MEMORIAL 31 DE MARÇO DE 1964

MEMORIAL 31 DE MARÇO DE 1964
Avião que passou no dia 31 de março de 2014 pela orla carioca, com a seguinte mensagem: "PARABÉNS MILITARES: 31/MARÇO/64. GRAÇAS A VOCÊS, O BRASIL NÃO É CUBA." Clique na imagem para abrir MEMORIAL 31 DE MARÇO DE 1964.

terça-feira, 28 de abril de 2020

Chico Dólar narra a Guerrilha do Araguaia - fichamento de "Bacaba" - por Félix Maier

Tenente do Exército José Vargas Jiménez, com seu livro "Bacaba"


Chico Dólar narra a Guerrilha do Araguaia


Félix Maier

O livro Bacaba – Memórias de um Guerreiro de Selva da Guerrilha do Araguaia (Editora do Autor, Campo Grande (MS), 2007), do tenente da reserva do Exército José Vargas Jiménez, “é dedicado a todos os militares que morreram na Guerrilha do Araguaia defendendo a Pátria contra o Partido Comunista do Brasil (PC do B) que queria impor, à força, através da luta armada, o regime comunista no Brasil” (Dedicatória, pg. 5). O autor participou diretamente do conflito, na missão que ele denomina “Fase do Extermínio” (outubro de 1973 a janeiro de 1975). Além de relatar combates de que participou na selva, o tenente Vargas anexou documentos secretos e confidenciais ao livro, além de outros particulares, como as medalhas que recebeu durante sua carreira militar.

No prefácio, o autor afirma: “Sobre o assunto, tenho lido e ouvido na mídia diversas reportagens, pesquisas de jornalistas e depoimentos de militares que não participaram ativamente dessa operação. Nenhum guerreiro de selva que realmente esteve na linha de front e participou ativamente da preparação da tropa, como instrutor, e posteriormente como combatente, teve a coragem de falar sobre o assunto, por medo de represália, tanto do governo (União e Exército), quando do Partido Comunista do Brasil e dos familiares de guerrilheiros que combateram no Araguaia. Esse trabalho com certeza irá esclarecer a todos que desejam saber o que realmente aconteceu com os guerrilheiros e militares mortos no conflito, particularmente sobre os guerrilheiros que foram capturados vivos e hoje constam como ‘desaparecidos’ ” (pg. 11).

O livro contém a cópia de muitos documentos classificados como SECRETO e CONFIDENCIAL e será muito útil para historiadores, acadêmicos e a população em geral conhecerem o que foram aqueles anos da “matraca” comunista.


Preparação para o combate

Em março de 1973, o então 3º sargento Vargas foi voluntário para fazer o Curso de Guerra na Selva, no Centro de Operações na Selva e Ações de Combate (COSAC), atual Centro de Instrução de Guerra na Selva (CIGS), com sede em Manaus, AM. Depois do curso, de dois meses de duração, ele voltou à sua Unidade, a 1ª Companhia do Batalhão de Fronteira (1ª Cia/Btl Fron), da Colônia Militar do Oiapoque, em Clevelândia do Norte, então Território do Amapá.

Em agosto do mesmo ano, o comandante da Colônia Militar, major de artilharia Osmar Nascimento Leite, reuniu os sargentos e solicitou dois voluntários para que representassem a 8ª Região Militar (8ª RM) em um concurso de patrulhas em Manaus. Os 3º sargentos Vargas e Vilhena (no livro, não é apresentado o nome completo) se apresentaram como voluntários. O mesmo convite foi feito aos cabos e soldados do núcleo-base (profissionais), não aos recrutas. Somente 9 se apresentaram e integraram o Grupo de Combate (GC) do Sgt Vilhena. Os outros 9 soldados, que passaram a integrar o GC do Sgt Vargas, tiveram que ser escalados, sendo um deles soldado recruta. Assim, os 20 militares da Colônia ficaram aguardando ordens para viajar a Manaus.

Na primeira quinzena de 1973, chegou a Clevelândia do Norte um avião C-115 Búfalo, da Força Aérea Brasileira (FAB), trazendo 41 militares, sendo 1 capitão, 3 sargentos, 1 cabo e 36 soldados. Cada Sgt e Cb comandavam um GC de 9 homens.

Todo esse contingente da 8ª RM, de 60 militares, passou ao comando do capitão Pedro de Azevedo Carioca (Ten Azevedo). Os comandantes dos GC eram: os 3º Sgt Vargas, Vilhena, Elizeu Figueiredo de Carvalho (Sgt Elizeu), Francisco das Chagas Alves de Brito (Sgt Brito) e um outro 3º Sgt (não nominado pelo autor), e o cabo José Albérico Figueiredo (Cb Albérico). Os dois últimos eram os únicos que não tinham o Curso de Guerra na Selva.

Naquela oportunidade, o comandante da Colônia comunicou ao contingente recém-formado que a missão para a qual os militares haviam sido voluntários “não era para o concurso de patrulhas, como havia sido dito anteriormente, e sim para combater os terroristas inimigos da Pátria, na região de Marabá-PA e Xambioá-GO” (pg. 27). A primeira ordem foi que todos mantivessem sigilo absoluto sobre a operação, não comunicando nada sequer aos familiares.

No interior da selva do Amapá, os militares iniciaram imediatamente o treinamento de técnicas de combate à guerrilha: orientação na selva com bússola, pelo sol e pelas estrelas; sobrevivência na selva; emboscada; contra-emboscada; tiro instintivo com vários tipos de armas (Fuzil Automático Leve-FAL calibre 7.62, Para-FAL 7.62, revólver calibre .38, pistola 9 mm e .45, espingardas calibre 12 (de 1 e 2 canos), 16 e 20, fuzil calibre 22 com silenciador); deslocamento na selva; transposição de cursos d’água; pistas de cordas (rapel, falsa baiana, comando crow, cabo aéreo e ponte de 2 e 3 cordas); primeiros-socorros; base de patrulha; zona de reunião; e trato com a população.

Todo esse treinamento era feito com munição real, não com festim, para dar maior realismo. Um dos soldados desobedeceu à ordem de não se deslocar sozinho (até para fazer necessidade fisiológica teria que ser acompanhado), perdeu-se na selva e só foi encontrado no outro dia. Assustado, disse que foi seguido por uma onça, subiu numa árvore para se proteger, onde dormiu amarrado a um galho. Pelo menos, o soldado provou que estava aprendendo a sobreviver na selva...

Antes de viajar para cumprir a missão, os militares tiveram que adquirir material diverso, como calças jeans, camisas de cor escura, facas, facões, 4 m de plástico para dormir na selva e confeccionar mochilas de sacos de estopa para o transporte de alimentos, armas e munição. Além disso, todos os militares tiveram que providenciar uma procuração, em nome da esposa, mãe ou pai, para recebimento do pagamento enquanto estivessem ausentes ou até mesmo em caso de óbito.

Para a missão de combate na selva, os militares passariam a atuar descaracterizados fisicamente: barbudos, cabeludos, roupas civis, cada um adotando um codinome. O Sgt Vilhena passou a ser o “Navalhada”. O Sgt Vargas, “Chico Dólar”.

Posteriormente, os militares tomaram conhecimento de que outros 60 militares, da 12ª RM, Manaus, estavam sendo treinados no COSAC.

No dia 29 de setembro de 1973, os 60 guerreiros de selva viajaram em um avião C-115 Búfalo, da FAB, para Belém, onde foram alojados no 2º Batalhão de Infantaria de Selva (2º BIS). Nesse quartel, os militares continuaram o treinamento com armas: lançador de granadas (M-79), metralhadora Beretta cal 9 mm, metralhadora HK cal 9 mm, fuzil automático norte-americano (M-16) e granadas de mão defensivas.


Operação Marajoara

No dia 1º de outubro, chegou de Manaus um avião C-130 Hércules, da FAB, trazendo os 60 combatentes que haviam sido treinados no COSAC. No dia seguinte, o contingente de 120 militares, 60 da 8ª RM e 60 da 12ª RM, juntamente com mais alguns oficiais oriundos do Comando Militar da Amazônia (CMA), embarcou no mesmo avião para Marabá-PA.

“Lá chegando, fomos para a “Casa Azul”, sede do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), localizada no Bairro do Amapá da cidade de Marabá-PA, logo após o Rio Itacaiúna, onde ficava a base de comando de combate, as Forças Guerrilheiras do Araguaia (FOGUERA)” (pg. 33).

Nessa base de comando da “Operação Marajoara” – como se denominou a operação que exterminou a guerrilha do PC do B -, ainda no dia 2 de outubro, os combatentes receberam do Centro de Informações do Exército (CIE), atual Centro de Inteligência do Exército (CIE), os seguintes documentos (cópias anexadas no livro):

- Normas Gerais de Ação – 5 Set 73 – Trato com a população (Secreto);
- Plano de Captura e Destruição (Secreto);
- Plano de Busca e Apreensão (Secreto); e
- Coletânea de fotos de guerrilheiros, plastificadas (Secreto).

“No dia 2 de outubro de 1973, ainda na ‘Casa Azul’, nos apresentaram vários oficiais com os quais iríamos trabalhar. Eram chamados de “Doutores”, entre eles, o Dr. Mario Antônio Luchini (Curió), cujo nome e posto verdadeiro era Cap Sebastião Rodrigues de Moura, e o guia Ivan, que era o Sgt da 3ª Brigada de Infantaria de Brasília-DF” (pg. 33-34).

“Quando preparávamos as armas para o combate, um dos soldados apontou seu fuzil na direção de outro, no que um dos oficiais presentes gritou: ‘Não aponte a arma para ninguém, soldado’, tendo o mesmo respondido: ‘Mas não está carregada, doutor’. E o oficial concluiu: ‘Mas o diabo carrega’ ” (pg. 34).

O livro abre com um documento confidencial do PC do B, “Estudo do PC do B para Implantação da Guerrilha do Araguaia, 1968-1972”. Este documento trata da análise dos comunistas sobre por que a região foi escolhida para a “guerra popular”, sua caracterização sócio-geográfica, os objetivos dos guerrilheiros comunistas e o provável desenvolvimento da luta armada na região.

No documento “Plano de Captura e Destruição”, estavam relacionados todos os grupos de guerrilheiros que atuavam na região, levantados pelo CIE.

Os grupos de “Piauí” (Antônio de Pádua Costa) e “Zé Carlos” (André Grabois) tinham prioridade “um” para captura e destruição, já os grupos de “Nelito” e “Zezinho”, a prioridade era “dois”, sem presenças confirmadas na área. Todos atuavam nas localidades de Fortaleza, São José I, Caçador, Chega com Jeito e Pavão, e as localidades que os apoiavam eram Bom Jesus, Metade e São Domingos das Latas.

O grupo de “Osvaldão” (Osvaldo Orlando da Costa), a prioridade para captura e destruição era “um”, tinha presença confirmada na região. Esse grupo atuava nas regiões de Santa Luiza, Viração, Grota Vermelha, Grota do Jenipapo, Joça, Grota da Laje e Mina Velha (área compreendida entre o Saranzal e o Jacaré Grande). As localidades que o apoiavam eram: Palestina e Brejo Grande.

O grupo de “Mundico”, a prioridade para captura e destruição era “um”, com presença confirmada na área. Atuava na região de São Raimundo e as localidades que o apoiavam eram: Pimenteira, Cajueiro e Castanhal do Evandro.

No documento “Plano de Busca e Apreensão”, eram relacionadas as localidades onde os guerrilheiros comunistas deveriam ser feitos prisioneiros e suas prioridades para captura.

“Os guias que conduziriam os Grupos de Combate para esta missão eram: Ivan, Nonato I, Jamiro, Francisco, Jamal (militar) e Nonato II (civil).

Os povoados onde se encontravam os camponeses a serem presos estavam assim relacionados:

- Em Bom Jesus: José Salim (Salu), Leonel, Severino (consta ter um filho servindo na Companhia de Marabá-PA), Oneide (tem casa em Marabá, na Rua São Pedro – Casa de Ana Barbosa), João Mearim e Luiz, todos com prioridade “um” para sua captura. E Luizinho, Leonda e Salomão, com prioridade “três”.
- Em Santa Rita: Manoel Cícero, com prioridade “três”.
- Em Itamerim: André e Zé de tal (o guia Jerônimo é quem conhece a casa), ambos com prioridade “um”.
- Em Brejo Grande: Bernardino, com prioridade “um”, e Vicente (capataz de Zé Oliveira), com prioridade “dois”.
- Em Cristalândia: João Murada, com prioridade “quatro”.
- Em Centro de Osorinho: Mulher e filho de 18 anos, com prioridade “três” ” (pg. 37).

O documento “Normas Gerais de ação – Trato com a população” tinha como finalidade “recordar a importância da população no quadro da guerrilha rural e realçar alguns dos aspectos mais importantes no trato com a mesma” (pg. 38).

Essas “Normas Gerais” emitiam alguns conceitos preliminares, como “subversão” e “guerrilha”, além de afirmar que “a população é o meio, o instrumento e a condição essencial para o sucesso da guerrilha” (pg. 38). Lembra a máxima de Mao Tsé-Tung, para quem “a população é para o guerrilheiro, como a água é para o peixe” (pg. 39). As “Normas Gerais” também lembram as ações de caráter psicológico com as quais o guerrilheiro espera conquistar o apoio da população:

- A propaganda ostensiva e subliminar, como emprego de panfletos, contatos pessoais e reuniões com grupos, sempre tentando denegrir o trabalho do governo, especialmente o das Forças de Segurança;
- A tomada de posição do menos favorecido, pregando a “justiça social”;
- O incentivo ao agravamento dos conflitos sociais existentes, entre esses a posse de terras, a desigualdade das classes sociais, o trabalho semi-escravo, a carência de assistência educacional e sanitária;
- A exploração de divergências entre grupos sociais, seja de caráter político, religioso, econômico ou ideológico;
- A coação, gerando o medo e o pavor entre a população, com assassinatos (“justiçamentos”), seqüestros, assaltos, sabotagens, delações, sempre com vista a deixar a população em estado permanente de terror.

As “Normas Gerais” dizem como deve ser feita a neutralização das ações terroristas sobre a população:

- A ação do poder público, em todos os níveis (do federal ao municipal);
- A ação do poder militar para destruir e neutralizar a força guerrilheira;
- Um órgão central, planejador e coordenador das ações, para conjugar os esforços para a conquista dos objetivos desejados;
- O tratamento dispensado à população pela força militar, de modo que ela tenha a sensação de segurança e tranqüilidade, cujas prescrições são enunciadas abaixo:

“ - Tratar com educação e consideração todos os membros da população;
- Pagar o que utilizar e devolver o que pedir emprestado;
- Ser solícito e prestimoso na medida de suas possibilidades;
- Nunca prometer o que não puder cumprir;
- Ouvir muito, falar pouco;
- Ser paciente e atencioso;
Respeitar a família, os habitantes e costumes da população;
- Evitar a arrogância, o excesso e abusos de autoridade, em situações normais;
- Tratar com energia e discrição todos os prisioneiros apanhados entre os componentes da população, mesmo o infiltrado;
- Evitar cenas públicas, que de alguma maneira possam chocar a população; e
- Denominar os terroristas de “Comunistas” ” (pg. 40).


Primeira missão de Chico Dólar

No dia 3 de outubro de 1973, “Chico Dólar” parte com seu GC para sua primeira missão de captura e destruição de guerrilheiros, juntamente com os GC do Sgt Elizeu e do Sgt Brito, todos comandados por “Curió” e guiados por Ivan. Todos viajaram pela rodovia Transamazônica, em caminhonetas pretas do INCRA, até uma certa localidade, na orla da selva, de onde seguiram a pé até o povoado de Bom Jesus.

Entrando de casa em casa, fizeram prisioneiros os camponeses suspeitos de dar cobertura e apoiar os guerrilheiros, em torno de 30 homens. Amarrados em fila indiana, foram levados para o interior da selva, e em cada cabana onde houvesse o chefe de família ou filho homem, com idade para lutar com os guerrilheiros, todos eram presos, deixando somente as mulheres e as crianças.

O número de prisioneiros chegou a 40, dificultando o deslocamento na selva. Curió então ordenou que os GC do Sgt Elizeu e Sgt Brito, conduzidos pelo guia Ivan, levassem os prisioneiros para a base de operações de Combate “Bacaba”, localizada no km 68 da Transamazônica. Ficou com “Curió” o GC comandando por “Chico Dólar”, os quais passaram a vasculhar a região em busca de bases e acampamentos dos guerrilheiros, montando emboscadas nas trilhas no meio da selva.

No sétimo dia da missão, os militares se encontravam na região de Peixinho e “Chico Dólar” pediu permissão a “Curió” para que seus homens tomassem banho num igarapé, o que foi feito, com as normas de segurança exigidas: enquanto 5 homens tomavam banho, os outros faziam a segurança em 360º.

Numa cabana, havia uma mulher com dois filhos, um de 4, outro de 12 anos. O garoto de 12 anos pediu permissão para buscar água no igarapé e não voltou mais – provavelmente foi avisar o pai.

Em outra cabana, foi preso o camponês “Mané das duas mulheres”, assim chamado por viver maritalmente com duas irmãs. Posteriormente, Mané passou a colaborar com os militares.

O autor lembra que nos primeiros 10 dias de busca na selva ele sempre ia à frente do grupo, para ganhar a confiança dos seus homens. Depois ele mandava qualquer um deles à frente, como esclarecedor. “O meu GC fez um pacto, jamais nos entregaríamos ou deixaríamos que nos capturassem vivos, lutaríamos até a morte, pois sabíamos que se fôssemos capturados, seríamos torturados pelos guerrilheiros, até a morte” (pg. 42).


O primeiro contato com os guerrilheiros

Após 10 dias na selva, Chico Dólar e seu GC conhecem Bacaba, a base de operações de combate, que ficava no Km 68 da rodovia Transamazônica, ao Norte de Xambioá e próximo a São Domingos das Latas. Entre Bacaba e a “Casa Azul”, havia um posto policial, no Km 46.

No dia 14 de outubro de 1973, em Bacaba, Chico Dólar “tomou conhecimento do primeiro contato da tropa com os guerrilheiros. Um dos GC, chefiado pelo major Lício Augusto Ribeiro Maciel (“Dr. Asdrúbal”), que tinha por guia o mateiro Manoel Lima (“Vanu”), ouviu tiros na região do Caçador, seguiu naquela direção e se deparou com 5 guerrilheiros vestindo fardas da PM do Pará, que haviam abatido 2 porcos e os estavam assando.

“O GC os embocou, sendo que na troca de tiros, três guerrilheiros caíram mortos, André Grabois (“Zé Carlos”), chefe do grupo, João Gualberto Calatroni (“Zebão”) e Antônio Alfredo de Lima (“Alfredo”). Divino Ferreira de Souza (“Nunes”) foi ferido, feito prisioneiro e posteriormente morto. Demerval da Silva Pereira (“João Araguaia”) conseguiu fugir” (pg. 45).

“O guerrilheiro ‘Nunes’, que possuía curso de guerrilha na China, foi levado ferido para a ‘Casa Azul’, no bairro do Amapá em Marabá-PA, sede do Quartel-General do Comando da ‘Operação Marajoara’, onde eram planejadas as operações contra as Forças Guerrilheiras do Araguaia. Ali ficavam também os militares (oficiais e sargentos) do Centro de Informações do Exército (CIE), encarregados de interrogar os prisioneiros.

Em seu depoimento, ‘Nunes’ contou que dias antes de abaterem os porcos fazia parte de um grupo de vinte guerrilheiros que se deslocavam na selva para uma de suas bases. Quando na região de ‘Peixinho’, ouviram e depois viram um grupo de dez homens barbudos e cabeludos, portando vários tipos de armas, tomando banho num igarapé.

Os guerrilheiros então cercaram o grupo e se prepararam para embosca-los, nesse momento perceberam que cinco dos que se banhavam estavam com suas armas bem próximas e os outros cinco, prontos para atirar lhes fazendo segurança. Além disso, o armamento que os vinte possuíam não era compatível para enfrentar os dez que tomavam banho, cujo poderia de suas armas de fogo eram maior que as deles. Desistiram de atacá-los e se dividiram em quatro grupos de cinco guerrilheiros. O grupo ao que ‘Nunes’ se referia era o que eu comandava na região de ‘Peixinho’. Cabe aqui o esclarecimento de porque este grupo de guerrilheiros foi encontrado e emboscado. Eles atiraram em porcos para matá-los e se alimentar. Nós, quando necessitávamos caçar, o fazíamos com espingarda cal. 22, com silenciador” (pg. 45-46).


Encontro de cadáveres de guerrilheiros

Chico Dólar e seu GC não ficavam mais que 1 ou 2 dias em Bacaba, sempre ficavam “vasculhando a selva à procura de acampamentos, bases e depósitos de mantimentos dos guerrilheiros, além de ficarmos preparando emboscadas nas trilhas. Ocasionalmente, numa dessas incursões, passamos pela região de ‘Caçador’, onde uns de nossos GC haviam matado os guerrilheiros: ‘Zé Carlos’, ‘Zebão’ e ‘Alfredo’, e os tinham deixado ali expostos no meio da selva. Estavam cheirando mal. Um dos meus soldados foi até um dos cadáveres e com sua faca cortou um dos seus dedos, retirou o resto da carne que já estava em decomposição, ficando somente com os ossos que pendurou no seu pescoço, dizendo: ‘Esse amuleto é meu troféu de guerra!’ Eu encontrei um gorro feito do couro de quati, estava na cabeça do cadáver do guerrilheiro ‘Zé Carlos’, era do tipo de ‘Daniel Boone’, peguei-o para mim e passei a usa-lo. Três dias depois, retornamos pelo mesmo local e qual não foi a nossa surpresa ao ver que os cadáveres dos guerrilheiros estavam cobertos com folhas de palhas. Deduzimos que forma seus companheiros guerrilheiros que por ali passaram e os cobriram, pois não podiam parar para enterra-los, com medo de serem emboscados por um de nossos GC” (pg. 47).


As vítimas fatais do “fogo amigo”

No dia 16 de outubro de 1973, uma caminhonete preta do INCRA chegou a Bacaba com o Sgt Brito, “deitado na carroceria, esvaindo-se em sangue, e com as duas mãos na barriga tentando conter a hemorragia” (pg. 48). O Sgt Brito, que havia feito o curso de Guerra na Selva com Chico Dólar, faleceu antes de chegar a Marabá.

O que ocorreu com o Sgt Brito foi “fogo amigo”, como relata Chico Dólar:

“O GC do Sgt Brito saiu da base de Bacaba de madrugada, em uma caminhonete do INCRA, para cumprir uma missão de busca e apreensão nas proximidades de Brejo Grande. Pouco antes de chegar à orla da selva, onde deveriam desembarcar e seguir a pé, foram parados numa barreira feita pela Polícia Militar do Estado do Pará (PM/PA). Não havia uma senha ou sinal de reconhecimento entre as tropas amigas (Exército e Polícia Militar), dias antes os guerrilheiros haviam atacado um Posto Policial e andavam fardados no meio da selva. E, além disso, o GC do Sgt Brito também estava descaracterizado (todos barbudos, cabeludos e à paisana), portando armas de fogo. As duas tropas então se confundiram, achando que eram guerrilheiros. O soldado da PM/PA que estava de guarda atirou, atingindo o Sgt Brito, que veio a falecer posteriormente. Houve troca de tiros onde também foi atingido mortalmente um Sgt da PM/PA. Ficaram feridos o soldado do Exército Manoel Pestana da Silva, que servia no 2º BIS em Belém-PA, e o soldado da PM/PA que estava de sentinela naquela hora, que foi quem iniciou o tiroteio” (pg. 48).

“Outro acidente trágico aconteceu na base de Bacaba, quando no início da noite de 8 de dezembro de 1973 o sargento encarregado da segurança da base reuniu seu GC para dar ordens em relação ao serviço noturno, senha e contra-senha, sinais de reconhecimento, distribuição de horários de guarda e ronda. Estavam todos reunidos ao redor de uma mesa, quando um dos solados colocou sua espingarda de dois canos cal. 22 em cima dela e a arma disparou acidentalmente, atingindo o pênis e a barriga do soldado Raul Marques de Brito, que servia na 5ª Cia Gd em Belém-PA. Na ocasião, já havia um médico na base que foi prontamente atender ao ferido, aplicando-lhe os primeiros socorros. Este metia a mão na barriga do ferido, aberta pelos tiros da espingarda e retirava os chumbos que ali haviam penetrado, ao mesmo tempo em que tentava consola-lo, dizendo-lhe: ‘você não vai morrer’, no que o soldado, gritando de dor, lhe respondia: ‘de que adianta viver, se não vou ser mais homem para nenhuma mulher’. Este soldado também veio a falecer naquela noite, ali na base” (pg. 48-49).

Um terceiro episódio de “fogo amigo” foi relatado por Chico Dólar, que culpa o acidente por falta de treinamento adequado da tropa:

“A selva fez muitas baixas, provocadas por doenças tropicais, tais como, leishmaniose, malária, ameba e gripe, além de problemas psicológicos em alguns militares despreparados para a missão. Houve então a necessidade de se fazer o recompletamento, o que foi feito por nossos superiores.
Os substitutos que vieram não tiveram o preparo que a primeira tropa teve, isto é, um estágio de combate a guerrilheiros na selva. Além de mandarem soldados recrutas que haviam incorporado naquela ano para prestar o serviço militar inicial, vieram oficiais e sargentos sem curso de guerra na selva.
Um desses sargentos que veio para recompletar a tropa, comandando um GC de recrutas, no dia 16 de fevereiro de 1974 foi cumprir uma missão de captura num vilarejo e, pra ter mais rapidez e mobilidade na operação, resolveu deixar as mochilas dos combatentes aos cuidados de um deles (recruta), contrariando as instruções de que não devia deixar sozinho no meio da selva nenhum combatente (tinham que estar sempre em dupla).
O recruta, cujo apelido era ‘Garrote’, ficou sozinho cuidando das mochilas. Ocorreu que um outro GC que também estava atuando naquela área passou próximo dele, este os confundiu com guerrilheiros e atirou, matando o Cabo Ovídio Gomes França, que servia na 1ª Companhia do 34º Batalhão de Infantaria, em Macapá-AP” (pg. 49-50).


Morte da guerrilheira “Sônia”

“No dia 24 de outubro de 1973, na região de Taboão, próximo ao Brejo Grande, um de nossos GC que fazia ‘pente fino’ na selva, na entrada de um brejo (igapó ou pântano), encontrou um par de botas. Preparou então uma emboscada. Pouco tempo depois, apareceram dois guerrilheiros, uma mulher e um homem. Ela estava descalça e ao chegar ao local onde havia deixado as botas não as encontrou e então gritou: ‘parem de brincar e devolvam as minhas botas!’, pensando que haviam sido seus camaradas que as tivessem escondido.
Naquele momento recebeu ordem de prisão, ela reagiu atirando com um revólver, na troca de tiro foi ferida na perna, o outro guerrilheiro conseguiu fugir. Posteriormente foi identificado como sendo um colono morador da região, de nome Wilson, que havia sido recrutado pelas FOGUERA.
O comandante do GC, juntamente com o Major Lício Augusto Ribeiro Maciel (Dr. Asdrúbal) e o Capitão Sebastião Rodrigues de Moura (Curió), se aproximou da guerrilheira ferida e lhe perguntou: ‘Qual o seu nome?’ No que ela respondeu: ‘Guerrilheira não tem nome seu FDP, nós lutamos pela liberdade!’. Ao mesmo tempo em que falava, tirou um outro revólver que tinha escondido e atirou, ferindo no rosto o Dr. Asdrúbal e, no braço, Curió. Foi metralhada e morta ali mesmo.
Esta guerrilheira era Lúcia Maria de Souza (Sônia) e tinha fama de ser exímia atirador, o que provou quando feriu os dois oficiais. Seu corpo foi deixado à beira do brejo” (pg. 51).


Guerrilheiros decapitados e mutilados (sem cabeça e mãos)

“No dia 24 de novembro, na região de Pau Preto, o guerrilheiro Arildo Airton Valadão (Ari) foi morto e decapitado por um GC comandado por um 2º sargento que servia na 1ª/3º B Fron, com sede em Clevelândia do Norte-AP, organização militar onde eu servia.
Este Sgt disse que quando vasculhava a selva fazendo ‘pente fino’ à procura de bases e acampamentos, deparou-se com os guerrilheiros ‘Ari’ e um outro que fugiu, sendo posteriormente identificado como Antônio Teodoro de Castro ‘Raul’. Houve troca de tiros e ‘Ari’ caiu morto.
Como não tinha fotos nem a relação de nomes dos guerrilheiros, não conseguiu identifica-lo, recebeu então ordens pelo rádio transmissor para que o decapitasse e lhe cortassem as mãos, fins posterior identificação e reconhecimento pelo rosto e impressões digitais. Assim o fez, colocando-os num saco de plástico e de estopa, e os conduziu para a base de operações de combate em Bacaba.
Em 3 de dezembro de 1973, o guerrilheiro Adriano Fonseca Fernandes Filho (Chicão ou Queixada), que pertencia ao Destacamento ‘C’, foi morto pelos pára-quedistas que atuavam na região de Xambioá e, em 22 de dezembro de 1973, o guerrilheiro Jaime Petit da Silva (Jaime) também foi morto em confronto com um de nossos GC. Ambos foram decapitados e tiveram suas mãos cortadas” (pg. 52).


Morte de oito guerrilheiros do comando das FOGUERA

“No dia 25 de dezembro de 1973, dia do Natal, uma equipe mista, integrada por pára-quedistas de Xambioá e guerreiros de selva de Bacaba, estava seguindo umas pegadas na região da Gameleira, próximo ao Rio Araguaia, quando se defrontaram com um grupo de guerrilheiros integrantes do Comando das Forças Guerrilheiras do Araguaia.
Houve troca de tiros, resultando na morte de oito guerrilheiros: Maurício Grabois (Velho Mário), Paulo Roberto Pereira Marques (Amauri), José Humberto Bronca (Zeca Fogoió), Gilberto Olímpio Maria (Pedro Gil), Paulo Mendes Rodrigues (Paulo) e Marcos José de Lima (Ari Armeiro), além da apreensão de mochilas com objetos pessoais, documentos das FOGUERA, material de oficina gráfica, armamento e munição” (pg. 53).


Chico Dólar captura Paiuí e Zezinho – Técnicas de tortura

“Em 24 de janeiro de 1974, encontrava-me na base de operações de combate em Bacaba, quando recebemos uma informação de que o guerrilheiro Piauí (cuja prioridade para captura ou destruição era número ‘um’), juntamente com outro não identificado, foi visto nas proximidades de São Domingos das Latas, um pequeno povoado localizado no meio da selva.
O Tenente Miracis (Miracis Rogério Flores), hoje Coronel do Quadro do Estado-Maior (QEMA) do Exército, e eu saímos numa camioneta do INCRA, com a finalidade de confirmar a informação. Lá chegando, ouvimos alguns moradores que nos afirmaram tê-los visto numa cabana a uns 5 km do povoado.
Como estávamos somente em dois, fomos até um posto policial, no Km 46 da rodovia Transamazônica, nos identificamos e solicitamos ao sargento PM comandante o apoio para prendermos os guerrilheiros. Prontamente nos colocou à disposição quatro soldados. Cabe aqui ressaltar que este posto era aquele que os guerrilheiros haviam atacado e roubado em outubro de 1973.
Não fomos até a nossa base em Bacaba, no Km 68 da rodovia Transamazônica, pegar o meu GC porque ficava muito longe e poderíamos perder a oportunidade de capturar ou matar estes dois. Retornamos para o povoado e prosseguimos até a cabana onde supostamente estariam os guerrilheiros.
Lá chegando, bem antes do local onde eles se encontravam, deixamos a viatura e adentramos na selva a pé. Próximo da cabana a cercamos, eu e dois soldados pelo lado direito, e o Ten Miracis com os outros dois pelo lado esquerdo, combinamos um horário para invadi-la.
No horário pré-determinado, o Ten Miracis não apareceu, então eu e um soldado invadimos a cabana, deixando o outro do lado de fora, nos dando cobertura e com ordens para atirar, se os guerrilheiros saíssem em fuga.
Ao entrarmos, os dois guerrilheiros estavam sentados no chão, comendo farinha. Foram pegos de surpresa e pularam em direção de suas armas que estavam próximas deles, mas foram por nós impedidos na base de coronhadas, travamos luta corporal e quando conseguimos domina-los, colocando-os deitados de cara no chão, com as mãos na cabeça, entrou o Ten Miracis com outro soldado PM.
Capturamos Antônio de Pádua Costa ‘Piauí’, chefe de um grupo de guerrilheiros encarregado de manter a moral deles elevada, e ‘Zezinho’, um camponês jovem que havia sido recrutado pelos guerrilheiros, um inocente útil. Ambos estavam magros e desnutridos, com suas roupas em farrapos. ‘Piauí’ tinha um revólver cal. 38, uma espingarda cal. 44, e ‘Zezinho’ uma espingarda cal. 20 e um facão.
Retornamos para nossa base em Bacaba, porém quando passamos pelo povoado de São Domingos das Latas os conduzimos a pé, com uma corda amarrada no pescoço para que a população os visse.
Todo guerrilheiro capturado vivo pelas nossas equipes era conduzido para a base de Bacaba e ficava ali de três a cinco dias, onde era submetido a interrogatório preliminar, com a finalidade de dar seqüência às missões, que se baseavam nas informações que os mesmos nos passavam. Depois, eram levados para a ‘Casa Azul’, no Amapá-PA, no Quartel-General das Operações de Comando, onde seriam interrogados por militares do CIE.
Dos guerrilheiros que foram interrogados, ‘Piauí’ foi o mais corajoso e valente. Não era como os outros que não agüentavam as técnicas de interrogatório que lhes eram aplicadas e gritavam pedindo pelo amor de Deus que os matássemos.
‘Piauí’ agüentava o interrogatório sem gritar ou reclamar, eram um dos poucos guerrilheiros bem preparados para a luta. Depois de alguns dias em Bacaba, ele e ‘Zezinho’ foram levados para a ‘Casa Azul’.
As técnicas de interrogatório a que eram submetidos os guerrilheiros em Bacaba consistiam em: choques com corrente elétrica gerada por baterias de telefones de campanha portáteis; telefone (consistia em dar tapas com força, simultaneamente nos dois ouvidos com as mãos abertas); coloca-los em pé, descalços em cima de duas latas de leite condensado se apoiando somente com um dedo na parede; socos em pontos vitais como no fígado, rins, estômago, pescoço, rosto e na cabeça, além de faze-los passar fome e sede.
O guerrilheiro Antônio Pádua da Costa ‘Piauí’, que eu capturei vivo e hoje consta como ‘desaparecido’, quando fui evacuado da região, em 27 de fevereiro de 1974, ainda se encontrava vivo colaborando conosco, nos ajudando a encontrar diversos depósitos de alimentos e materiais dos guerrilheiros. O seu desaparecimento ocorreu em março de 1974.
O camponês ‘Zezinho’, recrutado pelos guerrilheiros, permaneceu vivo e passou a nosso colaborador” (pg. 55 a 57).

Vale aqui fazer um parêntesis para comentar a prática da tortura como método para obter informações. Claro, trata-se de um crime inominável, hediondo. É uma prática maquiavélica, de modo a obter informações que irão facilitar o final da guerra, na medida em que se conhecem as movimentações do inimigo, o efetivo de sua tropa, suas armas, as ações que pretendem praticar. Nada degrada mais um ser humano do que a prática da tortura. No entanto, de maneira cínica, a tortura é condenada por todo o mundo e é, ao mesmo tempo, praticada em todo o mundo. Ainda hoje se pratica a tortura sistemática nas prisões brasileiras, como comprovou recente relatório das Nações Unidas, considerado “impreciso” pelo governo Lula. As esquerdas brasileiras, quando condenam a tortura empregada pelas Forças de Segurança durante os governos dos militares, na verdade estão querendo apenas monopolizar a tortura, na medida em que esta mesma esquerda, farisaica, fingida, mentirosa, não condena a tortura ainda hoje existente, p. ex., nas prisões cubanas. Pelo contrário: essa mesma esquerda, incluído aí o excelentíssimo senhor presidente Lula da Silva, tece elogios cada vez mais acalorados ao Abutre do Caribe, Fidel Castro. Se existe um filme Caminho para Guantánamo, é para, antes de tudo, azucrinar o governo dos EUA e esconder as torturas praticadas atualmente pelos terroristas talibãs no Afeganistão e pelos da Al Qaeda e associados no Iraque. Nada mais do que isso. Uma última pergunta às esquerdas: o que teria ocorrido com Chico Dólar, caso ele tivesse sido capturado vivo por “Piauí”?


Morte do guerrilheiro “Osvaldão”

“No dia 7 de fevereiro de 1974, próximo a São Geraldo, na região de um grande capinzal, o guerrilheiro mais famoso da Força Guerrilheira do Araguaia e que possuía curso de guerrilha feito na China, Osvaldo Orlando da Costa ‘Osvaldão’, foi morto com um tiro de espingarda cal. 12, que o atingiu em cheio no peito, pelo mateiro Arlindo Vieira da Silva (Piauí), quando este guiava uma equipe de pára-quedistas de Xambioá.
Seu cadáver foi levado pendurado num helicóptero para as bases de Xambioá, Bacaba e alguns povoados onde ‘Osvaldão’ era conhecido e temido, sendo exposto à população com a finalidade de acabar com sua fama (mito).
‘Osvaldão’, na primeira fase de combate entre as Forças Armadas e os guerrilheiros, no dia 8 de maio de 1972, em uma emboscada matou o Cabo do Exército, Odílio da Cruz Rosa (Cabo Rosa) com um tiro na virilha e feriu com um tiro nas costas (clavícula) o 3º Sgt Wellisbeth Moraes Macedo, hoje Tenente Moraes. Ambos serviam na 5ª Cia Gd em Belém-PA. Além de ter feito o restante do GC fugir.
Eu servi na 8ª RM em Belém-PA com o Ten Moraes. Ele sofre até hoje as seqüelas deixadas pelo tiro recebido nas costas do guerrilheiro ‘Osvaldão’. A bala continua alojada em seu corpo e conforme diagnóstico de junta médica não pode ser retirada por intermédio de uma operação cirúrgica, pois correria risco de morte, por isso permanece na sua clavícula” (pg. 58).


Relação de guerrilheiros mortos de outubro de 1973 a fevereiro de 1974

“Os guerrilheiros mortos no período em que eu estive atuando na guerrilha foram:

Mês de outubro de 1973: Dia 14 – André Grabois (Zé Carlos), João Gualberto Calatroni (Zebão) e Antônio Alfredo de Lima (Alfredo); dia 24 – Lúcia Maria de Souza (Sônia) e posteriormente Divino Ferreira de Souza (Nunes ou Goiano).
Mês de novembro de 1973: Dia 24 – Arildo Airton Valadão (Ari).
Mês de dezembro de 1973: Dia 3 – Adriano Fonseca Fernandes Filho (Chicão ou Queixada); dia 19 – Antonio Guilherme Ribeiro Ribas (Ferreira); dia 22 – Jaime Petit da Silva (Jaime); dia 25 – Maurício Grabois (Velho Mário), Paulo Roberto Pereira Marques (Amauri), Paulo Mendes Rodrigues (Paulo), José Humberto Bronca (Zeca Fogoió), Orlando Momente (Landin ou Alexandrine), Gilberto Olímpio Maria (Pedro Gil), Guilherme Gomes Lund (Luiz) e Marcos José de Lima (Ari Armeiro) e dia 31 – Luiz Vieira de Almeida (Luizinho).
Mês de janeiro de 1974: Dia 2 – Nelson Lima Piauhy Dourado (Nelito); dia 16 – Pedro Pereira de Souza (Pedro Carretel), camponês recrutado na área pelos guerrilheiros; dia 12 – Rodolfo de Carvalho Troiano (Manoel do A); dia 17 – Vandick Reidner Pereira Coqueiro (João Goiano); dia 24 – José Lima Piauhy Dourado (Ivo). Outros: Luiz René Silveira da Silva (Duda), Maria Célia Correa (Rosa) e Telma Regina Cordeiro Correa (Lia).
Mês de fevereiro de 1974: Dia 7 – Osvaldo Orlando da Costa (Osvaldão); dia 11 – Jana Moroni Barroso (Cristina); dia 14 – Tobias Pereira Júnior (Josias); dia 15 – Custódio Saraiva Neto (Lauro); dia 27 – Cilon da Silva Brun (Simão) e Antônio Teodoro de Castro (Raul)” (pg. 60).

(Obs.: A relação de todos os guerrilheiros mortos na Guerrilha do Araguaia pode ser vista em http://www.usinadeletras.com.br/exibelotexto.php?cod=2738&cat=Ensaios&vinda=S.)


Relação de militares mortos e feridos, de outubro de 1973 a fevereiro de 1974

“Os miliares mortos e feridos neste período foram:

Mortos: Dia 16 de outubro de 1973, 3º Sgt Francisco das Chagas Alves de Brito, do 2º BIS; dia 8 de dezembro de 1973, Soldado Raul Marques de Brito, da 5ª Cia Gd; e dia 16 de fevereiro de 1974, Cabo Ovídio Gomes França, da 1ª/34º Batalhão de Infantaria.

Feridos: Dia 16 de outubro de 1973, Soldado Manoel Pestana da Silva, do 2º BIS; e no dia 24 de outubro de 1973, Major Lício Augusto Ribeiro Maciel (Dr. Asdrúbal) e o Capitão Sebastião Rodrigues de Moura (Curió), ambos do CIE” (pg. 63).


Outras situações que ocorreram durante a guerrilha

Chico Dólar narra outras situações vividas durante a guerrilha:

“Certa vez, ‘Curió’ saiu com meu GC, a fim de confirmar informação de um encontro entre guerrilheiros e um camponês que os apoiava. Preparamos então uma emboscada no local, porém só apareceu o camponês de nome Frederico Lopes, que foi feito prisioneiro.
Foi interrogado no mesmo local por métodos convencionais e como se recusou a falar sobre qual grupo de guerrilheiros estava esperando e o assunto que tratariam, recebemos ordem para mudar a tática do interrogatório. Foi então amarrado nu, num pau viveiro de formigas (pau-de-arara) e seu corpo todo lambuzado com açúcar e sua boca cheia de sal.
Quando as formigas começaram a andar pelo seu corpo e pica-lo, nos relatou tudo o que queríamos saber. Depois o desamarramos, retiramos do pau-de-arara, deixamos que tomasse banho num igarapé e o conduzimos prisioneiro para nossa base em Bacaba” (pg. 64).

“Numa outra oportunidade, depois de oito dias vasculhando a selva, ao entardecer, Curió solicitou nosso resgate por helicóptero. Como a mata da clareira onde iríamos ser resgatados estava um pouco alta, o que dificultaria o pouso do helicóptero próximo ao solo para podermos embarcar, a não ser que subíssemos por cordas, eu em meu GC, com nossos facões, começamos a baixar a mata.
Curió e um outro combatente ficaram fazendo nossa segurança, porém Curió estava apressado e começou a gritar: ‘Rápido, Chico Dólar. Vamos Chico Dólar. Estão muito moles, Chico Dólar’. Aqueles gritos forma me deixando mais nervoso do que já estava, meu sangue foi esquentando e como vivíamos um clima de guerra, onde poderíamos morrer a qualquer momento, sem pensar respondi a Curió, gritando: ‘Pára de gritar e vem aqui ajudar, Curió FDP’. (...) Ao chegarmos em Bacaba, quem comentou o assunto foram os homens de meu GC que disseram: ‘Chico Dólar, se Curió engrossa com você nós íamos mata-lo e diríamos que foi um acidente’. Como comandante deles fiquei envaidecido e emocionado pela atitude que disseram que tomariam em minha defesa. Naquele momento percebi que eu havia conquistado a confiança deles e lhes agradeci, dizendo que não era necessária uma atitude radical daquelas, pois o que tinha acontecido era porque todos estávamos com os nervos à flor da pele, pela situação que nos encontrávamos e o que devíamos fazer era matar guerrilheiros e não a nós mesmos, esclarecendo-lhes de que a vida de cada um de nós dependia do outro” (pg. 64-65).

Esse fato narrado por Chico Dólar mostra o caráter e o profissionalismo de Curió, que não levou em conta as palavras de baixo calão proferidas por seu subordinado, e que gostava de acompanhar o GC do Sgt Vargas e sempre era voluntário para fazer o turno de vigia à noite, enquanto o GC dormia, pois nunca era escalado para tal, por ser superior ao Sgt Vargas. Isso prova o caráter, o profissionalismo, a camaradagem e o alto senso de cumprimento do dever de Curió, pois na guerra todos dependem de todos, sem distinção de “gemadas” ou “divisas”.

Chico Dólar relata o fato de que muitas vezes os militares eram confundidos com os “paulistas” (os guerrilheiros do PC do B, vindos, em sua maioria, de São Paulo), por andarem, como eles, barbudos, cabeludos, à paisana e armados:

“Algumas famílias ficavam com medo que as maltratássemos e nos ofereciam suas filhas adolescentes para que dormissem conosco. Evidente que jamais aceitamos essas ofertas, pois o que queríamos era contar com o apoio da população. Interrogávamos, depois solicitávamos que nos fizessem uma galinhada ou carreteiro (quando havia carne de caça) e, ao partirmos, pagávamos com dinheiro e lhes deixávamos comida e medicamentos” (pg. 65-66).

“Com relação à comunicação por meio de rádio-transmissor portátil entre as equipes, não havia, porque a densidade da selva impedia. No entanto, havia o contato Terra-Ar, com dois helicópteros, que eram chamados de ‘Papão um’ e ‘Papão dois’ e com dois aviões monomotor ‘Teco-Teco’, chamados de ‘Paquera um’ e ‘Paquera dois’. (...)
Certa vez, eu pensei ter ouvido o ‘ronco’ de um avião, imediatamente solicitei ao guerreiro que transportava o rádio-transmissor que fizesse contato com ele. Percebi então que todo meu GC começou a rir de mim. Perguntei-lhes qual o motivo do riso, no que me responderam que o ruído que eu tinha ouvido não era o ‘ronco’ do avião, e sim de um besouro que havia passado perto de minha cabeça, aí eu também passei a rir” (pg. 66-67).

“A caça que mais comíamos durante a guerrilha, no meio da selva, era a de jabuti (uma espécie de tartaruga), por ser muito fácil de apanhá-lo. Além dos alimentos que transportávamos, também consumíamos palmito, mandioca, coco de babaçu, castanha-do-pará e outros.
Todos os dias, aproximadamente às dezesseis horas, parávamos para acampar, porque na selva anoitece rapidamente. Fazíamos uma fogueira e jogávamos o jabuti vivo no fogo e quando o retirávamos, já estava cozido, ficando fácil de retirar as vísceras e o casco” (pg. 67).

“A cada dois meses que os GC ficavam na selva combatendo guerrilheiros eram dispensados, juntamente com seu comandante, por dois dias, para irem à cidade de Marabá-PA, fazerem ‘higiene mental’, divertir-se e fazer outras necessidades fisiológicas que o corpo humano pede, nas casas noturnas e boates da cidade. Neste período, ficávamos alojados na ‘Casa Azul’, no bairro de Amapá, sede da nossa base de comando. Quando saíamos dali, para ir a Marabá, tínhamos que atravessar o Rio Itacaiúna em canoas, barcos ou balsas que transportavam carros e caminhões” (pg. 68).

“O Comando da ‘Operação Marajoara’ incentivou a população a dar informações ou capturar guerrilheiros vivos ou mortos, pagando a eles uma certa quantia em dinheiro para cada situação.
Foi criada pelos camponeses uma milícia chamada de Grupo de Auto Defesa (GAD), que obteve êxito, pois saía em busca de guerrilheiros e os capturavam, entregando-os na base de Bacaba ou de Xambioá (pg. 68).

Chico Dólar narra que toda correspondência recebida pelos militares era censurada, assim como as cartas enviadas às famílias. As cartas que comentavam alguma coisa sobre o combate a guerrilheiros eram queimadas.

Com o tempo, vendo muitos companheiros doentes, feridos ou morrendo em combate, as técnicas de segurança aprendidas no COSAC eram muitas vezes deixadas de lado, de sorte que a abordagem de muitas cabanas e depósitos era feito de “peito aberto”. Chico Dólar conta que toda vez que capturavam um guerrilheiro, tinha que segurar seus homens “para que não o matassem” (pg. 69).

Chico Dólar ficou surpreso ao saber que as diárias recebidas eram mais que o dobro do salário mensal. “Porém, a alimentação durante o período que ficamos combatendo na selva era por nossa conta. Toda vez que saíamos para uma missão, tínhamos que levar comida pelo menos para cinco dias. Quando acabava e havia necessidade de permanecer na selva, emboscando ou seguindo pegadas de guerrilheiros, os helicópteros ou aviões nos abasteciam de alimentos e medicamentos.
Evidente que na base de combate em Bacaba foi montada uma estrutura para nos atender. Havia um depósito de mantimentos onde comprávamos todo o material básico que necessitávamos” (pg. 69).

“As jovens adolescentes, filhas dos camponeses que haviam sido feitos prisioneiros, bem como suas mulheres que ficaram sozinhas nos seus sítios no meio da selva, abandonavam suas casas e iam para os vilarejos que existiam à beira da rodovia Transamazônica, ou para as cidade de Marabá e Xambioá, onde procuravam sobreviver, se prostituindo, até que seus pais ou maridos, que se encontravam prisioneiros, fossem soltos” (pg. 69).

Evacuação

“No dia 27 de fevereiro de 1974, fui evacuado de Bacaba por motivos familiares, não mais retornando para a região do conflito, por ter sido transferido da 1ª/3º B Fron, com sede em Clevelândia do Norte-AP, organização militar onde eu servia, quando começou esta última fase que exterminou os guerrilheiros do PC do B, para a Escola Preparatória de Cadetes do Exército (EsPECEx), em Campinas-SP.
Chegando a esta cidade e à nova organização militar para onde fui transferido, me instalei e, posteriormente, revelei um filme de vinte e quatro poses de fotos que eu havia tirado escondido na base de Bacaba, do meu GC e de alguns guerrilheiros que haviam sido capturados ou mortos. Mostrei-as aos meus colegas militares e as guardei na gaveta da minha mesa, na sala de instrução da própria Escola. Todas me foram furtadas pelo Serviço de Inteligência do Exército da EsPECEx (2ª Seção). Não pude nem reclamar, pois poderia ter sido punido por ter desobedecido às ordens recebidas de não tirar fotos da Operação Marajoara. Se estas fotos estivessem comigo, com certeza ilustrariam muito mais este livro histórico” (pg. 73).


Opinião de Chico Dólar sobre a Guerrilha do Araguaia

Nesta parte do livro, Chico Dólar apresenta as falhas e os acertos observados durante os seis meses em que participou dos combates nas selvas do Pará.

Falhas:

- Falta de uma senha, contra-senha ou outro sinal de reconhecimento, entre os GC (120 militares de Bacaba e 100 pára-quedistas de Xambioá) e outras Forças Auxiliares, como a PM do Pará, que fazia blitzen nas rodovias Transamazônica e PA-70, o que ocasionou o “fogo amigo” que provocou mortos e feridos.
- Com as baixas na tropa, ocasionadas por doenças tropicais ou problemas psicológicos, houve necessidade de se fazer o recompletamento. “Os militares que vieram substituir os evacuados, oficiais, sargentos, cabos e soldados, não tiveram o mesmo treinamento que a primeira tropa teve, o que ocasionou inúmeros acidentes, culminando com mortos e feridos” (pg. 74).
- “A falta de planejamento e coordenação de nossos superiores, que lançavam um GC em uma determinada área, onde já havia outro atuando e não os avisava, ocasionando confronto armado entre os mesmos” (pg. 74).
- Falta de coordenação no emprego dos GC; alguns eram mais explorados que outros: “Nem bem chegavam à base de Bacaba, depois de oito ou dez dias na selva e no outro dia já eram mandados a retornar para cumprirem outra missão, sendo que sempre havia um ou dois GC descansados na base” (pg. 74-75).
- “Falta de um médico em Bacaba. Só no mês de dezembro de 1973 mandaram um” (pg. 75).

Acertos:

“A primeira tropa foi bem preparada e treinada. Refiro-me aos 220 que iniciaram a operação de aniquilamento (120 do Comando Militar da Amazônia e 100 pára-quedistas).
O pagamento de prêmios em dinheiro à população, por qualquer informação ou captura de guerrilheiros, vivos ou mortos.
A formação na população de um Grupo de Auto Defesa (GAD), para se defenderem e capturarem guerrilheiros.
Levantamento geral da área, realizado pelo Centro de Informações do Exército (CIE), na 2ª fase da operação, resultando na elaboração dos Planos de captura e destruição, e busca e apreensão, onde citavam os nomes dos guerrilheiros, dos camponeses e povoados que os apoiavam, bem como as áreas onde atuavam e podiam ser localizados e capturados (vivos ou mortos).
Destruição de todos os paióis, depósitos de mantimentos, remédios e munição que os guerrilheiros tinham armazenado no meio da selva para sua sobrevivência.
Evacuação de quase todos os camponeses da área, deixando somente as mulheres e as crianças, o que restringiu o apoio destes aos guerrilheiros.
Ordens de atirar primeiro e perguntar depois, e só fazer prisioneiros de guerrilheiros ou camponeses se não houvesse nenhum risco de morte para qualquer combatente.
Bloqueio de toda a ajuda interna e externa de armas, munição, mantimentos, medicamentos e pessoal que a Força Guerrilheira do Araguaia do PC do B pudesse receber” (pg. 75).

Chico Dólar lembra que as rádios Tirana, da Albânia, e Havana, de Cuba, em suas transmissões diárias, incentivavam o movimento guerrilheiro, ao mesmo tempo em que atacavam, de forma grosseira, as forças de repressão à Guerrilha. Para que a Guerrilha do Araguaia não se transformasse em um “movimento de libertação nacional”, a exemplo do ocorrido no Vietnã e em Angola, p. ex., com a chegada de “brigadistas” armados de todos os cantos do mundo, foi importante o Governo Médici manter a guerrilha em absoluto sigilo, não permitindo que as ações no Pará vazassem para a imprensa. Nem nós, militares, tínhamos conhecimento das operações de Bacaba e Xambioá.

Vale acrescentar que os dirigentes do PC do B na Guerrilha do Araguaia foram João Amazonas, Elza Monerat, Angelo Arroio e Maurício Grabois. Desses, somente Maurício Grabois morreu em combate, os demais fugiram da área, de forma covarde, deixando os jovens “paulistas” entregues a uma luta inglória.

Angelo Arroio, em sua obra “Guerrilha do Araguaia” (Ed. Anita Garibaldi), afirma que os efetivos empregados pelas Forças legais chegaram aos 12 ou 15 mil homens, quando na verdade o maior efetivo foi de aproximadamente 2.500 homens, pelo prazo de 12 dias, somente. E era um efetivo de manobra, não de combate a guerrilheiros. O relatório de Arroio afirma, ainda, que a Guerrilha contou com o apoio de 90% da população (de aproximadamente 20 mil hab.), o que totalizaria 18.000 homens, quando na realidade esse apoio chegou a cerca de 200 pessoas, sendo que apenas 15 a 20 se tornaram combatentes (Cfr. “Guerrilha do Araguaia”, de Madruga, pg. 166-167). Para conhecer as várias fases da Guerrilha do Araguaia, sugiro ler o conteúdo de http://www.usinadeletras.com.br/exibelotexto.php?cod=2738&cat=Ensaios&vinda=S.

O livro de Chico Dólar é um importante documento histórico que se soma a de outros militares que também participaram da Guerrilha do Araguaia. Entre as obras já publicadas, destacam-se:

- Guerrilha do Araguaia – Revanchismo – A Grande Verdade, do coronel do Exército Aluísio Madruga de Moura e Souza (abc BSB Gráfica e Editora Ltda, Brasília, 2002);
- “A Grande Mentira, do general Agnaldo Del Nero Augusto (Biblioteca do Exército Editora, Rio de Janeiro, 2001);
- A Verdade Sufocada – A história que a esquerda não quer que o Brasil conheça, do coronel do Exército Carlos Alberto Brilhante Ustra (Editora Ser, Brasília, 2007 – 3ª edição ampliada, com índice onomástico);
- Xambioá – Guerrilha do Araguaia – Novela Baseada em fatos reais, do coronel-aviador Pedro Corrêa Cabral (Record, Rio de Janeiro, 1993). Em depoimento na TV, neste ano de 2007, o coronel do Exército Lício Augusto Ribeiro Maciel (“Dr. Asdrúbal”) chamou o coronel Cabral de “mentiroso”, não dando crédito aos fatos narrados no livro.

No momento, o coronel Lício – o mesmo que prendeu José Genoino Neto – está escrevendo suas memórias da Guerrilha do Araguaia.

Com base nos livros de Chico Dólar e dos autores acima citados, a tropa militar envolvida na Guerrilha do Araguaia teve os seguintes mortos, feridos e desaparecidos:

- 8 de maio de 1972: morreu o cabo do Exército Odílio Cruz e Rosa, e ficou ferido um sargento do Exército (não consta o nome); o ataque foi feito pelo grupo de “Osvaldão”;
- 30 de setembro de 1972: morreu o sargento do Exército Mário Ibhaim da Silva;
- 24 de julho de 1973: consta como desaparecido durante a fase da 2ª Operação de Inteligência (“Operação Sucuri”) o soldado do Exército Francisco Valdir de Paula (o livro A Verdade Sufocada o trata como morto);
- 16 de setembro de 1973: morreu o 3º sargento do Exército Francisco das Chagas Alves de Brito, em “fogo amigo” com a PM do Pará. Na mesma ocasião, ficou mortalmente ferido um sargento da PM/PA (não consta o nome); ficaram feridos o soldado do Exército Manoel Pestana da Silva e um soldado da PM/PA (não consta o nome), que estava de sentinela no Posto Policial do Km 46 da rodovia Transamazônica (entre Bacaba e a “Casa Azul”), e que iniciou o tiroteio;
- 8 de dezembro de 1973: morre o soldado Raul Marques de Brito, em Bacaba, atingido acidentalmente por uma espingarda, na barriga e no pênis, durante reunião de um GC para tratar da guarda noturna do local;
- 16 de fevereiro de 1974: morreu o cabo do Exército Ovídio Gomes França, em “fogo amigo”, atingido pelo recruta “Garrote”, que cuidava das mochilas de um GC de recrutas e confundiu outro GC como sendo um grupo de guerrilheiros;
- 24 de outubro de 1973: ficaram feridos na região de Taboão, próximo ao Brejo Grande, o major do Exército Lício Augusto Ribeiro Maciel (“Dr. Asdrúbal”) e o capitão do Exército Sebastião Rodrigues de Moura (“Curió”). A guerrilheira Lucia Maria de Souza (“Sônia”) pegou um revólver que tinha escondido consigo e feriu o rosto do “Dr. Asdrúbal” e o braço de “Curió”; a guerrilheira foi metralhada e morta a seguir.

Além desses militares, os guerrilheiros do PC do B mataram:

- 29 de junho de 1972: João Pereira, mateiro da região do Araguaia, que servia de guia para a tropa militar;
- ? de setembro de 1972: Osmar..., posseiro da região do Araguaia;
- 12 de março de 1973: Pedro Mineiro, acusado pelos guerrilheiros de ser pistoleiro da Fazenda Capingo, na região do Araguaia, cujo administrador era o cidadão conhecido como Capitão Olinto.


P.S.: Para aquisição do livro, de R$ 40,00, entrar em contato com o autor, e-mail jos_vargas@yahoo.com.br.


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Sábado, 22 de Março de 2008

Araguaia - Militar confirma ordem de torturar e exterminar (JB)

http://integras.blogspot.com/2008/03/araguaia-militar-confirma-ordem-de.html

por Vasconcelo Quadros, Brasília

Ex-chefe de um dos Grupos de Combate (GCs) responsáveis pela execução de 32 guerrilheiros no Araguaia e araponga do Centro de Inteligência do Exército até 1994, o tenente José Vargas Jiménez (foto) tirou do armário revelações que estão causando desconforto e mal-estar nos quartéis: admite e detalha os métodos de tortura usados no período que ele mesmo chama de "fase de extermínio" dos militantes do PC do B e assume a autoria da destruição de todos os documentos sobre a guerrilha que se encontravam no serviço de inteligência de Belém. Além disso, é o primeiro combatente a jogar luzes sobre possíveis locais onde possam estar os restos mortais de alguns dos 58 militantes do PC do B desaparecidos no Araguaia.

- Uma parte foi enterrada ou ficou insepulta na selva e outra nas bases militares de Bacaba (São Domingos do Araguaia), onde ficavam os GCs de selva, Xambioá (cemitério), área dos pára-quedistas e na Casa Azul (Marabá), dominada pelos oficiais de inteligência - diz o tenente Vargas em entrevista exclusiva ao Jornal do Brasil.

Ele decidiu falar depois de livrar-se de uma sindicância aberta pelo Comando Militar do Oeste, em Campo Grande (MS), para apurar a divulgação de documentos secretos e seu relato no livro Bacaba - memórias de um guerreiro de selva da Guerrilha do Araguaia, em fase de lançamento.

Na publicação, que, por enquanto, circula de mão em mão, ele conta, com sinceridade brutal, os principais episódios que diz ter participado, entre 2 outubro de 1973 e 27 de fevereiro de 1974. Revela, por exemplo, que mulheres e filhas de moradores eram feitas prisioneiras, torturadas e tiveram de se prostituir para sobreviver. E crueldade não pára por aí: as famílias de camponeses, com medo, ofereciam as filhas adolescentes aos militares. Havia, também, uma rivalidade entre as tropas para ver quem matava mais. Os homens de seu GC, como nos filmes de faroeste, faziam um risco na arma para contar quantos executavam.

Atirar primeiro

Esse foi o período da chamada Operação Marajoara, comandada pelo ex-secretário de Segurança Pública do Rio general Nilton Cerqueira, e que reuniu os oficiais mais experientes das Forças Armadas especializados em guerra na selva. No total, eram 100 pára-quedistas e outros 120 homens treinados no Centro de Operações na Selva e Ações de Comando (Cosac).

Com a guerrilha já isolada pela operação anterior, a Sucuri, eles entraram no circuito da guerrilha com nomes, fotografias de guerrilheiros, mapas, normas de procedimento, listas de moradores que deveriam ser presos e instruções muitos claras sobre a missão que deveriam executar:

- A ordem era atirar primeiro e perguntar depois. Nós entramos para matar, destruir. Não era para fazer prisioneiros. Tínhamos o poder de vida e de morte sobre os guerrilheiros. Era para exterminar e não vejo por que esconder que houve tortura ou que se tratou de um extermínio - afirma Vargas, comandante de um GC com 10 homens, subordinado ao então major Sebastião Rodrigues de Moura, o Curió, atual prefeito de Curionópolis, guardião dos segredos mais pesados do conflito e dono do arquivo onde estão as informações sobre o destino dos guerrilheiros.

Conhecido entre oficiais e combatentes pelo codinome de Chico Dólar, Vargas diz que, entre 1976 e 1978, quando voltou à região e ficou lotado no 52º Batalhão de Infantaria de Selva (BIS) em Marabá, soube que Curió coordenou a limpeza da área, retirando vestígios da guerrilha e mandando desenterrar ossadas que se encontravam em sepulturas em locais previamente identificados na região.

- Não sei isso realmente aconteceu porque não vi. A ordem que recebi de superiores, já em 1985, quando estava em Belém, era reunir todos os documentos. Busquei nos arquivos, juntei tudo e queimei. A ordem era destruir e cumpri. Isto eu assumo - assegura

A história da incineração dos corpos num local nunca encontrado da Serra das Andorinhas é uma polêmica questionável e veio à tona em 1993, pelo relato do coronel da Aeronáutica Pedro Corrêa Cabral no livro Xambioá. Oficiais que participaram diretamente do conflito ou do rescaldo das operações, como Curió e o coronel Lício Augusto Ribeiro Maciel, a contestam. Uma das hipóteses mais prováveis, é que Curió tenha mandado retirar alguns corpos de antigas sepulturas e colocado todos numa única vala no município de Palestina. O local, segundo depoimentos de guias do Exército e moradores da região, seria hoje uma grota cheia de túneis.

Cadáveres viram comida de animais

Na entrevista exclusiva ao JB, tenente José Vargas Jiménez assegura que alguns dos corpos dos 58 guerrilheiros desaparecidos ficaram insepultos e viraram alimento dos animais da floresta. Mas uma boa parte estaria sepultada clandestinamente em três bases militares. Em Bacaba, onde ficou baseado durante os 145 dias que atuou na selva como combatente, revela que pelo menos três guerrilheiros estariam num local próximo a um improvisado campo de futebol.

Em outro local apontado por ele, o Cemitério de Xambioá, em 1996, foi encontrada e identificada a guerrilheira Maria Lúcia Petit e retiradas para exames de identificação outras 12 ossadas que, 12 anos depois, ainda fossilizam nos armários da Comissão de Mortos e Desaparecidos da Secretaria Especial de Direitos Humanos do Ministério da Justiça, em Brasília, sem qualquer conclusão conhecida.

O tenente Vargas relata três episódios do conflito em que diz ter participado. Um deles foi o ataque militar ao comando da guerrilha, no Natal de 1973, na Serra das Andorinhas onde, segundo afirma, foram mortos oito guerrilheiros - e não quatro ou cinco como informam todos os outros relatórios militares e do PCdoB, entre eles o maior dirigente do do partido e líder do movimento, o ex-deputado Maurício Grabois.

Mais mortes

Segundo o militar, também teriam sido mortos nessa ocasião e depois levados para Xambioá pelos pára-quedistas, os guerrilheiros Paulo Roberto Pereira Marques, o Amauri, José Huberto Bronca, o Fogoió, Gilberto Olimpio Maria, o Pedro Gil, Paulo Mendes Rodrigues, Guilherme Gomes Lund, o Luiz, Orlando Momente, o Landim ou Alexandrine, e Marcos José de Lima, o Zezinho do A ou Ari Armeiro, que fabricava e consertava armas para a guerrrilha.

Plano de guerrilha

No mesmo local foram apreendidos os principais documentos do PCdoB, entre eles, o plano da guerrilha para os primeiros quatro anos (1968-1972) - que Vargas, ou Chico Dólar, retirou do arquivo para destruição, mas guardou com ele uma cópia. O plano previa a estruturação de uma zona liberada, a criação de um exército regular e a ampliação da revolução no país para tomar o poder dos militares.

No mesmo período, Vargas diz que participou do episódio que resultou na execução, em 24 de outubro de 1973, da guerrilheira Maria Lúcia de Souza, a Sônia. Ela reagiu à ordem de prisão e, mesmo ferida, baleou dois oficiais (Lício e Curió) e depois foi metralhada por todos os militares que estavam na cena, entre eles o próprio Vargas. Mas ele não assume a autoria dos disparos, para evitar a auto-incriminação uma situação muito temida entre os militares:

- Não sou réu confesso - afirma.

Piauí, um homem que não sabia o que era medo


A ação que o tenente Vargas mais destaca é a prisão, em 24 de janeiro de 1974, do guerrilheiro Antônio de Pádua Costa, o Piauí, subcomandante do Destacamento A, estudante de Física da UFRJ. A operação rendeu a ele a Medalha do Pacificador com Palma, a mais cobiçada honraria militar, concedida, apenas, a quem se envolve em ações de alto risco.

O relato de Vargas sobre Piauí confirma aquilo que o Jornal do Brasil noticiou em 1996 (ao publicar uma foto em que o guerrilheiro aparece saudável à frente de um pelotão à paisana) e que os militares sempre negaram diante do imobilismo do governo civil em apurar: o guerrilheiro foi apanhado vivo e depois executado friamente, destino que teriam também entre 15 a 20 insurgentes feitos prisioneiros e desaparecidos.

- Quando fui evacuado da região, em 27 de fevereiro de 1974, (Piauí) ainda se encontrava vivo colaborando conosco, nos ajudando a encontrar diversos depósitos de alimentos e materiais dos guerrilheiros. O seu desaparecimento ocorreu em março de 1974 - afirma Vargas.

O militar conta que, em Bacaba, Piauí resistiu a todos os métodos de tortura e só decidiu falar quando quis e o que quis.

- Foi o guerrilheiro mais macho que conheci. Quando era torturado, só soltava um gemido seco, mas agüentava. Era valente e o mais preparado que conheci. Os outros não agüentavam os métodos de interrogatório e pediam pelo amor de Deus que os matássemos. Quando resolveu falar, Piauí só contou o que sabíamos - recorda.

Corpos insepultos


O tenente Vargas afirma que três guerrilheiros (Arildo Valadão, Adriano Fonseca e Jaime Petit da Silva) foram mortos, decapitados e tiveram suas mãos retiradas do corpo. As cabeças e as mãos foram colocadas em sacos plásticos e levadas para a base de Bacaba.

Também conta que outros três guerrilheiros, André Grabóis, João Gualberto Calatroni, o Zebão, e Antônio Alfredo de Lima, um camponês que virou combatente, foram deixados numa região conhecida por Caçador e vistos em pelo menos duas ocasiões, num espaço de três dias, por ele e seus comandados. Estavam já em adiantado estado de decomposição.

O coronel Lício Ribeiro Maciel contesta e afirma que os três teriam sido enterrados no sítio de uma camponesa conhecida por Oneida, na mesma região. Segundo Vargas, um dos soldados que o acompanhava arrancou o dedo de um dos guerrilheiros, amarrou num barbante e pendurou "o amuleto" no pescoço gritando que seria o seu troféu de guerra.

Trechos do livro

Troféu "Um dos meus soldados foi até um dos cadáveres e com sua faca cortou um dos seus dedos, retirou o resto da carne que já estava em decomposição, ficando somente com os ossos que pendurou no seu pescoço dizendo: este amuleto é meu troféu de guerra".

Acidente "De que me adianta viver se não vou ser mais homem para mulher nenhuma" (soldado Raul Marques de Brito, pouco antes de morrer, vítima de um tiro acidental de espingarda calibre 12 que arrebentou o pênis e a barriga)

Liberdade "Parem de brincar e devolvam minhas botas" (guerrilheira Lúcia Maria de Souza, a Sônia, imaginando que seus companheiros haviam sumido com seu calçado). O comandante do GC se aproximou e perguntou o nome: `Guerrilheiro não tem nome seu fdp (sic). Nós lutamos pela liberdade`. Ao mesmo tempo tirou um revólver que tinha escondido e disparou (feriu os oficiais Lício Ribeiro Maciel e Curió). Foi metralhada e morta ali mesmo. Seu corpo foi deixado à beira brejo, em Taboão, Brejo Grande".

Tortura 

"Choques com corrente elétrica gerada por baterias de telefones de campanha portáteis; telefone ( consistia em dar tapas com força, simultaneamente nos dois ouvidos com as mãos abertas); colocá-los em pé, descalços em cima de duas latas de leite condensado se apoiando somente com um dedo na parede; socos em pontos vitais como no fígado, rins, estômago, pescoço, rosto e na cabeça, além de fazê-los passar fome e sede" "Foi então amarrado nu, num pau viveiro de formigas (pau-de-arara) e seu corpo todo lambuzado com açúcar e sua boca cheia de sal. Quando as formigas começaram a andar pelo seu corpo e picá-lo, nos relatou tudo o que queríamos saber". (Sobre o camponês Frederico Lopes, que não queria falar).

Briga interna "Para de gritar e vem aqui ajudar, Curió fdp. Ele prontamente silenciou. Os homens do meu GC comentaram depois em Bacaba: 'Se o Curió engrossa com você nós íamos matá-lo e diríamos que foi um acidente`".


Fonte:


TENENTE VARGAS (CHICO DÓLAR) PEITA OS DEPUTADOS NO CONGRESSO NACIONAL

Tenente JOSÉ VARGAS JIMÉNEZ, (CHICO DÓLAR), autor dos livros BACABA que narram a verdadeira História da Guerrilha do Araguaia da qual ele participou, junto com o Cel CURIÓ e Cel LÍCIO MACIEL, contra os guerrilheiros do Partido Comunista do Brasil (PC do B ) que foram treinados na CHINA e em CUBA.

E agora que estes Comunistas estão no poder, querem mudar a História do BRASIL, dizendo que lutaram contra nós militares para impôr a DEMOCRACIA, eles queriam impôr, o COMUNISMO (DITADURA DO PROLETARIADO) e também, tentaram acabar com a LEI DA ANISTIA, não conseguiram, e agora criaram a COMISSÃO DA VERDADE (que é da MENTIRA).
 
Audiência Publica do dia 3/12/08, na Comissão Especial da Anistia na Câmara dos Deputados em Brasília-DF
Motivo da Audiência: Entrevista dada pelo Tenente Vargas a revista Isto É em 12 de Novembro de 2008. 

Expositor: Tenente José Vargas Jiménez (Chico Dólar) 

- Deputado Federal do PC do B (BA) ? Daniel Almeida / Presidente da Câmara Especial da Anistia 
Sr. José Vargas Jiménez o senhor foi convidado por esta comissão especial de anistia para ver se tem informações, documentos que estariam em poder de vossa Senhoria que a Comissão considerou, que estas informações, que estes documentos podem ser úteis no sentido da aplicação da Lei da Anistia. 
Existem dúvidas a respeito de pessoas, provas e fatos que ocorreram na conhecida guerrilha do Araguaia. Vossa senhoria foi convidado e gostaria que vossa senhoria pudesse fazer sua exposição, principalmente se é possível trazer elementos no sentido de criar condições para quitação da Lei de Anistia que é objeto desta Comissão Especial que tem como objetivo acompanhar a aplicação da Legislação. 
Vossa Senhoria esta com a palavra. 
- Tenente José Vargas Jiménez: 
Senhor Presidente, deputado Daniel Almeida, senhores deputados boa tarde! Eu fui convidado pela comissão de anistia da câmara dos deputados encima da hora pela entrevista que dei a Revista ISTO É. 
Há um ano lancei um livro chamado BACABA - Memórias de um Guerreiro de Selva da Guerrilha do Araguaia, onde relato todos os acontecimentos em que eu participei, desde a preparação até a minha evacuação. Neste documento, neste livro, muitas perguntas que os senhores farão, as respostas estão aqui no livro, com provas documentais. 
O livro não é ficção, o livro é uma realidade do período em que estive atuando na guerrilha. Eu era terceiro sargento e comandava 10 (dez) homens. Trabalhei com Curió e naquela época morreram 32 guerrilheiros. Alguns camponeses que apoiavam a guerrilha também foram presos, no meu livro tem tudo isso aí com fotos. 

Iniciando, eu recebi o requerimento onde o Deputado Daniel Almeida do PC do B da Bahia, solicita a Câmara dos Deputados esta audiência pública para me convidar, como expositor e vou me basear nesta ultima parte do requerimento que diz: 
"Esta convocação se justifica em dois aspectos distintos: 
- Primeiro: Pelos direitos que os familiares das vitimas tem de conhecerem o paradeiro dos seus entes queridos e para reunir provas com intuito de identificar formalmente os trabalhadores rurais vitimas dos arbítrios da ditadura e com isso, conceder aos seus familiares os direitos a que lhes confere. 
- Segundo: Pela necessidade de reescrevermos a nossa história e deixarmos às futuras gerações, um exemplo de compromisso com a verdade e com a liberdade, respaldados no valor à Democracia. Sala das Sessões, em 18 de novembro de 2008. 
Assinado: Deputado Daniel Almeida do PC do B/BA. 
Bem senhores, o que eu tenho a dizer realmente esta no meu livro, no Plano de Busca e Apreensão e no Plano de Captura e Destruição. No Plano de Busca e Apreensão constam os nomes dos camponeses que foram feitos prisioneiros. Aqui tem alguns que eu posso afirmar e confirmar. Os povoados onde se encontravam os camponeses a serem presos e outros, estão assim relacionados: 
- No povoado de Bom Jesus, José Salim (Salu), Leonel Severino, Oneide, João Mearim e Luiz, todos com prioridade um para sua captura. E Luizinho, Leonda e Salomão, com prioridade três. 
- Em Santa Rita : Manoel Cícero com prioridade três. 
- Em Itapemirim: André e Zé de tal, com prioridade um. 
- Em Brejo Grande : Bernardino, com prioridade um e Vicente com prioridade dois. 
- Em Cristalândia: João Murada, com prioridade quatro 
- Em Centro de Osorinho: Mulher e filho de 18 anos, com prioridade três. 
Esses são os que eu tenho escrito e com provas. No entanto quando estive lá na primeira missão, eu, Curió e mais 2 grupos de combate, cada grupo era integrado por 10 homens, éramos 30 na primeira missão. No dia 03 de outubro de 1973, no povoado de Bom Jesus, nós chegamos e prendemos quase todos os camponeses, além dos que estão relacionados e aqueles que tinham condições de ajudar na guerrilha e os seus filhos que poderiam ajudar os guerrilheiros. 
Então, o que aconteceu, só deixamos as esposas e as crianças e continuamos na selva. Prendemos Mané das duas mulheres, um camponês que era amigado com duas irmãs e assim fomos. Nesse primeiro dia nos prendemos uns 40 camponeses e mais 30 que constituíam nossos grupos de combate, era difícil se deslocar na selva. Curió então designou dois grupos de combate, comandados por 2 sargentos com curso em guerra na selva, igual ao que eu tenho, para que levassem os 40 camponeses para BACABA, nós não conhecíamos a base ainda. Eu fiquei com Curió na selva fazendo emboscadas e capturando mais camponeses. 
Em relação aos camponeses, isso eu posso afirmar, outros grupos de combate atuaram nas regiões de São Domingos das Latas, Chega com Jeito, vários lugares. E, na região de Xambioá os guerreiros pára-quedistas, também fizeram este trabalho. Agora, a relação deles, eu só tenho estes que eu falei aqui que constam no meu livro. 
Se alguém quiser fazer alguma pergunta sobre o primeiro tema aqui, por favor, pode fazer. 
- Deputado Daniel Almeida: 
Não, vamos lhe dar todo o tempo previsto, depois passaremos a fazer perguntas sobre a exposição. 
- Tenente Vargas; 
Bem senhores, em relação a este primeiro item, para as famílias dos camponeses é isto que eu posso falar. 
Agora eu vou para o segundo item, pela necessidade de reescrevermos a nossa história e deixarmos às futuras gerações, um exemplo de compromisso com a verdade e com a liberdade, respaldado no valor à Democracia. 
Hoje em dia a mídia fica falando, divulgando e as pessoas que estão no poder que, nós os militares na época do regime militar, fomos os vilões e que eles (os Comunistas) lutaram contra o regime militar, para ter esta Democracia que temos agora. 
É uma mentira enorme, é uma grande mentira, eu tenho documentos aqui provando que um dos partidos de esquerda o PC do B queria impor o Comunismo no Brasil, através da luta armada, o documento é: "O estudo do PC do B para implantação da Guerrilha Rural no Araguaia (1968-1972) ? A Guerra Popular no Araguaia". 
Este documento esta comigo há 35 anos, ele foi pego no dia em que foram mortos os 8 guerrilheiros do comando da guerrilha. Entre eles Mauricio Grabois, comandante das Forças Guerrilheiras do Araguaia ? FOGUERA. Este documento estava com eles, esta aqui. Vou entregar ao Presidente da mesa. Onde eu provo o que eles queriam, o PC do B queria impor o Comunismo no Brasil. Fez o estudo, treinou muitos guerrilheiros do PC do B na China e em Cuba para lutarem contra nós. Se eles estavam lutando contra o regime militar para impor a Democracia, deveriam ter treinados seus homens em países onde existia a Democracia e não nos países Comunistas. Então, eles estavam preparados e o documento está aqui. Vou ler algumas coisas que constam nele: 
"Porque a região foi escolhida? A escolha da região não foi espontânea e nem realizada empiricamente. Resultou de um profundo trabalho de pesquisas e estudo minucioso, objetivando a determinar uma área em que a luta armada pudesse ser iniciada e em que fosse assegurada a sobrevivência dos núcleos combatentes. 
A região satisfaz plenamente as exigências para o inicio e o desenvolvimento da guerra popular, particularmente da guerra de guerrilha. 

Outros povos utilizam com sucesso a Selva, florestas, como palco de suas ações guerrilheiras, a exemplo do que aconteceram no Vietnã, Malásia, Angola e outros países. 
Por outro lado apresenta certas vantagens para os ataques de surpresa ao longo de uma extensa rodovia localizada dentro da selva. 
O grosso da população é constituído de camponeses do Maranhão, Piauí, Ceará, Bahia, Goiás e de Estados do Nordeste. 
Os habitantes da região não têm outra saída para solucionar os seus problemas a não ser a Revolução. 
O objetivo das Forças Armadas Revolucionaria na região, a FOGUERA - Forças Guerrilheiras do Araguaia do PC do B é assegurar a sua sobrevivência e garantir um crescimento constante para formar um Exercito regular. 
Mesmo que o inimigo se coloque em muitos pontos fixos desta área e realize o patrulhamento, não conseguirão impedir que os guerrilheiros ali vivam, combatam, organizem a massa e se fortaleçam continuamente.. 
A luta de guerrilheiros tem possibilidade de crescer na região devido ao fato da população ser pobre e sofrida. Dependendo das circunstancias da luta, afluirão para a região, revolucionários de todas as partes do país a fim de ingressar nas Forças Guerrilheiras do Araguaia (FOGUERA). 
A guerrilha poderá acumular forçar, realizar intenso trabalho político, engrossar suas forças combatentes, mantendo-se com os recursos locais. 
Para o inimigo a região é hostil e desconhecida. Suas tropas serão trazidas de fora. A selva, embora generosa com os guerrilheiros, adaptados a região e que a conhecem bem, será madrasta para os soldados da reação, acostumados com a placidez dos quartéis, desconhecedor dos segredos da selva. A vida na selva apresenta dificuldades para enfrentar às doenças, os mosquitos e as intempéries. É necessária elevada consciência e espírito de abnegação que somente os guerrilheiros do PC do B possuem. 
As Forças Armadas ficarão isoladas e cercadas pelo ódio do povo". 
Este documento foi preparado pelo PC do B, durante quatro anos e realmente eu que estive lá, tudo o que eles previram deu certo, na primeira fase da guerrilha, quando o Exército colocou militares despreparados, recrutas vindos de Goiás e Brasília, como eles escreveram aqui no documento: Então na primeira fase da guerrilha, os guerrilheiros ganharam a primeira batalha. 
Aí o exercito retirou todo o efetivo e iniciou a operação Sucuri, colocou o pessoal do serviço de inteligência para fazer o levantamento da área. Mas só descobriu os nomes, as bases e o efetivo dos guerrilheiros, porque na primeira fase, prendeu o deputado Genoino, cujo codinome era Geraldo. E, graças a ele se conseguiu fazer o levantamento de quantos guerrilheiros atuavam na área, as armas e tudo. Foi Genoino que passou essas informações para o Exército. 
- Platéia: Vaias "Porque foi torturado." 
Então, vou repetir na mídia, que as Forças Armadas lutavam contra o Comunismo e pela Democracia. Agora, os partidos de esquerda dizem que estavam lutando contra a ditadura militar para implantar a Democracia, o que é uma grande mentira. Tanto é que eu tenho o documento elaborado pelo PC do B provando isso. 
Na guerrilha Rural, eu mesmo capturei dois guerrilheiros vivos. Eu capturei o guerrilheiro Piauí, tenho prova, aqui no meu livro tem documentos provando que também capturei um camponês chamado Zezinho. Hoje eles constam como desaparecidos. 
Só para os senhores saberem o que aconteceu na guerrilha urbana, nas cidades, onde os Partidos de esquerda também lutavam para impor a Ditadura Comunista no Brasil, aqui eu tenho os nomes de alguns terroristas que recorreram à luta armada e envolveram-se em atentados, assaltos e assassinatos na tentativa de derrubar o governo militar. 

Beneficiados pela lei da anistia de 79 se reintegraram na vida política, foram transformados de criminosos em heróis e hoje estão nas altas esferas, onde militam pelas mesmas idéias na esperança de colocar o País sob um regime idêntico a aquele que malogrou o leste europeu. 
Sabem qual o objetivo da luta armada dos que combateram o regime militar? 
Quem responde a esta pergunta é Daniel Aarão Reis, um ex-terrorista do MR-8, atualmente professor de história contemporânea na universidade federal fluminense, ele diz: 
"As ações armadas da esquerda brasileira não deve ser mitigadas. Nem para um lado nem para outro. Não compartilho a lenda de que, no fim dos anos 1960 e no inicio de 1970 (inclusive eu), fomos o braço armado de uma resistência democrática. Acho isso um mito sugerido durante a campanha da anistia. Ao longo do processo de radicalização iniciado em 1961, o projeto das organizações de esquerda que defendiam a luta armada era revolucionário, ofensivo e ditatorial, pretendia-se implantar uma ditadura revolucionaria. Não existe um só documento dessas organizações em que elas se apresentam como instrumento da resistência democrática. 
As esquerdas radicais se lançaram na luta contra a ditadura, não porque a gente queria uma democracia, mas para instaurar um socialismo no país, por meio de uma ditadura revolucionaria como existia na China e em Cuba. Mas , evidentemente, elas falaram em resistência, palavra muito mais simpática, mobilizadora e aglutinadora. Isso é um ensinamento que vem dos clássicos sobre guerra". 
Então vejam que foi Daniel Aarão Reis, um ex-terrorista do MR-8 que disse. 

Entre esses terroristas/comunistas que lutaram na época dos anos 60 e 70 eu trouxe os dossiês de alguns Ministros que estão aí no poder: 
- Ministro Tarso Genro, na clandestinidade usava os codinomes de "CARLOS" e "RUI", era um dos terroristas da época, filiado ao PC do B; aqui tenho dossiê de outro terrorista: Paulo Vannuchi foi militante da Ação Libertadora Nacional ? ALN, onde se familiarizou com ações terroristas, seqüestros políticos, assaltos a bancos e quartéis. Outro terrorista, Carlos Minc, era conhecido pelos codinomes "JAIR", "JOSÉ" e "ORLANDO", da Vanguarda Armada Revolucionaria ? Palmares, tem também a terrorista que na clandestinidade usava os codinomes de "ESTELA", "LUIZA", "PATRICIA" e "VANDA", a ministra Dilma Rousseff, ela participou de vários eventos terroristas, tenho também o de José Genoino, que foi preso e cujo codinome era GERALDO e de José Dirceu, cujo codinome era DANIEL, que filiou-se ao Partido Comunista Brasileiro (PCB), quando universitário e acompanhou Carlo s Maringhella, líder do PCB, na "corrente revolucionaria", criada para promover a luta armada. 
Eu não vou ler todos os dossiês, mas vou entregar eles ao presidente da mesa, deputado Daniel Almeida, para que esta Comissão Especial de Anistia e o povo Brasileiro tomem conhecimento de quem eram estes Ministros que hoje estão no poder. 
Então senhores, são só alguns nomes, esses eu trouxe para mostrar a verdade, tendo em vista eu ser militar e arrisquei minha vida para ter esta Democracia, eu era terceiro sargento, não era politizado, mas eu defendi à pátria, tanto é que consta no meu livro, documento do Exército me elogiando por eu ter defendido à pátria. 
Platéia: Vaias, UHHH...! 

Hoje em dia sou politizado, sou bacharel em ciências jurídicas, trabalhei no serviço de inteligência do exercito, então hoje eu vejo que nós temos que contar a história verdadeira para o povo brasileiro. Não essas falsas histórias que os comunistas e jornalistas estão contando que lutaram para impôr a Democracia no Brasil queriam sim, era impor o Comunismo. 
Aqui eu tenho o Jornal do Brasil, um depoimento do Curió, com quem trabalhei: 
Ninguém gostou o que eu coloquei no meu livro: "Onde estão os mortos e desaparecidos da guerrilha do Araguaia que foram exterminados, ninguém gostou". 
O exercito até abriu uma sindicância e me chamou para depor por causa do livro que lancei, mas não me prendeu. 
No seu depoimento ao Jornal do Brasil Curió diz: "tenho respeito pelos guerrilheiros que tombaram em confronto e não gosto da palavra extermínio com o qual o um de seus ex-subordinados, o tenente José Vargas Jiménez se refere à ofensiva final das Forças Armadas". 
Aí ele diz que não gosta, mas continuando a sua entrevista ao Jornal do Brasil ele diz: "Segundo ele, a ordem para que nenhum guerrilheiro saísse vivo a partir de 1973, partiu do ex-presidente Emílio Carrastazu Médici". 
Vejam o contraste, eu falo em extermínio e o Curió fala que houve ordem para matar. Matar e exterminar não são a mesma coisa? 

Curió também diz: "Tem respeito pelos guerrilheiros que tombaram em confronto". Eu também tenho respeito, porque nós lutamos, era uma guerra, cada um lutava pelo seu ideal. Eles lutavam pelo ideal comunista e nós militares lutávamos pela democracia. Depois que os Comunistas foram derrotados os militares passaram o governo para o povo brasileiro. 
- Deputado Arnaldo Faria de Sá do PTB/SP ? Relator da audiência. 
Sr Presidente acho que o tempo do orador já terminou, já falou bobagens demais e ninguém tomou parte em nada ainda. 
- Presidente Daniel Almeida. 
Deputado Arnaldo, realmente estamos a 20 minutos de exposição e, gostaria saber se o orador, nosso convidado tiver mais alguma coisa a complementar, que faça, para que nós façamos perguntas. Vamos retornar a palavra ao Tenente José Vargas. 
- Tenente José Vargas: 
Foi me dado 20 minutos, eu teria mais coisas para falar, mas é melhor os senhores fazerem perguntas e dentro do possível responderei. Muito obrigado! 
- Presidente Daniel Almeida: 
Passo a palavra ao relator, deputado Arnaldo Faria de Sá. 
- Deputado Arnaldo Faria de Sá (relator): 
Sr Presidente, demais autoridades, eu queria saber do Sr. José Vargas, qual o objetivo dele fazer essas denuncias? 
- Tenente José Vargas: 
Eu estou seguindo o que foi pedido no requerimento, são dois itens. Isso não é denuncia. 
- Deputado Arnaldo: 
Na revista ISTO É, qual foi o objetivo de fazer a denuncia? 
- Tenente Vargas: 
Falar a verdade, tanto é que falei a verdade. 
- Deputado Arnaldo: 
O que disse no seu livro "Lei da Selva"? 
- Tenente Vargas: 
Não é meu livro. Tanto é que nem cita meu nome nesse livro. 
- Deputado Arnaldo: 
Você disse que a ordem que tinha era para exterminar? Confirma isso? 
- Tenente Vargas: 
Confirmo. Está no meu livro, com provas, no meu livro tem documentos provando. 
- Deputado Arnaldo: 
As provas estão no livro ou você tem em apartado? 
- Tenente Vargas: 
Eu tirei cópias, tenho as originais. 
- Deputado Arnaldo: 
Sr Presidente, eu queria requerer que esses documentos originais existentes sejam apresentados à Comissão Especial de Anistia. 
- Tenente Vargas: 
Eu não trouxe. 
- Deputado Arnaldo: 
O Sr tem cópias desses documentos que possa disponibilizar para esta comissão? 
- Tenente Vargas: 
Esse é um caso que vou pensar. 
- Platéia: UUUUUUHHH!!! (Vaias) 
- Deputado Arnaldo: 
Você disse que participou do grupo de 120 guerrilheiros de selva, vossa senhoria confirma isso? 
- Tenente Vargas: 
Sim, e tínhamos mais 100 pára-quedistas, éramos 220, eles atuavam em Xambioá e nós em Bacaba.. 
- Deputado Arnaldo: 
Além desses 100 pára-quedistas, tinha mais 30 do grupo de informações? 
- Tenente Vargas: 
Eu não sei. Sei que haviam do CIE, mas não sei quantos eram. 
- Deputado Arnaldo: 
Tem uma frase na revista ISTOÉ, onde diz: "Recebemos ordem para matar todos e matamos. Se algum guerrilheiro sobreviveu à terceira fase, foi porque colaborou com a gente e ganhou uma nova identidade".. Vossa Senhoria confirma isso? 
- Tenente Vargas: 
Confirmo pelo seguinte, eu não tinha conhecimento de que algum guerrilheiro saiu vivo, só soube quando o coronel Lício Maciel (Dr. Asdrubal) entrou em contato comigo por e-mail. Eu o trouxe aqui e vou ler para os senhores. O Coronel Lício Maciel diz assim: "Chico Dólar, você entregou o prisioneiro Piauí e não sabe mais o que lhe sucedeu. Será que os 5 guerrilheiros arrependidos que o general Bandeira conseguiu empregar no serviço publico, em Brasília, por intermédio do Ministro Jarbas Passarinho, o Piauí não é um deles? Foram declarados mortos para não serem justiçados, vivem hoje sob nova identidade e ai deles se se revelam. Serão assassinados como Celso Daniel, as 8 testemunhas e mais o Toninho do PT. Infelizmente o atual desgoverno é de bandidos, existe muita coisa acima de nosso conhecimento. 
Muito tem sido inventado sobre as ações do Exército. Agora, eles tentam financiar empresários sem escrúpulos em filmes completamente fora da realidade, com objetivo único de desmoralizar o nosso exército". 
Estou entregando este documento (e-mail) ao presidente da mesa. 
- Deputado Arnaldo: 
Vossa senhoria tem a lista de todos os guerrilheiros que foram presos e exterminados? 
- Tenente Vargas: 
Sim, estão no meu livro. Estes documentos me foram entregues antes de eu entrar na selva para combater os terroristas/comunistas. 
- Deputado Arnaldo: 
Os prisioneiros eram colocados em pé, descalços em cima de latas sendo torturados. É verdade? 
- Tenente Vargas: 
Eu vi isso. 
- Platéia: Vaias ... UUUUUHHH!!! 
- Tenente Vargas: 
Esta começando a ficar bagunçado aqui. Eu vou embora. 
- Deputado Arnaldo: 
Vossa senhoria diz que prendeu mais de 30 camponeses e um deles colocou nu, num formigueiro. É verdade? 
- Tenente Vargas: 
É verdade. 
- Deputado Fernando Ferro ? PT/PE: 
Acho importante seu depoimento Sr. José Vargas, discordando de suas idéias políticas e conceitos.. 
- Deputado Fernando: 
Vossa senhoria prendeu 2 guerrilheiros, para onde foram levados? 
- Tenente Vargas: 
Escrevi no meu livro que o guerrilheiro Piauí que capturei vivo, que era o chefe do grupo de André Grabois (Zé Carlos), depois que ele foi morto, cuja prioridade para captura e destruição era "UM", tive oportunidade de matá-lo, porém resolvi prende-lo, entrei em combate "corpo a corpo" com ele por ver que ele estava fraco e desnutrido, eu sabia que tinha condições de prendê-lo e assim fiz com ele e com outro guerrilheiro camponês chamado Zezinho. 
Nós éramos combatentes, nossa base era em Bacaba, o pessoal do serviço de inteligência ficava na Casa Azul em Marabá-PA, nós entregamos os prisioneiros vivos a eles. 
- Deputado Fernando: 
O Sr viu outros serem capturados vivos? 
- Tenente Vargas: 
Não, somente posso falar dos que eu capturei vivos, Piauí e Zezinho. 
- Deputado Fernando: 
Dos 32 guerrilheiros que morreram quantos você matou? 
- Tenente Vargas: 
Nenhum. 
- Platéia ? Vaias UUUUUHHH! 
- Deputado Fernando: 
Qual o paradeiro dos guerrilheiros Piauí e Zezinho que o senhor capturou? 
- Tenente Vargas: 
Não sei, consta que Piauí desapareceu em março de 1974, eu sai da guerrilha em 27 de fevereiro de 1974. Ele foi entregue à Casa Azul, sede de nosso comando. Em Bacaba e Xambioá só ficavam os combatentes. 
- Deputado Fernando: 
O senhor era subordinado de Curió? 
- Tenente Vargas: 
Sim. 
- Deputado Fernando: 
Qual o papel de Curió nessas operações? 
- Tenente Vargas: 
Combatente. Às vezes ele saia com meu grupo de combate para emboscar, combater e destruir bases dos guerrilheiros. Isso era nosso trabalho. 
- Deputado Fernando: 
Mas, era ele quem comandava todo o contingente? 
- Tenente Vargas: 
Não. Ele comandava meu grupo e outros dois que comandou na primeira missão, o do Sargento Brito e Sargento Elizeu, ambos já mortos. Nós três fizemos o curso de guerra na selva juntos, no Centro de Instruções de Guerra na Selva (CIGS). O Sargento Brito morreu na guerrilha e o Sargento Elizeu faleceu dia 28 de agosto de 2008 de ataque cardíaco em Belém-PA. E Curió foi ferido a bala no braço pela guerrilheira Sônia 
- Deputado Fernando: 
O Senhor disse que prendeu em Bom Jesus vários camponeses. Quantos eram e para onde foram levados? 
- Tenente Vargas: 
Eram mais ou menos uns 40 e foram levados para Bacaba pelos grupos de combate do Sargento Brito e Elizeu. Os suspeitos de apoiar os guerrilheiros eram mandados para a Casa Azul, os outros ficaram alojados em Bacaba em barracões, onde todos os dias eram politizados com ensinamentos de Hino Nacional, Bandeira Nacional e o que era Democracia, Comunismo e Terrorismo. 
- Deputado Fernando: 
Pode informar se alguns camponeses foram mortos? 
- Tenente Vargas: 
Sim, na minha relação tem o Alfredo. 
- Deputado Fernando: 
Mas, os que o senhor prendeu? 
- Tenente Vargas: 
Acredito que todos foram soltos, pois eu sai de Bacaba antes da guerrilha acabar em 27 de fevereiro de 1974 e ela só terminou em janeiro de 1975. 
- Deputado Fernando: 
Como vocês foram preparados? 
- Tenente Vargas: 
Eu, o capitão Azevedo, também já falecido e os sargentos Brito, Elizeu e Vilhena, preparamos 60 guerreiros (soldados), para combater os terroristas/comunistas. Nos temos o curso de guerra na selva feito no Centro de Instrução de Guerra na Selva (CIGS), o melhor curso que existe no mundo, pois se alguém quiser tomar nossa Amazônia (Selva), todos os militares que tem este curso bem como os bravos soldados da região Amazônica estão preparados para defende-la. 
- Platéia: 
Foram preparados para torturar! (vaias) UUUHHH! 
- Tenente Vargas: 
Eu vou embora Senhor presidente, se continuar assim eu vou embora e não responderei mais nada. Que falta de respeito! 
- Presidente da mesa Dep. Daniel Almeida: 
Eu gostaria de solicitar aos convidados que não intervenham nos questionamentos feitos pelos deputados, se alguém tiver algum questionamento/indagação, que seja dada ao deputado para ser encaminhado ao convidado, a fim de preservar o ambiente e que permita o debate. 
- Deputado Fernando: 
O senhor entende e compreende que as famílias dos desaparecidos tem direito de saber onde estão os corpos deles. O senhor poderia ajudar a encontrá-los? 
- Tenente Vargas: 
Só me levar até a região junto com um dos mateiros que atuaram na área, pode ser o Vanu, pois depois de 35 anos, não mais reconhecerei sozinho os locais, somente com a ajuda desse mateiro, se ele for comigo encontramos esses locais. 
O mateiro Vanu foi mandado enterrar os três primeiros guerrilheiros mortos ANDRÉ GRABOIS (Zé Carlos), chefe do grupo e filho de Mauricio Grabois, comandante Geral das Forças Guerrilheiras do Araguaia (FOGUEIRA), JOÃO GUALBERTO GALATRONI (Zebão) e ANTÔNIO ALFREDO DE LIMA (Alfredo), camponês recrutado na área, no entanto, ele não os enterrou, só jogou palha em cima dos corpos. Os animais da mata os comeram. 
- Deputado Fernando: 

O senhor tem consciência que torturou e pode ser processado por esse crime, como também os outros? 
- Tenente Vargas: 
Com certeza. Se eu estou me acusando, não posso dizer que não vi outros sendo torturados. Agora se eu falasse que vi outros sendo torturados e eu não fiz, aí seria algo desleal. Mas, guerra é guerra. É hipocrisia dizer que não tem tortura numa guerra. Até hoje tem, a policia federal prende narcotraficantes e tortura, a milícia do Rio prendeu jornalistas e os torturou. É hipocrisia dizer que não existe tortura é absurdo. 
Evidente que cada pessoa tem seu comportamento, formação social, religiosa e familiar o que não permite que se exceda. 
- Deputado Fernando: 
A tortura é crime, e as pessoas que fizeram como é seu caso, devem ser chamadas à responsabilidade. O seu depoimento está ajudando esta comissão e gostaria de saber se o senhor tem conhecimento de outros militares que estariam dispostos a falar. Conhece alguém mais de seu tempo que atuou junto com o senhor na guerrilha que tem possibilidade de trazer informações referentes a esse período? 
- Tenente Vargas: 
O senhor acha que alguém teria a coragem que eu tenho. Não tem. Não tem. 
- Deputado Arnaldo Faria de Sá: 
O que vocês fizeram com Osvaldão? 
- Tenente Vargas: 
Foi morto. 
- Deputado Arnaldo: 
Depois de morto. 
- Tenente Vargas: 
Foi levado num helicóptero para Xambioá, como seu cadáver era grande, ele quase caiu do helicóptero e ficou dependurado, sendo levado assim até a base dos pára-quedistas. 
- Deputado Fernando: 
Quais as áreas onde o senhor atuou na guerrilha? 
- Tenente Vargas: 
Bom Jesus, Caçador, Chega com Jeito, Peixinho, São Domingos das Latas, Brejo Grande, Metade, etc. As áreas eram divididas, os pára-quedistas atuaram na área de Xambioá e nós os guerreiros de selva em Bacaba. 
- Deputado Fernando: 
Qual a recomendação a respeito dos corpos dos guerrilheiros? 
- Tenente Vargas: 
Não havia recomendação. Aqueles que foram mortos ficaram na selva e foram comidos por animais selvagens. Ninguém os enterrou, porém os nossos sim. 
- Deputado Fernando: 
Aqueles guerrilheiros que vocês não identificavam, eram cortadas suas cabeças e mãos? E quem dava as ordens para isso? 
- Tenente Vargas: 
Sim, foram três exceções, por não terem sido identificados, se levava as mãos para tirar as impressões digitais e as cabeças para identificação, pois não se pode carregar um corpo no meio da selva, é muito difícil. As ordens vinham dos nossos superiores para esse procedimento. 
- Deputado Fernando: 
Quem fez isso e quem era responsável por Bacaba e Xambioá? 
- Tenente Vargas: 
Eu não sei. 
- Platéia: Vaias ..UUUUHH! 
- Deputado Fernando: 
Porque seu apelido de Chico Dólar? 
- Tenente Vargas: 
Meus comandados, dez homens foram os que me colocaram esse apelido. Nós não atuávamos fardados, atuávamos à paisana, barbudos, cabeludos, descaracterizados, iguais aos guerrilheiros. Ninguém sabia quem era sargento, tenente, capitão, major e coronel. Todos tinham um codinome. 
Por atuarmos descaracterizados as nossas baixas (mortos), no período em que atuei na guerrilha, foram feitos por "fogo amigo", nós atirávamos em nós mesmos, pois nós confundíamos com guerrilheiros. 
- Deputado Claudio Cajado (DEM/BA): 
O senhor acha que estava fazendo uma coisa legal quando estava na guerrilha? 
- Tenente Vargas: 
Quando entrei no Exército fiz um juramento em defender a Pátria. Então eu tive que defender a Pátria dos Comunistas. Eu fiz isso. 
- Deputado Claudio: 
Qual o seu grau de escolaridade na época da guerrilha? 
- Tenente Vargas: 
Eu não tinha nem a 7ª série, hoje sou bacharel em direito. 
- Deputado Claudio: 
O senhor sabe que juridicamente uma ordem que não é legal o senhor não tinha obrigação de cumpri-la. O senhor tem conhecimento disso, hoje em dia como bacharel em direito? 
- Tenente Vargas: 
Lá eu era Sargento e cumpria ordens. Hoje como advogado sei que existem leis que tem que ser cumpridas. 
- Deputado Claudio: 
Na época, para matar, o senhor sabia que não se podia cumprir essa ordem? 
- Tenente Vargas: 
Não, tanto é que eu tenho minha formação familiar e religiosa e que eu poderia ter matado os guerrilheiros PIAUI e ZEZINHO. Não o fiz, capturei-os vivos. A ordem era para matar: "Atira primeiro e pergunta depois". Mas, eu não fiz isso. 
- Deputado Claudio: 
Onde seu grupo atuou, houve mortos? 
- Tenente Vargas: 
Não, só captura. 
- Deputado Arnaldo Faria de Sá: 
O senhor matou cumprindo as ordens "Atira primeiro e pergunta depois". O senhor cumpriu isso à risca? 
- Tenente Vargas: 
Claro que não, se assim tivesse feito, não teria capturado vivo dois guerrilheiros. Os teria matado, cumprindo essas ordens teria matado PIAUI e ZEZINHO. 
- Deputado Arnaldo: 
O senhor não tem medo de ser justiçado, assassinado? 
- Tenente Vargas: 
Não, os senhores podem fazer o que quiserem comigo, estão no poder mesmo. 
- Deputado Claudio Cajado: 
Qual sua motivação para o senhor vir a publico contar tudo isso, sendo fotografado, filmado, gravado publicamente, relatando esses fatos? 
- Tenente Vargas: 
Inicialmente lancei meu livro para contar a verdadeira história da guerrilha do Araguaia. Quando comecei a escrever o livro que foi feito em dois anos. Todos falavam assim: "Você é louco, maluco, o Exército vai te prender, você vai ser morto pelos familiares dos guerrilheiros que foram mortos, etc., etc." 
Depois que lancei o livro à conversa mudou: "Você é herói. Você é valente, corajoso, etc." Até aí eu estava tranqüilo. 
Aí eu comecei a ouvir e ler na mídia comentários que esses Ministros Comunistas querem acabar com a Lei a Anistia e os nossos representantes, As Forças Armadas, estão quietos, omissos, surdos. Não fazem nenhuma nota contestando ou pelo menos explicando ao povo sobre esses assuntos. Lei da Anistia e distorção dos fatos sobre a verdadeira história da guerrilha do Araguaia, onde eles, os comunistas dizem que lutaram contra o regime militar (Ditadura) para impor o regime Democrático no Brasil, o que é uma grande mentira. Isso me deixou irritado, eu sou militar, eu estive na guerrilha do Araguaia, eu combati esses terroristas comunistas, arrisquei a minha vida para ter esta democracia e não pedi nenhuma indenização nem dinheiro para ninguém. Tive problemas depois que sai da guerrilha, fiquei neurótico de guerra, pois quando você sai de uma guerra, fica neur ótico, até você se readaptar novamente à sociedade, quer dizer eu não pedi nenhuma indenização. O que eu achei e acho que fizemos a coisa certa. Tanto é que depois, que os grupos comunistas de esquerda foram derrotados. O governo militar entregou as rédeas da Nação à população brasileira onde houve eleições diretas. É a Democracia. Tanto é que hoje o regime é Democrático e os partidos políticos de esquerda estão oficialmente registrados na justiça eleitoral, como o PCB, PC do B, PT, etc. 
Eu lutei pra isso, eu arrisquei a minha vida pra isso. Então, me deixam irritado quando dizem que nós do regime militar somos os bandidos, vilões e nossos chefes militares não se pronunciam em nada. Como eu estou na mídia com credibilidade, estou aproveitando para fazer este desabafo e contestar essas mentiras: "Que os terroristas Comunistas lutaram para impor a democracia no Brasil". 
- Deputado Arnaldo Faria de Sá: 
Você é Herói? 
- Tenente Vargas: 
Por que não? Eu sou herói do Araguaia. 
- Platéia: Uh! Uh! Uh! 
- Deputado Arnaldo: 
Você não tem medo de ser torturado? 
- Tenente Vargas: 
Não, nem de ser morto. 
-Deputado Claudio Cajado: 
O senhor participou de tortura e morte? 
- Tenente Vargas: 
Eu não dei entrevista sobre isso e nem confirmei. 
- Deputado Claudio: 
E a motivação do livro? É por dinheiro? 
- Tenente Vargas: 
Dinheiro! Todo mundo pensa nisso e me perguntam se eu cobrei a entrevista que dei a Revista Isto é. Não cobrei nem ganhei nada com o livro até agora, pois ninguém me patrocinou. Eu fiz o livro sozinho. 
- Deputado Claudio: 
O senhor sabe de que tortura é crime imprescritível? 
- Tenente Vargas: 
Terrorismo também é crime imprescritível. 
- Deputado Claudio: 
Em que dia o senhor prendeu e enterrou os guerrilheiros Piauí e Zezinho? 
- Tenente Vargas: 
No dia 24 de Janeiro de 1974, foram entregues em Bacaba e dali foram mandados para a Casa Azul em Marabá. 
- Deputado Cláudio 
O Sr reconhece então que o Exército Brasileiro matou, assassinou, torturou e escondeu os corpos desses guerrilheiros? 
- Tenente Vargas: 
Não sei. O senhor é quem esta falando. Podem ser que alguns estejam vivos com nova identidade com medo de serem justiçados pelos seus camaradas comunistas. 
- Deputado Claudio: 
O senhor é aposentado? 
- Tenente Vargas: 
Não, estou na reserva do exercito e posso ser convocado a qualquer momento. 
- Deputado Fernando Ferro (PT/PE): 
Vossa senhoria se sente abandonado pelas Forças Armadas e pelos seus comandantes da época? 
- Tenente Vargas: 
Não é que eu me sinta abandonado, sinto sim que quando surgem boatos denegrindo as Forças Armadas, nossos chefes não se manifestam.. Então, parecem que todas as mentiras que falam sobre as instituições Exército, Marinha e Aeronáutica, são verdades, eles ficam calados e como um ditado diz: "Quem cala, consente". Mas, apesar de todo o esforço que os revanchistas fazem para denegrir as Forças Armadas, não conseguem, pois nas pesquisas feitas junto a população brasileira a credibilidade das Forças Armadas está sempre em primeiro lugar, o que não acontece com a dos políticos. 
- Deputado Fernando Ferro: 
Essa afirmação sua, dá a impressão de que as Forças Armadas são uma espécie de Deus, o que não é. Elas como quaisquer outras instituições cometem erros. Esta comissão de anistia foi criada para corrigir erros e contribuir com a Democracia. 
- Deputado Tarcisio Zimmermann (PT/RS): 

Quem é José Vargas hoje? 
- Tenente Vargas: 
Sou militar da reserva e recebo meu salário como 1º Tenente, que é a minha única fonte de renda. 
- Deputado Tarciso: 
O senhor poderia repassar esses documentos secretos para esta comissão? 
- Tenente Vargas: 
Vou pensar. - Platéia: (vaias) Põe ele no pau de arara! UUUHHH!
- Deputado Tarciso: 
A ministra Dilma Russef, o senhor acha que ela deveria ter sido assassinada como as demais? 
- Tenente Vargas: 
Se ela estivesse na guerrilha do Araguaia, não estaria viva. 
- Deputado Tarciso: 
Como o senhor pode estar tranqüilo diante de tantas atrocidades. Não está com medo? 
- Tenente Vargas 
Se estivesse com medo não estaria aqui. 
- Deputado Tarcisio 
Na revista Isto é, o senhor diz que tortura numa guerra é normal para obter informações. O senhor confirma isso? 
- Tenente Vargas: 
Na época era normal. Fiz o que fiz. Se coloque no meu lugar, se eu tivesse sido capturado pelos terroristas comunistas, eu estaria vivo aqui? Guerra é guerra! 
- Deputado Arnaldo Faria de Sá: 
Com todo o respeito senhor presidente, eu estou enojado. Porque Genoino está vivo? 
- Tenente Vargas: 
Porque ele entregou seus companheiros. 
- Platéia: (Vaias) Porque foi torturado! UUUHHH! 
- Tenente Vargas: 
Senhor presidente, eu vou embora que falta de respeito da platéia. 
- Deputado Arnaldo Faria De Sá: 
O senhor conhece alguém que poderia passar mais informações sobre a guerrilha? 
- Tenente Vargas: 
Qual o homem que teria a coragem de falar como eu. Eu estou aqui levando farpadas. Vejam como os senhores me trataram aqui, acham que outros iriam querer vir aqui para passar pelo que eu estou passando. Quem iria colaborar com os senhores. "Cego é aquele que não quer ver". Não sou leigo. 
- Deputado Daniel Almeida: 
O senhor Vargas pode dizer suas palavras finais. 
- Tenente Vargas: 
Senhor presidente, finalizando, quando desgravarem o que aconteceu nesta audiência, ouvirão e verão de que o senhor foi o único a falar decentemente comigo, os outros me destrataram e afrontaram. 
Já fiz meu desabafo e fui pressionado sem ninguém me apoiando. Esse problema que querem acabar com a lei da anistia e nossos chefes das Forças Armadas não falam nada, eles deveriam se pronunciar a respeito. Sou militar que defendeu a Pátria contra o regime comunista, tanto é que deixei um documento provando que o PC do B queria impor o regime comunista no Brasil. Fui para a guerra. Guerra é guerra, afeta dois lados, tanto a parte vencida como a dos vencedores.. Sei que tem muita gente sofrendo até hoje, de nosso lado também tem gente sofrendo. 
Já pedi perdão a Deus, mas eu estava numa guerra e tinha que cumprir ordens. Eu estava defendendo a Pátria, o regime militar, um ideal democrático contra um ideal comunista. Eram ideais de cada lado, cada combatente guerrilheiro pelo seu livre arbítrio defendia o que achavam certo. Mas, com certeza agora os senhores tem um relato verdadeiro, de quem realmente esteve lá dentro da guerrilha do Araguaia combatendo os terroristas/comunistas. 

Antes de encerrar, vou fazer uma pergunta à Comissão Especial de Anistia, que é a quem libera grandes verbas de indenizações aos comunistas derrotados e suas famílias. Se eu posso entrar também com um pedido de indenização por ter combatido os comunistas na guerrilha do Araguaia para ter esta Democracia que temos hoje no Brasil?. 
- Platéia: Vaias, gritos de revolta! UUUHHH! 
- Deputado Tarciso: 
O senhor não lutava pela democracia, lutavam pela ditadura militar, o senhor não é merecedor de anistia e nem de indenização. O senhor não tem direito, nenhum torturador tem direito a anistia nem indenização. O senhor cometeu atos de ilegabilidade 
- Deputado Arnaldo Faria de Sá: Obs:Chantagem e ameaça do Deputado 
Senhor Presidente, eu queria dizer ao depoente da minha parte o seguinte: "se vossa senhoria entregar esses documentos secretos a esta Comissão Especial de Anistia, eu abro mão, como relator de entrar com uma representação no Ministério Publico Federal, para que o senhor seja processado e preso por crime de tortura na Guerrilha do Araguaia." 
- Tenente Vargas 
Eu não vou entregar.. 
- Platéia: Vaias UUUHHH! 
-Deputado Daniel Almeida: 
O senhor José Vargas não foi tratado de forma grosseira não ouve qualquer tipo de pressão, foi um debate civilizado. 
Todos nós consideramos fundamental o papel das Forças Armadas, aquilo que está previsto na lei.
Sou do PCdoB, considero que tudo o que fizemos foi para resgatar a Democracia e a sociedade Brasileira alcançou esse objetivo. 
Não me considero nem mais nem menos patriota por qualquer outro segmento da Sociedade Brasileira, porém os integrantes e guerrilheiros do PC do B são patriotas. 
Agora, defender a Pátria não é impor suas convicções e não é suprimir a Democracia.
Está encerrada a audiência. 

OBSERVAÇÃO: 
Ao término da audiência, os jornalistas vieram para me entrevistar e junto com eles veio uma senhora que disse ser filha de um dos comunistas que morreram no regime militar. Ela chegou perto de mim e apontando-me o dedo no meu rosto disse: 
"Se eu não fosse uma pessoa educada lhe dava um tapa na cara, porém se eu tivesse seu endereço mandaria matá-lo" 
O segurança da Câmara dos Deputados a retirou do local e também me retirou pelos fundos da sala da audiência, pois as famílias dos Terroristas/Comunistas estavam me esperando na porta da entrada. 
TENHO TODA A AUDIÊNCIA PÚBLICA GRAVADA, NA ÍNTEGRA, SE EU NÃO TIVESSE FEITO ISSO, VALERIAM SOMENTE AS VERDADES DELES, JÁ A REMETÍ PARA O SERVIÇO DE INTELIGÊNCIA DO EXÉRCITO E AGORA ESTOU REMETENDO AOS SENHORES UM RESSUMO DELA. 
POR FAVOR, DIVULGUÉM. 
Respeitosamente. 

Tenente Vargas. SELVA! 
"BRASIL ACIMA DE TUDO e também TUDO PELA AMAZÔNIA
 
SE QUISER ADQUIRIR OS LIVROS BACABA, MANDE SUA SOLICITAÇÃO PELOS SEGUINTES E-MAILS, são três:
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DO BRASIL.-OK!
 
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