MEMORIAL 31 DE MARÇO DE 1964

MEMORIAL 31 DE MARÇO DE 1964
Avião que passou no dia 31 de março de 2014 pela orla carioca, com a seguinte mensagem: "PARABÉNS MILITARES: 31/MARÇO/64. GRAÇAS A VOCÊS, O BRASIL NÃO É CUBA." Clique na imagem para abrir MEMORIAL 31 DE MARÇO DE 1964.

segunda-feira, 9 de novembro de 2020

O FIM DA ARCÁDIA - por Fábio Gonçalves e Paulo Briguet

Nicola Poussin, "Os Pastores da Arcadia", óleo em tela

De todas as maneiras, quando acordam
vão ver as ovelhas, se já sabem voar
e se o sol nasceu noutro ponto qualquer
da Rosa dos Ventos, sobre os rios
deveriam correr os restos de um luar
sim, todas as manhãs
vão ouvir a música de Orfeu, se ele toca
as estrelas que compôs no céu.

http://poetasalutor.blogspot.com/2013/11/os-pastores-da-arcadia.html


FIM DA ARCÁDIA


A morte dos Estados Unidos e a esperança da Terceira América

Fábio Gonçalves e Paulo Briguet

4 de Novembro de 2020 às 19:46

Uma vitória de Biden-Harris significaria o fim da civilização norte-americana tal como a conhecemos — e uma imensa responsabilidade para o Brasil

“And this be our motto: In God is our trust.”

“Eis que estou convosco todos os dias, até o fim do mundo.”
(Mt 28, 20)

O grande historiador Paul Johnson diz em seu clássico “Tempos Modernos” que o Estados Unidos eram a última Arcádia do mundo soterrado nos escombros da Primeira Guerra — escombros sobre os quais marchavam, nos anos 20 e 30, as hostes uniformizadas do Duce, do Führer e do Tzar Vermelho.

Arcádia era uma região mítica da Grécia, terra de deliciosos jardins, de regatos frescos, de chão relvado e gado manso, de pastores poetas a tanger a lira diante de suas musas. Terra de não haver crime, por não haver inveja.  

A Arcádia era um mundo à parte, mundo eternamente resguardado das inesgotáveis guerras e dissensões que destruíam as demais pólis helênicas. Era, com efeito, o bastião último da beleza, da justiça e do saber.

Escusando o que há aí de utópico, de irrealizável, de mera imagem, pode-se dizer que a analogia do historiador é procedente.

As duas Guerras Mundiais acabaram com uma civilização. Material e psicologicamente — e sobretudo psicologicamente.

Os tanques, as metralhadoras, os caças, as bombas e os gases venenosos fizeram soçobrar a Europa dos reis, das aristocracias, dos valores nobres e, sobretudo, da cosmovisão cristã.

Pois, embora desde pelo menos o século XVII o Deus cristão houvesse morrido para a gente dos grandes círculos intelectuais, das universidades e das lojas maçônicas, a massa popular, homens e mulheres dos campos e das pequenas cidades, era eminentemente cristã: ia às missas, comemorava os santos, vivia os tempos litúrgicos, desfilava em procissões, rezava antes do jantar.

Esse mundo ruiu como a Nossa Senhora de Dresden, onde Bach tocara suas Paixões.

Mas ainda havia a terra dos cristãos que, séculos antes, no início da debacle, fugiram das pendengas europeias, atravessaram o Mar Oceano, assentaram-se em paragem nova, desconhecida, ergueram ali suas vilas com suas igrejas, plantaram seu algodão e seu tabaco — muito à custa de cativos, o que em um tanto lhes desabona a história —, enfrentaram nativos e bisões para desbravar o seu oeste, negaram-se a dobrar o pescoço aos abusadores metropolitanos, derramaram sangue por justiça, e, capitaneados por grandes pais, construíram a nação mais livre e próspera de todos os tempos.

A nação mais livre e próspera era a última Arcádia senão da civilização cristã, pelo menos de alguns de seus valores que a besta materialista e as feras revolucionárias vinham grassando no Velho Continente.

E, de fato, os americanos — ou parte deles —, com a riqueza de suas fábricas e a força dos seus marines, foram o arrimo da ordem mundial nas últimas décadas, a Pax Americana. Eles — ou parte deles — não deixaram tombar os últimos templos greco-romanos e nem permitiram que se proibisse, de uma vez por todas, o cantar das Boas-Novas na praça pública.

No entanto, as mesmas pestes que corromperam por dentro o corpo da cristandade europeia, desde o começo do século XX chegaram também à América — em navios, aviões e sinais de rádio.

E a juventude — ou parte dela — foi se adoentando. Por conseguinte, deram ouvidos à cantilena de um Marcuse, de um Foucault, de um Alinsky; aplaudiram a derrota da pátria no Vietnã; torceram pelo sucesso do “modelo soviético”; levantaram faixas e cartazes pelo sexo livre, pelo divórcio, pelo aborto. Eram já como os franceses, os alemães, os russos.

No início dos anos 70, um jornalista e escritor brasileiro chamado Paulo Francis, opositor da ditadura militar e simpatizante do trotskismo, mudou-se para os Estados Unidos — e lá encontrou justamente essa juventude que se voltava contra a própria civilização em que nasceu.

Em 1972, Francis lançou um pequeno livro intitulado “Nixon x McGovern ― As Duas Américas”, no qual analisa os perfis dos dois candidatos à Casa Branca nas eleições daquele ano. Na visão do autor brasileiro, o democrata George McGovern representava a plataforma mais esquerdista já vista numa eleição presidencial americana. Como se sabe, a vitória de Nixon sobre McGovern no pleito de 1972 foi esmagadora: o republicano conseguiu a reeleição sendo o mais votado em 48 dos 50 estados. No entanto, dois anos depois, o que parecia impossível aconteceu: em 1974, Nixon renunciou à Presidência para escapar de um processo de impeachment, em decorrência do escândalo Watergate.

A Outra América mencionada por Francis ― a América esquerdista, contestadora, identitária e contracultural ― sofreu uma fragorosa derrota nas urnas, mas se vingou com a queda de Nixon. Trinta e quatro anos depois, na primeira eleição de Obama, essa finalmente América chegou à Casa Branca; sofreu um revés inesperado com a vitória de Donald Trump em 2016, e agora voltou disposta a tudo para reconquistar o poder central, cavalgando o corcel flamejante do BLM e surfando no vagalhão do vírus chinês.

Na verdade, a personagem da Outra América tem dupla identidade; é semelhante ao deus Janos, aquele que tem uma face voltada para frente e outra voltada para trás. Agora, vemos o rosto combalido de Joe Biden ― que lembra o protagonista do filme “Um Morto Muito Louco” ―, mas, do outro lado, logo vislumbraremos o sorriso maléfico da medusa Kamala Harris, representante da ala radical que tomou de assalto o Partido Democrata nas últimas cinco décadas. Não se enganem, meus amigos: se Biden, mergulhado em escândalos pessoais e na visível demência dos sentidos, chegar à Casa Branca, a verdadeira mandatária será Harris (que, por sinal, como vice, presidirá o Senado). Se olharmos com os olhos da inteligência, não será difícil descobrir que esse monstro de duas cabeças tem traços de uma ditadura oriental.

Nem mesmo Francis seria capaz de imaginar a vitória de uma chapa tão bizarra quanto a de Biden-Harris. É como se McGovern tivesse voltado à vida e convocado Angela Davis para vice. Para piorar, como se estivéssemos em um roteiro de “House of Cards”, a dupla Zumbiden-Medusa crê-se vencedora de um pleito cercado de suspeitas de manipulação e fraude ― uma fraude que vem pelo correio.

Observando o mapa dos Estados Unidos, vemos que a extrema-esquerda chegou ao poder literalmente comendo pelas beiradas, promovendo a revolução cultural a partir dos grandes centros urbanos, com o apoio das milícias da mídia, das universidades e das Big Techs. A América profunda ― conservadora, empreendedora, patriota e, acima de tudo, cristã ― tornou-se refém da Outra América ― aquela patrocinada pelo bloco eurasiano e pelo bloco globalista, ambos unidos em um nó de serpentes.

Mas Paulo Francis se esqueceu de dizer em seu livro que não existem apenas duas Américas. Há uma terceira: a do Sul. E tudo leva a crer que nós, brasileiros, seremos os guardiões do último bastião do cristianismo no continente. Nenhum dos Paulos, o Francis ou o Johnson, poderia imaginar que um dia, por uma dessas vertiginosas ironias da história, o Brasil se tornaria a última Arcádia.

Alguém poderia dizer que estamos sozinhos. Sim, mas é bom lembrar que aqueles 11 discípulos também estavam.

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