Operação Mata Lacerda
Por "História Oral do Exército - 31 Março 1964"
Depoimentos
Lacerda
tinha uma língua terrível
“Há um livro de memórias,
muito interessante, do Roberto Campos, ‘A Lanterna na Popa’ – um livraço, com
mil e trezentas páginas, por aí – que é uma pedrada nos imbecis! Ele conta a
viagem do Lacerda à Europa, logo depois da Revolução, onde o Governador da Guanabara
foi recebido com honras etc. e tal. E o francês, que é um cara chato, é chato
que é danado, numa entrevista, no aeroporto de Orly, o jornalista perguntou:
- Governador, estão dizendo
que foram os americanos que ajudaram esse Movimento.
O Lacerda tinha uma língua
terrível. Respondeu:
- Como? Acho que você está
enganado. O que foi feito com o apoio dos americanos foi a libertação da
França.
Deu um pontapé no orgulho
francês. O Lacerda era terrível! Era um gênio. E a entrevista continuou:
- Como é que o senhor pode
explicar uma Revolução em que não correu sangue?
- Isso é muito simples. É
porque as revoluções no Brasil são como os casamentos na França – respondeu o
Lacerda.
De Gaulle não quis mais
recebê-lo” (Coronel José Maria Covas Pereira, Tomo 3, pg. 164)
Jango tinha ódio mortal do Lacerda:
- Boicote à construção do Sistema Guandu
- Escolha para policiais da Guanabara optarem pelo
Governo Federal
“O Jango tinha ódio mortal
do Lacerda. Acredito que era mais fruto de inveja, porque ele era um
incompetente, um bronco completo, um playboy de fronteira, que passara a
juventude indo a cabarés e farras. Até mesmo depois de Presidente da República,
ele organizava orgias num apartamento ao lado do Copacabana Palace, era a sua
maior preocupação.
Enquanto
o Lacerda era um tribuno, um jornalista respeitável. [entrevistador]
Um homem respeitado, que
estava fazendo um excelente governo no Estado da Guanabara. O Jango adotou
várias linhas de ação para destruir o Lacerda.
Primeiro foram ‘futricas’
para atingir a parte econômica do Estado, impedindo ou dificultando o Estado
para tomar um empréstimo para fazer a obra da água que está aí até hoje. Nós
temos água hoje graças a Carlos Lacerda.
O Lacerda conseguiu um
empréstimo por fora, sem garantia do Tesouro, sem aval do Tesouro, sem garantia
do Banco do Brasil, sem nada, apesar da oposição do Jango. No fim, ele provocou
uma outra...
Lembrar
que a Zona Sul do Rio de Janeiro não tinha água, era um inferno...
[entrevistador]
Não tinha, eu morava na Zona
Sul... Passavam-se vinte, trinta dias, sem pingar uma gota d’água.
Em
Copacabana era uma coisa terrível. A solução veio com o Lacerda, valendo-se da
água do Guandu, sozinho, sem nenhum apoio do Governo Federal. [entrevistador]
O Estado teve que custear
tudo sozinho, apenas com apoio do BID, Banco Interamericano de Desenvolvimento,
um empréstimo sem o aval do Banco do Brasil.
Tendo o Lacerda conseguido o
empréstimo e dada partida no projeto da água, o Jango ficou desesperado e pôs
em prática a ideia do Aberlardo Jurema, Ministro da Justiça, armando a seguinte
armadilha: numa lei de aprovação do Orçamento da República, ele incluiu um
artigo dando o direito aos policiais da Guanabara de optarem pelo Governo
Federal. Os policiais da Guanabara eram aqueles que tinham ficado no Rio, na
época da mudança da Capital para Brasília, e por decreto do Juscelino eles
permaneceram aqui, para não desfalcar completamente a Polícia e o Corpo de
Bombeiros do Estado, para a cidade não ficar abandonada. Em Brasília, só havia
barraco naquela época – era a tal ‘Cidade Livre’ dos candangos – e o Goulart
criou, então, essa possibilidade.
Inseriu esse artigo na Lei
de Meios e com isso conseguiu esvaziar a Polícia. Ele tirou do Corpo de
Bombeiros e da Polícia, em três ou quatro dias, cerca de dois mil bombeiros,
três mil e tantos policiais militares e mais dois mil da Polícia Civil”
(Coronel-Aviador Gustavo Eugenio de Oliveira Borges, Tomo 10, pg. 277).
Obs.:
Em
1964, o Coronel-Aviador Oliveira Borges era Secretário de Segurança do
Governador da Guanabara, Carlos Lacerda.
Em
seu depoimento, o Coronel Borges narra a “Operação Mata Lacerda”, em longa
entrevista, com riqueza de detalhes, que não consta do presente “fichamento”
porque os fatos são narrados abaixo pelo Coronel Renato Brilhante Ustra, irmão
do Coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, autor dos livros “Rompendo o
Silêncio” e “A Verdade Sufocada”.
Esses
fatos são também narrados abaixo pelo General-de-Brigada Durval Antunes Machado
Pereira de Andrade Nery.
F.
Maier
Operação
Mata Lacerda
“Em mais uma noitada, também
numa boate em Copacabana, se não me engano, no Copacabana Palace, foi intentada
uma ação que, se tivesse logrado êxito, teria sido fundamental para o
fortalecimento do esquema militar do Governo João Goulart. As informações que
tivemos indicam que, naquela madrugada, reuniram-se na boate, o Presidente da
República, o Chefe da Casa Civil, General Assis Brasil, que acreditava no esquema
militar, o General Pinheiro, Comandante da Brigada Paraquedista, e o Coronel
Mafra, Chefe do Estado-Maior. O Presidente da República, que utilizava como
guarda pessoal, em Brasília, os oficiais paraquedistas, estava se ligando à
Brigada Paraquedista. Nessa noitada dos quatro, então, a decisão tomada foi a
de que deveria ser ordenada a uma unidade paraquedista, a prisão do Governador
Carlos Lacerda, quando de sua visita, na manhã seguinte, ao Hospital Miguel
Couto, na Lagoa. O Lacerda deveria fazer a inauguração de uma ala destinada ao
atendimento de emergência, no hospital. Tudo fazendo parecer que teria sido uma
atitude de iniciativa própria dos paraquedistas, em desagravo a possíveis
palavras ofensivas do Governador às Forças Armadas.
Mais uma vez não apareceu o
planejamento, foi só coisa de boca. A ordem era verbal. Sabia-se que o
Governador dispunha de forte esquema de segurança, lógico supor que tal ato
desencadearia ações e reações bem além do controle, as quais poderiam levar a
uma situação de grande intranquilidade, até mesmo em nível nacional. Ao
amanhecer, o Presidente da República retornou a Brasília, e deu entrada no
Congresso com o pedido de estado de sítio. Tal pedido seria retirado, sem
qualquer explicação, após o almoço no mesmo dia.
(...)
Na GU Paraquedista o normal
era o seguinte: sempre havia uma subunidade de prontidão, fosse ela do Grupo
Paraquedista, do Batalhão Santos Dumont, do Batalhão Logístico, ou mesmo da
Companhia de Engenharia. Naquela noite, estava de prontidão uma Bateria, do Grupo
de Artilharia Paraquedista, comandada por um dos oficiais esquerdistas bastante
comprometido. Então, a essa Bateria caberia a missão de prender o Governador
Lacerda, mas tudo de forma a parecer uma reação intempestiva dos paraquedistas
e não uma ação desencadeada mediante ordem.
Nada por escrito. Pessoas
presentes na mesma boate, na qual houve a inusitada reunião e a não menos
inusitada decisão, ouviram o que estava sendo decidido e um desses ouvintes
comunicou, ainda na madrugada, ao Coronel Aragão, o oficial que estava de superior
de dia na Brigada Paraquedista. Alguém na boate ouviu e denunciou:
- Olha, vai sair daqui uma
ordem para prender e matar o Lacerda, prepara que a confusão...
O que fez o Aragão? Pegou o
telefone, ligou para o Coronel Boaventura, Comandante do Grupo Paraquedista, e
disse:
- Olha, vão utilizar uma
Bateria do Grupo para prender o Lacerda. Vem para o quartel rápido.
O Coronel Aragão, ao mesmo
tempo, pegou o telefone e ligou para o Coronel Gustavo Borges, o Secretário de
Segurança do Lacerda.
- Olha, vão matar o Lacerda
amanhã!
O Gustavo Borges me disse
pessoalmente – conversando comigo dias atrás – que alertou o Lacerda, só que o
Lacerda tomou uma atitude inesperada. Perguntando se iria cancelar a visita ao
hospital, respondeu:
- Cancelar? Não, vou bem
mais cedo, vou antecipar o horário.
O Coronel Boaventura
dirigiu-se ao quartel e, ao chegar, reuniu os oficiais sabidamente não
comprometidos com tal esquema, para evitar que, em último caso, houvesse a
possibilidade de sair qualquer viatura do quartel. O que ele fez? Conversou
comigo, que era subordinado de confiança dele, Oficial de Munições, e ordenou:
‘Pegue a chave do paiol, reúna a munição e não deixe ninguém entrar’; a seguir,
mandou chamar os outros oficiais, o Abreu Morais, e determinou: ‘Olha, vocês
neutralizem as viaturas, tirem a bateria, tirem o cabo da bateria’.
(...)
O Coronel Boaventura,
imediatamente, dirigiu-se ao Quartel-General para tentar esclarecer a ordem,
junto ao General Comandante, Alfredo Pinheiro Soares Filho. O Coronel
Boaventura regressou ao Grupo e determinou uma reunião de oficiais, subtenentes
e sargentos dentro do Cassino dos Oficiais. A reunião, faço questão de dizer,
foi muito fiel ao estilo, ou seja: o Subcomandante da Unidade, os Comandantes
de Bateria à testa e os sargentos e subtenentes à retaguarda. O Comandante
chegou ao recinto, recebeu a apresentação, determinou que fosse comandado
‘descansar’ e proferiu as seguintes palavras:
‘Hoje pela manhã, recebi
ordem do Comandante do Núcleo da Divisão Aeroterrestre, por intermédio do seu
Chefe de Estado-Maior, para deslocar a Bateria de prontidão para a região do
Hospital Miguel Couto, a fim de prender o Governador Carlos Lacerda. Pedi ao
Chefe de Estado-Maior para falar com o General Comandante, no que fui atendido.
Recebido em seu gabinete, solicitei que tal ordem, por conter características
especiais e inusitadas, fosse a mim transmitida por escrito, conforme prevê o
regulamento. O general disse que não pedira, de quem a recebera, por escrito e,
portanto, não a daria por escrito. Respondi que enquanto não recebesse a ordem
por escrito, não a cumpriria e me retirei do gabinete’.
Encerrando a reunião, disse
o Coronel Boaventura aos seus oficiais e sargentos
‘Enquanto for Comandante,
ordens como essas não serão cumpridas.’
Obviamente, o Coronel
Boaventura foi exonerado.
Agora, para completar a
história, a Subunidade que entraria no dia seguinte de prontidão seria a
Companhia de Engenharia. A Subunidade começava o expediente às 7h30min. Até
reunir a Companhia, iniciaram o deslocamento do quartel quase às nove horas, e
o Lacerda já tinha se retirado há muito tempo” (Coronel Renato Brilhante Ustra,
Tomo 5, pg. 246-248).
“Um dia de madrugada – 2h da
manhã – fomos chamados ao quartel. Foi acionado o plano de chamada. No quartel,
aquele alvoroço! ‘O que está acontecendo?’ ‘Uma operação para matar o Governador da Guanabara, Carlos
Lacerda. Ele vai ser eliminado, vai haver agitação no Rio de Janeiro, o
presidente vai pedir estado de sítio ao Congresso, justamente, pela agitação
que vai ocorrer pela morte do governador’. Daí seria criada a
república sindicalista comunista da América do Sul – que era o objetivo deles.
E nós sabíamos por que a imprensa anunciava! Se pegarmos os jornais da época,
vamos ver que isso estava quse todos os dias na imprensa. E estávamos com essa
motivação.
Já tínhamos as nossas
ligações com os grupos do Marechal Denys e do General Aragão, Moniz de Aragão.
A nossa ligação era o Capitão Tarcísio, Assistente do General Aragão – Coronel
Tarcísio, hoje. Deles, veio a informação sobre a operação ‘Mata Lacerda’. O
nosso comandante chegou e disse assim: ‘Estou sendo chamado para ir ao comando
do Núcleo da Divisão Aeroterrestre’. Não era mais o General Santa Rosa, que
havia sido movimentado para outra função. Era o General Alfredo Pinheiro,
paraquedista, conhecido por ‘Faz Tudo’. O Coronel José Aragão Cavalcanti, nosso
comandante – não era parente do General, havia sido professor de geopolítica,
na AMAN -, reuniu os oficiais, nós já estávamos movimentando a tropa, armando o
pessoal, aquela movimentação de uma prontidão, um aprestamento em
ordem-de-marcha, isso de madrugada. Ele disse: ‘Fui chamado para me apresentar,
agora, ao comandante, no Núcleo da Divisão, no quartel-general, mas sei a
missão que vou receber’. A missão que lhe seria dada de ‘deslocar o Regimento para
emboscar e matar o Governador da Guanabara quando ele inaugurar o pavilhão do
Hospital Miguel Couto, no Leblon, às 9h da manhã’. Claro que não
iríamos fazer isso! Nem o nosso comandante! Ele seguiu para o quartel-general e
nós ficamos aguardando.
Retornou, dizendo que falou
para o General Pinheiro que já sabia do planejamento a ser executado. A missão
que ele recebeu foi a seguinte: ‘Coronel, o Brasil já está em estado de sítio.
O Presidente acabou de solicitar ao Congresso o estado de sítio, porque o
Governador da Guanabara está agitando o País e tem que ser preso. Você vai
prendê-lo’. Ele disse: ‘Não é isso que sei, General. Não houve o pedido ainda,
de estado de sítio. O Congresso está fechado. Não amanheceu ainda e a sessão do
Congresso vai ser realizada de manhã. O pedido não ocorreu. Sei que vai ser ao
contrário – nós vamos matar o Governador Lacerda – aí sim, vai haver motivo
para o estado de sítio. Essa missão o senhor não pode me dar’.
O Chefe do Estado-Maior do
Núcleo da Divisão Aeroterrestre – Coronel Mafra – disse para o General: ‘Deixa,
vamos chamar o comandante do Grupo de Obuses Aeroterrestre’. Na época, era o
Coronel Francisco Boaventura Cavalcanti Júnior. Só que estávamos em ligação
permanente – o nosso Regimento com o Grupo – 24 horas em contato. O Coronel
Boaventura foi ao quartel-general e respondeu da mesma maneira para o Chefe do
Estado-Maior.
Sabendo que a missão seria
cumprida de qualquer maneira, o Coronel Aragão determinou que um oficial do
Regimento Santos Dumont se deslocasse para a porta de cada unidade
paraquedista, para observar a movimentação. Depois de uma hora, mais ou menos,
vem o Tenente José Alves Machado, de carro, meu companheiro de turma – que
tinha sido designado para verificar a situação do Grupamento de Unidades
Divisionárias, aquela série de Companhias de Serviços que formam um grupamento,
ao comando de um oficial superior. Pois não é que o Chefe do Estado-maior se
dirigiu à Companhia de Engenharia para comandá-la na operação ‘Mata Lacerda’. O
Alves Machado, quando viu que a Companhia já estava se preparando para sair, e
ia sair mesmo, retornou ao Regimento e avisou ao nosso comandante. Foi
instantâneo. Sem ordem, todos nós embarcamos no comboio para sair, para impedir
a passagem daquela Companhia que tinha a missão de eliminar o Governador da
Guanabara.
Não queríamos que o Brasil
entrasse em uma guerra civil, quando sabíamos que o inimigo era outro. Mais uma
cilada, planejada para envolver os militares, para envolver as Forças Armadas,
como aquela em que fui envolvido em Xerém contra aquele ‘grupo dos onze’ que,
na verdade, era para proteger o terreno dos sócios do Automóvel Clube do
Brasil! Quando nós corremos para embarcar, o Coronel Aragão apitou, reuniu os
oficiais e disse: ‘Não precisa, calma. Já falamos com o Governador Lacerda que
a Companhia de Engenharia iria sair. Não, não, não se preocupe’. Às 4h da
manhã, o Major Monção, que era paraquedista, ligara para o Governador Carlos
Lacerda, que estava em Petrópolis, na sua casa – casa do governador – e o
avisou. O que ele fez? Inverteu as inaugurações daquela manhã. O pavilhão do
Hospital Miguel Couto que estava previsto para as 9h, passou para as 5h. O
Coronel Aragão disse: ‘Deixa a tropa sair. A Companhia de Engenharia pode se
deslocar. Não vai haver problema nenhum’. Vamos ver quem mora perto? Tenente
Brandão: ‘Eu moro em frente ao hospital’. O Coronel Aragão determinou que ele
ligasse para a sua casa e ficamos aguardando. O Brandão, pelo telefone, ia
passando para nós o que a sua esposa na janela, olhando o que acontecia na
porta do Miguel Couto, transmitia.
A
Companhia de Engenharia saiu? [entrevistador]
Saiu, sim. Incrível! O
Coronel Mafra entrou na Companhia de Engenharia composta de um capitão, três
tenentes e quinze sargentos, aproximadamente, todos jovens. Sabe como é a tropa
paraquedista – aguerrida, bem treinada- autoestima – ele chega e diz: ‘Capitão,
tem uma missão. Reúna os seus oficiais e sargentos. Tem uma missão para
paraquedista, muito importante. Quem estiver com medo pode se retirar. Alguém
está com medo?’ Meu Deus! Jovens oficiais, jovens sargentos vão dizer para um
chefe que estão com medo! ‘Então, armem-se e vamos embora. Eu vou comandar a
Companhia’. E assim ele saiu.
Cabe lembrar que apareceram quatro oficiais paraquedistas armados de
fuzis com lunetas. Sabíamos, desde
o início, que aquela missão fora planejada no apartamento no. 15 do Anexo do
Copacabana Palace, então apartamento do Presidente da República João Goulart. Contou com a presença
do então Governador do Rio Grande do Sul, Leonel Brizola, do Ministro da
Justiça, Abelardo Jurema, do Comandante da tropa paraquedista, General
Pinheiro, e do Coronel João Sarmento, do Gabinete Militar. Planejaram que a
solução para antecipar a criação da república sindicalista comunista seria
criar um caos no Estado da Guanabara, com a decretação do estado de sítio. E
como criar um caos? Aí, o general paraquedista disse: ‘Deixa comigo, isso é
missão para paraquedista’ – tropa pretoriana. A ordem para prender e ‘atirar
para matar’ Carlos Lacerda na manhã do dia 4 de outubro de 1963, quando da sua
visita ao Hospital Miguel Couto, no Leblon, foi transmitida naquele
apartamento, ao General Alfredo Pinheiro, pelo Ministro da Justiça, Deputado
Abelardo Jurema, que esclareceu ao General Pinheiro que o Ministro da Guerra,
General Jair Dantas Ribeiro, estava a par de todo o plano e dera sua aprovação. Nós estávamos sendo
usados como tropa pretoriana. O General Pinheiro, dali mesmo, ligou
para o oficial que estava de Superior-de-Dia no quartel-general – o qual
representava o comandante na ausência deste – ‘Capitão, desencadeie o plano de
chamada que nós temos uma missão para a tropa paraquedista’.
Mas o que ele não sabia era
que nós, do Regimento Santos Dumont e do Grupo de Artilharia, já estávamos no
quartel. Já tínhamos sido avisados daquela reunião, durante toda a madrugada
regada a uísque. Sabíamos de todos os detalhes da reunião. Por isso, quando o
Coronel Aragão recebeu a missão do General, ele disse: ‘Não é isso, General
Pinheiro, tenho a certeza do que está ocorrendo’.
(...)
A esposa do Tenente Brandão
ficou da janela anunciando: a tropa chegou, desembarcou, os soldados deitaram,
ocuparam posição... Depois de mais de uma ou duas horas, lá pelas 11h da manhã,
ela disse: ‘Alguém se levantou, está vindo na direção do prédio, no térreo’ –
era um bar. Foi, realmente, um oficial que ligou para dizer: ‘Não apareceu
ninguém!’ Depois disso, deram ordem para retrair. Essa foi a operação ‘Mata
Lacerda’. Os quatro oficiais que estavam armados com fuzis e lunetas, que não
pertenciam à Companhia de Engenharia, foram com a missão de eliminar o
governador. A esposa do Tenente Brandão viu esses oficiais, com os respectivos
fuzis e com as lunetas, nas mãos. Ela era esposa de um oficial – ela sabia o
que estava dizendo – ela falou em fuzil dom luneta.
(...)
(...) O inquérito foi
aberto, queríamos ser ouvidos. Surpresa! O Major Monção foi transferido para o
interior do Brasil, para ficar bem longe, justamente aquele oficial que ligou
para o Governador Lacerda e avisou. Mais tarde, merecidamente, foi promovido a
General. Todos os oficiais que participaram ou que sabiam da história não foram
ouvidos no inquérito.
O Major Monção fez uma
carta, que foi publicada nos jornais da época, contando a verdade. Um
escândalo, um escândalo! Nós exigimos o inquérito, queríamos ser ouvidos no
inquérito e o que ocorreu? O General Pinheiro, Comandante da Brigada, o General
‘Faz Tudo’, é bom lembrar, mandou reunir os oficiais do Regimento Santos
Dumont. Entra, com uma garrafa de uísque debaixo do braço, fardado, como
Comandante, e diz: ‘Companheiros, vim aqui para falar com vocês, roupa suja se
lava em casa. Nós não devemos comparecer ao inquérito para contar o que houve’.
Abriu a garrafa de uísque. Com a exceção de uns dois ou três, fomos nos
retirando do local e ele ficou ali para beber o seu uísque. Esse era o
Exército, o Núcleo da Divisão de Paraquedistas, em 1962 e 1963.
Por terem se negado a
comandar a ‘Operação Mata Lacerda’, também foram transferidos para o interior
do Brasil, os coronéis José Aragão Cavalcanti e Francisco Boaventura Cavalcanti
Júnior, comandantes do Regimento Santos Dumont e do Grupo de Obuses
Aeroterrestre, respectivamente” (General-de-Brigada Durval Antunes Machado
Pereira de Andrade Nery, Tomo 10 pg. 163-167).
“O Comandante do nosso
Rebimento [Santos Dumont, paraquedista] – o Tenente-Coronel José Aragão
Cavalcante – foi instado por um grupo de oficiais, notadamente pelos então
capitães Carlos Alberto de Lima Mena Barreto e Acrísio Figueira, para que ele
passasse a ter uma segurança permanente de dois oficiais. Depois desse evento –
atentado ao Lacerda, do qual o Coronel Aragão não admitiu que o seu Regimento
participasse – e as evidências, como disse, eram gritantes – de indisciplina e
da ação deletéria ideológica marxista-leninista, com todos os seus panfletos
distribuídos nos quartéis, vilas e clubes militares – o Coronel passou a ser
escoltado, ora pelo Capitão Paulo Rubens Brandão, ora por mim, que era solteiro
e ambos morando no Leblon e Ipanema. Íamos no jipe dele, e ele não vinha
diretamente para o quartel. Veja a que ponto as coisas chegaram!
Ele se dirigia para a
chamada ‘área A’, que é na região de Vila Valqueire, onde moravam os oficiais,
onde morava o Tenente Adalto Luiz Lupi Barreiros, o Tenente Gilseno Nunes
Ribeiro, o Tenente Andrade Nery – Durval Antunes Machado Pereira de Andrade
Nery -, que era da minha Companhia, onde morava o Tenente Eglair Barcellos
Alves e, a partir daquele ponto, era que o Coronel Aragão se deslocava, com um
cortejo dos seus oficiais, para o quartel, para assegurar que ele estava em
segurança e não seria alvo de uma ação, no prosseguimento desses atos” (Coronel
Francimá De Luna Máximo, Tomo 11, pg. 202-203).
Obs.:
O
Coronel Aragão, antes de ser transferido, ficou preso por 30 dias (Cfr. Tomo
10, pg. 168).
F.
Maier
“Quando nós o procuramos
para protegê-lo, em 1954, dissemos: ‘Carlos, nós temos a obrigação de defender
a sua integridade, porque você é o único que pode falar aquilo que desejamos e
não podemos. Não podemos, porque o regulamento proíbe, porque não temos a sua
capacidade, a sua eloquência, a sua dialética e os seus conhecimentos do
Partido Comunista’.
‘Nós sabemos o que queremos,
a democracia, mas não temos os meios que você tem, então vamos protegê-lo, dar
segurança para que você possa continuar nessa campanha’. E a sua campanha
infernizou o Jango e sua malta.
Tanto ele incomodava, tanto
ele era líder que o Jango tentou mata-lo várias vezes. O Getúlio também
tentou...
Vocês vão ver no livro,
antes do atentado da Tonelero que alguém da guarda pessoal do Getúlio tentou
matar o Lacerda, jogando uma bomba de dinamite numa lancha, quando a gente
estava atracando na Ilha de Paquetá. Eu estava a bordo da lancha, ninguém me
contou, eu vi explodira a banana de dinamite.
Como
escaparam? [entrevistador]
Foi uma questão de segundos.
A banana de dinamite caiu na água, abriu um rombo na lancha por baixo e na hora
nós não percebemos. Descemos da lancha e mal tínhamos passado pelo pontão,
aquela ponte de atracação das barcas, veio um marinheiro corrento e afirmando
que a lancha estava afundando.
Nós corremos para ver que
realmente já estava com água pela metade, arrastamos a lancha para a praia e
apareceu o rombo, tipicamente provocado por dinamite” (Coronel-Aviador Gustavo
Eugenio de Oliveira Borges, Tomo 10, pg. 294-295).
“Três meses antes do
assassinato do Major Rubem Vaz, colegas da Diretoria de Rotas, tentaram
cooptar-me. Recusei a proposta com essas palavras: ‘É muito caro para a Nação
contratar um Major para guarda-costas particular de um político. Esse político
é inimigo da família Vargas e não duvido de que alguém da guarda pessoal do
Presidente possa matar o Lacerda. Como vocês são amadores e bala não tem
endereço, pode acontecer que uma delas bata na testa’ – toquei o dedo na testa
do Souza Leão – e aí o Cotonifício Bezerra de Melo vai perder um sócio ilustre.
Souza Leão era Major-Aviador e meu colega de turma. Retirei-me da reunião – era
aniversário de um dos colegas – dizendo que a função de Major-Aviador merecia
tratamento mais digno. O episódio me colocou em oposição declarada, ficando eu
mais uma vez marcado pelos futuros ganhadores da Revolução de 31 de Março de
1964.
Três meses depois, o Vaz foi
morto pelo pistoleiro João Alcino, amigo e comparsa dos homens da Guarda
Pessoal do Presidente, entre eles Gregório Fortunato e um tal de Climério. No
instante em que João Alcino atirou em Lacerda, seu guarda-costas do dia, o
Major Rubem Vaz, estava na porta da casa do Lacerda – Rua Tonelero, em
Copacabana – e correu para pegar sua pistola .45 que estava no porta-luvas do
seu carro. João Alcino o matou pelas costas, exatamente após abrir a porta do
carro e abaixar-se na tentativa de pegar a arma. Eu tinha razão – os guarda-costas
de Lacerda eram amadores” (Major-Brigadeiro-do-Ar Rui Barbosa Moreira Lima,
Tomo 12, pg. 45).
“Entre os civis, os mais
destacados, sem dúvida, foram (...); o Governador da Guanabara, Carlos Lacerda,
um crítico mordaz do Governo, que, por pouco, não foi morto numa trama
diabólica arquitetada em reunião presidida pelo próprio Presidente da
República, na qual se encomendou o seu assassinato ao General Pinheiro,
Comandante do Núcleo da Divisão Aeroterrestre, que, por uma série de motivos,
não conseguiu colocar em execução o plano. Por muito pouco ele não foi morto,
porque houve recusa de vários comandantes de unidades paraquedistas em cumprir
a missão, até que um aceitou e saiu para executá-lo e acabou não tendo êxito,
por um estratagema no qual o Governador, ao ser informado do problema, fez uma
mudança no horário de uma inauguração” (General-de-Exército Luiz Gonzaga
Schroeder Lessa, Tomo 10, pg. 64).
Desinformação
da KGB: Caso dos mendigos jogados no Rio da Guarda
“Esse documento que mostro
aqui para as câmeras é a história do Departamento de Desinformação da KGB. A
KGB criou esse Departamento para fazer o que eles chamam de desinformátsiya. Trata-se de indicar
informações passadas – falsas, incompletas ou dúbias – fornecidas ou
confirmadas a outros países, a fim de fazer com que seus governos cheguem a
conclusões errôneas sobre a Rússia, sendo, inclusive, induzidos a ações
benéficas para com a Rússia.
Essa máquina continua, é
feito máquina sem freio, tomou aquele embalo e não cessa. Caiu o Muro de
Berlim, caiu a União Soviética, mas eles continuam funcionando dentro de todos
os jornais com a desinformátsiya.
Esses documentos do
Departamento de Desinformação da KGB, pela sua influência e pelos seus danosos
resultados, tratarei mais a fundo no meu próximo livro.
As grandes operações da desinformátsiya aqui no Rio de Janeiro
foram o caso dos mendigos e o caso do Brigadeiro Burnier. Dizem que o Burnier
ia explodir o gasômetro, no caso do Sérgio Macaco – um trapalhão que conseguiu
promoções na Justiça ao arrepio da lei. Um absurdo! Como um Capitão Intendente
sem os Cursos de Aperfeiçoamento e de Comando e Estado-Maior chega a
Brigadeiro?! É o próprio Samba do Crioulo Doido, é a negação a tudo que está
escrito sobre promoções, prejudicando a imagem do Judiciário!
A questão dos mendigos
começou com um fato concreto, realmente estavam matando mendigos e jogavam os
cadáveres no Rio da Guarda. Amarravam as mãos do mendigo atrás, davam uma
bordoada na cabeça e jogavam no Rio da Guarda, de cima de uma ponte.
Até que uma mendiga, não
deram com força suficiente, acordou, era exímia nadadora porque era filha de
pescador, e nadou até a margem, apesar de estar com as mãos amarradas, foi
batendo o pé, encalhou na areia. Um caboclo a salvou e a levou para a
delegacia.
Mas ela era completamente
demente, levou uns quinze dias dizendo coisas sem nexo. Aos poucos, o delegado
de Santa Cruz conseguiu formar uma história coerente, abriu um inquérito e me
comunicou.
Saí correndo e fui avisar o
Lacerda, uma coisa horrorosa estava acontecendo, já havia mais de dez mendigos,
dez cadáveres encontrados no Rio da Guarda, e a Última Hora estava dizendo que ele estava matando mendigos.
Ele mandou abrir um
inquérito administrativo e policial. O delegado de Santa Cruz tinha traçado a
origem como sendo o Serviço de Mendicância, que era em Olaria, um abrigo de
mendigos administrado pela Polícia.
Mandei cercar o lugar com a
PM e prendi todo mundo que estava lá dentro, do último mendigo até o chefe que
era policial de carreira, prendi todo mundo. Foram todos para o Regimento de
Cavalaria da Polícia Militar e lá tudo foi esclarecido.
Era um guarda civil antigão,
nomeado muito antes do Lacerda assumir o Governo, que começou a dizer para os
outros que ele falava com Cristo. Falava com Jesus Cristo e que Jesus Cristo o
tinha encarregado de beneficiar os mendigos sob sua guarda que ele achasse
irrecuperáveis, os quais deveria matar e jogar no rio.
Ele se mancomunou com o
motorista, cujo nome já diz tudo, o apelido era ‘Tranca Ruas’, a gente já vê
que não era boa coisa. Ele levava os mendigos para o Rio da Guarda junto com
esse motorista e matava. A Última Hora
fez um escarcéu tremendo.
A KGB espalhou isso no mundo
inteiro, recebi telegramas de uns quatro ou cinco países, apelando para que eu
parasse de matar mendigos. O Lacerda então recebeu pilhas. Peguei todos esses
telegramas, fiz um cálculo, porque conhecia o sistema de tarifa de telegramas:
a KGB gastou da ordem de 600 mil dólares só de telegramas, foi quanto custou essa
campanha dos mendigos. E, anos depois, vinha gente me perguntar: ‘Mas, Coronel,
é verdade que o senhor matava mendigo?’, porque as notícias da Última Hora eram
categóricas: ‘ele mandou, foi ele que tramou, foi ele que imaginou, que mandou
a Polícia segurar os mendigos e matar com uma bordoada na cabeça’, prejudicando
o Governo e a imagem do Lacerda também, já nem falo na minha pessoa.
Faz sentido o Governador
Lacerda sair das suas obrigações para mandar matar mendigos a bordoada? Mas o
povo acreditava, pois era dito tantas vezes, com tanta firmeza...
Há um filósofo francês que
diz: ‘Menti, menti, caluniai, sempre ficará alguma coisa.
Gramsci, membro do Comitê
Central do Partido Comunista Italiano, usava isso” (Coronel-Aviador Gustavo
Eugenio de Oliveira Borges, Tomo 10, pg. 302-304).
Obs.:
Cansei
de ver, em debate na TV, a professora e deputada Sandra Cavalcanti, que foi
Secretária de Serviços Sociais do Governo Lacerda, ser acusada por adversários
políticos, como Miro Teixeira, de ser responsável pela morte de mendigos,
jogados no Rio da Guarda e no Rio Guandu. Cfr. em https://pt.wikipedia.org/wiki/Sandra_Cavalcanti.
F.
Maier
Lacerda
ficou 48h acompanhando reparo da Adutora Guandu
“Entre os civis, destacaria,
sem dúvida, em primeiro lugar, Carlos Lacerda. Homem de talento, bravura e
idealismo, conseguiu ser o maior tribuno de todos os tempos no nosso
parlamento. Na Revolução foi um bravo. Destacou-se como administrador.
Compartilhei da sua ação administrativa, onde mostrou que não era apenas um
demolidor, mas sabia construir, também. Lembro-me de que poucos dias depois de
assumir o Governo do Estado da, então Guanabara, começou a faltar água. A
adutora do Guandu estourou e o Rio de Janeiro ficou sem água. Normalmente,
nesses casos, o governador expede suas ordens e fica em casa. Era um fim de
semana. Lacerda foi pra lá e ficou mais de 48 horas sem arredar um instante,
comendo sanduíche e em pé. Eu disse: ‘Governador, o senhor precisa descansar’.
Ele respondeu: ‘Não saio daqui, enquanto o Rio de Janeiro não voltar a ter
água. Faço questão de dar o exemplo’ ” (Doutor Emílio Antonio Mallet de Souza
Aguiar Nina Ribeiro, Tomo 10, pg. 253).
Lacerda,
criador de anedotas infames
“Aberta a sucessão, o nome
do Ministro Costa e Silva naturalmente surgiu. Eu e Jubé identificamos uma
campanha difamatória contra ele, uma série de anedotas deste nível: ‘Ele usa
óculos escuros, porque ao ver o verde da grama, vai querer pastar’.
Decidimos levantar a origem
dessas piadas infames e maldosas. A melhor maneira de destruir alguém é fazê-lo
via anedota. Ridicularizar através de um humorismo inteligente, porém
difamante, é pior que uma bomba nuclear, destrói qualquer coisa. Aquilo me
preocupou pois era publicado na Imprensa, minha área. As investigações
descobriram que as anedotas eram lançadas nos corredores do Congresso, trazidas
por um oficial – não vou dizer se da Marinha ou da Aeronáutica – da assessoria
parlamentar. Ele foi seguido e descobrimos que frequentava o Gabinete do Carlos
Lacerda, na Galeria Avenida, no Rio de Janeiro, de onde as anedotas saíam.
Lacerda estava preocupado com o crescimento da candidatura de Costa e Silva.
(...)
Devo dizer que levava as
anedotas ao conhecimento do Costa e Silva, que as achava engraçadas e até ria.
(...)
Descoberta a origem, ficou
mais fácil o combate. Quando diziam que era imbecil, que se tratava de um
boçal, que Costa e Silva não servia nem para sargento, imprimíamos uma
fotografia dele e no verso colocávamos um currículo resumido. No final,
esclarecíamos que Costa e Silva fora o primeiro colocado da Infantaria na
Escola Militar de Realengo, mesma turma de Castello [7º. Colocado]”
General-de-Exército Oswaldo Muniz Oliva, Tomo 7, pg. 57).
“Encontrava-me na sala de
aula [ECEME] com mais alguns companheiros, quando foram chamados oficiais
dispostos, aqueles que ‘topavam qualquer parada’. (...) O Coronel Figueiredo
(João Baptista de Oliveira Figueiredo), instrutor, dirigiu-se a nós:
- Nós os escolhemos porque
tempos confiança em vocês e vamos cumprir uma missão muito árdua. O Palácio
Guanabara enviou um pedido para que mandássemos alguns oficiais para organizar
a defesa do Palácio, sede do Governo do Estado, onde se encontrava o senhor
Carlos Lacerda e o pessoal mais chegado a ele. Consta que vão ser atacados
pelos fuzileiros navais do Aragão; já estão lá três ou quatro oficiais da
Aeronáutica, comandados pelo Coronel Burnier, que confessam não saberem fazer
defesa terrestre. A Escola só pode dar a condução de ida para vocês. Alguém não
deseja ou não aceita a missão?
- Não senhor! – respondemos
– nós iremos” (Coronel Godofredo de Araújo Neves, Tomo 7, pg. 160).
Frente
Ampla: suicídio político de Lacerda
“O AI-2 extinguiu os
partidos, criando o bipartidarismo, e adotou uma série de outras medidas, mas o
mais importante não foi feito, fruto do firme desejo de Castello, a reeleição
do Presidente. Automaticamente, abriu a sucessão. Talvez não tenha pensado
nessa consequência.
Nesse momento, quando ele
abriu a sucessão, Lacerda surgiu como candidato, mas Costa e Silva, também,
passou a ser um nome poderosos, preferido dos militares e alguns políticos.
Lacerda erradamente, a meu ver, resolveu fazer uma reunião em Portugal para
criar a Frente Ampla, com Jango e Juscelino. Nesse instante, perdeu a confiança
nele depositada. (...)
(...)
Lacerda era o nosso
candidato, mas passou a atacar a Revolução, distanciando-se do apoio militar.
Começou a errar e a ‘engrossar’, quando Castello decidiu transformar a eleição
em indiretas. Milton Campos, Ministro da Justiça, homem da mais alta dignidade,
foi convocado para enviar mensagem ao Congresso, a respeito do assunto.
Castello chamou Magalhães Pinto e Lacerda, dois líderes civis da Revolução, à
Brasília, para contar-lhes. Nenhum dos dois receber as acusações, justa ou
injustamente lançadas sobre Adhemar de Barros, que foi essencial para a
Revolução. Lacerda saiu do Palácio, chegou ao Rio e, na televisão, desafiou
Castello a manter a eleição direta, já sabendo que seria indireta.
Tao atitude de Lacerda
deixou Castello muito aborrecido. No instante em que Lacerda antagonizou-se com
Castello, ficaram dois candidatos militares, Oswaldo Cordeiro de Farias e Costa
e Silva” (General-de-Exército Oswaldo Muniz Oliva, Tomo 7, pg. 59-60).
“Por uma questão de
idoneidade histórica, vou criticar um pouco o próprio Governador Lacerda de
quem fui tanto amigo. Quando ele achou que era seu dever participar da ‘Frente
Ampla’, lealmente fui à presença dele e disse-lhe: ‘A partir desse momento não
lhe sirvo mais, embora continue lacerdista. O senhor é que está deixando de
sê-lo’. Ele tomou um susto, ficou espantado e, também, achou engraçado.
Passados os anos, voltamos a nos visitar e estreitar o nosso relacionamento,
até o seu perecimento. Naquele momento, creio que estava mal-aconselhado ou
mal-inspirado.
Ele possuía uma inteligência
brilhante e o gênio tem esses altos e
baixos. Naquele momento, infelizmente, me permiti discordar. Não era um robô,
mas um adepto sincero de suas ideias. Foi um dos líderes incontestes da
Revolução de 1964” (Doutor Emílio Antonio Mallet de Souza Aguiar Nina Ribeiro,
Tomo 10, pg. 253-254).
“Há uma passagem do
Governador Carlos Lacerda, que foi um homem decisivo na época da Revolução para
a vitória do Movimento. Ele tinha ambições de ser Presidente da República e
quando os elementos militares mais radicais, vamos falar assim, não queriam que
se passasse logo o governo para um civil, quando Lacerda percebeu que não seria
o candidato nas eleições que deveriam vir em seguida... ele saiu com uma frase
que os jornais estamparam na época, para nós considerada uma ofensa grave ao
Marechal Humberto Castello Branco. Ele diz: ‘Eu acho que o Marechal Castello
Branco é mais feio por dentro do que por fora.’ Um homem que tinha sido um dos
líderes da Revolução, só porque se viu tolhido e frustrado por não poder se
candidatar à presidência logo em seguida, como sonhara, se voltou contra nós. E
vamos ver, logo em seguida, uma reunião que houve de Lacerda, Jango e creio que
Juscelino, com a ideia de formar uma frente ampla para tratar dos interesses de
seus líderes” (General-de-Brigada Acrísio Figueira, Tomo 14, pg. 150).
Obs:
A título de informação, o Ministro San Thiago
Dantas desejava unir todas as esquerdas em uma “Frente Única” (1963), para dar
suporte consistente ao Governo João Goulart e suas “Reformas de Base”. Os
partidos comunistas e o exibicionismo de Brizola impediram a formação dessa
Frente. A “Frente Popular” de Jango, com o PCB e as organizações dominadas pelo
“Partidão”, foi o que sobrou da pretensa “Frente Única”.
A “Frente Única” pelo menos serviu como
inspiração para a moda da década de 1960, sendo uma peça feminina bastante
“sexy” – ao mesmo tempo em que debutavam as chinelas hawaianas e a camisa
“ban-lon”, também conhecida como “camisa volta ao mundo”.
F. Maier
BIBLIOGRAFIA:
MOTTA, Aricildes de Moraes (Coordenador Geral). História Oral do Exército - 1964 - 31 de Março
- O Movimento Revolucionário e sua História. Tomos
Obs.:
Os 15 Tomos da "História Oral do Exército - 31 Março 1964" podem ser baixados em:
Tomo 1
https://bdex.eb.mil.br/jspui/bitstream/123456789/7104/1/31_Marco_1964-Tomo-1.pdf
Tomo 2
https://bdex.eb.mil.br/jspui/bitstream/123456789/7105/1/31_Marco_1964-Tomo-2.pdf
Tomo 3
https://bdex.eb.mil.br/jspui/bitstream/123456789/7339/1/31_Marco_1964-Tomo-3.pdf
Tomo 4
https://bdex.eb.mil.br/jspui/bitstream/123456789/7340/1/31_Marco_1964-Tomo-4.pdf
Tomo 5
https://bdex.eb.mil.br/jspui/bitstream/123456789/7341/1/31_Marco_1964-Tomo-5.pdf
Tomo 6
https://bdex.eb.mil.br/jspui/bitstream/123456789/7342/1/31_Marco_1964-Tomo-6.pdf
Tomo 7
https://bdex.eb.mil.br/jspui/bitstream/123456789/7343/1/31_Marco_1964-Tomo-7.pdf
Tomo 8
https://bdex.eb.mil.br/jspui/bitstream/123456789/7344/1/31_Marco_1964-Tomo-8.pdf
Tomo 9
https://bdex.eb.mil.br/jspui/bitstream/123456789/7345/1/31_Marco_1964-Tomo-9.pdf
Tomo 10
https://bdex.eb.mil.br/jspui/bitstream/123456789/7346/1/31_Marco_1964-Tomo-10.pdf
Tomo 11
https://bdex.eb.mil.br/jspui/bitstream/123456789/7347/1/31_Marco_1964-Tomo-11.pdf
Tomo 12
https://bdex.eb.mil.br/jspui/bitstream/123456789/7348/1/31_Marco_1964-Tomo-12.pdf
Tomo 13
https://bdex.eb.mil.br/jspui/bitstream/123456789/7349/1/31_Marco_1964-Tomo-13.pdf
Tomo 14
https://bdex.eb.mil.br/jspui/bitstream/123456789/7350/1/31_Marco_1964-Tomo-14.pdf
Tomo 15
https://bdex.eb.mil.br/jspui/bitstream/123456789/7351/1/31_Marco_1964-Tomo-15.pdf
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