MEMORIAL 31 DE MARÇO DE 1964

MEMORIAL 31 DE MARÇO DE 1964
Avião que passou no dia 31 de março de 2014 pela orla carioca, com a seguinte mensagem: "PARABÉNS MILITARES: 31/MARÇO/64. GRAÇAS A VOCÊS, O BRASIL NÃO É CUBA." Clique na imagem para abrir MEMORIAL 31 DE MARÇO DE 1964.

terça-feira, 13 de julho de 2021

E eles não querem ser chamados de fascistas - Por Bertone Sousa

E eles não querem ser chamados de fascistas


Na América Latina, o Brasil tem sido um dos países mais flexíveis em julgar e punir os militares acusados de tortura durante o período da ditadura. Agora, no entanto, alguns fatos podem vir à tona com a Comissão Nacional da Verdade, instituída por lei pela presidente Dilma em 2011 e instalada no ano passado.  Como todos sabem por ter sido amplamente divulgado, o objetivo da Comissão é investigar casos de tortura e violações de direitos humanos cometidos pelos militares contra dissidentes de esquerda durante o período em que os militares estiveram no poder.

Sabemos que só no dia seguinte ao golpe de 31 de março de 1964 centenas de lideranças políticas, sindicalistas e estudantes “desapareceram”. O regime depôs um presidente democraticamente eleito para impedir o que consideravam como inserção do comunismo no Brasil. Diante disso, nada mais legítimo do que investigar os crimes dos pretensos defensores da ordem nacional que torturaram e executaram milhares de inocentes de Norte a Sul do país.

Mas para alguns direitistas, a existência de uma Comissão como essa é ilegítima, como são ilegítimos, para eles, qualquer governo de esquerda e qualquer iniciativa para investigar os abusos do regime militar. Digo isso após ter observado este texto, que nada mais é do que uma manifestação insultuosa e raivosa contra a comissão e contra um de seus membros, Claúdio Fonteles.

Para o autor do texto, a comissão deveria considerar como crimes os gestos de resistência da oposição contra o regime. Ora, o regime era ilegítimo, aboliu a democracia, a constituição, fechou o Congresso. O regime foi instituído para reprimir, não para dialogar, e aqui já reside um grande disparate do autor do texto, o senhor Félix Maier. A oposição teve de buscar outros meios para lutar pela democracia e um deles foi a luta armada. O site oficial da Comissão é bem claro a esse respeito: A Comissão foi criada pela Lei 12528/2011 e instituída em maio de 2012. Ela tem por finalidade apurar graves violações de Direitos Humanos, praticadas por agentes públicos, ocorridas entre 18 de setembro de 1946 e 5 de outubro de 1988. (Grifos meus) O trecho dispensa comentários. Mas vamos por partes.

O autor do texto está escrevendo para o site direitista “Mídia sem Máscara”, que há muitos anos tem se destacado por fomentar o ódio contra todo intelectual e movimento de esquerda, com textos escritos com uma agressividade e reacionarismo que fazem Veja, O Globo e Folha de S. Paulo parecerem brincadeira de criança. O nome do site que pretende ser “sem máscara” já é, por si mesmo, um engodo, já que a filiação ideológica de seus colunistas é claramente expressa em todos os seus textos. O fundador e mentor ideológico do site é o jornalista Olavo de Carvalho, sobre quem já postei alguns textos aqui. O site possui uma orientação fascista (embora seus autores o neguem), mas vários de seus textos são explícitos sobre isso: anti-comunista, anti-iluminista, nacionalista. Para solidificar a doutrinação de jovens e outros interessados (o que não poderia ser feito apenas com artigos de um site), Olavo ministra um Seminário de Filosofia, em que fornece os direcionamentos teóricos para um pensamento de extrema direita, como o que é expresso aqui por Félix Maier.

Na continuação do texto, Maier afirma: A Comissão lembra os “Esquadrões de Reescritores” da distopia de George Orwell, 1984, e tenta reescrever a História recente do Brasil à sua cara, a cara da mentira. O paralelo com a obra de George Orwell é espúrio e o objetivo da comissão não é reescrever a história do Brasil, mas investigar abusos e violações a direitos humanos. Se fosse um regime de direita fazendo isso com ex-governantes de esquerda, certamente Félix Maier não chamaria essa atitude de “mentira”. Ao usar esse termo ele demonstra ignorar todo o debate contemporâneo em torno da questão da verdade histórica. Para os defensores de uma ideologia totalitária (e nesse caso estamos lidando com uma postura totalitária de direita) só há uma verdade, a expressa por um grupo. Qualquer coisa dita de forma diferente é denegada como falaciosa, e o autor não apenas a denega, como também a insulta.

E ele prossegue: Na mesma obra orwelliana constam as inserções televisivas “Dois minutos de ódio”, que a presidente Dilma transformou em “Dois anos de ódio contra as Forças Armadas”, podendo essa cultura odiosa ser prorrogada por mais dois anos. Vale lembrar que a presidenta é a comandanta-em-chefa das Forças Armadas, as quais ela deveria respeitar, não destilar seu ódio e patifaria sem limites.

Por estar se referindo à presidenta, o autor, mesmo discordando de suas posturas, poderia, no mínimo, usar uma linguagem mais respeitosa e argumentar sem o uso de termos ultrajantes. Mas se o leitor observar os textos dos colunistas do Mídia sem Máscara, verá que essa é uma prática corriqueira de vários deles. O autor não explica em que a presidenta está desrespeitando as Forças Armadas e nem qual o problema da Comissão da Verdade, exceto por seu descontentamento expresso de forma tacanha.

E ele conclui com esta pérola:

Finalizando, a História do Brasil, a antiga e a recente, deveria ser apenas escrita por historiadores, não por paus-mandados da vil ideologia socialista. Um dia, a História verdadeira do Brasil se imporá a seus habitantes, e o trabalho do Comando Vermelho de Dilma Rousseff será jogado na lata de lixo, onde ficará para sempre.

O tom iracundo e injurioso de todo o texto manifesta a filiação ideológica do autor, que não pode pretender ter razão por não apresentar argumentos minimamente embasados. O que ele entende por “História verdadeira?” E que tipo de historiadores ele acha que devam escrever essa história? Ela deverá ser a única? Mas isso está implícito em suas palavras. E eles ainda não querem ser chamados de fascistas. Ao pretender jogar os trabalhos da comissão “na lata de lixo” o autor evoca uma prática dos regimes totalitários, que é a supressão da divergência, da diversidade ideológica. Veja o leitor que ele pretende que uma história que chama de “verdadeira” se imponha à sociedade. Quem imporá essa história e como? Estaria Maier pedindo por um novo golpe militar? Não importa para ele que direitos humanos estejam em questão, ele apenas acha que os militares jamais deveriam ser investigados. Esta é a típica postura do ultra-conservadorismo da direita brasileira, avessa a qualquer coisa que arranhe seus privilégios ou escarafunche seu passado e acostumada a ver os seus interesses sendo os interesses do conjunto da nação. É a postura aristocrática que toma a oposição e a participação popular na política por banditismo (o uso do termo “Comando Vermelho” alude a isso).

Em tempo: Recentemente o site Pragmatismo Político veiculou uma notícia que mostra que o ex-presidente João Goulart – deposto pelo regime que Félix Maier tanto defende e do qual Olavo de Carvalho e seus sequazes são saudosistas – foi envenenado no Uruguai, segundo Mário Neira, um ex-agente secreto. Mas o “Mídia sem Máscara” jamais noticiará isso. Este inclusive, poderia ser um dos inquéritos da Comissão da Verdade, um presidente democraticamente eleito e deposto por uma junta militar foi assassinado logo depois. Segundo Neira, Jango era considerado uma ameaça pelos militares brasileiros, já que organizava planos para a democratização brasileira. A sociedade brasileira apenas tem a ganhar com os trabalhos da Comissão da Verdade. E se Félix Maier não tem nada de importante a dizer, poderia ao menos ficar calado.

Bertone Sousa

Professor e historiador. Mestre e doutor em História pela Universidade Federal de Goiás (UFG) e professor do curso de História da Universidade Federal do Tocantins (UFT). Este é um blog com foco em temas relacionados à história, política e religião.

Fonte:

https://bertonesousa.wordpress.com/2013/01/21/e-eles-nao-querem-ser-chamados-de-fascistas/


***

Comentário

Félix Maier

O Prof. Bertone Sousa gostaria de me calar, como fazem os verdadeiros fascistas, como ele. Porém, o que mais tenho feito nestes últimos 20 anos foi escrever para denunciar os crimes cometidos pelo cérbero que infernizou o século XX, com suas três horrendas bocarras: comunismo, fascismo e nazismo.

Ao fim do texto do Prof. Bertone, eu publiquei um comentário, com vários links, para alguns dos meus trabalhos realizados na internet:

Meus caros,

Já que fui citado no texto acima, penso que tenho o direito de apresentar o que penso sobre a História recente do Brasil, em especial “A LÍNGUA DE PAU – Uma história da intolerância e da desinformação".

Boa leitura!

Félix Maier – Brasília, DF

A LÍNGUA DE PAU – Uma história da intolerância e da desinformação

https://drive.google.com/file/d/1jfaOpIMbwzhlaQxspnA9hBnyHX8KX4_E/view?usp=sharing

http://felixmaier1950.blogspot.com/2021/05/a-lingua-de-pau-uma-historia-da_10.html


EDIÇÃO HISTÓRICA DA REVISTA MANCHETE

https://www.conjur.com.br/dl/manchete-abr1964.pdf

 

REVOLTA DOS SARGENTOS EM BRASÍLIA

http://felixmaier1950.blogspot.com/2021/03/revolta-dos-sargentos-em-brasilia.html 

 

ANTECEDENTES DO MOVIMENTO CÍVICO-MILITAR DE 31 DE MARÇO DE 1964

http://felixmaier1950.blogspot.com/2021/03/antecedentes-do-movimento-civico.html

 

HISTÓRIA ORAL DO EXÉRCITO – 31 MARÇO 1964

http://felixmaier1950.blogspot.com/2020/09/historia-oral-do-exercito-31-de-marco.html

 

MEMORIAL 31 DE MARÇO DE 1964

http://felixmaier1950.blogspot.com/2020/09/memorial-31-de-marco-de-1964-textos.html

 

ACERTOS E ERROS DA REVOLUÇÃO DE 1964

http://felixmaier1950.blogspot.com/2020/08/acertos-e-erros-da-revolucao-de-1964.html

 

57o ANIVERSÁRIO DO MOVIMENTO CÍVICO-MILITAR DE 31 DE MARÇO DE 1964

EDIÇÃO HISTÓRICA

Jornal Inconrfidência no. 288, de 31 de março de 2021

https://drive.google.com/file/d/15IYSa-qEsSufEjgSpNX9RuODzUOghOLh/view?fbclid=IwAR1939rDRVwepRY_GWa8d6oYz2sO48Ctwab0AkCNCYsJFWrVp7_m90PbQSk

 

Comunismo, fascismo e nazismo:
as três bocarras do Cérbero que infernizou
o mundo no século XX.



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