Doutrina Lake: o Big Stick Atualizado
Félix Maier
"Big Stick" é a política do “porrete”, com a qual os EUA tratam os países sem grande expressão político-militar, como o ocorrido nas invasões a Granada (1983) e ao Panamá (1989), e nas “missões da ONU” de "imposição da paz", como na Somália (1992-95), onde obtiveram retumbante fracasso, com soldados americanos sendo arrastados nas ruas de Mogadiscio pelas milícias locais.
Após o fim da Guerra Fria, a política do “Big Stick” passou a utilizar o que chamo de “diplomacia de cruzeiro” (cruise diplomacy), em ataques de Tomahawk (míssil de cruzeiro) contra o Iraque (1991 e 2003), a Sérvia, na Guerra do Kosovo (1999), o Afeganistão (2001), a Líbia (2011), destruindo completamente a infraestrutura desses países.
No Iraque, na terra arrasada por conta da guerra ianque, surgiu o Estado Islâmico, famoso por degolar não-muçulmanos, escravizar sexualmente mulheres cristãs e yazidis, e destruir relíquias históricas. Se a antiga União Soviética pode ser considerada o avô do Estado Islâmico, por invadir o Afeganistão em 1979 e ocasionar a criação de inúmeros grupos islâmicos armados, para defesa daquele país muçulmano - com o incremento também de grupos terroristas, que barbarizaram em várias partes do planeta -, os EUA são, seguramente, o pai do Estado Islâmico, por transformar o Iraque em terra de ninguém, que ficou à mercê de radicais islâmicos.
A Doutrina Lake, por sua vez, foi propagada em 1996 por Anthony Lake, Assessor de Segurança Nacional do Presidente Bill Clinton.
Segundo essa Doutrina, as Forças Armadas americanas devem ser utilizadas em 7 circunstâncias:
1) defender o país contra ataques diretos;
2) para conter agressões;
3) para garantir os interesses econômicos do país;
4) para preservar e promover a democracia;
5) para prevenir a propagação de armas de destruição em massa, terrorismo, crime internacional e tráfico de drogas;
6) com fins humanitários para combater a fome, desastres naturais e grandes abusos de direitos humanos; e
7) em defesa da ecologia e do meio ambiente.
Há 30 anos, houve uma campanha internacional contra o Brasil, acusando o País de "queimar a Amazônia", o "pulmão do mundo", e de assassinar sistematicamente os índios. Era o tempo em que Chico Mendes era incensado como o herói do meio ambiente e da Amazônia, que deu a vida pela causa ambientalista. Livros em inglês, do British Council, no Cairo, onde fiz o curso intermediário (1991), batiam forte no mesmo assunto. Era o tempo em que governantes do mundo inteiro diziam que a Amazônia não é dos brasileiros, mas patrimônio mundial, propondo sua internacionalização.
Veja o que chefes de Estado falaram a respeito:
"Se os países subdesenvolvidos não conseguem pagar suas dívidas, que vendam suas riquezas, seus territórios e suas fábricas” (Margaret Thatcher, Primeira-Ministra da Inglaterra, Londres, 1983);
“Ao contrário do que os brasileiros pensam, a Amazônia não é deles, mas de todos nós” (Al Gore, Vice-Presidente dos Estados Unidos, Washington, 1989);
“O Brasil precisa aceitar uma soberania relativa sobre a Amazônia” (François Mitterrand, presidente da França, Paris, 1989);
“O Brasil deve delegar parte de seus direitos sobre a Amazônia aos organismos internacionais competentes” (Mikhail Gorbachev, chefe do governo soviético, Moscou,1992);
“As nações desenvolvidas devem estender o domínio da lei ao que é comum a todos no mundo. As campanhas ecológicas internacionais que visam à limitação das soberanias nacionais sobre a região amazônica estão deixando a fase propagandística para dar início à fase operativa, que pode definitivamente ensejar intervenções militares diretas sobre a região” (John Major, Primeiro-Ministro da Inglaterra, Londres, 1992);
“A liderança dos Estados Unidos exige que apoiemos a diplomacia com a ameaça da força” (Warren Cristopher, Secretário de Defesa dos Estados Unidos, Washington, 1995);
“Os países em desenvolvimento com imensas dívidas externas devem pagá-las em terras, em riquezas. Vendam suas florestas tropicais” (George W. Bush, candidato à presidência dos Estados Unidos, em debate com Al Gore, Washington, 2000).
“A Amazônia deve ser intocável, pois constitui-se no banco de reservas florestais da humanidade” (Congresso de ecologistas alemães, Berlim, 1990);
“Só a internacionalização pode salvar a Amazônia” (Grupo dos Cem, cidade do México, 1989);
“A Amazônia é patrimônio da humanidade. A posse desse imenso território pelo Brasil, Venezuela, Colômbia, Peru e Equador é meramente circunstancial” (Conselho Mundial das Igrejas Cristãs, Genebra, 1992.)
Naquela época, há 30 anos, o ministro do Exército Leônidas Pires Gonçalves escreveu um texto bastante famoso, desnudando a mentira global de que a Amazônia é o "pulmão do mundo", quando na realidade a produção de oxigênio é feita principalmente pelas algas oceânicas - fato repetido pelo vice-presidente Hamilton Mourão, em 2019, durante as queimadas que se repetem todo ano no Brasil: “Transformá-los (os incêndios) em crise, esquecendo as tragédias que o fogo causou nos EUA e Europa, é má-fé de quem não sabe que os pulmões do mundo são os oceanos, não a Amazônia".
Se as queimadas de 2019 já levaram o presidente da França, Emmanuel Macron, a recomendar a intervenção da Amazônia, imagine o que não esteja pensando neste ano de 2020, ano histórico de queimadas na região (na realidade, no mesmo arco de fogo que se repete todo ano, não na floresta densa em si da Amazônia), no Cerrado e no Pantanal, além de focos de incêndio também históricos em Minas Gerais, São Paulo, Bahia, Tocantins e Distrito Federal, em função da longa estiagem e temperaturas infernais.
Há 30 anos, foi também o tempo em que o presidente dos EUA George Bush colocou o presidente Fernando Collor de Mello contra a parede, quando em visita aos EUA, exigindo a criação da Terra Indígena Ianomâmi, o que foi prontamente feito. Um Portugal inteiro foi destinado a uns poucos milhares de indígenas, o maior latifúndio do planeta.
No primeiro debate da disputa presidencial dos EUA, entre Donald Trump e Joe Biden, em 29/09/2020, este voltou a ameaçar os brasileiros na questão amazônica, com sanções econômicas, e foi prontamente rechaçado pelo presidente Jair Bolsonaro.
Vale lembrar que Joe Biden é do partido democrata, o mesmo partido de Anthony Lake, que propôs a intervenção americana no estrangeiro em 7 circunstâncias, como visto acima.
Assim, o Brasil poderia estar sujeito à intervenção americana em pelos menos 4 das circunstâncias criadas por Lake: interesses econômicos, crime internacional e tráfico de drogas, abuso de direitos humanos e defesa do meio ambiente.
Obviamente, essas circunstâncias enunciadas pela Doutrina Lake seriam usadas para objetivos escusos, tendo em vista a ganância internacional sobre a rica biodiversidade da Amazônia, assim como sobre a rica província mineral existente no chamado "Corredor Triplo A" (Andes, Amazônia e Atlântico), como metais raros e preciosos de seu subsolo, além de ferro, ouro e prata: molibdênio, manganês, alumínio, cobre, zinco, níquel, cromo, titânio, fosfato, platina, paládio, ródio, estanho, tungstênio, nióbio, tântalo, zircônio, terras-raras, urânio e diamante.
Não se esqueça: ontem foi a vez do Iraque, da Sérvia, do Afeganistão e da Líbia sofrerem ataques dos EUA, sob o uniforme camuflado da ONU ou da OTAN. Amanhã poderá ser a Amazônia das inúmeras Terras Indígenas (TI) criadas nas últimas décadas, como a TI Ianomâmi, a TI Raposa Serra do Sol, e de tantas outras sendo gestadas, como a TI Cué-Cué Marabitanas, TI Alto Rio Negro e de tantos outros povos indígenas que compõem o arco indigenista que fecha ameaçadoramente sobre a Amazônia, que poderá ter seus territórios indígenas emancipados por pressão internacional e ataques militares diretos.
Se o candidato democrata Joe Biden vencer as eleições nos EUA, a ameaça contra o Brasil poderá ser concreta, dentro das circunstâncias preconizadas por Lake. A senadora Kamala Harris, candidata a vice de Biden, já demonstrou publicamente sua aversão pelo presidente Bolsonaro e é contra qualquer tipo de acordo entre os dois países. Com tal dupla belicosa, motivos não faltarão para eles criarem um incidente diplomático e invadir a Amazônia.
Lembre-se: esses hipotéticos ataques contra o Brasil, feitos pelos capacetes da ONU ou dos EUA, não serão contra os guerreiros de selva brasileiros, altamente preparados, mas contra toda a infraestrutura do Brasil, como ocorreu no Iraque e outros países acima citados - um crime contra a humanidade, que jamais será levado aos tribunais. Seriam ataques contra nossos sistemas de defesa, contra nossas refinarias de petróleo, contra portos e aeroportos, contra cidades industriais de ponta, como São José dos Campos, contra a Embraer, contra os sistemas de distribuição de energia elétrica etc.
A ameaça internacional contra o Brasil poderá deixar de ser apenas retórica. O movimento ambientalista mundial em defesa da “preservação da Amazônia” e emancipação dos "povos indígenas" poderá destroçar a soberania brasileira naquela área, assim como arrasar nossa economia e trazer miséria como nunca houve.
O Iraque está aí para servir de alerta!
Absolutamente correto. INTERESSES escusos ou nem sempre. Por vezes plenamente explícitos e ostensivos. Mas, o pior inimigo é o interno, cooptado, inocente útil ou irresponsável ("Maria vai com as outras". Vê se alguém pensa em internacionalizar a costa leste dos EUA, a Espanha, a Austrália e tantos outros países em razão de queimadas de qualquer natureza? É como ouço desde criança: "Para ser respeitado tem que se dar ao respeito". É fácil dar chute em cachorro morto. Os apátridas que fraudaram eleições no passado, a serviço de interesses internacionais, teriam que ser severamente punidos. Deveria ter Lei marcial para este tipo de gente. Cretinos, desarmam o povo e depois se tornam "valentes", compram o congresso venal, aprovam leis contra os interesses nacionais e contra o povo, gerando direitos infindáveis para corruptos, corruptores e assaltantes do erário público. Como disse, ao deixar o ministério da Economia, Simonsem: "Só Deus salva este país !"
ResponderExcluirPelos crimes cometidos no passado recente, Lula e Dilma deveriam ser levados a uma corte marcial, por crimes de lesa-pátria, assim como os patifes que estão se aproveitando da pandemia da Covid-19 para enriquecer.
Excluir"Não pode haver erro maior, para uma nação, do que esperar ou contar com favores de outra". George Washington, primeiro presidente dos EUA
ResponderExcluirMuita gente gostaria de ver Bolsonaro batendo mais de frente com o STF e o Senado, mas ele não vai fazer isso sem uma base que lhe dê suporte. Ativismo digital difuso não é base política. O establishment político já perdeu o medo da “base popular” bolsonarista, que não foi capaz de se organizar nem pra formar um único partido. Assista e entenda.
ResponderExcluirhttps://youtu.be/bqTeL2YIohg
A escolha para substituir Celso de Mello não foi boa. Mas foi um modo de Bolsonaro ceder um pouco, para poder governar, pois não tinha nenhum tipo de apoio no Congresso.
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