Perseguidores
Joelma não tem seguidores, seja na internet, seja no play do prédio onde mora, seja na calçada, seja no shopping. Só tem perseguidores.
De manhã cedo, a primeira coisa que Joelma faz é ir até a janela da sala de sua casa e ver se há algum perseguidor a postos. Se ela enxergar uma mulher com criança no colo, logo acha que a maldita está aí para lembrar que o pimpolho pode ser o filho de seu marido, e que a mulher lá embaixo está fazendo gestos para dizer que o apartamento um dia será dela.
Obviamente, só fãs de Beyoncé e Anitta é que ficariam de plantão em frente ao hotel onde estão hospedadas, dia e noite, para receber um aceno de mão e um sorriso, não defronte uma casa onde mora uma pessoa totalmente desconhecida. Seria uma baixa autoestima, uma espécie de síndrome do impostor, um boicote contra sua própria pessoa, essa insegurança extrema de Joelma?
Joelma vê perseguidores em todos os locais. Na rua. No supermercado. No shopping. No hospital. Até quando anda com o marido no carro, Joelma tem certeza de que está sendo perseguida por gangues em carros diversos. Ela não sabe qual é a placa do carro do marido, nem dos seus filhos, mas gravou a placa de todos os carros dos perseguidores de seu bairro, que sempre a estão seguindo. Seguindo, não, perseguindo. Quando anota o número de uma placa, o marido não se contém:
- Vai fazer uma fé no jogo do bicho?
Várias vezes, Joelma começou discussão com a motorista do carro engarrafado ao lado, ou junto a um semáforo: - Pare de me seguir! A moça não entende o que está ocorrendo, e o marido de Joelma pede desculpas à estranha e alerta sua mulher, de que poderá responder a um processo na Justiça: - Imagine se a moça é uma policial, uma advogada ou uma juíza?
Joelma tem certeza de que já recebeu cusparada no supermercado, encontrão de perseguidor que afetou sua coluna num shopping, xingamentos na rua, perturbação de telefonemas sem fim de perseguidores. Ela tem certeza de que há perseguidores até na igreja onde vai à missa aos domingos.
Quando Joelma vê um grupo de moças conversando alto e rindo muito, ela tem certeza de que estão rindo dela. De quem mais ririam daquele jeito? Uma coisa que Joelma ainda não identificou no segmento feminino a que pertence é que moças riem à toa, sempre foi assim, especialmente quando querem chamar a atenção de um rapaz bonito.
E muito mais riem as mocinhas nestes tempos de selfies que serão postadas nas redes sociais, com sorrisos branquíssimos comprados nas modernas clínicas odontológicas.
E o marido, o que resta ao marido?
Proferir alguns palavrões. Afinal, palavrão, além de também ser cultura, é uma das melhores formas de terapia. Quando você acerta o martelo no dedo, o palavrão alivia a dor num instante, não é mesmo?
P. S.: Uma perseguição de verdade, não imaginária:
Igreja Assunção queimada em Santiago,
Chile – 18/10/2020
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