MEMORIAL 31 DE MARÇO DE 1964

MEMORIAL 31 DE MARÇO DE 1964
Avião que passou no dia 31 de março de 2014 pela orla carioca, com a seguinte mensagem: "PARABÉNS MILITARES: 31/MARÇO/64. GRAÇAS A VOCÊS, O BRASIL NÃO É CUBA." Clique na imagem para abrir MEMORIAL 31 DE MARÇO DE 1964.

segunda-feira, 13 de abril de 2020

Eles não eram os “mocinhos”

Eles não eram os “mocinhos” (1)


Geyson Santos, Advogado
Publicado por Geyson Santos
há 3 anos
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Com relação ao período do regime militar brasileiro, umas das versões que mais se apegou ao imaginário popular é que os grupos armados daquela época estavam lutando contra o regime pela volta da democracia.
Fernando Gabeira, jornalista, escritor e político brasileiro, foi um dos que à época pegaram em armas. Membro do Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR-8), participou do mais famoso sequestro de uma autoridade estrangeira em território nacional, do embaixador americano Charles Elbrick, evento sobre o qual escreveu um livro chamado “O que é isso companheiro?”.
Pois bem, em agosto de 2010, Gabeira concedeu uma entrevista ao site de notícias UOL, no qual falou sobre a luta armada. Suas palavras desmistificam o romancismo criado em torno dos revolucionários como “jovens que lutavam a favor da democracia”:
“Todos os principais ex-guerrilheiros que se lançam na luta política costumam dizer que estavam lutando pela democracia. Eu não tenho condições de dizer isso. Eu estava lutando contra uma ditadura militar, mas se você examinar o programa político, que nos movia naquele momento, era voltado para uma ditadura do proletariado.
Então, você não pode voltar atrás, corrigir o seu passado e dizer: ‘eu estava lutando pela democracia’. Havia muita gente lutando pela democracia no Brasil, mas não especificamente os grupos armados, que tinham como programa esse processo de chegada na ditadura do proletariado
(...)
Não, a luta armada, naquele período, não estava visando a democracia
(...)
A minha posição é bastante nítida em dizer que houve uma luta pela democracia no Brasil, nos de certa maneira participamos dessa luta, mas com um objetivo diferente... "(transcrição direta)
Não se trata de um ponto de vista isolado. Eduardo Jorge, médico e político brasileiro, naquele tempo, membro do Partido Comunista Revolucionário (PCR), também se expressa no mesmo sentido:
“Eu continuo sendo socialista, e, portanto, de esquerda, mas sou uma pessoa que acredita que a democracia é essencial. Coisa que nós, na época da esquerda leninista não considerávamos. Nós éramos pela ditadura do proletariado.
Nós éramos contra a ditadura militar, mas éramos a favor da ditadura do proletariado. É preciso dizer a verdade toda. Porque as vezes eu ouço meias verdades. Como a ditadura militar nos oprimiu barbaramente, muitas vezes as pessoas pensam que não existiam coisas, no campo da esquerda, igual e até pior, em vários aspectos." (Programa Fluxo – 21/06/2014)
Daniel Aarão Reis Filho, professor titular de História Contemporânea na Universidade Federal Fluminense, que também participou da luta armada, expõe seu ponto de vista:
“As ações armadas da esquerda brasileira não devem ser mitificadas. Nem para um lado nem para o outro. Eu não compartilho da lenda de que no final dos anos 60 e no início dos 70 (inclusive eu) fomos o braço armado de uma resistência democrática. Acho isso um mito surgido durante a campanha da anistia. Ao longo do processo de radicalização iniciado em 1961, o projeto das organizações de esquerda que defendiam a luta armada era revolucionário, ofensivo e ditatorial. Pretendia-se implantar uma ditadura revolucionária. Não existe um só documento dessas organizações em que elas se apresentassem como um instrumento de resistência democrática” (O Globo – 23/09/2001)
Três ex-guerrilheiros que, de pontos de observação diferentes, chegaram às mesmas conclusões: a luta armada no Brasil não visava a volta da democracia; visava uma ditadura de esquerda.
Não! Eles não eram os “mocinhos”!

O malogro em romantizar a pessoa do revolucionário, consiste no paradigma da vítima; ou seja, a vítima não comete crimes. Vítima é vítima, e ponto.
Nisso reside toda a importância da desmistificação: de entender que ambos os lados cometeram crimes na ânsia por seus ideais. De uma lado os militares, na ânsia de preservar o sistema vigente à época. Por outro, os revolucionários, na sanha por uma ditadura comunista. Para não ser leniente com nenhum dos lados, por ora, vou coloca-los num mesmo patamar. Ambos queriam uma ditadura. O que mudava era a posição delas. Uma de direita e outra de esquerda.
Nesse ponto está a inflexão de minhas considerações. Durante todos esses anos, até mesmo pela Comissão da Verdade, somente os crimes cometidos pelos militares tem sido divulgados à execração pública. Contudo, como já disse anteriormente, a priori, considero que ambos estivessem em pé de igualdade.
Por isso, sinto que está na hora de falar sobre os crimes cometidos pelos grupos revolucionários armados. Não para uma condenação; porque entendo que, apesar de somente os crimes dos militares serem expostos à condenação pública, ambos os lados estão sob a égide da Lei 6.683/79, a Lei da Anistia.
Está na hora de ambos os lados serem expostos. Como o dos militares, de longa data, há quem o faça; vou me ater ao dos revolucionários.
E sobre o que me debruçarei nos próximos artigos.

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