MEMORIAL 31 DE MARÇO DE 1964

MEMORIAL 31 DE MARÇO DE 1964
Avião que passou no dia 31 de março de 2014 pela orla carioca, com a seguinte mensagem: "PARABÉNS MILITARES: 31/MARÇO/64. GRAÇAS A VOCÊS, O BRASIL NÃO É CUBA." Clique na imagem para abrir MEMORIAL 31 DE MARÇO DE 1964.

terça-feira, 20 de julho de 2021

EGITO - 5 mil anos de História - por Félix Maier

E
Egito visto à noite do espaço.
O "clarão" identifica o Grande Cairo.



EGITO - UMA HISTÓRIA DE 5 MIL ANOS


Encaminho, anexo, trecho do livro; " EGITO - UMA HISTÓRIA DE 5.000 ANOS", escrito pelo então Sargento do Exército FÉLIX MAIER, que nos brinda com uma excelente descrição do Cairo e do Egito de uma forma geral. Se algum dia vocês (Boinas Azuis) encontrarem esse livro nas Distribuidoras e/ou Livrarias, COMPREM, podem comprar que é uma jóia rara e de muito valor histórico, ASSIM EU ACREDITO. Essa narrativa, em muitos aspectos tem tudo a ver com as coisas que eu pude ter o prazer de também ver, há de 42 anos atrás. Algumas coisas se modificaram e melhoraram, no aspecto urbano, n o meu tempo não existiam as passarelas sobre o Nilo, apenas existiam as 3 principais Ponte. Sobre a Torre do Cairo é sensacional, parece até que eu estava lá, na própria torre ouvindo a descrição do sargento. Magnífica narração. ficam faltando comparar algumas fotos do Egito com o texto do livro do sargento Félix, para então sentir a dimensão da história enigmática e da atenção que a história do Egito exerce em nosso inconsciente. Espero e desejo que você leiam e possam gostar desse primeiro capítulo, que foi extraído pela Internet, usando o Google.
Theodoro

Uma viagem até as "Arábias" 

Tudo começou quando em 1989, servindo como sargento do Exército Brasileiro, em Brasília, me inscrevi como candidato a missão no exterior. Achava que tinha alguma chance, por estar habilitado em inglês. Alguns meses depois, no final de outubro, ao ser chamado pelo então Ministro do Exército Leônidas Pires Gonçalves, a grata surpresa: fora escolhido para ser, durante dois anos, o auxiliar do adido militar brasileiro no Egito. Minha mãe estava certa quando dizia que um homem que conhece dois idiomas vale por dois. 

Após a assinatura do decreto de nomeação, feita pelo Presidente Sarney, tivemos que correr contra o tempo para colocar a papelada de toda a família em ordem para a viagem: pedir emissão dos passaportes, tomar vacina contra a febre amarela, providenciar "só" 8 documentos para remeter a bagagem, fazer estágios para o desempenho da missão, revisão do inglês, comprar roupa e sapatos para todos, fazer reservas de passagens aéreas, conceder procurações e outras coisas mais. Foram muitas noites mal dormidas devido à preocupação frente ao desconhecido que se avizinhava. 

E assim saímos de Brasília no dia 4 de março de 1990, para pegar um DC-10 da VARIG no Rio de Janeiro, às 22:30 horas, com destino a Paris. Foram 10 horas de viagem, sem escalas. É como estar sentado num sofá em casa. Nada de trepidação ou solavanco, a 10 mil metros de altura. 

Chegamos em Paris por volta do meio-dia, no Aeroporto Charles de Gaulle. Lá nos apoiou gentilmente o sargento Vanderley Gonçalves, auxiliar do adido militar brasileiro naquele país. Não foi possível dar uma esticada até o centro da cidade, para ver a Torre Eiffel ou o Arco do Triunfo, pois o trânsito é infernal e o tempo era exíguo, já que às 17:00 seguiríamos para o Cairo. Fazia um friozinho razoável, por volta dos 12 graus centígrados, principalmente se levarmos em conta que tínhamos saído do Brasil no verão e em Paris, no hemisfério norte, ainda era inverno. 

Na viagem de Paris ao Cairo, de 5 horas, a paisagem mais interessante que vimos foram os Alpes suíços, com inúmeros lagos e as neves eternas envolvendo em forma de leque o norte da Itália. 

A "lei de Murphy" estabelece que "qualquer coisa que possa dar errada, vai dar errada". De acordo com esta afirmação tola, a nossa viagem de avião iria acabar em desastre. Prefiro o sofisma de Zenão, que provou matematicamente que uma tartaruga ganha a corrida de um coelho - desde que saia na frente. 

Finalmente, chegamos ao fim da viagem, sem que a "lei de Murphy" se concretizasse. No dia 5 de março, às 22:15 horas, o adido militar no Cairo, hoje general Newton Mousinho de Albuquerque, bem como seu auxiliar, atual tenente Édison Ferreira Netto, acompanhados de suas esposas, nos esperavam no Aeroporto do Cairo. 

No percurso até a residência do Netto, a primeira impressão que tivemos do Cairo foi muito boa: avenidas largas, cidade moderna, luzes e néons em profusão, edifícios majestosos e muita arborização para quem julgava encontrar quase só areia e deserto. Na casa do Netto tivemos as primeiras "aulas" sobre o Egito, o modo de vida das pessoas, a comparação dos preços feita pelo câmbio egípcio e brasileiro - sempre através do dólar. Na primeira noite fomos dormir muito tarde, ainda sem sono, por causa da diferença do fuso horário, de 5 horas. Por isso mesmo só acordamos no outro dia às 14:30 horas. 

O Netto nos levou a muitos lugares interessantes no Cairo, no período em que passava as funções da aditância militar para mim, nos apresentou a várias famílias brasileiras e estrangeiras, ensinou o caminho das pirâmides e do espetacular bazar de Khan Al-Kha-lili, e foi atencioso em nos ajudar nos primeiros passos que dávamos na República Árabe do Egito. 

República Árabe do Egito 

Com mais de 60 milhões de habitantes, 90% da população egípcia é muçulmana e 7% copta - a religião cristã ortodoxa do país. A bandeira nacional tem três listras horizontais, vermelha, branca e preta, com uma águia no centro. O Hino Nacional Egípcio começa com a letra "A ti, a ti, meu país, entrego meu amor e meu coração". A moeda é a libra egípcia, dividida em 100 piastras ou 1.000 millièmes. Esta última subdivisão - o millième - está praticamente em desuso. 

A língua oficial é o árabe e o inglês tomou o lugar do francês como o segundo idioma do país, sendo utilizado principalmente para apoio aos turistas. Pode-se afirmar que em todos os lugares, no comércio e nos sítios turísticos, há sempre muitos egípcios que falam fluentemente o inglês. Todo o primeiro escalão do governo e todos os intelectuais do Egito se fazem entender perfeitamente nesta segunda língua. 

O Egito (Misr, em árabe) é uma república presidencialista desde 1953, sendo o Chefe de Estado o Presidente Muhammad Hosni Mubarak, no poder desde 1981 e atualmente em seu terceiro mandato consecutivo. De acordo com a Constituição adotada em 1971, o Egito passou a ser uma sociedade democrática socialista. A cada seis anos um candidato a presidente deve ser apontado por pelo menos 1/3 dos membros da Assembléia do Povo - o Parlamento egípcio, unicameral - e confirmado por pelo menos 2/3 de seus membros. Somente um candidato é apresentado ao povo, para ser votado em referendum. O presidente nomeia um ou mais vice-presidentes e todos os membros do Conselho de Ministros. 

A Assembléia do Povo tem 448 membros, eleitos para mandato de 5 anos. O presidente do Egito tem o direito de nomear mais 10 membros. Pelo menos a metade dos parlamentares deve ser composta de operários e trabalhadores rurais. Teoricamente, a Assembléia do Povo tem grande poder, mas na prática apenas aprova a política do presidente. 

Administrativamente, o país é dividido em 22 governadorias (províncias ou estados) e 4 cidades. Algumas governadorias têm nomes iguais às suas capitais: Cairo, Alexandria, Assuã, Suez, Gizé. O presidente tem, ainda, poder para nomear os dirigentes das governadorias. Estas, por sua vez, são divididas em distritos e cidades, com governantes também nomeados. Muitos "governadores" são militares de altas patentes, alguns sendo veteranos da Guerra de 1973, da qual também participou Mubarak como comandante da Força Aérea. 

O Partido Democrático Nacional - do governo - é o mais poderoso do país. Partidos de oposição também participam das eleições, como o Partido Novo Wafd e o Partido Trabalhista Socialista. Todos os cidadãos egípcios com mais de 18 anos podem votar. Na realidade, o que se observa é que uma minoria tem título de eleitor. Calcula-se que apenas 10% dos aptos exercem o direito de voto, ou menos ainda. Como o partido do Presidente Mubarak é o mais forte, podendo este ser indicado indefinidamente para a reeleição, Mubarak pode ser chamado, com toda propriedade, de um autêntico "faraó". Com uma Lei de Emergência em vigor e várias vezes reeditada desde o assassinato de Sadat, com amplos poderes sobre o país e as Forças Armadas, podendo fechar o Parlamento quando assim o desejar, Mubarak é na realidade um "Ramsés" dos tempos modernos. 

De acordo com a lei egípcia, todas as crianças de 6 a 12 anos são obrigadas a freqüentar a escola. Atualmente, 85% dessas crianças vão às aulas, mas o analfabetismo é ainda muito grande no Egito: 45% da população não sabe ler nem escrever. Porém o quadro já foi pior: até 1940, 80% não sabia. Em 1994, a metade da população egípcia ainda vivia no campo. 

Quando chegamos no Egito, em 1990, a situação econômico-social já era bastante crítica. Hoje, após a Guerra do Golfo Pérsico, com a ingerência do Fundo Monetário Internacional obrigando o país a retirar os subsídios dos produtos alimentícios e dos serviços públicos, a situação é muito pior para a classe menos favorecida. 

O Egito procura fugir do modelo socialista imposto por Násser: nacionalização da indústria, setor público extrema-mente desenvolvido e pesado, com o país praticamente fechado a investimentos estrangeiros. Na época em que lá chegamos, a dívida externa era de mais de 40 bilhões de dólares. Comparado ao seu PIB, a dívida egípcia era 5 a 6 vezes mais grave que a brasileira. Como diria o ex-Ministro Magri, é uma dívida "impagável". 


Egito, o maior oásis do mundo 

O Egito tem uma área aproximada de 1 milhão de km², da qual 96% é puro deserto. Não fosse o capricho da natureza ter feito seguir o Rio Nilo do sul para o norte da África, rasgando as escaldantes areias do deserto, não existiria o Egito que a gente conhece das aulas de História, com seus faraós e monumentos descomunais que tiveram início por volta de 3.000 anos antes de Cristo. 

O Egito é antes de tudo o Rio Nilo. Nem por nada que o historiador grego Heródoto afirmou que "o Egito é um presente do Nilo". Podemos dizer que o Egito, restrito na prática a seu Vale e a seu Delta, é o maior oásis do mundo, encravado entre o Deserto da Líbia e o Mar Vermelho. De Assuã (Alto Egito) até o Cairo, o fértil Vale do Nilo varia de 1,5 a 14,5 km de largura. Depois do Cairo, o Nilo se divide em dois braços principais, Damieta e Roseta, para atingir o Mar Mediterrâneo juntamente com uma infinidade de canais de tamanhos decrescentes que irrigam todo o Delta do Nilo (Baixo Egito), considerado uma das regiões mais férteis do planeta. 

O Nilo de águas azuis que passa solene e manso pelo Cairo deriva-se de dois afluentes principais: o Nilo Branco, que se origina no Lago Vitória, e o Nilo Azul, que nasce na Etiópia. O Nilo tem, ao todo, 6.670 km de comprimento, só perdendo em extensão para o Amazonas-Ucayali. 

O Nilo é tão importante para o Egito que o ex-Presidente Sadat já foi até à guerra com o Sudão por causa de suas águas. Como o Egito está no final da "fila" e é o último a receber o precioso líqüido, depois do Sudão, Quênia, Etiópia e outros países, procura impor uma política de utilização conjunta de suas águas e qualquer projeto de hidrelétrica ou irrigação nos outros países deixa o governo egípcio com o cabelo em pé. Ao todo, são nove os países que dependem das águas do Nilo. 

Basta dizer que a quase totalidade da população egípcia se comprime nos 4% de suas terras férteis - o Vale do Nilo e seu Delta. Para se ter uma idéia da superpopulação egípcia, uma das maiores do mundo, é mais ou menos como se toda a população residente nos estados de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro vivesse num Estado como o Pará, mas com a diferença de não povoar o interior de todo aquele Estado, mas apenas as margens do Rio Amazonas, incluindo a Ilha de Marajó, que seria o Delta. Importante é frisar que nesse pequeno espaço em que o povo divide suas terras para a plantação e para sua habitação, o Egito consegue a proeza, ainda assim, de produzir quase tanto trigo quanto o Brasil, superando nosso país na produção de alho e cebola. Durante a Guerra da Secessão, nos EUA, o Egito se tornou o maior produtor mundial de algodão! 

O resto de seu território, já foi dito, é puro deserto, com alguns oásis de interesse apenas turístico, de população escassa, a exemplo do oásis de Siwa, perto da fronteira com a Líbia, e dos oásis de Faratra, Kharga e Dakhla. Há também o Novo Vale, localizado numa depressão a oeste do Nilo, no Alto Egito, próximo à Represa de Assuã, um ousado projeto agrícola do governo que tenta domar as areias do deserto. Fora do Vale e do Delta do Nilo convém citar, ainda, os balneários no Sinai e nas costas do Mediterrâneo e do Mar Vermelho. Naqueles re-cantos paradisíacos, com águas do mar transparentes, muito sol e calor, os turistas praticam escafandria e viajam em barcos com o fundo transparente, ou em submarinos, para observar a rica fauna e flora do Mar Vermelho, com peixes exóticos e corais multicoloridos. 

Redescoberta do Egito 

O Egito é tão antigo, mas tão antigo que a história lá não é contada em séculos, porém em milênios. Assim, não impressiona quando se fazem não só descobertas mas também "redescobertas" naquele exótico país. Um egípcio, Dr. Ragab, "redescobriu" a técnica de fabrico do papiro. E os franceses, com Napoleão Bonaparte, "redescobriram" a história egípcia, escondida em hieróglifos indecifráveis. 

Com a expedição de Napoleão ao Egito, em 1798, seguiram junto 150 estudiosos, que produziram uma enorme obra, a Description de il'Egypte (Descrição do Egito). Os aspectos exóticos da civilização faraônica despertaram a curiosidade de intelectuais e do povo em geral, surgindo a "egiptomania". O roubo de antigüidades egípcias aumentou e começaram a se formar as grandes coleções que atualmente existem em vários museus do mundo, especialmente os de Londres, do Louvre (Paris) e do Vaticano. 

Porém, o enigma dos hieróglifos que cobriam as paredes de muitos monumentos egípcios permanecia indecifrável e a história dos faraós continuava envolta em mistério. 

Em 1799, próximo a Rashid (Roseta), a leste de Alexandria, foi achada uma pedra negra de basalto coberta de inscrições. A pedra continha um decreto de Ptolomeu V, datado de 196 a.C., escrito em três textos: o primeiro em caracteres hieróglifos, a "escrita sagrada", entendida naquela época somente pelos sacerdotes; o segundo em caracteres demóticos (do grego "demos"), a "escrita popular"; e o terceiro em caracteres gregos. Este último texto era nessa língua porque era dirigido ao grande número de gregos que se estabeleceram no Egito depois da conquista de Alexandre, muitos deles tornando-se figuras influentes na corte e na administração egípcia. 

Supondo, corretamente, tratar-se do mesmo texto com três versões, compreenderam os cientistas que tinham em mãos uma chave para a escrita hieroglífica. 

Fizeram-se várias cópias das inscrições da Pedra de Roseta para distribuição aos estudiosos. Com a derrota dos franceses no Egito, os ingleses levaram a Pedra de Roseta como troféu de guerra. Atualmente, a Pedra se encontra exposta no Museu Britânico. 

O francês Jean-François Champollion já aos 13 anos se comprometeu em decifrar o enigma dos hieróglifos e para isso estudou latim, grego, hebraico, aramaico, sírio, árabe, persa e copta. O enigma persistia: a escrita egípcia era ideográfica ou fonética? Ou seja, cada símbolo representava uma idéia ou um som? 

Com a ajuda de cópias da Pedra de Roseta e de inscrições de monumentos do Egito, Champollion conseguiu decifrar os nomes de soberanos gregos e romanos, como Alexandre, e chegou aos nomes de faraós egípcios, como Ramsés. Champollion descobriu que os hieróglifos eram símbolos fonéticos. Por exemplo, o desenho da coruja não representava um pássaro mas o som da letra "m"; a mão não era uma mão mas o som da letra "d"; as duas linhas onduladas não representavam a água mas o som da letra "n"; o leão representava a letra "l"; e assim por diante. Aumentando o conhecimento do número de caracteres, Champollion começou a ler textos mais longos e, por fim, dominou o antigo idioma egípcio. 

Nascia, assim, a egiptologia, ciência que, à semelhança do hipotético ovo de dinossauro do filme Parque dos Dinossauros, recriou toda a história do antigo Egito, dinastia após dinastia, nos legando todo o conhecimento detalhado da vida egípcia, seus afazeres domésticos, a crença na imortalidade da alma, seus deuses, os serviços funerários, as campanhas contra os inimigos.

O Egito, de Menés a Mubarak 

Antes de escrever alguma coisa sobre os egípcios, esse povo sofrido que foi dominado por povos tão diferentes durante tanto tempo, usurpando de suas riquezas, convém fazer um retrospecto sobre sua história. 

Período faraônico 

No ano 3200 antes de Cristo, o Alto e o Baixo Egito foram unificados em um só reino, por Menés, com a capital em Mênfis, perto das pirâmides de Sakara, a uns 40 km ao sul do atual Cairo. Começou então o Período Arcaico ou Tinita, que durou até 2680 a.C. É nesse período que foi inventado o papiro. Os vários períodos de governo constituiram-se em 31 dinastias reais, cada uma com um número variável de soberanos. A pirâmide em degraus de Sakara foi construída no Período Arcaico, durante a III Dinastia, para servir de mausoléu ao Rei Zoser. Essa pirâmide é a primeira grande construção de pedra da história e a mais antiga edificação ainda existente no mundo. 

As três grandes pirâmides de Gizé foram construídas durante a IV Dinastia, no rei-nado de Quéops, Quéfren e Miquerinos (pai, filho e neto, respectivamente). É o período do Antigo Reino (2680 a 2280 a.C.). 

No Segundo Período Intermediário (1785 a 1580 a.C.), deve-se destacar as Dinastias XV e XVI, dos hicsos, cujo significado é "reis pastores". Os hicsos eram povos de Canaã (Palestina e Líbano), que ocuparam o norte do Egito entre os anos de 1730 e 1580 a.C., dividindo aquele país novamente em Alto e Baixo Egito e fixando a capital em Avaris, na região oriental do Delta do Nilo. Os hicsos introduziram as carruagens de guerra, puxadas por dois ou quatro cavalos, arma essa utili-zada com muito sucesso pelos egípcios, posteriormente. 

O Alto Egito continuou a ser governado pelos egípcios, naquele mesmo período, pela XVII Dinastia, com a capital em Tebas, no sítio da atual Lúxor. 

Nesse tempo, os hebreus começaram a se instalar no norte do Egito, em grande número, entre o Delta do Nilo e o atual Canal de Suez, porque não havia restrição dos hicsos. Pela Bíblia sabemos que Abraão também passou pelo Egito, fugindo da fome que havia se instalado em Canaã. Com a escrava egípcia Agar, Abraão teve o filho Ismael. Este, por sua vez, teve 12 filhos e seus descendentes formaram os árabes ismaelitas. Com Sara, Abraão teve Isaac. Este teve 2 filhos, Esaú e Jacó. Jacó, também conhecido como Israel, teve 12 filhos, que formaram as 12 tribos de Israel. Assim, Abraão é, ao mesmo tempo, pai dos árabes e dos judeus. De mesma origem, os judeus e árabes até hoje nutrem ódio mortal uns contra os outros, apesar de todos serem primos. O idioma de ambos é muito semelhante, muitas palavras em hebraico e árabe são iguais. Por exemplo, as palavras salam (em árabe) e shalom (em hebraico) têm o mesmo significado: "paz". Escreve-se, nas duas línguas, da direita para a esquerda, porém com caracteres diferentes. 

Com a expulsão dos "reis pastores", como eram conhecidos os hicsos, é fácil entender a apreensão de José, vendido pelos próprios irmãos como escravo para o Egito, quando quis estabelecer no país seu pai Jacó e os irmãos, todos pastores: "E direis isto, para poderdes habitar na terra de Gessém; porque os egípcios detestam todos os pastores de ovelhas" (Gênesis 46:33). 

Finda a dominação dos hicsos, o Egito foi novamente unificado e os seus reis passaram a ser denominados "faraós". O termo significa "palácio" e o faraó era tido como um deus. O poder real do faraó é bem expressivo, pelas imagens que nos chegaram das tumbas: o cetro e o azorrague cruzados sobre o peito. O poder de reinar, e o poder de castigar. Com os faraós começa o período do Novo Reino, que se estendeu de 1580 a 1085 a.C. 

Durante o Novo Reino, o Egito fixou sua capital em Tebas, que durante séculos foi a cidade mais importante do Oriente. É a época de ouro do antigo Egito, destacando-se os famosos faraós Tut Ankh-Amon - o rei-menino -, da XVIII Dinastia, e Ramsés II, da XIX Dinastia. 

O faraó Akhenaton (casado com Nefertiti), que governou um pouco antes de Tut Ankh-Amon, é considerado o primeiro monoteísta, por querer implantar no Egito antigo a religião de um único Deus. Porém, após sua morte, o povo egípcio passou a ser politeísta como sempre tinha sido até então. Atribui-se a Akhenaton a criação dos conceitos da atual sociedade rosacruciana. Numerosos personagens da Antigüidade teriam pertencido àquela sociedade esotérica, como Salomão, Pitágoras, Platão. O alemão Christian Rosenkreuz, na Idade Média, foi apenas um renovador dessa ordem secreta, ao criar a sociedade Rosae Crucis, que mistura hermetismo egípcio, agnosticismo cristão, cabalismo judaico, alquimia e outras crenças. 

Durante o Novo Reino, o povo hebreu havia crescido muito no Egito e passou a ser considerado um perigo para os faraós. Por isso, os hebreus começaram a ser escravizados e seus bebês do sexo masculino tinham que ser mortos, lançados ao rio. Moisés foi salvo das águas pelas mãos de uma princesa egípcia. A Bíblia nos diz sobre a construção, pelos escravos hebreus, das cidades-depósitos de Fitom e Ra-messés, esta última no sítio da antiga cidade de Avaris (Êxodo 1:11). 

Segundo alguns historiadores, durante o reinado de Ramsés II (1298-1232 a.C.) os hebreus foram libertados por Moisés e começaram o retorno à Terra Prometida, passando pelo Sinai e vagando 40 anos pelo deserto. Se aquela época for a correta, o filme Os Dez Mandamentos se aproxima bastante do que poderia ter ocorrido com Moisés e seu povo nas mãos do faraó Ramsés II, interpretado pelo ator careca Yul Brynner. Como no filme, os filhos dos faraós tinham que raspar a cabeça, ficando apenas com uma mecha de cabelo, no lado da cabeça, enrolada em tranças. 

Porém, há controvérsias. No tempo de Salomão (III Reis, 6:1) há referência sobre os 480 anos após a saída dos filhos de Israel da terra do Egito, que conhecemos por "Êxodo", quando se começou a edificar a Casa do Senhor, em Jerusalém (1º Templo). Feitas as deduções, estudidosos acham que o Êxodo teria ocorrido em 1446 ou 1448 a.C., durante o reinado do faraó Tuthmosis III, da XVIII Dinastia. Tuthmosis, em sua campanha contra os cananeus e sírios, venceu a maior batalha da história antiga, Armagedon, nas colinas de Meguido, perto da Nazaré atual, em Israel. Armagedon é, ainda hoje, o símbolo da guerra entre o bem e o mal, a última e maior batalha que ainda está por ser travada (Apocalipse 16:14 e 16). 

Em 525 a.C., começa o período de domínio estrangeiro, com os persas governando de 525 a 332 a.C., destacando-se os soberanos Cambises, Dario e Xerxes. Cambises fundou a cidade da Babilônia, no atual Cairo Velho, onde hoje se encontram restos de antiga fortaleza romana. A partir da invasão dos persas começa a decadência do antigo império faraônico. Mesmo com o domínio estrangeiro, o Egito foi governado por dinastias reais, da XXVII até a última, a XXXI. O correto seria afirmar que as dinastias reais terminaram com a invasão dos persas, a partir de quando os egípcios, de uma forma ou de outra, foram quase sempre governados por estrangeiros até sua independência em 1922. 

Dominação grega, romana e bizantina 

Em 332 a.C., Alexandre, o Grande, conquistou o Egito, fundando Alexandria. Quando Alexandre morreu, um de seus generais começou a reinar sobre o Egito e a Palestina com o nome de Ptolomeu I. Começa assim o Período Ptolomaico, que se encerrou com a morte da rainha Cleópatra em 30 a.C., findando-se o longo período das 31 dinastias reais que governaram o Egito por mais de 3 milênios. 

Alexandria passou então a ser o centro grego no Egito, uma base naval e uma ligação entre a Macedônia e o rico Vale do Nilo. O apogeu da cidade coincidiu com a época dos Ptolomeus. Em 280 a.C., Ptolomeu II mandou erguer o primeiro farol da história, em Alexandria. Tinha 120 m de altura e se tornou uma das sete maravilhas do mundo antigo. Localizava-se na Ilha de Faros, donde se originou o termo "farol". Um terremoto o destruiu no século XIV. Sob o governo dos Ptolomeus, Alexandria tornou-se o centro da cultura mundial. Ali viveram Eurípedes, Teócrito, Aristarco. A biblioteca de Alexandria, com um acervo de mais de meio milhão de papiros, reunia todo o saber da época. 

O chamado "bairro do Delta" abrigava, também, uma comu-nidade judia que falava grego. Desta aliança entre as duas culturas nasceriam O Livro dos Macabeus, O Livro da Sabedoria e a tradução grega do Antigo Testamento conhecida como Septuaginta ou dos Setenta. 

A chegada dos romanos, com Júlio César, em 48 a.C., representou um duro golpe para a cidade de Alexandria: durante a guerra de 48/47 houve o incêndio da famosa biblioteca. 

No Cairo Velho, nos dias atuais, ainda existem ruínas do antigo Forte da Babilônia, construída pelos romanos durante o reinado do imperador Trajano, em 98 de nossa era. 

A partir de 324, com o imperador Constantino, o Grande, o Egito teve a religião cristã oficializada. Tem início o período bizantino (Império Romano do Oriente), com a capital em Constantinopla. Posteriormente, o imperador Teodósio I, o Grande, fechou todos os templos pagãos do Egito. Começa o declínio do antigo idioma egípcio, que acabou por desaparecer completamente. 

Há igrejas coptas no Cairo Velho que datam daquela época, ampliadas e reformadas posteriormente, e que contam com mais de 1.500 anos de existência, como a Igreja de São Sérgio, onde fica a gruta que abrigou a Sagrada Família, quando fugiu de Herodes. Outra igreja, construída no século V, é chamada de Al-Mo'allaqa (a "Suspendida") porque fica sobre alguns bastiões do antigo Forte da Babilônia. Não confundir com a Babilônia da Mesopotâmia, que ficava no Iraque atual. Antigamente, a fortaleza ficava ao lado do Rio Nilo, junto a um porto. Hoje, o Nilo corre 300 m adiante. 

O Império Árabe 


Depois dos bizantinos vieram os persas, em 616, e por fim os árabes, comandados pelo general Amr Ibn Al-As, durante o califado de Omar, que introduziram no Egito o islamismo em 639 - religião e cultura que persistem até hoje. O Egito tornou-se uma província do Império dos Califas, com sede em Medina, na Arábia Saudita. 

Kalifa significa "sucessor", do profeta Maomé. Omar, o 2º califa, é o verdadeiro fundador do império árabe, conquistando a Pérsia, a Síria, toda a Palestina, além do Egito. Nas imediações do atual Cairo Velho, Amr Ibn Al-As fez construir Al-Fustat, capital do Egito até 969. Dessa antiga cidade nada restou além da mesquita de Amr Ibn Al-As, a mais antiga da África e a quarta mais antiga do mundo. 

A partir de 660 o califado se torna hereditário, iniciando-se a dinastia dos omíadas, com sede em Damasco, na Síria. Durante essa época, a partir de 711, os árabes subjugam a Espanha e Portugal. Na Espanha mantiveram-se por mais de 7 séculos, até 1492, com sede em Córdoba. 

Em 750, a dinastia dos omíadas foi substituída pela dos abássidas, que iria se manter até 1258, e inicia-se o Califado de Bagdá. O último omíada, expulso de Damasco, se refugia em Córdoba, Espanha, e funda o Califado Omíada do Ocidente. Nesse período, o império começa a se fragmentar pois era muito extenso para se manter unido. 

Em conseqüência do enfraquecimento do império árabe, em 969 o Egito foi invadido pelo general fatímida Djawhar Al-Rumi, que construiu ao norte de Al-Fustat uma nova capital, que chamou de Al-Qáhirah (O Cairo), cujo significado é "a vitoriosa", devido ao planeta Marte que brilhava ao fim da batalha. Marte, como sabemos, é o deus da guerra. 

A antiga cidade de Mênfis, uma das capitais do antigo Egito, ao sul das pirâmides de Gizé, tinha se mantido próspera mesmo durante a ocupação romana e só foi destruída pelos árabes que a saquearam para construir o Cairo. A principal relíquia que sobreviveu em Mênfis é uma esfinge de alabastro ainda encontrada no local. 

Os fatímidas, ramo xiíta do islamismo, tem seu nome originado de "Fathima", filha do profeta Maomé. Dessa época de domínio destaca-se a fundação da Mesquita Al-Azhar, no Cairo, com sua Universidade de Teologia, considerada uma das mais antigas do mundo e que ainda tem um grande poder de irradiação em todo o mundo muçulmano. Também é desse período a Mesquita de Ahmad Ibn Tulun, igualmente construída no Cairo, uma das maiores e mais bonitas da cidade, e que tem um minarete em espiral e um grande pátio interno. 

Em 1171, o grão-vizir Salah Addin Yusuf Ibn Ayyub, conhecido como Saladino, dominou o Egito e governou o país como Sultão da Síria até 1174, quando passou a ter o título de Sultão do Egito. Aboliu o califado fatímida no país e iniciou a dinastia dos aiúbidas. Em 1187, Saladino reconquistou a Palestina dos cruzados, incluindo a cidade de Jerusalém, restabelecendo o controle do califado sunita de Bagdá sobre toda aquela região. 

Em contraste com a sangrenta ocupação de Jerusalém feita pelos cruzados, Saladino concedeu anistia e passagem livre para os cruzados e suas famílias saírem da Palestina, após pagarem alto resgate. As vitórias de Saladino na Palestina deram origem à III Cruzada, comandada por três reis da Europa: Felipe Augusto, da França; Frederico, o "Barbaroxa", da Alemanha; e Ricardo Coração de Leão, da Inglaterra. O contra-ataque dos três reis tornou-se inócuo frente ao gênio militar de Saladino. O Reino Latino de Jerusalém, dos cruzados, a partir de então, restringiu-se a algumas cidades da costa da Palestina. 

No Cairo, Saladino construiu a famosa cidadela militar em Gibal (Colina) Al-Muqattan, onde atual-mente fica a imponente mesquita de Muhammad Ali. Introduziu, ainda, as madrassas, escolas da religião muçulmana semelhantes às da Síria, Mesopotâmia e Pérsia. 

Saladino é, para os egípcios, um herói equivalente a El Cid, o chefe militar cristão que se tornou famoso nas campanhas contra os mouros, na Espanha. Dotado de extremo cavalheirismo, Saladino tornou-se amigo de Ricardo Coração de Leão, enviando-lhe uma vez neve para curar seus ferimentos. Saladino foi um general vitorioso e é o símbolo máximo, para os árabes, dessa época romântica, caracterizada por cavaleiros destemidos e corteses, eternizada nas obras de capa-e-espada da literatura medieval. Ainda hoje é grande a romaria a seu túmulo, em Damasco. 

No século XIII, a dinastia fundada por Saladino é destronada, dando lugar aos sultões mamelucos. O termo "mameluco", em árabe, significa "ser possuído por alguém". Eram escravos turcos capturados na infância e treinados pelos egípcios na arte da guerra. Os mamelucos, desta forma, tornaram-se oficiais influentes na corte egípcia e acabaram se apoderando do poder. O mesmo viria a acontecer com os califas de Bagdá, que foram se enfraquecendo pela presença cada vez maior de capitães turcos que serviam em seu império. Quase todos os monumentos que se conservaram até hoje no Egito são da época dos mamelucos, como a madrassa sepulcral (mesquita) do Sultão Hassan e os mausoléus dos sultões mamelucos, próximos da Cidadela de Saladino. 

Em 1517, o Egito tornou-se parte do Império Otomano. Como foi afirmado antes, os sultões turcos não se apoderaram repentinamente do império árabe. É que já, de fato, tinham estabelecido um certo poder sobre o mesmo anteriormente. A única lembrança deixada pelos turcos no Egito talvez seja o tarbúsh, um chapéu vermelho de feltro, sem abas e com borla negra, que os mandatários do Egito e os homens em geral utilizavam até antes da Revolução de 1952 e que hoje é apenas objeto de interesse para os turistas. E as casas públicas de "banho turco", hoje em decadência absoluta. 

Em 1798, Napoleão Bonaparte invadiu o Egito e foi ex-pulso pelos turcos e ingleses em 1801, quando os sultões turcos retomaram o poder. Em 1805, Muhammad Ali é designado pasha (paxá, governador) do Egito. Embora estivesse sob o comando dos turcos, logo passou a ser o real governante do país, tornando o seu governo independente e hereditário. Muhammad Ali é o fundador do moderno Egito e promoveu muitas melhorias na cidade do Cairo, criando bairros novos e aterrando pântanos. 


O Canal de Suez 


Em 1859, o francês Ferdinand de Lesseps começou a construção do Canal de Suez, que ficou pronto 10 anos depois. Para comemorar a inauguração do Canal, o compositor italiano Giuseppi Verdi foi contratado para compor uma ópera, Aída, que teve sua première apresentada no Cairo somente em 1871. 

Marco da moderna engenharia, o canal de Suez tem 167 km de extensão, largura mínima de 150 m, profundidade de 11 m e não possui comportas. O Canal encurtou em 44% o percurso entre Londres e Bombaim. Possui em seu percurso três grandes lagos: Ballah, Timsah e Amargos. Através de um desses lagos - e não do Mar Vermelho - os hebreus teriam passado a salvo, conduzidos por Moisés no Êxodo do Egito para a Terra Prometida. 

A guerra entre o Egito e Israel, em 1967, fechou o Canal de Suez à navegação internacional. A reabertura do Canal somente ocorreu em 1975, após um gigantesco trabalho de desobstrução de minas e navios afundados. 

Desde a antigüidade, várias tentativas foram feitas no sentido de ligar o Mar Mediterrâneo ao Mar Vermelho. Nos séculos VI a III a.C. realizou-se uma ligação entre o Nilo, o lago Timsah e o Mar Vermelho. 

Com o fim da dinastia de Muhammad Ali, em 1882, e até 1922, o Egito se tornou província britânica. Embora permanecesse juridicamente parte do Império Otomano, o Egito passou a ser tratado pela Inglaterra como colônia sua: o exér-cito foi licenciado e substituído por forças militares britânicas de ocupação e o país dirigido por cônsules ingleses. 

Em 1914, quando o Império Otomano se aliou aos alemães durante a I Guerra Mundial, o Egito foi declarado protetorado britânico e Hussein Kamel passou a ser seu governante com o título de Sultão. Em 1917 assume Fuad I. Em 1922 ter-mina o protetorado britânico e Fuad recebe o título de rei. Assim, somente em 1922 o Egito conseguiu sua in-dependência, após centenas de anos de ocupação estrangeira. 

A Revolução de 23 de julho de 1952 

Com a Revolução de 23 de julho de 1952, é deposto o Rei Farouk e em 1954 assume o governo do Egito o coronel Gamal Abdel Násser. Muitos consideram o dia da Revolução como sendo a verdadeira data da independência do Egito, por ter-se livrado de monarcas corruptos, títeres dos ingleses. Nessa Revolução têm importância os oficiais egípcios da Irmandade Muçulmana, um movimento fundamentalista criado pelo egípcio Hassan Al-Bauna em 1928 e que de certa forma orientou todo o fundamentalismo que se observa hoje no mundo islâmico. Após a Revolução, o Egito se torna uma República. 

Násser nacionaliza o Canal de Suez em 1956, impedindo o seu uso a Israel. Com isso, provoca a Guerra contra Israel no mesmo ano, que invade a Faixa de Gaza e a Península do Sinai. Com a pressão das superpotências EUA e URSS, e da ONU, Israel deve devolver o território ocupado. Para fazer cumprir as resoluções da ONU, foram enviadas ao local do conflito as United Nation Emergency Forces - UNEF (Forças de Emergência das Nações Unidas), representadas também pelo Batalhão Suez, do Exército Brasileiro. Os nossos boinas azuis chegaram a Porto Said em 4 de fevereiro de 1957, sob o comando do tenente-coronel Iracílio Ivo de Figueiredo Pessoa. Geralmente, de 7 em 7 meses o Batalhão era substituído por novo contingente. Em 8 de junho de 1967, com o agravamento da crise árabe-israelense - que acabou resultando na Guerra dos Seis Dias -, os soldados brasileiros abandonaram a Faixa de Gaza a bordo do navio sueco Timmerland. 

Em 1958, o Egito, a Síria e o Iêmen formam a República Árabe Unida (RAU). Essa confederação teve vida efêmera. Porém, até hoje ela deve ainda estar no subconsciente egípcio, apesar de agora o país se chamar República Árabe do Egito (RAE). Explico: o prefixo da Embaixada Brasileira no Cairo ainda é UAR-BREM. UAR é a sigla inglesa de República Árabe Unida. BREM (Brazilian Embassy) significa Embaixada Brasileira. Detalhe que os egípcios parecem não dar a mínima atenção. Na Embaixada Brasileira ninguém conseguiu me expli-car o porquê da manutenção daquela sigla. Como dizem os egípcios, maalêsh! Mais adiante eu explico o que isto significa. 

O Egito viria a sofrer outra derrota humilhante na Guerra dos Seis Dias, em 1967. Násser, apesar das derrotas militares, sempre conseguiu manter seu nome como o maior líder do Egito moderno. 

Em 1970, assume como presidente Anwar Al-Sadat. Ao contrário de Násser, que havia nacionalizado quase toda a produção egípcia, sob influência soviética, Sadat tenta introduzir no país a infitah, a política de "portas abertas" ou abertura econômica, e começa a aproximação com o Ocidente, principalmente com os EUA. Assim, em 1972, Sadat ordena a retirada do país de cerca de 20 mil conselheiros soviéticos. 

O Egito e a Síria, apoiados pelas nações árabes, atacam Israel de surpresa no dia 6 de outubro de 1973, iniciando a Guerra do Ramadã, como é conhecida pelos egípcios, ou a Guerra do Yom Kippur, assim chamada pelos judeus. "Yom Kippur" significa "Dia do Perdão" e é uma das datas mais sagradas dos judeus. Essa guerra levantou o moral de todo o Egito, pelas conquistas alcançadas, incluindo-se a devolução do Sinai, somente efetivada em 1982. Hoje, no Egito, 6 de outubro é feriado nacional e o nome de uma importante ponte sobre o Nilo no Cairo. Há, ainda, a Cidade Seis de Outubro, criada em pleno deserto, ao sul do Cairo e em direção a Al-Fayyum, onde há vários complexos industriais instalados para desafogar o Grande Cairo. 

As guerras do Egito contra Israel tornaram o país pobre e o êxodo rural aumentou. A cidade do Cairo começou a inchar e os protestos políticos, junto com a insatisfação da população pelos aumentos de preços dos produtos de primeira necessidade, levaram a muitas agitações, gerando prisões em massa. 

O Egito, acertadamente, reconheceu a necessidade de estabelecer um plano de paz com Israel e assim Anwar Al-Sadat e Menachem Beguin assinaram um Acordo de Paz, em 1979. Esse Acordo, aliado à política econômica recessiva de Sadat, revoltou ainda mais os extremistas e em 1981, na parada militar de 6 de outubro, data do início da Guerra do Ramadã, Sadat é assassinado no palanque das autoridades. Junto ao palanque, em companhia de vários militares estrangeiros, o adido militar brasileiro teve que se jogar no chão para não ser atingido por rajadas de metralhadoras. 

Assume, então, o Presidente Muhammad Hosni Mubarak, que governa o Egito desde então, sendo eleito através de plebiscito em 4 de outubro de 1993 para seu 3º mandato. Mubarak sempre seguiu a linha política de Sadat e tornou o Egito um aliado importante do Ocidente no Oriente Médio, apesar da crescente rejeição a seu governo por parte dos fundamentalistas muçulmanos, que promovem ataques às autoridades egípcias, aos cristãos coptas e, desde 1992, a turistas estrangeiros. Um exemplo típico do seu alinhamento com os EUA foi o observado na Guerra do Golfo, em 1991, quando o Egito integrou as forças aliadas contra Saddam Hussein. 

Como vimos nesta compacta retrospectiva histórica, o egípcio é um povo sofrido, que sempre se debateu contra a dominação estrangeira e somente em 1922 conseguiu sua independência - um século depois do Brasil. 

É um povo sofrido, porém muito alegre e hospitaleiro. Faz lembrar o carioca no Brasil: gosta de curtir a vida, adora futebol e música, é afável, brincalhão e muito prestativo. Não consegue guardar rancor. É claro que há grupos radicais, mas o Egito era até pouco o único país árabe que mantinha relações diplomáticas com Israel. 

Os costumes do povo egípcio, sua vida privada, curiosidades, humor, tudo isso tratarei adiante. Que é, sem dúvida, o melhor destas mal-traçadas linhas. 

Processo de mumificação no Antigo Egito 

"Embalsamar" e "mumificar" significam a mesma coisa. O termo "múmia" é resultado de erro grosseiro. Como muitos corpos embalsamados foram encontrados enegrecidos, acreditava-se que tivessem sido untados com betume. Mumiya, em árabe, significa "betume". 

A arte da mumificação no antigo Egito era ligada a ritual religioso. Eles acreditavam que depois da morte a alma, antes de atingir a redenção eterna, peregrinaria pelo espaço por longo tempo, revisitando várias vezes o corpo, razão pela qual se impunha a conservação do mesmo. No início, apenas os faraós e os sacerdotes tinham seus corpos mumificados. Depois o costume se estendeu também ao povo egípcio em geral. 

Hoje, sabemos que há, pelo menos, três processos para preservar um corpo após a morte. O primeiro processo é refrigerá-lo a baixíssimas temperaturas. Atualmente, há muitos milionários que mandam congelar seus corpos, após a morte, na esperança de mais tarde serem "ressuscitados" e curados da doença que os acometeu, ou, numa hipótese melhor, que tenham seus corpos rejuvenescidos quando retornarem à vida. Em 1991 foi descoberto o "homem de Similaun", nos Alpes austríacos, que teve seu corpo congelado na neve e se conservou "mumificado" em muito bom estado até hoje. 

O segundo processo para preservar o corpo é injetar um fluido anti-séptico nas veias e artérias, de modo que o líqüido atinja todo o corpo para evitar a ação das bactérias. 

O terceiro processo é desidratar completamente o corpo e mantê-lo seco. As bactérias necessitam de umidade para se desenvolverem e multiplicarem. A "carne de sol", impregnada de sal, é preservada através desse processo, assim como as frutas cristalizadas. Este último processo - da desidratação - era o único disponível para os egípcios mumificarem seus corpos. Eles já sabiam que o imenso calor nas areias do deserto ressecavam completamente os corpos humanos, mantendo-os bem conservados, porém rígidos. O que precisavam era algo que deixasse o corpo mais flexível. 

Casualmente, os antigos egípcios tinham a substância ideal para isso, o natrão. Esta substância é uma mistura de bicarbonato de sódio e carbonato de sódio com cloreto de sódio (sal de cozinha) ou sulfato de sódio. Sua principal propriedade é ser higroscópica, ou seja, a capacidade de absorver a umidade, além de ser antisséptico - essencial para o embalsamamento das múmias egípcias. Desde a época do Antigo Reino (2680 a 2280 a.C.), os egípcios conheciam estas propriedades do natrão. 

O natrão se cristalizava no verão, nas pequenas lagoas que se formavam após as enchentes do Nilo. Os antigos egípcios chamavam o natrão de netjeryt, que significa "divino". O natrão era também encontrado em um local, a 130 km a oeste do Cairo, que hoje tem seu nome derivado dessa palavra: Wadi Al-Natrun (Vale do Natrão). 

Sabe-se que havia três métodos de preparação do corpo para a mumificação, de acordo com as posses da família do morto. O primeiro método, mais elaborado e mais caro, consistia na extirpação das vísceras e do estômago, deixando na caixa toráxica apenas o coração, algumas vezes também o fígado. O coração era mantido no corpo porque era considerado o órgão vital mais importante. Para os egípcios, era no coração que residia a inteligência humana, não no cérebro. Com ganchos metálicos era retirada toda a massa cerebral. Os órgãos extirpados eram guardados em uma caixa canópica. Esta, no funeral, era colocada dentro do sarcófago. 

No segundo tipo de preparação do corpo não era feita nenhuma incisão para extrair órgãos internos. Com uma seringa injetava-se, através do ânus, óleo de cedro. Posteriormente, era drenado o óleo, trazendo consigo o estômago e os intestinos. 

O terceiro método era utilizado para o preparo dos defuntos mais pobres. Simplesmente eram limpados os intestinos com um purgante. 

O historiador grego Heródoto escreveu que as mulheres da classe mais alta e as que se distinguiam por sua beleza não tinham seus corpos entregues aos embalsamadores logo após a morte, mas apenas 3 ou 4 dias após, para evitar a necrofilia. Sem refrigeradores e com altíssimas temperaturas no Egito, isso era pouco provável de ocorrer. A não ser que se desse mais atenção para evitar a violação do corpo do que para conservá-lo efetivamente, pois em 3 ou 4 dias o corpo já estaria em adiantado estado de putrefação. 

Após a preparação do corpo, dava-se início à mumificação. No primeiro processo - com o corpo sem as vísceras -, colocava-se o natrão interna e externamente no corpo, para melhor penetração do sal em todos os tecidos do defunto. Substâncias aromáticas também eram colocadas dentro do corpo, além de mirra e cássia. Os órgãos guardados dentro da caixa canópica - vísceras, fígado, estômago, pulmões - também eram cobertos com natrão. Era, sem dúvida, o método que apresentava a maior durabilidade de conservação do corpo. 

Nos dois outros processos, o natrão agia somente de fora para dentro do corpo, e o resultado era apenas parcial, pois havia a decomposição das vísceras. Resta saber qual o processo utilizado para a mumificação de Lênin, cujo corpo recebia enormes filas de visitantes em Moscou durante os áureos tempos do comunismo na antiga União Soviética. 

Em todos os três métodos, a ação do natrão levava em torno de 40 dias para desidratar o corpo. Após esse tempo, o corpo era retirado do sal, lavado e enrolado em tiras de linho, da cabeça aos pés. A múmia estava pronta, toda enfaixada. Nessas condições, o corpo era devolvido à família para o enterro. No Antigo Testamento, há uma passagem que fala da mumificação dos corpos de José e Jacó: "E ordenou aos médicos que o serviam, que embalsamassem o seu pai. E, enquanto eles cumpriam a ordem, passaram-se 40 dias" (Gênesis, 50: 2-3). 

As múmias dos faraós e dos principais integrantes de sua corte eram colocadas dentro de sarcófagos de madeira ricamente decorados. A câmara sepulcral do faraó Tuth Ankh-Amon, no Vale dos Reis, consistia de uma tumba escavada em bloco maciço de quartzo, com desenhos e hieróglifos em alto e baixo-relevo. Dentro da tumba, três sarcófagos, um dentro do outro, os dois primeiros em madeira revestida com ouro, o último em ouro maciço de 22 quilates, pesando 1.170 kg, guardavam o corpo do "rei-menino". Uma máscara de ouro com pedras preciosas cobriam a cabeça da múmia até os ombros. 

Temos, no Brasil, uma bela coleção de múmias egípcias, que podem ser vistas no Museu Nacional, no Rio de Janeiro. A múmia da sacerdotisa Sha-Amen-em-Su, da 25ª Dinastia, foi presente do rei egípcio ao Imperador D. Pedro II. Há, ainda, uma outra peça valiosa, a múmia de uma jovem da 26ª Dinastia, que foi confiscada por D. Pedro I de um comerciante italiano, em 1818, no Porto do Rio de Janeiro, junto com outras preciosidades que tinham como destino a Argentina. Além das múmias, há um acervo bastante grande do antigo Egito no Museu Nacional, um dos maiores das Américas. 

A sultana Shagaret El-Dur 

O jornal egípcio Al-Ahram (As Pirâmides) nº 7, de 11 Abr 91, conta a interessante história da Sultana Shagaret El-Dur. 

Al-Salih Nagmeddin Al-Ayyubi, considerado "Sultão Mártir", morreu em 1249 na batalha de Al-Mansura, quando um exército de cruzados francos atacou o Egito. 

Sua mulher Shagaret El-Dur, temendo o baixo moral que se abateria sobre as tropas egípcias com a notícia da morte do Sultão, espalhou a notícia de que seu marido se encontrava enfermo e recolhido em sua casa. Ela passou a assinar todos os decretos em nome do marido e a dar ordens da residência real como se ele estivesse vivo. Somente quando os francos deixaram o país é que a morte do Sultão foi anunciada. 
Em reconhecimento a suas habilidades, Shagaret El-Dur foi feita Sultana do Egito, a única mulher a governar o Egito islâmico em seus 14 séculos. Quando voltou a se casar novamente, o poder passou ao novo marido. O fim da Sultana foi trágico: uma rival a matou a tamancadas, dentro de sua banheira. 
Em Zamalek, no Cairo, há uma rua com o nome da Sultana, a Shária (Rua) Shagaret El-Dur, paralela com a Shária Al- Barazil (Rua Brasil). 

O paraíso dos antigos egípcios 

Interessante é observar a semelhança entre a religião da época faraônica com as religiões cristã e muçulmana. Todas pregam a vida pós-morte, todas têm imagem semelhante para depois do juízo final: os bons irão para o céu e os maus para o inferno. 

Os egípcios da época dos faraós acreditavam que o céu era eterno, com rios caudalosos, frutas e licores que não intoxicavam. É uma imagem muito parecida com o Corão, livro sagrado dos muçulmanos, que além dessas delícias ainda promete mulheres virgens. 

É fácil imaginar o que seria o céu ideal para os faraós, assim como para os árabes, por viverem em uma das re-giões mais agressivas da Terra, o deserto sem fim, o calor infernal e a constante falta de água. Para um esquimó, o céu, sem dúvida, deveria ter uma lareira, um foguinho de lenha, para afugentar o frio. Mas para os árabes, o paraíso não poderia ser diferente daquela paisagem ideal para todos nós também: muitas árvores, rios e cachoeiras, clima ameno - assim como Campos do Jordão, SP. 

A imagem do juízo final, desenhada em tumbas faraônicas, é bem expressiva. O morto tem o coração arrancado e co-locado numa balança. Simbolicamente, o contrapeso é apenas uma pena de ave. Se o coração for mais pesado que a pena, é lançado a um chacal para ser devorado. Se for mais leve - apenas os que tiverem praticado boas ações têm o coração mais leve que a pena -, o morto terá alcançado as delícias do paraíso junto aos deuses. 

A cidade dos mil minaretes 

Embora o Egito fique na África e só tenha um pé fincado na Ásia - a Península do Sinai -, sua capital, Cairo, é uma espécie de "Paris do Oriente Médio". É efetivamente a vitrina e porta de entrada de toda a cultura árabe, com seus bazares, mesquitas e a vida fervilhante que delicia o turista. Como disse o sociólogo egípcio Saad Eddin Ibrahim, "o Cairo, em termos de influência no mundo árabe, é tão importante quanto Paris, o Vaticano, Oxford, Hollywood e Detroit juntos". 

O Grande Cairo atual deve ter de 13 a 15 milhões de habitantes, ninguém sabe ao certo. Engloba Gizé, na margem ocidental do Nilo, e Heliópolis, além do próprio Cairo, na margem oriental. Conhecida há muito tempo como a "cidade dos mil minaretes" (torres de mesquitas), Cairo é uma cidade nova, se comparada à civilização egípcia que teve início com os faraós. Construída em 969 pelos árabes fatímidas (xiítas) que então dominaram o Egito, deveu seu nome Al-Qáhirah, que quer dizer "a vitoriosa", ao fato de aparecer no céu o planeta Marte após a vitória dos novos conquistadores. 

O Grande Cairo é dividido pelo famoso Rio Nilo, que corre manso com suas águas azuis, formando algumas ilhas na cidade, sendo a mais famosa a de Gezira, que em árabe quer dizer "Ilha", onde fica o bairro de Zamalek. Nesse lugar os árabes, durante a dominação britânica, só tinham permissão para entrar para lavar as ruas e conservar os jardins das mansões dos lordes de então. As mansões estão sumindo para dar lugar a arranha-céus, mas algumas dessas enormes casas são ainda utilizadas como sedes de embaixadas ou residências de embaixadores. Em Zamalek destaca-se, hoje, o Clube Gezira, com piscinas, quadras esportivas e extensas áreas verdes para a prática de eqüitação, além de um estádio de futebol pertencente ao time Zamalek. O bairro tem vários templos religiosos, como a igreja católica de São José, com missas em árabe, inglês e francês aos domingos. Há uma catedral anglicana cuja cúpula lembra a catedral de Brasília. A Pizza Hut, em 1991, também se fez presente naquele bairro. 

Trânsito caótico no Cairo 

Cairo é uma cidade adorável à noite. Durante o dia, ao contrário, o que predomina é o tom amarelado dos prédios sem pintura, cobertos com espessa camada de poeira que vem do deserto. A primeira impressão que tivemos no dia seguinte da nossa chegada à cidade foi a pior possível. Ruas sujas, prédios decadentes, o lixo acumulado nos tetos. 

Porém, à noite, Cairo se transforma numa linda odalisca, com luzes profusas e até berrantes em todos os pontos da cidade, que se refletem no Nilo preguiçoso por chegar ao Mediterrâneo, e as luzes esverdeadas que contornam os minaretes das mesquitas. Um festival de brilho, luz e alegria, desde os mais humildes bazares, até os luxuosos cassinos dos hotéis. Nos barcos borrados de luzes que vagam pelo Nilo, músicas com floreios e mais floreios, executadas em uma escala exótica e estranha aos nossos ouvidos, embalam a dança do ventre das famosas bailarinas árabes. 

O trânsito na capital é caótico. Não é obedecida regra nenhuma. Quem "embica" primeiro o carro tem a preferência. Ou quem buzina primeiro. O buzinaço é fenomenal e eterno, dia e noite, as buzinas melódicas entrando pela madrugada, como Love Story, A Ponte do Rio Kwai, Susana. Mas é um trânsito democrático, onde carros de todas as marcas e tamanhos imagináveis brigam pelo espaço com carroças, charretes, burros, cavalos, motos, bicicletas, pedestres e, às vezes, até camelos. Em alguns cruzamentos sem semáforo, na hora do rush, os carros provocam um verdadeiro "nó" no trânsito. Ninguém consegue seguir, em frente ou em marcha à ré. Os policiais, recrutas na maioria, tentam colocar ordem nessas ocasiões, recebem xingamentos, respondem no mesmo tom, e depois de um longo tempo o tráfego flui novamente. 

Vez por outra, um rebanho de ovelhas ou cabritos atravessa as ruas da cidade, parando completamente o trânsito. Outra cena insólita vista com freqüência são as vacas amarradas a carroças, os bichos sujando a rua com estrume, e atrás, sem poder ultrapassar, fagueiro, um reluzente carro zero quilômetro. Como se vê, o antigo e o moderno convivem pacificamente, sem choques. Com exceção das largas avenidas modernas, as ruas são estreitas e sem calçadas. Quando têm calçadas, elas se tornam intransponíveis, com obstáculos de toda espécie. Dessa forma, o povo anda no meio da rua e a gente tem que abrir caminho com a buzina. Como nos filmes de Hollywood, do tipo A Jóia do Nilo. Como se sabe, no Cairo a buzina é tão importante quanto a gasolina. 

O Cairo se ressente de uma coleta de lixo eficiente. Há bairros que têm um bom serviço de limpeza urbana, como Mohandeseen e Maadi, porém em muitos lugares o lixo nunca é recolhido, tornando-se foco de procriação de insetos e roedores. A cidade recebeu um prêmio das Nações Unidas, na Eco-92, no Rio de Janeiro, pelo "desenvolvimento do sistema de coleta, transporte e processamento do lixo na cidade do Cairo" - anunciado com antecedência pelo jornal Al-Ahram semanal de 14-20 de maio de 1992. Deve ter sido mais como um incentivo pela melhoria verificada nos últimos anos do que por resultados efetivos, ainda longe.

De: Theodoro da Silva Junior <theojunior@uol.com.br> 
Data: Thu, 24 Mar 2005 10:08:13 -0300 

Fonte: http://www.batalhaosuez.com.br/historiaEgito1989.htm


Leia também:

UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

História, Memória e Deserto: Os soldados brasileiros no Batalhão Suez (1957-1967)

Manoel Ricardo Arraes Filho

https://www.historia.uff.br/stricto/td/1280.pdf


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