CORONEL ACUSADO DIZ QUE ABRIGOU TARSO EM 64
Tribuna da Imprensa, 070808
SÃO PAULO - Em documento de 32 páginas enviado à Justiça de São Paulo, onde é réu em duas ações civis por torturas que teria praticado ou ordenado nos anos 70, o coronel reformado do Exército Carlos Alberto Brilhante Ustra inclui informação que reputa prova importante de que sua índole é boa e, como tal, seria incapaz de agredir semelhantes.
Segundo Ustra, foi sua família quem abrigou nos idos de 64, após a revolução de 31 de março, um jovem estudante gaúcho, de 17 anos, que temia estar na mira da repressão.
Tarso Fernando Herz Genro era o nome daquele rapaz, segundo relata o oficial a quem as entidades de direitos humanos conferem o rótulo de símbolo dos porões. No auge dos anos de chumbo, então major, Ustra comandou o Destacamento de Operações de Informações - Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi) do antigo II Exército.
Hoje com 61 anos e ministro da Justiça, Tarso sustenta que os atos de arbítrio cometidos durante o período militar não se classificam como crimes políticos e devem ser punidos com base no Código Penal. Segundo o ministro, os agentes públicos que cometeram violências não devem ter privilégio.
As declarações de Tarso sobre o tema deixaram Ustra indignado. Por e-mail a seus advogados de defesa, o coronel narra o episódio que diz ter ocorrido há 44 anos.
"A família que abrigou Tarso Genro foi a minha. Meu irmão José Augusto, advogado, já falecido, na época da Contra-Revolução, em 1964, era colega de colégio ou aluno da faculdade, não me recordo mais, e era muito amigo do Tarso. Tarso fugiu e se refugiou em Rivera, fronteira do Brasil com o Uruguai. Como nunca foi procurado, com medo de voltar ao Brasil e ser preso, pois já era um agitador do Partido Comunista, telefonou ao meu irmão e pediu socorro."
O coronel afirma: "Como meu irmão era noivo da filha do secretário da Segurança Pública do Rio Grande do Sul, coronel Athos Teixeira Baptista, pediu ao futuro sogro que ninguém fizesse nada com o Tarso, o que aconteceu. Meu irmão foi à Rivera, apanhou Tarso e o apresentou ao coronel Athos, em Porto Alegre. O coronel intercedeu para que Tarso fizesse o NPOR (Núcleo de Preparação de Oficiais da Reserva) no Regimento Mallet, onde ele foi matriculado e se tornou oficial de Artilharia."
"A descrição do comportamento do réu e seus familiares desborda e afronta a descrição de ser a família de Ustra contumaz transgressora de direitos individuais", argumentam os advogados Paulo Esteves, Sérgio Toledo e Salo Kibrit, defensores de Ustra. Eles incluíram a carta do coronel no documento razões finais que apresentaram à 23ª Vara Cível. "A personalidade de Ustra e seus familiares não se compatibiliza com torturas e violências."
Obs.:
Sobre os Genro, leia depoimento do General Rui de Paula Couto em "História Oral do Exército - 31 de Março de 1964":
O
pai de Tarso Genro apoiou o Movimento de 1964
“A marcha que fizemos nos
moldes da Marcha da Família com Deus pela Liberdade foi impressionante. Lotou a
Avenida Dr. Bozzano. Montamos um palanque ao lado do QG, no fim da avenida, ali
em frente ao Sétimo. Nesse palanque estavam todas as autoridades que haviam nos
apoiado, inclusive o Prefeito em exercício [de Santa Maria, RS], Adelmo Simas
Genro, pai do Tarso Genro – na época um garotão que, por sinal, foi até preso,
porque andou fazendo anarquia na cidade. Aquela avenida ficou lotada, de ponta
a ponta; nunca houvera, nem haverá, manifestação igual” (General-de-Exército
Rui de Paula Couto, Tomo 13, pg. 40).
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