Memória do
Movimento Estudantil: Histórico da UNE
por Jorge Baptista Ribeiro (*) em 12 de março de
2005
Resumo: Uma análise do histórico
da UNE e sua atuação no movimento estudantil brasileiro desde os anos 60, sem
as mistificações de praxe adotadas pela grande mídia.
© 2005 MidiaSemMascara.org
Motivado pelo pedido da União
Nacional e Estudantes (UNE) que vem pipocando nos intervalos comerciais da TV
Globo, para que o povo unido que jamais será vencido ajudasse a construir e
disseminar a memória do Movimento Estudantil, fui navegar no site indicado na
propagada, a fim de verificar em que eu podia ajudar, pois além de ser
testemunha ocular do Movimento Estudantil antes, durante e depois dos “anos de
chumbo”, como estudante universitário na década dos anos 60, etc., julgo-me
habilitado para contribuir.
De mais a mais, eu sempre tive o
hábito de anotar o meu dia-a-dia, além de ler jornais dos quais recortava as
notícias que de perto me interessavam, guardando os recortes para escrever as
minhas memórias, quando chegasse à situação de vagabundo, como o ex-presidente
Fernando Henrique qualificou os aposentados. Logo, faz sentido eu atender a tão
atraente apelo da UNE, colaborando para que a memória dessa entidade seja a
mais completa possível, espelhando verdades, normalmente omitidas ou falseadas.
É claro que uma andorinha só não
faz verão! Portanto, reforçando o apelo da UNE, concito a todos que também
puderem contribuir para uma modelar memória das façanhas da “esperta” garotada
que se incorporem ao projeto, com seus conhecimentos, vivencias, etc. Aliás, o
momento é bastante oportuno, pois a ordem é: vamos abrir os arquivos.
Inicialmente é preciso que se diga
que a UNE, juntamente com a União Brasileira de Estudantes Secundaristas
compõem o denominado Movimento Estudantil (ME).
Pela coincidência de algumas
reivindicações específicas da sua categoria profissional com as dos estudantes
e, portanto, identificando-se com o ME, surgiu um campo fértil para a comunhão
político-ideológica de professores e alunos, tanto do ensino fundamental (ex-1º
grau) como do ensino médio (ex-2º grau). Logo foram fundadas a Associação
Nacional dos Docentes do Ensino Superior do Brasil (ANDES) e a Confederação dos
Professores do Brasil (CPB), as quais, agindo separadamente ou em conjunto,
criavam impasses de difícil solução, promoviam passeatas, greves, arruaças de
rua, sempre se solidarizando com as atividades políticas do ME e, assim,
caracterizando um movimento politicamente organizado de massa: O Movimento de
Professores (MP).
Por seu turno, os funcionários de
universidades criaram em 19 de dezembro de 1978, a Federação das Associações
das Universidades Brasileiras (FASUBRA) que, inicialmente, aparentava não ser
dominada por organizações comunistas, limitando-se a pertinentes reivindicações
sobre a remuneração da categoria, tão ou mais mal paga do que o professorado.
Entretanto, em janeiro de 1984, quando se realizou o I Congresso da classe, foi
eleita para a presidência daquela entidade a ativa militante do Partido Comunista
do Brasil (PC do B), Vânia Galvão. Daí em diante, as manifestações dos
funcionários das universidades foram reforçadas por integrantes engajados de
muitos outros estabelecimentos de ensino não universitários, configurando-se o
Movimento de Funcionários (MF), nos mesmos moldes do ME e MP, isto é,
orientados e dirigidos por militantes de organizações comunistas.
O conjunto de atividades
reivindicatórias, calcado em conhecidos jargões e palavras-de-ordem
esquerdistas, os procedimentos similares do ME, MP e MF e organizações
comunistas, impõem um tratamento analítico mais amplo, isto é, analisarem-se as
ocorrências num contexto de Movimento Educacional (M Ed), por sua vez integrado
no Movimento Comunista Brasileiro, parte do Movimento Comunista Internacional.
Para não muito me estender,
limito-me a citar alguns exemplos da direção do ME por organizações comunistas,
para melhor iluminação do cenário subversivo dos denominados “Anos de Chumbo” e
dos dias atuais:
Depois de acirradas disputas se
revezando na manipulação de estudantes, o PCB agia, por intermédio da tendência
“UNIDADE“, enquanto o PC do B executava a mesma tarefa, sob a capa do grupo
VIRAÇÃO”. A Convergência Socialista (CS), organização trotskista que sem ser
molestada pela “repressão”, em 1978 registrou-se em cartório da cidade de São
Paulo como personalidade jurídica, mostrando que não “chovia” tanto chumbo,
como dizem, originava-se da reunião, em 1973, de exilados brasileiros no Chile
os quais, antes da queda de Salvador Allende, lá procuravam se reorganizar sob
a denominação PONTO DE PARTIDA (PP), em 1974 transformada na Liga Operária (LO)
e, em 1978, dando lugar ao Partido Socialista dos Trabalhadores (PST) que muito
trabalhou no âmbito do Movimento Operário (MO), para a criação do Partido dos
Trabalhadores (PT). A CS atuava, inicialmente, no meio estudantil em busca de
quadros para preencher funções de realce na cúpula daquela organização
subversiva. Fundindo-se com o braço secundarista da revisionista Organização
Socialista Internacionalista (OSI), o “LIBERDADE E LUTA” (LIBELU) gerou o grupo
ALICERCE DA JUVENTUDE SOCIALISTA (AJS), dando prosseguimento à sua marcante
atuação subversiva no ME.
Exemplo mais recente da
manipulação de estudantes por partidos políticos comunistas foi noticiado no
jornal O Globo de 13/07/2003: Entidades praticamente desconhecidas do público,
como a União da Juventude Socialista (UJS) e a Aliança da Juventude
Revolucionária (AJR), orientadas por partidos políticos esquerdistas, na sede
da UNE, situada no bairro do Catete/RJ, formavam comissão para promover
badernas de rua, mascaradas pela reivindicação do passe livre. Tal comissão foi
formada basicamente por agentes do PC do B, ao qual se liga a UJS e pelo
Partido da Causa Operária (PCO), cujo braço estudantil é a AJR. Há ainda a
Alternativa Socialista e o Fazendo a Diferença, braços do PT e a Juventude do
Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado (PSTU), fazendo os jovens de
joguete do comunismo apátrida.
Continuando a navegar no site da
UNE pude constatar que figuras ilustres e mais categorizadas do que eu, também
estão prestigiando o ME, tais como: ex-presidentes e ex-militantes da UNE e da
UBES, jornalistas como, por exemplo, Franklin Martins (1), cineastas, artistas,
santas criaturas do clero esquerdista, líderes do Movimento dos Sem Terra
(MST), entidades cubanas como a Organização Continental Latino Americana e
Caribenha de Estudantes (OCLAE), a Federação Estudantil Universitária (FEU), a
Federação Estudantil de Ensino Médio (FEEM), a União da Juventude Comunista de
Cuba (UJC), a Central Globo de Comunicação, cujo diretor, Luis Erlanger, disse
alegrar-se quando ouve o bordão “Globo e PC do B, tudo a ver”, autores de
novelas da TV Globo, a Petrobrás, a Fundação Roberto Marinho, o jornal O Globo
e o secretário-executivo do Ministério da Educação, Fernando Haddad, também
integrante do grupo executivo da atual reforma universitária e da diretoria da
UNE, além do ministro da Educação, Tarso Genro (2).
Prosseguindo, eis mais
colaboração, fruto de relatórios de inquéritos, documentos e livros à
disposição de interessados, pois de domínio público:
Da Resolução do Partido Comunista
Brasileiro (PCB), baixada em outubro de 1961, transcrevemos o seguinte trecho:
“Dentre os setores da pequena
burguesia, foram os estudantes que desempenharam o papel político mais ativo. A
unidade e o desassombro dos estudantes, decretando a greve em todo o País,
contribuíram para a ampliação e a firmeza da nossa luta”.
Em julho de 1962, o PCB lançou
nova Resolução Política, na qual assim se manifestava:
“Nas cidades é, sobretudo, o
movimento estudantil que expressa a crescente indignação das camadas médias,
cada dia mais afetadas pela inflação, pelas dificuldades de abastecimento de
gêneros mais essenciais, pelos problemas da habitação, transporte, saúde e
educação. A greve nacional universitária revelou a força do movimento
estudantil e seu crescente papel na vida política nacional”.
Ainda em 1962, a revista NOVOS
RUMOS, número 200 (15/20 dezembro) – órgão de divulgação do PCB – publicava o
que abaixo transcrevo, clarificando que o nacionalismo xenofóbico, no mais das
vezes ingênuo e inconseqüente, sempre foi e será de mil e uma utilidades para o
proselitismo dos comunistas, pois muita gente de boa cepa, por razões diversas
que aqui não são oportunas, se presta ao triste papel de “colocar azeitonas em
pastéis de recheio vermelho”:
“Ao mesmo tempo, devemos atuar no
sentido de unir na frente nacionalista e democrática a pequena burguesia
urbana, sobretudo os estudantes que constituem uma importante força
revolucionária, assim como a intelectualidade progressista e a burguesia ligada
aos interesses nacionais”.
No discurso proferido por João
Goulart, no Rio de Janeiro, em 13 de março de 1964, no Comício das Reformas que
assisti dentro do palanque instalado em frente ao edifício da Central do
Brasil, posso citar o seguinte trecho no qual o presidente da República
enfatizou o papel dos estudantes no processo que vinha se desenvolvendo, para
transformar a República Federativa do Brasil numa República
anarco-sindicalista:
“Também está consignada nesta
mensagem (reformas – grifo meu), a reforma universitária reclamada pelos
estudantes brasileiros, reclamada pelos universitários que sempre têm estado
corajosamente na vanguarda de todos os movimentos populares e nacionalistas”.
Outro documento vindo de Moscou
que, ao final da década dos anos 60, viria a instruir inquérito policial,
apontava as universidades como um meio propício à difusão de idéias
revolucionárias, como se segue:
“Sujeitos a continuas emoções,
constantemente renovadas por nossos agentes, nem sempre sabem ou podem os
estudantes controlar o seu estado emocional. Experimentam, destarte, de maneira
exuberante, todas as manifestações do amor, do sexo, da arte, da pobreza e da
beleza. É nas Universidades, onde os jovens de ambos os sexos se reúnem para
debater problemas econômicos, históricos, políticos e sociais, para depois
difundir as idéias revolucionárias, as quais não tardarão a frutificar”.
Para não ficar só falando dos
russos, porque isso poderia causar desgostos aos representantes do atual
Governo brasileiro que foram à China para se ilustrar sobre os direitos
humanos, embora lá, estes sejam costumeiramente violados, a UNE poderia,
também, consignar na memória do Movimento Estudantil a orientação contida em um
boletim que, em 1969, lhe chegou às mãos, vindo de Pequim e que a seguir
transcrevo:
“O manifesto antagonismo político
e os protestos que se sucedem preocupam seriamente os estudantes do mundo
capitalista. Os jovens se mostram entusiastas e extremamente ciosos dos seus
direitos. Gostam de ser ouvidos e clamam ostensivamente pelos seus direitos.
Nos últimos anos decidiram abandonar a razão, a ordem e a lei, para adotar o
seu descontentamento político. Bem conduzidos e orientados por nossos
experientes agentes, poderão chegar até mesmo à violência criminosa que, se
preciso for, utilizaremos”.
No dia 7 de junho de 1962, na
cidade de São Paulo, ocorreu uma greve de universitários de grandes proporções.
No relatório do inquérito aberto pela polícia paulista, para apurar quais os
seus responsáveis pode-se ler:
“Nela elementos não identificados,
mas sensivelmente estranhos à classe estudantil, insuflavam o prosseguimento da
greve, fazendo passar, de mão em mão, bilhetes datilografados, onde se lia: -
Nossa campanha vai de vento em popa. Os fósseis já perderam a autoridade. Não
tugiram nem mugiram, diante da nossa investida, estão acovardados e não se
animam a reagir. Pé na tabua, enquanto os bons ventos estão soprando. Amanhã
pode ser tarde. Os gorilas estão na moita. Não sabem o que pretendem. Mas os
micos estão ativos. Cuidado com eles. Se houver pancadaria tratem de arranjar
muitas vítimas. A imprensa está preparada e a nosso favor. Preparem as fotos.
Devem ser feitas com atenção, por gente capaz. Não percam tempo. Nunca houve
maior oportunidade. Governo avacalhado, divergências entre gorilas e Aragarças,
bóia pela hora da morte. Descontentamento geral. Somos 34.000. Nem todos se
afinam com o grupo, mas, por bem ou por mal, acabam aderindo. É só questão de
jeito e vaselina. Gaita não falta para amolecer os duros e forçar os moles.
Aguardem instruções dos sabidos”.
Outro registro digno de ser
incorporado à Memória do ME, seria o que assim, em 1963, preceituava:
“Os estudantes devem pleitear, com
maior energia e persistência, reivindicações cada vez maiores, prevalecendo-se
da Reforma do Ensino em andamento. Há um todo interesse na criação de um clima
de agitação e na desmoralização das autoridades universitárias, a fim de obrigar
as autoridades federais a dar amplo e irrestrito apoio à União Nacional dos
Estudantes. Para isso contamos com a conivência de muitos professores,
livres-docentes, assistentes, antigos alunos e, sobretudo, com os “estudantes
crônicos”, como ponto básico para alcançar o que pretendemos. Contamos, também,
com o apoio de operários, e lavradores, interessados na luta armada para a
posse da terra”.
Também poderiam fazer parte da
Memória da UNE outras recomendações, contidas em um livreto, intitulado “CAMINHO
DA HUMANIDADE – DAS CAVERNAS AO COMUNISMO”. Nele os propagandistas do credo
vermelho recomendavam aos estudantes “uma ação politizadora intensa no seio das
massas, feita por meio de aulas impressas, distribuídas aos ainda não engajados
e aos operários”.
Stalin, em “Questões do
Leninismo”, página 503, edição mexicana de 1941, produziu um ensinamento que
acredito em muito ajudaria a UNE a mais arregimentar jovens estudantes para o
seu “Movimento Salvador da Humanidade”. Lá, está dito:
“É certo que os jovens não possuem
os conhecimentos necessários. Mas conhecimentos se adquirem. Hoje não os
possuem, mas amanhã tê-los-ão. Por esse motivo o problema é ensiná-los até que
assimilem o leninismo. Camaradas da Juventude Comunista: aprendei, ensinai o
bolchevismo e empurrai os vacilantes! Falai menos e trabalhai mais e vereis
como tudo marcha facilmente!”
Ainda no site da UNE encontrei
algumas queixas sobre dificuldades financeiras daquela entidade que por uma
lacuna na Memória do ME, para a qual agora contribuo, deixou de dizer que a
fonte que secou vinha de Moscou, por intermédio, principalmente, da União
Internacional de Estudantes (UIE). A UIE estava sediada em Praga, tinha como
vice-presidente um brasileiro, - Nelson Vanuzzi - e se tornara praticamente na “Seção
Estudantil do Cominform”, conforme referência do Presidente da União Nacional
de Estudantes da Inglaterra. Bem se encaixaria nessa lembrança o fato da UIE
ter financiado em 1963, em Salvador/Bahia, o Seminário Internacional de
Estudantes dos Países Subdesenvolvidos e, inclusive, ter contribuído com cinco
mil dólares, para subsidiar a Campanha de Alfabetização de Adultos, patrocinada
pelo Ministério da Educação e Cultura de Jango Goulart, naquela época dirigido
por um outro Tarso:
“O também comunista Paulo de Tarso
Santos, um dos elementos que, juntamente com o frade jesuita Cardonnel, o padre
brasileiro Henrique de Lima Vaz e o estudante Herbert José de Souza - vulgo
Betinho –, exerceu grande influência na estruturação da organização
marxista-leninista Ação Popular (AP), cria da esquerda clerical católica”.
Seria de grande significado para o
Movimento Estudantil brasileiro e, portanto, digno de registro na memória da
UNE, o intenso relacionamento da UNE com a Federação Mundial da Juventude Democrática
(FMJD), inicialmente uma entidade apolítica, criada em 1945, mas já em 1949
dominada pelos comunistas. Tinha a sua sede em Budapest, após ter sido expulsa
da França e se transferindo para Praga durante a Revolução Húngara.
Também seria de imenso valor
histórico para a posteridade, a menção na Memória do Movimento Estudantil, de
que da mesma forma que atualmente o PT seleciona os estudantes para cursos em
Cuba, cabia ao PCB a seleção dos estudantes brasileiros que naquela época
deviam freqüentar escolas soviéticas, como a Universidade Patrice Lumumba ou os
centros de treinamento guerrilheiro e politização da Tchecoslováquia.
O contato permanente da UNE com a
subversiva Central Geral de Trabalhadores (CGT), no seio da Frente de
Mobilização Popular e o comparecimento de instrutores cubanos de guerrilhas na
sua sede social, julgo seja outra valiosa informação colaboradora que presto ao
projeto de Memória daquela agremiação de estudantes que, conforme nos contou o
Arnaldo Jabor (O Globo de 17/8/2004), era um celeiro de gatinhas que eram
convencidas da necessidade da prática do amor livre nos “aparelhos”, para que o
imperialismo ianque fosse aniquilado.
Para que o clero esquerdista não
me acuse de parcial, devo falar da estreita colaboração de dois grandes
“padrinhos” do Movimento Estudantil que, se não homenageados pelos
organizadores da memória estudantil, sem dúvida, serão injustiçados: que me
perdoem a Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e um sem número de
outros “religiosos” progressistas, brasileiros e estrangeiros.
D. Evaristo Arns e D. Helder
Câmara merecem destaque. D. Arns que em 1964 foi de encontro às tropas que
deram o “Kick off” na Contra–Revolução de 1964, para abençoá-las, em 1978 fez
publicar no periódico da sua Arquidiocese a realização do II Encontro da
Pastoral Universitária, a realizar-se de 28 a 30 de julho na cidade de São
Paulo, com a participação dos estudantes das Comunidades Universitárias de Base
de São Paulo/SP, Rio Grande do Sul, Lins/SP, Ribeirão Preto/SP, Belo Horizonte/
MG, Juiz de Fora/MG, Rio de Janeiro/RJ, Bauru/SP e São José do Rio Preto/SP.
Essa divulgação de Sua Eminência Reverendíssima revelava que a “Comunhão de
Base” estava se articulando na Universidade de São Paulo e em outras cidades.
Reiterava o papel crítico que pode assumir a universidade na transformação da
sociedade, aduzindo que o Encontro foi restabelecido após 10 anos de
interrupção. Concluía que o momento era de construção.
D. Helder, por sua vez, em
novembro de 1977 publicou na Arquidiocese de Olinda e Recife o documento
intitulado Assembléias, nº 2, contendo as diretrizes operacionais para o
Movimento Estudantil, sob o título “Movimento Estudantil e Pastoral
Estudantil”. Segundo esse documento a educação, em qualquer sistema social, situava-se
ao nível de superestrutura e, em conseqüência, quem procurasse operar mudanças
no âmbito educacional, estaria contribuindo para a mudança do sistema social.
Quanto ao Movimento Estudantil, o Reverendíssimo D. Helder, assim se manifestou
nesse mesmo documento:
“O Movimento Estudantil é a
mobilização e organização dos estudantes para lutar contra esse estado de
coisas (contradições sociais – grifo meu). Ele surgiu e se fortaleceu com o
objetivo específico de lutar por uma educação libertadora e pela construção de
uma sociedade autenticamente democrática. A Igreja está a serviço do Homem e
tem uma tarefa de libertação”. (Grifo do documento)”.
Embora mais tivesse para contar,
para não cansar os meus leitores fico por aqui com a minha pequena mas sincera
e humilde colaboração ao Projeto da Memória do Movimento Estudantil da UNE.
Entretanto, quero aproveitar o
ensejo para ressaltar a enorme responsabilidade da família e da escola para que
os nossos jovens não sejam utilizados como bucha de canhão, por mãos perversas,
como se pode ver, resumidamente, acima, no meu atendimento ao apelo da UNE e no
filme “O que é isso, companheiro?”, baseado no livro do ex-militante da UNE,
guerrilheiro urbano e seqüestrador, o hoje deputado federal, Fernando Gabeira.
Nesse filme se vêem “chefões”, se resguardando e motivando jovens carentes,
desassistidos e maldosamente pervertidos, para irem às ruas levarem pancadas da
polícia, etc.
Enfatizando a importância da
família como primeira responsável pela formação básica do caráter da prole e da
escola, genericamente, como encarregada da complementação educativa que desde
as primeiras letras à fase universitária constrói ou deforma elite do amanhã,
apresento o resultado do teste de personalidade de Rorschach, para aferição do
perfil psicológico, ao qual foram submetidos, voluntariamente, 44 jovens,
dentre os estudantes presos no Rio de Janeiro em 1968.
Dos 44 examinados, 32 (73%) foram
considerados como pessoas portadoras de sérias dificuldades de relacionamento,
escasso interesse humano e social ou angustias por imensa dificuldade de
comunicação. Como imaturos foram apontados 23, dos quais, cerca da metade,
estava incluída no grupo de difícil relacionamento; 18 foram incluídos no grupo
dos desajustados, sendo que 3/4 dos mesmos pertenciam ao grupo dos difíceis.
Posteriormente foi verificado, por
intermédio de um questionário aplicado por psicólogos que desconheciam a
aplicação do teste, que esses jovens, na sua maioria, provinham de lares mal
estruturados por problemas de alcoolatria, prevaricação, conflitos entre os
pais, abandono dos seus chefes, privações financeiras, tiveram perversores na
vida escolar que mais agravaram os seus desajustes e inundaram seus corações de
ódio.
Finalizo, lembrando que o futuro
de uma Nação pode ser visualizado na justa medida da preponderância ou não da
família organizada, da isenção ou engajamento ideológico no ensino escolar e do
espírito cristão, suplantando ou sucumbindo ao materialismo.
NOTAS:
(1) FRANKLIN DE SOUZA MARTINS
("WALDIR", "FRANCISCO", "MIGUEL",
"ROGERIO", "COMPRIDO", "GRANDE",
"NILSON", "LULA")
- Filho do falecido senador
esquerdista Mário Martins, ingressou no PCB em 1966, atuando no Comitê
Secundarista da então Guanabara.
- Foi militante da DI/GB e do
MR-8. Foi presidente do DCE/UFRJ e vice-presidente da UNE.
- Em Out 68, foi preso no
Congresso da UNE, em Ibiúna.
- Em Abr 69, foi eleito para a
Direção Geral do MR-8 e, em meados desse ano, participou do seqüestro do
embaixador dos EUA.
- Em fins de 1969, fugiu do Brasil
no esquema da ALN, indo fazer curso em Cuba.
- Refugiou-se em Santiago do
Chile, onde, em Dez 72, foi eleito para a nova Direção Geral do MR-8; regressou
ao Brasil em Fev 73, indo estruturar o Comitê Regional de São Paulo.
- Atualmente (e desde há alguns
anos), trabalha como comentarista político da Rede Globo de TV e já foi diretor
da sucursal do jornal "O Globo" em Brasília/DF.
- Redigido por Franklin Martins e
Fernando Gabeira e aprovado por Joaquim Câmara Ferreira, o "Velho" ou
"Toledo", ficou pronto o panfleto que seria deixado no carro do
embaixador após a ação.
- Esse manifesto inseria o
seqüestro dentro do contexto das demais ações terroristas, classificando-o como
um "ato revolucionário". Fazia propaganda
"anti-imperialista", acusando o embaixador de representante dos
"interesses espoliativos norte-americanos no Brasil". Exigia a
libertação de quinze presos políticos - a serem anunciados oportunamente - que
deveriam ser conduzidos para a Argélia, Chile ou México, onde lhes deveria ser
concedido asilo político. A outra exigência era "a publicação e leitura
completa dessa mensagem nos principais jornais e estações de rádio e televisão
de todo o país".
- Finalizando o manifesto, um
ultimato concedia 48 horas para o governo aceitar as condições impostas e mais
24 horas para que os presos fossem transportados para o exterior em segurança;
o não atendimento das condições acarretaria o assassinato - segundo eles, o
"justiçamento" - do embaixador americano. O manifesto era assinado
pela Aliança Nacional Libertadora (ALN) e pelo Movimento Revolucionário 8 de
Outubro (MR-8).
(2) TARSO FERNANDO HERZ GENRO
("CARLOS, "RUI")
- Gaúcho de Santa Maria/RS, onde
foi Aspirante R/2 de Artilharia.
- Em 1966, atuava na UNE e era
militante do PC do B. Atraído para a luta armada, saiu do PC do B e ingressou,
em 1968, na Ala Vermelha. Em 1970, ficou preso durante três dias no DOPS;
solto, fugiu para o Uruguai. Na década de 80, foi militante do clandestino
Partido Revolucionário Comunista (PRC). Ingressou no PT, pelo qual foi deputado
federal e vice-prefeito de Porto Alegre.
- Ex-prefeito de Porto Alegre,
candidatou-se ao governo do Estado, tendo perdido em 2º turno.
- Atualmente (2004) é o Ministro
da Educação do Governo de Lula da Silva e envida seus melhores esforços numa
Reforma do Ensino, nitidamente, consentânea com a ideologia totalitarista que
continua professando.
(*) O autor, Coronel R/1 do
Exército, é bacharel em Ciências Sociais, pela então Universidade do Estado da
Guanabara e um estudioso da Guerra Revolucionária.
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