Trovas mimosas
Félix Maier
I
Aos filhos do Rei, a picanha,
Prometida em cerrada campanha.
O Rei se embriaga com canha
E com pica, o povaréu se assanha.
II
No curto obituário consta sua vida,
Deixou uma família mui querida,
Mulher, dois filhos, cinco netos com amor,
E no Twitter sessenta carpideiras com dor.
III
Você, macho forte e destemperado,
O que diz sobre seus mamilos?
Deu de mamar no longínquo passado,
Ou vai no futuro aleitar os filhos?
IV
Até no imundo banheiro público há poesia,
Feita na parede por um Bocage, com maestria:
“Por mais que você balance a munheca,
O último pingo é da cueca”.
V
De mão em mão, a cuia de mate dança.
Se tiver dor de barriga, tome mate de congonha.
Depois da bela chinoca de trança,
Beijar a bomba é o que o frangote sonha.
VI
Apressado come cru, mas enche as tripas.
Quem ri por último, retardado é, não refuga.
Depois da tempestade, caixões são cobertos com
tulipas.
Quem madruga, cedo o ladrão o celular aluga.
VII
A varanda florida de tua casa, morena,
Tem muito perfume, paz e virtude.
O teu porte, tua beleza, tua feição serena
Me dá novo ânimo, alegria e muita saúde.
VIII
Ao ouvir um português, o brasileiro plebeu
Estranha sua cândida lógica e argumentação.
Parece que o português guardou Gil Vicente num
museu,
E o brasileiro, num cabaré um Bocage de estimação.
IX
Entre a Direita e a Esquerda, há um abismo
profundo.
Como islão, uso a mão direita para comer e dar a
mão,
Enquanto a esquerda serve para outro tipo de
apertão,
Como usar papel higiênico para limpar a bunda.
Perder o mindinho não é desvantagem,
Diz o filósofo de Garanhuns, em alto som.
Não precisar esbanjar é muita vantagem,
São menos anéis para vestir os dedos da mão.
XI
A mentira é como areia movediça:
Quanto mais o mentiroso se explica,
Se contradiz e esperneia na lama imunda,
Mais ele se debate, se desespera e afunda.
XII
O politicamente correto fez a transgenia da
palavras,
Transformando o vil aborto em “direito de decidir”.
Não existem mais alcoviteiros tornando prostitutas
escravas,
Mas apenas o “corretor de empresárias do sexo”, a
sorrir.
XIII
Toda família tem um parente sabido, mas com falas
descrentes,
Como meu tio, com sotaque alemão, carrrregado de
cerveja.
Dizia ele que o atraso de uma vila se mede por dois
entes:
Pelo número de quebra-molas e pela altura da torre
da igreja.
XIV
Na Itália, general americano pergunta ao pracinha:
- O que você veio fazer aqui nesta guerra?
- Vim para morrer pela pátria – respondeu com
gracinha.
- Que besteira! Se você morre, quem vai defender
essa terra?
XV
No século XX, o mundo conheceu a paz e o inferno.
O capitalismo e o socialismo fizeram obras
ingentes.
Enquanto o primeiro construiu o mundo moderno,
O segundo foi macabro, exterminador de gentes.
XVI
Onde foram parar os descendentes de Abel?
Por que existe tanta pessoa ruim?
Somos todos restos da Torre de Babel,
Somos todos centinetos de Caim.
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