PROFESSOR OLAVO LUIZ PIMENTEL DE CARVALHO, DE JORNALISTA COMUNISTA A DEFENSOR DO MOVIMENTO DE 1964
(Extrato da entrevista do filósofo e escritor Olavo de Carvalho à "História Oral do Exército - 31 de Março de 1964")
Uma
história que está sendo reescrita pela esquerda terrorista derrotada
“Minha satisfação de estar
presente, neste momento, deve-se
sobretudo à natureza deste projeto, a de uma memória da História do
Brasil que está sendo apagada; a memória
do que se passou nos últimos quarenta anos está sendo totalmente apagada,
caricaturada, recortada, reescrita, safenada, já fizeram ‘o diabo’ com essa
história. E é importante lembrar que, ao eclodir a Revolução, eu me
encontrava exatamente do lado contrário. Quer dizer, não posso de maneira
alguma ser acusado de ter algum preconceito a favor do Movimento de 31 de Março
de 1964. Muito aos poucos, revendo o que se passou, de maneira muito gradativa
e cuidadosa, fui mudando de opinião” (Tomo 3,
pg. 102).
“Nos meses que antecederam o
Movimento de 1964, havia, no colégio em que estudava – era estudante
secundarista na época, aluno do Colégio Estadual de São Paulo – facções
políticas bem definidas, com uma maioria esquerdista e uma minoria (mas não tão
minoria assim) à direita, que depois apoiou o Movimento de 1964.
Mas a parte esquerdista era,
naturalmente, a mais ativa, e fui diretamente envolvido por ela, sem ter tido
muito contato com a outra facção. Tão logo perceberam que eu existia, já me
cercaram, curiosamente, com o pretexto católico. Era a esquerda dita católica,
liderada, ali na escola, por uma moça muito simpática, muito bonita, muito
sedutora. Era mais velha do que nós, e exercia uma liderança fantástica sobre
aquela meninada toda. Creio que estavam todos de algum modo apaixonados por
ela, e ela usava isto muito bem. Pouca coisa sei da vida da personagem, mas via
a atuação dela.
Então, a pretexto de
catolicismo, de catequese e até de Primeira Comunhão, se colocavam ideias
flagrantemente marxistas na cabaça de cada menino. Muitos anos depois, por uma
coincidência da vida, voltei a encontrar essa pessoa num ambiente de trabalho –
mas quase dez anos depois – e aí fiquei sabendo que nunca tinha sido católica
coisíssima nenhuma, que aquilo era exclusivamente uma atividade política. Isso
é para se ter ideia do ponto em que as coisas já se encontravam no ambiente
secundarista.
Não vejo por que citar o
nome da criatura. Ela era importante no movimento secundarista da época: era
ligada à AP (Ação Popular), o mesmo movimento em que militava o Presidente da
República atual e o seu candidato, o ‘vice-rei’ José Serra, presidente da União
Nacional dos Estudantes (UNE), na época” (Tomo 3, pg. 103).
Cárcere
privado para kamarada suspeito de
namorar agente do Governo
“Tão logo me convidaram para
entrar no Partido [PCB], comecei a frequentar as reuniões de base – as unidades
mínimas do Partido chamam-se bases -; tinha uma base na Folha de S. Paulo, uma
base no Estadão etc. Na base da Folha de S. Paulo, onde se reuniam os
jornalistas que trabalhavam nos vários jornais da organização Folha, comecei a
minha atividade.
Mas, poucas reuniões depois,
apareceu um sujeito do comitê estadual, que na ausência do chefe da base, nos
reuniu e disse o seguinte: ‘Companheiros, o companheiro fulano de tal – que era
o chefe da base – criou uma situação extremamente delicada. Arrumou uma amante
que, temos sérias razões para acreditar, é uma agente do DOPS (Departamento da
Ordem Política e Social). Então decidimos isolá-lo durante algum tempo, para
podermos investigar e tirar a limpo esta coisa. Precisamos arrumar um lugar
para depositar esse camarada, deixa-lo meio sem contato com o pessoal da
profissão durante algum tempo, até que possamos esclarecer tudo.’
Em suma, o que ele queria
dizer era cárcere privado, em última instância. E nomeou quatro idiotas para
achar um lugar para colocar o camarada.
E um dos quatro era eu. Não
me recordo exatamente quem eram os outros. Um dos quatro, salvo engano, era o
jornalista Rocco Bonfiglio, irmão da Mônica Bonfiglio, que aliás faz programas
de TV sobre anjos, essa coisa toda. Muito boa pessoa, eram muito meu amigo
também, naquela época.
(...) ... no fim, colocamos
o sujeito lá e, de três em três dias, alguém ia levar comida e cigarros para
ele. E o sujeito ficou depositado lá um tempão. Levei comida para ele três ou
quatro vezes. Depois designaram outras pessoas para fazer isso, e eu não soube
de mais nada. Um dia escuto, entre dois militantes, na redação a seguinte
conversa:
- Sabe quem estava aí, na
portaria? Aquele f. d. p. do fulano de tal – que era aquele antigo chefe da
base. Não deixamos nem entrar.
Isso queria dizer que o
sujeito estava virtualmente excluído. Junto da exclusão do Partido, estava
excluído da profissão, pelo menos em São Paulo. Achei aquilo tudo normal,
porque pareciam medidas de segurança, e passados outros meses, certo dia, estou
num bar na frente da Folha de S. Paulo, tomando um cafezinho, e aparece o tal
do sujeito, magro, chupado, barbudo, com um ar de mendigo. E vem falar comigo.
E eu, como militante devotado, virei-lhe as costas e não falei com ele.
Também levei anos para
compreender a significação moral – ou imoral – daquilo que fiz, porque na
verdade ocorreu o seguinte: houve um cárcere privado, exclusão da profissão,
descriminação odiosa, a destruição total de uma vida, de uma carreira, no fim
das contas, por causa de uma desconfiança. E todo mundo considerou isso normal,
porque o Partido tinha todo o direito de agir assim. Nem se questionava.
Não tive o menor problema
moral na época por ter procedido assim. O bem estava conosco; do outro lado não
eram nem gente. Portanto, ninguém iria perder tempo tendo bons sentimentos para
com um sujeito que pensa de outra forma e tem outra orientação política.
Na época, estive insensível
a esta coisa. Entretanto, mais tarde, analisando o que se passou, eu vejo...
Por exemplo, hoje, esses que pedem indenização porque dizem que ‘foram
excluídos da profissão’ e não sei o que mais. Ao contrário, no Partido era
normal excluir uma pessoa, fechar uma boda, jogar um cidadão na miséria, na
exclusão, no silêncio e no isolamento total. Então, esse negócio de que ‘fomos
discriminados’, são ‘lágrimas de crocodilo’. Isso é a coisa mais falsa e torpe
a que se pode assistir. É uma coisa medonha, que não considero moralmente
justificável” (Tomo 3, pg. 108-109).
Os
“democráticos” terroristas foram buscar ajuda democrática em Cuba
“Uma prova inequívoca dessa
desproporção no julgamento, de si e dos outros, foi justamente o que aconteceu
nos anos seguintes, à medida que a esquerda – e sobretudo a ala mais radical do
Partido Comunista – reagindo contra um regime autoritário mas muito brando e
que havia se imposto sem a menor violência, foram buscar ajuda logo de quem? Da
ditadura mais sangrenta que havia na América Latina, a de Fidel Castro. Até àquela
altura, Fidel Castro já havia fuzilado 17 mil cubanos e logo depois, para a
intervenção em Angola, matou 100 mil angolanos no prazo de poucas semanas.
(...)
Eu poderia até ser contra o
novo regime, mas o novo regime não era um regime assassino, não era um regime
violento, não era um regime cruento. E eles foram pedir ajuda e se aliar ao que
havia de mais violento, de mais cruel na América Latina. Qual a justificativa
moral que se pode apresentar para isso? Moralmente, qual é o sentido que faz
uma coisa dessas? Com um único ato deste, o indivíduo já desmascara o seu
intuito na mesma hora.
Porque, se o sujeito, para
reagir contra o Governo do Marechal Castello Branco, vai pedir ajuda a Fidel
Castro, isto significa claramente que o indivíduo nada tem contra o uso da
violência, nada tem contra o derramamento de sangue, nada tem contra o
genocídio. Tem apenas contra o Marechal Castello Branco, é o que se entende”
(Tomo 3, pg. 109-110).
“Neurose
é uma mentira esquecida na qual você ainda acredita”
“Então, esses dois capítulos
– a covardia inicial, seguida dessa escolha errada do Partido – são capítulos
da novela psicótica da esquerda nacional. Eu não tenho a menor dúvida de que
toda a esquerda nacional, desde então, está possuída por uma fantasia psicótica.
É por isso que hoje em dia
eu não aceito mais quando a pessoa diz: ‘Temos que discutir as divergências
ideológicas, respeitosamente.’ Respondo: ‘Está bem, uma divergência ideológica
pode-se discutir respeitosamente, mas uma psicose não.’ Uma psicose não se
respeita, e aliás nem se desrespeita: uma psicose se diagnostica e se cura.
Agora, como é que se cura
uma psicose? Pelo velho método psicanalítico do desmascaramento. Tenho um
amigo, um grande gênio da psicologia clínica, que dava a seguinte definição
para neurose: ‘Neurose é uma mentira esquecida na qual você ainda acredita.’
Até hoje, toda a história da esquerda brasileira é exatamente a história dessas
duas mentiras esquecidas: a covardia de 1964 e a aliança macabra com um governo
genocida para combater um autoritarismo brando” (Tomo 3, pg. 111).
Caio
Prado, o ídolo intelectual dos comunistas
“Com base no livro do Caio
Prado [A Revolução Brasileira], vai se formando uma ala radical disposta a
romper com a estratégia clássica do PCB, que era a aliança com a burguesia, e
partir para uma solução violenta. Essa é a origem das guerrilhas.
É evidente que toda a
argumentação usada para levar a decisão à guerrilha era falsa. Toda ela era uma
racionalização neurótica – como se diz em psicanálise – para ocultar o fato
básico. O fato básico é que a esquerda já vivia na mentira e na covardia muitos
anos antes. Por quê? Porque a guerrilha já tinha começado em 1961 e, em 1961,
Cuba já estava dando ajuda às ‘Ligas Camponesas’ do Francisco Julião para fazer
uma guerrilha no Brasil.
Portanto, veja que coisa
absurda: se já havia a guerrilha, já havia a ala radical, e a guerrilha já
estava em ação desde 1961, como é que o fracasso poderia ser explicado por
culpa da estratégia pacifista do Prestes? Não tinha estratégia pacifista
nenhuma, eles já estavam fazendo guerrilhas antes! E no entanto, toda aquela
argumentação pomposa e pseudo-intelectual do Caio Prado (aqui para mim e cá
entre nós, acho ele um palhaço) que vem desde a história colonial, baseada em
dados econômicos, mas ocultando o básico. Se ele estava argumentando que não
existe burguesia nacional e, portanto, a estratégia pacífica foi a culpada do
nosso fracasso, ele está simplesmente omitindo o fato de que não havia
estratégia pacíifica nenhuma, de vez que já havia guerrilha, aqui, desde 1961”
(Tomo 3, pg. 113).
“O Caio Prado era o ídolo
filosófico dos comunistas, na época, e os anarquistas também tinham o seu ídolo
filosófico, que era o falecido Mário Ferreira dos Santos, este sim de uma
capacidade fantástica.
Certo dia realizaram um
debate para analisar uma questão do ponto de vista marxista e do ponto de vista
do Proudhon, do anarquismo. Chamaram então o Caio Prado para apresentar o pondo
de vista marxista e o Mário Ferreira para apresentar o ponto de vista
anarquista. Falou primeiro o Caio Prado, aquela coisa toda elegante; quando
terminou, o Mario Ferreira se levantou e disse: ‘Olha, o pondo de vista
marxista não é esse que você disse, não. De modo que eu vou refazer a sua
conferência, antes de começar a minha’. E refez toda a conferência do Caio
Prado. Quando foi dito que iriam publicar a transcrição, o pessoal comunista
ameaçou jogar uma bomba na gráfica anarquista para evitar que o seu filósofo
fosse exposto àquela vergonha. Isso é só para dar uma ideia do que um filósofo
de maior envergadura pode fazer com um Caio Prado da vida.
Note bem, destes
intelectuais do Partido Comunista, o único que respeito, pelo trabalho
intelectual, é o Jacob Gorender. Seu livro, O
Escravismo Colonial, é um trabalho realmente de muito peso para a gente”
(Tomo 3, pg. 114).
Os
dois discursos do Partido Comunista: um público, outro secreto
“Na história do Partido
Comunista, sempre houve dois discursos, uma para dentro e um para fora. Tem o
discurso em petit comité, o discurso dos
congressos dos partidos, e tem a propaganda para fora, que é totalmente
diferente. No Partido dos Trabalhadores (PT), ocorre exatamente a mesma coisa.
Se você acompanha as discussões nos congressos do PT, verá que não têm
absolutamente nada a ver com o discurso que é feito, depois, para o público.
Essa duplicidade é uma coisa
crônica na história do comunismo. Mentir, representar outro papel, para o
comunista é uma coisa natural, principalmente aqueles que tiveram a experiência
da clandestinidade. A clandestinidade é uma mentira, é ter uma vida de mentira.
Você representa um papel fictício para fora e outro para dentro. Só que,
durante o tempo em que você está na clandestinidade, é obrigado a fazer isso,
porque, teoricamente, está correndo um risco. Mas acontece que, ao passar o
risco, você continua a praticar aquilo que se incorporou à sua personalidade.
Significa dizer que a
hipocrisia, a mentira, a farsa, fazem parte da estrutura de caráter do
comunista; são treinados para isso, e acabam incorporando estes hábitos
nefandos. No fim, aquilo se torna inteiramente natural, a duplicidade de
consciência. E observei muitos e muitos casos disso aí.
São exemplos que não acabam
mais. Quer dizer: para o comunista, encarar a sua atuação política num certo
plano e a sua vida pessoal num outro plano inteiramente diferente, sem ser
capaz de julgar uma pela outra, é a coisa mais normal do mundo.
Por exemplo, Karl Marx tem
páginas muito ácidas sobre os burqueses que exploram sexualmente as suas
empregadas. Entretanto, Karl Marx teve um filho com a sua própria empregada, e
jamais deixou que esse filho se sentasse à mesa junto com a família. E ele não
percebia nada de incoerente nisso, porque já estava na mentalidade dupla.
E este mesmo tipo de conduta
observa-se, também, no total desprezo para com as mulheres do povo que você usa
sexualmente. Notei isto em todos os militantes comunistas que conheci, com
exceção daqueles que eram casados com mulheres muito ciumentas e não podiam se
dar ao luxo dessa brincadeira. Usavam a mulher, assim, como se fosse um lixo.
(...)
Eram discípulos [de Karl
Marx] no sentido psicológico, não doutrinário. Você não precisa conhecer o
pensamento do sujeito para imitar uma conduta psicológica que já se tornou
tradicional dentro daquele meio. Essa duplicidade de caráter, duplicidade de
língua – o famoso bilinguis maledictus,
de que fala a Bíblia, ‘maldito homem de duas línguas1 – isto aí é a coisa mais
comum, e era considerado normal.
Creio que não existe obra
mais significativa da mentalidade comunista do que a de Bertolt Brecht. Brecht
dizia assim, cinicamente: ‘A verdade ou a mentira são igualmente úteis, desde
que sirvam ao comunismo1. Quer dizer, o comunismo está acima da verdade e da
mentira. O sujeito educado assim está autorizado a mentir o quanto queira,
inclusive para si próprio. Isso eu observei muito (Tomo 3, pg. 114-115).
Marcuse
dava o pretexto ideológico e Gramsci a modalidade de organização partidária
“Marcuse usava uma expressão
absolutamente fantástica: dizia que a estratégia deveria ser não a de atacar
diretamente o sistema, mas a de fazer a sua decomposição difusa. Isto é, você
espalharia, por tudo quanto é lado, militantes e intelectuais – sem ligação
aparente uns com os outros – que iriam corroendo, aos poucos, todos os valores,
instituições etc., e destruindo sua estrutura de dentro para fora.
Essa estratégia, aplicada
nos Estados Unidos, deu certo, e, hoje, os Estados Unidos não são mais, de
maneira alguma, a a mesma nação que fora até a década de 1960. A cultura
americana tornou-se uma cultura francamente antiamericana. Nunca, houve, em
país nenhum do mundo, uma classe letrada que estivesse maciçamente contra o
próprio país, como nos EUA.
Os Estados Unidos são o
maior exportador de propaganda antiamericana que existe; a propaganda antiamericana
que circula no mundo é 80% produzida em Hollywood e Nova York, e isso tudo foi
um estado de coisas criado pela tal da ‘revolução cultural’ que, nos Estados
Unidos, foi mais marcuseana, na verdade, do que gramsciana. Mesmo nos Estados
Unidos, a difusão de Gramsci é bem posterior.
(...)
Assim, a primeira faixa que
Marcuse via como revolucionária – como substituta do proletariado – seria a de
estudantes. A segunda faixa reuniria as pessoas que estão marginalizadas por um
motivo moral: as prostitutas, os gays, os delinquentes.
A segunda seria o
lumpemproletariado. Marcuse foi o primeiro a dizer claramente que o
lumpemproletariado era sempre ideologicamente ambíguo – adquiria uma força
revolucionária na nova situação – no capitalismo já mundializado, bem-sucedido
economicamente).
A terceira seriam as
chamadas minorias insatisfeitas, entre as quais as nações mais pobres do
Terceiro Mundo. Com isso você pode ver que Marcuse formulou toda a atmosfera e
toda a simbologia da esquerda de hoje. A esquerda essencialmente marcuseana é
uma esquerda que já não arregimenta proletários, mas arregimenta prostitutas,
gays, minorias raciais etc.
As obras de Marcuse
começaram a ser editadas no Brasil mais ou menos por essa época, 1965-1966,
enquanto desenrolava aquela discussão dentro do Partido. Ao mesmo tempo, a
Editora Civilização Brasileira do falecido Enio Silveira, a maior editora do
Partido, começava a publicar as obras de Antônio Gramsci. Antônio Gramsci
praticamente organiza e articula a estratégia da revolução cultural, cujo
conteúdo ideológico e publicitário, por outro lado, o pessoal tinha absorvido
de Marcuse.
Não houve nenhum contato
entre os dois, evidentemente. Gramsci nunca soube da existência de um sujeito
chamado Marcuse, mas, antes mesmo da difusão das ideias de Marcuse, Gramsci já
criara um aparato para operacionalizar – e, portanto, viabilizar – aquilo tudo.
Marcuse dava o pretexto
ideológico e Gramsci a modalidade de organização partidária. Tudo estava sendo
estudado pelos ‘velhos’ do Partido, pelo pessoal do Prestes. Então, enquanto
uma meia dúzia de malucos se dedicava à guerrilha, ia para a guerrilha para
morrer, o que fazia o Partidão? Fazia, por exemplo, o treinamento de pessoas
para ocuparem as cátedras de Educação Moral e Cívica abertas pelo Governo.
(...)
Educação
Moral e Cívica é usada para a ação comunista
Como é que eu sei disso? É
muito simples: minha própria mulher trabalhou nessa empreitada, na época,
fazendo exatamente isso. Era muito comum. Ela estudava Ciências Sociais na Pontifícia
Universidade Católica (PUC). E havia um grande número de estudantes de Ciências
Sociais, militantes de esquerda, que foram ocupar as cátedras de Educação Moral
e Cívica e as transformaram em instrumentos de pregação comunista subsidiados
pelo Governo militar.
Uma outra iniciativa que
começou, então, foi a ocupação sistemática das chamadas ‘Sociedades Amigos de
Bairros’, que, dentre as suas atividades, faziam reivindicações à Prefeitura,
como tapar buraco, fazer um encanamento de esgoto, coisas assim. Enquanto a ala
do Marighella se dedicava àquela coisa estéril da guerrilha, o pessoal do
Partidão ia se infiltrando em todas essas organizações. Outro detalhe
importante foi a organização da classe jornalística. Nisto, como no caso da
Educação Moral e Cívica, quem criou inadvertidamente o instrumento para a ação
comunista foi o próprio Governo, regulamentando a profissão de jornalista e
tornando obrigatória a sindicalização.
(...)
Então, nós nos dedicávamos a sindicalizar as pessoas e colocá-las
automaticamente em nossa órbita ideológica. Isso começa em 1965-1966. Ao chegar
à metade da década de 1970, podemos dizer que o Partidão já tinha o controle
praticamente total da bolsa de empregos na profissão jornalística no Estado de
São Paulo” (Tomo 3, pg. 118-121).
“Enquanto eles estavam fazendo guerrilha, o
lado dos ‘velhos’ estava montando o aparato cultural inteiro. Estava tomando
todas as universidades, os meios de comunicação, as instituições de cultura –
que, hoje, dominam totalmente, da maneira mais cínica que se possa imaginar. E
o Governo militar estava totalmente alheio, totalmente voltado para a luta
armada e, propositadamente, deixava a esquerda pacífica atuar como quisesse,
primeiro, porque o Governo não tinha nada contra a esquerda pacífica. Ele só
não queria dois tipos de coisa: a luta armada e a corrupção. Se não ocorresse
nenhuma dessas, os esquerdistas podiam fazer propaganda ideológica à vontade.
Era a teoria do Golbery, a
teoria da panela de pressão. Ele dizia: ‘Não pode fechar a panela de pressão
por todos os lados que ela explode. É preciso deixar uma válvula de escape’.
Ora, a válvula que foi
deixada foram as instituições de cultura, os meios de comunicação, as
universidades... (Tomo 3, pg. 125).
Obs.:
Como
afirma Olavo, “o Partidão usou a turma da guerrilha, como diz o caipira, como
‘boi-de-piranha’ ”, concentrando o Governo seus esforços no combate à
guerrilha, deixando as universidades inteiramente à disposição da “esquerda
pacífica”. Deu no que deu, a balbúrdia denunciada pelo ex-ministro da Educação,
Abraham Weintraub. Prova? Em 2020, o Brasil não tinha nenhuma universidade
entre as 200 melhores do mundo.
F. Maier
MST,
os sovietes brasileiros
“O MST não é uma organização
sindical, não é um partido político, não é uma guerrilha: é uma mistura de tudo
isso. O que era exatamente uma mistura de tudo isso era o soviete na Rússia. A
organização do MST – quem estudar um pouquinho o assunto verá – é rigorosamente
a cópia do soviete, e o soviete serve para quê? Para desmantelar a estrutura
agrária e preparar a futura administração socialista do campo. É exatamente
isso que o MST está fazendo.
Na Rússia, a criação dos
sovietes levou décadas. Aqui, tudo foi feito em oito anos, com o dinheiro do
Governo. Portanto, o MST deveria erguer uma estátua para o Fernando Henrique,
porque ele é seu verdadeiro criador. Mas sempre, para o esquerdista, é normal
entrar dentro do aparato do adversário, e consentir ser publicamente
identificado como adversário, enquanto trabalha para a esquerda. É exatamente o
que fez o Fernando Henrique” (Tomo 3, pg. 128).
Fabian Society
“Esta questão da Nova Ordem
Mundial está sendo discutida e planejada pelo menos desde a década de 1920.
Houve um projeto inteiro – em 1928 já estava totalmente formulado – que saiu
num livro de Herbert George Wells, intitulado The Open Conspiracy. Toda a Nova Ordem Mundial está delineada ali.
A ideia da nova ordem
mundial é essencialmente uma criação da chamada Fabian Society, Sociedade Fabiana. Os socialistas fabianos são
socialistas moderados, inventores da chamada ‘terceira via’ que também já
estava formulada na década de 1920.
Onde surge a ‘terceira via’?
Surge de um fator muito simples: o capitalismo é um regime que produz uma tal
riqueza, uma tal prosperidade que acaba criando, junto com a prosperidade
geral, certas fortunas que transcendem a própria mecânica do capitalismo. Por
exemplo, um sujeito que cresceu e que enriqueceu num regime de livre
concorrência, quando chega ao topo do capitalismo, isto é, se tornou uma das
grandes fortunas, percebe que, embora a sua fortuna tenha sido criada pelo
regime de livre concorrência, ele já não pode estar submetido à mesma. Nesse
momento, surge o problema dinástico, porque ele aspira passar aquela fortuna
para seus descendentes e perpetuá-la. Então ele já não quer mais livre
concorrência, porque deseja garantir a continuidade.
Isso quer dizer que a classe
capitalista se forma na livre concorrência, mas se consolida como um poder
dinástico, e, portanto, já não mais de tipo capitalista, e sim de tipo
aristocrátic9.
(...)
Então, é isto que explica o
seguinte: se você pegar as duzentas maiores fortunas dos Estados Unidos – a
começar por Rockefeller, Morgan etc. -, você verá que, nas eleições americanas,
desde o começo do século, eles jamais apoiaram o candidato pró-capitalista, mas
sempre o candidato estatista, intervencionista, controlador da economia,
semi-socialista. Isso acontece porque essas grandes fortunas, esses grandes
bancos internacionais, vivem de emprestar dinheiro para o governo, que é o
grande cliente deles. Precisando do endividamento público, precisam do governo
intervencionista.
(...)
Teoricamente, Reagan seria
um homem do capitalismo liberal, uma espécie de Margareth Thatcher –
ex-Primeira-Ministra britânica – de terno e gravata, mas, quando você vai ver,
o que é que o Reagan fez? Ele fez o maior endividamento público de toda a
história americana.
Quer dizer, durante a
administração Reagan, o Estado cresce mais ainda. Eles sempre apoiaram mais uma
política intervencionista. Ao mesmo tempo, essa mesma elite sempre usou a União
Soviética – e o movimento comunista de modo geral – como instrumento de pressão
em cima do governo americano. Se você for ver a própria história da União
Soviética, sua história inteirinha, você vai ver que a União Soviética só
existiu graças à ajuda americana.
(...)
Quando vemos que esses
grandes bancos vivem do endividamento público, eles têm que ser contra o
capitalismo liberal, e têm que ser a favor de um regime intervencionista. Mas o
comunismo total, por outro lado, também não serve para eles. Então o que
fizeram? A ‘terceira via’ foi a solução que encontraram, pois já tinham pensado
nisso. Tudo está escrito, publicado, desde a década de 1920.
Então, esse pessoal vai
empurrando o mundo cada vez mais para uma espécie de socialismo mezzo a mezzo, um socialismo que, no
fundo, seria idêntico à economia fascista, à economia nazista – porque é um
regime estatista -, mas conservando-se o Poder das grandes empresas, como você
tem na China hoje, também.
(...)
Quando identificamos a Nova
Ordem Mundial com a ideia de interesse nacional americano, estamos cometendo um
erro, porque a Nova Ordem Mundial nada tem a ver com o interesse americano, mas
tem vínculos com duzentos banqueiros. Se, para formar a Nova Ordem Mundial, for
necessário destruir os Estados Unidos, como de fato vem sendo feito – a cultura
americana já foi destruída -, eles o farão” (Tomo 3, pg. 132-135).
Terrorismo
cultural – a falsa caça às bruxas
“Quando dizem que o
pensamento brasileiro foi sufocado, isto é autolisonja. Pensamento brasileiro à
época? Que eu saiba... Que grandes pensadores existiam aqui? Havia o Mário
Ferreira dos Santos, que a esquerda toda ignorava e que continua ignorando;
havia o Miguel Reale; havia o Vilém Flusser, um emigrado tcheco que chegou aqui
e, em três anos, aprendeu a escrever em português – escrevia um português
maravilhoso. Flusser era um grande filósofo, e nunca lhe deram a menor atenção.
Flusser acabou indo embora, na década de 1970, por não suportar mais a
mesquinhez do meio. Não foi perseguido por ninguém, não foi posto para fora por
ninguém. Os caras que foram demitidos da USP e de outras universidades, eram
para ser demitidos mesmo, mas não por motivo político: eram para ser demitidos
por inépcia.
A visão que esse pessoal tem
da coisa é tão falsedada que existe um livro sobre a época, intitulado A Fúria
de Calibã, escrito por Nelson Werneck Sodré – general e historiador comunista –
que tenta traçar o panorama do que define como caça às bruxas da época – o tal
‘terrorismo cultural’, essa coisa toda. E conta que um foi demitido, o outro
exilado etc. Ninguém de verdadeiro relevo intelectual. No meio da narrativa,
Sodré adianta que, naquele ano (refere-se a 1965, creio) publicou oito livros
que foram comentados e aplaudidos por toda a imprensa. Quer dizer, o homem
publicou livremente as suas obras naquele ano, foi aplaudido na imprensa, e
ainda tomou posse no Instituto Brasileiro de História e Geografia Militar, numa
cerimônia à qual estava presente o Presidente da República. Agora você imagina
se, em Cuba, é possível uma situação dessas: Fidel Castro comparecer a uma
cerimônia na qual vai tomar posse, na Academia, um homem da oposição. O próprio
Nelson Werneck se desmascara no livro” (Tomo 3, pg. 136-137).
Revanchismo
& neurose = compensação financeira
“É mais do que um
‘revanchismo’, é uma vontade de dissipar aquele sentimento confuso que você tem
dentro de si (a culpa mal conscientizada, a culpa não declarada). Isso cria uma
configuração neurótica, da qual o sujeito tenta escapar mediante a busca de
compensações morais. Então eles têm que estar continuamente fazendo homenagens
a sim mesmos, dizendo: ‘Éramos mártires, éramos patriotas, éramos
maravilhosos’. Um puxa o saco do outro, joga confete no próximo etc.; mas isto
também não basta; é preciso poder; mas poder também não basta: é preciso
dinheiro. Em suma, são satisfações neuróticas buscadas para compensar o próprio
quadro neurótico que eles mesmos criaram com suas mentiras existenciais. Estão
todos mentindo para si mesmos há trinta anos. É aquela coisa: ‘Neurose é uma
mentira esquecida na qual você ainda acredita’. Isto é a vida deles. Eles
mentiram em 1964 e já esqueceram a mentira, mas continuam vivendo com base
nela.
Quando você vai procurar
apoio de Cuba e diz que é para instaurar a democracia, você está mentindo,
evidentemente. Mas esse fato é melhor esquecer. Você não é capaz de contar mais
a sua história com sinceridade, não é capaz de dizer: ‘Éramos comunistas,
queríamos aqui uma ditadura como a de Fidel Castro mesmo, queríamos fuzilar
todo mundo e não nos deixaram, e ficamos loucos da vida porque não nos
deixaram’.
Não podendo confessar isso
em público0 – e talvez não confessem nem para si mesmos -, vivem na base da
mentira, e é justamente isso que os induz a buscar compensações morais,
psicológicas, financeiras etc. Quer dizer, o destino do País está sendo
decidido pela neurose de um grupo – pela neurose, pela mentira existencial de
um grupo de idiotas pretensiosos” (Tomo 3, pg. 139-140).
Obs.:
Um
artigo histórico de Olavo de Carvalho, “A História Oficial de 1964”, pode ser
visto em https://felixmaier1950.blogspot.com/2020/06/a-historia-oficial-de-1964-por-olavo-de.html.
No
livro “O Imbecil Coletivo”, à pg. 291, Olavo diz:
“Pertenci
à ala marighelista do PCB, assisti de perto à preparação do que viria a ser o
movimento guerrilheiro, e nunca vi lá dentro, exceto na arraia-miúda desprezada
como ‘massa de manobra’, o menor sinal de romantismo e idealismo. O que vi foi
apenas uma indignação fanática que o treinamento acabava por transformar em
ódio frio e em absoluta incapacidade de enxergar qualquer coisa de humano no
rosto do adversário, sempre reduzido a uma caricatura monstruosa. Muitos
militantes acabaram por assimilar definitivamente esses traços à sua
personalidade. É precisamente o caso de José Dirceu, cuja oratória tem por
isso, até hoje, aquela típica ‘eloquência canina’ do acusador compulsivo”.
Os
detratores de Olavo de Carvalho o chamam de bruxo, de negacionista (“a Terra é
plana”, “o homem não descende do macaco”), de supremacista branco, de
astrólogo, de guru de Jair Bolsonaro e seus simpatizantes, de “filósofo
autonomeado” e “filósofo autointitulado”, embora saibam que ele sempre se apresentou
apenas como escritor e jornalista. Quem afirmou que o mesmo é filósofo, primeiro
foi o Jornal do Brasil, depois outros
jornais e revistas. Quem denomina Olavo de “filósofo” é a Academia Brasileira
de Filosofia, o Instituto Brasileiro de Filosofia, a Universidade da Cidade e a
Universidade Católica do Salvador (cfr. “O Imbecil Coletivo", pg. 307-308).
F.
Maier
MEMORIAL 31 DE MARÇO DE 1964
http://felixmaier1950.blogspot.com/2020/09/memorial-31-de-marco-de-1964-textos.html
HISTÓRIA ORAL DO EXÉRCITO – 31 MARÇO 1964
http://felixmaier1950.blogspot.com/2020/09/historia-oral-do-exercito-31-de-marco.html
Ainda:
Baixe o livro “Arquipélago Gulag” em https://www.docdroid.net/BUe5N4M/aleksandr-solzhenitsyn-arquipelago-gulag-pdf.
Veja 741 fotos dos Gulags em https://www.gettyimages.pt/fotos/gulag?phrase=gulag&sort=mostpopular
Veja 63.080 imagens e fotos do Comunismo em https://www.gettyimages.pt/fotos/comunismo?phrase=comunismo&sort=mostpopular
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