El cóndor pása... e os urubus tapam o nariz...
Félix Maier
Mídia Sem Máscara, em 05 Julho 2012
Operação Condor foi tão legítima como hoje é a Interpol e os acordos bilaterais de segurança entre países para enfrentar em conjunto o terrorismo e o crime transnacional.
A Operação Condor foi uma operação conjunta de governos de países sul-americanos para fazer face aos movimentos terroristas-marxistas do final da década de 1960 e início da década de 1970, desencadeados a partir da Revolução Cultural (China) e da OLAS (Cuba). Há livros que tratam do assunto, como Operação Condor - terrorismo en el Cone Sur, do jornalista Nilson Cezar Mariano, e Social Justice, publicado em 1999, da pesquisadora Patrice McSherry, professora de Ciências Políticas da Universidade de Long Island, EUA, em que há um artigo sobre a Operação Condor.
“Foi comprovada, em 1992, através de documentos da polícia secreta do Paraguai, a existência de uma ação de Estado implantada em todo o cone Sul. Na verdade, a Operação Condor foi um acordo costurado por todos os países da região com o intento de facilitar a cooperação regional na repressão aos opositores dos regimes militares que então governavam o Brasil, a Argentina, o Chile e a Bolívia. Teoricamente esses opositores dos regimes militares faziam parte de grupos guerrilheiros com ideologia socialista nos moldes da filosofia radical maoísta e stalinista. Eram apoiados por Cuba de Fidel Castro e indiretamente pelos governos socialistas da antiga União Soviética e da República Popular da China, que desejavam expandir o modelo socialista para todos os países da América Latina. Além do apoio tático e estratégico fornecido pelo governo de Cuba, esses grupos buscavam os recursos financeiros através de ações criminosas, como roubos a bancos e sequestros” (http://pt.wikipedia.org/wiki/Opera%C3%A7%C3%A3o_Condor).
Essa Operação não foi um acordo multilateral terrorista de governos latino-americanos, como propaga a esquerda, mas, sim, um acordo legítimo de defesa conjunta de países contra movimentos terroristas, patrocinados por países totalitários comunistas (URSS, China, Cuba), que queriam implantar, não a democracia, porém a ditadura do proletariado em todo o continente. A Operação Condor foi tão legítima como hoje é a Interpol e os acordos bilaterais de segurança entre países para enfrentar em conjunto o terrorismo e o crime transnacional. “Se a orientação e o apoio dessas operações vinham de fora - vinham da Rússia e da China, via Cuba ou Uruguai - enfim, eram um movimento internacional integrado, o que há de estranho no fato de o Cone Sul se reunir para colocar um ‘basta’ a isso, com troca de informações, já que todos eram atingidos?” (Gen Ex Leônidas Pires Gonçalves - História Oral do Exército/1964, Tomo 1, pg. 92).
No Brasil, se as Forças de Segurança não tivessem desbaratado a Guerrilha do Araguaia, ainda hoje poderíamos estar vivendo uma guerra civil, a exemplo da Colômbia. Nesse caso, o Governo Federal poderia estar hoje negociando, p. ex., com José “Tirofijo” Genoino, a entrega de uma extensa região do Araguaia aos guerrilheiros das FARB, para “conversações de paz”, como ocorreu na Colômbia das FARC durante o governo de Andrés Pastrana. O Sendero Luminoso e o Tupac Amaru (Peru), atualmente sob certo controle, e as FARC e ELN (Colômbia) são os “filhotes” mais duradouros da OLAS de Fidel Castro, que prometeu “criar um Vietnã” em cada país sul-americano.
Nos dias 4 e 5 de julho, os esquerdistas da América Latina promoveram um seminário sobre a Operação Condor na Câmara dos Deputados, em Brasília, coordenado pela deputada Luiza "La Pasionaria" Erundina, presidente da Comissão Parlamentar Memória, Verdade e Justiça. A Pasionaria original era o apelido de Dolores Ibarruri, líder comunista espanhola, que "teria cortado a garganta de um padre com os próprios dentes" durante a Guerra Civil Espanhola (*). A Pasionaria tupiniquim quer por que quer mudar a Lei da Anistia, de modo que apenas os agentes de Estado que combateram os terroristas sejam processados e presos. Assim, esse Seminário tem como objetivo único, não a apuração da verdade, mas a continuação da campanha nefasta de diabolização das Forças Armadas latino-americanas, ao mesmo tempo em que a petralhada internacional tentará canonizar mais alguns terroristas, sequestradores, assaltantes de bancos e assassinos ainda não relacionados em seu Panteão da Memória e da Verdade.
O jornalista Vannildo Mendes, em texto publicado no Estadão em 5/7/12, abordando a Operação Condor, voltou a repetir a mentira de que a Argentina teve 30 mil desaparecidos durante o governo militar. El Monumento a la Memória, construído em Buenos Aires, tem 5 paredes com 30.000 placas, que deveriam lembrar os desaparecidos argentinos durante o governo militar anticomunista. Porém, apenas 8.718 placas têm identificação, ou seja, há 21.282 placas em branco, sem nomes - uma mentira inflada quase 4 vezes. Os esquerdistas argentinos conseguiram ser ainda mais embusteiros que seus kamaradas brasileiros, ao criar a figura do desaparecido sem nome. Essa vergonhosa mentira vem sendo repetida há décadas e hoje todo mundo acredita que realmente houve 30 mil desaparecidos na Argentina, número assim redondinho, sem uma placa a mais ou a menos. Vannildo deveria mudar seu nome para “Mentes”.
Cínicos, esses esquerdistas! Falam mal da Operação Condor, logo eles, que ontem se uniram ao PC cubano e à KGB, criaram a OLAS e dezenas de grupos terroristas para infernizar a América Latina, e hoje estão à frente de movimentos que ainda sonham em implantar o comunismo na região, como a ALBA, o Foro de São Paulo e o Fórum Social Mundial. El cóndor pása... toca a flauta indígena do Peru. E os urubus socialistas apertam o nariz, denunciando o mau cheiro que eles mesmos provocaram.
Nota:
(*) JOHNSON, Paul. Tempos Modernos - O mundo dos anos 20 aos 80 (pg. 272). Biblioteca do Exército e Instituto Liberal, Rio de Janeiro, 1994 (Tradução de Gilda de Brito Mac-Dowell e Sérgio Maranhão da Matta).
El cóndor pása - versão publicada no Jornal do Brasil e sites MSM e Ternuma:
El cóndor pása (e os urubus tapam o nariz)
Félix Maier
Usina de Letras - 23/06/2000 - 16:58
É de estarrecer o que se vê atualmente na imprensa, o cinismo com que se aborda a questão da assim chamada 'Operação Condor'.
Sabe-se que havia uma Internacional Comunista (Komintern), que pretendia impor o regime soviético a todos os cantos da terra. Sabe-se também que o brasileiro Luiz Carlos Prestes era um agente do Komintern, recebia salário de Moscou e pretendeu fazer do Brasil um imenso Gulag, no levante conhecido como Intentona Comunista, em 1935. Cantado em verso e prosa por Jorge Amado e pelos bicheiros das escolas de samba do Rio como o 'cavaleiro da esperança', Prestes na realidade já fora, anteriormente, o chefe dos 'cavaleiros do apocalipse', ao comandar a Coluna que levou seu nome, espalhando o terror no sertão brasileiro, com roubos, estupros e assassinatos, como comprovam as memórias de Juarez Távora, recentemente liberadas. O mesmo facínora mandou matar Elza, uma comparsa da fracassada Intentona, ao desconfiar que a mesma havia entregado companheiros à polícia (veja o livro 'Camaradas', de William Waack, com pesquisas nos arquivos de Moscou).
Sabe-se, ainda, que em 1967 foi criada a Organização Latino-Americana de Solidariedade (OLAS), em Cuba, com a presença de Salvador Allende e Marighela, entre outros, para 'criar um Vietnam em cada país sul-americano', nas palavras de Fidel Castro. A organização desencadeou 'olas' (ondas) de movimentos revolucionários marxistas em todo o Cone Sul, por isso se explica o grande número de grupos terroristas, como a ALN, o Molipo, a Colina, a VPR, o MR-8 e muitos outros, que se formaram a partir de então no Brasil, não para lutar pela democracia, contra a 'vil ditadura dos militares', porém, para tentar impor aqui uma ditadura comunista. Brizola também recebeu dinheiro de Cuba para iniciar uma guerrilha no Brasil e foi apelidado por Fidel Castro de 'el ratón', por não saber explicar o sumiço de 100 mil dólares.
Apesar de se saber tudo isso - e tudo o que aconteceu nos outros países sul-americanos -, os terroristas sobreviventes tentam desmoralizar as Forças Armadas do Cone Sul ao imputar-lhes um crime que não cometeram. Jornais importantes, como o 'Jornal do Brasil', apenas retratam uma face da moeda. Criminosamente, deixam de dizer apenas a verdade: nunca houve uma 'central do terror' no Cone Sul. O que houve foi apenas a coordenação dos governos locais para fazer face à internacional do terror que tentou impor aqui o pior pesadelo que a humanidade já conheceu: o comunismo. Se querem desvendar a história, o que seria correto, comecem por historiar o que os terroristas foram fazer em Cuba, quantos bancos assaltaram, quantos assassinatos promoveram. E depois, somente depois, opinem sobre o serviço executado pelas Forças Armadas - por sinal, muito bem executado.
Essa turma toda se parece com urubus que tapam o nariz ao sentir a carniça exalada pelos mortos dos outros, esquecendo-se de que a maior carniça é aquela exalada pelos 110 milhões de mortos que eles próprios promoveram neste século, mau cheiro, este sim, longe de acabar.
Brasília, 23 de junho de 2000.
(Publicado no 'Jornal do Brasil', 1/7/2000, sob o título 'A outra face'; no site www.midiasemmascara.com.br; e no site www.ternuma.com.br, link 'Opinião'.)
Obs.: Como afirmou o mais novo santo das esquerdas, Santo Betinho (Herbert de Souza), que foi pombo-correio dos dólares Fidel-Brizola, o maragato gaúcho teria desviado 200 mil dólares, não 100 mil. Isto está publicado no Jornal do Brasil de 17/07/1996.
Obs. da Obs.:
“Em novembro de 1979, o Coojornal publicou uma entrevista, concedida em 1978 pelo
ex-sargento Alberi [integrante da Operação Três Passos], aproximadamente três
meses antes de sua morte, na qual declarou que o dinheiro para financiar a
Operação - um milhão de dólares – havia sido conseguido em Cuba e levado a
Brizola por Darcy Ribeiro e Paulo Schilling ” (in “A Verdade Sufocada”, do Coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, pg. 150).
OPERAÇÃO CONDOR
Carlos Ilich Santos Azambuja (*)
Quando da prisão do general Augusto Pinochet, em Londres, em 1999, foram publicadas no Brasil uma série de reportagens, algumas de páginas inteiras, sobre a denominada “Operação Condor” (década de 70), buscando vincular órgãos de Inteligência brasileiros, especialmente o extinto Serviço Nacional de Informações com a referida operação, por ter “cooperado para formar e preparar quadros para os órgãos de repressão das ditaduras chilena, argentina, boliviana, uruguaia e paraguaia” (O Globo de 5 de janeiro de 1999. Sempre O Globo...).
Após indiciar o general Pinochet por genocídio, o juiz espanhol Baltasar Garzón (ex-deputado socialista) passou a buscar documentos objetivando demonstrar que, depois da deposição de Salvador Allende, no Chile, em 11 de setembro de 1973, os governos de cinco países - Argentina, BRASIL, Bolívia, Paraguai e Uruguai - uniram-se, sob o comando da DINA, o Serviço de Inteligência chileno, numa espécie de “Mercosul do terror”. A parceria teria sido formalizada em 1975, sendo denominada “Operação Condor”.
Nesse mister, o juiz Garzón contou com a colaboração do advogado espanhol Joan E. Garcés, assessor de Allende, no Chile, nos anos 1971-1973, que abandonou o Palácio La Moneda minutos antes de este cometer suicídio. Joan Garcés, posteriormente, em 1976, foi o fundador, na Espanha, da Federação dos Partidos Socialistas e, em 1979, da esquerda socialista do Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE), de Felipe Gonzalez.
Em 1976, Joan Garcés escreveu o livro “Allende e as Armas da Política”, editado no Brasil em 1993 pela “Editora Scritta”, traduzido pelo escritor e jornalista brasileiro Emir Sader, que viveu no Chile como auto-exilado durante o governo Allende, onde integrou os quadros do Movimiento de Izquierda Revolucionária (MIR).
Vamos aos fatos. Àquilo que os jornalistas que abordaram o tema não disseram ou não quiseram dizer. Muitos dados aqui relatados foram extraídos do livro “Europa Versus Pinochet - Indebido Proceso”, escrito por Hermógenes Perez de Arce - professor universitário e colaborador do jornal “El Mercurio” - lançado em Santiago, Chile em 1998, e já em segunda edição.
Deve ficar claro que quando existe uma ameaça terrorista de caráter internacional, os órgãos de Segurança dos países ameaçados se coordenam. Sempre foi e continua sendo assim. Nesse sentido, a “France-Press” divulgou, em 21 de novembro de 1998, o seguinte telegrama: “O presidente francês, Jacques Chirac, e o Primeiro-Ministro Lionel Jospin, confirmaram ao chefe do governo espanhol, José Maria Aznar, a adesão da França à luta antiterrorista na Espanha ao ser concluída, ontem, a reunião de cúpula França-Espanha, em La Rochelle”. Ou seja, esses dois países coordenaram seus órgãos de Inteligência para combater a ETA-BASCA.
Esse acordo não ficou no papel. Dia 10 de março de 1999, “O Globo” transcreveu um telegrama vindo de Paris, segundo o qual “as forças de segurança da França e da Espanha” haviam detido no dia anterior, em território francês, seis espanhóis, membros do grupo ETA, “incluindo o chefe militar José Javier Arizcuren Ruiz, conhecido como ‘Kantari’, procurado desde a década de 80 e acusado de haver tentado matar o rei Juan Carlos I, em Palma de Mallorca, em 1995 (...) A prisão foi resultado de uma operação conjunta entre a França e a Espanha”.
Voltando à América Latina, deve ser recordado que o desafio terrorista contra os governos do continente nada mais era do que uma derivação da Guerra-Fria.
Em 1974 - menos de um ano após a deposição de Allende - foi fundada em Paris uma Junta de Coordenação Revolucionária (JCR), integrada pelo Exército de Libertação Nacional (ELN), da Bolívia, o Exército Revolucionário do Povo (ERP), da Argentina, o Movimento de Libertação Nacional-Tupamaros MLN-T), do Uruguai, e o Movimento de Izquierda Revolucionário (MIR), do Chile.
O Secretário-Geral da JCR era o cubano Fernando Luis Alvarez, membro da Direção Geral de Inteligência (DGI) cubana, casado com Ana Maria Guevara, irmã de Che Guevara, o que conferia à JCR o caráter de instrumento do Estado cubano.
Pouco tempo depois, em outubro de 1974, a Comissão Política do MIR, através de seu jornal “El Rebelde en la Clandestinidad”, dava conta desse fato nos seguintes termos: “No campo internacional, nosso partido redobrará a coordenação e o trabalho conjunto com o ERP, O MLN-T e o ELN da Bolívia, e junto com eles lutará para fortalecer e acelerar o processo de coordenação da Esquerda Revolucionária Latino-Americana e Mundial (...). Chamamos a todas as organizações e movimentos irmãos a redobrar a luta em seus próprios países, a fortalecer e ampliar a Junta Coordenadora do Cone Sul (...)”.
O dirigente do PC Chileno, já falecido, que também foi Ministro do governo Allende, Orlando Millas, escreveu em suas “Memórias, 1957-1991”, “Ediciones Chile - América”, Santiago, 1995, páginas 186 e 187, o seguinte: “Reunimo-nos em Moscou, em 1974, os membros da Comissão Política do partido que estávamos no exílio, ou seja, os titulares Volodia Teitelboim, Gladys Marin (na época Secretária-Geral do Partido Comunista Chileno) e eu, e o suplente Manuel Cantero. Nessa oportunidade soube do acordo que haviam chegado, em Havana, dirigentes dos respectivos partidos (chileno e cubano), para que contingentes de militantes comunistas chilenos fossem aceitos como alunos, na qualidade de cadetes, na Escola Militar de Cuba.
Foi recrutado para essa tarefa o melhor do melhor da nova geração no exílio. Senti que os conduzíamos a queimar-se no Chile em batalhas impossíveis. Quem menos direito tem de criticá-los somos nós, que assumimos a responsabilidade, estremecedora, de sugerir-lhes, sendo adolescentes, que o caminho para ser dignos de seu povo deveria ser percorrido empunhando armas”.
Infelizmente, isso não aconteceu somente no Chile. No Brasil, também na década de 70, mais da metade dos que foram mandados para a morte pela direção do Partido Comunista do Brasil, nas selvas do Araguaia, eram jovens estudantes ou recém-formados.
Anteriormente a tudo isso, no Congresso do Partido Socialista Chileno, ao qual pertencia Salvador Allende, realizado na cidade de Chillán, em 1967, foi aprovada uma Resolução Política que dizia: “(...) A violência revolucionária é inevitável e legítima (...). Só destruindo o aparato burocrático e militar do Estado-burguês, pode consolidar-se a revolução socialista”. Essa linha política foi confirmada no Congresso realizado em 1971 - ano em que Allende assumiu o governo - realizado na cidade de La Serena.
A decisão do PS chileno de optar pela “violência revolucionária” estava de acordo com os protocolos adotados no ano anterior, 1966, em Havana, na “Conferência Tricontinental”, quando foi aprovada pela unanimidade das 27 delegações presentes a sugestão de criar a “Organização Latino-Americana de Solidariedade (OLAS)” uma cópia do Komintern dos anos 30, um pacto político-militar para revolucionar a América Latina. O autor dessa proposta foi o delegado que representava o Partido Socialista Chileno: Salvador Allende.
Quem melhor resumiu a consistência da ameaça armada ilegal constituída durante os quase três anos em que Allende esteve no governo foi o ex-senador e ex-presidente do Partido Socialista durante o referido governo, Carlos Altamirano. No livro da jornalista Patrícia Politzer, editado no Chile em 1995, pode ser lido o seguinte diálogo: Entrevistadora: “Quantos homens formavam esse modestíssimo aparato armado do Partido Socialista?” Altamirano: “Mas ou menos mil a mil e quinhentos homens, com armas leves”. Entrevistadora: “Mil homens não é pouco”. Altamirano: “Não era pouco se houvesse uma coordenação com o aparato militar do MIR, que supostamente era bastante mais importante que o nosso; com o do Partido Comunista, que também era maior, e com os que tinham o MAPU e a Esquerda Cristã. Porém, essa coordenação não aconteceu...”.
É evidente que o número de 1.000 a 1.500 homens, do PS, 3.000 a 5.000 do MIR (“bastante mais importante”), 2000, do Partido Comunista (“também era maior”), do MAPU e Esquerda Cristã, aproximadamente 1.000, redundava em um total aproximado de 10.000 homens armados que, somado aos “companheiros de Tropas” (referidos por Patrício La Guardia, como se verá adiante) e a um número indeterminado de outros estrangeiros, era, sem dúvida, um contingente respeitável.
Nos anos 80, a ação armada subversiva, no Chile, ganhou impulso com os sucessivos desembarques de armas realizados desde navios cubanos, em janeiro, junho e julho de 1986: 3.200 fuzis, 114 lança-foguetes soviéticos RPG-7, 167 foguetes anti-blindagem LAW (alguns utilizados no atentado contra Pinochet nesse mesmo ano de 1986, que causou a morte de 5 militares de sua escolta), granadas, munições e outras armas (livro “Chile, Crônica de um Assédio”, Santiago, 1992, tomo I, página 98). Ou seja, o maior contrabando de armas jamais registrado na América Latina.
A prova da intervenção cubana e de que um contingente dessa nacionalidade encontrava-se no Chile durante o governo Allende, inclusive integrando a segurança pessoal do presidente, pode ser encontrada em uma publicação cubana sobre o julgamento, muitos anos mais tarde, já no final da década de 80, de diversos altos oficiais do Exército cubano, acusados de narcotráfico. Um desses oficiais, Patrício La Guardia, amigo pessoal de Fidel Castro, condenado à morte e fuzilado, viu-se submetido ao seguinte interrogatório: Pergunta: “E missões internacionalistas, além dessa de Angola, que cumpriu anteriormente? Resposta de Patrício La Guardia: “Estive no Chile. Fui condecorado com a Medalha Internacionalista de Primeiro Grau porque estava no Chile à frente dos companheiros de Tropas, quando do golpe de Estado, e cumpri outras operações especiais” (“Vindicación de Cuba 1989”, “Editorial Política”, Havana, Cuba, página 291).
O ex-presidente chileno Eduardo Frei em declarações ao jornal “ABC”, de Madri, Espanha, disse o seguinte: “O marxismo, com o conhecimento e aprovação de Salvador Allende, e talvez por instigação dele próprio, havia introduzido no Chile inumeráveis arsenais, que eram guardados em residências, escritórios, fábricas e armazéns. O mundo não sabe que o marxismo chileno dispunha de um armamento superior em número e qualidade que o do Exército (...). Os militares salvaram o Chile e a todos nós, cujas vidas não são, certamente, tão importantes como o Chile”.
Pergunta-se o que poderiam fazer os governos ameaçados frente a uma internacional terrorista. A OLAS nos anos 60, e a JCR, nos anos 70? Obviamente, o mesmo que fizeram França e Espanha: coordenar suas ações antiterroristas. Assim, teria nascido a “Operação Condor”.
Se no decorrer das operações repressivas foram cometidos delitos, sucedeu algo parecido com o grupo espanhol denominado GAL (Grupos Antiterroristas de Libertação), constituído por elementos pertencentes aos Órgãos de Inteligência espanhóis. As responsabilidades pelos delitos deveriam recair sobre as pessoas que os cometeram, como, de fato, recaíram. Em 19 de julho de 1998 o Supremo Tribunal da Espanha condenou vários auxiliares de Felipe Gonzalez (que governou a Espanha por 14 anos, de 1982 a 1996), inclusive seu Ministro da Justiça, por crimes praticados durante a luta contra a ETA-BASCA.
Em nenhum momento, porém, os diligentes juizes espanhóis pensaram em responsabilizar Felipe Gonzalez por esses crimes.
Assim, como ao juiz espanhol Baltasar Garzón não ocorreu submeter a processo Felipe Gonzalez, assim, tampouco, existe fundamento para acusar o então senador Pinochet, por alguma atuação indevida de seus subordinados durante o desenrolar da “Operação Condor”, quando presidente do Chile.
Mas, no entanto, o juiz Baltasar Garzón, assessorado por Joan Garcéz, buscou satanizar a “Operação Condor”. É indiscutível, porém, que face a um desafio terrorista coordenado, que não era um pic-nic, os Órgãos de Inteligência dos países ameaçados fizeram o mínimo que deveriam fazer: coordenar-se. E deverão fazê-lo sempre.
Outra acusação feita a Pinochet é a de “genocídio”, por haver supostamente perseguido um grupo político: o de comunistas nativos e de outros países exilados no Chile. Tal delito, no entanto, é tipificado pelo “Convênio sobre Genocídio”, como “a perseguição a um grupo nacional, étnico, racial ou religioso”, e não de grupos políticos. E mais: o Convênio Internacional sobre crimes de genocídio, patrocinado pela ONU, estabelece expressamente que o Tribunal competente para julgar esse tipo de crime é o do lugar onde foi cometido o delito.
Sobre o assassinato, nos EUA, do ex-chanceler de Allende, Orlando Letelier, do qual Pinochet foi também responsabilizado pelo juiz Garzón, recorde-se uma entrevista de seu filho, deputado Juan Pablo Letelier, a uma jornalista, em Santiago, em 1995: Pergunta: “O senhor tem se dedicado nos últimos tempos a exculpar de toda a responsabilidade o Exército do Chile e seu Comandante em Chefe pela morte de seu pai. Por que?” Resposta: “Não me dediquei a exculpar. O que já disse, por mais de uma vez, porque me ensinaram a falar a verdade, é que não há nenhuma evidência que flua do processo, de milhares de folhas, que permita sustentar que tenha havido participação do Exército ou de seu Comandante em Chefe no assassinato de meu pai” (jornal “El Mercurio” de 4 de junho de 1995, página D-2).
A comunidade jurídica internacional sempre considerou profundamente injusto julgar uma época aplicando os padrões morais de outra. Por isso, entre outras razões, existe universalmente a prescrição, através da qual o transcurso do tempo extingue as responsabilidades. Existe, pois, um ingrediente de tremenda injustiça em querer julgar, anos depois, acontecimentos que hoje parecem desprovidos de toda a carga de incerteza, temor e ódio que existiam no Chile e em toda a América Latina nos anos 70. Sempre, “antes” as coisas são diferentes do que parecem “depois”, quando o perigo já passou. Um velho ditado diz que “depois da batalha, todos são generais”.
O terrorismo e os terroristas, por sua vez, não têm que responder ante ninguém. Se triunfa converte-se em um regime totalitário, e este, por definição, não tem que responder por seus atos. Se é derrotado, converte suas baixas em “vítimas”, e descreve a guerra suja que perdeu como um “extermínio” - ou, como deseja o juiz Garzón, um “genocídio”-.
Em 1990, mesmo depois do Governo Militar, as vítimas do “genocídio” e do “extermínio” continuaram a atuar, e assassinaram, em plena democracia, o coronel Fontaine, do Corpo de Carabineiros, o Major do Exército Carlos Perez e sua mulher, e feriram gravemente os generais Leigh e Ruiz, da Força Aérea, em atentados.
No Chile, durante os primeiros anos do Governo Militar, o juiz Rafael Retamal, que havia sido presidente da Corte Suprema, ante um requerimento de que a Justiça fosse mais severa com os “excessos repressivos”, replicou: “Os extremistas iam nos matar a todos. Ante essa realidade, deixemos que os militares façam a parte suja. Depois chegará a hora dos direitos”.
Hoje, não só no Chile alguns extremistas, que insistem em fazer um boca-a-boca na falida doutrina científica, e correligionários seus, defensores dos direitos humanos, acusam de “assassinos” os militares. Porém, o então Ministro da Corte Suprema, e depois presidente desse Tribunal, temia ser assassinado pelos extremistas. Quem eram, então, os assassinos?
Nos anos 60 e 70 o mundo vivia sob a chamada “Guerra-Fria”. A possibilidade de um conflito bélico global sempre esteve presente. Na América Latina, a exportação da guerrilha e do terrorismo, de Cuba para o restante do continente, era uma constante. Em 1967, Che Guevara havia sido morto na Bolívia à frente de um grupo de guerrilheiros cubanos. Um grande desembarque de armas extremistas havia sido descoberto e frustrado na Venezuela. Fidel Castro e Guevara falavam abertamente que os Andes se converteriam na “Sierra Maestra do continente” e que seriam criados “vários Vietnãs”. Então, os Tupamaros, no Uruguai, os Montoneros, na Argentina, os militantes do MIR chileno, e Marighela e Lamarca, no Brasil, atuavam coordenados sob a batuta da Inteligência cubana.
Para concluir, deve ser recordado que, posteriormente, em 3 de julho de 1998, o comandante Fidel Castro, em discurso pronunciado quando do encerramento de um seminário, em Havana, sobre o tema “Globalização”, convocado pela “Associação de Economistas da América Latina”, reconheceu seu papel de promotor da guerrilha em toda a América Latina nos anos 60. Guerrilha que fez uma montanha de mortos.
Todos os argumentos e relatos acima serviriam para que o pedido de prisão de Garzón-Garcéz contra o então senador Pinochet fosse arquivado pela Câmara dos Lordes inglesa. Todavia, isso não seria politicamente correto, pois Pinochet não é de esquerda. O processo contra ele foi, evidentemente, um acerto de contas, uma vingança política contra quem destruiu um mito marxista: a derrubada do poder de um governo comunista.
É isso que a esquerda de todos os matizes não admite, não aceita e não perdoa.
(*) Carlos Ilich Santos Azambuja é historiador.
OPERAÇÃO CONDOR
Carlos Ilich Santos Azambuja (*)
Impressionante é o noticiário da imprensa nacional, a propósito de prisão do general Augusto Pinochet, em Londres. Uma série de reportagens foram publicadas, algumas em páginas inteiras, sobre a denominada “Operação Condor”(década de 70), buscando vincular Órgãos de Inteligência brasileiros, especialmente o extinto Serviço Nacional de Informações com a referida operação, por ter “cooperado para formar e preparar quadros para os órgãos de repressão das ditaduras chilena, argentina, boliviana, uruguaia e paraguaia” (“O Globo” de 5 de janeiro de 1999).
Após indiciar o general Pinochet por genocídio, o juiz espanhol Baltasar Garzón (ex-deputado socialista) passou a buscar documentos objetivando demonstrar que, depois da deposição de Salvador Allende, no Chile, em 11 de setembro de 1973, os governos de cinco países - Argentina, BRASIL, Bolívia, Paraguai e Uruguai - uniram-se, sob o comando da DINA, o Serviço de Inteligência chileno, numa espécie de “Mercosul do terror”. A parceria teria sido formalizada em 1975, sendo denominada “Operação Condor”.
Nesse mister, o juiz Garzón conta com a colaboração do advogado espanhol Joan E. Garcés, assessor de Allende, no Chile, nos anos 1971-1973, que abandonou o Palácio La Moneda minutos antes de este cometer suicídio. Joan Garcés, posteriormente, em 1976, foi o fundador, na Espanha, da Federação dos Partidos Socialistas e, em 1979, da esquerda socialista do Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE), de Felipe Gonzalez.
Em 1976, Joan Garcés escreveu o livro “Allende e as Armas da Política”, editado no Brasil em 1993 pela “Editora Scritta”, traduzido pelo escritor e jornalista brasileiro Emir Sader, que viveu no Chile como auto-exilado durante o governo Allende, onde integrou os quadros do Movimiento de Izquierda Revolucionária (MIR).
Vamos aos fatos. Àquilo que os jornalistas de “O Globo” não disseram ou não quiseram dizer..
Deve ficar claro que quando existe uma ameaça terrorista de caráter internacional, os órgãos de segurança dos países ameaçados se coordenam. Sempre foi e continua sendo assim. Nesse sentido, a “France-Press” divulgou, em 21 de novembro de 1998, o seguinte telegrama: “O presidente francês, Jacques Chirac, e o Primeiro-Ministro Lionel Jospin, confirmaram ao chefe do governo espanhol, José Maria Aznar, a adesão da França à luta antiterrorista na Espanha, ao ser concluída, ontem, a reunião de cúpula França-Espanha, em La Rochelle”. Ou seja, esses dois países coordenam seus Órgãos de Inteligência para combater a ETA-BASCA.
Esse acordo não ficou no papel. Dia 10 de março de 1999, “O Globo” transcreveu um telegrama vindo de Paris, segundo o qual “as forças de segurança da França e da Espanha” haviam detido no dia anterior, em território francês, seis espanhóis, membros do grupo ETA, “incluindo o chefe militar José Javier Arizcuren Ruiz, conhecido como ‘Kantari’, procurado desde a década de 80 e acusado de haver tentado matar o rei Juan Carlos I, em Palma de Mallorca, em 1995 (...) A prisão foi resultado de uma operação conjunta entre a França e a Espanha”.
Voltando à América Latina, deve ser recordado que o desafio terrorista contra os governos do continente, há 25 anos, nada mais era do que uma derivação da Guerra-Fria.
Em 1974 - menos de um ano após a deposição de Allende - foi fundada em Paris uma Junta de Coordenação Revolucionária (JCR), integrada pelo Exército de Libertação Nacional (ELN), da Bolívia, o Exército Revolucionário do Povo (ERP), da Argentina, o Movimento de Libertação Nacional-Tupamaros MLN-T), do Uruguai, e o Movimento de Izquierda Revolucionário (MIR), do Chile.
O Secretário-Geral da JCR era o cubano Fernando Luis Alvarez, membro da Direção Geral de Inteligência (DGI) cubana, e casado com Ana Maria Guevara, irmã de Che Guevara, o que conferia à JCR o caráter de instrumento do Estado cubano.
Pouco tempo depois, em outubro de 1974, a Comissão Política do MIR, através de seu jornal “El Rebelde en la Clandestinidad”, dava conta desse fato nos seguintes termos: “No campo internacional, nosso partido redobrará a coordenação e o trabalho conjunto com o ERP, O MLN-T e o ELN da Bolívia, e junto com eles lutará para fortalecer e acelerar o processo de coordenação da Esquerda Revolucionária Latino-Americana e Mundial (...)
Chamamos a todas as organizações e movimentos irmãos a redobrar a luta em seus próprios países, a fortalecer e ampliar a Junta Coordenadora do Cone Sul (...)”.
O dirigente do PC Chileno, já falecido, que também foi Ministro do governo Allende, Orlando Millas, escreveu em suas “Memórias, 1957-1991”, “Ediciones Chile - América”, Santiago, 1995, páginas 186 e 187, o seguinte: “Reunimo-nos em Moscou, em 1974, os membros da Comissão Política do partido que estávamos no exílio, ou seja, os titulares Volodia Teitelboim, Gladys Marin (atual Secretária-Geral do Partido Comunista Chileno) e eu, e o suplente Manuel Cantero. Nessa oportunidade soube do acordo que haviam chegado, em Havana, dirigentes dos respectivos partidos (chileno e cubano), para que contingentes de militantes comunistas chilenos fossem aceitos como alunos, na qualidade de cadetes, na Escola Militar de Cuba.
Foi recrutado para essa tarefa o melhor do melhor da nova geração no exílio. Senti que os conduzíamos a queimar-se no Chile em batalhas impossíveis. Quem menos direito tem de criticá-los somos nós, que assumimos a responsabilidade, estremecedora, de sugerir-lhes, sendo adolescentes, que o caminho para ser dignos de seu povo deveria ser percorrido empunhando armas”.
Infelizmente, isso não aconteceu somente no Chile. No Brasil, também na década de 70, mais da metade dos que foram mandados para a morte pela direção do Partido Comunista do Brasil, nas selvas do Araguaia, eram jovens estudantes ou recém-formados.
Anteriormente a tudo isso, no Congresso do Partido Socialista Chileno, ao qual pertencia Salvador Allende, realizado na cidade de Chillán, em 1967, foi aprovada uma Resolução Política que dizia: “(...) A violência revolucionária é inevitável e legítima (...) Só destruindo o aparato burocrático e militar do Estado-burguês, pode consolidar-se a revolução socialista”. Essa linha política foi confirmada no Congresso realizado em 1971 - ano em que Allende assumiu o governo - realizado na cidade de La Serena.
A decisão do PS chileno de optar pela “violência revolucionária” estava de acordo com os protocolos adotados no ano anterior, 1966, em Havana, na “Conferência Tricontinental”, quando foi aprovada pela unanimidade das 27 delegações presentes a sugestão de criar a “Organização Latino-Americana de Solidariedade (OLAS)” - ondas, em espanhol -, uma cópia do Komintern dos anos 30, um pacto político-militar para revolucionar a América Latina. O autor dessa proposta foi o delegado que representava o Partido Socialista Chileno: Salvador Allende.
Quem melhor resumiu a consistência da ameaça armada ilegal constituída durante os quase três anos em que Allende esteve no governo foi o ex-senador e ex-presidente do Partido Socialista durante o referido governo, Carlos Altamirano. No livro da jornalista Patrícia Politzer, editado no Chile em 1995, pode ser lido o seguinte diálogo: Entrevistadora: “Quantos homens formavam esse modestíssimo aparato armado do Partido Socialista?” Altamirano: “Mas ou menos mil a mil e quinhentos homens, com armas leves”. Entrevistadora: “Mil homens não é pouco”. Altamirano: “Não era pouco se houvesse uma coordenação com o aparato militar do MIR, que supostamente era bastante mais importante que o nosso; com o do Partido Comunista, que também era maior, e com os que tinham o MAPU e a Esquerda Cristã. Porém, essa coordenação não aconteceu...”.
É evidente que o número de 1.000 a 1.500 homens, do PS, 3.000 a 5.000 do MIR (“bastante mais importante”), 2000 do Partido Comunista (“também era maior”), do MAPU e Esquerda Cristã, aproximadamente 1.000, redundava em um total aproximado de 10.000 homens armados que, somado aos “companheiros de Tropas” (referidos por Patrício La Guardia, como se verá adiante) e a um número indeterminado de outros estrangeiros, era, sem dúvida, um contingente respeitável.
Nos anos 80, a ação armada subversiva, no Chile, ganhou impulso com os sucessivos desembarques de armas realizados desde navios cubanos, em janeiro, junho e julho de 1986: 3.200 fuzis, 114 lança-foguetes soviéticos RPG-7, 167 foguetes anti-blindagem LAW (alguns utilizados no atentado contra Pinochet nesse mesmo ano de 1986, que causou a morte de 5 militares de sua escolta), granadas, munições e outras armas (livro “Chile, Crônica de um Assédio”, Santiago, 1992, tomo I, página 98). Ou seja, o maior contrabando de armas jamais registrado na América Latina.
A prova da intervenção cubana e de que um contingente dessa nacionalidade encontrava-se no Chile durante o governo Allende, inclusive integrando a segurança pessoal do presidente, pode ser encontrada em uma publicação cubana sobre o julgamento, muitos anos mais tarde, já no final da década de 80, de diversos altos oficiais do Exército cubano, acusados de narcotráfico. Um desses oficiais, Patrício La Guardia, amigo pessoal de Fidel Castro, condenado à morte e fuzilado, viu-se submetido ao seguinte interrogatório: Pergunta: “E missões internacionalistas, além dessa de Angola, que cumpriu anteriormente? Resposta de Patrício La Guardia: “Estive no Chile. Fui condecorado com a Medalha Internacionalista de Primeiro Grau porque estava no Chile à frente dos companheiros de Tropas, quando do golpe de Estado, e cumpri outras operações especiais” (“Vindicación de Cuba 1989”, “Editorial Política”, Havana, Cuba, página 291).
O ex-presidente chileno Eduardo Frei, pai do atual presidente Eduardo Frei, em declarações ao jornal “ABC”, de Madri, Espanha, disse o seguinte: “”O marxismo, com o conhecimento e aprovação de Salvador Allende, e talvez por instigação dele próprio, havia introduzido no Chile inumeráveis arsenais, que eram guardados em residências, escritórios, fábricas e armazéns. O mundo não sabe que o marxismo chileno dispunha de um armamento superior em número e qualidade que o do Exército (...) Os militares salvaram o Chile e a todos nós, cujas vidas não são, certamente, tão importantes como o Chile”.
Pergunta-se o que poderiam fazer os governos ameaçados frente a uma internacional terrorista. A OLAS, nos anos 60, e a JCR, nos anos 70? Obviamente, o mesmo que fazem hoje França e Espanha: coordenar suas ações antiterroristas. Assim, teria nascido a “Operação Condor”..
Se no decorrer das operações repressivas foram cometidos delitos, sucedeu algo parecido com o grupo espanhol denominado GAL (Grupos Antiterroristas de Libertação), constituído por elementos pertencentes aos Órgãos de Inteligência espanhóis. A responsabilidade pelos delitos deveriam recair sobre as pessoas que os cometeram, como, de fato, recaíram. Em 19 de julho de 1998 o Supremo Tribunal da Espanha condenou vários auxiliares de Felipe Gonzalez (que governou a Espanha por 14 anos, de 1982 a 1996), inclusive seu Ministro da Justiça, por crimes praticados durante a luta contra a ETA-BASCA.
Em nenhum momento, porém, os diligentes juizes espanhóis pensaram em responsabilizar Felipe Gonzalez por esses crimes.
Assim como ao juiz espanhol Baltasar Garzón não ocorreu submeter a processo Felipe Gonzalez, assim, tampouco, existe fundamento para acusar o atual senador Pinochet, por alguma atuação indevida de seus subordinados durante o desenrolar da “Operação Condor”, quando presidente do Chile.
Hoje, no entanto, o juiz Baltasar Garzón, assessorado por Joan Garcéz, busca satanizar a “Operação Condor”. É indiscutível, porém, que face a m desafio terrorista coordenado, que não era um pic-nic, os Órgãos de Inteligência dos países ameaçados fizeram o mínimo que deveria fazer: coordenar-se. E deverão fazê-lo sempre.
Uma outra acusação feita a Pinochet é a de “genocídio”, por haver supostamente perseguido um grupo político: o de comunistas nativos e de outros países exilados no Chile. Tal delito, no entanto, é tipificado pelo “Convênio sobre Genocídio”, como “a perseguição a um grupo nacional, étnico, racial ou religioso”, e não de grupos políticos. E mais: o Convênio Internacional sobre crimes de genocídio, patrocinado pela ONU, estabelece expressamente que o Tribunal competente para julgar esse tipo de crime é o do lugar onde foi cometido o delito.
Sobre o assassinato, nos EUA, do ex-chanceler de Allende, Orlando Letelier, do qual Pinochet é também responsabilizado pelo juiz Garzón, recorde-se uma entrevista de seu filho, deputado Juan Pablo Letelier, a uma jornalista, em Santiago, em 1995: Pergunta: “O senhor tem se dedicado nos últimos tempos a exculpar de toda a responsabilidade o Exército do Chile e seu Comandante em Chefe pela morte de seu pai. Por que?” Resposta: “Não me dediquei a exculpar. O que já disse, por mais de uma vez, porque me ensinaram a falar a verdade, é que não há nenhuma evidência que flua do processo, de milhares de folhas, que permita sustentar que tenha havido participação do Exército ou de seu Comandante em Chefe no assassinato de meu pai” (jornal “El Mercurio” de 4 de junho de 1995, página D-2).
A comunidade jurídica internacional sempre considerou profundamente injusto julgar uma época aplicando os padrões morais de outra. Por isso, entre outras razões, existe universalmente a prescrição, através da qual o transcurso do tempo extingue as responsabilidades. Existe, pois, um ingrediente de tremenda injustiça em querer julgar, 25 anos depois, acontecimentos que hoje parecem desprovidos de toda a carga de incerteza, temor e ódio que existiam no Chile e em toda a América Latina nos anos 70. Sempre, “antes” as coisas são diferentes do que parecem “depois”, quando o perigo já passou. Um velho ditado diz que “depois da batalha, todos são generais”.
O terrorismo e os terroristas, por sua vez, não têm que responder ante ninguém. Se triunfa, converte-se em um regime totalitário, e este, por definição, não tem que responder por seus atos. Se é derrotado, converte suas baixas em “vítimas”, e descreve a guerra suja que perdeu como um “extermínio” - ou, como deseja o juiz Garzón, um “genocídio”-.
Em 1990, mesmo depois do Governo Militar, as vítimas do “genocídio” e do “extermínio” continuaram a atuar, e assassinaram, em plena democracia, o coronel FONTAINE, do Corpo de Carabineiros, o Major do Exército Carlos Perez e sua mulher, e feriram gravemente os generais Leigh e Ruiz, da Força Aérea, em atentados.
No Chile, durante os primeiros anos do Governo Militar, o juiz Rafael Retamal, que havia sido presidente da Corte Suprema, ante um requerimento de que a Justiça fosse mais severa com os “excessos repressivos”, replicou: “Os extremistas iam nos matar a todos. Ante essa realidade, deixemos que os militares façam a parte suja. Depois chegará a hora dos direitos”.
Hoje, não só no Chile, alguns extremistas, que insistem em fazer um boca-a-boca na falida doutrina científica, e correligionários seus, defensores dos direitos humanos, acusam de “assassinos” os militares. Porém, o então Ministro da Corte Suprema, e depois presidente desse Tribunal, temia ser assassinado pelos extremistas. Quem eram, então, os assassinos?
Nos anos 60 e 70 o mundo vivia sob a chamada “Guerra-Fria”. A possibilidade de um conflito bélico global sempre esteve presente. Na América Latina, a exportação da guerrilha e do terrorismo, de Cuba para o restante do continente, era uma constante. Em 1967, Che Guevara havia sido morto na Bolívia à frente de um grupo de guerrilheiros cubanos. Um grande desembarque de armas extremistas havia sido descoberto e frustrado na Venezuela. Fidel Castro e Guevara falavam abertamente que os Andes se converteriam na “Sierra Maestra do continente” e que seriam criados “vários Vietnãs”. Então, os Tupamaros, no Uruguai, os Montoneros, na Argentina, os militantes do MIR chileno, e Marighela e Lamarca, no Brasil, atuavam coordenados sob a batuta da Inteligência cubana.
Para concluir, deve ser recordado que, recentemente, em 3 de julho de 1998, o comandante Fidel Castro, em discurso pronunciado quando do encerramento de um seminário, em Havana, sobre o tema “Globalização”, convocado pela “Associação de Economistas da América Latina”, reconheceu seu papel de promotor da guerrilha em toda a América Latina nos anos 60. Guerrilha que fez uma montanha de mortos.
Todos os argumentos e relatos acima serviriam para que o pedido de prisão de Garzón-Garcéz contra o atual senador Pinochet fosse arquivado pela Câmara dos Lordes inglesa. Todavia, isso não seria politicamente correto, pois Pinochet não é de esquerda. O processo contra ele parece ser um acerto de contas, uma vingança política contra quem destruiu um mito marxista: a derrubada do poder de um governo comunista.
É isso que a esquerda de todos os matizes não admite, não aceita e não perdoa.
(*) Carlos I. S. Azambuja é historiador.
Carlos Ilich Santos Azambuja (*)
Impressionante é o noticiário da imprensa nacional, a propósito de prisão do general Augusto Pinochet, em Londres. Uma série de reportagens foram publicadas, algumas em páginas inteiras, sobre a denominada “Operação Condor”(década de 70), buscando vincular Órgãos de Inteligência brasileiros, especialmente o extinto Serviço Nacional de Informações com a referida operação, por ter “cooperado para formar e preparar quadros para os órgãos de repressão das ditaduras chilena, argentina, boliviana, uruguaia e paraguaia” (“O Globo” de 5 de janeiro de 1999).
Após indiciar o general Pinochet por genocídio, o juiz espanhol Baltasar Garzón (ex-deputado socialista) passou a buscar documentos objetivando demonstrar que, depois da deposição de Salvador Allende, no Chile, em 11 de setembro de 1973, os governos de cinco países - Argentina, BRASIL, Bolívia, Paraguai e Uruguai - uniram-se, sob o comando da DINA, o Serviço de Inteligência chileno, numa espécie de “Mercosul do terror”. A parceria teria sido formalizada em 1975, sendo denominada “Operação Condor”.
Nesse mister, o juiz Garzón conta com a colaboração do advogado espanhol Joan E. Garcés, assessor de Allende, no Chile, nos anos 1971-1973, que abandonou o Palácio La Moneda minutos antes de este cometer suicídio. Joan Garcés, posteriormente, em 1976, foi o fundador, na Espanha, da Federação dos Partidos Socialistas e, em 1979, da esquerda socialista do Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE), de Felipe Gonzalez.
Em 1976, Joan Garcés escreveu o livro “Allende e as Armas da Política”, editado no Brasil em 1993 pela “Editora Scritta”, traduzido pelo escritor e jornalista brasileiro Emir Sader, que viveu no Chile como auto-exilado durante o governo Allende, onde integrou os quadros do Movimiento de Izquierda Revolucionária (MIR).
Vamos aos fatos. Àquilo que os jornalistas de “O Globo” não disseram ou não quiseram dizer..
Deve ficar claro que quando existe uma ameaça terrorista de caráter internacional, os órgãos de segurança dos países ameaçados se coordenam. Sempre foi e continua sendo assim. Nesse sentido, a “France-Press” divulgou, em 21 de novembro de 1998, o seguinte telegrama: “O presidente francês, Jacques Chirac, e o Primeiro-Ministro Lionel Jospin, confirmaram ao chefe do governo espanhol, José Maria Aznar, a adesão da França à luta antiterrorista na Espanha, ao ser concluída, ontem, a reunião de cúpula França-Espanha, em La Rochelle”. Ou seja, esses dois países coordenam seus Órgãos de Inteligência para combater a ETA-BASCA.
Esse acordo não ficou no papel. Dia 10 de março de 1999, “O Globo” transcreveu um telegrama vindo de Paris, segundo o qual “as forças de segurança da França e da Espanha” haviam detido no dia anterior, em território francês, seis espanhóis, membros do grupo ETA, “incluindo o chefe militar José Javier Arizcuren Ruiz, conhecido como ‘Kantari’, procurado desde a década de 80 e acusado de haver tentado matar o rei Juan Carlos I, em Palma de Mallorca, em 1995 (...) A prisão foi resultado de uma operação conjunta entre a França e a Espanha”.
Voltando à América Latina, deve ser recordado que o desafio terrorista contra os governos do continente, há 25 anos, nada mais era do que uma derivação da Guerra-Fria.
Em 1974 - menos de um ano após a deposição de Allende - foi fundada em Paris uma Junta de Coordenação Revolucionária (JCR), integrada pelo Exército de Libertação Nacional (ELN), da Bolívia, o Exército Revolucionário do Povo (ERP), da Argentina, o Movimento de Libertação Nacional-Tupamaros MLN-T), do Uruguai, e o Movimento de Izquierda Revolucionário (MIR), do Chile.
O Secretário-Geral da JCR era o cubano Fernando Luis Alvarez, membro da Direção Geral de Inteligência (DGI) cubana, e casado com Ana Maria Guevara, irmã de Che Guevara, o que conferia à JCR o caráter de instrumento do Estado cubano.
Pouco tempo depois, em outubro de 1974, a Comissão Política do MIR, através de seu jornal “El Rebelde en la Clandestinidad”, dava conta desse fato nos seguintes termos: “No campo internacional, nosso partido redobrará a coordenação e o trabalho conjunto com o ERP, O MLN-T e o ELN da Bolívia, e junto com eles lutará para fortalecer e acelerar o processo de coordenação da Esquerda Revolucionária Latino-Americana e Mundial (...)
Chamamos a todas as organizações e movimentos irmãos a redobrar a luta em seus próprios países, a fortalecer e ampliar a Junta Coordenadora do Cone Sul (...)”.
O dirigente do PC Chileno, já falecido, que também foi Ministro do governo Allende, Orlando Millas, escreveu em suas “Memórias, 1957-1991”, “Ediciones Chile - América”, Santiago, 1995, páginas 186 e 187, o seguinte: “Reunimo-nos em Moscou, em 1974, os membros da Comissão Política do partido que estávamos no exílio, ou seja, os titulares Volodia Teitelboim, Gladys Marin (atual Secretária-Geral do Partido Comunista Chileno) e eu, e o suplente Manuel Cantero. Nessa oportunidade soube do acordo que haviam chegado, em Havana, dirigentes dos respectivos partidos (chileno e cubano), para que contingentes de militantes comunistas chilenos fossem aceitos como alunos, na qualidade de cadetes, na Escola Militar de Cuba.
Foi recrutado para essa tarefa o melhor do melhor da nova geração no exílio. Senti que os conduzíamos a queimar-se no Chile em batalhas impossíveis. Quem menos direito tem de criticá-los somos nós, que assumimos a responsabilidade, estremecedora, de sugerir-lhes, sendo adolescentes, que o caminho para ser dignos de seu povo deveria ser percorrido empunhando armas”.
Infelizmente, isso não aconteceu somente no Chile. No Brasil, também na década de 70, mais da metade dos que foram mandados para a morte pela direção do Partido Comunista do Brasil, nas selvas do Araguaia, eram jovens estudantes ou recém-formados.
Anteriormente a tudo isso, no Congresso do Partido Socialista Chileno, ao qual pertencia Salvador Allende, realizado na cidade de Chillán, em 1967, foi aprovada uma Resolução Política que dizia: “(...) A violência revolucionária é inevitável e legítima (...) Só destruindo o aparato burocrático e militar do Estado-burguês, pode consolidar-se a revolução socialista”. Essa linha política foi confirmada no Congresso realizado em 1971 - ano em que Allende assumiu o governo - realizado na cidade de La Serena.
A decisão do PS chileno de optar pela “violência revolucionária” estava de acordo com os protocolos adotados no ano anterior, 1966, em Havana, na “Conferência Tricontinental”, quando foi aprovada pela unanimidade das 27 delegações presentes a sugestão de criar a “Organização Latino-Americana de Solidariedade (OLAS)” - ondas, em espanhol -, uma cópia do Komintern dos anos 30, um pacto político-militar para revolucionar a América Latina. O autor dessa proposta foi o delegado que representava o Partido Socialista Chileno: Salvador Allende.
Quem melhor resumiu a consistência da ameaça armada ilegal constituída durante os quase três anos em que Allende esteve no governo foi o ex-senador e ex-presidente do Partido Socialista durante o referido governo, Carlos Altamirano. No livro da jornalista Patrícia Politzer, editado no Chile em 1995, pode ser lido o seguinte diálogo: Entrevistadora: “Quantos homens formavam esse modestíssimo aparato armado do Partido Socialista?” Altamirano: “Mas ou menos mil a mil e quinhentos homens, com armas leves”. Entrevistadora: “Mil homens não é pouco”. Altamirano: “Não era pouco se houvesse uma coordenação com o aparato militar do MIR, que supostamente era bastante mais importante que o nosso; com o do Partido Comunista, que também era maior, e com os que tinham o MAPU e a Esquerda Cristã. Porém, essa coordenação não aconteceu...”.
É evidente que o número de 1.000 a 1.500 homens, do PS, 3.000 a 5.000 do MIR (“bastante mais importante”), 2000 do Partido Comunista (“também era maior”), do MAPU e Esquerda Cristã, aproximadamente 1.000, redundava em um total aproximado de 10.000 homens armados que, somado aos “companheiros de Tropas” (referidos por Patrício La Guardia, como se verá adiante) e a um número indeterminado de outros estrangeiros, era, sem dúvida, um contingente respeitável.
Nos anos 80, a ação armada subversiva, no Chile, ganhou impulso com os sucessivos desembarques de armas realizados desde navios cubanos, em janeiro, junho e julho de 1986: 3.200 fuzis, 114 lança-foguetes soviéticos RPG-7, 167 foguetes anti-blindagem LAW (alguns utilizados no atentado contra Pinochet nesse mesmo ano de 1986, que causou a morte de 5 militares de sua escolta), granadas, munições e outras armas (livro “Chile, Crônica de um Assédio”, Santiago, 1992, tomo I, página 98). Ou seja, o maior contrabando de armas jamais registrado na América Latina.
A prova da intervenção cubana e de que um contingente dessa nacionalidade encontrava-se no Chile durante o governo Allende, inclusive integrando a segurança pessoal do presidente, pode ser encontrada em uma publicação cubana sobre o julgamento, muitos anos mais tarde, já no final da década de 80, de diversos altos oficiais do Exército cubano, acusados de narcotráfico. Um desses oficiais, Patrício La Guardia, amigo pessoal de Fidel Castro, condenado à morte e fuzilado, viu-se submetido ao seguinte interrogatório: Pergunta: “E missões internacionalistas, além dessa de Angola, que cumpriu anteriormente? Resposta de Patrício La Guardia: “Estive no Chile. Fui condecorado com a Medalha Internacionalista de Primeiro Grau porque estava no Chile à frente dos companheiros de Tropas, quando do golpe de Estado, e cumpri outras operações especiais” (“Vindicación de Cuba 1989”, “Editorial Política”, Havana, Cuba, página 291).
O ex-presidente chileno Eduardo Frei, pai do atual presidente Eduardo Frei, em declarações ao jornal “ABC”, de Madri, Espanha, disse o seguinte: “”O marxismo, com o conhecimento e aprovação de Salvador Allende, e talvez por instigação dele próprio, havia introduzido no Chile inumeráveis arsenais, que eram guardados em residências, escritórios, fábricas e armazéns. O mundo não sabe que o marxismo chileno dispunha de um armamento superior em número e qualidade que o do Exército (...) Os militares salvaram o Chile e a todos nós, cujas vidas não são, certamente, tão importantes como o Chile”.
Pergunta-se o que poderiam fazer os governos ameaçados frente a uma internacional terrorista. A OLAS, nos anos 60, e a JCR, nos anos 70? Obviamente, o mesmo que fazem hoje França e Espanha: coordenar suas ações antiterroristas. Assim, teria nascido a “Operação Condor”..
Se no decorrer das operações repressivas foram cometidos delitos, sucedeu algo parecido com o grupo espanhol denominado GAL (Grupos Antiterroristas de Libertação), constituído por elementos pertencentes aos Órgãos de Inteligência espanhóis. A responsabilidade pelos delitos deveriam recair sobre as pessoas que os cometeram, como, de fato, recaíram. Em 19 de julho de 1998 o Supremo Tribunal da Espanha condenou vários auxiliares de Felipe Gonzalez (que governou a Espanha por 14 anos, de 1982 a 1996), inclusive seu Ministro da Justiça, por crimes praticados durante a luta contra a ETA-BASCA.
Em nenhum momento, porém, os diligentes juizes espanhóis pensaram em responsabilizar Felipe Gonzalez por esses crimes.
Assim como ao juiz espanhol Baltasar Garzón não ocorreu submeter a processo Felipe Gonzalez, assim, tampouco, existe fundamento para acusar o atual senador Pinochet, por alguma atuação indevida de seus subordinados durante o desenrolar da “Operação Condor”, quando presidente do Chile.
Hoje, no entanto, o juiz Baltasar Garzón, assessorado por Joan Garcéz, busca satanizar a “Operação Condor”. É indiscutível, porém, que face a m desafio terrorista coordenado, que não era um pic-nic, os Órgãos de Inteligência dos países ameaçados fizeram o mínimo que deveria fazer: coordenar-se. E deverão fazê-lo sempre.
Uma outra acusação feita a Pinochet é a de “genocídio”, por haver supostamente perseguido um grupo político: o de comunistas nativos e de outros países exilados no Chile. Tal delito, no entanto, é tipificado pelo “Convênio sobre Genocídio”, como “a perseguição a um grupo nacional, étnico, racial ou religioso”, e não de grupos políticos. E mais: o Convênio Internacional sobre crimes de genocídio, patrocinado pela ONU, estabelece expressamente que o Tribunal competente para julgar esse tipo de crime é o do lugar onde foi cometido o delito.
Sobre o assassinato, nos EUA, do ex-chanceler de Allende, Orlando Letelier, do qual Pinochet é também responsabilizado pelo juiz Garzón, recorde-se uma entrevista de seu filho, deputado Juan Pablo Letelier, a uma jornalista, em Santiago, em 1995: Pergunta: “O senhor tem se dedicado nos últimos tempos a exculpar de toda a responsabilidade o Exército do Chile e seu Comandante em Chefe pela morte de seu pai. Por que?” Resposta: “Não me dediquei a exculpar. O que já disse, por mais de uma vez, porque me ensinaram a falar a verdade, é que não há nenhuma evidência que flua do processo, de milhares de folhas, que permita sustentar que tenha havido participação do Exército ou de seu Comandante em Chefe no assassinato de meu pai” (jornal “El Mercurio” de 4 de junho de 1995, página D-2).
A comunidade jurídica internacional sempre considerou profundamente injusto julgar uma época aplicando os padrões morais de outra. Por isso, entre outras razões, existe universalmente a prescrição, através da qual o transcurso do tempo extingue as responsabilidades. Existe, pois, um ingrediente de tremenda injustiça em querer julgar, 25 anos depois, acontecimentos que hoje parecem desprovidos de toda a carga de incerteza, temor e ódio que existiam no Chile e em toda a América Latina nos anos 70. Sempre, “antes” as coisas são diferentes do que parecem “depois”, quando o perigo já passou. Um velho ditado diz que “depois da batalha, todos são generais”.
O terrorismo e os terroristas, por sua vez, não têm que responder ante ninguém. Se triunfa, converte-se em um regime totalitário, e este, por definição, não tem que responder por seus atos. Se é derrotado, converte suas baixas em “vítimas”, e descreve a guerra suja que perdeu como um “extermínio” - ou, como deseja o juiz Garzón, um “genocídio”-.
Em 1990, mesmo depois do Governo Militar, as vítimas do “genocídio” e do “extermínio” continuaram a atuar, e assassinaram, em plena democracia, o coronel FONTAINE, do Corpo de Carabineiros, o Major do Exército Carlos Perez e sua mulher, e feriram gravemente os generais Leigh e Ruiz, da Força Aérea, em atentados.
No Chile, durante os primeiros anos do Governo Militar, o juiz Rafael Retamal, que havia sido presidente da Corte Suprema, ante um requerimento de que a Justiça fosse mais severa com os “excessos repressivos”, replicou: “Os extremistas iam nos matar a todos. Ante essa realidade, deixemos que os militares façam a parte suja. Depois chegará a hora dos direitos”.
Hoje, não só no Chile, alguns extremistas, que insistem em fazer um boca-a-boca na falida doutrina científica, e correligionários seus, defensores dos direitos humanos, acusam de “assassinos” os militares. Porém, o então Ministro da Corte Suprema, e depois presidente desse Tribunal, temia ser assassinado pelos extremistas. Quem eram, então, os assassinos?
Nos anos 60 e 70 o mundo vivia sob a chamada “Guerra-Fria”. A possibilidade de um conflito bélico global sempre esteve presente. Na América Latina, a exportação da guerrilha e do terrorismo, de Cuba para o restante do continente, era uma constante. Em 1967, Che Guevara havia sido morto na Bolívia à frente de um grupo de guerrilheiros cubanos. Um grande desembarque de armas extremistas havia sido descoberto e frustrado na Venezuela. Fidel Castro e Guevara falavam abertamente que os Andes se converteriam na “Sierra Maestra do continente” e que seriam criados “vários Vietnãs”. Então, os Tupamaros, no Uruguai, os Montoneros, na Argentina, os militantes do MIR chileno, e Marighela e Lamarca, no Brasil, atuavam coordenados sob a batuta da Inteligência cubana.
Para concluir, deve ser recordado que, recentemente, em 3 de julho de 1998, o comandante Fidel Castro, em discurso pronunciado quando do encerramento de um seminário, em Havana, sobre o tema “Globalização”, convocado pela “Associação de Economistas da América Latina”, reconheceu seu papel de promotor da guerrilha em toda a América Latina nos anos 60. Guerrilha que fez uma montanha de mortos.
Todos os argumentos e relatos acima serviriam para que o pedido de prisão de Garzón-Garcéz contra o atual senador Pinochet fosse arquivado pela Câmara dos Lordes inglesa. Todavia, isso não seria politicamente correto, pois Pinochet não é de esquerda. O processo contra ele parece ser um acerto de contas, uma vingança política contra quem destruiu um mito marxista: a derrubada do poder de um governo comunista.
É isso que a esquerda de todos os matizes não admite, não aceita e não perdoa.
(*) Carlos I. S. Azambuja é historiador.
Ainda a Operação Condor – Um Pouco de História
Artigo no Alerta Total – www.alertatotal.net
Por Carlos I. S Azambuja
Manuel Piñero Losada (nascido em 1933, casado com a chilena Marta Harnecker, com a qual teve um casal de filhos, Manuel, advogado, e Camila) foi, por mais de 30 anos, chefe da Direção Geral de Inteligência (DGI) do Ministério do Interior de Cuba, órgão encarregado, além de outras tarefas, dos vínculos com os movimentos revolucionários do Terceiro Mundo, a partir dos anos 60, apogeu da insurgência libertadora. Piñero faleceu em Cuba em 1997 em acidente de automóvel.
Marta Harnecker, escritora marxista chilena, ganhou projeção internacional nos anos 70, quando escreveu o livro “Conceitos Elementares do Materialismo Histórico”, que vendeu, somente em edições em espanhol, cerca de 1 milhão de exemplares e desempenhou um papel importante na formação política de uma geração de jovens universitários, tendo significado, para a Esquerda, o mesmo que a Bíblia significa para os seminaristas. Embora o marxismo-leninismo tenha implodido, esse manual continua a ser utilizado em muitas Universidades latino-americanas. Marta Harnecker, que passou a viver em Cuba desde fins de 1973, é a ideóloga doForo São Paulo.
O nº 11/1997, da revista “América Libre” (porta-voz do Foro São Paulo), publicou uma longa entrevista com Manuel Piñero Losada, nas páginas 9 a 12.
Disse ele ter chegado a Sierra Maestra em maio de 1957. Antes disso, havia sido dirigente do Movimento Revolucionário 26 de Julho (MR-26) em sua província, Matanzas. Em Sierra Maestra integrou a Coluna 1, comandada por Fidel Castro, e em março de 1958, passou à coluna de Raul Castro.
Em seguida, foi conferida a Piñero a função de direção de Pessoal e Inspeção Territorial, e a do Serviço de Inteligência e Polícia Rebelde.
Em 1961 participou da fundação do Ministério do Interior e nele permaneceu até 1975, como responsável máximo do Vice-Ministério Técnico e, logo depois, da Direción General Libertación Nacional.
A partir de 1975 chefiou o Departamento América, órgão de Inteligência do Comitê Central do PC Cubano (do qual foi membro efetivo desde sua fundação, em 3 de outubro de 1965).
Essa entrevista referiu-se especificamente a Che Guevara, recordando os 30 anos de sua morte na Bolívia.
Em resumo, Piñero disse que durante todo esse tempo em que dirigiu a Inteligência cubana, manteve contato com as seguintes lideranças da guerrilha na América Latina: os nicaragüenses Carlos Fonseca Amador, Tomás Borge, Rodolfo Romero e o ex-Oficial do Exército somozista Somaribia, que dirigiu uma tentativa de luta armada na Nicarágua, no qual morreram os cubanos Ornelio Hernandez e Marcelo Fernandez; os guatemaltecos Turcios Lima, John Sosa, Rolando Ramirez, Pablo Monsanto, Júlio Cáceres (“Patojo”), amigo íntimo de Che Guevara; os peruanos Luis de La Puente Uceda, Hector Bejar Revollo e Javier Heraud; os peronistas William Coocke e Alícia Eguren; os colombianos Fábio Vasquez (que viria a ser o comandante do Exército de Libertação Nacional da Colômbia), os irmãos La Rota (fundadores do Movimento Obrero Estudantil Colombiano) e o Secretário-Geral do PC desse país, Gilberto Vieira; o Secretário-Geral do PC Uruguaio, Rodney Arismendi; os principais dirigentes dos partidos socialista e comunista chilenos, principalmente Salvador Allende, então senador da República, e Jayme Barrios; os principais dirigentes do PC Venezuelano, Fabrício Ojeda; e vários dirigentes haitianos e dominicanos.
Em geral, todos os líderes da esquerda e dos partidos comunistas do continente, que passavam por Havana, se entrevistavam com Piñero. Che Guevara conheceu todos eles, pois participou da Conferência dos Partidos Comunistas da América Latina, realizada em Cuba em 1964.
À pergunta de como Che Guevara concebia o desenvolvimento e a disseminação da luta revolucionária na América Latina, Piñero respondeu que segundo foi demonstrado pela experiência cubana, o núcleo guerrilheiro original, bem dirigido, era o pequeno motor, que acionado política e militarmente colocava em movimento o grande motor das massas. Nisso se baseava a concepção continental e antiimperialista de Che Guevara sobre a luta armada revolucionária. É essencialmente política, militar, de massas e contradiz a interpretação reducionista do FOCO GUERRILHEIRO, que historicamente lhe foi atribuída. Segundo Che, a luta guerrilheira não poderia desenvolver-se naqueles países onde os governos haviam sido eleitos democraticamente e onde não se haviam esgotado as possibilidades de luta política.
Deve ser ressaltada uma idéia básica de Che: não necessariamente têm que existir todas as condições para começar a luta revolucionária, pois a própria luta, em desenvolvimento, as iria criando. Che Guevara, portanto, não é o responsável pelas simplificações da experiência cubana e de suas concepções, desenvolvidas, ainda que com as melhores intenções, por parte de alguns revolucionários do continente.
Perguntado sobre o motivo da preferência de Che pela guerrilha na Argentina, disse que ela está na origem da guerrilha comandada por seu compatriota Jorge Ricardo Masetti, em 1963, pois Che havia conhecido Masetti, como jornalista, em Sierra Maestra; que após janeiro de 1959, Masetti regressou a Cuba, cumpriu algumas missões de apoio à revolução na Argélia com a Frente de Libertação Nacional (FLN), adquirindo certa experiência de combate, cursou escolas militares em Cuba e então Che deu-lhe a tarefa de organizar uma coluna guerrilheira cuja missão principal era instalar-se em Salta, território argentino fronteiriço com a Bolívia. Che prestou uma dedicação especial à preparação desse Destacamento, nomeado Exército Guerrilheiro dos Pobres. Juntaram-se a Masetti o cubano Hermes Peña (morto em combate) e Alberto Castellanos, que caiu prisioneiro e permaneceu 4 anos nos cárceres argentinos sem que fosse identificada sua verdadeira nacionalidade.
Era necessário estabelecer previamente uma base de apoio logístico em território boliviano e, para isso, foram designados os cubanos Abelardo Colomé Ibarra (“Furry”), hoje General de Exército, e José Maria Martinez Tamayo (“Papi”), que morreu depois da guerrilha boliviana. Eles viajaram para a Bolívia a fim de receber Masetti e seu grupo, em coordenação com um grupo de companheiros que nós enviamos a La Paz. Também deve ser reconhecida a cooperação, em todos os momentos, da direção da Frente de Libertação Nacional (FLN) argelina.
Em abril de 1964 foi perdido o contato com Masetti e até hoje não foram encontrados indícios sobre como terminou aquele intento guerrilheiro, bem como as circunstâncias do seu desaparecimento.
Argentina, Peru, Bolívia ...faziam parte do projeto integrador de Che para levar adiante a sua estratégia de continentalizar a revolução. Paralelamente à operação de Salta, um grupo de combatentes peruanos dirigidos por Alain Elias, e entre os quais se encontravam seus companheiros Javier Heraud e Abraham Lamas, iniciaram, em janeiro de 1963, a luta armada, após penetrarem no Peru pela zona de Porto Maldonado, fronteiriça com a Bolívia. Ali morreu o jovem poeta peruano Javier Heraud e outros companheiros. Eles contaram com a ajuda de vários quadros do Partido Comunista Boliviano, especialmente os irmãos Peredo (Inti e Chato Peredo), que lhes proporcionaram apoio logístico e serviram como guias à sua Coluna para regressar, desde o Peru à Bolívia. Anos depois, no Peru, o ELN reiniciou a luta sob a direção de Hector Bejar Revollo e emergem também as guerrilhas de Luis de La Puente Uceda e Guillermo Lobatón, líderes do Movimiento de Izquierda Revolucionária (MIR). Com todos esses dirigentes peruanos CHE manteve reuniões prévias. Entretanto, tanto o intento guerrilheiro do ELN como o do MIR, foram destruídos. Morreram Luis de La Puente Uceda (em novembro de 1965) e Lobatón (em janeiro de 1966). Hector Bejar já havia sido detido em 1965 e destruída a Coluna que comandava.
O projeto boliviano de Che dentro de sua estratégia continental tinha como perspectiva uma guerrilha que deveria transformar-se em uma escola de formação de quadros latino-americanos, sobretudo do Cone Sul, o que propiciaria estender a luta armada a outros países fronteiriços. Isso dependeria do desenvolvimento e crescimento da Coluna-Mãe, assentada na Bolívia.
De uma forma realista, Che analisou que se a partir da Bolívia surgissem e evoluíssem outras colunas guerrilheiras formadas por combatentes de diversas nações do Cone Sul, isso provocaria como reação uma aliança entre os governos e os Exércitos dos países fronteiriços, o que contribuiria para a propagação da luta armada revolucionária na região, a qual se transformaria em um cenário de cruentas, longas e difíceis batalhas, que cedo ou tarde levariam a uma intervenção norte-americana. Isso resultaria, portanto, na “criação de um grande Vietnã na América Latina”, como se referiu em sua histórica “Mensagem aos Povos do Mundo”, na Conferência Tricontinental.
Qualquer um que conheça as leis da guerrilha sabe que a fase inicial é a mais difícil, pois a Coluna ver-se-á obrigada a deslocar-se constantemente para evitar as emboscadas do exército inimigo, mormente se está em desvantagem. Nessa fase da guerrilha, depende de suas próprias forças, e do respaldo que possa receber das redes urbanas de apoio, as quais, naquele momento, na Bolívia, já haviam sido desmanteladas. Por isso não era uma tarefa fácil enviar - como dizem -, desde Cuba, um reforço para a guerrilha de Che na Bolívia. É pura fantasia dizer-se que Che tenha sido abandonado na Bolívia.
Também é uma fantasia a comparação que foi feita entre a suposta falta de apoio a CHE e os exitosos esforços cubanos para tirar da Venezuela os Oficiais cubanos que ali se encontravam na guerrilha, pois na Venezuela o Partido Comunista, o MIR e outras forças revolucionárias - embora tivessem sofrido várias derrotas - conservavam estruturas clandestinas e recursos operativos que facilitaram a organização paciente e minuciosa da operação-resgate desses companheiros. Essas circunstâncias não ocorreram na Bolívia.
Quanto à ida de Che ao Congo, ela foi uma etapa, uma fase intermediária para preparar-se com vistas à sua meta definitiva, e aguardar que a evolução dos acontecimentos na América Latina criasse condições políticas favoráveis para desencadear seus planos estratégicos. Tanto é assim, que no momento de sua saída do Congo, Che perguntou a Harry Villegas, a Carlos Coello e a José Maria Martinez Tamayo, se estariam dispostos a continuar a luta junto a ele em outro país. Uma luta que seria longa, complexa e difícil. Os três, posteriormente, tomariam parte na guerrilha boliviana, com seus pseudônimos: “Pombo”, “Tuma” e “Ricardo”.
As delicadas operações para trasladar Che Guevara e seus companheiros para a África, depois para regressar a Cuba e, mais tarde, sair para a Bolívia, estiveram a cargo do organismo que eu dirigia. Toda a preparação técnica e operativa para a missão no Congo, a documentação, os itinerários de viagem e as coberturas. A partir da embaixada de Cuba na Tanzânia, foi constituído um grupo de apoio encarregado da busca de informações e de cooperação no traslado da logística, desde esse país, até à base de Che no Congo, bem como o treinamento dos responsáveis pelas comunicações e outras formas de enlace com Che. Trabalhamos na falsificação de passaportes, nas informações que ele pedia sobre determinadas situações do país de destino, no treinamento em diversas especialidades. Todos os detalhes técnicos foram elaborados por nossos Oficiais, porém, cada passo, tudo, era analisado e aprovado por Che: as vias escolhidas e quem passaria por elas, como passar dissimuladamente pelos aeroportos, as características desses aeroportos e das fronteiras, o grau de controle migratório, e quais os horários e os dias em que a vigilância era menor por parte das autoridades. Para isso, foi realizado um estudo prévio da situação operativa, fronteiriça e migratória, bem como dos métodos aplicados pela Contra-Inteligência dos países por onde transitariam Che Guevara e os demais combatentes (nota: é sabido que Che Guevara, no trajeto para dirigir-se à Bolívia, passou pelo Brasil).
Para o Congo, na África, foram movimentados mais de 140 cubanos e mais de 20 para a Bolívia. Nenhum deles chegou a ser detectado pelos órgãos de espionagem ianque, nem pelos aparatos de segurança dos países por onde transitaram.
O início da viagem de Che para a Bolívia foi em novembro de 1966.
A morte de Che chegou a Cuba através de uma radiofoto recebida em 10 de outubro de 1967, onde aparecia o seu cadáver.
Pouco tempo depois, Pombo, Urbano e Benigno conseguiram romper o cerco e Inti Peredo conseguiu contato com alguns militantes do PC Boliviano e do ELN, que os conduziram até à fronteira com o Chile. Recorde-se o papel histórico desempenhado por Salvador Allende, então presidente do Senado chileno, que deu todo o seu apoio e proteção aos três sobreviventes.
Observe-se que essas atividades, que justificariam uma ação conjunta dos Serviços de Inteligência dos países do Cone Sul, foram antes, muito antes, da chamada Operação Condor, efetivada após a deposição e morte de ALLENDE, em 11 de setembro de 1973.
Artigo no Alerta Total – www.alertatotal.net
Por Carlos I. S Azambuja
Manuel Piñero Losada (nascido em 1933, casado com a chilena Marta Harnecker, com a qual teve um casal de filhos, Manuel, advogado, e Camila) foi, por mais de 30 anos, chefe da Direção Geral de Inteligência (DGI) do Ministério do Interior de Cuba, órgão encarregado, além de outras tarefas, dos vínculos com os movimentos revolucionários do Terceiro Mundo, a partir dos anos 60, apogeu da insurgência libertadora. Piñero faleceu em Cuba em 1997 em acidente de automóvel.
Marta Harnecker, escritora marxista chilena, ganhou projeção internacional nos anos 70, quando escreveu o livro “Conceitos Elementares do Materialismo Histórico”, que vendeu, somente em edições em espanhol, cerca de 1 milhão de exemplares e desempenhou um papel importante na formação política de uma geração de jovens universitários, tendo significado, para a Esquerda, o mesmo que a Bíblia significa para os seminaristas. Embora o marxismo-leninismo tenha implodido, esse manual continua a ser utilizado em muitas Universidades latino-americanas. Marta Harnecker, que passou a viver em Cuba desde fins de 1973, é a ideóloga doForo São Paulo.
O nº 11/1997, da revista “América Libre” (porta-voz do Foro São Paulo), publicou uma longa entrevista com Manuel Piñero Losada, nas páginas 9 a 12.
Disse ele ter chegado a Sierra Maestra em maio de 1957. Antes disso, havia sido dirigente do Movimento Revolucionário 26 de Julho (MR-26) em sua província, Matanzas. Em Sierra Maestra integrou a Coluna 1, comandada por Fidel Castro, e em março de 1958, passou à coluna de Raul Castro.
Em seguida, foi conferida a Piñero a função de direção de Pessoal e Inspeção Territorial, e a do Serviço de Inteligência e Polícia Rebelde.
Em 1961 participou da fundação do Ministério do Interior e nele permaneceu até 1975, como responsável máximo do Vice-Ministério Técnico e, logo depois, da Direción General Libertación Nacional.
A partir de 1975 chefiou o Departamento América, órgão de Inteligência do Comitê Central do PC Cubano (do qual foi membro efetivo desde sua fundação, em 3 de outubro de 1965).
Essa entrevista referiu-se especificamente a Che Guevara, recordando os 30 anos de sua morte na Bolívia.
Em resumo, Piñero disse que durante todo esse tempo em que dirigiu a Inteligência cubana, manteve contato com as seguintes lideranças da guerrilha na América Latina: os nicaragüenses Carlos Fonseca Amador, Tomás Borge, Rodolfo Romero e o ex-Oficial do Exército somozista Somaribia, que dirigiu uma tentativa de luta armada na Nicarágua, no qual morreram os cubanos Ornelio Hernandez e Marcelo Fernandez; os guatemaltecos Turcios Lima, John Sosa, Rolando Ramirez, Pablo Monsanto, Júlio Cáceres (“Patojo”), amigo íntimo de Che Guevara; os peruanos Luis de La Puente Uceda, Hector Bejar Revollo e Javier Heraud; os peronistas William Coocke e Alícia Eguren; os colombianos Fábio Vasquez (que viria a ser o comandante do Exército de Libertação Nacional da Colômbia), os irmãos La Rota (fundadores do Movimento Obrero Estudantil Colombiano) e o Secretário-Geral do PC desse país, Gilberto Vieira; o Secretário-Geral do PC Uruguaio, Rodney Arismendi; os principais dirigentes dos partidos socialista e comunista chilenos, principalmente Salvador Allende, então senador da República, e Jayme Barrios; os principais dirigentes do PC Venezuelano, Fabrício Ojeda; e vários dirigentes haitianos e dominicanos.
Em geral, todos os líderes da esquerda e dos partidos comunistas do continente, que passavam por Havana, se entrevistavam com Piñero. Che Guevara conheceu todos eles, pois participou da Conferência dos Partidos Comunistas da América Latina, realizada em Cuba em 1964.
À pergunta de como Che Guevara concebia o desenvolvimento e a disseminação da luta revolucionária na América Latina, Piñero respondeu que segundo foi demonstrado pela experiência cubana, o núcleo guerrilheiro original, bem dirigido, era o pequeno motor, que acionado política e militarmente colocava em movimento o grande motor das massas. Nisso se baseava a concepção continental e antiimperialista de Che Guevara sobre a luta armada revolucionária. É essencialmente política, militar, de massas e contradiz a interpretação reducionista do FOCO GUERRILHEIRO, que historicamente lhe foi atribuída. Segundo Che, a luta guerrilheira não poderia desenvolver-se naqueles países onde os governos haviam sido eleitos democraticamente e onde não se haviam esgotado as possibilidades de luta política.
Deve ser ressaltada uma idéia básica de Che: não necessariamente têm que existir todas as condições para começar a luta revolucionária, pois a própria luta, em desenvolvimento, as iria criando. Che Guevara, portanto, não é o responsável pelas simplificações da experiência cubana e de suas concepções, desenvolvidas, ainda que com as melhores intenções, por parte de alguns revolucionários do continente.
Perguntado sobre o motivo da preferência de Che pela guerrilha na Argentina, disse que ela está na origem da guerrilha comandada por seu compatriota Jorge Ricardo Masetti, em 1963, pois Che havia conhecido Masetti, como jornalista, em Sierra Maestra; que após janeiro de 1959, Masetti regressou a Cuba, cumpriu algumas missões de apoio à revolução na Argélia com a Frente de Libertação Nacional (FLN), adquirindo certa experiência de combate, cursou escolas militares em Cuba e então Che deu-lhe a tarefa de organizar uma coluna guerrilheira cuja missão principal era instalar-se em Salta, território argentino fronteiriço com a Bolívia. Che prestou uma dedicação especial à preparação desse Destacamento, nomeado Exército Guerrilheiro dos Pobres. Juntaram-se a Masetti o cubano Hermes Peña (morto em combate) e Alberto Castellanos, que caiu prisioneiro e permaneceu 4 anos nos cárceres argentinos sem que fosse identificada sua verdadeira nacionalidade.
Era necessário estabelecer previamente uma base de apoio logístico em território boliviano e, para isso, foram designados os cubanos Abelardo Colomé Ibarra (“Furry”), hoje General de Exército, e José Maria Martinez Tamayo (“Papi”), que morreu depois da guerrilha boliviana. Eles viajaram para a Bolívia a fim de receber Masetti e seu grupo, em coordenação com um grupo de companheiros que nós enviamos a La Paz. Também deve ser reconhecida a cooperação, em todos os momentos, da direção da Frente de Libertação Nacional (FLN) argelina.
Em abril de 1964 foi perdido o contato com Masetti e até hoje não foram encontrados indícios sobre como terminou aquele intento guerrilheiro, bem como as circunstâncias do seu desaparecimento.
Argentina, Peru, Bolívia ...faziam parte do projeto integrador de Che para levar adiante a sua estratégia de continentalizar a revolução. Paralelamente à operação de Salta, um grupo de combatentes peruanos dirigidos por Alain Elias, e entre os quais se encontravam seus companheiros Javier Heraud e Abraham Lamas, iniciaram, em janeiro de 1963, a luta armada, após penetrarem no Peru pela zona de Porto Maldonado, fronteiriça com a Bolívia. Ali morreu o jovem poeta peruano Javier Heraud e outros companheiros. Eles contaram com a ajuda de vários quadros do Partido Comunista Boliviano, especialmente os irmãos Peredo (Inti e Chato Peredo), que lhes proporcionaram apoio logístico e serviram como guias à sua Coluna para regressar, desde o Peru à Bolívia. Anos depois, no Peru, o ELN reiniciou a luta sob a direção de Hector Bejar Revollo e emergem também as guerrilhas de Luis de La Puente Uceda e Guillermo Lobatón, líderes do Movimiento de Izquierda Revolucionária (MIR). Com todos esses dirigentes peruanos CHE manteve reuniões prévias. Entretanto, tanto o intento guerrilheiro do ELN como o do MIR, foram destruídos. Morreram Luis de La Puente Uceda (em novembro de 1965) e Lobatón (em janeiro de 1966). Hector Bejar já havia sido detido em 1965 e destruída a Coluna que comandava.
O projeto boliviano de Che dentro de sua estratégia continental tinha como perspectiva uma guerrilha que deveria transformar-se em uma escola de formação de quadros latino-americanos, sobretudo do Cone Sul, o que propiciaria estender a luta armada a outros países fronteiriços. Isso dependeria do desenvolvimento e crescimento da Coluna-Mãe, assentada na Bolívia.
De uma forma realista, Che analisou que se a partir da Bolívia surgissem e evoluíssem outras colunas guerrilheiras formadas por combatentes de diversas nações do Cone Sul, isso provocaria como reação uma aliança entre os governos e os Exércitos dos países fronteiriços, o que contribuiria para a propagação da luta armada revolucionária na região, a qual se transformaria em um cenário de cruentas, longas e difíceis batalhas, que cedo ou tarde levariam a uma intervenção norte-americana. Isso resultaria, portanto, na “criação de um grande Vietnã na América Latina”, como se referiu em sua histórica “Mensagem aos Povos do Mundo”, na Conferência Tricontinental.
Qualquer um que conheça as leis da guerrilha sabe que a fase inicial é a mais difícil, pois a Coluna ver-se-á obrigada a deslocar-se constantemente para evitar as emboscadas do exército inimigo, mormente se está em desvantagem. Nessa fase da guerrilha, depende de suas próprias forças, e do respaldo que possa receber das redes urbanas de apoio, as quais, naquele momento, na Bolívia, já haviam sido desmanteladas. Por isso não era uma tarefa fácil enviar - como dizem -, desde Cuba, um reforço para a guerrilha de Che na Bolívia. É pura fantasia dizer-se que Che tenha sido abandonado na Bolívia.
Também é uma fantasia a comparação que foi feita entre a suposta falta de apoio a CHE e os exitosos esforços cubanos para tirar da Venezuela os Oficiais cubanos que ali se encontravam na guerrilha, pois na Venezuela o Partido Comunista, o MIR e outras forças revolucionárias - embora tivessem sofrido várias derrotas - conservavam estruturas clandestinas e recursos operativos que facilitaram a organização paciente e minuciosa da operação-resgate desses companheiros. Essas circunstâncias não ocorreram na Bolívia.
Quanto à ida de Che ao Congo, ela foi uma etapa, uma fase intermediária para preparar-se com vistas à sua meta definitiva, e aguardar que a evolução dos acontecimentos na América Latina criasse condições políticas favoráveis para desencadear seus planos estratégicos. Tanto é assim, que no momento de sua saída do Congo, Che perguntou a Harry Villegas, a Carlos Coello e a José Maria Martinez Tamayo, se estariam dispostos a continuar a luta junto a ele em outro país. Uma luta que seria longa, complexa e difícil. Os três, posteriormente, tomariam parte na guerrilha boliviana, com seus pseudônimos: “Pombo”, “Tuma” e “Ricardo”.
As delicadas operações para trasladar Che Guevara e seus companheiros para a África, depois para regressar a Cuba e, mais tarde, sair para a Bolívia, estiveram a cargo do organismo que eu dirigia. Toda a preparação técnica e operativa para a missão no Congo, a documentação, os itinerários de viagem e as coberturas. A partir da embaixada de Cuba na Tanzânia, foi constituído um grupo de apoio encarregado da busca de informações e de cooperação no traslado da logística, desde esse país, até à base de Che no Congo, bem como o treinamento dos responsáveis pelas comunicações e outras formas de enlace com Che. Trabalhamos na falsificação de passaportes, nas informações que ele pedia sobre determinadas situações do país de destino, no treinamento em diversas especialidades. Todos os detalhes técnicos foram elaborados por nossos Oficiais, porém, cada passo, tudo, era analisado e aprovado por Che: as vias escolhidas e quem passaria por elas, como passar dissimuladamente pelos aeroportos, as características desses aeroportos e das fronteiras, o grau de controle migratório, e quais os horários e os dias em que a vigilância era menor por parte das autoridades. Para isso, foi realizado um estudo prévio da situação operativa, fronteiriça e migratória, bem como dos métodos aplicados pela Contra-Inteligência dos países por onde transitariam Che Guevara e os demais combatentes (nota: é sabido que Che Guevara, no trajeto para dirigir-se à Bolívia, passou pelo Brasil).
Para o Congo, na África, foram movimentados mais de 140 cubanos e mais de 20 para a Bolívia. Nenhum deles chegou a ser detectado pelos órgãos de espionagem ianque, nem pelos aparatos de segurança dos países por onde transitaram.
O início da viagem de Che para a Bolívia foi em novembro de 1966.
A morte de Che chegou a Cuba através de uma radiofoto recebida em 10 de outubro de 1967, onde aparecia o seu cadáver.
Pouco tempo depois, Pombo, Urbano e Benigno conseguiram romper o cerco e Inti Peredo conseguiu contato com alguns militantes do PC Boliviano e do ELN, que os conduziram até à fronteira com o Chile. Recorde-se o papel histórico desempenhado por Salvador Allende, então presidente do Senado chileno, que deu todo o seu apoio e proteção aos três sobreviventes.
Observe-se que essas atividades, que justificariam uma ação conjunta dos Serviços de Inteligência dos países do Cone Sul, foram antes, muito antes, da chamada Operação Condor, efetivada após a deposição e morte de ALLENDE, em 11 de setembro de 1973.
quinta-feira, 5 de janeiro de 2012
Documentação sobre a Operação Condor
Sobreviventes do centro clandestino Automotores Orletti, localizado em Buenos Aires, entregaram ao juiz argentino Norberto Oyarbide cópias de telex e cartas que provam o intercâmbio de informação (entre as ditaduras uruguaia e argentina) para identificar "subversivos". Os documentos fornecem uma radiografia muito clara das operações obscuras e ilegais praticadas pelas sedes diplomáticas uruguaias radicadas na Argentina. A reportagem é de Alejandra Dandan, do Página/12
As caixas contêm documentos reservados da ditadura uruguaia, mensagens de telex trocadas entre os consulados uruguaios localizados na Argentina e o Consulado Geral em Buenos Aires, além do Ministério de Relações Exteriores do Uruguai. Os funcionários desses organismos perguntavam-se nas mensagens sobre o número de uruguaios radicados no país e qual poderia ser, por exemplo, o modo de saber quantos deles eram "subversivos". Os papeis que contêm nomes, listas de proscritos e comunicações sobre os voos ilegais entre os dois países voltam ao presente para fornecer uma radiografia muito clara das operações obscuras e ilegais praticadas pelas sedes diplomáticas uruguaias radicadas na Argentina.
Os documentos foram apresentados por um grupo de sobreviventes uruguaios - encabeçados por Sergio López Burgos - ao juiz Norberto Oyarbide, encarregado da investigação do Plano Condor. Na apresentação, os uruguaios pediram para entrar na ação como querelantes, denunciaram mais de vinte diplomatas e pediram que se inicie uma investigação sobre essa linha diplomática.
"As mensagens trocadas entre os consulados e as embaixadas mostram, por exemplo, como os funcionários pediam ajuda à Polícia Federal para detectar os &39;elementos subversivos&39; que operavam na Argentina, disse López Burgos, uruguaio e sobrevivente do centro clandestino de Automotores Orletti e de um périplo de detenções no Uruguai. "Isso demonstra para nós que a diplomacia era uma fonte de informação e, ao mesmo tempo, uma armadilha. Ente nós, de alguma maneira, começamos a suspeitar disso e, por essa razão, passamos a evitar passar pela embaixada".
Durante a ditadura militar no Uruguai - diz a denúncia apresentada pelas advogadas Mariana Neves e Elizabeth Victoria Gómez Alcorta -, "o Ministério de Relações Exteriores teve ativa participação no Plano Condor. Aquele órgão desempenhava, entre outras funções, a tarefa de investigar cidadãos uruguaios por solicitação de outros governos sem nenhuma decisão judicial. A partir de informações das agências de inteligência e dos comandos militares, se suspendeu e se negou a muitos cidadãos a documentação necessária para mover-se pelo mundo, conformando assim um ferrolho sobre os cidadãos uruguaios.
Isso é, de alguma maneira, o que mostram as caixas de documentos que entregaram a Oyarbide, caixas estas que foram resgatadas depois de mais de um ano de trabalho nos arquivos da Chancelaria uruguaia. Entre os denunciados há, pelo menos, 25 diplomatas de primeiro e segunda linha, 13 militares e 12 civis. Um dos nomes mais conhecidos é o do ex-chanceler uruguaio Juan Carlos Blanco, até o momento o único processado e detido no uruguaio. Mas os arquivos também trazem denúncias contra os embaixadores uruguaios na Argentina: Gustavo Magariños (1975-1978) e Luis Posada Monterio (1978-1980). Também há seis ex-cônsules e ex-funcionários, entre eles Arisbel Arocha e Alberto Voss Rubio que ainda são embaixadores. A conexão diplomática também incluiu aqueles que operaram dois voos clandestinos que saíram de Buenos Aires para Montevidéu com os prisioneiros uruguaios que estavam sequestrados.
A linha vermelha
Um dos documentos mais eloquentes sobre a linha vermelha dos diplomatas é uma carta de 7 de dezembro de 1978, assinada pelo ministro conselheiro do Consulado Geral de Buenos Aires, Alfredo Menini Terra, e dirigida ao "embaixador extraordinário e plenipotenciário da República Luis María Posadas Montero". O documento parece um verdadeiro manual no qual o consulado conta à embaixada quais poderiam ser os melhores modos para transmitir uma informação confidencial. Ou explicam como contar uruguaios em Buenos Aires e como discernir quais deles poderiam ser "subversivos".
Neste sentido, em um determinado parágrafo, o cônsul afirma: "Quanto à porcentagem de cidadãos uruguaios que, na avaliação de funcionários consulares, podem ter estado ou estão vinculados a atividades subversivas, naturalmente é uma apreciação muito difícil de fazer. A única orientação que tem o funcionário consular para poder obter essa informação reside em: a) algum tipo de trâmite que motivasse sua intervenção perante as autoridades militares ou policiais, onde se constatasse a atividade subversiva de um cidadão uruguaio; b) a comunicação de Não Autorizado efetuada por nossa Chancelaria ante à solicitação de expedição ou renovação de passaportes".
Mais abaixo, o cônsul conta a seu superior que o Consulado de Rosário encontrou em seus arquivos o registo de quatro cidadãos que tiveram recusado o pedido de expedição de passaporte. E o Consulado de Buenos Aires, entre negativas a passaportes e trâmites "motivados por atividades subversivas", tem registrados os nomes de 300 cidadãos.
A carta, de várias páginas, fala sobre as mensagens cifradas. "...Cabe constar - diz, por exemplo -, que não existe mecanismo de comunicação cifrado de telegramas entre este Consulado geral e os consulados de distrito, ficando como única alternativa para a comunicação ou recepção de informação confidencial a via postal". Em outro ponto, reflete sobre o que está acontecendo com os uruguaios:
"...Chamou a atenção nos últimos tempos que, possivelmente em razão do conhecimento da solicitação prévia de autorização à Chancelaria para expedir ou renovar os passaportes, só se apresentam em nossos consulados na Argentina os cidadãos que não tem nenhum inconveniente...".
Entre os primeiros casos de passaportes que a Chancelaria vetou estavam os de Wilson Ferreira Aldunate, Héctor Gutiérrez Ruiz e Zelmar Michelini. Os três estavam sendo perseguidos no Uruguai e estavam radicados em Buenos Aires. Seis meses depois dessa decisão, Gutiérrez Ruiz e Zelmar Michelini foram assassinados.
Os voos
Os documentos provam também várias atividades desenvolvidas ad hoc pela Chancelaria. Entre essas provas, está a que partiu dali a ordem de translado massivo dos uruguaios sequestrados em Buenos Aires e que voaram clandestinamente a Montevidéu nos chamados primeiro e segundo voo.
Uma das provas aparentemente é um telex de 2 de junho de 1976, identificado como C194/24, assinado pelo ex-chanceler Juan Carlos Blanci e dirigido ao então cônsul em Buenos Aires, Alberto Voss Rubio. No telex, Blanco dá "a ordem de garantir o translado para a República Oriental do Uruguai de todos os cidadãos uruguaios requeridos pela autoridade competente".
Para López Burgos, a data do telex e o conteúdo do mesmo o convertem em um documento que está falando provavelmente do primeiro voo, uma viagem clandestina e massiva de sequestrados que estavam no centro clandestino de Automotores Orletti e viajaram a Montevidéu. Apesar desse documento ser conhecido no Uruguai, ele não o era para a Justiça argentina. A ação sobre o centro clandestino de Automotores Orletti, seda do Plano Condor em Buenos Aires, terminou no ano passado, mas só se investigou e julgou o que aconteceu dentro das portas do centro clandestino. Tudo o que aconteceu fora dele é matéria de investigação da chamada Causa Condor, que está em mãos de Oyarbide e do promotor Miguel Angel Osorio. Uma das partes dessa ação dorme o sono dos justos aguardando o início da data de julgamento.(Com o Pravda Ru)
Postado por José Carlos Alexandre às 13:45
Obs.: Cínica, essa esquerda terrorista mentirosa, ao classificar a Operação Condor como uma operação clandestina e terrorista dos governos militares sul-americanos, logo eles, que eram comandados por Moscou e Havana, para desencadear focos revolucionários em toda a America Latina, como provam os verbetes abaixo, que constarão de meu livro A Língua de Pau - Uma história da intolerância e da desinformação (F. Maier).
Foquismo- Teoria revolucionária de pau, em que a revolução marxista seria iniciada em pequenos núcleos (focos), para começar a guerrilha rural, com o objetivo de dominar a nação. O foquismo foi sistematizado pelo revolucionário comunista francês Jules Debray, e defendida por Fidel Castro e Che Guevara. O PC do B tentou colocar em prática essa teoria na região do Araguaia. “O treinamento a brasileiros em Cuba continua até os dias atuais, embora somente no terreno político-ideológico, na Escola Superior Nico Lopez, do PC cubano, Escola Sindical Lázaro Peña, Escola de Periodismo José Martí, Escola da Federação de Mulheres Cubanas, Escola da Federação Democrática Internacional de Mulheres e Escola Nacional Julio Antonio Mella, da União da Juventude Comunista. Por essas escolas já passaram mais de 100 brasileiros. Todavia, o mais importante em tudo isso, é que a ida de qualquer brasileiro para fazer cursos em Cuba depende do aval do Partido Comunista Cubano, após entendimentos anteriores, de partido para partido. Atualmente, existem diversos brasileiros, militantes do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra vêm recebendo, em Havana, treinamento em técnicas agrícolas, e outros matriculados na Faculdade Latino-Americana de Ciências Médicas. O site do Partido dos Trabalhadores oferece vagas e publica as condições definidas por Cuba para matrícula nessa Faculdade” (Huascar Terra do Valle, in “Histórias quase esquecidas”, site Mídia Sem Máscara, 10/2/2003).
Frente Manuel Rodrigues- Grupo terrorista do Chile, hijo natural del Partido Comunista. O mesmo que Frente Patriótica Manuel Rodriguez. Braço armado do Partido Comunista do Chile, a FMR iniciou as atividades terroristas em 14/12/1983, com explosões em vários pontos de Santiago e interferências radiofônicas. O nome advém do herói da independência do país contra a Espanha. Desde 1987, a FMR dividiu-se nas seguintes facções: Frente Manuel Rodriguez - Autónomo, Movimiento Manuel Rodriguez, Ejército de Liberación Nacional e Destacamento Raul Pellegrin. A FMR utilizava empresas de fachada, como pesqueiros (Chompalhue, Astrid Sue) e viveiros flutuantes de pescado para contrabandear armas, explosivos e munições para o Chile, ao custo de 25 milhões de dólares, repassados por Cuba e Nicarágua ao PC chileno e FMR, dinheiro esse oriundo de países que fomentavam o terror, como URSS, Alemanha Oriental, Bulgária e Líbia. Os arsenais de guerra encontrados em agosto de 1986 em poder da FMR foram os maiores já vistos na América Latina. Locais dos arsenais: Carrizal (o maior de todos), Palo Negro, mina abandonada de Cerro Blanco, Paine, Pintana (Santiago) e periferia de Santiago (Calle Tucapel no. 1635). Entre 6 e 21 de agosto, foram encontrados: 3.118 Fz NA M-16, 114 Lç foguete antiblindagem soviéticos RPG-7, 102 Fz de assalto belgas FAL, 6 Mtr NA M-60, 167 foguetes antiblindagem NA LAW, 5 Fz Lç Gr M-79, 1 escopeta de repetição cal 12, 1.959.512 car para Fz M-16, 4.205 car para FAL, 2.700 car para Mtr M-60, 965 car para Fz AKA, 1.979 granadas de mão soviéticas, 1.859 bombas para Mrt M-79, 2.204 kg de TNT em cubos, 796 kg de explosivos plástico T-4, 100 rolos de estopim, 4.700 detonadores, 10.140 “tirafrictores” para cargas explosivas, 1.514 carregadores sobressalentes para Fz M-16, 521 carregadores sobressalentes para FAL, 716 cargas de projeção para RPG-7 e 54 cargas de projeção para Mrt 81 mm - além de barcos, veículos, botes de borracha, equipamento de comunicações e material de campanha (Cfr. LONFAT, 1988: 55). No dia 7/9/1986, a FMR promoveu atentado contra o presidente Augusto Pinochet, que escapou ileso. Na ocasião, morreram 5 militares, e 7 militares e 1 detetive ficaram feridos - todos da comitiva presidencial. Em 1993, promoveu dois atentados à bomba a lojas da McDonald’s e uma tentativa de ataque a bomba a uma lanchonete Kentucky. A FPMR fez, no Brasil, pelo menos 3 assembleias anuais clandestinas, que ocorreram em algum dos três Estados do Sul, em 1990, 1992 e 1994. O chileno Maurício Hernández Norambuena comandou o sequestro do publicitário brasileiro Washington Olivetto, ocorrido no dia 11/12/2001, e foi preso com mais 5 comparsas em São Paulo. Norambuena foi um dos dirigentes da FPMR, é acusado de ter sido um dos atiradores no atentado ao general Pinochet e de ter planejado o assassinato de vários agentes chilenos, como Roberto Fuentes Morrison. Atualmente, Norambuena é um dos chefes da Frente Patriótica/Dissidentes (FPMR/D). Condenado no Chile à prisão perpétua, pelo sequestro e assassinato do Senador Jaime Guzmán, Norambuena fugiu de um helicóptero do presídio de segurança máxima de Santiago, o CAS (Cárcel de Alta Seguridad). A operação foi batizada no Chile como a “fuga do século”. Outros três “frentistas” fugiram na operação: Ricardo Palma Salamanca, Patrício Ortiz Montenegro e Pablo Muñoz Hoffmann. Entre os 10 foragidos do Caso Abílio Diniz (sequestro, realizado por integrantes do MIR em 1989), havia membros da FPMR. A FPMR também é acusada de ser responsável pelos sequestros do banqueiro Beltran Martinez, do Bradesco, em 1986, e do publicitário Luiz Sales, em 31/7/1989, sequestrado durante 65 dias e libertado após o pagamento de US$ 2,5 milhões. No dia 8/12/1992, foi sequestrado o publicitário Geraldo Alonso Filho, solto após 36 dias e o pagamento de US$ 3 milhões. A FPMR edita a revista trimestral El Rodriguista e tem um site, www.fpmr.org.
Libro Blanco- Libro Blanco del Cambio de Gobierno en Chile, de 11 de setembro de 1973, impresso e editado por Editorial Lord Cochrane, S.A., Santiago, Chile. O livro documenta toda a prática revolucionária ocorrida no Chile, sob o governo de Salvador Allende (1970-1973), que preparava um autogolpe para implantar o socialismo no país, já que havia conquistado apenas 36,5% dos votos e não detinha controle sobre o Congresso, a Justiça e as Forças Armadas; documenta a estreita ligação de Allende com o regime de Fidel Castro, as escolas de guerrilhas no país (há uma foto em que Allende faz treinamento de tiro com uma metralhadora .30 em sua residência oficial de El Cañaveral - um centro de guerrilha -, escudado por um “conselheiro” ou guerrilheiro cubano); documenta a política de “expropriação” de fazendas e indústrias (no final do governo Allende, 80% da economia do país estava nas mãos do Estado); documenta a ligação de Allende com a UP, o MIR, o MAPU, o Partido Comunista e o Partido Socialista, libertando, logo que assumiu a Presidência, líderes do MIR: Luciano Cruz, Miguel e Edgardo Enriquez, Bautista Van Schouwen, Humberto Sotomayor, Sergio Zorrilla, Joel Marambio e Andrés Pascal Allende (sobrinho do ex-presidente Allende, filho de sua irmã e ex-Deputada socialista, Laura Allende), que haviam sido presos por atos de violência e delitos comuns (principalmente roubos a bancos), cometidos no governo anterior; documenta que os responsáveis pelas escolas de guerrilhas de Guayacán (Santiago) e Chaihuín (Valdivia), presos no governo anterior, foram soltos, e que um dos guerrilheiros, Adrián Vasquez, ocupou de imediato a vice-presidência do INDAP (Instituto de Desarrollo Agropecuario) e outro, Rolando Calderón, chegou a ser Ministro da Agricultura de Allende em 1972 e ocupou importantes cargos em seu Partido e na CUT (Central Única de Trabajadores); documenta que uma das filhas de um sobrinho de Allende, líder do MIR, casou-se com graduado membro da embaixada cubana, Luís de Ona, que era responsável pelo Escritório de Havana para a coordenação da expedição de Che Guevara à Bolívia; documenta que no período de 1/11/1970 a 5/4/1972, 1.767 fazendas foram “expropriadas” por bandos armados do MIR; documenta que as principais minas de cobre foram controladas pelo Partido Comunista (Mina de Chuquicamata, na Província de Antofagasta - maior mina de cobre a céu aberto do mundo; e a Mina El Teniente, na Província de O’Higgins - a maior mina de cobre subterrânea do mundo); documenta que após o contragolpe de Pinochet foram encontradas vultosas somas de dinheiro com ministros de Allende, e que entre 1970 e 1973 o Chile se tornou o principal fornecedor de cocaína da América do Sul; documenta que antes do contragolpe de 1973 aproximadamente 100 pessoas perderam a vida durante o governo Allende em seu nada pacífico “caminho chileno para o socialismo”; documenta que no início do Governo Allende 1 dólar equivalia a 20 escudos e que em agosto de 1973, 1 dólar equivalia a 2.500 escudos - uma inflação de mais ou menos 12.000% no período; em 1972, a economia chilena estava em ruínas, dos 3.000 produtos domésticos básicos, mais de 2.500 não estavam disponíveis; em janeiro de 1973 começou um racionamento, as filas eram tão grandes que impediam o povo a ir ao trabalho; em 7/9/1973 (4 dias antes do contragolpe militar), Allende anunciou publicamente que havia farinha para pão somente para mais 3 dias; documenta o ingresso de estrangeiros extremistas no país, calculado entre 10.000 e 15.000, muitos dos quais ocuparam cargos em empresas estatais, outros engajaram-se em diversos tipos de atividades revolucionárias, sob a proteção do serviço de investigação estatal; muitos destes foram mortos em ações de roubos ou se mataram com seus próprios explosivos; entre estes, havia asilados ou refugiados vindos do Brasil, Uruguai, Argentina, Peru, São Domingos, Nicarágua, Honduras etc.; “estudantes” ou “técnicos” vindos de empresas estatizadas da URSS, Tchecoslováquia, Alemanha Oriental; e “diplomatas” cubanos e norte-coreanos; documenta o contrabando de armamento, adquirido em “viagens internacionais” do presidente Allende, principalmente com a ajuda da empresa aérea estatal Lan, sem fiscalização da aduana no retorno ao país; documenta os comandos comunales, agrupamento territorial de organismos revolucionários, e os cordones industriales, redes de trabalhadores de indústrias usurpadas ou estatizadas por Allende, também com base territorial para a violência política; documenta que em agosto de 1973, 1 mês antes do contragolpe de Pinochet, Fidel Castro mandou ao Chile dois de seus maiores “especialistas” em organização de violência política: o 1º ministro-substituto, Carlos Rafael Rodriguez, e o chefe da temida polícia secreta, Manuel Piñero, o “Barbarroxa”, com a seguinte carta (tradução do capitão José Acácio, ex-auxiliar do adido do Exército Brasileiro no Chile):
Havana, 29 de julho de 1973
Querido Salvador
Com o pretexto de discutir contigo questões referentes à reunião de países não-alinhados, Carlos e Piñero realizam uma viagem para aí. O objetivo real é informar-se contigo sobre a situação e oferecer-te, como sempre, nossa disposição de cooperar frente às dificuldades e perigos que obstaculizam e ameaçam o processo. A estada deles será muito breve, porquanto têm aqui muitas obrigações pendentes e, não sem sacrificar seus trabalhos, decidimos que fizessem a viagem.
Vejo que estão, agora, na delicada questão do diálogo com a D. C. [Democracia Cristã]em meio aos graves acontecimentos, como o brutal assassinato de seu ajudante-de-ordens naval e a nova greve dos donos de caminhões. Imagino a grande tensão existente devido a isso e teus desejos de ganhar tempo, melhorar a correlação de forças para o caso de que comece a luta e, se possível, achar um caminho que permita seguir adiante o processo revolucionário sem guerra civil, junto com salvar tua responsabilidade histórica por aquilo que possa ocorrer.
Estes são propósitos louváveis.
Mas, no caso da oposição, cujas reais intenções não estamos em condições de avaliar daqui, empenhar-se em uma política pérfida e irresponsável exigindo um preço impossível de pagar pela Unidade Popular e a Revolução, o qual é, inclusive, bastante provável, não esqueças, por um segundo, da formidável força da classe trabalhadora chilena e do forte respaldo que te ofereceram em todos os momentos difíceis; ela pode, a teu chamado, ante a Revolução em perigo, paralisar os golpistas, manter a adesão dos vacilantes, impor suas condições e decidir de uma vez, se for preciso, o destino do Chile. O inimigo deve saber de que dispões do necessário para entrar em ação. Sua força e sua combatividade podem inclinar a balança na Capital a teu favor, inclusive, quando outras circunstâncias sejam desfavoráveis.
Tua decisão de defender o processo com firmeza e com honra, mesmo com o preço da própria vida, que todos te sabem capaz de cumprir, arrastarão a teu lado todas as forças capazes de combater e todos os homens e mulheres dignos do Chile. T eu valor, tua serenidade e tua audácia nesta hora histórica de tua pátria e, sobretudo, teu comando firme, decidido e heroicamente exercido, constituem a chave da situação.
Faz Carlos e Manuel saberem em que podem cooperar teus leais amigos cubanos.
Te reitero o carinho e a ilimitada confiança de nosso povo.
Fraternalmente,
Fidel Castro
O Libro Blanco documenta o “Plano Z” para a tomada do poder, onde constavam três hipóteses de ação revolucionária (Z-A: início do autogolpe para impor a ditadura do proletariado; Z-B: morte de Allende em atentado; e Z-C: invasão externa com tolerância ou cumplicidade das Forças Armadas); o emprego de forças populares, princípios básicos para desencadear o plano: assassinato do Alto Comando das unidades das Forças Armadas (no dia da Independência do país, haveria um banquete oferecido ao Alto Comando, ocasião em que os chefes militares seriam assassinados pelo GAP - a guarda pretoriana de Allende), controle das unidades militares com auxílio de oficiais esquerdistas infiltrados, controle das estações de telecomunicações, de rodovias, ferrovias e aeronaves com destino aos aeroportos de Santiago, Valparaíso, Concepción e Antofagasta, ocupação e defesa de centros estratégicos, além da busca, prisão e aniquilamento de todos os focos de resistência; documenta que Cuba foi o principal fornecedor de armamento a Allende, que o “presente” de Fidel Castro encontrado no apartamento do Diretor do Serviço de Investigação, Eduardo “Coco” Paredes, superava uma tonelada de armamento sofisticado e munição; além do contrabando, o arsenal era aumentado com roubo de armamento do Exército e outras fontes, e guardados em local oficial “seguro”, como as residências oficiais do Presidente ou distribuídas a grupos paramilitares; documenta a enorme quantidade de armamento apreendida na residência oficial de El Cañaveral e no Palácio de La Moneda, a saber: 147 fuzis semi-automáticos, 10 carabinas semi-automáticas, 10 carabinas Mauser, 1 carabina Winchester, 54 pistolas automáticas, 13 rifles, 28 pistolas semi-automáticas, 11 revólveres, 2 pistolas para disparo de bombas de gás lacrimogêneo, 3 metralhadoras, 9 lançadores de foguetes (modelo soviético), 2 canhões sem recuo, 1 morteiro, 58 baionetas para fuzis, 58 granadas de mão, 625 bombas caseiras, 832 bombas com alto poder explosivo, 68 lança-granadas, 236 minas antitanque, 432 bombas de gás lacrimogêneo, 12 lança-gás paralisante (tipo spray), 25.000 detonadores elétricos, 1.500 detonadores a mecha, 22.000 metros de estopim, 3.600 m de cordão detonante, 625 kg de cloreto de potássio, 50 caixas de dinamite, 250 kg de TNT, 750 coquetéis molotov, 230 litros de éter sulfúrico (elemento incendiário), mais de 80.000 carregadores de todos os tipos, e outros tipos de equipamentos. Rendido no palácio de La Moneda, Allende concordou em sair com as filhas, porém elas saíram primeiro, ocasião em que Allende suicidou-se com um tiro debaixo do queixo com uma metralhadora presenteada por seu amigo Fidel Castro; tal fato foi presenciado por seu médico particular, Patricio Guijon Klein. (Em 2011, o corpo de Allende foi exumado e se comprovou que ele se suicidou.) Sem o apoio da massa de trabalhadores, paramilitares estrangeiros extremistas organizaram sua própria revolta contra o novo governo militar; depois de alguns meses, 1.261 pessoas perderam a vida (sendo 82 membros das Forças Armadas). Apesar do apoio cubano - confirmado por Fidel Castro mais tarde em um comício-show -, a esquerda foi severamente derrotada, já que não teve apoio popular. Dado que 2.279 pessoas (incluindo 254 vítimas do terrorismo de esquerda) devam ter sido mortas em todo o período de 17 anos de regime militar, a metade dessas mortes ocorreram na curta guerra civil após a queda de Allende, não na subsequente “repressão”. Leia o livro de Robin Harris, A Tale of two Chileans: Pinochet and Allende, que discorre sobre o conteúdo do Libro Blanco.
OLAS- Organización Latinoamericana de Solidaridad: no dia 16/1/1966, 1 dia após o término da Tricontinental, em Havana, Cuba, as 27 delegações latino-americanas reuniram-se para a criação da OLAS, proposta por Salvador Allende. O terrorista brasileiro Carlos Marighela foi convidado oficial para a Conferência da OLAS em 1967. Ola, em espanhol, significa “onda”, seriam, pois, ondas, vagalhões de focos guerrilheiros espalhados por toda a América Latina, como disse o próprio Fidel Castro: “Faremos um Vietnã em cada país da América Latina”. Após a Conferência, começam a surgir movimentos guerrilheiros em vários países da América Latina, principalmente no Chile, Peru, Colômbia, Bolívia, Brasil, Argentina, Uruguai e Venezuela. A OLAS, substituída pela JCR, tem sua continuidade no Foro de São Paulo (FSP) e no Fórum Social Mundial (FSM).
Operação carta de amor perfumada- Os falsificadores do Instituto 631, com sede em Moscou, conseguiam nomes e endereços de integrantes das Forças Armadas da Alemanha Ocidental e então usavam mulheres para escrever centenas de cartas de amor em papel perfumado e redigidas de modo a não deixar dúvidas quanto aos laços íntimos entre a mulher que escrevia e o homem que recebia. Os falsários conseguiam fazer entregar as cartas nos horários em que o marido estava no serviço, ocasião em que muitas mulheres caíam na armadilha e abandonavam o lar.
Operação Condor- Operação conjunta de governos de países sul-americanos para fazer face aos movimentos terroristas-marxistas do final da década de 1960 e início da década de 1970, desencadeados a partir da Revolução Cultural (China) e da OLAS (Cuba). Há livros que tratam do assunto, como Operação Condor - terrorismo en el Cone Sur, do jornalista Nilson Cezar Mariano, e Social Justice, publicado em 1999, da pesquisadora Patrice McSherry, professora de Ciências Políticas da Universidade de Long Island, EUA, em que há um artigo sobre a Operação Condor. Essa Operação não foi um acordo multilateral terrorista de governos latino-americanos, como propaga a esquerda, mas, sim, um acordo legítimo de defesa conjunta de países contra movimentos terroristas, patrocinados por países totalitários comunistas (URSS, China, Cuba), que queriam implantar, não a democracia, porém a ditadura comunista em todo o continente. Se existiu a Operação Condor, ela foi tão legítima como hoje é a Interpol e os acordos bilaterais de segurança entre países, para enfrentar em conjunto o terrorismo e o crime transnacional. No Brasil, se as Forças de Segurança não tivessem desbaratado a Guerrilha do Araguaia, ainda hoje poderíamos estar vivendo uma guerra civil, a exemplo da Colômbia. Nesse caso, o Governo Federal poderia estar hoje negociando, p. ex., com José “Tirofijo” Genoino, a entrega de uma extensa região do Araguaia aos guerrilheiros das FARB, para “conversações de paz”, como ocorreu na Colômbia das FARC durante o Governo de Andrés Pastrana. O Sendero Luminoso e o Tupac Amaru (Peru), atualmente sob certo controle, e as FARC e ELN (Colômbia) são os “filhotes” mais duradouros da OLAS de Fidel Castro, que prometeu “criar um Vietnã” em cada país sul-americano. Cínicos, esses esquerdistas! Falam mal da Operação Condor, logo eles, que ontem se uniram ao PC cubano e à KGB, criaram a OLAS e dezenas de grupos terroristas para infernizar a América Latina, e hoje estão à frente de movimentos que ainda sonham em implantar o comunismo na região, como a ALBA, o Foro de São Paulo e o Fórum Social Mundial. El cóndor pása... toca a flauta indígena do Peru. E os urubus socialistas apertam o nariz, denunciando o mau cheiro que eles mesmos provocaram.
Operação Drogas- Lançada pela China e depois copiada pela URSS na década de 1960, para levar os jovens e as crianças do Ocidente ao vício. Desde o fim da década de 1960, o consumo de drogas aumentou de forma alarmante em todo o mundo ocidental. O haxixe, a maconha, a cocaína, a heroína, o ópio e o LSD tornaram-se drogas comuns. Os quintas-colunas vermelhos também introduziram as drogas entre os soldados americanos que combatiam no Vietnã, como afirmou Chou En-lai ao presidente Nasser, em Alexandria: “Quanto mais tropas eles mandarem para o Vietnã melhor para nós, pois nos apossaremos delas para lhes sugarmos o sangue” (HUTTON, 1975: 259). Teria sido uma vingança da China, que havia sido derrotada pelo Reino Unido na chamada “Guerra do Ópio”? “Entre 1965 e 1967, os chefes subversivos de Mao Tse-tung e suas redes concentravam-se em greves, demonstrações, tumultos e atos terroristas de toda espécie, e quando os sucessos continuavam, um depois do outro, provando a eficiência das redes instaladas. Pequim resolveu aumentar a pressão. A divisão especial da subversão da China vermelha enviou uma instrução em código para todos os seus agentes avisando-os para estarem alertas esperando as entregas contrabandeadas de grandes quantidades de toda sorte de drogas. A ordem era ‘aproveitar todas as oportunidades para intensificar o vício de drogas’ ” (idem, 173).
Operação infiltração com explosivos - É como na língua de pau socialista se chama um “atentado com explosivos”. “Comunicamos que asumimos la autoría de la operación de infiltración con explosivos en el interior de Consulado de Brasil, ejecutada hoy martes 23 de marzo” (Comunicado do MIR, grupo terrorista do Chile, assumindo a autoria dos atentados no Consulado brasileiro em Santiago, no dia 23/03/2004). Motivo: o Brasil condenou a 30 anos de prisão Maurício Hernández Norambuena, 2º homem da Frente Patriótica Manuel Rodriguez, um dos sequestradores do publicitário Washington Olivetto.
Escolas de subversão e espionagem- Durante a Guerra Fria, havia importantes escolas de subversão e espionagem, tanto na antiga URSS, como na China.
Um clássico sobre o assunto é o livro de J. Bernard Hutton, Os Suversivos - A primeira revelação mundial do plano comunista de conquista do mundo ocidental. Na China, a Escola da Província de Chekiang preparava subversivos e espiões para atuarem na Alemanha, Suíça e Áustria; a Escola da Província de Honan para atuação na França, Itália e Espanha; e a Escola da Província de Chekiang para atuação no Japão e outros países da Ásia. Os cidadãos soviéticos escolhidos para trabalhar no estrangeiro, como chefes de subversão clandestina, recebiam seu treinamento em setores especiais das mesmas escolas que formavam os ases da espionagem. Na URSS, havia as seguintes escolas:
Escola de Gaczina: era a mais conhecida de todas as escolas da antiga União Soviética e preparava os espiões para atuar em países de língua inglesa. Situada a 150 km de Kuibyshev, ocupava uma área de 250 km²; dividia-se em quatro setores: América do Norte (Setor Noroeste); Canadá (Setor Norte); Reino Unido (Setor Nordeste); e Austrália, Nova Zelândia, Índia e África do Sul (Setor Sul); cada setor era independente e não havia comunicação entre eles;
Escola de Prakhovka: situada a 100 km ao norte de Minsk, capital da Bielorússia, tinha 500 km² de área; durante a II Guerra Mundial, quando Hitler tomou a Bielorússia, Prakhovka foi evacuada conforme a política de terra arrasada de Stálin, e uma Escola de Emergência foi organizada em Ufa; Prakhovka foi reaberta em 1947. Tudo era igual à Gaczina, em todos os detalhes; dividida também em setores, preparava espiões para atuação na Noruega, Suécia, Dinamarca e Finlândia (Setor Norte); Holanda (Setor Sudoeste); Áustria e Suíça (Setor Sul); e Alemanha (Setor Sudeste);
Escola de Stiepnaya: situada a mais ou menos 200 km ao sul de Chkalov, preparava subversivos e espiões para trabalhar nos países latinos: França (Setor Noroeste); Espanha (Setor Norte); Itália (Setor Nordeste); e Portugal, Brasil, Argentina e México (Setor Sul);
Escola de Vostocznaya: situada a uns 160 km de Khabarovsk, cuidava dos países da Ásia e do Oriente Médio; e
Escola de Novaya: situada a 100 km a sudoeste de Tashkent, treinava espiões para a África.
Na antiga URSS, antes do ingresso nas escolas de espionagem acima citadas, os cidadãos escolhidos para essa carreira tinham que realizar quatro estágios:
1º estágio: era realizado na Escola Marx-Engels, em Gorky, perto de Moscou; durante o estágio, que durava quatro meses, os integrantes viviam coletivamente e assinavam um compromisso de jamais revelar qualquer coisa sobre a Escola; o horário era inflexível: de 7 da manhã às 10 horas da noite, proibidos de sair do recinto da Escola, num prédio retirado da rua, cercado por altos muros. O objetivo específico nesse Estágio era garantir que todos fossem “instruídos na ideologia comunista e sigam acostumando-se a pensar e agir como um clássico bolchevista”;
2º estágio: os recrutas aprovados no 1º Estágio seguiam para a Escola Técnica Lênin, situada em Verkhovnoye, a 80 km de Kazan; consistia de edifícios em área de mais ou menos 4 km², tudo cercado por altos muros. Os recrutas eram transportados em veículos da KGB e durante a viagem não podiam manter contato com o mundo exterior. A vida era espartana, com um formidável horário de estudos; eram proibidos de informar onde se encontravam e o que estavam fazendo, mas tinham licença para se comunicar com a família mediante endereço intermediário. Até aí, os recrutas ainda ignoravam que estavam sendo escolhidos para possíveis agentes clandestinos do serviço secreto de Moscou. O treino na Escola durava 12 meses e os estudantes de ambos os sexos passavam por vigorosos treinos de combate: subiam em montanhas, rastejavam sob arame farpado, atravessavam pântanos e rios e faziam longas marchas carregando equipamento pesado; aprendiam a se defender com judô, jiu-jitsu, karatê e outras formas de ataque e defesa, como boxe e luta livre; manejavam armas de fogo e praticavam destruição de pontes, edifícios e instalações militares com dinamite, TNT, gelignite e explosivos plásticos, fabricação de bombas e descoberta de armadilhas e bombas ocultas, e a forma de desarmá-las. Essa fase incluía a destruição de fechaduras, portas fortes e cofres à prova de arrombamento. Aprendiam ainda a luta de guerrilhas; recebiam depois um curso de dopagem e envenenamento de bebidas, doces, comidas, cigarros e charutos; recebiam instruções sobre o uso de drogas e os antídotos que deveriam tomar quando fossem obrigados a engolir drogas. Outro curso especializado ensinava os alunos a ligar escutas clandestinas em linhas telefônicas e a utilizar microfone de grande poder; estudavam as formas de recepção e transmissão de rádio, microfilmagem e micropontos, codificação e decifração. Depois do curso, havia o exame final e os recrutas eram transportados para o centro de recreação de Oktyabr, nas montanhas do Cáucaso, em Kyslovodsk, onde gozavam de merecidas férias de um mês ou mais;
3º estágio: os recrutas que foram afinal escolhidos como “servindo para atividades subversivas clandestinas no exterior”, iam passar um ano com instrutores que verificavam suas aptidões para modalidades específicas de trabalho de subversão e de adaptabilidade a determinados países. Esse período era ainda mais duro que os treinamentos anteriores. A polícia secreta prendia um estagiário e o levava para a sede central como se ele fosse realmente um agente estrangeiro surpreendido em flagrante; interrogatórios especializados submetiam a “vítima” a uma lavagem de cérebro, à chamada interrogação de 3º grau e de todos os outros métodos usados para conseguir confissões ou informações; depois de passar pelo teste (a maioria passava), o recruta era levado à presença de seus interrogadores e então era explicado que tudo era apenas mais um teste; eram elogiados por resistir, mas antes de serem liberados deviam jurar manter segredo daquilo junto aos outros recrutas que ainda iriam passar pela prova; só então o estagiário era julgado apto a frequentar uma escola dos ases da espionagem soviética, cujo treino iria durar 10 longos anos; e
4º estágio: os cidadãos soviéticos escolhidos para trabalhar no estrangeiro, como chefes de subversão clandestina, recebiam treinamento em setores especiais das mesmas escolas que formavam os ases da espionagem (veja Escolas mencionadas acima). A Escola mais conhecida era a de Graczina, que formava subversivos e espiões para atuarem em países de língua inglesa. Desde que chegavam a Graczina, todos os estudantes só podiam falar inglês; recebiam um nome inglês e eram obrigados a esquecer a língua russa e a nacionalidade soviética; o período de 10 anos em Graczina era considerado pelos diretores do serviço secreto como o mínimo essencial para o condicionamento do cérebro humano à nova língua. Eram despertados à noite e obrigados a responder perguntas inesperadas, qualquer um deles em seu papel de espião estava convencido de sua nova identidade; os diretores achavam que nem tortura, lavagem de cérebro ou drogas conseguiriam dobrar os seus agentes; no setor do Reino Unido em Graczina, existiam réplicas perfeitas de ruas, casas, cinemas, restaurantes, bares, pensões e outros estabelecimentos tipicamente ingleses; as roupas usadas eram inglesas, os estudantes viviam em pensões, apartamentos, comiam refeições tipicamente inglesas, como batatas assadas, rosbife, pudim Yorkshire e peixe; andavam em ônibus ingleses, gastavam dinheiro inglês, liam jornais ingleses e assistiam programa de TV gravados na Inglaterra; os professores da língua inglesa eram membros do Partido Comunista (PC) escolhidos a dedo, antigos cidadãos do Reino Unido que desprezavam a pátria e se tornaram cidadãos soviéticos. Mais pessoas naturais da Inglaterra contribuíam para que o ambiente fosse autêntico, como garçonetes, polícias de rua, motoristas de ônibus, recepcionistas de hotel e outros. Esse treino geralmente levava cinco anos; não houve um só aluno de Graczina que tivesse sido preso pela Scotland Yard ou pelo FBI que se deixasse trair por sua imperfeição de linguagem. Os outros cinco anos eram destinados a trabalhos especializados para a prática da moderna técnica de espionagem: códigos (memorização de), comunicações por rádio (montagem e desmontagem de aparelhos de recepção e transmissão; usavam equipamentos modernos que podiam transmitir e receber longas mensagens em segundos); aprendiam a utilizar os mais modernos aparelhos fotográficos, que reduzem plantas de grandes dimensões a pontos microscópicos. Depois de dez anos, os estudantes saíam da Escola mais ingleses do que muitos ingleses legítimos.
O Estado de S. Paulo
5/7/2012
DEBATE SOBRE CONDOR VIRA FÓRUM PARA REVER LEI DA ANISTIA
Sete países das Américas reavaliam ação de antigas ditaduras contra a
esquerda pedindo que Brasil reveja sua posição
esquerda pedindo que Brasil reveja sua posição
VANNILDO MENDES / BRASÍLIA
Um seminário internacional sobre a Operação Condor, promovido pelo governo
federal e pela Câmara dos Deputados, reúne por dois dias, em Brasília,
representantes de sete países das Américas - e vai funcionar, na prática, como um fórum para reavaliação da Lei da anistia brasileira e do papel de agentes do Estado responsáveis por crimes de lesa-humanidade durante a ditadura militar (1964-1985).
Além do secretário nacional de Justiça e presidente da Comissão de anistia, Paulo Abrão, o evento - no auditório Nereu Ramos, da Câmara - recebe delegados dos países envolvidos naquela operação: Argentina, Uruguai, Chile, Paraguai, Bolívia e Estados Unidos.
federal e pela Câmara dos Deputados, reúne por dois dias, em Brasília,
representantes de sete países das Américas - e vai funcionar, na prática, como um fórum para reavaliação da Lei da anistia brasileira e do papel de agentes do Estado responsáveis por crimes de lesa-humanidade durante a ditadura militar (1964-1985).
Além do secretário nacional de Justiça e presidente da Comissão de anistia, Paulo Abrão, o evento - no auditório Nereu Ramos, da Câmara - recebe delegados dos países envolvidos naquela operação: Argentina, Uruguai, Chile, Paraguai, Bolívia e Estados Unidos.
Abrão afirmou, já no primeiro dia, que os crimes comuns cometidos na ditadura "não devem ser perdoados". Ele disse que o movimento iniciado agora é "contra a imposição do esquecimento das graves violações de direitos humanos em 21 anos de ditadura no País". Para ele, o resgate da memória e da verdade, em curso no Executivo e no Congresso, é só o primeiro passo para obtenção de justiça.
Desencadeada na década de 70, a Condor foi um pacto de repressão entre as
ditaduras militares da América do Sul, apoiado pelos Estados Unidos, para perseguir e eliminar grupos esquerdistas refugiados em territórios vizinhos. Em muitos casos, eles eram sequestrados num país e entregues ao aparelho repressor do outro. Quase todos os capturados nessas circunstâncias figuram na lista de desaparecidos. Depois de um certo tempo a cooperação evoluiu e o próprio país que capturava se encarregava de dar sumiço no alvo.
ditaduras militares da América do Sul, apoiado pelos Estados Unidos, para perseguir e eliminar grupos esquerdistas refugiados em territórios vizinhos. Em muitos casos, eles eram sequestrados num país e entregues ao aparelho repressor do outro. Quase todos os capturados nessas circunstâncias figuram na lista de desaparecidos. Depois de um certo tempo a cooperação evoluiu e o próprio país que capturava se encarregava de dar sumiço no alvo.
Vítimas. Nas contas dos organizadores, as ditaduras sul-americanas são
responsáveis por mais de 50 mil assassinatos em duas décadas - dos quais cerca de 30 mil só na Argentina, o caso mais dramático. No Brasil, foram pouco mais de 400 mortos e desaparecidos, número bem menos que a média, mas os demais países acusam a ditadura brasileira de ter financiado o pacto, treinado torturadores e fomentado a articulação dos governos para perseguição de esquerdistas.
responsáveis por mais de 50 mil assassinatos em duas décadas - dos quais cerca de 30 mil só na Argentina, o caso mais dramático. No Brasil, foram pouco mais de 400 mortos e desaparecidos, número bem menos que a média, mas os demais países acusam a ditadura brasileira de ter financiado o pacto, treinado torturadores e fomentado a articulação dos governos para perseguição de esquerdistas.
À frente do movimento no Congresso, a deputada Luiz Erundina (PSB-SP), afirmou que o terrorismo de Estado praticado no Brasil não pode ficar impune. "É preciso que os fatos sejam apurados e os algozes punidos dentro da lei, para que se faça justiça às vítimas da repressão". Ela admitiu que não será uma luta fácil porque sucessivos governos do País, inclusive os de esquerda, fizeram concessões às Forças Armadas para não mexer na interpretação da lei da anistia. Para complicar, decisão recente do Supremo Tribunal Federal (STF) consagrou a tese de que a anistia perdoou os crimes dos dois lados.
O Globo - 5/7/2012
PANORAMA POLÍTICO :: ILIMAR FRANCO
DITADURA: DOCUMENTOS INÉDITOS
Serão apresentados hoje, em Seminário Internacional sobre a Operação Condor,
dois documentos inéditos que darão ao Brasil o triste carimbo de precursor da
operação na América do Sul, durante o governo do general Emílio Médici. Duas
operações comandadas pelo governo brasileiro, uma em 1970 e a outra em 1971, resultaram na prisão de dois guerrilheiros na Argentina, com a ajuda do governo vizinho. Um, Jefferson Cardin de Alencar Osório, foi preso e torturado: enquanto o outro, Edmur Péricles Camargo, é desaparecido político.
dois documentos inéditos que darão ao Brasil o triste carimbo de precursor da
operação na América do Sul, durante o governo do general Emílio Médici. Duas
operações comandadas pelo governo brasileiro, uma em 1970 e a outra em 1971, resultaram na prisão de dois guerrilheiros na Argentina, com a ajuda do governo vizinho. Um, Jefferson Cardin de Alencar Osório, foi preso e torturado: enquanto o outro, Edmur Péricles Camargo, é desaparecido político.
Agência Câmara - 5/7/2012
04/07/2012 18:25
COMISSÃO QUER ACESSO A DOCUMENTOS DOS EUA SOBRE DITADURA
BRASILEIRA
COMISSÃO QUER ACESSO A DOCUMENTOS DOS EUA SOBRE DITADURA
BRASILEIRA
O presidente da Comissão de Anistia do Ministério da Justiça, Paulo Abrão, disse
que o governo brasileiro precisa pedir aos Estados Unidos a liberação de todos os documentos que façam referência à ditadura militar brasileira entre 1964 e 1988. A declaração foi feita nesta quarta-feira (4), durante os debates da manhã do Seminário Internacional Operação Condor, realizado pela Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara.
que o governo brasileiro precisa pedir aos Estados Unidos a liberação de todos os documentos que façam referência à ditadura militar brasileira entre 1964 e 1988. A declaração foi feita nesta quarta-feira (4), durante os debates da manhã do Seminário Internacional Operação Condor, realizado pela Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara.
Segundo Abrão, os Estados Unidos já liberaram arquivos secretos sobre ditaduras para dois países da América do Sul: Chile e Argentina. “Isso permitiu que o Chile pudesse passar a limpo sua história. O Estado Argentino, do mesmo modo. É necessário, é condição para que a gente tenha sucesso na construção da verdade do Brasil, que o Estado e o governo brasileiro tomem a iniciativa para que a gente conheça nossa história.”
Essa colaboração dos Estados Unidos é importante porque o país apoiou a Operação Condor, uma aliança dos regimes militares da América do Sul que tinha o objetivo de reprimir opositores das ditaduras. Estimativas com base em arquivos militares encontrados no Paraguai apontam que podem ter ocorrido 50 mil mortes, 30 mil desaparecimentos e 400 mil prisões de opositores entre as décadas de 1960 e 1980.
Erundina: Legislativo precisa revisar a Lei de Anistia para permitir punição de
torturadores.
torturadores.
Lei de Anistia
A presidente da Comissão Parlamentar Memória, Verdade e Justiça, deputada Luiza Erundina (PSB-SP), quer mais que o esclarecimento dos crimes ocorridos durante a ditadura militar. Erundina defende que a Lei de Anistia seja revista para permitir a punição de torturadores.
“O Congresso brasileiro, que aprovou a Lei de Anistia em 1979 com essas limitações e determinações, terá que rever essa lei”, disse a deputada. “Nós temos que fazer justiça.”
Eliete Ferre, que foi presa e torturada na década de 1970 por duas ditaduras
militares, a brasileira e a chilena, também defendeu a revisão da Lei de Anistia. “A Operação Condor tem que ser apurada. Esses torturadores têm que ser todos
punidos, para que isso não aconteça nunca mais.”
militares, a brasileira e a chilena, também defendeu a revisão da Lei de Anistia. “A Operação Condor tem que ser apurada. Esses torturadores têm que ser todos
punidos, para que isso não aconteça nunca mais.”
O Seminário Internacional Operação Condor conta com a participação de autoridades, especialistas e vítimas dos regimes militares do Brasil e de vários países sulamericanos.
O objetivo do evento é colher material que colabore com a Comissão
Parlamentar da Verdade e com a Comissão da verdade da Presidência da
República, que trabalham para esclarecer os crimes ocorridos durante a ditadura
militar de 1964.
O objetivo do evento é colher material que colabore com a Comissão
Parlamentar da Verdade e com a Comissão da verdade da Presidência da
República, que trabalham para esclarecer os crimes ocorridos durante a ditadura
militar de 1964.
Reportagem – Ginny Morais/Rádio Câmara
Edição – Pierre Triboli
04/07/2012 20:12
Edição – Pierre Triboli
04/07/2012 20:12
DEPUTADA: OPERAÇÃO CONDOR, NA DITADURA, RECEBEU APOIO DE
GRANDES EMPRESAS
GRANDES EMPRESAS
Alexandra Martins
Seminário internacional na Câmara discute Operação Condor, aliança político-militar entre cinco países da América do Sul.
A deputada Janete Capiberibe (PSB-AP) afirmou, nesta quarta-feira, que está claro que a Operação Condor, que torturou e assassinou milhares de pessoas na América Latina, na década de 60, recebeu o apoio de empresas multinacionais com alta lucratividade. “A esquerda coloca em risco o lucro de grandes grupos econômicos.
Todos os desaparecimentos, torturas e mortes ocorreram por causa de objetivos
financeiros e econômicos.”
Todos os desaparecimentos, torturas e mortes ocorreram por causa de objetivos
financeiros e econômicos.”
A deputada contou que foi uma sobrevivente da ditadura militar. Ela foi integrante da Aliança Libertadora Nacional, comandada por Carlos Marighela. “Em 1970 fui presa.
Durante nove anos, fiquei exilada na Bolívia, Chile, Canadá e Moçambique. Retornei ao Brasil em 79, depois da aprovação da Lei da Anistia”, relatou.
Durante nove anos, fiquei exilada na Bolívia, Chile, Canadá e Moçambique. Retornei ao Brasil em 79, depois da aprovação da Lei da Anistia”, relatou.
Janete Capiberibe deu a declaração durante o Seminário Internacional Operação
Condor, promovido pela Comissão Parlamentar Memória, Verdade e Justiça, ligada à Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara. A Operação Condor, criada em 1960, foi uma aliança político-militar, entre os regimes ditatoriais de cinco países da América do Sul: Argentina, Brasil, Chile, Paraguai e Uruguai. O objetivo era coordenar a repressão aos opositores dessas ditaduras e eliminar líderes de esquerda que militavam nos cinco países.
Condor, promovido pela Comissão Parlamentar Memória, Verdade e Justiça, ligada à Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara. A Operação Condor, criada em 1960, foi uma aliança político-militar, entre os regimes ditatoriais de cinco países da América do Sul: Argentina, Brasil, Chile, Paraguai e Uruguai. O objetivo era coordenar a repressão aos opositores dessas ditaduras e eliminar líderes de esquerda que militavam nos cinco países.
Dez mil vítimas
O juiz federal da Argentina, Daniel Rafecas, que também participou do evento,
afirmou que até agora foram identificadas dez mil vítimas da ditadura militar no país, durante a Operação Condor. Ele afirmou que essas vítimas foram identificadas com a abertura de mil processos contra pessoas acusadas de torturas.
afirmou que até agora foram identificadas dez mil vítimas da ditadura militar no país, durante a Operação Condor. Ele afirmou que essas vítimas foram identificadas com a abertura de mil processos contra pessoas acusadas de torturas.
Segundo ele, respondem a processos chefes dos centros clandestinos de detenção e chefes das Forças Armadas, por exemplo. “Até agora, 250 já foram condenados por crimes graves. Os números são provisórios porque esse processo está em desenvolvimento”, disse.
Já o deputado da Argentina Remo Gerardo Carlotto afirmou que foram abertos 365 centros clandestinos de detenção no país durante a ditadura militar. Ele disse que os julgamentos dos crimes praticados pela Operação Condor devem ser considerados como uma política de Estado. “O Estado democrático deve prestar contar daquilo que foi feito pelo Estado terrorista anteriormente”.
O deputado declarou ainda que a ditadura na Argentina contou com o apoio de
grandes grupos econômicos. “Um dos grupos se colocou à disposição do regime para sequestrar 300 pessoas, uma delas continua desaparecida até hoje”, disse.
grandes grupos econômicos. “Um dos grupos se colocou à disposição do regime para sequestrar 300 pessoas, uma delas continua desaparecida até hoje”, disse.
Retrocesso no Uruguai Por sua vez, o jornalista do Uruguai Samuel Blinxen afirmou que houve retrocesso no seu país com relação à investigação da Operação Condor. “O Estado uruguaio não quer saber quem cometeu os delitos. O Uruguai amparou a impunidade.”
Ele disse que a Operação Condor é a expressão máxima do terrorismo do Estado nos países – Brasil, Chile, Argentina, Paraguai e Uruguai - que se uniram para cometer crimes como prisões ilegais e assassinatos.
“A operação promoveu o extermínio dos atores sociais que podiam alterar o livre jogo do mercado. Os militares não estavam sozinhos. Eles precisavam de dinheiro, transportes e comunicação”, afirmou.
Revisão da anistia
A deputada Luiza Erundina (PSB-SP), presidente da Comissão Parlamentar Memória, Verdade e Justiça, espera que a pressão da sociedade civil torne possível a revisão a Lei da Anistia (6.683/79) para punir os agentes do regime militar que torturaram presos políticos.
Ela disse que o seminário é importante para ajudar na investigação sobre a
participação do Brasil na Operação Condor. “Se for o caso, vamos encaminhar as
informações levantadas no seminário ao Ministério Público e à Comissão da Verdade.
Todos os crimes de tortura, perseguição e assassinatos se deram numa articulação criminosa entre os países que promoveram essa operação”, disse.
participação do Brasil na Operação Condor. “Se for o caso, vamos encaminhar as
informações levantadas no seminário ao Ministério Público e à Comissão da Verdade.
Todos os crimes de tortura, perseguição e assassinatos se deram numa articulação criminosa entre os países que promoveram essa operação”, disse.
Continuação O seminário se encerra nesta quinta-feira. Os debates serão retomados às 9h, no Plenário 2.
Reportagem – Jaciene Alves
Edição – Newton Araújo
Edição – Newton Araújo
Comentário:
El Monumento a la Memoria - Construído em Buenos Aires, tem 5 paredes com 30.000 placas, que deveriam lembrar os desaparecidos argentinos durante o governo militar anticomunista. Porém, apenas 8.718 placas têm identificação, ou seja, há 21.282 placas em branco, sem nomes - uma mentira inflada quase 4 vezes. Os esquerdistas argentinos conseguiram ser ainda mais embusteiros que seus kamaradas brasileiros, ao criar a figura do desaparecido sem nome. Essa vergonhosa mentira vem sendo repetida há décadas e hoje todo mundo acredita que realmente houve 30.000 desaparecidos na Argentina, número assim redondinho, sem uma placa a mais ou a menos. Número repetido pelo escrevinhador acima, do Estadão, em reflexo condicionado próprio de esquerdista embusteiro, que repete, automaticamente, as mentiras propaladas pelos terroristas comunistas.
M3G - Marx, Mao, Marighela e Guevara: organização criada em 1969, como uma Dissidência da ALN, com a sigla M2G. Depois da morte de Marighela, passou a se denominar M3G. O Grupo foi desmantelado ainda em 1969, após a tentativa frustrada de sequestro do Cônsul norte-americano em Porto Alegre pela VPR, quando foi preso o seu líder, Edmur Péricles de Camargo, junto com 13 integrantes do Grupo.
Fonte: https://www.usinadeletras.com.br/exibelotexto.php?cod=64839&cat=Artigos
Obs.: Na realidade, segundo levantamento feito por Raúl García, são 5.916 os ditos desaparecidos na Argentina, não 30.000 - cfr. http://felixmaier1950.blogspot.com/2020/07/argentina-aparecem-os-desaparecidos-por.html
Carta ao jornal O Estado de S. Paulo
Usina de Letras - Operação Condor: carta ao Estadão -- 05/07/2012 - 15:08 (Félix Maier)
Prezado editor do fórum de leitores do Estadão,
forum@grupoestado.com.br
A respeito da reportagem sobre a Operação Condor, de Vannildo Mendes, publicada no Estadão em 5/7/2012:
El Monumento a la Memoria - Construído em Buenos Aires, tem 5 paredes com 30.000 placas, que deveriam lembrar os desaparecidos argentinos durante o governo militar anticomunista. Porém, apenas 8.718 placas têm identificação, ou seja, há 21.282 placas em branco, sem nomes - uma mentira inflada quase 4 vezes. Os esquerdistas argentinos conseguiram ser ainda mais embusteiros que seus kamaradas brasileiros, ao criar a figura do desaparecido sem nome.
Essa vergonhosa mentira vem sendo repetida há décadas e hoje todo mundo acredita que realmente houve 30.000 desaparecidos na Argentina, número assim redondinho, sem uma placa a mais ou a menos. Número repetido pelo escrevinhador do Estadão, Vannildo "Mentes", em reflexo condicionado próprio de esquerdista embusteiro, que repete, automaticamente, as mentiras propaladas pelos terroristas comunistas.
Atenciosamente,
Félix Maier
El Monumento a la Memoria - Construído em Buenos Aires, tem 5 paredes com 30.000 placas, que deveriam lembrar os desaparecidos argentinos durante o governo militar anticomunista. Porém, apenas 8.718 placas têm identificação, ou seja, há 21.282 placas em branco, sem nomes - uma mentira inflada quase 4 vezes. Os esquerdistas argentinos conseguiram ser ainda mais embusteiros que seus kamaradas brasileiros, ao criar a figura do desaparecido sem nome.
Essa vergonhosa mentira vem sendo repetida há décadas e hoje todo mundo acredita que realmente houve 30.000 desaparecidos na Argentina, número assim redondinho, sem uma placa a mais ou a menos. Número repetido pelo escrevinhador do Estadão, Vannildo "Mentes", em reflexo condicionado próprio de esquerdista embusteiro, que repete, automaticamente, as mentiras propaladas pelos terroristas comunistas.
Atenciosamente,
Félix Maier
BRASÍLIA, DF, 5 de julho de 2012.
"BRASIL DEVERIA CONDENAR MILITARES POR OPERAÇÃO CONDOR", DIZ ATIVISTA
DA BBC BRASIL
29/05/2016 - 12h56
Após a Justiça argentina emitir a sentença inédita condenando à prisão militares de alta patente que participaram do chamado Plano Condor, defensores dos familiares das vítimas da ditadura esperam que o Brasil e os outros países sigam o mesmo caminho. Segundo investigadores e especialistas, o Plano Condor —ou Operação Condor— consistia na troca entre os líderes dos regimes autoritários da região de informações sobre opositores às ditaduras no Brasil, na Argentina, no Chile, no Paraguai, no Uruguai e na Bolívia. Os governos do Cone Sul agiam de forma coordenada para combater os adversários dos regimes. Além da troca de informações, determinavam perseguições, sequestros, assassinatos e "desaparições" (termo usado quando as pessoas não foram mais encontradas), como recordam historiadores.
Ativistas acompanharam condenação de militares por Operação Condor
"Esperamos que essa sentença aqui na Argentina tenha a possibilidade de gerar investigação sobre o Plano Condor no Brasil e nos outros países envolvidos naquelas ações conjuntas de perseguições e desaparecimentos nas ditaduras da região", disse à BBC Brasil a advogada Luz Palmás Zaldua, que representou o Centro de Estudos Legais e Sociais (CELS) na causa. Na sexta-feira, a Justiça argentina emitiu sentenças de até 25 anos de prisão para 17 acusados no processo, que envolveu 105 vítimas —45 uruguaios, 22 chilenos, 14 argentinos, 13 paraguaios e onze bolivianos—, de acordo com a Justiça e o CELS, que reuniu provas e defende familiares das vítimas daquele período. Segundo a advogada, "há muito a ser investigado" sobre o Plano Condor, oficializado com uma ata formal em 1975, mas "as apurações avançam de forma irregular em cada país". No Brasil, uma vasta documentação do período foi analisada pela Comissão Nacional da Verdade. No país, a Lei da Anistia, promulgada em 1979, não permite que integrantes da ditadura nem opositores que cometeram crimes sejam punidos - embora, na avaliação de alguns juristas, casos de pessoas nunca encontradas configurem crime continuado e, por isso, passíveis de julgamento. QUASE DUAS DÉCADAS DE PROCESSO A investigação judicial argentina começou em 1999, com apenas cinco casos de vítimas. Mais de 200 depoimentos e pilhas de documentos depois, ela cresceu e envolveu mais de 30 acusados por "associação ilícita e privação ilegal da liberdade", entre outros crimes. Na sexta, somente 17 deles ouviram o veredicto - os demais morreram no decorrer dos anos de investigação ou se ausentaram após serem considerados incapazes de entender o julgamento e sentença por causa de problemas de saúde. Dos presentes, dois acabaram absolvidos. Nas quase duas décadas de processo, acusados como os ex-ditadores Jorge Rafael Videla, da Argentina, Augusto Pinochet, do Chile, Hugo Banzer, da Bolívia, e Alfredo Stroessner, do Paraguai, morreram. "A Justiça argentina pediu a detenção e extradição de Pinochet, de Banzer e de Stroessner em 2000 e 2001, para que eles fossem julgados aqui. Mas os pedidos foram rejeitados. Na época, Stroessner morava em Brasília, mas o Brasil também rejeitou o pedido de extradição", afirmou a advogada, que coordena a equipe de Memória, Verdade e Justiça do CELS, à BBC Brasil. Videla chegou a prestar declaração na causa, mas morreu três dias depois na prisão - ele respondia por outros crimes contra a humanidade. Em 2007, contou Zaldua, o Brasil aceitou um novo pedido feito pela Justiça argentina para extraditar o uruguaio Juan Manuel Cordero Piacentini. Cordero, como é chamado, respondeu por 11 sequestros e desaparecimentos de uruguaios, levados para um centro clandestino mantido na Argentina. Cordero, de 78 anos, integra o grupo de condenados na sexta-feira. A maioria deles tem quase ou mais de 80 anos, segundo investigadores, e por causa disso deve cumprir prisão domiciliar. O uruguaio, no entanto, está na cadeia por ter desrespeitado normas da prisão domiciliar, contou Zaldua. Os condenados ainda poderão recorrer da sentença. Familiares das vítimas e entidades como as Mães da Praça de Maio, formada por mulheres que tiveram filhos desaparecidos na ditadura, acompanharam o resultado na sexta. Eles consideraram a data como "um dia histórico". RESPALDO AMERICANO O Plano Condor, segundo as pesquisas, era respaldado pelos Estados Unidos. Considera-se que seja responsável por 105 execuções e sequestros ocorridos durante os governos ditatoriais da Argentina (1976-1983), Brasil (1964-1985), Uruguai (1973-1985), Paraguai (1954-1989), Bolívia (1971-1978) e Chile (1973-1990). Em visita à Argentina em março passado, o presidente dos EUA, Barack Obama, determinou a retirada do sigilo de documentos americanos de inteligência relativos ao período, uma reivindicação histórica de organizações locais de direitos humanos. A sentença argentina simboliza a primeira vez em que a Justiça reconhece o esforço coordenado de ditaduras sul-americanas para o sequestro e desaparecimento de opositores.
Ativistas acompanharam condenação de militares por Operação Condor
"Esperamos que essa sentença aqui na Argentina tenha a possibilidade de gerar investigação sobre o Plano Condor no Brasil e nos outros países envolvidos naquelas ações conjuntas de perseguições e desaparecimentos nas ditaduras da região", disse à BBC Brasil a advogada Luz Palmás Zaldua, que representou o Centro de Estudos Legais e Sociais (CELS) na causa. Na sexta-feira, a Justiça argentina emitiu sentenças de até 25 anos de prisão para 17 acusados no processo, que envolveu 105 vítimas —45 uruguaios, 22 chilenos, 14 argentinos, 13 paraguaios e onze bolivianos—, de acordo com a Justiça e o CELS, que reuniu provas e defende familiares das vítimas daquele período. Segundo a advogada, "há muito a ser investigado" sobre o Plano Condor, oficializado com uma ata formal em 1975, mas "as apurações avançam de forma irregular em cada país". No Brasil, uma vasta documentação do período foi analisada pela Comissão Nacional da Verdade. No país, a Lei da Anistia, promulgada em 1979, não permite que integrantes da ditadura nem opositores que cometeram crimes sejam punidos - embora, na avaliação de alguns juristas, casos de pessoas nunca encontradas configurem crime continuado e, por isso, passíveis de julgamento. QUASE DUAS DÉCADAS DE PROCESSO A investigação judicial argentina começou em 1999, com apenas cinco casos de vítimas. Mais de 200 depoimentos e pilhas de documentos depois, ela cresceu e envolveu mais de 30 acusados por "associação ilícita e privação ilegal da liberdade", entre outros crimes. Na sexta, somente 17 deles ouviram o veredicto - os demais morreram no decorrer dos anos de investigação ou se ausentaram após serem considerados incapazes de entender o julgamento e sentença por causa de problemas de saúde. Dos presentes, dois acabaram absolvidos. Nas quase duas décadas de processo, acusados como os ex-ditadores Jorge Rafael Videla, da Argentina, Augusto Pinochet, do Chile, Hugo Banzer, da Bolívia, e Alfredo Stroessner, do Paraguai, morreram. "A Justiça argentina pediu a detenção e extradição de Pinochet, de Banzer e de Stroessner em 2000 e 2001, para que eles fossem julgados aqui. Mas os pedidos foram rejeitados. Na época, Stroessner morava em Brasília, mas o Brasil também rejeitou o pedido de extradição", afirmou a advogada, que coordena a equipe de Memória, Verdade e Justiça do CELS, à BBC Brasil. Videla chegou a prestar declaração na causa, mas morreu três dias depois na prisão - ele respondia por outros crimes contra a humanidade. Em 2007, contou Zaldua, o Brasil aceitou um novo pedido feito pela Justiça argentina para extraditar o uruguaio Juan Manuel Cordero Piacentini. Cordero, como é chamado, respondeu por 11 sequestros e desaparecimentos de uruguaios, levados para um centro clandestino mantido na Argentina. Cordero, de 78 anos, integra o grupo de condenados na sexta-feira. A maioria deles tem quase ou mais de 80 anos, segundo investigadores, e por causa disso deve cumprir prisão domiciliar. O uruguaio, no entanto, está na cadeia por ter desrespeitado normas da prisão domiciliar, contou Zaldua. Os condenados ainda poderão recorrer da sentença. Familiares das vítimas e entidades como as Mães da Praça de Maio, formada por mulheres que tiveram filhos desaparecidos na ditadura, acompanharam o resultado na sexta. Eles consideraram a data como "um dia histórico". RESPALDO AMERICANO O Plano Condor, segundo as pesquisas, era respaldado pelos Estados Unidos. Considera-se que seja responsável por 105 execuções e sequestros ocorridos durante os governos ditatoriais da Argentina (1976-1983), Brasil (1964-1985), Uruguai (1973-1985), Paraguai (1954-1989), Bolívia (1971-1978) e Chile (1973-1990). Em visita à Argentina em março passado, o presidente dos EUA, Barack Obama, determinou a retirada do sigilo de documentos americanos de inteligência relativos ao período, uma reivindicação histórica de organizações locais de direitos humanos. A sentença argentina simboliza a primeira vez em que a Justiça reconhece o esforço coordenado de ditaduras sul-americanas para o sequestro e desaparecimento de opositores.
Obs.: Cínicos, esses esquerdistas. Houve dezenas de grupos terroristas que queriam implantar o comunismo no Brasil e agora chiam que houve uma coordenação sul-americana para afastar a peste vermelha? Que vão todos para a Cuba que os pariu! (F. Maier)
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