MEMORIAL 31 DE MARÇO DE 1964

MEMORIAL 31 DE MARÇO DE 1964
Avião que passou no dia 31 de março de 2014 pela orla carioca, com a seguinte mensagem: "PARABÉNS MILITARES: 31/MARÇO/64. GRAÇAS A VOCÊS, O BRASIL NÃO É CUBA." Clique na imagem para abrir MEMORIAL 31 DE MARÇO DE 1964.

quarta-feira, 15 de abril de 2020

Vladimir Herzog: agente duplo?


São Paulo, domingo, 14 de janeiro de 2007 
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Egydio relata suspeita sobre Herzog e faz crítica a d. Paulo
Ex-governador diz que cônsul inglês teria dito que jornalista era do seu Serviço Secreto

Viúva de Herzog afirma que história contada em depoimento é "absurda, uma invencione que não tem pé nem cabeça"


MÔNICA BERGAMO

COLUNISTA DA FOLHA

Às vésperas de completar 80 anos, o ex-governador de SP, Paulo Egydio Martins, lançará em março um livro de memórias sobre sua participação política no período militar.
Paulo Egydio fez parte da conspiração que levou ao golpe de 1964, foi ministro da Indústria e Comércio do governo Castello Branco (1964-1967) e governador de SP entre 1975 e 1979, período em que Ernesto Geisel era o presidente.
No governo de SP, viveu crises como as das mortes do jornalista Vladimir Herzog e do operário Manoel Fiel Filho no DOI-Codi em SP, e deu posse a Lula na presidência do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo. Paulo Egydio é filiado ao PSDB, mas está afastado da política e hoje preside a ItauCorp, holding do grupo Itaú.
O livro é resultado de um depoimento de 600 páginas do ex-governador ao CPDOC-FGV, o centro de pesquisa e documentação histórica da Fundação Getúlio Vargas.

VLADIMIR HERZOG
O ex-governador afirma que desconfiou desde o primeiro dia da tese do regime de que o jornalista se suicidou. E diz que houve "outro fato" sobre o qual é "obrigado" a depor "perante a história". Pouco depois da morte de Herzog, o cônsul inglês em SP, George Hall, teria dito a ele: "Você sabe qual foi a última pessoa que o Herzog viu antes de morrer? Foi a mim. Herzog prestava serviços para o Serviço Secreto inglês".
"Achei aquilo absolutamente estapafúrdio, mas ele era um homem que parecia equilibrado", diz Egydio, ressaltando que não está "afirmando que Herzog tenha realmente sido do Serviço Secreto inglês", mas apenas "contando o que o George Hall me comunicou". O diplomata inglês, que também foi embaixador no Brasil, faleceu em 1980. Segundo Egydio, teve "morte súbita". "Alguma coisa esquisita ocorreu. Para mim é um mistério até hoje."
Clarice Herzog, viúva de Herzog, diz que "essa história é absurda, uma invencionice que não tem pé nem cabeça. O Vlado nunca teve envolvimento político na vida dele, era um intelectual. Entrou no PCB pouco antes de morrer". Para Clarice, "é até uma afronta ele [Egydio] contar uma história dessas sendo que nenhum dos envolvidos está aqui para desmenti-lo". Ela diz que Herzog saiu de casa direto para o DOI-Codi, local a que cônsul algum tinha acesso: "Um dos dois [Egydio ou Hall] é louco ou mentiroso".

LULA
Em 1975, Paulo Egydio deu posse a Lula na presidência do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo. "Isso provocou uma reação da chamada comunidade de informações", diz. Geisel teria perguntado "o que deu na cabeça" de Paulo Egydio. Ele explicou que Lula era adversário dos comunistas. Geisel relaxou: "Mas eu não sabia que ele tinha derrotado os comunistas". Segundo Egydio, Golbery do Couto e Silva, da Casa Civil, manobrou para "atrair" Lula para a política. Golbery "temia Lula no sindicato" e "queria que ele fosse para a área política, porque achava que lá ele iria se esfacelar".

PAULO EVARISTO ARNS
"Meu desentendimento com d. Paulo Evaristo Arns se deu porque acho que ele foi, de certa forma, uma pessoa vaidosa ao se manifestar para o grande público no que se refere ao problema das torturas", diz Paulo Egydio no livro. Ele conta que era amigo de Arns e que chegou a atender a um pedido de socorro financeiro feito por ele para a PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo). Certo dia, d. Paulo "botou o dedo na minha cara e disse: "Você tem a obrigação, pela sua formação cristã, de dar um paradeiro a esse problema de tortura'". Egydio diz que o cardeal não tinha idéia da crise interna no Exército, mas poderia ter "se informado melhor comigo" antes de criticá-lo.

LINHA DURA
Egydio conta que, numa visita a Fernando de Noronha, foi levado por um militar para um presídio secreto na ilha: "Fiquei horrorizado. Era igual a um campo de concentração nazista". A idéia era levar para lá os presos políticos: "Soube depois que a linha dura foi derrotada e o lugar não foi usado".


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Fonte: https://www1.folha.uol.com.br/fsp/brasil/fc1401200711.htm


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