Síndrome de Pilatos
Waldemar da Mouta Campello Filho
Capitão-de-Mar-e-Guerra Presidente da CONFAMIL Coordenador do Sistema CONFAMIL.
22/08/2012
Parece uma informação médica, mas trata-se, na realidade, de uma forma de conduta que autoridades têm se valido com muita frequência nos dias de hoje. Isso é tão mais grave, na medida em que a isenção de responsabilidade envolve questões de dolo moral e ético, presenciada por muitos, e criminosa quando se trata de ações realizadas no passado.
Com efeito, em não poucas atitudes expostas à mídia, testemunhamos assertivas originadas do poder central sobre o desconhecimento de fatos sobre os quais, até pessoas de limitados conhecimentos, não entendiam a negativa, motivada para a isenção de culpa e de responsabilidade sobre as consequências decorrentes. Tal fato é ainda mais preocupante quando isso ocorre nas FFAA, em especial com relação a eventos marcantes de nossa história, no qual perdas humanas se fizeram presente e que, por razões mesquinhas, as autoridades de hoje se empenham em eximir-se de respeitar sua memória e a lembrança do sacrifício que fizeram em defesa da democracia no País. Para sermos diretos, tal circunstância se situa nos idos de 1964, e, para nossa tristeza, em pronunciamento recente, constatamos a incidência dessa Síndrome de Pilatos num trecho assim exposto: ... E, o mais injusto dessas atitudes políticas (promovidas em grande parte por militares da reserva e reformados) é que elas atingem primordialmente a atual oficialidade da Ativa cuja grande maioria tinha pouca idade ou sequer era nascida, portanto sem nenhuma responsabilidade nos acontecimentos da época. Perplexidade é o mínimo que podemos dizer a respeito. Essa assertiva sugere que devamos entender que tal Síndrome contamina a muitos dos que se atemorizam ante a perspectiva de perderem suas conquistas, seus avanços pessoais, tudo em nome de um simples gesto de lavar as mãos para o que houve no passado. Isso, salvo melhor juízo, é negar a nossa própria história, com o agravante de expressar a mais absoluta indiferença por aqueles que deram suas vidas no cumprimento do dever, pois estavam agindo sob ordens. Entendemos que esse sentimento reflete uma atitude inexplicavelmente derrotista, como se tivéssemos sido batidos pela escória dos remanescentes que restaram de 1964, pois os que aqui ficaram morreram nos embates para que esses que aí estão se locupletassem, ludibriando a população, voltando-a contra nós, no pressuposto de que eram os reais paladinos da ética e da moral, e os autênticos democratas. Quanto a isso basta observar o que diz a mídia escrita e televisada para vermos o que eles são na verdade. Mas isso não pode, em hipótese alguma, ensejar atitudes como essa que relatamos. Nós, militares, pertencemos a instituições permanentes, que não podem ser tripudiadas por atitudes moleques de agentes públicos transitórios. O fato relatado abre as portas para o que mais desejam de nós, militares; a separação entre militares em atividade dos inativos. Os jovens oficiais de hoje, são, definitivamente, responsáveis, sim, pelo nosso passado e a ele devem o devido respeito, pois assim não sendo, nos desobrigam a reverenciar os feitos de Barroso, Caxias e Eduardo Gomes pelas opiniões de pretensos intelectuais.
From: GALDINO ERNESTO SANTUCCI
Divulgação
Prezado Campello.
Gostei muito do seu texto. Pena que, salvo engano, ele só vá atingir o universo dos da RESERVA/REFORMADOS.
O pessoal da ATIVA está mesmo dissociado dos fatos gravíssimos de 1964 e seus desdobramentos, principalmente a virada do jogo a favor dos derrotados e que deveriam ser os verdadeiros réus do processo e agora posam de salvadores da Pátria e injustiçados. Alguma coisa fizemos de errado na condução dos julgamentos da história pós-Contra-Revolução.
Os da ATIVA estão querendo aparecer com sendo “da situação” e nós somos a “oposição” encrenqueira e reclamona. Basta ver o linchamento a que está sendo submetido o Coronel Ref. do EB, Brilhante Ustra. O Exército simplesmente deixou-o entregue às feras e ele está sendo injustamente condenado, nas instâncias iniciais, por atos praticados no exercício de suas funções no DOI-CODI de São Paulo, cumprindo ordens da cadeia de comando da época. O EB deveria assumir a defesa dessa condição, mas isso vai desagradar as autoridades e certamente não foi cogitado nem seria aceito.
Agora aparece um boato de que vão fechar os Colégios Militares, que se destacaram recentemente como os melhores do País. Vários “Super-democratas”, que ouvi aqui em Salvador, numa emissora local, desancaram o Alexandre Garcia, da TV Globo, por exaltar essa condição desses colégios, que conduzem seus trabalhos escolares com base no regime democrático verdadeiro, apoiado no mérito, na hierarquia e na disciplina, com o uso de uniformes e sem greves de alunos ou professores.
Os defensores dos “Direitos Humanos” conseguiram mandar colocar, na entrada da AMAN, uma placa de pedidos de desculpas da instituição, em favor de um cadete que morreu “EM SERVIÇO” numa atividade curricular. Todos sabemos e todo o mundo sabe que a atividade militar é uma atividade de risco. Casos como esse merecem um minuto de silêncio e a vida continua.
Não vejo como mudar esse “status quo”. Se algum dos meus endereçados souber, pode divulgar.
Forte abraço.
Galdino E. Santucci
Fonte:
https://www.usinadeletras.com.br/exibelotexto.php?cod=65355&cat=Artigos&vinda=S
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