MEMORIAL 31 DE MARÇO DE 1964

MEMORIAL 31 DE MARÇO DE 1964
Avião que passou no dia 31 de março de 2014 pela orla carioca, com a seguinte mensagem: "PARABÉNS MILITARES: 31/MARÇO/64. GRAÇAS A VOCÊS, O BRASIL NÃO É CUBA." Clique na imagem para abrir MEMORIAL 31 DE MARÇO DE 1964.

quarta-feira, 14 de julho de 2021

Ao Professor de História - Sobre a Revolução dos Cravos em Portugal



Sobre a Revolução dos Cravos em Portugal

A matéria abaixo, recebi-a de um amigo português. Tomei a liberdade de adapta-la à nossa gramática porém, de tudo o mais importante é, “mutatis mutandi”, a extrema semelhança dos nossos problemas. Leiam e confiram.

Osmar JB Ribeiro



34 ANOS DEPOIS...

Exmo Senhor Professor,

Sou obrigado a escrever-lhe, nesta data, depois de ter escutado, com toda a atenção, a aula de História, que nos deu sobre a Revolução de Abril de 1974.

Li todos os apontamentos que tirei na aula e os textos de apoio que me entregou para me preparar para o teste, que o Senhor Professor irá apresentar-nos, na próxima semana, sobre a Revolução dos Cravos.

Disse o Senhor Professor que a Revolução derrubou a ditadura salazarista e veio a permitir o final da Guerra Colonial, com a conquista da Liberdade do Povo Português o dos Povos dos territórios que nós dominávamos e que constituíam o nosso Império.

Afirmou ainda que passamos a viver em Democracia e que iniciamos uma nova política de Desenvolvimento, baseada na economia de mercado.

Informou-nos também que a Censura sobre os órgãos de Comunicação Social terminara e que a PIDE/DGS, a Polícia Política do Estado Fascista acabara, dando a possibilidade aos Portugueses de terem liberdade de expressão, opinião e pensamento. Hoje, todos eles podem exprimir as suas opiniões nos jornais, rádio, televisão, cinema e teatro, sem receio de serem presos.

Disse igualmente que Portugal era um país isolado no contexto internacional e que agora fazemos parte da União Européia e temos grande prestígio no mundo. Que somos dos poucos países da União a cumprir, na íntegra, os cinco critérios de convergência nominal do Tratado de Maastricht para fazermos parte do pelotão da frente com vista ao Euro.

Li os textos de apoio do Professor Fernando Rosas, onde me informam que os Capitães de Abril são considerados heróis nacionais, como nunca houvera antes na nossa história, e que eles são os responsáveis por toda a modernidade do nosso país, pois se não tivesse acontecido a memorável Revolução, estaríamos na cauda da Europa e viveríamos em grande atraso, em relação aos outros países, e num total obscurantismo.

Tinha já tudo bem compreendido e decorado, quando pedi ao meu pai que lesse os apontamentos e os textos para me fazer perguntas sobre a tal Revolução, com vista à minha preparação para o teste, pois eu não assisti ao acontecimento histórico, por não ter ainda nascido, uma vez que, como sabe, tenho apenas dezesseis anos de idade.

Com o pedido que fiz ao meu pai, começaram os meus problemas pois ele ficou horrorizado com o que o Senhor Professor me ensinou e chamou-lhe até mentiroso porque conseguira falsificar a História de Portugal. Ele disse-me que assistira à Revolução dos Cravos dos Capitães de Abril e que vira com «os olhos que a terra há-de comer» o que acontecera e as suas consequências.

Disse-me que os Capitães foram os maiores traidores que a nossa História conhecera, porque entregaram aos comunistas todo o nosso império, enganando os Portugueses e os naturais dos territórios,que nos pertenciam por direito histórico. Que a Guerra no Ultramar envolvera toda a sua geração e que nela sobressaíra a valentia dum povo em armas, a defender a herança dos nossos maiores.

Que já não existia ditadura salazarista, porque Salazar já tinha morrido na altura e que vigorava a Primavera Marcelista que, paulatinamente, estava a colocar Portugal na vanguarda da Europa. Que hoje o nosso país, conjuntamente com a Grécia, são os países mais atrasados da Comunidade Européia.

Que Portugal já desfrutava de muitas liberdades ao tempo do Professor Marcelo Caetano, que caminhávamos para a Democracia sem sobressaltos, que os jovens, como eu, tinham empregos assegurados, quando terminavam os estudos, que não se drogavam, que não frequentavam antros de deboche a que chamam discotecas, nem viviam na promiscuidade sexual, que hoje lhes embotam os sentidos.

Disse-me também que ele sabia o que era Deus, a Pátria e a Família e que eu sou um ignorante nessas matérias. Aliás, eu nem sabia que a minha Pátria era Portugal, pois o Senhor Professor ensinou-me que a minha Pátria era a Europa.

O meu pai disse-me que os governantes de outrora não eram corruptos e que após o 25 de Abril nunca se viu tanta corrupção como atualmente. Também me disse que a criminalidade aumentara assustadoramente em Portugal e que já há verdadeiras máfias a operar, vivendo à custa da miséria dos jovens drogados e da prostituição, resultado do abandono dos filhos de pais divorciados e dum lamentável atraso cultural, em virtude de um Sistema Educativo, que é a nossa maior vergonha, desde há mais vinte anos.

Eu fiquei de boca aberta, quando o meu pai me disse que a Censura continuava na ordem do dia, porque ele manda artigos para alguns jornais e não são publicados, visto que ele diz as verdades, que são escamoteadas ao Povo Português, e isso não interessa a certos órgãos de Comunicação Social ao serviço de interesses obscuros.

O meu pai diz que o nosso país é hoje uma colônia de Bruxelas, que nos dá esmolas para nós conseguirmos sobreviver, pois os tais Capitães de Abril reduziram Portugal a uma «pobreza franciscana» e que o nosso país já não nos pertence e que perdemos a nossa independência.

Perguntei-lhe se ele já ouvira falar de Mário Soares, Almeida Santos, Rosa Coutinho, Melo Antunes, Álvaro Cunhal, Vítor Alves, Vítor Crespo, Lemos Pires, Vasco Lourenço, Vasco Gonçalves, Costa Gomes, Pezarat Correia... Não pude acrescentar mais nomes, que fixara com enorme sacrifício e trabalho de memória, porque o meu pai começou a vomitar só de me ouvir pronunciar estes nomes.

Quando se sentiu melhor, disse-me que nunca mais lhe falasse em tais «sacanas de gajos», mas que decorasse antes os nomes de Vasco da Gama, Pedro Álvares Cabral, Diogo Cão, D. João II, D. Manuel I, Bartolomeu Dias, Afonso de Albuquerque, D. João de Castro, Camões, Norton de Matos, porque os outros não eram dignos de ser Portugueses, mas estes eram as grandes e respeitáveis figuras da nossa História.

Naturalmente que fiquei admirado, porque o Senhor Professor nunca me falara nestas personagens tão importantes e apenas me citara os nomes que constam dos textos do Professor Fernando Rosas.

Senhor Professor, dada a circunstância do meu pai ter visto, ouvido, sentido e lido a Revolução de Abril, estou completamente baralhado, com o que o Senhor me ensinou e com a leitura dos textos de apoio. Eu julgo que o meu pai é que tem razão e, por isso, no próximo teste, vou seguir os conselhos dele.

Não foi o Senhor Professor que disse que a Revolução nos deu a liberdade de opinião? Certamente terei uma nota negativa, mas o meu pai nunca me mentiu e eu continuo a acreditar nele.

Como ele, também eu vou pôr uma gravata preta no dia 25 de abril, em sinal de luto pelos milhares de mortos havidos no nosso Império, provocados pela Revolução dos Espinhos, perdão, dos Cravos.

O Senhor disse-me que esta Revolução não vertera uma gota de sangue e agora vim a saber que militantes negros que serviram o exército português, durante a guerra, que o Senhor chamou colonial, foram abandonados e depois fuzilados pelos comunistas a quem foram entregues as nossas terras.

Desculpe-me, Senhor Professor, mas o meu pai disse-me que o Senhor era cego de um olho, que só sabia ler a História de Portugal com o olho esquerdo. Se o Senhor tivesse os dois olhos não me ensinaria tantas asneiras, mas que o desculpava porque o Senhor era um jovem e certamente só lera o que o Professor Fernando Rosas escrevera.

A minha carta já vai longa, mas eu usei de toda a honestidade e espero que o Senhor Professor consiga igualmente ser honesto para comigo, no próximo teste, quando o avaliar.

Com os meus respeitosos cumprimentos

O seu aluno

Todos os anos, nesta data, se fala em comemorações em todo o país, mas eu pergunto: COMEMORAR O QUÊ?


***


William Waack e a Intentona Comunista Portuguesa

Félix Maier

No dia 25 de abril do ano em curso [2009], o repórter da TV Globo William Waack abordou, no Jornal Nacional, os 35 anos da Revolução dos Cravos, que, segundo ele, teria dado início à redemocratização de Portugal. Nada mais incorreto. O que é de se lamentar, tratando-se de William Waack, um historiador sério, autor de Os Kamaradas (Cia das Letras, SP, 1993), a obra mais completa já escrita sobre a Intentona Comunista, ocorrida no Brasil em 1935.
 
Após o longo governo do ditador Antônio Salazar, iniciado em 1926, ocorreu, em 25 de abril de 1974, o golpe contra Marcelo Caetano, elaborado pelo Movimento das Forças Armadas (MFA), composto por oficiais jovens, principalmente capitães que tinham participado das guerras coloniais, com princípio anarcossocialista, de tendência esquerdista radical. A multidão foi à rua para aplaudir o golpe, colocando cravos nos canos dos fuzis dos soldados – daí o nome "Revolução dos Cravos".
 
Após o golpe na Terrinha, esquerdistas do mundo inteiro acorreram a Portugal, especialmente vindos da América Latina, em busca de mais uma utopia socialista. Assim como José Serra "refugiou-se" no Chile do socialista Salvador Allende, após a Contra-Revolução brasileira de 1964, Márcio Moreira Alves, o "Marcito" do famoso discurso de 1968 na Câmara, foi um dos muitos brasileiros que se aliaram às hostes dos comunas portugueses. Foi em Lisboa que Moreira Alves, falecido recentemente, escreveu o livro O Despertar da Revolução Brasileira (Seara Nova, Lisboa, 1974). No livro, diz Moreira Alves: "O protesto [discurso na Câmara] que escrevi era uma crítica por dentro. De um modo geral era eu simpático ao governo militar" (pg. 50). Para "Marcito", foi um alívio ver a saída de Jango, pois "achava-o oportunista, instável, politicamente desonesto... Aparecia bêbado em público, deixava-se manobrar por cupinchas corruptos... e tinha uma grande tendência gaúcha para putas e farras" (pg. 51 e 52). Moreira Alves foi também o criador da expressão "ditabranda", por não considerar como sendo uma verdadeira "ditadura" o período do governo dos militares que antecedeu o AI-5. Recentemente, a Folha de S. Paulo utilizou essa expressão em um editorial, o que rendeu protestos veementes dos esquerdistas herbívoros e carnívoros de plantão, a exemplo da libélula (*) uspiana Maria Victoria Benevides.
 
Nos 18 meses que se seguiram ao golpe português, cujos líderes se dividiam em facções concorrentes - conservadora, moderada e marxista -, Portugal viveu um grande tumulto. Seis governos provisórios se sucederam, foram tentados golpes e contragolpes, houve greves, tomada de fábricas, fazendas e meios de comunicações.
 
Havia a ameaça de uma guerra civil entre o Norte conservador e o Sul radical. Parecia a repetição da Rússia de 1917, com Caetano como Nicolau II e o ministro Mário Soares como Kerenski. Porém, o Lênin da verdadeira revolução democrática portuguesa foi o pacato coronel Antônio Ramalho Eanes, que, ao invés de lançar Portugal numa ditadura marxista, no dia 25 de novembro de 1975 subjugou os radicais de esquerda nas Forças Armadas e garantiu a democracia em Portugal.
 
É uma pena que William Waack não saiba disso. Ou não deixam que saiba, pois os meios de comunicação do Brasil, dependentes de verba publicitária oficial, não conseguem sobreviver sem fazer afagos aos atuais donos do poder, especialmente a Franklin Martins, antigo terrorista do MR-8, mentor do seqüestro do embaixador norte-americano, Charles Elbrick, e atual ministro da propaganda do governo Lula. "Isto é uma vergonha" – como diria aquele apresentador expulso da TV Record, por fazer sistemática crítica aos petistas.
 
(*) Libélula – Neologismo que criei, deriva-se de Libelu - Tendência Liberdade e Luta, grupo estudantil-lambertista, que atuava na USP (Pierre Lambert foi um dos ideólogos da IV Internacional - Trotskista). O ministro da Fazenda do Governo Lula da Silva, Antônio Palocci, foi um de seus integrantes. A USP foi fundada em 1934, no Governo Armando Sales de Oliveira, e nesta, a Faculdade de Filosofia e Letras, que se tornaria, com Florestan Fernandes, Fernando Henrique Cardoso e Octávio Ianni numa das matrizes de difusão do Marxismo.
Félix Maier
Enviado por Félix Maier em 30/06/2009

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