Tio Arno Preis
Félix Maier
Meu tio Arno Preis morreu no dia 15 de fevereiro de 1972, em um confronto com a polícia de Goiás. Militante do Movimento de Libertação Popular (Molipo) (1) o mesmo grupo terrorista ao qual também pertencera José Dirceu, atual Ministro-Chefe da Casa Civil da Presidência , Arno foi um dos tantos jovens brasileiros que se deixaram seduzir pelo hipnótico canto da sereia comunista, que desgraçou a vida de centenas de jovens idealistas brasileiros nas décadas de 1960 e 70.
Mas, como isso foi acontecer com Tio Arno?
Arno era filho de Edmundo Preis e Paulina Back Preis, e tinha doze irmãos: Adelina (a primogênita, 80 anos completados no dia 14 Out 2002), Josefina, Marcos, Elza, Marina (minha mãe), Ana, Bruno, João, Tecla, Matilde, Helga e Renato. Arno foi o 8º filho, nasceu depois de Tio Bruno. Todos meus 13 tios maternos nasceram em Forquilhinha, antigo Distrito de Criciúma, SC. Além de Arno, que morreu com 33 anos de idade, já faleceram também meus tios Tecla (com 2 meses de idade), Bruno, Renato e Marcos (este último, em 2002).
Em 1946, a família Preis deslocou-se de Forquilhinha para a colônia da Linha Nogueira, então Distrito de Luzerna, Município de Joaçaba, SC. (Atualmente, Luzerna está emancipada, sendo um dos mais novos municípios do Estado.) A mudança foi penosa, dois dias de viagem em um velho caminhão, que passou por Vacaria, RS, com direito a pernoite, depois seguiu por Lages, Curitibanos, Campos Novos, até o destino final. Na época, minha mãe tinha 17 anos; Tio Arno, 12.
Na roça, o trabalho dos Preis era duro, seja atrás do arado, seja capinando o inço nas plantações, seja lidando com o gado ou com a criação de abelhas. Do serviço pesado não escapava ninguém, sequer os mais novos, que recebiam de presente uma enxada antes da cartilha escolar.
Em 1948, minha mãe casa-se com Hilário Maier, filho de José Maier e Escolástica Freiberger Maier, vizinho de frente, no outro lado do vale da Linha Nogueira. Meu pai Hilário comprou um terreno de 8 alqueires, 2 vizinhos abaixo do terreno de meu avô paterno, onde nascemos eu (o primogênito) e meus 5 irmãos: Sílvia, Fernando, Válter, Ivone e Günther. Eu nasci em 1950 e, em 1957 ano em que nasceu o irmão caçula , quando comecei a estudar no Grupo Escolar Padre Nóbrega, em Luzerna, meu pai mudou-se com toda a família para o Município de Herval dOeste, na colônia da Linha Pinheirinho. Nesse local, meu pai veio a falecer no dia 4 de dezembro de 2001.
Nos tempos em que morávamos na Linha Nogueira, lembro-me das muitas vezes em que Tio Arno visitava nossa casa. Incansável, irrequieto, dinâmico, audaz, não ficava um minuto sossegado. Ajudava nas lidas das roça e no cuidado com a criação, especialmente durante a época em que minha mãe estava de resguardo. Na verdade, praticamente não havia quarentena para minha mãe, como ocorria com a quase totalidade das mulheres daquela época. O duro e duplo serviço da roça e dos afazeres de casa não permitiam esse luxo.
Quando Tio Arno completou o antigo primário (4ª Série), entrou no Seminário Franciscano de Luzerna, para fazer o Admissão ao Ginásio. (Eu, em 1961, com 11 anos, segui seus passos, até os 19.) Completado o Admissão, Tio Arno seguiu para o Seminário de Rio Negro, PR, onde cursou os dois primeiros anos do Ginásio. Posteriormente, em Agudos, SP, completou o Ginásio e o Científico, abandonando, a seguir, o caminho do sacerdócio para cursar a Faculdade de Direito no Largo de São Francisco, na Capital de São Paulo, onde se formou bacharel, obtendo o primeiro lugar em sua turma.
Mesmo nos anos em que estudava no seminário, Tio Arno nunca esquecia de nos visitar, tendo sempre a mesma disposição física para com o uso da enxada no combate contra as guanxumas e os milhãs que sempre proliferaram como praga na roça de meu pai.
- Adam und Eva! Foi assim que falou Tio Arno a minha mãe, em alemão, quando nos pegou, eu e minha irmã Sílvia, ainda bem pequeninos, tomando banho, nus, debaixo de um chuveiro improvisado, junto à janela em que minha mãe lavava a louça da cozinha.
Certo dia, época em que eu deveria ter uns 5 ou 6 anos de idade, eu estava em frente de nossa casa na Nogueira, quando ouvi um estrondo. A seguir, vejo nosso gato correndo em disparada em direção às capoeiras. Logo em seguida, atrás do bicho, meu Tio Arno corria com uma espingarda, certamente para tentar uma mira mais certeira. Por que Tio Arno havia feito aquilo?
Noutra ocasião, já na casa da Linha Pinheirinho, Tio Arno acompanhava eu e meus irmãos numa pescaria no riacho que corre perto, em frente da residência. À certa altura, Tio Arno pega meu irmão Válter pelo pescoço e afunda sua cabeça na água, onde mantém durante certo tempo. Meu irmão Válter, então com uns 8 anos de idade, lívido de medo, pede que meu Tio não faça isso de novo, pois, dizia, sofro do coração! Tio Arno achou engraçada a tirada de meu irmão, soltando uma larga gargalhada... Lembrei-me do caso da perseguição do gato e achei que meu Tio Arno tinha uma boa dose de sadismo e violência incontida para agir daquela forma. Por que havia assustado meu irmão com uma brincadeira sem graça, de extremo mau gosto? Seriam esses dois fatos, o do gato e do meu irmão, indícios do que iria ocorrer com Tio Arno mais tarde, quando se bandeou para a organização de Carlos Marighela?
Decisão era o que não faltava para meu Tio Arno. Certa vez, como havia alguns problemas com um vizinho, na Nogueira, o qual era um tanto encrenqueiro com todo mundo, Tio Arno e um de seus irmãos pegaram o arado do vizinho e o amarraram no alto de uma árvore...
Em 1960, quando Tio Arno cursava a Faculdade de Direito, ele me mandou de presente um cavaquinho, e para minha irmã Sílvia, um vestido. Minha irmã teve mais sorte, recebeu o presente, o meu até hoje ainda não chegou... É uma pena, pois, quem sabe, quão grande cavaquinista o Brasil não tenha perdido? Mas há um grande consolo para todos os brasileiros: escaparam de conhecer mais um pagodeiro na TV... Minha irmã e eu éramos os xodós de Tio Arno, o que acarretava algum ciúme por parte de muitos primos nossos. O mesmo ciúme da parentada apareceu também quando fui morar com meu padrinho e avô paterno, em Luzerna, no primeiro ano em que comecei a estudar, em 1957. A vantagem em morar com meu avô era que eu não precisava caminhar diariamente uns 6 km para ir à escola, e outro tanto para a volta, comendo poeira durante a seca, amassando barro com os pés durante as chuvas. Para evitar cobranças, já que outros primos meus moravam também na roça, meu avô não teve outra alternativa senão me mandar de volta para casa no segundo ano primário, então já na Pinheirinho.
Em 1964, quando eu cursava o 2º ano do Ginásio, no seminário de Rio Negro, ocorreu a Contra-revolução, que depôs o demagógico e fracassado governo de Jango; Castelo Branco, um dos maiores estadistas que o Brasil já teve, começou a dar novamente um rumo a nosso País. Um padre-professor nos colocou a par da situação revolucionária e o que mais me chamou a atenção durante a preleção foi saber que o Grupo dos Onze (2), de Leonel Brizola, pretendia assassinar lideranças civis, militares e eclesiásticas que não estavam afinadas com sua ideologia incendiária.
Quase no final da década de 1960, quando eu já estudava o Científico no seminário de Agudos, SP, próximo a Bauru, eu vim a saber, através de meus pais, que Tio Arno, já bacharel em Direito, tinha se tornado um terrorista. Jornais e TVs da época relatavam seus feitos junto à ALN (3) de Carlos Marighela, participando de assaltos a bancos e carros-fortes, na cidade de São Paulo, ocasionando a morte de muitas pessoas, às vezes assassinadas friamente, sem motivo nenhum senão o de causar terror entre a população. Foi um golpe muito duro para toda nossa família
Em 1970, quando eu servia no Exército, em Apucarana, minha avó materna, em Maringá, me mostrou um cartão que Tio Arno havia enviado de Roma. Não me lembro se meus avós maternos sabiam o que Tio Arno andava aprontando, mas foi uma alegria incrível para eles quando tiveram finalmente notícias do filho. Todos os outros parentes sabiam que Tio Arno havia feito curso de guerrilha em Cuba, que era um dos principais auxiliares de Marighela e que praticava assaltos em São Paulo para arrecadar fundos para seu grupo terrorista. Por isso, vivíamos sobressaltados, todo o dia esperando que fosse ocorrer o pior.
E, infelizmente, esse dia chegou. Após eu fazer o curso de sargento do Exército no Rio de Janeiro, em 1971, fui designado para servir, como fotógrafo, no Campo de Provas da Marambaia. Certo dia, lá pelo final de fevereiro de 1972, lendo distraidamente um jornal carioca, deparo com a notícia da morte de Tio Arno, ocorrida no dia 15 daquele mês, na cidade de Paraíso do Norte, GO (hoje, Estado de Tocantins). Segundo a reportagem do jornal, Tio Arno havia chegado num baile carnavalesco, aproximara-se do bar e pedira uma bebida. Num movimento de braços, ajeitando a camisa, deixou a descoberto a arma que portava na cintura. Visto por populares, avisaram a polícia, que o convidou a comparecer na Delegacia Policial. Pressentindo o perigo de ser descoberto, tentou fugir, abrindo fogo contra policiais, matando o soldado da PM/GO, Luzimar Machado de Oliveira, e ferindo gravemente outro militar, Gentil Ferreira Mano. Fugindo até uma mata próxima, Tio Arno foi caçado pela polícia e por outras pessoas que também se encontravam armadas. Morto com mais de uma dezena de tiros no corpo, constatou-se que Tio Arno portava documentos falsos, com o nome de Patrick McBundy Comick. Foi fácil para os órgãos de Inteligência da época descobrir o verdadeiro nome de meu Tio como relatado na reportagem citada. Tio Arno, que nessa época pertencia ao MOLIPO, foi enterrado na mesma localidade em que faleceu, em Paraíso do Norte.
Minha primeira providência foi escrever para Tio João, em Maringá, PR, relatando a morte de Tio Arno, ao mesmo tempo em que perguntava se meus avós maternos já sabiam do ocorrido. A carta foi mandada com certa apreensão, pois naquela época, com atentados terroristas ocorrendo a todo momento, eu, de certa forma, também me expunha, pois sabia que, durante o governo revolucionário, muitas cartas eram abertas pelos órgãos de Segurança. Assim, se minha carta fosse interceptada pelos órgãos de repressão, muita dor de cabeça eu poderia ter até explicar que focinho de porco não é tomada.
Tio João, porém, já havia sido informado da tragédia familiar e junto dos demais parentes foi combinado que nada seria dito aos avós. De fato, a trágica morte de Tio Arno foi escondida da oma (avó) e do opa (avô) Preis durante muitos anos, até que um dia alguém da família deu com a língua nos dentes, quando os avós faziam uma visita a Forquilhinha, SC.
Graças a Deus, essa situação de eu ser sobrinho de um terrorista nunca me prejudicou durante os 32 anos em que servi o Exército, de onde saí em fevereiro de 2002, no posto de capitão. Nunca notei ninguém me vigiando de perto, nem mesmo quando ia ao Museu de Arte Moderna e na Associação Brasileira de Imprensa (ABI) para assistir a clássicos do cinema, como Encouraçado Potenkin, Ivã o Terrível, Ano Passado em Marienbad e outros. Às vezes, na saída da ABI, eu recebia alguns panfletos de militantes de esquerda, porém nunca tive problemas com a polícia. Aliás, a liberdade nos anos 70 era muito maior do que apregoa hoje a fanatizada esquerda. A partir do Governo Geisel, os jornais já publicavam o que queriam (eu só lia o JB, jornal de oposição), assistia-se a quaisquer filmes (com exceção de Je vous salue, Marie; Garganta Profunda; e Último Tango em Paris), nas universidades nunca se estudou tanto Marx como naqueles tempos. Em um cursinho que freqüentei, em 1976, o professor, ao se referir ao AI-5, dava um gritinho um tanto aviadado, jogando a bunda de banda, dizendo, Ai, cinco!... Onde, pois, estava a repressão tão alardeada pelos comunas? Onde a perseguição à população trabalhadora? Durante o governo Médici ocorreu o pico dos atos terroristas, com atentados cada vez mais violentos. O que os comunas terroristas queriam? Que Médici os recebesse com bombons e flores?
A reação foi dura, à altura do que aquele momento exigia, e, graças ao patriotismo e à abnegação dos integrantes dos órgãos de repressão, hoje demonizados pelos zés dirceus da vida, o Governo conseguiu, enfim, trazer de volta a paz à Nação brasileira. Houvesse o Governo fraquejado, houvesse o Governo dado ouvido aos sociólogos de araque, que hoje pipocam nas ONGs cariocas e paulistas, provavelmente ainda estaríamos enfrentando uma guerra civil continental. FHC, ao passar o Governo a Lula-laite, com certeza estaria também passando uma nova agenda de conversações com a Guerrilha do Araguaia, um novo encontro para discutir a paz com el comandante José Tirofijo Genoíno...
Em 1986, quando eu viajei a trabalho para Belo Horizonte, aproveitei para visitar Tio Bruno em Contagem. Lá comentei sobre uma reportagem que havia saído no Jornal do Brasil, em que Tio Bruno acusava o Cardeal de São Paulo, Dom Paulo Evaristo Arns, de ser um dos que contribuíram para que Tio Arno entrasse na clandestinidade e, em conseqüência, fosse ao encontro da morte. O Cardeal havia ameaçado processar Tio Bruno, porém ficou apenas na ameaça. Posteriormente, remeti a Tio Bruno o jornal com a dita reportagem.
O Cardeal Arns, que é primo em segundo grau de minha avó Paulina Preis Back, sempre teve ódio dos militares que impediram que nosso País fosse tomado pelos comunas. Não consta que Dom Arns tenha rezado alguma missa pela alma do soldado Mário Kozel Filho, que foi explodido pela gangue terrorista da VPR (4) de Carlos Lamarca, em 1968, no QG do antigo II Exército, em São Paulo, quando tirava serviço de sentinela. Porém, nestes últimos anos, sempre no dia de Finados, o rancoroso bispo vermelho reza missa pelas ossadas de Perus, as quais, segundo espalha a esquerda, pertenceriam a desaparecidos políticos.
O site da ONG Tortura Nunca Mais (www.torturanuncamais.org.br) publica a relação de terroristas, mortos ou não, que infernizaram o Brasil nas décadas de 1960 e 70. Todos eles são tratados como heróis. Nas biografias desses militantes do terror, só aparecem boas ações, como se todos esses filhotes de Fidel Castro e Mao Tsé-Tung fossem inocentes anjinhos massacrados pelos órgãos de Segurança.
A Tortura, criada e mantida por militantes comunistas, com apoio pecuniário do Governo Federal (outra safadeza!), também traz um breve histórico sobre Tio Arno. Segundo depoimento de Tio João, Tio Arno estudou no Seminário dos padres Franciscanos em Santa Catarina e, em São Paulo, formou-se em Direito pela USP. Brilhante, inteligente, entusiasta, queria ser Diplomata. Falava 12 idiomas. Mas os tempos eram duros. A pátria vivia sob um regime ditatorial militar e Arno, como centenas de jovens, decidiu que primeiro era necessário derrubar a ditadura para depois realizar seus sonhos.
No mesmo site de Tortura lemos um depoimento de Derlei de Lucca, professora e companheira de militância política de Tio Arno, que escreveu no Jornal da Manhã, de 03 de maio de 1994: Carta Aberta ao Arno Preis. Criciúma, 29 de abril de 1994. Arno, Você não ia acreditar mas Nelson Mandella é o favorito nas eleições presidenciais da África do Sul. Acusado de terrorista, subversivo, como tu, cumpriu 29 anos de cadeia. Isak Shamir acusado de subversivo e terrorista pelos ingleses é Primeiro Ministro em Israel. Yasser Arafat o líder da OLP acusado de terrorista e subversivo foi recebido pelo Presidente dos Estados Unidos, em dezembro do ano passado, e é recebido na ONU como chefe de Estado. Forquilhinha já é município e está orgulhosa de ti. Lurdes, Zilda, tia, sobrinhas e primas, estão mobilizando a cidade pra te levar flores. Existe um aparelhinho chamado FAX. Em questão de segundos a gente se comunica com o mundo, mandando documentos. Meu filho estuda automação na UFSC. Dulcinha, Amelinha, Suzana estão tristes com a confirmação da tua morte, mas firmes organizando as homenagens. O Ivo Sooma foi heróico. Realmente quem tem um amigo tem um tesouro. Ivo é o teu tesouro. Nilmário, Genoíno, Zé Dirceu são deputados federais, Brizola é governador do Rio. Tem um operário do ABC candidato a Presidente da República. Betinho renegou a luta armada, mas dirige uma campanha linda contra a fome e a miséria. Mobilizou o país todo. Tu fazes muita falta. Serias nosso Ministro das Relações Exteriores, brilhante, defendendo as posições do Brasil no mundo. Ia esquecendo: o Brasil reatou relações diplomáticas com Cuba. Eu já voltei lá algumas vezes com passaporte e tudo, legalmente. A gente não diz mais turma, diz galera. Fumar não é mais moda, é cafona, coisa de Boko Moko. Nada melhor do que um dia depois do outro. Seja feliz no céu protegendo a nossa terra. Aqui tu não serás esquecido.
De Ivo Sooma, advogado e amigo de Arno Preis, lemos em Tortura o seguinte texto: Foi ele morto no dia 15 de fevereiro de 1972, em confronto com policiais militares e civis da então Paraíso do Norte de Goiás, e enterrado no cemitério local, sem guia de sepultamento, nem lavratura de óbito. À época, policiais entregaram seu corpo ao coveiro, dizendo-lhe: Enterra de qualquer jeito. Isto é um porco. O coveiro, Milton Gomes, pensou consigo: Isto não é um porco. Este é um homem. Alguém um dia virá procurar por ele. Tomou então o cuidado de, junto ao local do sepultamento, erguer uma pequena pirâmide de concreto, sobre a qual fincou uma cruz de madeira, o que iria facilitar sua posterior localização, diferentemente do que ocorreu com muitos desaparecidos políticos. Uns dez dias depois, enorme aparato policial militar cercou o cemitério, que não tinha muros e levou um dos braços do corpo de Arno para identificação. O próprio governo reconheceu sua morte, segundo notícias publicadas nos jornais, em março de 1972, com a versão oficial de morto ao tentar fugir. Seu corpo e atestado de óbito não foram entregues à família até 1994. Foi enterrado com o nome de Patrick McBund Cornik. Identificado, em 22 de março de 1972, a imprensa noticiou sua morte como a de um líder terrorista. Pertencera ele à ALN, fundada sob a liderança de Carlos Marighella, estivera em Cuba e retornara integrando o MOLIPO. Quem era Arno Preis antes de entrar na guerrilha? Conheci-o em 1957, quando, sendo eu secundarista, ingressou ele na Faculdade de Direito do Largo São Francisco. Chamou-me a atenção a maneira determinada com que perseguia seus objetivos. Pretendia ele prestar concurso no Itamaraty e seguir a carreira diplomática. Vocacionado para uma carreira de diálogos e negociações, acabou por empunhar armas e morrer em cidade do interior de Goiás. Tomados de indignação cívica, centenas de jovens dobraram as folhas de seus livros, uniram-se a pessoas de outras origens que também deixaram suas rotinas e foram enfrentar o sacrifício. Muitos, o martírio. Não fosse o fechamento de todos os canais de comunicação entre a Nação e o Estado, o Brasil não teria amargado a perda de muitos de seus mais dignos e generosos filhos. Arno Preis, como tantos outros, dobrou uma folha do livro da História e imolou-se no sertão de Goiás, passando a ser parte da própria História. Compete a nós, agora, retomar a sua leitura, a partir das novas páginas que foram escritas. Passados 22 anos, familiares e amigos localizaram o seu corpo com o apoio e o respaldo dado pela Comissão Externa da Câmara Federal, presidida pelo deputado Nilmário Miranda, que acompanhou a exumação e a identificação das ossadas e seu sepultamento oficial em 9 de abril de 1994 na cidade de Forquilhinha. Em 15 de outubro de 1993 seus restos mortais foram exumados do Cemitério de Tocantins e levados para o IML/Brasília. No traslado ele recebeu várias homenagens: na Câmara Federal em Brasília, em São Paulo, na Assembléia Legislativa de Florianópolis e em Criciúma, sua terra natal, onde teve um enterro digno.
No site http://www.resgatehistorico.com.br/resistencia_03.htm, há trecho do livro "Dos Filhos Deste Solo", de Nilmário Miranda e Carlos Tibúrcio, editora Boitempo:
MOLIPO - Movimento de Libertação Popular
Assassinatos em série
O Movimento de Libertação Popular (Molipo) originou-se de uma dissidência da ALN, em 1971, composta inicialmente de militantes que foram fazer treinamento de guerrilha em Cuba. Integravam a maioria do denominado "3º Exército" da ALN ou "Grupo dos 28", ou "Grupo da Ilha", que depois ganhou a adesão de outros integrantes da organização em Cuba e no Brasil.
Onze militantes do Molipo, ou a ele ligados, foram mortos seqüencialmente e um desapareceu entre 4 de novembro de 1971 e 27 de fevereiro de 1972. Um outro, Boanerges de Souza Massa, também desapareceu, mas não se sabe exatamente quando; outros dois foram mortos em outubro de 1972; e ainda três desapareceram, sendo dois em maio de 1973 e um em 4 de novembro de 1974. Jane Vanini morreu no Chile, em 1975.
Dois documentos encontrados nos arquivos do Dops/SP ajudam a entender como o Molipo foi impiedosamente dizimado. São documentos que trazem informações de uma pessoa infiltrada desde Cuba. Eles revelam que os órgãos repressivos controlavam o Molipo desde a sua formação. Sabiam quem eram, quando retornariam ao país, conheciam o esquema do retorno, e para que parte do Brasil iriam. O informante também voltava ao país e prestava informações sobre as pessoas que aqui se vinculavam ao Molipo.
Os órgãos de segurança decidiram pela eliminação de todo o grupo que veio de Cuba, e praticamente alcançaram o seu intento. Poucos conseguiram escapar. O primeiro documento tem duas partes: uma elaborada pelo CIE, CIE-S/103 (Terroristas com curso em Cuba, situação em 21 de junho de 1972), dando conta das turmas de militantes - a seguir, com os nomes em ordem alfabética - que fizeram curso de guerrilha naquele país. A segunda parte, com timbre da Secretaria de Segurança de São Paulo, do Deops (Divisão de Ordem Social), Setor de Análise, Operações, Informações (SOI), tem por título "Grupo dos 28", e pelas informações que traz deve ter sido elaborada entre 7 e 10 de novembro de 1971.
O outro documento é o Rio/GB, de 3 de abril de 1972, do Ministério do Exército, Informação nº. 674/72-II, assunto: "Grupo da Ilha, origem CIE (informante)".
Eis os trechos mais elucidativos dos dois documentos, no que diz respeito ao Molipo:
Neste Grupo dos 28, dentre os elementos da ALN começou a idéia de dissidência informal com Ruy Carlos Vieira Berbert e Boanerges de Souza Massa, depois ampliada por Carlos Eduardo Pires Fleury e Jeová Assis Gomes. Desta dissidência, com o grupo que já retornou ao Brasil, constituiu-se o que hoje se conhece como o "Grupo da Ilha", todos oriundos da ALN, mas já dissidentes desde a partida de Cuba.
Os primeiros a chegar a São Paulo conseguiram contato com a ALN, mas não fizeram a fusão, continuando dissidentes. Conseguiram aliciar para o "Grupo" Hiroaki Torigoe.
Dividiram-se, inicialmente, em dois grupos, sendo um encarregado da obtenção de fundos, ficando em São Paulo, onde realizavam várias ações de expropriação (Aylton Adalberto Mortatti, Flávio Carvalho Molina, Francisco José de Oliveira, João Carlos Cavalcanti Reis, José Roberto Arantes, Márcio Beck Machado, Maria Augusta Tomaz, Natanael de Moura Girardi) e o outro grupo internou-se no interior do Brasil, particularmente no noroeste de Minas Gerais, região centro-oeste da Bahia e norte de Goiás (Boanerges de Souza Massa, Arno Preis, Ruy Carlos Vieira Berbert, Otávio Angelo, Jane Vanini, Sérgio Capozzi, Carlos Eduardo Pires Fleury).
Marco Frenetti assim escreve na Revista dos Bancários (http://www.spbancarios.com.br/rb69/rb1.htm):
Outro ponto considerado crucial para o esclarecimento de casos de assassinato e localização dos restos mortais das vítimas é a abertura dos arquivos das forças armadas, da Polícia Federal e do antigo SNI. Sempre que a sociedade civil teve acesso a parte desses documentos houve esclarecimentos, a exemplo de 1992, quando o governador Roberto Requião, do Paraná, abriu o Arquivo do Dops, a partir do qual a Comissão Nacional de Familiares, juntamente com o deputado Nilmário Miranda (PT-MG), encontrou o corpo do militante político Arno Preis, em Tocantins, em outubro de 1993. Segundo informações do advogado e amigo de Arno, Ivo Sooma, ele foi morto no dia 15 de fevereiro de 1972 em confronto com policiais militares e civis da então Paraíso do Norte de Goiás. Enterrado no cemitério local sem guia de sepultamento, os policiais teriam entregado o corpo ao coveiro com a seguinte recomendação: Enterra de qualquer jeito. Isto é um porco.
Em http://premioclaudia.abril.com.br/ingles/1996/greco.html, lemos o trabalho da militante de direitos humanos Helena Greco junto ao Governo de Minas, do qual extraímos o trecho abaixo:
Debates were also organized by the coordination office to clarify the Aids issue and, over the last two years, important national campaigns were developed:
against accepting former torturor Roberto Blanco dos Santos as a police officer in Rio de Janeiro in 1994;
for the dismissal of former torturor Ricardo Agnese Faiad from the 2nd Subdirection of Health of the Army, and for the annulment of his promotion to Brigadier General in 1994;
for the criminal accusation of Reserve General Adyr Fiúza, former chief of the Army Intelligence Department, due to his declarations in favor of torture;
against concession of the title of Honorary Citizen of Rio de Janeiro to the Fire Department Colonel José Halfed Filho, an agent for the oppression of the military regime; in 1994;
for the recognition of the assassination of: Hamilton Fernando Cunha, Arno Preis, Carlos Marighella and Carlos Lamarca, by Gover-nment officials during the military regime.
No site www.personnas.jor.br/comitecatarinense/comite6.html, do Comitê Catarinense de Direitos Humanos, coordenado pela militante política da antiga Ação Popular (AP), Derlei Catarina de Lucca, lê-se:
Memória de Arno Preis (I)
Os acadêmicos do curso de Ciências Jurídicas da Unesc escolheram, em dezembro passado, o nome do Núcleo de Prática Jurídica, que a partir deste ano será implantado pela Unesc para prestar atendimento gratuito à comunidade. Ele será chamado Arno Preis, levando o nome de um dos personagens catarinenses da resistência democrática durante o negro período do regime militar. Preis é natural de Forquilhinha e foi torturado e morto durante a ditatura. Seu nome teve concorrência com outros nomes de peso como o cardeal emérito de São Paulo e seu conterrâneo, Dom Paulo Evaristo Arns.
Memória de Arno Preis (II)
A homenagem a Preis agradou aos membros do Comitê Pró Memória dos Mortos e Desaparecidos Políticos de Santa Catarina e também despertou interesse em pessoas preocupadas com os direitos humanos. É o caso da advogada chilena Mirna Olmos, que presta assessoria jurídica ao Ministério de Justiça do Chile. Acompanhada da filha, Andréa, que é estudante de Direito, e da jornalista paulista Márcia Aquino (doutoranda pela USP), ela fez uma visita à Unesc para conhecer o projeto social de atendimento jurídico da instituição. E foi atendida pelo coordenador do curso de Ciências Jurídicas, professor Daniel Cerqueira, quando também obteve maiores detalhes sobre a escolha do nome escolhido para o núcleo.
In: 2/2000, Jornal da UNESC Universidade do Extremo Sul Catarinense (www.unesc.rct-sc.br/unesc.htm).
Arno foi assassinado em Paraíso do Norte, atual Tocantins, pela repressão em 1972, sem qualquer direito de defesa. Era militante do MOLIPO.
A escolha do nome de Arno, para o Núcleo de Prática Jurídica, ocorreu em dezembro de 1999. A morte de Tio Arno não ocorreu sob tortura, como fantasia o site coordenado pela Sra. De Lucca. As circunstâncias de sua morte já foram descritas acima. Convém acrescentar que a Comissão dos Desaparecidos Políticos, acertadamente, negou indenização aos familiares de Tio Arno (5 votos contra a indenização, 2 a favor um deles de Nilmário Miranda), decisão que não teria ocorrido se o mesmo tivesse sido morto sob tortura. O motivo foi simples: confronto com a polícia. Não tortura seguida de morte, como quer a Sra. De Lucca.
É verdade que Tio Arno falava ou entendia umas 10 ou mais línguas. Só no seminário, no currículo comum, ele aprendeu Latim, Grego, Inglês e Francês assim como eu também estudei esses idiomas mais tarde. No internato, deve ter aprendido também Alemão e Italiano em turmas extras, à noite, como era comum, ministrados por padres-professores alemães e italianos. Por conta própria, Tio Arno deve ter aprendido Russo, Japonês e Chinês além do Espanhol, que aprendeu em Cuba durante o curso de guerrilha. Além de poliglota, Tio Arno também era músico, fazia parte da banda do seminário de Agudos, onde tocava clarineta. E tinha uma voz de tenor adorável, como atesta minha mãe, Marina. Em família, todos entoavam lindas canções folclóricas e sacras, inclusive alemãs, a quatro vozes!
Certa vez, ao passar pela antiga Rodoviária de São Paulo, então localizada no Centro da cidade, um livro me chamou a atenção. Era Midway, escrito por dois almirantes japoneses, que retrata a épica batalha do Pacífico, entre os EUA e o Japão, durante a II Guerra Mundial. A tradução da obra foi feita por Tio Arno, não sei se do original japonês ou de alguma outra versão. Comprei um exemplar para doar à minha mãe, que guarda a obra com orgulho até hoje.
No site http://www.an.com.br/2003/jul/04/0ger.htm lemos:
Reportagem
Isso não é um porco e será enterrado como gente
Arno Preis, filho do Sul do Estado, abandonou o seminário para entrar na luta armada, que acreditava ser o caminho para a revolução
Luis Fernando Assunção
Policiais chegaram ao coveiro Milton Gomes com um corpo embrulhado em uma lona de plástico preta. Gomes era o responsável pelos sepultamentos no cemitério da pequena Paraíso do Norte, interior de Goiás. Enterra de qualquer jeito. Isto é um porco, disseram os policiais ao coveiro, que retrucou: isto não é um porco. É um homem. Alguém um dia virá procurar por ele. O coveiro tomou então um cuidado: junto ao local da cova, ergueu uma pequena pirâmide de concreto, sobre a qual fincou uma cruz de madeira. Dez dias depois, um aparato policial cercou o cemitério, enquanto alguns policiais retiravam um braço do corpo enterrado. O porco era o advogado Arno Preis, catarinense de Forquilhinha, integrante do Movimento de Libertação Popular (Molipo). Só foi enterrado como gente em 15 de outubro de 1993, depois de seus restos mortais serem encontrados a partir da cruz de madeira idealizada pelo coveiro Gomes.
Arno Preis nasceu em Forquilhinha em 8 de julho de 1934. Filho de descendentes de alemães, teve uma educação rígida. Estudou durante boa parte da infância e adolescência em seminários católicos. Desistiu da batina meses antes da ordenação. Além de ter facilidade nos estudos, aprendia rapidamente a falar outros idiomas. Ainda na faculdade em São Paulo - para onde se transferiu depois de sair do seminário - dominava fluentemente as línguas inglesa, grega, italiana, espanhola, francesa, romena, alemã, russa, latina e até a japonesa. Traduziu três livros do japonês para o português: Kamikaze, Cruz Vermelha e Iwo Jima.
Arno era o oitavo filho de Edmundo e Paulina Preis e desde os sete anos estava no seminário, primeiro no Franciscano de Luzerna e depois no Seminário de Agudos, em São Paulo. Antes de ser ordenado, decidiu seguir outro caminho e matriculou-se no curso de direito da Universidade de São Paulo, na faculdade de São Francisco. Profundo conhecedor da cultura popular brasileira, Arno dominava a capacidade de dialogar para solucionar impasses. Seu sonho: prestar concurso para o Itamaraty e ser diplomata. Também dominava instrumentos musicais, em especial a flauta.
Foi em São Paulo que Arno conheceu os movimentos populares contrários ao regime militar pós-64. Inicialmente pertencente à Ação Libertadora Nacional (ALN), viajou até Cuba para treinamento em guerrilha e, voltando ao Brasil, integrou o Molipo. Não fosse o fechamento de todos os canais de comunicação entre a nação e o Estado, o Brasil não teria amargado a perda de muitos de seus mais dignos e generosos filhos, diz o amigo advogado Ivo Sooma, o primeiro a chegar até o local do sepultamento do corpo, no interior de Goiás.
A versão da morte de Arno ainda é contraditória. Oficialmente ele teria sido morto após troca de tiros com policiais em Paraíso do Norte. Depoimentos colhidos a partir da década de 80 pela Comissão Externa de Desaparecidos Políticos da Câmara dos Deputados comprovaram que os policiais teriam se precipitado ao ver Arno com uma pasta debaixo do braço. No momento do crime ele carregava uma maleta com dinheiro que seria utilizada para as operação do Molipo na região. A pasta de dinheiro foi encontrada vazia perto do local onde Arno foi morto. Até hoje a família luta pelo reconhecimento da culpabilidade do Estado e pelo direito à indenização a mortos políticos.
Família foi perseguida por abrigar terrorista
Forquilhinha - De tempos em tempos dona Elza Preis Backes visita o cemitério da cidade. Faz questão de manter limpa a capelinha da família, onde se encontra com destaque a foto do irmão Arno. Mas nem sempre foi assim. Por longos anos a família Preis foi discriminada na região. O pai Edmundo e a mãe Paulina se calaram. Recusaram-se a falar do filho com medo de perseguições e represálias dos policiais. Chegaram a ser intimidados por conta das visitas clandestinas de Arno aos familiares. Eram tempos difíceis, reconhece dona Elza.
Descendentes de alemães, Arno e os 12 irmãos tiveram uma educação rígida. O único divertimento eram as festas ao som de sanfona que o pai costumava organizar de tempos em tempos. Arno sempre se destacou. Era muito inteligente e se movimentava muito. Não parava quieto, relembra a irmã. A mãe morreu aos 94 anos e por muito tempo nutriu a esperança de ver o filho de volta para casa, são e salvo. Na época da morte de Arno, os jornais destacavam que mais um terrorista morria nas mãos da polícia. Foi muito doído tudo. Sabíamos que o Arno era decente, diz ela. Nossa família sofreu com isso. Quando algum militante sumia, havia certeza de que seria morto, conta João Preis, 67 anos, irmão de Arno e ex-deputado estadual pelo Paraná.
Isso marcou nossa família para a vida inteira. Todos nós sofremos com tudo, garante Preis. Forquilhinha ficou conhecida por ser a terra natal da família Arns, em especial o ex-cardeal dom Paulo Evaristo Arns. Ele foi um dos religiosos que mais deu guarida aos perseguidos políticos e isso a cidade nunca esqueceu. No começo dos anos 80, Arns organizou uma missa e um churrasco para os moradores locais. Na missa, muitas famílias compareceram, mas o churrasco pouca gente teve a coragem de prestigiar.
O irmão João e o amigo Ivo Sooma foram incansáveis na busca pelo corpo de Arno. Mas a procura era dificultada pela repressão da época. Todas as vezes que ia para São Paulo, por causa da semelhança com meu irmão, tinha dificuldades. O rosto dele estava em cartazes de procurado por toda a parte. Ele foi caçado como um animal, recorda. Meu irmão estava certo. O que ele previa está acontecendo. As dificuldades por que passa o País são heranças daquele regime, finaliza Preis. (LFA)
No texto acima, de Luis Fernando Assunção, há muito palpite e muita chutometria. Tio Arno saiu do seminário para estudar Direito em São Paulo, não para entrar na luta armada, como fantasia Assunção. A família Preis nunca foi perseguida devido aos atos terroristas de Tio Arno. Nunca ouvi nenhum de meus familiares comentar algo a respeito. Quanto aos meus avós (pais de Arno), eles já haviam saído há muitos anos de Forquilhinha, primeiro para Luzerna, depois para Maringá como já foi escrito acima. Portanto, policiais intimidando a Oma e o Opa em Forquilhinha, para obter alguma informação sobre Tio Arno, não passa de uma alucinação de Assunção. A não ser que os policiais estivessem atrás dos fantasmas de Oma e Opa Preis...
No site http://www.acle.com.br/derlei/cronica08.htm lê-se:
Academia Criciumense de Letras (ACLE)
Crônicas
Derlei Catarina De Luca
Luta Perdida é a Abandonada
São de domínio público e conhecimento histórico, os assassinatos e desaparecimentos de centenas de brasileiros durante o período da Ditadura Militar (1964-1984).
É de domínio público também a luta dos familiares, companheiros e amigos em recuperar a memória e os corpos destes brasileiros.
Em 1995 foi criada no Congresso Nacional a Lei nº 9140/95 que criou a Comissão Especial para analisar os casos. Em dois anos de trabalho, esta Comissão analisou 497 processos e considerou que a grande maioria das mortes era realmente responsabilidade do Estado provocada por motivação política.
Dos processos analisados 33 foram indeferidos. Na sua grande maioria, mortes ocorridas na rua, como foi o caso do catarinense Arno Preis.
A próxima etapa dos trabalhos da Comissão Especial reveste-se de importância maior, pois trata-se da localização dos copos dos militantes assassinados e do esclarecimento das circunstâncias de seus desaparecimentos.
Consideramos importante este trabalho na luta pelo esclarecimento da verdade histórica, pois muitas versões oficiais da Ditadura como mortes em tiroteios, atropelamentos e mesmo suicídios foram demonstradas serem falsas.
Para atingir os objetivos, a Comissão deverá contar com o empenho do Governo Federal nas questões orçamentárias, técnico-científicas e, particularmente, na disposição política em abrir os arquivos das Forças Armadas, Polícia Federal e do antigo S. N. I. - Serviço Nacional de Investigação. Somente tais arquivos poderão fornecer as respostas sobre a localização dos restos mortais, que procuramos a mais de vinte anos.
Uma nação só se torna grande quando reconhece as suas feridas e trata de curá-las. Uma democracia madura não pode ter medo da verdade. Volta e meia abre-se uma fresta do porão e algum esqueleto aparece. Por que o Exército Brasileiro não pode abrir seus arquivos?
Os Estados Unidos, nação que o Exército Brasileiro tanto admira, abre seus arquivos depois de um prazo determinado. Em 1995, pediu desculpas públicas pela Guerra do Vietnã, reconhecendo o erro. Na Argentina os militares reconheceram os assassinos. A Alemanha, mesmo 53 anos após a Segunda Guerra Mundial, continua buscando a verdade sobre os desatinos de Hitler. A Suíça pediu desculpas públicas aos judeus e busca seus descendentes para devolver-lhes o dinheiro da Segunda Guerra. Até o Papa e Igreja Católica têm a grandeza de reconhecerem seus erros, retirando a excomunhão de Galileu e pedindo desculpas aos judeus. Na África do Sul, a Comissão de Reconciliação Nacional interrogou inclusive a esposa de Nelson Mandella, Winnie Mandella. Nos Estados Unidos o próprio Presidente é investigado.
Por que o Exército brasileiro não pode abrir seus arquivos?
Por que o Exército brasileiro não puniu os responsáveis pelas mortes?
Aqui no nosso país o Poder Executivo é investigado e punido. O Poder Legislativo é investigado e não tem medo de cortar a própria carne.
Por que só Exército brasileiro é intocável?
A única luta que se perde é a que se abandona! Por uma pátria da qual tenhamos orgulho!
Derlei Catarina De Luca
Revista Acadêmica I
O Exército Brasileiro não é intocável, como afirma a Sra. De Luca. Um dia, com certeza, os arquivos sobre a repressão contra os comunistas serão abertos.
Por que o Exército brasileiro não puniu os responsáveis pelas mortes? pergunta a Sra. De Luca. Ora, porque houve uma Lei da Anistia, que vale para os dois lados, não somente para os terroristas, embora, com o revanchismo constatado nos últimos anos, somente familiares de terroristas tenham sido regiamente recompensados com dinheiro público. E os familiares daqueles que tombaram combatendo o terrorismo, quando é que vão receber algum tipo de indenização?
Por questões óbvias, o site de Tortura não enumera nenhum ato terrorista que meu Tio praticou. O mesmo ocorre com a obra Brasil Nunca Mais (5), publicada por comunistas, com apoio da Arquidiocese de São Paulo, encabeçada pelo Cardeal Arns. Isso ocorre com todas as organizações de esquerda, que tentam tapar o sol com a peneira e, incrível!, conseguem essa proeza com estrondoso sucesso. Os terroristas são apresentados como heróis, a exemplo de Lamarca e Marighela, enquanto que os integrantes dos órgãos de Segurança, que impediram a comunização do Brasil, são perseguidos até hoje pelos assassinos de ontem, em um ato de revanchismo que não tem fim nunca, como visto durante o Governo FHC, em que familiares de terroristas receberam vultosas quantias de dinheiro público. Em nosso País, com a mídia dominada pelos esquerdizóides de todos os matizes, com a desinformatzia (6) sendo difundida diuturnamente, a conta-gotas, dentro da estratégia stalinista-gramsciana, a verdade se tornou mentira, a mentira um dogma sem contestação.
Mas, aos poucos, a Grande Mentira comunista começa a ser desmascarada. A outra face da moeda começa a ser limpada com Kaol, para que a verdade possa brilhar cada vez mais, ofuscando a outra face, enferrujada pela mentirosa versão apresentada à população brasileira nos últimos anos. Àqueles que querem conhecer o que foram os anos de dinamite de 1960 e 70 apelidado de anos de chumbo pelos micos amestrados da mídia atual , têm hoje a oportunidade de acessar o site Terrorismo Nunca Mais (www.ternuma.com.br), para conhecer a verdade sobre a história recente de nosso País, não a mitologia propagandeada pela esquerda. Duas publicações recentes sobre o período dos governos militares, A Grande Mentira (7) e Guerrilha do Araguaia (8), são leitura obrigatória para quem honestamente quer conhecer, falar e escrever sobre aquele conturbado período.
Em 2002, o jornalista Élio Gáspari publicou um artigo no jornal O Globo (9), em que o fantasma do terrorista Marighela vinha à Terra para azucrinar a vida de um antigo companheiro, o Ministro da Justiça do Governo FHC, Aloysio Nunes Ferreira Filho. O texto inicia assim: Repassa-se aqui o teor de uma mensagem recebida de carlosmarighella@aln.org endereçada ao ministro Aloysio Nunes Ferreira. Em certo momento, o fantasma de Lamarca fala a Mateus: Lembras do Arno Preiss? Também expropriou o trem pagador. Foi para Cuba e voltou ao Brasil. Mataram-no numa emboscada em Goiás, em 1972. Ele estava naquela turma que voltou para o Brasil, inteiramente vendida. Terrível história essa. Aqui onde eu estou sabe-se de tudo, mas não se pode contar. Emboscada: mais uma das muitas mentiras de Élio Parmesão Gáspari. O assalto ao trem-pagador Santos Jundiaí, em 1968, foi realizado por Aloysio Ronald Biggs Nunes Ferreira (que fugiu para Paris com passaporte falso), Arno Preis, Diógenes do Dinamite (o PC Farias do ex-governador Olívio Dutra) e outros menos conhecidos.
Como se sabe, Tio Arno mudou-se da ALN de Marighela para o MOLIPO, que teve entre seus quadros estrelas que hoje brilham no céu petista, a exemplo de José Dirceu. Durante a campanha presidencial, em 2002, a revista Veja (10) publicou um longo artigo sobre o Rasputin da atual República dos Barbudinhos, José Dirceu. No eloqüente texto, ficamos sabendo que José Dirceu, pertencente outrora aos quadros secretos de Fidel Castro e, para não ser descoberto no Brasil pelos órgãos de repressão comunista, fez plástica no nariz em Cuba, botou uma barba que hoje é a marca do Governo Lula-laite, e arranjou uma ótima estória-cobertura (11): em meados de 1975, estabeleceu-se na cidade de Cruzeiro do Oeste, PR, com o nome de Carlos Henrique Gouvêa de Melo, vivendo como se fosse um empresário judeu, onde casou com Clara Becker, com quem teve um filho, José Carlos. Clara só veio a conhecer o verdadeiro marido 4 anos depois, quando foi promulgada a Lei da Anistia.
No texto de Veja, sabe-se que José Dirceu teve um contato, vale dizer, a cobertura de uma pessoa em Cruzeiro do Oeste, para que pudesse desempenhar seu papel sem suspeitas. Presumo que esse contato possa ter sido o de meu tio Renato, caçula da família Preis, que na época era Chefe de Seção do Banco do Brasil local. Minha mãe, certa vez, me falou que Tio Renato tinha dito a ela que, se não tivesse família, teria acompanhado Tio Arno na aventura terrorista. Como Tio Renato já faleceu, resta perguntar a José Dirceu para que revele quem foi esse contato em Cruzeiro do Oeste.
Hoje, no meio de meus familiares, Tio Arno é visto por alguns como herói. Por outros, é visto apenas como um terrorista a mais dentre outros. Tornou-se famoso. Tem seu nome emprestado a praças e a ruas em Santa Catarina. A meu ver, Tio Arno não é herói nem vilão, embora tenha cometido alguns crimes que desgraçaram famílias brasileiras. Ele foi um dos tantos jovens idealistas das décadas de 1960 e 70, que se deixaram seduzir pela utopia comunista, a mais ensandecida ideologia que já apareceu sobre a face da Terra, que ocasionou a morte de aproximadamente 110 milhões de pessoas (12) em todo mundo. No século XX, por onde passou o cérbero demoníaco totalitário Comunismo, Fascismo e Nazismo , só deixou desgraça em sua terrífica passagem. Por mais que a ideologia comunista pregue o igualitarismo entre as pessoas, por mais simpática que possa parecer a milhares de iludidos, que ainda hoje esperam implantar tal regime em nosso País, embora conheçam as atrocidades cometidas por tal ideologia na União Soviética, na China, na Coréia do Norte, no Camboja, em Cuba e por onde mais passou esse totalitarismo satânico, o Comunismo sempre deverá ser execrado e combatido por todas as pessoas que acreditam no livre arbítrio, no livre empreendimento, na liberdade religiosa e na liberdade de cada pessoa poder expressar suas próprias convicções.
Tio Arno, portanto, foi vítima da insânia comunista, não vítima dos vilões militares, como prega a esquerda. É preciso deixar bem claro, principalmente aos brasileiros mais jovens, que os vários movimentos comunistas existentes no Brasil nunca tiveram como objetivo implantar a democracia, como costumam alardear. Combatendo os governos militares, instalados no Brasil durante duas décadas, o que os comunistas queriam (e irão querer sempre!) era simplesmente implantar em nosso País um regime que ainda hoje tiraniza populações inteiras, como ocorre em Cuba desde 1959, ilha-prisão do ditador mais antigo em atividade no mundo, Fidel Castro, que merece todos os aplausos e afagos de nosso Presidente Lula, seu amigo íntimo.
Tio Arno, hoje, se vivo fosse, quem sabe não seria nosso Ministro das Relações Exteriores do Governo Lula da Silva? Afinal, se o Ronnie Von das esquerdas, José Dirceu, a quem se poderia chamar de James Bond do Caribe (13), é o atual Chefe da Casa Civil da Presidência, por que Tio Arno não poderia ser o Chefe da Casa de Rio Branco?
Notas:
(1) MOLIPO - Movimento de Libertação Popular: grupo terrorista de linha castrista, surgiu de uma dissidência dentro da Ação Libertadora Nacional (ALN), em 1971, e foi fundado pelo Serviço Secreto de Cuba. José Dirceu, ex-Presidente do Partido dos Trabalhadores e atual Chefe da Casa Civil do Governo Lula da Silva, foi um de seus integrantes. O MOLIPO era formado em sua maioria por integrantes do chamado III Exército da ALN, ou seja, de militantes com curso de guerrilha em Cuba. No dia 5 Jan 1972, ao ser montado pelos Órgãos de Segurança uma campana junto a um carro roubado num estacionamento de Santa Cecília, centro de São Paulo, um homem de origem japonesa, ao receber ordem de prisão, reagiu e foi morto. Sua identidade era falsa, com o nome de Massahiro Hakamura; após buscas nos arquivos datiloscópicos, a polícia descobriu que era Hiroaki Torigoe, um dos membros do Comando Nacional do MOLIPO. Em janeiro foram neutralizados dois pontos de apoio do MOLIPO: em Vanderlândia, GO, e em Santa Maria da Vitória, que estava sendo trabalhado. No dia 18 de janeiro, 3 militantes do MOLIPO, fugindo de uma caçada policial, roubaram um outro carro para prosseguir na fuga, matando seu ocupante, o 1º sargento da PM/SP, Thomas Paulino de Almeida. Na cidade de Paraíso do Norte, GO, no dia 15 Fev 1972, foi morto outro militante do MOLIPO, Arno Preis, que portava documentos falsos, com o nome de Patrick McBundy Comick, o qual matou, quando convidado a comparecer na Delegacia Policial, o soldado PM/GO, Luzimar Machado de Oliveira, ferindo gravemente outro militar, Gentil Ferreira Mano. Na clandestinidade, Arno Preis utilizava diversos codinomes, como Ariel e Alemão. No dia 27 de fevereiro, Lauriberto José R. e Alexandre José I. V. travaram tiroteio com a polícia em Tatuapé, São Paulo, matando o funcionário aposentado Napoleão Felipe Biscalde, e sendo mortos pela Polícia.
(2) G-11 - Grupo dos Onze, ou Grupo dos Onze Companheiros: comandos nacionalistas, que foram formados em todo o Brasil em 1963, a mando do ex-governador gaúcho Leonel Brizola. Os G-11 seriam o embrião do Exército Popular de Libertação (EPL). Um documento do Grupo afirmava que os G-11 seriam a vanguarda do movimento revolucionário, a exemplo da Guarda Vermelha da Revolução Socialista de 1917 na União Soviética. (Prova a ignorância de Brizola, pois em 1917 havia apenas a Rússia, não a URSS.) ... os reféns deverão ser sumária e imediatamente fuzilados, a fim de que não denunciem seus aprisionadores e não lutem, posteriormente, para sua condenação e destruição. Quando ocorreu a Contra-revolução de 1964, havia centenas desses Grupos espalhados em todo o País e tinham como missão eliminar fisicamente todas as autoridades do Brasil civis, militares e eclesiásticas, como se pode ler nas Instruções secretas do EPL e seus G-11, no item 8, A guarda e o julgamento de prisioneiros: Esta é uma informação para uso somente de alguns companheiros de absoluta e máxima confiança, os reféns deverão ser sumária e imediatamente fuzilados, a fim de que não denunciem seus aprisionadores e não lutem, posteriormente, para sua condenação e destruição (cfr. Del Nero, in A Grande Mentira, pg. 112).
(3) ALN - Ação Libertadora Nacional. Somente no início de 1968, o Agrupamento Comunista de São Paulo (AC/SP) passaria a utilizar a denominação Ação Libertadora Nacional (ALN); o AC/SP havia sido criado em 1967 pelo terrorista Carlos Marighela, após este ser expulso do PCB, depois da Conferência da OLAS, em Cuba. Sua obra Minimanual do Guerrilheiro Urbano foi traduzida para vários idiomas e foi o livro de cabeceira dos grupos terroristas Brigadas Vermelhas, da Itália, e Baader-Meinhoff, da Alemanha (... os tiras e policiais militares que têm sido mortos em choques sangrentos com os guerrilheiros urbanos, tudo isto atesta que estamos em plena guerra revolucionária e que a guerra só pode ser feita através de meios violentos. - trecho do Minimanual). No dia 10 Ago 1968, a ALN assaltou o trem-pagador Santos-Jundiaí, levando NCr 108 milhões, ação que consolidou a entrada da ALN na luta armada; nesse assalto, participou o Secretário-Geral do Governo Fernando Henrique Cardoso (depois Ministro da Justiça), Aloysio Nunes Ferreira Filho, que fugiu em seguida para Paris com sua esposa Vera Trude de Souza, com documentos falsos. Junto com o grupo terrorista MR-8, de Fernando Gabeira, a ALN seqüestra o embaixador norte-americano Charles Elbrick, no Rio de Janeiro, em 4 Set 1969, por cujo resgate foram libertados 15 terroristas (entre os quais estavam Vladimir Palmeira e José Dirceu). Marighela foi morto pela polícia em São Paulo, no dia 4 Nov 1969: após o seqüestro do embaixador americano, as prisões de terroristas tiveram seqüência: no dia 1º de outubro foi preso em São Sebastião, SP, o coordenador do setor de apoio, Paulo de Tarso; no dia 2 Nov foram presos no Rio de Janeiro os Freis Fernando e Ivo; no dia 3 Nov, já em São Paulo, Frei Fernando abriu o restante da rede de apoio, sendo presos os Freis Tito e Jorge, um ex-repórter da Folha da Tarde, responsável pelas fotos dos documentos falsos, e um casal de ex-diretores do mesmo Jornal; Frei Fernando foi quem levou ao ponto com Marighela, no dia 4 Nov, após revelar duas senhas, pois era o responsável pela coordenação das atividades dos dominicanos com Marighela, desde a saída de Frei Osvaldo de São Paulo, em junho daquele ano; combinado o encontro com Frei Fernando, Marighela resistiu à ordem de prisão quando entrava no carro de Frei Fernando, sacando um revólver, quando foi morto pelos policiais; a morte de Marighela repercutiu no Brasil e no exterior; com a morte de Marighela, assumiu o comando Joaquim Câmara Ferreira, o Toledo, que viajou a Cuba com Zilda Xavier para receber instruções de Fidel Castro, país em que um dos fundadores da ALN, Agonalto Pacheco, estava em choque com as autoridades locais, especialmente o comandante Manuel Piñero, o Barbarroxa, acusado de desvirtuar as iniciativas do AC/SP. Câmara Ferreira foi preso no dia 23 Out 1970, em São Paulo; cardíaco, sofreu enfarte na viatura policial, vindo a falecer; Carlos Eugênio Paz, em seu livro Viagem à Luta Armada, fantasia a história, dizendo que Toledo foi torturado até a morte pelo delegado Fleury; essa versão é negada por Luís Mir (A Revolução Impossível, pg. 560); em um bolso de Toledo, foi encontrada carta de Frei Osvaldo Rezende, onde constavam contatos internacionais, projetos políticos e ligações com os Governos cubano e argelino; o Governo brasileiro denunciou à ONU a ingerência em seus assuntos de países que não respeitavam o direito internacional o que não teve nenhuma conseqüência prática. Em 23 Mar 1971, a ALN faz o justiçamento de um quadro, Márcio Leite de Toledo; Carlos Eugênio Paz, em seu livro Viagem à Luta Armada, afirma que foi co-autor desse justiçamento. Junto com o Movimento Revolucionário Tiradentes (MRT), a ALN assassina o industrial Henning Albert Boilesen, diretor do Grupo Ultra, no dia 16 Abr 1971 (Sebastião Camargo, da empresa Camargo Correia, era também alvo para seqüestro e justiçamento, mas prevaleceu a escolha de Boilesen, porque era considerado espião da CIA e patrocinador da OBAN). Terroristas da VAR-Palmares, da ALN e do PCBR assassinam o marujo da flotilha inglesa que visita o Rio de Janeiro, David A. Cuthbert, de 19 anos, no dia 08 Jan 1972; nos panfletos, os terroristas afirmaram que a ação era em solidariedade à luta do IRA contra os ingleses. Em 1971, a ALN divide-se em duas facções: o Movimento de Libertação Nacional (MOLIPO), fundado pelo serviço secreto cubano (José Dirceu, Chefe da Casa Civil da Presidência durante o Governo Lula,, era um dos integrantes), e a Tendência Leninista (TL). Em 1972, a ALN/SP assassina o gerente da firma F. Monteiro S/A, Valter Cesar Galatti, ferindo ainda o subgerente Maurílio Ramalho e o despachante Rosalino Fernandes; em 1972, terroristas da ALN/GB, do MOLIPO e da ALN/SP assassinam o investigador Mário Domingos Pazariello, o soldado da PM/GO, Luzimar Machado de Oliveira e o cabo da PM/SP, Sylas Bispo Feche; a ALN/GB assassina em 1972 Íris do Amaral. No dia 21 Fev 1973, a ALN formou um grupo de execução, integrado por 3 terroristas, que assassinaram o proprietário do Restaurante Varela, o português Manoel Henrique de Oliveira, acusado de ter denunciado à polícia, no dia 14 Jun 1972, a presença de 4 terroristas que almoçavam em seu Restaurante, 3 dos quais morreram logo após (na verdade, os terroristas mortos estavam sendo seguidos pelo DOI-CODI). No dia 25 Fev 1973, terroristas da ALN, da VAR-Palmares e do PCBR assassinaram em Copacabana o Delegado Octávio Gonçalves Moreira Júnior. Pelo extenso currículo de Marighela, seus familiares receberam mais de 100 mil dólares de indenização, outorgada pela famigerada Comissão dos desaparecidos políticos, criada no primeiro Governo FHC. Além de Marighela, outro terrorista de destaque foi Carlos Eugênio Sarmento da Paz, que confessou ter praticado em torno de 10 assassinatos. Jessie Jane Vieira de Souza, outra militante da ALN, que participou do seqüestro de um avião, é hoje diretora do Arquivo Público do Rio de Janeiro. Com o auxílio do Movimento Comunista Internacional (MCI) e de padres dominicanos, como Frei Beto, a ALN tinha um sistema de propaganda no exterior, a FBI.
(4) VPR - Vanguarda Popular Revolucionária: originou-se da fusão de remanescentes do Movimento Nacionalista Revolucionário (MNR) com dissidentes paulistas da POLOP. Teve como líder maior o ex-capitão do Exército, Carlos Lamarca, que desertou do 4º RI, em Quitaúna, Osasco, SP, em 1969, roubando 63 FAL, 5 metralhadoras INA, revólveres e muita munição da Companhia onde comandava. O plano era levar mais 500 FAL do depósito de armamento do Batalhão, o que não ocorreu porque Lamarca teve que antecipar seu plano. No dia 22 Jul 1968, a VPR já havia roubado 9 FAL do Hospital Militar do Cambuci, em São Paulo. Em 26 Jun de 1968, a VPR explodiu um posto de sentinela do QG do então II Exército, em São Paulo, matando o sentinela, soldado Mário Kozel Filho. Em 12 Out 1968, a VPR assassinou o capitão do Exército dos EUA, Charles Chandler, projetando-se perante as organizações terroristas nacionais e internacionais. Em 1970, a organização terrorista seqüestrou diplomatas estrangeiros: o Cônsul-Geral do Japão em São Paulo, Nobuo Okuchi, no dia 11 Mar 1970, para libertação do terrorista Mário Japa; o Embaixador da República Federal da Alemanha no Brasil, Ehrenfried Anton Theodor Ludwig von Holleben, no dia 11 Jun 1970; o Embaixador suíço no Brasil, Giovanni Enrico Bucher, em 07 Dez 1970, libertado em troca de 70 presos terroristas enviados ao Chile do Presidente marxista Salvador Allende (24 desses terroristas eram da VPR), onde foram recebidos de braços abertos no dia 13 Jan 1971. Nesse seqüestro, participaram Carlos Lamarca e Alfredo Sirkis; Lamarca desfechou 2 tiros à queima-roupa contra o agente Hélio Carvalho de Araújo, que veio a falecer no dia 10 Dez 1970. O seqüestro durou 40 dias e seria o último realizado por organizações terroristas no País. Uma das ações mais covardes desta organização foi o assassinato a golpes de fuzil do tenente da PM/SP, Alberto Mendes Júnior, em Registro, SP, depois que o mesmo se entregou como refém a um grupo de terroristas, em troca da vida dos soldados de seu pelotão (10 Mai 1970). No mês de setembro, descoberto o crime, a VPR emitiu um comunicado "ao povo brasileiro", onde tenta justificar o frio assassinato, no qual aparece o seguinte trecho: "A sentença de morte de um tribunal revolucionário deve ser cumprida por fuzilamento. No entanto, nos encontrávamos próximos ao inimigo, dentro de um cerco que pôde ser executado em virtude da existência de muitas estradas na região. O tenente Mendes foi condenado e morreu a coronhadas de fuzil, e assim o foi, sendo depois enterrado". No início de 1971, a VPR tinha mais militantes no exterior (Cuba, Chile e Argélia banidos e foragidos) do que no Brasil. Carlos Lamarca morreu em Brotas de Macaúbas, interior da Bahia, em 17 de setembro de 1971, ao resistir à prisão. Como recompensa por estes e muitos outros atos criminosos, a família de Lamarca, embora já recebesse pensão do Exército Brasileiro, foi presenteada com uma indenização de mais de 100 mil dólares (11 Set 1996), doada pela famigerada comissão dos desaparecidos políticos, criada no primeiro Governo FHC. Com essa ignomínia, o 11 de setembro deveria ser instituído como o dia da traição, como já sugeriu o Deputado Jair Bolsonaro. Um dos principais terroristas da VPR foi Diógenes de Oliveira, hoje Diógenes do PT, o PC da campanha de Olívio Dutra (PT/RS) para Governador. Outro militante da VPR foi Henri Phillipe Reichstul, Presidente da Petrobrás durante o Governo FHC (sua irmã francesa, Pauline, também militante da VPR, morreu em um tiroteio no Recife, em janeiro de 1973, depois de fazer um curso de guerrilha em Cuba e tentar a reestruturação da VPR no Brasil). Militante da VPR e da VAR-Palmares foi também o Secretário do Trabalho do Rio de Janeiro, Jaime Cardoso, (Governo Garotinho), que teve como Chefe de Gabinete Rafton Nascimento Leão, antigo militante da VAR-Palmares. A fusão da VPR com o COLINA resultou na VAR-Palmares.
(5) Brasil, Nunca Mais - Relatório elaborado pela Arquidiocese de São Paulo, sob a direção do Cardeal Dom Paulo Evaristo Arns, onde constam os nomes das vítimas da ditadura militar (mortos e desaparecidos) e são relacionados nomes de supostos torturadores. Semelhante à Comissão Sábato (Argentina), que elaborou o Relatório Nunca Más, a obra Brasil, Nunca Mais peca por não relacionar os crimes cometidos pelos grupos extremistas de esquerda (assassinatos, assaltos a bancos, seqüestros, atentados a bombas, justiçamentos - assassinatos de próprios companheiros), que provocaram a morte de mais de 100 pessoas. Isso não causa estranheza, porque o Relatório foi elaborado pelos próprios comunistas, com as bênçãos de Dom Arns. Leia os livros Brasil, Nunca Mais e Brasil, Sempre!, de Marco Pollo Giordani, e acesse Terrorismo Nunca Mais (Ternuma - www.ternuma.com.br) e Tortura Nunca Mais (www.torturanuncamais-rj.org.br), para separar o mito do Tortura dos fatos do Ternuma.
(6) Desinformatsya - Termo russo, significa desinformação. Concebido pelo Komintern para designar o uso sistemático de informações falsas como instrumento de desestabilização de regimes políticos. "A desinformação leva as instituições ao completo descrédito, induzindo a opinião pública a transferir aos agentes da desinformação a confiança que depositamos no Estado, nas leis e nos costumes tradicionais" (Olavo de Carvalho). Um antecedente milenar foi Sun-Tsu, que afirmou: Todo esforço de guerra baseia-se no engodo. Se a espionagem é a 2ª mais antiga profissão do mundo, a desinformação é a 3ª. Nos EUA, o Governo George W. Bush criou o Departamento de Influência Estrangeira, subordinado ao Pentágono, logo após os atentados de 11 Set 2001, para difusão de informações no Oriente Médio, Ásia e até Europa Ocidental, inclusive falsas. Críticos afirmam que ações desse tipo prejudicam a credibilidade do Pentágono. Uma das unidades encarregada do programa do novo Departamento é o Comando de Operações Psicológicas (PsyOp), do Exército. Na década de 1980, o PsyOp transmitiu programas de rádio e TV para a Nicarágua, para minar o Governo sandinista de Daniel Ortega. Nos anos 1990, o PsyOp estimulou o apoio aos americanos nos Bálcãs. Leia o livro Dezinformatsia, de Richard H. Shultz e Roy Godson, Berkley Books, NY, 1986.
(7) AUGUSTO, Agnaldo Del Nero. A Grande Mentira. Biblioteca do Exército Editora, Rio de Janeiro, 2001.
(8) SOUZA, Aluísio Madruga Moura e. Guerrilha do Araguaia Revanchismo. Abc BSB Gráfica e Editora Ltda., Brasília, DF, 2002.
(9) Artigo de Elio Gaspari, Mensagem de Marighella ao ministro Mateus, publicado no jornal O Globo, edição de 22 de janeiro de 2002.
(10) José Dirceu o homem que faz a cabeça de Lula, revista Veja, edição nº 1770, de 25 de setembro de 2002.
(11) Estória-cobertura - Muito utilizada por espiões, terroristas e criminosos em geral, para encobrir as reais intenções, seja dentro ou fora do país. Consiste em simular uma atividade, p. ex., abrir um comércio, para encobrir a verdadeira atividade. Um exemplo clássico foi o caso de Olga Benário, que deixou o marido B. P. Nikitin na Rússia e acompanhou Luis Carlos Prestes ao Brasil, como se fosse sua mulher: Olga Bergner Vilar, casada com Antônio Vilar, para promover a Intentona Comunista, em 1935.
(12) Livro Negro do Comunismo, O - Le livre Noir du Communisme, escrito por 6 historiadores europeus, com acesso a arquivos russos, relata o Holocausto Vermelho que assolou todo o planeta no século XX, com mais de 100 milhões de mortos (muito superior ao holocausto nazista): China: 65 milhões de mortos; União Soviética: 20 milhões; Coréia do Norte: 2 milhões; Camboja: 2 milhões; África: 1,7 milhão, distribuído entre Etiópia, Angola e Moçambique; Afeganistão: 1,5 milhão; Vietnã: 1 milhão; Leste Europeu: 1 milhão; América Latina: 180 mil entre Cuba, Nicarágua, Colômbia e Peru (este último número, já de há muito superado, devido à continuação da matança feita pelas FARC e pelo ELN, na Colômbia); Movimento Comunista Internacional (MCI) e Partidos Comunistas no poder: 10 mil. Veja, ainda, Museu do comunismo em www.gmu.edu/departments/economics/bcaplan, criado pelo Professor Bryan Caplan, PhD em Economica pela Universidade de Princeton, EUA, e o site de Olavo de Carvalho (www.olavodecarvalho.org/), que tem artigos e links sobre o Comunismo.
(13) Como se sabe, José Dirceu, outrora membro do MOLIPO, era conhecido mais por suas façanhas dom-juanescas do que por ações violentas.
Autor: Félix Maier
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