MEMORIAL 31 DE MARÇO DE 1964

MEMORIAL 31 DE MARÇO DE 1964
Avião que passou no dia 31 de março de 2014 pela orla carioca, com a seguinte mensagem: "PARABÉNS MILITARES: 31/MARÇO/64. GRAÇAS A VOCÊS, O BRASIL NÃO É CUBA." Clique na imagem para abrir MEMORIAL 31 DE MARÇO DE 1964.

segunda-feira, 5 de julho de 2021

E Aí, Véi, Você Se Lembra Do Repórter Esso? - Por Félix Maier


E Aí, Véi, Você Se Lembra Do Repórter Esso?

Por Félix Maier

29/10/2007

Responda com sinceridade!

1. Você já tomou Q-Suco?
2. Você bebia Grapette?
3. Sua primeira bebida alcoólica foi Cuba Libre?
4. Já comeu goiabada cascão?
5. Você tomou leite que vinha em garrafa de vidro com tampinha de alumínio?
6. Já tomou Cibalena?
7. Tomou Biotônico Fontoura?
8. Você cuidou de suas espinhas adolescentes com pomada Minâncora?
9. Sua mãe usava Violeta Genciana para cuidar de seus machucados?
10. Seu pai usava aparelho de Gillete com lâminas removíveis?
11. Sua mãe tinha secador de cabelos com touca?
12. Sua mãe usava Leite de Colônia?
13. Você jogava bilboquê?
14. Usava tampinha de guaraná para fazer distintivo de polícia?
15. Soltava bombinha de quinhentos em época de festa junina?
16. Você andou de carrinho de rolimã?
17. Brincou de queimada?
18. Você lembra quando o Ronnie Von jogava a franjinha de lado cantando "Meu Bem"?
19. Você assistia Perdidos no Espaço?
20. Você sabia de cor a música de Bat Masterson?
21. Sabe quem foi Phantomas?
22. Quem foi Ted Boy Marino?
23. Você assistia ao Repórter Esso?
24. Assistia ao Toppo Giggio?
25. Assistia Vila Sésamo?
26. Você sabe quem foi Jonhnny Weissmuller?
27. Assistiu ao Vigilante Rodoviário?
28. Sabe quem foi Odorico Paraguassu?
29. Você se lembra o que era compacto simples e o que era um compacto duplo?
30. Você já teve um Bamba?
31. Você se lembra do Vulcabrás 752?
32. Você usava japona?
33. Quando estudava os graus eram: primário, admissão, ginásio e científico?
34. Voce chamava revista em quadrinhos de gibi?
35. Sua mãe tinha caderneta no armazém?
36. Usou bomba de flit?
37. Já andou de Simca Chambord?
38. Conheceu o Aero Willys?
39. E o Kharman Guia? (que saudade!!!)
40. Já andou de Vemaguete?
41. Já usou gasolina azul no seu carro?
42. Sua mãe usava cera Parquetina?
43. Você se lembra do sabao em po Rinso?
44. Da televisão com seletor de canais rotativo?
45. Sua mãe usava bombinha de laquê de plástico?
46. Ela chegou a usar meia com risca atrás?
47. E anágua?

Se você respondeu SIM para pelo menos 30% das questões, está confirmado seu DNA: Data de Nascimento Avançada.

Não jogue sujo! Você deve ter respondido SIM a pelo menos 99% das perguntas...

Então você não tem problema de DNA. Você tem o privilégio de ter vivido tempos maravilhosos!!!


Obs.: Texto bem-humorado recebido de JR Freitas (F. Maier).


***

Comentário:

Félix Maier

É, a lista que os "véi" como eu conhecem é bem mais longa. Você que não viajou na Arca de Noé, mas que pisou na lama provocada pelo Dilúvio, me diz aí se lhe são familiares os seguintes vocábulos:

Fenemê você conhece, na música "bambolê de baiano é pneu de fenemê", de Tonico e Tinoco. Depois tivemos pefelê (atual Democratas), cemenê (Comando Militar do Nordeste - CMNE), o terrorista messetê (MST) e o execrado cepemefê (CPMF).

Admissão ao Ginásio, Clássico e Científico, Madureza; na época, você escrevia com pena imersa em vidro de tinta, e só mais tarde apareceram as canetas-tinteiro (Parker, Sheafers) e a caneta de "tinta-seca" (esferográfica); você usava mata-borrão para absorver a tinta, estudava as matérias na cartilha, levava palmatória (reguada na palma da mão) e sabia tabuada. Você estudou no Liceu de Artes e Ofícios?

Bonde, Lotação. Você viu o filme "A Dama do Lotação", com Sônia Braga? E o filme "Garganta Profunda", em que a atriz pornô escondia a estrovenga toda dentro da boca? E o filme "Amor, estranho amor", em que Xuxa passava a mão no corpo de um adolescente, doida para dar uma trepadinha?

Você andou também de Ford “T”, conhecido como “Forde Bigode” (que promoveu a “2ª Revolução Industrial”), Dauphine, SP-2, Puma, Galaxie, moto Java de meu tio, invejada por muitos, fabricada no Canadá, os caminhões Chevrolet Tigre, Internacional, GMC, Fargo, Alfa Romeo, Dodge, Tessoto, os automóveis Gordini, DKW (o Candango e a Vemaguete), o Galaxie, o Dodge Dart, modelo LTD (“levou todo o dinheiro”). E a Romizeta? E a limousine “rabo-de-peixe”, hein? E o bugue Xavante e o X12 da Gurgel?

A Rádio Nacional do Repórter Esso, da Marlene, da Emilinha, dos maestros Radamés Gnatalli e Lyrio Panicalli, dos programas de César de Alencar e Paulo Gracindo, de Tônia Carreiro, Luiz Gonzaga, Dalva de Oliveira, Francisco Alves, Orlando Silva, Rodolfo Mayer, Jorge Goulart, Ademildes Fonseca. A Rádio Nacional do radioteatro, da novela "O Direito de Nascer", em que Yara Sales fazia o papel de Mamãe Dolores. "Nas ondas do rádio"... espalhavam-se as ondas no "éter"...

Além de bilboquê, tinha o diabolô, e você rodava pião enquanto as meninas pulavam corda e pulavam a amarelinha. Filme de cinema era chamado de "fita".

Ah! E havia ainda a patinete, o carrinho de rolimã.

Você dançava ao som dos The Platers, Johnny Mathis, Ray Conniff, enquanto tomava mais uma Crush?

Cadeia de segurança máxima era chamada de Casa de Correção, onde os presos faziam trabalhos manuais diversos; hoje, o trabalho é diferente: com celulares nas mãos, os bandidos comandam o crime de dentro das cadeias.

Ah! Bons tempos aqueles, em que "gay" significava apenas "alegre", como na canção de Stephen Foster, em "Old Black Joe", que começa assim: "Gone are the days when my heart was young and gay"; autor também de "Swanee River", "The captain races", "Susana", músicas que você sempre cantarolava. Bons tempos, em que se cantava de cor a bela canção de Henri Mancini, "Moon River".

Você assistiu na TV o Topo Gigio, o Rin-Tin-Tin e o Capitão Aza (de Azambuja)? E riu com o humor de "As Aventuras de Tintin", o topetudo, sempre acompanhado de seu fox terrier branco apelidado de Milu? O capitão Marvel botava todos os bandidos na cadeia. Hoje, com os valeriodutos e outras safadezas vistas diariamente na TV, Marvel não teria nem tempo pra dormir...

Claro, também havia corrupção na época: Coroa Brastel, Delfim, Capemi, Grupo Lume, polonetas. Um antigo ministro “czar” da economia, depois embaixador em Paris, era conhecido como “Monsieur dix per cent” (Senhor 10%). Hoje, não se faz nada abaixo dos 20%: valerioduto, sanguessugas, máfia das ambulâncias, Gautama etc... Naquele tempo eram as polonetas. Hoje, com Lula, temos as cubanetas, as venezueletas, as bolivianetas, as angoletas, as gabãonetas, ao perdoar as dívidas que esses países dominados por ditadores tinham com o Brasil.

Você usou camisa "volta ao mundo" (também conhecida como "camisa banlon"), calça nicron boca de sino ou jeans que na época se chamava "calça Lee"? E a calça Topeka?

Naquela época não se falava em “afogar o ganso”, nem “molhar o biscoito”, mas em “dar um piço”...

Rebolo não tinha nada a ver com as mulatas do Sargentilli. Era apenas o esmeril caseiro para afiar enxadas, foices, facões e facas.

Naquele tempo, falava-se em “crioulo”, “bugre”, “viado”. Hoje, tais palavras podem dar cadeia, embora seja incentivado o uso de expressões como “loira burra”, “branquelo azedo”. E pederasta foi riscado do Código Penal, embora não tenha acabado com a pederastia, seja no Brasil com o padre Júlio Lancelotti, seja no exterior com Michael Jackson. Como se sabe, pederasta é o gay que adora comer um menino – assim como bode velho gosta de capim novo.

E Itaipu, a maior (enquanto a China deixar) hidrelétrica do mundo? O Brasil entrou com todo o dinheiro para sua construção, o Paraguai só com a metade das águas do Rio Paraná. E ainda querem fazer uma revisão do contrato...

E a harpa paraguaia de Luís Bordon, tocando sempre as mesmas músicas natalinas?

E a missa era em Latim, o padre ficava de costas para os fiéis. De um lado da nave, só mulheres, no outro lado, só homens. Na hora da comunhão, as mulheres colocavam um véu sobre a cabeça, para esconder o decote. O canto gregoriano era lindo, imponente, não era? Por que acabaram com ele?

Não me lembro do “carcará de fusca” (lembrado por Zuilton no site Reservaer), só do fusca alemão original que tinha uma seta para indicar mudança de direção. O proprietário era um alemão residente em Herval d’Oeste, SC, para onde minha família se mudou em 1957, partindo de Luzerna, SC. Esse alemão comia 1 dúzia de ovos fritos de uma só tacada!

O Repórter Esso, com Heron Domingues, na Rádio Nacional (Rio), deixou saudades. Nessa Rádio, em 1962, eu ouvi a final da Copa do Mundo no Chile, Brasil 3 x 1 Checoslováquia. O refrão ouvido na época era “com Pelé ou sem Pelé, o Brasil dá café”... (Como se sabe, o “Rei” não jogou a maior parte da Copa, por estar machucado).

Eu não tinha Lambretta para me divertir, mas brincava com uma prancha de tábua, bem lisa embaixo, chispando potreiro abaixo, às vezes dando umas piruetas, ficando com o traseiro apontado pras nuvens... Quando a situação melhorou em casa, eu construí um carrinho com quatro rodas, que eu e meus irmãos guiávamos com os pés em cima do eixo dianteiro, também chispando morro abaixo.

Pra escola, eu ia descalço, e foi um salto sócio-econômico e tanto da família quando eu finalmente ganhei um par de alpargatas, lembra o que era isso? Hoje, a piazada da minha região tem ônibus na porta e muitos só vão pra aula se a marmanjada receber o Bolsa Família...

E o Latim, lembra das declinações: nominativo, genitivo, dativo, acusativo, dativo e ablativo? E as traduções das catilinárias de Cícero que tínhamos que fazer, “Quousque tandem, Catilina, abutere patientia nostra?” Estudar o Latim era ótimo para conhecer a origem das palavras e para a análise sintática. Se o Latim fosse ensinado nas escolas até os dias atuais, não haveria tantos analfabetos formados, que dão vexame nas provas da OAB.

Nas aulas de Matemática, o professor, depois de explicar minuciosamente um teorema, escrevia “QED” (Quod erat demonstrandum – O que tinha que ser demonstrado).

E os integralistas, você conheceu algum deles? E do “remendador de ossos”, que tratava de fraturas? E o monge João Maria, o que desencadeou a Guerra do Contestado, em SC? Eu não, não sou daquele tempo...

In illo tempore (naquele tempo), aviões bombardeavam com sal nuvens sobre o Nordeste, para provocar chuva. Como o atual PAC de Lula e cu de cobra, nunca ninguém viu nada, nem sabe se realmente existiu tal prática...

Depois, passou-se a usar foguetes contrabandeados da Rússia para jogar contra nuvens, de modo a evitar chuva de granizo, nas plantações de maçã em Fraiburgo, SC, e nos arrozais do RS. A propósito, a maçã foi introduzida em Fraiburgo por um pied noire (pé preto), ou seja, um franco-argelino, o engenheiro agrônomo Roger Biau.

Os cigarros eram Belmont, Hollywood. Depois Du Maurier, “o fino que satisfaz”. Mais tarde, o Vila Rica, “leve vantagem você também”, com anúncio estrelado pelo jogador de futebol tricampeão do mundo Gérson, que ficou marcado com a propaganda da “ética da malandragem”.

E você assistia na TV Globo o programa Amaral Netto, o Repórter, que discorria sobre as realizações dos governos militares.

Nos quartéis do Exército, estreou Sujismundo, personagem que ensinava os recos a ter bons modos de saúde e higiene pessoal.

No Rio dos anos 70, havia o poeta Gilson de Abreu Marinho e sua "literatura de tapume", em volta de construções e prédios em reforma, onde apareciam trovas como:

“Quem nunca comeu melado,
Quando come se lambuza?
Eu cá fiquei foi queimado
Ao beijar-te, ó... brasa musa!”

“Eu saí tão vacilante
Após beijar-te, Maria,
Que fui comprar um calmante,
Mas... Entrei na padaria!”

Os escritores escreviam: “macacos me mordam!”, “cáspite!”. Hoje, escreve-se “porra” e “porrada” em cada linha...

Havia o Canto Orfeônico nas escolas, aprendia-se a ler as notas musicais (colcheias, fusas etc.) no Pentagrama, a escrever as claves de Sol, Fá e Dó, a distinguir sustenido de bemol, o que era bequadro.

Solfejava-se “Na Bahia tem, tem, tem, tem. Na Bahia tem, tem, tem, coco de vintém”: “Dó dó mi mi sol - Fá mi ré - Lá lá dó dó sol mi dó - Mi mi ré ré dó”.

E as canções que cantávamos? “A velha a fiar”, “Meu limão, meu limoeiro”, “Lampião de gás”, “Peguei um ita no norte”, “O realejo”, “Iucaidi, iucaidá”, “Bat Masterson”, “Deus salve a América” (Irving Berlin), “Chuá”, “Boi barroso”, “Dó-ré-mi”, “Capitão Caçula” (atual Canção do Exército), “Adeus, escola querida”. Infelizmente, tudo isso foi enterrado com as melodias pastosas de Xuxa, que jogaram todo nosso cancioneiro juvenil no lixo. E hoje, o que se canta nas escolas? Pagode, funk e rap. CDs como “Proibidão” incentivam a violência contra policiais: “Não corre - Não treme - Mete bala na PM”.

E os cânones, frases musicais que se cantavam no coral, uns entrando antes dos outros, porém sendo a mesma música, tudo na mais correta harmonia? “Viva o sineiro da matriz”, “Viva o sol do céu de nossa terra”, “Minha terra tem um sino”, “Acordem, amiguinhos”.

E “Dominique”, estrondoso sucesso musical, cuja letra original (traduzida por Dom Marcos Barbosa) dizia assim: “Dominique, nique, nique – procurando ensinar – o bem, sempre a cantar – Pela estrada pobre vai – a falar de um Deus que é pai – a falar de um Deus que é pai”. Em vez de discorrer sobre São Domingos, fundador da Ordem dos Dominicanos, que combateu os hereges (albigenses), a tradução que fez sucesso nas rádios dizia tratar-se de uma moça apaixonada, e foi gravada pelo Trio Esperança, você lembra? “Dominique, nique, nique – sempre alegre - esperando alguém que possa amar – O seu príncipe encantado – seu eterno namorado – que não cansa de esperar”. Como sempre, a questão comercial fala mais alto...

Hoje, o cantor Padre Marcelo Rossi faz sucesso. Naquele tempo, faziam sucesso o Padre Irala, SJ, com “Creio” (Vou cantando, ninguém vai me calar – Vislumbrando o sol de amanhã – Vou partilhando a oração que unirá – O mundo todo num único cantar”) e a Irmã Irene Gomes, MJC, lembra de suas músicas? “Alô, bom dia, oh! como vai você? Um olhar bem amigo, um claro sorriso, um aperto de mão!” E Balada da Caridade: “Para mim, a chuva no telhado, é cantiga de ninar”. E Um pouco de perfume: “Fica sempre um pouco de perfume, nas mãos que oferecem rosas, nas mãos que sabem ser generosas”.

Música Gospel era chamada de Negro Spirituals, a exemplo da conhecida canção "Nobody Knows" (But Jesus).

Para bronquite, nada melhor do que rum creosotado. Nos trens da Central do Brasil, no Rio, lia-se: “Veja, ilustre passageiro, o belo tipo faceiro que o senhor tem ao seu lado. E no entretanto acredite: quase morreu de bronquite. Salvou-o o Rum Creosotado.”

E havia a revista O Cruzeiro e o humor de Jaguar com Amigo da Onça, de 1943 a 1961.

Para ver as gatas, você fixava o topete com creme Trim...

O litro de leite era deixado pelo leiteiro na porta de casa, do lado de fora, e ninguém mexia. Hoje, o produto (que tem soda cáustica e água oxigenada) seria roubado, ou então mijariam dentro...

E o Sputnik, a cadela Laika... os americanos na Lua.

No futebol, falava-se em inglês: keeper (goleiro), back (beque, atual zagueiro), corner (escanteio), half (meia, atual armador), centre for (forward), ou seja, centro avante, atual atacante, camisa 9. Só sobrou a palavra "time" (team) - não confundir com "time" (tempo, em inglês). Você ouvia Mário Viana e seu indefectível "Errrrrrrro!" e "Goooooool leeeeegaaaaal"; Fiori Gigliotti e seu "abrem-se as cortinas e começa o espetáculo"; Osmar Santos e seu bordão "pimba na gorduchinha"...

Você precisava de analgésico? Tome Cafiaspirina, Veranon ou Rhodine. Sabonte? Gessy, Lever, Lifebuoy. Revista? O Cruzeiro, Manchete. Xarope? São João, Bromil, Limão Bravo. Água de Colônia? Valery, Regina, Royal Briar. Creme para pele? Leite de Colônia, Ponds, Rugol. Manteiga? Aviação, Mococa, Viaduto. Óleo de cozinha? Salada, Yandara, Saúde. Cera para assoalho? Record, Parquetina, Clemant.

Você se lembra das "bichas" (lombrigas) e vermes, tratados a óleo de rícino?

Você, quando queria se impor, dizia: "O degas aqui"...., ou seja, "eu"! Ou fazia um risco no chão com o pé, e dizia, todo valentão: "se você é homem passa daqui..." e o pau comia, ou melhor, era apenas uma luta de imobilização, vencia aquele que conseguia imobilizar o adversário. Hoje, qualquer pivetinho dá porrada na professora e resolve suas diferenças com um tresoitão...

Antes, havia a anágua, o espartilho, os corpetes, que deixavam as damas e as moças com "cintura de vespa". As melindrosas... Depois, veio o biquíni, que era chamado de "maillot bikini", muito bem aceito entre os machões, tremendões, cafagestões... assim como a minissaia...

Zíper se chamava "fecho éclair".

Dizia-se: "Devagar se vai ao longe"; "Mais vale quem Deus ajuda do que quem cedo madruga"; "No Brasil, só se resolvem os problemas por gravidade".

Ah! As chanchadas da Atlântida, com Oscarito, Norma Bengel e Grande Otelo. "O Cangaceiro", de Lima Barreto, melhor filme de aventura no festival de Cannes, 1953. E "O Pagador de Promessas", de Anselmo Duarte, Palma de Ouro em Cannes, 1962. Repito: você não ia assistir a um filme, ia "ver uma fita".

Os tenores Enrico Caruso, Francesco Tamagno, Mario Lanza, as sopranos Birgit Nilsson, María Callas, Montserrat Caballé, Bidu Sayão. Soltando o vozeirão no velho gramofone da sala. Eu sou mais novo, do tempo da vitrola e do Pavarotti...

Os mercados eram chamados de "armazéns" e "secos e molhados".

Juca Chaves e a cantiga-sátira, como a compra do porta-aviões Minas Gerais: "Coitado, coitadinho, do Banco do Brasil! Ah! Quase faliu!"

Ari Toledo cantando "Pau de arara", em que um mágico masca e engole gillette em Copacabana.

Você, que sobreviveu ao naufrágio do Titanic, andou de maria-fumaça, que eu sei...

E o lambe-lambe da praça, que tirava fotos 3x3 em poucos minutos? Kodak era sinônimo de máquina fotográfica. Você deve ter usado muito aquela caxinha preta, quadrada, com dois "olhinhos" e uma "boca" na frente, para bater fotos da família e dos amigos. E usou Polaroid para bater fotos instantâneas.

Você é do tempo da UDN e do ADN - nada de DNA, anglicismo que se apossou descaradamente também de nossas siglas. Por que não se diz SIDA em vez de AIDS?

Ah! Os livros de Karl May ("Winnetou"), o "mão-de-ferro", mais de 100 milhões de livros vendidos, naquele tempo! De botar qualquer Paulo Coelho no chinelo. E os livros de Emílio Sálgari ("Sandokan"), contando aventuras de heróis e piratas no Sudeste asiático - Sumatra, Java.

Não se dizia "havaianas", mas "chinelo-de-dedo".

Claro, você andou de bicicleta Monark.

A propósito: ainda existe a loja "Maré Mansa", no Rio?

Os Ponzoni e os Brandalise criaram a Perdigão, em Vila Perdizes, atual Videira, SC, em 1934. Em 1944, Attilio Fontana fundou a Sadia, em Concórdia, SC. O nome vem de Sociedade Anônima (Sa) e final da palavra Concórdia (dia). Era para ser instalada em Luzerna, minha terra natal, porém a politicagem falou mais alto, não quiseram vender o terreno para o empresário já então bem-sucedido, que começou a carreira empresarial levando porcos vivos até São Paulo, alugando alguns vagões de trem, para vender aos frigoríficos de Matarazzo.

Os ricos andavam nos aviões "Constellation" da Panair. A Pan Am foi durante uma época a maior empresa aérea do mundo, até que um atentado terrorista, nos céus da Escócia, acabou com mais um sonho americano. Os endinheirados e famosos tomavam café, chá e faziam seu lanche na Confeitaria Colombo (centro do Rio). Havia a Sadia Transportes Aéreos, de Omar Fontana, depois Transbrasil.

Lembra que os seus avós falavam em "pulmonia" e "apenicite"?

Não havia coqueluche, apenas tosse comprida...

Você, que era gaúcho dos pampas, usava lenço, com certeza. Em SC se diz que “o gaúcho usa o lenço para tapar o papo”...

Ah! Eu também sou do tempo do Específico Pessoa, um remédio escuro embalado em uma garrafinha, que vinha do Nordeste e, segundo a bula, servia para tudo: má digestão, gastrite, perebas diversas, até mordida de cobra! O líquido podia ser bebido ou passado na ferida.

E graspa, você já tomou graspa? Ou apenas vinho doce com as moças? Lembra como seu avô amassava as uvas dentro do barril, com os pés, depois de tratar das vacas no curral e dos porcos no chiqueiro... Mas o vinho era "daqui" (puxando o lóbulo da orelha - outro costume daquela época), assim como o vinagre.

Você já ouviu falar sobre a abelha africana, que apareceu na década de 1960, e que acabou com todas as outras abelhas, de origem européia? Foi uma barbeiragem de cientistas em São Paulo. A praga fugiu dos laboratórios e começou a voar para o Sul e para o Norte, avançando algumas léguas, ano após ano, chegando a atingir os extremos das Américas, inclusive os EUA.

Você matou muito passarinho com bodoque, também conhecido como estilingue? E marcava o número de "vítimas" na forquilha? Era uma ação politicamente incorreta, sim, mas não se matava pessoas como se fossem moscas, como ocorre nos dias atuais. Hoje, apesar de todo o besteirol do politicamente correto, mata-se mendigos nas ruas a pauladas, toca-se fogo em índio e chuta-se o rosto de empregadas como se fosse mais uma modalidade esportiva.

Você comprou panela de cobre de ciganos? Alguma cigana leu suas mãos? Você foi logrado por ciganos? Ah! não? Então você nunca viu cigano na vida, era tudo falso, como os produtos paraguaios...

Você já fabricou o próprio cigarro, usando fumo de corda e palha de milho? Com aquele canivete curvo, parecendo uma foicinha?

Você sabe o que significam cabresto, estribos, antolhos, chicote, relho, pelego, baixeiro, coronha, sela, barrigueira, badava, sobrechincha? E já galopu no lombo de um picaço? (Estou falando do cavalo que tem 3 patas brancas e 1 preta, ou vice-versa, não da pica de aço do mestre de obras...)

Seu avô tinha uma vaca mocha e uma Jersey? Você já teve algum berne? E bicho-de-pé? Não? Então nunca esteve no sítio do vovô.

Você já assistiu a uma briga de galo? Já ouviu falar no “galo índio”, bom de briga, de pescoço vermelho, sem pena no papo, só penugem?

Cancha de bocha você conheceu, ou não?

E sua tia jogava urina nas flores, para ficarem mais vigorosas, devido à uréia? E seu tio defecava junto aos pés de repolho, depois cobria com cal e terra - "adubo caseiro" -, para que a salada de domingo ficasse mais vistosa? Em Luzerna havia um alemão que fazia isso, me contou várias vezes meu pai. Posteriormente, em depoimento durante a realização do documentário "Senta a Pua", um oficial aviador da FEB contou que havia conhecido um sujeito na Itália que também tinha esse método de adubação da lavoura, um pedido que fez aos nazistas quando pararam para descansar em sua propriedade.

E a vizinha curandeira, tirava suas berrugas com leite de figo, com limão, ou fazia seu “hockus-pockus” sem usar nenhum produto? Minha mãe foi mais prática: cortou as berrugas dos pés, que eram muitas, com gillette e passava pó de café em cima, para estancar a hemorragia. O tempora, o mores!

E a pinguela sobre o riacho, a “ponte coberta” de Luzerna, SC (a nossa caipira “As Pontes de Madison”, com Clint Eastwood e Marryl Streep), toda de madeira, coberta de zinco?

E o ferro de passar roupa, com brasas, de marca Promberg, fabricado em Porto Alegre, os fogões a lenha Wallig e Berta, o lampião a querosene, o bote do Rio do Peixe, que tinha dono, porém todos usavam gratuitamente (uma vez eu fui buscar a canoa no outro lado do Rio, a nado, só de cuecas, para poder voltar pra casa com meus irmãos, depois de uma noitada de canastra na casa de meu tio). Hoje, tal bote não ficaria lá 1 minuto sequer, seria imediatamente roubado.

E os jogos de baralho: bisca, três-sete, pif-paf?

Você é do tempo em que o sabugo de milho tinha múltiplas funções? Servia para coçar as costas e “pentear” os cabelos - tanto os da cabeça, quanto os do ânus, pois também era utilizado para limpar o bumbum... Claro, você é do tempo da “casinha”, quando a privada ficava fora de casa e se usava pinico à noite.

Você é do tempo em que “cachaça paraguaia” tinha pouca cachaça pura, pois era misturada com soda cáustica (para “queimar”) e fumo de corda (para dar cor amarelada). Hoje, cooperativas de leite do Triângulo Mineiro fazem o “leite paraguaio”, misturando soda e água oxigenada ao leite. É, no mundo nada se cria, tudo se copia...

Você é do tempo em que a cidadezinha catarinense, de tiroleses, era chamada de “Die Dreisenlinden”, em vez de Treze Tílias, mudança exigida durante a II Guerra Mundial, por estarmos combatendo os alemães? (O mesmo ocorreu com o time de futebol Palestra Itália, que virou Palmeiras, e o Palestra Itália de Minas, que virou Cruzeiro.)

Você é do tempo em que, quando ouvia o canto da saracura, repetia com ela: “Quebrei três pratos, mamãe me surra, com três chicotes”? E dizia: “Saracura no banhado, perna fina, cu cagado”... Emendando: “Feijão e pinhão, é tiro de canhão!” (Era assim a grosseria daqueles tempos, ingênua, inofensiva, bem diferente da atual grosseria da era dos Cassetas e quetais.)

E as milongas operísticas de Vicente Celestino (“Ébrio”, “Coração Materno”, “Porta Aberta”), o “churrasquinho de mãe” (“Coração de Luto”) de Teixeirinha? Você sabia que “O Ébrio”, produzido pela Cinédia em 1936, foi visto por mais de 12 milhões de pessoas? E que o filme foi exibido durante 39 anos, sem interrupção?

As matinês do “mela-cueca” ao som do conjunto musical "Os Cometas", do Paraná? Os bailes com "Os Fevers" e o "Painel de Controle"? Os filmes de Mazaroppi, com filas que dobravam quarteirões?

E gasosa, você tomou gasosa? Uma vez, numa festa de capela no interior de Santa Catarina, um italiano se acercou do bar, com três garotas, e pediu: “quatro copos e um gajojão”... Como se sabe, os italianos antigos, no Sul, trocavam o “s” e o “z” por “j”, e o “j’ por “z”, exatamente como visto no filme “O Quatrilho”.

Por falar em festa no interior, você deve estar com saudade da roda fortuna, da roda dos cavalinhos (em número de 12), do jogo das argolas. E das meninas assanhadinhas, mais ariscas que as mães que não desgrudavam delas... Não havia foguetes nas festas juninas. Por isso, colocava-se uma pilha de taquara na madeira que ia ser queimada, para dar estampidos de foguete.

E a “taquari”, a espingarda “espera um pouco”, na qual se socava a pólvora, os chumbinhos e as buchas, com uma haste de ferro?

E procurar nascente de água com forquilha de pessegueiro (a preferida), ou de marmeleiro? Minha avó paterna era craque nisso, hoje meu irmão caçula não fica atrás.

E o trenó que os italianos usavam para transportar alfafa?

E a vara de marmelo, escolhida a dedo pela mãe no marmeleiro, para amaciar as pernas e a bunda dos filhos rebeldes?

E a palmatória usada pela professora na escola? E o castigo de escrever 500 vezes a palavra exceção (eu amarrei três canetas para fazer o “dever” mais rápido e, pelo visto, nunca mais errei a grafia da palavra...)

E os trabalhos de arte manual na escola, com serrinhas e tábuas de cedro? Servia tanto para fazer brinquedos, casinhas, presépios, quanto para construir pequenos oratórios, onde se colocavam estátuas de santos.

E a roda d’água para mover o moinho e fornecer eletricidade? A bateria de carro que era levada a lombo de cavalo, para recarga na cidade, usada para ligar o rádio, pois não havia eletricidade?

E a carne de porco congelada dentro da banha? E a banha passada em cima do pão, como hoje se passa geléia de uva?

Ah! Para finalizar: e o Palácio Monroe, no Rio, antiga sede do Senado Federal, foi demolido para dar passagem ao metrô. Que estupidez! Hoje, ninguém sentiria falta se dinamitassem o Senado, em Brasília, que virou a casa-da-mãe-joana, ao absolver Renan Calheiros, e se tornou um chiqueiro ao fazer uma homenagem a Che Guevara, "el chancho" (o porco), exatamente no dia 23 de outubro (2007), Dia do Aviador, uma homenagem ao primeiro vôo do mais pesado que o ar, o 14-Bis, realizado por Santos Dumont em 1906, na cidade de Paris.

E o Mangue, também no Rio, lembra? Ah! Vai me dizer que nunca passou nem perto... nunca viu nenhuma "comadre" acenando na janela...

Bons tempos, aqueles! Éramos felizes e não sabíamos! Muito mais difíceis que os de hoje, em muitos aspectos, porém muito mais seguros. Havia menos violência, mais solidariedade.

Recordar é reviver!

Obs.: Texto originalmente publicado em Usina de Letras, em 29/10/2007 - https://www.usinadeletras.com.br/exibelotexto.php?cod=18371&cat=Cr%F4nicas

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