrinário. Você não precisa conhecer o pensamento do sujeito para imitar uma conduta psicológica que já se tornou tradicional dentro daquele meio. Essa duplicidade de caráter, duplicidade de língua – o famoso bilinguis maledictus, de que fala a Bíblia, ‘maldito homem de duas línguas1 – isto aí é a coisa mais comum, e era considerado normal.

Creio que não existe obra mais significativa da mentalidade comunista do que a de Bertolt Brecht. Brecht dizia assim, cinicamente: ‘A verdade ou a mentira são igualmente úteis, desde que sirvam ao comunismo1. Quer dizer, o comunismo está acima da verdade e da mentira. O sujeito educado assim está autorizado a mentir o quanto queira, inclusive para si próprio. Isso eu observei muito (Tomo 3, pg. 114-115).

 

Marcuse dava o pretexto ideológico e Gramsci a modalidade de organização partidária

“Marcuse usava uma expressão absolutamente fantástica: dizia que a estratégia deveria ser não a de atacar diretamente o sistema, mas a de fazer a sua decomposição difusa. Isto é, você espalharia, por tudo quanto é lado, militantes e intelectuais – sem ligação aparente uns com os outros – que iriam corroendo, aos poucos, todos os valores, instituições etc., e destruindo sua estrutura de dentro para fora.

Essa estratégia, aplicada nos Estados Unidos, deu certo, e, hoje, os Estados Unidos não são mais, de maneira alguma, a a mesma nação que fora até a década de 1960. A cultura americana tornou-se uma cultura francamente antiamericana. Nunca, houve, em país nenhum do mundo, uma classe letrada que estivesse maciçamente contra o próprio país, como nos EUA.

Os Estados Unidos são o maior exportador de propaganda antiamericana que existe; a propaganda antiamericana que circula no mundo é 80% produzida em Hollywood e Nova York, e isso tudo foi um estado de coisas criado pela tal da ‘revolução cultural’ que, nos Estados Unidos, foi mais marcuseana, na verdade, do que gramsciana. Mesmo nos Estados Unidos, a difusão de Gramsci é bem posterior.

(...)

Assim, a primeira faixa que Marcuse via como revolucionária – como substituta do proletariado – seria a de estudantes. A segunda faixa reuniria as pessoas que estão marginalizadas por um motivo moral: as prostitutas, os gays, os delinquentes.

A segunda seria o lumpemproletariado. Marcuse foi o primeiro a dizer claramente que o lumpemproletariado era sempre ideologicamente ambíguo – adquiria uma força revolucionária na nova situação – no capitalismo já mundializado, bem-sucedido economicamente).

A terceira seriam as chamadas minorias insatisfeitas, entre as quais as nações mais pobres do Terceiro Mundo. Com isso você pode ver que Marcuse formulou toda a atmosfera e toda a simbologia da esquerda de hoje. A esquerda essencialmente marcuseana é uma esquerda que já não arregimenta proletários, mas arregimenta prostitutas, gays, minorias raciais etc.

As obras de Marcuse começaram a ser editadas no Brasil mais ou menos por essa época, 1965-1966, enquanto desenrolava aquela discussão dentro do Partido. Ao mesmo tempo, a Editora Civilização Brasileira do falecido Enio Silveira, a maior editora do Partido, começava a publicar as obras de Antônio Gramsci. Antônio Gramsci praticamente organiza e articula a estratégia da revolução cultural, cujo conteúdo ideológico e publicitário, por outro lado, o pessoal tinha absorvido de Marcuse.

Não houve nenhum contato entre os dois, evidentemente. Gramsci nunca soube da existência de um sujeito chamado Marcuse, mas, antes mesmo da difusão das ideias de Marcuse, Gramsci já criara um aparato para operacionalizar – e, portanto, viabilizar – aquilo tudo.

Marcuse dava o pretexto ideológico e Gramsci a modalidade de organização partidária. Tudo estava sendo estudado pelos ‘velhos’ do Partido, pelo pessoal do Prestes. Então, enquanto uma meia dúzia de malucos se dedicava à guerrilha, ia para a guerrilha para morrer, o que fazia o Partidão? Fazia, por exemplo, o treinamento de pessoas para ocuparem as cátedras de Educação Moral e Cívica abertas pelo Governo.

(...)

 

Educação Moral e Cívica é usada para a ação comunista

Como é que eu sei disso? É muito simples: minha própria mulher trabalhou nessa empreitada, na época, fazendo exatamente isso. Era muito comum. Ela estudava Ciências Sociais na Pontifícia Universidade Católica (PUC). E havia um grande número de estudantes de Ciências Sociais, militantes de esquerda, que foram ocupar as cátedras de Educação Moral e Cívica e as transformaram em instrumentos de pregação comunista subsidiados pelo Governo militar.

Uma outra iniciativa que começou, então, foi a ocupação sistemática das chamadas ‘Sociedades Amigos de Bairros’, que, dentre as suas atividades, faziam reivindicações à Prefeitura, como tapar buraco, fazer um encanamento de esgoto, coisas assim. Enquanto a ala do Marighella se dedicava àquela coisa estéril da guerrilha, o pessoal do Partidão ia se infiltrando em todas essas organizações. Outro detalhe importante foi a organização da classe jornalística. Nisto, como no caso da Educação Moral e Cívica, quem criou inadvertidamente o instrumento para a ação comunista foi o próprio Governo, regulamentando a profissão de jornalista e tornando obrigatória a sindicalização.

(...)

Então, nós nos dedicávamos a sindicalizar as pessoas e colocá-las automaticamente em nossa órbita ideológica. Isso começa em 1965-1966. Ao chegar à metade da década de 1970, podemos dizer que o Partidão já tinha o controle praticamente total da bolsa de empregos na profissão jornalística no Estado de São Paulo(Tomo 3, pg. 118-121).

 “Enquanto eles estavam fazendo guerrilha, o lado dos ‘velhos’ estava montando o aparato cultural inteiro. Estava tomando todas as universidades, os meios de comunicação, as instituições de cultura – que, hoje, dominam totalmente, da maneira mais cínica que se possa imaginar. E o Governo militar estava totalmente alheio, totalmente voltado para a luta armada e, propositadamente, deixava a esquerda pacífica atuar como quisesse, primeiro, porque o Governo não tinha nada contra a esquerda pacífica. Ele só não queria dois tipos de coisa: a luta armada e a corrupção. Se não ocorresse nenhuma dessas, os esquerdistas podiam fazer propaganda ideológica à vontade.

Era a teoria do Golbery, a teoria da panela de pressão. Ele dizia: ‘Não pode fechar a panela de pressão por todos os lados que ela explode. É preciso deixar uma válvula de escape’.

Ora, a válvula que foi deixada foram as instituições de cultura, os meios de comunicação, as universidades... (Tomo 3, pg. 125).

Obs.:

Como afirma Olavo, “o Partidão usou a turma da guerrilha, como diz o caipira, como ‘boi-de-piranha’ ”, concentrando o Governo seus esforços no combate à guerrilha, deixando as universidades inteiramente à disposição da “esquerda pacífica”. Deu no que deu, a balbúrdia denunciada pelo ex-ministro da Educação, Abraham Weintraub. Prova? Em 2020, o Brasil não tinha nenhuma universidade entre as 200 melhores do mundo.

https://www.cnnbrasil.com.br/nacional/2020/09/02/brasil-nao-tem-nenhuma-universidade-entre-200-melhores-do-mundo-diz-ranking

F. Maier

 

MST, os sovietes brasileiros

“O MST não é uma organização sindical, não é um partido político, não é uma guerrilha: é uma mistura de tudo isso. O que era exatamente uma mistura de tudo isso era o soviete na Rússia. A organização do MST – quem estudar um pouquinho o assunto verá – é rigorosamente a cópia do soviete, e o soviete serve para quê? Para desmantelar a estrutura agrária e preparar a futura administração socialista do campo. É exatamente isso que o MST está fazendo.

Na Rússia, a criação dos sovietes levou décadas. Aqui, tudo foi feito em oito anos, com o dinheiro do Governo. Portanto, o MST deveria erguer uma estátua para o Fernando Henrique, porque ele é seu verdadeiro criador. Mas sempre, para o esquerdista, é normal entrar dentro do aparato do adversário, e consentir ser publicamente identificado como adversário, enquanto trabalha para a esquerda. É exatamente o que fez o Fernando Henrique” (Tomo 3, pg. 128).

 

Fabian Society

“Esta questão da Nova Ordem Mundial está sendo discutida e planejada pelo menos desde a década de 1920. Houve um projeto inteiro – em 1928 já estava totalmente formulado – que saiu num livro de Herbert George Wells, intitulado The Open Conspiracy. Toda a Nova Ordem Mundial está delineada ali.

A ideia da nova ordem mundial é essencialmente uma criação da chamada Fabian Society, Sociedade Fabiana. Os socialistas fabianos são socialistas moderados, inventores da chamada ‘terceira via’ que também já estava formulada na década de 1920.

Onde surge a ‘terceira via’? Surge de um fator muito simples: o capitalismo é um regime que produz uma tal riqueza, uma tal prosperidade que acaba criando, junto com a prosperidade geral, certas fortunas que transcendem a própria mecânica do capitalismo. Por exemplo, um sujeito que cresceu e que enriqueceu num regime de livre concorrência, quando chega ao topo do capitalismo, isto é, se tornou uma das grandes fortunas, percebe que, embora a sua fortuna tenha sido criada pelo regime de livre concorrência, ele já não pode estar submetido à mesma. Nesse momento, surge o problema dinástico, porque ele aspira passar aquela fortuna para seus descendentes e perpetuá-la. Então ele já não quer mais livre concorrência, porque deseja garantir a continuidade.

Isso quer dizer que a classe capitalista se forma na livre concorrência, mas se consolida como um poder dinástico, e, portanto, já não mais de tipo capitalista, e sim de tipo aristocrátic9.

(...)

Então, é isto que explica o seguinte: se você pegar as duzentas maiores fortunas dos Estados Unidos – a começar por Rockefeller, Morgan etc. -, você verá que, nas eleições americanas, desde o começo do século, eles jamais apoiaram o candidato pró-capitalista, mas sempre o candidato estatista, intervencionista, controlador da economia, semi-socialista. Isso acontece porque essas grandes fortunas, esses grandes bancos internacionais, vivem de emprestar dinheiro para o governo, que é o grande cliente deles. Precisando do endividamento público, precisam do governo intervencionista.

(...)

Teoricamente, Reagan seria um homem do capitalismo liberal, uma espécie de Margareth Thatcher – ex-Primeira-Ministra britânica – de terno e gravata, mas, quando você vai ver, o que é que o Reagan fez? Ele fez o maior endividamento público de toda a história americana.

Quer dizer, durante a administração Reagan, o Estado cresce mais ainda. Eles sempre apoiaram mais uma política intervencionista. Ao mesmo tempo, essa mesma elite sempre usou a União Soviética – e o movimento comunista de modo geral – como instrumento de pressão em cima do governo americano. Se você for ver a própria história da União Soviética, sua história inteirinha, você vai ver que a União Soviética só existiu graças à ajuda americana.

(...)

Quando vemos que esses grandes bancos vivem do endividamento público, eles têm que ser contra o capitalismo liberal, e têm que ser a favor de um regime intervencionista. Mas o comunismo total, por outro lado, também não serve para eles. Então o que fizeram? A ‘terceira via’ foi a solução que encontraram, pois já tinham pensado nisso. Tudo está escrito, publicado, desde a década de 1920.

Então, esse pessoal vai empurrando o mundo cada vez mais para uma espécie de socialismo mezzo a mezzo, um socialismo que, no fundo, seria idêntico à economia fascista, à economia nazista – porque é um regime estatista -, mas conservando-se o Poder das grandes empresas, como você tem na China hoje, também.

(...)                                                                      

Quando identificamos a Nova Ordem Mundial com a ideia de interesse nacional americano, estamos cometendo um erro, porque a Nova Ordem Mundial nada tem a ver com o interesse americano, mas tem vínculos com duzentos banqueiros. Se, para formar a Nova Ordem Mundial, for necessário destruir os Estados Unidos, como de fato vem sendo feito – a cultura americana já foi destruída -, eles o farão” (Tomo 3, pg. 132-135).

 

Terrorismo cultural – a falsa caça às bruxas

“Quando dizem que o pensamento brasileiro foi sufocado, isto é autolisonja. Pensamento brasileiro à época? Que eu saiba... Que grandes pensadores existiam aqui? Havia o Mário Ferreira dos Santos, que a esquerda toda ignorava e que continua ignorando; havia o Miguel Reale; havia o Vilém Flusser, um emigrado tcheco que chegou aqui e, em três anos, aprendeu a escrever em português – escrevia um português maravilhoso. Flusser era um grande filósofo, e nunca lhe deram a menor atenção. Flusser acabou indo embora, na década de 1970, por não suportar mais a mesquinhez do meio. Não foi perseguido por ninguém, não foi posto para fora por ninguém. Os caras que foram demitidos da USP e de outras universidades, eram para ser demitidos mesmo, mas não por motivo político: eram para ser demitidos por inépcia.

A visão que esse pessoal tem da coisa é tão falsedada que existe um livro sobre a época, intitulado A Fúria de Calibã, escrito por Nelson Werneck Sodré – general e historiador comunista – que tenta traçar o panorama do que define como caça às bruxas da época – o tal ‘terrorismo cultural’, essa coisa toda. E conta que um foi demitido, o outro exilado etc. Ninguém de verdadeiro relevo intelectual. No meio da narrativa, Sodré adianta que, naquele ano (refere-se a 1965, creio) publicou oito livros que foram comentados e aplaudidos por toda a imprensa. Quer dizer, o homem publicou livremente as suas obras naquele ano, foi aplaudido na imprensa, e ainda tomou posse no Instituto Brasileiro de História e Geografia Militar, numa cerimônia à qual estava presente o Presidente da República. Agora você imagina se, em Cuba, é possível uma situação dessas: Fidel Castro comparecer a uma cerimônia na qual vai tomar posse, na Academia, um homem da oposição. O próprio Nelson Werneck se desmascara no livro” (Tomo 3, pg. 136-137).

 

Revanchismo & neurose = compensação financeira

“É mais do que um ‘revanchismo’, é uma vontade de dissipar aquele sentimento confuso que você tem dentro de si (a culpa mal conscientizada, a culpa não declarada). Isso cria uma configuração neurótica, da qual o sujeito tenta escapar mediante a busca de compensações morais. Então eles têm que estar continuamente fazendo homenagens a sim mesmos, dizendo: ‘Éramos mártires, éramos patriotas, éramos maravilhosos’. Um puxa o saco do outro, joga confete no próximo etc.; mas isto também não basta; é preciso poder; mas poder também não basta: é preciso dinheiro. Em suma, são satisfações neuróticas buscadas para compensar o próprio quadro neurótico que eles mesmos criaram com suas mentiras existenciais. Estão todos mentindo para si mesmos há trinta anos. É aquela coisa: ‘Neurose é uma mentira esquecida na qual você ainda acredita’. Isto é a vida deles. Eles mentiram em 1964 e já esqueceram a mentira, mas continuam vivendo com base nela.

Quando você vai procurar apoio de Cuba e diz que é para instaurar a democracia, você está mentindo, evidentemente. Mas esse fato é melhor esquecer. Você não é capaz de contar mais a sua história com sinceridade, não é capaz de dizer: ‘Éramos comunistas, queríamos aqui uma ditadura como a de Fidel Castro mesmo, queríamos fuzilar todo mundo e não nos deixaram, e ficamos loucos da vida porque não nos deixaram’.

Não podendo confessar isso em público0 – e talvez não confessem nem para si mesmos -, vivem na base da mentira, e é justamente isso que os induz a buscar compensações morais, psicológicas, financeiras etc. Quer dizer, o destino do País está sendo decidido pela neurose de um grupo – pela neurose, pela mentira existencial de um grupo de idiotas pretensiosos” (Tomo 3, pg. 139-140).

Obs.:

Um artigo histórico de Olavo de Carvalho, “A História Oficial de 1964”, pode ser visto em https://felixmaier1950.blogspot.com/2020/06/a-historia-oficial-de-1964-por-olavo-de.html.

No livro “O Imbecil Coletivo”, à pg. 291, Olavo diz:

“Pertenci à ala marighelista do PCB, assisti de perto à preparação do que viria a ser o movimento guerrilheiro, e nunca vi lá dentro, exceto na arraia-miúda desprezada como ‘massa de manobra’, o menor sinal de romantismo e idealismo. O que vi foi apenas uma indignação fanática que o treinamento acabava por transformar em ódio frio e em absoluta incapacidade de enxergar qualquer coisa de humano no rosto do adversário, sempre reduzido a uma caricatura monstruosa. Muitos militantes acabaram por assimilar definitivamente esses traços à sua personalidade. É precisamente o caso de José Dirceu, cuja oratória tem por isso, até hoje, aquela típica ‘eloquência canina’ do acusador compulsivo”.

Os detratores de Olavo de Carvalho o chamam de bruxo, de negacionista (“a Terra é plana”, “o homem não descende do macaco”), de supremacista branco, de astrólogo, de guru de Jair Bolsonaro e seus simpatizantes, de “filósofo autonomeado” e “filósofo autointitulado”, embora saibam que ele sempre se apresentou apenas como escritor e jornalista. Quem afirmou que o mesmo é filósofo, primeiro foi o Jornal do Brasil, depois outros jornais e revistas. Quem denomina Olavo de “filósofo” é a Academia Brasileira de Filosofia, o Instituto Brasileiro de Filosofia, a Universidade da Cidade e a Universidade Católica do Salvador (cfr. “O Imbecil Coletivo", pg. 307-308).

F. Maier



"História Oral do Exército - 31 de Março de 1964 -
O Movimento Revolucionário e sua História"

15 Tomos

Organizador-geral: General Aricildes de Moraes Motta

Biblioteca do Exército Editora, Rio, 2003



MEMORIAL 31 DE MARÇO DE 1964

http://felixmaier1950.blogspot.com/2020/09/memorial-31-de-marco-de-1964-textos.html

 

HISTÓRIA ORAL DO EXÉRCITO – 31 MARÇO 1964

http://felixmaier1950.blogspot.com/2020/09/historia-oral-do-exercito-31-de-marco.html


Ainda:

Baixe o livro “Arquipélago Gulag” em https://www.docdroid.net/BUe5N4M/aleksandr-solzhenitsyn-arquipelago-gulag-pdf.

Veja 741 fotos dos Gulags em https://www.gettyimages.pt/fotos/gulag?phrase=gulag&sort=mostpopular 

Veja 63.080 imagens e fotos do Comunismo em https://www.gettyimages.pt/fotos/comunismo?phrase=comunismo&sort=mostpopular




Nenhum comentário:

Postar um comentário