República Federativa do Bandido
Félix
Maier
Dizem que o Brasil é a
pátria do futebol, do carnaval e da alegria. Tolice. Nosso verdadeiro esporte
nacional é a anulação de provas, praticada com habilidade olímpica por quem
deveria zelar pela Justiça.
Na mais recente modalidade,
batizada de toffolice aquática, assistimos ao mergulho profundo nas
águas turvas da Lava Jato. Ali, documentos, delações, bilhões desviados e até
confissões explícitas desapareceram como mágica. Não há cadáver, não há arma do
crime, não há crime: apenas um imenso mal-entendido tropical.
Na República Federativa do Bandido, empreiteiro não rouba, político não recebe propina e operador não
lava dinheiro. Tudo foi apenas fruto da imaginação fértil de procuradores
enlouquecidos e juízes sedentos por manchetes. O “departamento de propinas” da
Odebrecht, por exemplo, virou lenda urbana, como mula-sem-cabeça ou lobisomem:
todos ouviram falar, mas ninguém conseguiu provar ao togado relator da vez, guardião oficial da inocência dos culpados.
E, assim, com um só
despacho, o país se converte em arquipélago da impunidade. Enquanto o cidadão
comum se desespera com imposto, fila no hospital sem vacina e sem gaze, e
ônibus lotado como sardinha em lata, o andar de cima brinda em taças de cristal
a nova era da “justiça garantista”: garante-se a liberdade dos de cima, e
apenas deles.
Talvez este seja o nosso
destino: não seremos conhecidos pela Amazônia, pelo futebol ou pela bossa nova,
mas pelo engenho jurídico de transformar corruptos confessos em vítimas da
história. Aqui, a memória é anulada, os crimes evaporam, e a corrupção se
recicla em “erro processual”.
Que ninguém se iluda: a República Federativa do Bandido é próspera e generosa com seus súditos privilegiados. E, enquanto isso, nós, os manés, os trouxas contribuintes, seguimos financiando a festa — sem direito a habeas corpus.
Na República Federativa do
Bandido, já não se fala mais de futebol, tampouco de novela. O assunto agora é
a mágica tropical: transformar ladrão em inocente. No Brasil, basta uma toga,
uma caneta e um despacho coreografado para absolver bandido.
A Odebrecht, que inventou
até um “departamento de propinas” com organograma e senha de computador, virou
lenda urbana — coisa de pescador. Para o antigo advogado do PT e do Ogro de
Nove Dedos, o que houve foi apenas o devaneio de procuradores mal-intencionados,
como Deltan Dallagnol, e de um juiz em busca de holofote, Sérgio Moro.
O Brasil já não é o país do
futebol. É o país da anulação de provas. Aqui, a corrupção não prescreve:
apenas se dissolve, elegante, em tinta de caneta. É uma autêntica República
Federativa do Bandido, já cantado em versos por Moacyr Franco.
E olha que nada falei sobre
o maior golpe já visto no Brasil: em 15 de abril de 2021, oito togados do Instituto
Lula (antigo STF) “descondenaram” um criminoso que havia sido condenado em três
instâncias, por unanimidade, para “voltar à cena do crime” pela terceira vez.
Se alguém reclamar, vai ouvir
um Supremo Togado dizer, com cara torta de nojo:
— Perdeu, mané, não amola! Derrotamos
o bolsonarismo!
P.S.
Ouça o hit de Moacyr Franco
em https://www.youtube.com/watch?v=6sqk-4NBTD8
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