“Lembro-me do primeiro Lula, lá por 1976, sendo apresentado por seu patrão, Paulo Villares, ao Werner Jessen, da Mercedes-Benz, e, de repente, eis que aparece o tal Lula à frente da primeira greve que houve na indústria automobilística durante o regime militar, ele que até então era apenas o amigo do Paulo Villares, seu patrão. Recordo-me de a imprensa cobrir o Lula de elogio, estimulando-o, no momento em que a distensão apenas começava, e de um episódio que é capaz de deixar qualquer um, mesmo os desatentos, com o pé atrás.”
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JOGO DURO
Mario Garnero
Eu me vi obrigado, no final do ano passado, a enviar um bilhetinho pessoal a um velho conhecido, dos tempos das jornadas sindicais do ABC…..
…Sentei e escrevi: Lula….achei que tinha suficiente intimidade para chamá-lo assim, embora, no envelope, dirigido ao Congresso Nacional, em Brasília, eu tenha endereçado, solenemente: A Sua Excelência, Luiz Ignácio Lula da Silva. Espero que o portador o tenha reconhecido por trás daquelas barbas.
No bilhete, tentei recordar ao constituinte mais votado de São Paulo duas ou três coisas do passado, que dizem respeito ao mais ativo líder metalúrgico de São Bernardo: ele próprio, o Lula. Não sei como o nobre parlamentar, investido de novas preocupações, anda de memória. Não custa, portanto, lembrar-lhe.
É uma preocupação justificável, pois o grande líder da esquerda brasileira costuma se esquecer, por exemplo, de que esteve recebendo lições de sindicalismo da Johns Hopkins University, nos Estados Unidos, ali por 1972, 1973, como vim a saber lá, um dia. Na universidade americana, até hoje, todos se lembram de um certo Lula com enorme carinho.
Além dos fatos que passarei a narrar, sinto-me no direito de externar minha estranheza quanto à facilidade com que se procedeu a ascensão irresistível de Lula, nos anos 70, época em que outros adversários do governo, às vezes muito mais inofensivos, foram tratados com impiedade. Lula, não – foi em frente, progrediu.
Longe de mim querer acusá-lo de ser o cabo Anselmo do ABC, mesmo porque, ao contrário do que ocorre com o próprio Lula, eu só acuso com as devidas provas. Só me reservo o direito de achar estranho.
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O PRIMEIRO LULA
Lembro-me do primeiro Lula, lá por 1976, sendo apresentado por seu patrão, Paulo Villares, ao Werner Jessen, da Mercedes-Benz, e, de repente, eis que aparece o tal Lula á frente da primeira greve que houve na indústria automobilística durante o regime militar, ele que até então era apenas o amigo do Paulo Villares, seu patrão. Recordo-me de a imprensa cobrir o Lula de elogio, estimulando-o, no momento em que a distensão apenas começava, e de um episódio que é capaz de deixar qualquer um, mesmo os desatentos, com o pé atrás.
Foi em 1978, início do mês de maio. Os metalúrgicos tinham cruzado os braços, a indústria automobilística estava parada e nós, em Brasília, em nome da Anfavea (N. R. – Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automores), conversando com o governo sobre o que fazer. Era manhã de domingo e estive com o ministro Mário Henrique Simonsen. Ele estivera com o presidente Geisel, que recomendou moderação: tentar negociar com os grevistas, sem alarido. Imagine: era um passo que nenhum governo militar jamais dera, o da negociação com operários em greve. Geisel devia ter alguma coisa a mais na cabeça. Ele e, tenho certeza, o ministro Golbery.
Simonsen apenas comentou, de passagem, que Geisel tinha recomendado que Lula não falasse naquela noite na televisão, como estava programado. Ele era o convidado do programa “Vox Populi” (N.R. – Era uma espécie de “Roda Viva” da época), que ia ao ar na TV Cultura – o canal semi-oficial do Governo de São Paulo. Seria uma situação melindrosa. “Nem ele, nem ninguém mais que fale em greve”, ordenou Geisel.
Saí de Brasília naquela manhã mesmo, reconfortado pela notícia de que ao governo interessava negociar. Desci no Rio com as malas e me preparei para embarcar naquela noite para uma longa viagem de negócios que começava nos Estados Unidos e terminava no Japão. Saí de Brasília também com a informação de que Lula não ia ar naquela noite.
Mas foi, e, no auge da conflagração grevista, disse o que queria dizer, numa televisão sustentada pelo governo estadual. Fiquei sabendo da surpreendente reviravolta da história num telefonema que dei dos Estados Unidos, no dia seguinte. Senti, ali, o dedo do general Golbery.
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PEÇA SINDICAL
Mais tarde, tive condições de reconstituir melhor o episódio e apurei que Lula só foi ao ar naquele domingo porque no vai-não-vai que precedeu o programa, até uma hora e meia antes do horário, prevaleceu a opinião do Golbery, que achava importante, por alguma razão, que Lula aparecesse no vídeo. O general Dilermando Monteiro, comandante do II Exército, aceitou a argumentação, e o governador Paulo Egydio Martins, instrumentado pelo Planalto, deu o nihil obstat final ao “Vox Populi”.
Lula foi a peça sindical na estratégia de distensão tramada pelo Golbery – o que não sei dizer é se Lula sabia ou não sabia que estava desempenhando esse papel. Só isso pode explicar que, naquele mesmo ano, o governo Geisel tenha cassado o deputado Alencar Furtado, que falou uma ou outra besteira, e uns políticos inofensivos de Santos, e tenha poupado o Lula, que levantava a massa em São Bernardo. É provável que, no ABC, o governo quisesse experimentar, de fato, a distensão. Lula fez a sua parte.
Mais tarde, ele chegou a ser preso, julgado pelo Supremo Tribunal Federal, enfrentou ameaça de helicópteros do Exército voando rasantes sobre o Estádio de Vila Euclides, mas tenho um outro testemunho pessoal que demonstra tratamento respeitoso, eu diria quase especial, conferido pelo governo Geisel ao Lula – e por governo Geisel eu entendo, particularmente, o general Golbery.
Antonio Santos Aquino/Tribuna da Internet - Ao contrário do que se pensa, Lula não foi contemporâneo de Joaquinzão no sindicalismo. Lula surgiu com apoio de Golbery e da Federação das Indústria do Estado de São Paulo para tirar de Joaquinzão a liderança que exercia através da CGT (Comando Geral dos Trabalhadores). Lula não é o ignorante que muitos pensam, senão vejamos: Lula passou em 1968 pelo IADESIL (Instituto Americano de Desenvolvimento do Sindicalismo Livre), escola de doutrinação mantida desde 1963 em São Paulo pelos norte-americanos da ALF-CIO (American Federation of Labor Congresso Industrial Organization), que surgiu em 1955 e é a maior Central Sindical dos EEUU. Tanto a IADESIL como a ALF-CIO ministram cursos contra-revolucionarios de liderança sindical. Lula aproximou-se dos militares por intermédio do empresário Paulo Villares (Indústrias Villares). Posteriormente, em 1972/73, fez um Curso de Sindicalismo na Johns Hopkins University, em Baltimore, nos EEUU. Isso foi registrado no livro “Jogo Duro”, de Mario Garnero, e nunca foi desmentido, por Lula e o PT. O professor Chico de Oliveira, um dos fundadores do PT, disse no programa “Roda Viva” que ninguém conhece o Lula e que ele não tem caráter. Chico Oliveira deve saber de muita coisa para poder dizer isso. As idéias de Lula para o sindicalismo são as teses da ALF-CIO. O sindicalismo brasileiro está sendo dia a dia desfigurado. Agora mesmo haverá uma reforma da legislação trabalhista que vem para prejudicar os trabalhadores. Esta é a realidade.
- Lula foi criação do general Golbery para neutralizar Leonel Brizola, que, com a anistia, voltaria ao Brasil muito forte como líder da classe trabalhadora. Na figura, ora em apreciação, nunca depositei confiança. Não assumiu, no decurso da vida, compromisso com valores éticos. Quer vencer, pouco importa o meio empregado para conquistar os resultados. O sucesso, principalmente no mundo contemporâneo, não há de ser obtido apenas com espertezas. Torna-se essencialíssima a real capacidade. Leonel Brizola foi sempre combatido pelas classes conservadoras e sua imprensa, mancomunadas com os representantes de interesses alienígenas. Com o filhote do general, foi tudo diferente. Leniência total. Na eleição que ganhou, direitistas empedernidos sufragaram o seu nome.
Carlos Newton - O comentarista Sergio Oliveira nos envia trecho do livro “Jogo Duro”, do empresário Mario Garnero, que é frequentemente citado aqui no Blog da Tribuna por Antonio Santos Aquino. Nessa parte de seu livro de memórias, Garnero cita a proteção que no governo Geisel o poderoso general Golbery do Coutto e Silva dava ao então líder sindical Lula, na intenção de criar uma alternativa de esquerda para enfraquecer Leonel Brizola, que na época seria imbatível em eleição presidencial direta. Golbery, como se sabe, era a eminência parda (ou melhor, verde oliva) da ditadura militar, uma espécie de Rasputin fardado...
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