Ainda sobre a indenização aos filhos dos “torturados”
por Carlos Alberto Brilhante Ustra (*) em 04 de novembro de 2005
Resumo: Infelizmente, o jornal O Globo continua não checando as informações que publica, prejudicando os leitores.
© 2005 MidiaSemMascara.org
Como prometi em meu artigo anterior, volto a comentar a matéria do jornal “O Globo”, de 30/10/2005, publicada na página 15.
Diz o jornalista Evandro Éboli:
“Crianças e adolescentes filhos de comunistas também sofreram privações, foram presos, perseguidos, torturados, exilados e eram obrigados, como seus pais, a trocar de identidade para fugir do cerco dos militares. A história dos anos da ditadura mantém quase oculto o que se passou com eles. Mas não era incomum os militares prenderem crianças junto com os pais. Os filhos eram usados durante as sessões de tortura e obrigados assistir essas atrocidades. Era o meio de arrancar confissões dos comunistas.”
Infelizmente o jornalista não investiga a informação recebida e difunde uma versão falsa que, em um jornal da importância de “O Globo”, atinge um número de muitos milhares de pessoas. Por mais que se prove, e que se mostre que o que foi dito não é verdade, o nosso protesto chegará a muito poucas pessoas e, como sempre, prevalecerá a versão dos derrotados.
Nunca prendemos pais, irmãos, ou qualquer parente de um terrorista para obter informações. Esse procedimento era um pacto que existia entre nós, e que sempre cumprimos à risca. Os parentes só eram presos caso, também, tivessem comprometimento com o terrorismo. Dizer que prendíamos as crianças e que as obrigávamos a assistir os pais serem torturados; que ameaçávamos seus pais, dizendo que se eles não nos dessem informações nós torturaríamos seus filhos, é uma atitude que causa repulsa. O jornalista com essa versão, inteiramente falsa e absurda, incute aos leitores a idéia que nós, os militares que combatemos os terroristas, éramos indivíduos sem caráter, indignos de conviver com a sociedade.
Continua o jornal “O Globo”:
“Presa pela Operação Bandeirante (OBAN) em dezembro de 1972, em São Paulo, a militante do Partido Comunista Maria Amélia Almeida Teles viu seus dois filhos serem levados também pelos militares. Janaína com 4 anos, e Edson Luiz, com 5 anos, foram parar numa casa cercada de militares, onde ficaram trancados num quarto. Com freqüência, eram levados à cela da mãe para vê-la torturada, no DOI-CODI. Janaína se lembra que os militares diziam que seus pais os abandonaram e que não iriam voltar para buscá-los.”
Na verdade, Maria Amélia e seu marido César Almeida Teles pertenciam ao Partido Comunista do Brasil (PCdoB), na época uma organização terrorista, cujo principal objetivo era implantar um sistema de governo inspirado na China a partir da Guerrilha do Araguaia.
Maria Amélia e o marido foram presos em sua casa que também era um “aparelho de imprensa do PCdoB, em dezembro de 1972. Com relatei em meu livro “Rompendo o Silêncio”, quando a equipe do DOI “estourou o aparelho” foi surpreendida com a presença dos filhos do casal e que lá também residiam. Eram duas crianças com 5 e 4 anos. Pais e filhos foram conduzidos para o DOI, já que as crianças não poderiam ficar sozinhas. Quando falei com os pais, senti que estavam muito preocupados com as crianças. O correto seria encaminhá-los para o Juizado de Menores. Os pais pediram para ficar juntos com as crianças. Disse-lhes que isso não era possível. Perguntei-lhes se havia algum parente que pudesse ficar com as crianças. Maria Amélia respondeu que em São Paulo não tinham ninguém, mas que numa outra cidade, que não me recordo, mas creio que era o Rio de Janeiro, eles tinham parentes, parece–me que era uma tia das crianças, e que poderiam tomar conta de seus filhos. Uma Policial Militar, sargento PM, que assistia a conversa e com pena das crianças, se ofereceu para ficar com elas enquanto entrávamos em contato com os familiares dos dois presos. Maria Amélia e César acharam ótima a idéia da PM. Assim, movido mais pelo coração do que pela razão, concordei com a ida das crianças para a casa da Sargento. Diariamente ela levava as crianças para visitar os pais. Isso se repetiria até a chegada dos familiares para levaram as crianças. Maria Amélia, e nem o jornalista Evandro Éboli, citam essa comovente passagem ocorrida nesse episódio .
Em 1985, fui surpreendido com as declarações de Maria Amélia no livro Brasil Nunca Mais, que a seguir transcrevo:
“Na tarde desse dia (28 de dezembro de 1972), por volta das 7 horas, foram trazidos, seqüestrados, também para a OBAN, meus dois filhos, Janaína de Almeida Teles, de 5 anos, e Edson Luiz de Almeida Teles, de 4 anos, quando fomos mostrados com as vestes rasgadas, sujos, pálidos,cobertos de hematomas. Sofremos ameaças por algumas horas de que nossos filhos seriam molestados.”
Em 1998, no livro de Luiz Maklouf Carvalho “Mulheres que foram à luta armada” ela já diz: “e o casal ainda sofreu o choque das visitas forçadas dos filhos Janaína (5 anos) e Edson (3), também usados como forma de pressão e de chantagem”.
Em 30/10/2005, ainda sobre a matéria de “O Globo”, sob o título “Filhos da resistência” o jornal diz: “Janaína, 5 anos, e Edson Luiz, 4 anos, ficaram presos por 15 dias. Eram levados ao Departamento de Ordem Política e Social (Dops) para ver as marcas de torturas na mãe”.
Mais uma vez o jornal falta com a verdade. As duas crianças nunca foram presas e não visitaram seus pais no DOPS.
(*) O autor é Coronel Reformado do Exército.
Publicado por TERNUMA (www.ternuma.com.br)
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