MEMORIAL 31 DE MARÇO DE 1964

MEMORIAL 31 DE MARÇO DE 1964
Avião que passou no dia 31 de março de 2014 pela orla carioca, com a seguinte mensagem: "PARABÉNS MILITARES: 31/MARÇO/64. GRAÇAS A VOCÊS, O BRASIL NÃO É CUBA." Clique na imagem para abrir MEMORIAL 31 DE MARÇO DE 1964.

quarta-feira, 7 de outubro de 2020

Fabian Society - por Olavo de Carvalho

Preâmbulo

O texto abaixo foi extraído da História Oral do Exército - 31 Março 1964 - O Movimento Revolucionário e sua História (15 Tomos), publicada pela Biblioteca do Exército Editora (Bibliex), Rio de Janeiro, 2003.

Trata-se da entrevista dada por Olavo de Carvalho para aquela publicação.

A Fabian Society (Sociedade Fabiana) é uma agremiação socialista inglesa, fundada em Londres em 1884, de tendência marxista. Deriva-se do nome de Fabius Cuntactor (Fábio, o Contemporizador), que substituiu a doutrina da “mais-valia” pela da renda socialmente criada que o Estado deveria devolver ao povo na forma de realizações de interesse público. Bernard Shaw e H. G. Wells pertenceram a essa variante socialista.

F. Maier




Fabian Society

por Olavo de Carvalho

“A expressão 'Nova Ordem Mundial' só começa a circular na imprensa brasileira depois que foi usada num discurso do George Bush, o pai, no tempo da Guerra do Golfo. A partir daí, todo mundo acordou para o fenômeno da Nova Ordem Mundial e começo a discuti-lo.

Muito bem, esta questão da Nova Ordem Mundial está sendo discutida e planejada pelo menos desde a década de 1920. Houve um projeto inteiro – em 1928 já estava totalmente formulado – que saiu num livro de Herbert George Wells, intitulado The Open Conspiracy. Toda a Nova Ordem Mundial está delineada ali.

A ideia da nova ordem mundial é essencialmente uma criação da chamada Fabian Society, Sociedade Fabiana. Os socialistas fabianos são socialistas moderados, inventores da chamada ‘terceira via’ que também já estava formulada na década de 1920.

Onde surge a ‘terceira via’? Surge de um fator muito simples: o capitalismo é um regime que produz uma tal riqueza, uma tal prosperidade que acaba criando, junto com a prosperidade geral, certas fortunas que transcendem a própria mecânica do capitalismo. Por exemplo, um sujeito que cresceu e que enriqueceu num regime de livre concorrência, quando chega ao topo do capitalismo, isto é, se tornou uma das grandes fortunas, percebe que, embora a sua fortuna tenha sido criada pelo regime de livre concorrência, ele já não pode estar submetido à mesma. Nesse momento, surge o problema dinástico, porque ele aspira passar aquela fortuna para seus descendentes e perpetuá-la. Então ele já não quer mais livre concorrência, porque deseja garantir a continuidade.

Isso quer dizer que a classe capitalista se forma na livre concorrência, mas se consolida como um poder dinástico, e, portanto, já não mais de tipo capitalista, e sim de tipo aristocrático.

Então, dentro do regime capitalista puro, capitalista liberal, ninguém pode garantir que o pobre de hoje não será rico amanhã e o rico de hoje não será pobre amanhã, porque o mercado é um negócio flutuante e imprevisível. A partir do momento em que a grande riqueza criada pelo capitalismo liberal tenta se perpetuar através das gerações e se torna um poder aristocrático, passa a funcionar como uma força estranguladora do capitalismo.

Então, é isto que explica o seguinte: se você pegar as duzentas maiores fortunas dos Estados Unidos – a começar por Rockefeller, Morgan etc. -, você verá que, nas eleições americanas, desde o começo do século, eles jamais apoiaram o candidato pró-capitalista, mas sempre o candidato estatista, intervencionista, controlador da economia, semi-socialista. Isso acontece porque essas grandes fortunas, esses grandes bancos internacionais, vivem de emprestar dinheiro para o governo, que é o grande cliente deles. Precisando do endividamento público, precisam do governo intervencionista.

São republicanos ou democratas? [entrevistador]

Hoje em dia seria democrata. Mas essa diferença já não é tão importante, porque os candidatos que eles elegeram - republicanos e democratas - eram todos intervencionistas. Os que defendiam a economia liberal e o livre mercando sempre foram jogados para escanteio.

Inclusive aqueles dos quais você menos esperaria isso. Por exemplo, Ronald Reagan. Teoricamente, Reagan seria um homem do capitalismo liberal, uma espécie de Margareth Thatcher – ex-Primeira-Ministra britânica – de terno e gravata, mas, quando você vai ver, o que é que o Reagan fez? Ele fez o maior endividamento público de toda a história americana.

Quer dizer, durante a administração Reagan, o Estado cresce mais ainda. Eles sempre apoiaram mais uma política intervencionista. Ao mesmo tempo, essa mesma elite sempre usou a União Soviética – e o movimento comunista de modo geral – como instrumento de pressão em cima do governo americano. Se você for ver a própria história da União Soviética, sua história inteirinha, você vai ver que a União Soviética só existiu graças à ajuda americana.

Um exemplo: quando termina a Segunda Guerra, os americanos fazem o Plano Marshall para os países da Europa Ocidental - França, Alemanha e outros. E como era o Plano Marshall? Os Estados Unidos davam dinheiro para aqueles países para que reconstruíssem, com a condição de que comprassem seus materiais nos Estados Unidos - forçando a venda, portanto. Isso quer dizer que, através desse plano governamental, o contribuinte americano era obrigado a subsidiar firmas das quais ele, normalmente, não compraria. Evidentemente, é uma política antiliberal, intervencionista. Já para a ajuda à URSS não impuseram condição nenhuma: deram-lhe simplesmente um empréstimo a fundo perdido, que jamais foi pago - e nunca reclamaram do calote. Neste caso, o Governo foi pressionado pelas grandes fortunas: Rockefeller, Morgan etc.

Ora, quando vemos que esses grandes bancos vivem do endividamento público, eles têm que ser contra o capitalismo liberal, e têm que ser a favor de um regime intervencionista. Mas o comunismo total, por outro lado, também não serve para eles. Então o que fizeram? A ‘terceira via’ foi a solução que encontraram, pois já tinham pensado nisso. Tudo está escrito, publicado, desde a década de 1920.

Então, esse pessoal vai empurrando o mundo cada vez mais para uma espécie de socialismo mezzo a mezzo, um socialismo que, no fundo, seria idêntico à economia fascista, à economia nazista – porque é um regime estatista -, mas conservando-se o Poder das grandes empresas, como você tem na China hoje, também.

Alguma coisa parecida com Lord Keynes 0 John Maynard Keynes? [entrevistador] 

Lord Keynes é um característico socialista fabiano. Agora, as relações do socialismo fabiano com a União Soviética foram sempre muito boas. Eles sempre apoiaram a União Soviética. Aí, aparecem umas situações que são tão estranhas que beiram a inverossimilhança, como por exemplo o seguinte caso: Dean Acheson foi Secretário de Estado americano; seu escritório de advocacia era oficialmente o escritório que representava os interesses do governo soviético nos Estados Unidos. Isso quer dizer que o advogado da União Soviética era Secretário de Estado americano. Como é possível uma coisa dessas? É muito estranho!

Você vê que havia ali um conluio de interesses que chega a ser sinistro, sob certo aspecto, baseado sobretudo na mentira. Ora, essa turma do Acheson - que eles chamavam os 'Homens Sábios', eram cinco ou seis - inventou a política de 'contensão do comunismo'. O que significa 'contensão do comunismo'? Significa não fazer nada contra ela, deixá-lo como está.

Então, de fato, bloquearam as iniciativas anticomunistas nos Estados Unidos, porque necessitavam da União Soviética para usá-la como instrumento de chantagem em cima do governo americano. A mecânica disso também é muito simples: se o banqueiro vive de emprestar dinheiro ao governo, qual é a garantia que ele tem de que o governo vai pagá-lo? A qualquer momento, o governo pode criar uma moratória, dar-lhe um chapéu e não pagar mais nada.

Ele precisa de um instrumento de pressão externa; é a garantia que ele tem. É por isso que você vai ver, sempre, esse pessoal - Rockefeller etc. - subsidiando o movimento esquerdista, como subsidiaram o Mandela na África do Sul. 

Mandela, que estava na cadeia há vinte anos, membro de um grupo eminentemente assassino e genocida - o chamado Congresso Nacional Africano, que, na verdade, é o Partido Comunista - repentinamente...

Teve o apoio total das grandes fortunas. [entrevistador]

Exato. Ele foi posto no Poder por Rockefeller, e chegou a admitir isso. Assume o Poder e no dia seguinte é retirado da cadeia, seis meses depois é Presidente da República, e a primeira coisa que faz é tirar uma fotografia abraçado com David Rockefeller. E a esquerda toda acha isso lindo.

Se alguém que eles entendessem da direita aparecesse abraçado com o Rockefeller... [entrevistador]

Meu Deus do céu, seria linchado.

O Movimento Comunista Internacional sempre trabalhou para o interesse desses grandes banqueiros e vice-versa. Mas este também é um assunto sobre o qual no Brasil ninguém sabe nada. Existem centenas, milhares de livros sobre este assunto - existe um bocado de livros alucinados também, negócio da teoria da conspiração, mas há estudos muito sérios, diga-se, onde você entende a coisa com uma translucidez total, sobretudo porque é ridículo pensar em termos de conspiração. O termo certo seria o do Wells, Open Conspiracy, conspiração aberta. Todas essas discussões sobre 'terceira via', sobre Nova Ordem Mundial, vêm sendo publicadas na revista Foreign Affairs desde 1920.

Está escancarado; ninguém está escondendo nada. Apenas eles têm uma continuidade temporal formidável e, também, como o Partido Comunista, discutem e refazem incessantemente a sua estratégia; por essa razão, um país como o Brasil fica que nem barata tonta no meio disso, porque você não tem uma intelectualidade capacitada para discutir a situação, diagnosticá-la e saber onde estamos. A nossa intelectualidade nem mesmo percebe que toda a nossa esquerda, aqui, é manipulada por essa gente.

Uma vez, no Rio Grande do Sul, tive um debate com o prefeito de Porto Alegre, Raul Pontt. Ele não me conhecia e esperava que chegasse lá um típico representante do imperialismo americano. E, sem me conhecer, começou a me atacar por esse lado.

Eu disse: 'Espere, meu amigo. O senhor está enganado: o representante do imperialismo americano aqui é você, porque o seu partido é subsidiado por Rockefeller, pela Fundação Ford etc. Nunca recebe subsídio de ninguém, vocês é que trabalham para eles. Por exemplo, digam-me quando o MST invadiu uma propriedade estrangeira no Brasil? Nunca!' Nunca, eles nem tocam nisso Ao mesmo tempo, obviamente, recebe subsídio até do governo inglês. Quer dizer, estamos sendo manipulados por tudo quanto é lado, e esse movimento de esquerda todo é um dos principais instrumentos de manipulação.

Ora, se nós não adquirimos informações suficientes, não criarmos uma camada, uma classe de intelectuais capacitados a discutir e dar, ao restante da Nação, o panorama exato do que está acontecendo, vamos entrar num desespero e num ódio interno que, no fim, só vai favorecer a destruição do Brasil.

Por exemplo, quando identificamos a Nova Ordem Mundial com a ideia de interesse nacional americano, estamos cometendo um erro, porque a Nova Ordem Mundial nada tem a ver com o interesse americano, mas tem vínculos com duzentos banqueiros. Se, para formar a Nova Ordem Mundial, for necessário destruir os Estados Unidos, como de fato vem sendo feito – a cultura americana já foi destruída -, eles o farão.

Então, por exemplo, um ponto de apoio que o Brasil poderia ter no exterior, são exatamente os conservadores americanos, que são contra a Nova Ordem Mundial. Mas aqui ninguém sabe disso, porque identifica a Nova Ordem Mundial com os Estados Unidos” (Tomo 3, pg. 132-135).


Bibliografia: 

MOTTA, Aricildes de Moraes (Coordenador Geral). História Oral do Exército - 31 Março 1964 - O Movimento Revolucionário e sua História. Tomos 1 a 15. Bibliex, Rio de Janeiro, 2003.


MEMORIAL 31 DE MARÇO DE 1964

http://felixmaier1950.blogspot.com/2020/09/memorial-31-de-marco-de-1964-textos.html

 

HISTÓRIA ORAL DO EXÉRCITO – 31 MARÇO 1964

http://felixmaier1950.blogspot.com/2020/09/historia-oral-do-exercito-31-de-marco.html


Ainda:

Baixe o livro “Arquipélago Gulag” em https://www.docdroid.net/BUe5N4M/aleksandr-solzhenitsyn-arquipelago-gulag-pdf.

Veja 741 fotos dos Gulags em https://www.gettyimages.pt/fotos/gulag?phrase=gulag&sort=mostpopular 

Veja 63.080 imagens e fotos do Comunismo em https://www.gettyimages.pt/fotos/comunismo?phrase=comunismo&sort=mostpopular




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